CORDEL DA NATUREZA Doizinho Quental e Zé Maria de Fortaleza Literatura de Cordel - HÁ DOIS SERES QUE NÃO MERECEM SER INFELIZES: AS CRIANÇAS E OS ANIMAIS. Paul Léautand 2 - Usar casaco de pele à custa do sacrifício de um animal é comprovar a morbidez do ser humano que ainda vive na Pré História. João de Melo Cabral 3 Agradecimento Como poetas desde a mais tenra idade, escutamos os desafios de viola. Portanto, uma contenda de violeiros para nós tem uma importância muito grande, porque relembra o desabrochar da nossa infância feliz. Cordel da Natureza é sem dúvida um agradecimento aos baluartes do improviso, que com suas tiradas inteligentes, fizeram-nos sonhar com a fauna e a flora cheias de encanto e beleza. Dos autores. 4 Comentário O homem, filho da razão pura, se esqueceu como os animais nos ensinam a viver harmoniosamente, como perpetuar os descendentes, como usar a inteligência para perpetuar a raça, e a ser solidários e respeitar os diferentes. Quental nos convida a observar os animais para com eles aprender a arte da vida, como viver em equilíbrio, como parte de uma rede perfeita, que tudo envolve e recria. Faz-nos refletir sobre a inteligência universal que mantém as florestas e os ecossistemas, e nos revela que o segredo da permanência do homem na Terra, está no reconhecimento da dependência mútua. Ele nos mostra como os ecossistemas nos ensinam de forma incontestável sobre comunidade sustentável, com seus múltiplos laços de realimentação, que sempre tendem a levar o sistema de volta ao equilíbrio. Edna Cardozo Dias Presidente da Liga de Prevenção da Crueldade contra o Animal - LPCA - Belo Horizonte - Minas Gerais. 5 PREFÁCIO Admirar a natureza, ao ponto de amá-la e defendêla com toda a energia da alma é uma atitude própria dos que têm sensibilidade. A sensibilidade enobrece o coração das pessoas despertando-lhes a consciência de que cada um de nós humanos é, não só “parte da natureza”, mas a própria natureza. Essa sensibilidade habita o coração dos poetas que não se contentam com a mera observação e encantamento. Sim, pois os corações dos poetas ardem de desejos de ver a natureza preservada, por ser ela a fonte suprema de suas inspirações e da própria vida. O cuidado e o respeito pela vida alimentam a seiva poética de Doizinho Quental e Zé Maria de Fortaleza que receberam de seus amigos e admiradores a carinhosa alcunha de “poetas dos passarinhos”, porque sua poesias têm a sonoridade e a profunda sintonia com os gorjeios dos cantores das florestas. Na presente obra, “cordel da Natureza” que Doizinho Quental e Zé Maria de Fortaleza nos presenteiam, quase podemos ouvir os sussurros e as vibrações de cada ser que respira na grande teia da vida. 6 Tudo que existe na Terra, Desde a mais simples matéria, Tá unida numa teia, Como a humilde bactéria. Se tocar a teia vibra, Se cortar desequilibra, É como fosse uma artéria. Testemunhamos também a atitude profética dos poetas neste trabalho de conscientização para a defesa da vida, porque sabem que todo o planeta é um organismo vivo e precisa ser preservado por meio das atitudes de cada um dos cidadãos e pelas decisões das macroeconomias mundiais. A consciência ecológica, É dever do cidadão. E tem que ser planetária, Pois não existe razão, De um país evoluído, Quedar-se desentendido, Com tanta depredação. Os poetas não esqueceram a fonte maior de sua inspiração, os passarinhos! Os pássaros anunciam o dia novo com seus trinados chamando os raios da aurora para iluminar o dia e aquecer as flores das plantas que são o palco desses pequeninos cantores. 7 As aves muito contentes, Quando chega o novo dia, Iniciam os seus trinados, Se acabando de alegria. As plantas prometem flores, Aos passarinhos cantores, Que lhe trazem companhia. A natureza está grata a mais esse trabalho dos poetas Doizinho Quental e Zé Maria de Fortaleza, O Cordel da Natureza, que com versos rimados e metrificados não só nos encantam, mas nos convidam a sermos cuidadosos e amantes da divina natureza. Encerrando esse prefácio dedicamos nossos versos aos poetas defensores da natureza, amantes da vida e amigos dos passarinhos, Francisco Leite Quental, Doizinho e Zé Maria de Fortaleza. Quando o sol encandeia o firmamento Com a presença dos seus raios primeiros E que vejo no campo o afloramento Enfeitando os cenários dos canteiros, Vem o vento do dia que murmura Poesia sinfônica de ternura, Como quem agradece a gentileza Aos poetas que trazem na essência Uma fonte que aguça a consciência Dos valores que tem a natureza. 8 Quando ouço dos pássaros seus cantares E das flores eu sinto seus perfumes, Quando as copas das árvores seculares Assombreiam o chão com seus negrumes, Vem o vento da noite que assobia Entoando a sublime melodia Como forma de terna gratidão, Porque sabe que nesta terra moram Dois poetas que amam a fauna e flora E as defendem no verso e na canção. São poetas das matas e das águas Das cidades, sertões e lugarejos... Uns poetas que choram suas mágoas Mas que sabem cantar os seus gracejos São poetas das flores e das plantas São poetas de habilidades tantas São poetas imortais do passarinho... Dois poetas de ritmo e acalanto Filhos dessa Terra que amo tanto, Amigos Zé Maria e Doizinho! Fernando paixão Teólogo, poeta e escritor. 9 CORDEL DA NATUREZA 10 CONSIDERAÇÕES Cordel da Natureza é um livro escrito em setilhas, estrofes de sete versos de sete sílabas. Essas estrofes têm uma beleza rítmica bem atraente para os declamadores. As setilhas foram criadas por José Galdino da Silva Duda em 1866 – 1931. A nossa primeira preocupação com esse trabalho ecológico foi pesquisar a ciência com respeito à natureza ambiental. Lemos diversos livros como: “Como Funciona o Meio Ambiente, Como funciona o Clima de Preston Gralla – Galeria dos Ecologistas de João de Toledo Cabral – Pássaros do Brasil e Da Ema ao BeijaFlor de Eurico Santos” e vários outros para captar a ideia lógica desses eméritos escritores e transformá-la em setilhas. No mais, achamos que conseguimos expressar realmente o que pretendíamos: mostrar para os leitores a lógica do ecossistema, a beleza da natureza e a grande importância de preservar a fauna e a flora, sempre chamando à atenção das escolas para levar ao estudante a razão de ser da nossa existência. Dos autores. 11 Nossa sábia natureza Não produz nada de inútil, Nem também produz supérfluo; Tudo nela é muito útil. Ela recicla e transforma, Para tudo existe norma, Não criando nada fútil. Deus criou a natureza Para ciência estudar. Por isso a sabedoria, Diz a crença popular, Que nada que a mesma faz, Nunca a ciência desfaz, A não ser aproveitar. A Natureza no mundo É de uma força suprema. Existe razão e lógica, No poder do ecossistema; Tudo nele é organizado, E nada é desperdiçado, Como um perfeito poema. 12 Tudo que existe na Terra, Desde a mais simples matéria, Tá unida numa teia, Como a humilde bactéria; Se tocar a teia vibra, Se cortar desequilibra, É como fosse uma artéria. O Ecossistema conecta Tudo que no mundo tem. Entrelaça os não-viventes, Como os viventes também. E formando a biosfera, É melhor pra atmosfera, E pra os humanos faz bem. O homem inda acredita, Ter superioridade, Sobre qualquer animal, Da biodiversidade. Pensa que ele tem direito, De todos, tirar proveito, Como dono da verdade. 13 Ele quer ter o domínio Sobre o Sul e sobre o Norte. Se mostra dono do mundo, Pensando ser muito forte. Seu poder é a miséria; Invisível bactéria, Pode conduzi-lo à morte. O desmatamento é crime, E por isso questiono: Aumenta sobremaneira, O dióxido de carbono; Então o Globo se aquece; O ser humano adoece; Fica a Terra no abandono. Na Terra somente o homem É um ser depredador. Não há, no entanto, outra espécie, Como esse devastador. Se temos inteligência, Por que essa incoerência?... É algo questionador. 14 A nossa sociedade Não aprendeu a lição, Que o consumismo é o mal, Dessa civilização. Essa é uma crise fatal, Moral e espiritual, Por falta de educação. Hoje, todos nós sabemos, Que os sistemas culturais Sem ter controle, ameaçam, Os sistemas naturais. Devemos ensinar ética Sobre a vida e a genética, De plantas e de animais. A escola deve ensinar A toda e qualquer criança, Amar muito a natureza, Por ser fonte de bonança; Pois as suas impressões E as primeiras sensações, Deverão ser de esperança. 15