“Fotorreportagem UEPG”: uma experiência de união entre

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FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FNPJ)
2º ENCONTRO SUL-BRASILEIRO DE PROFESSORES DE JORNALISMO
5º ENCONTRO PARANAENSE DE ENSINO DE JORNALISMO
MODALIDADE DO TRABALHO: Relato de Experiência
GRUPO DE PESQUISA: _Atividades de Extensão_
“Fotorreportagem UEPG”: uma experiência de união entre
ensino e extensão
Aline Jasper¹
[email protected]
Andressa Kaliberda²
[email protected]
Resumo:
Um bom ensino de jornalismo perpassa o entendimento de que a relação entre
ensino, pesquisa e extensão deve ser mantida de forma homogênea e eficiente.
Com isso em mente, surge o projeto de extensão “Fotorreportagem UEPG”,
institucionalizado em 2010, que tem como objetivos principais a melhoria do
ensino de fotojornalismo, a produção laboratorial nessa área, o incentivo ao
debate sobre a sobreposição de fotojornalismo e fotografia artística e o resgate
histórico da fotografia em Ponta Grossa e região.
Palavras-chave: Fotojornalismo. Extensão Universitária. Ensino de
Jornalismo. Fotorreportagem.
¹ Aluna do Programa de Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Graduada em Jornalismo na mesma instituição.
² Aluna do Programa de Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Graduada em Jornalismo na mesma instituição.
O Ensino do Jornalismo
A convergência de mídias em que se insere o jornalismo
moderno se percebe na tendência dos meios de comunicação de se adaptar às
novas tecnologias de difusão de informações para manter e conquistar
leitores/espectadores. Uma das estratégias para se aproveitar melhor esses
novos ou renovados suportes midiáticos é a especialização do jornalismo. “Os
meios de qualidade foram permitindo a especialização dos jornalistas, o que
possibilitou a emergência de um jornalismo que, sem perder o seu vínculo
noticioso, enveredou pela interpretação dos acontecimentos e problemáticas”
(PINTO, 1997 apud SOUSA, 2006, p. 42).
Assim, nesse cenário de convergência, o ensino de jornalismo
deve desenvolver nos futuros jornalistas o senso crítico e o aprofundamento dos
estudos, já que a formação continuada é essencial para o bom funcionamento
das empresas jornalísticas. No entanto, conforme afirma Queiroga (2010, p. 44),
a imprensa hegemônica brasileira ainda não abre espaço para esse
aprimoramento dos profissionais. Pensar produtos laboratoriais de jornalismo
seria, então, uma maneira de assegurar a qualidade dos profissionais sem a
dependência dos meios de comunicação comerciais.
Essa
produção
laboratorial
perpassa
também
pelo
reconhecimento da necessidade de se aliar teoria e prática nos cursos de
jornalismo de forma balanceada.
Fica evidente que a formação profissional passa tanto pela construção
de sólido background de conhecimentos gerais e específicos sobre
temas contemporâneos, quanto pelo domínio instrumental e
intelectual dos dispositivos sociotécnicos de produção. (REZENDE;
LANA, 2012, p. 115)
No entanto, não se pode perder de vista que o jornalismo, para
além de uma prática profissional, é uma atividade intelectual e os cursos de
jornalismo devem refletir essa realidade. “Na perspectiva do jornalismo, é
preciso transformar os atuais cursos de comunicação em cursos de
conhecimento, lugares de ‘aprender a aprender’ e de ‘ensinar a aprender’.”
(MEDITSCH, 2007, p.54)
No entanto, não se deve perder de vista que o jornalismo é um
esforço intelectual, para além das técnicas de produção. Embora não se exija a
formação superior em Jornalismo para o exercício da profissão, o diferencial
que valoriza os profissionais no mercado de trabalho ainda é o esforço de
aprimoramento acadêmico.
Com as exigências legais para ingresso na profissão a um nível muito
baixo, o ensino superior do jornalismo só tem uma opção: provar que
este nível de formação é uma real mais-valia para as empresas,
demonstrando que um licenciado ou mestre não vale pelo grau, mas
pelos conhecimentos e competências obrigatoriamente adquiridos
para a obtenção desse mesmo grau. (CANAVILHAS, 2009, p.51)
A universidade brasileira, como instituição de ensino superior, é
construída tendo como base o conceito do tripé ensino-pesquisa-extensão.
Assim, a consolidação de uma formação de qualidade em jornalismo só é
possível se tiver como base uma boa relação entre essas três bases, conforme
afirma Martins (2009, p.05):
Pelos processos de transmissão e apropriação do conhecimento coloca-se o
formando em relação com o produto da ciência, com as teorias e tecnologias
historicamente elaboradas. Nesses processos, o professor desempenha o papel
insubstituível de ensinar, conduzindo os alunos em assimilações cada vez
mais complexas do acervo científico-cultural e metodológico-técnico
necessários aos domínios da realidade da qual faz parte como ser social e
sobre a qual irá intervir. Assim, o bom ensino é aquele que promove a
construção de conhecimentos (que não se identificam apenas como
informações) convertidos em capacidade de atuação.
Pouco se incentiva nas universidades brasileiras o ensino do
fotojornalismo, sendo que essa disciplina é considerada por muitos professores
como uma espécie de disciplina complementar às outras, sendo que na verdade
ela tem suas especificidades e deve ser tratada da mesma forma que disciplinas
como Telejornalismo ou Redação Jornalística. Segundo Correia (20--),
“formação deficiente, universitária ou de outra natureza, é aquela que não inclui
e aprofunda os estudos fotojornalísticos. Ensina-se jornalismo, ciências da
comunicação ou da informação, mas as cadeiras de fotojornalismo são ainda
uma raridade.”
O Projeto Fotorreportagem UEPG – Foca Foto
No início do ano de 2010, o recém-contratado professor Carlos
Alberto de Souza, juntamente com um grupo de alunos do curso de Jornalismo,
identificou uma carência de atividades, tanto de pesquisa científica quanto de
extensão universitária, na área de Fotojornalismo. Na percepção desse grupo de
pessoas, havia um incentivo maior a outras áreas do jornalismo, enquanto que a
fotografia era deixada de lado e tratada apenas como disciplina no primeiro ano
do curso.
Notando a quantidade de alunos interessados na área, tanto
profissionalmente quanto academicamente, o professor teve a ideia de montar
um Grupo de Estudos em Fotografia, que passou a se reunir semanalmente para
discutir temáticas relacionadas à ética no fotojornalismo, aspectos técnicos da
fotografia, a profissão de fotojornalista, dentre outros temas.
Após algumas reuniões do Grupo de Discussões, ficou claro que
havia diversas ideias de atividades possíveis dentro do grupo e identificou-se
uma demanda pela institucionalização dessas atividades. Assim, em agosto de
2010 foi institucionalizado junto à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos
Culturais da Universidade Estadual de Ponta Grossa o Projeto de Extensão
“Fotorreportagem UEPG”, objeto deste relato de experiências.
Vale ressaltar que do mesmo Grupo de Discussões surgiu
também a Linha de Pesquisa em Fotojornalismo, Imagem e Tecnologia, que já
teve institucionalizadas 11 pesquisas de Iniciação Científica, 3 das quais se
tornaram Trabalhos de Conclusão de Curso, além de 2 projetos de Mestrado em
Jornalismo.
No início de suas atividades, o projeto Fotorreportagem UEPG,
que passou a ser conhecido por “Foca Foto”, teve dois tipos de produção: as
fotorreportagens, publicadas em um blog próprio, e as exposições de fotografias.
As fotorreportagens, de início, eram produzidas pelos alunos
extensionistas sobre temáticas jornalísticas do cotidiano de Ponta Grossa e
região. A partir de 2012, essa produção passou a integrar a grade da disciplina
de Fotojornalismo, sendo que os alunos do 1º ano do curso produzem as
fotorreportagens para o projeto, como atividade avaliativa.
Desde 2010, o Foca Foto realizou 9 exposições fotográficas,
sendo que uma destas era uma Mostra das fotografias produzidas na disciplina
de Fotojornalismo. As exposições tiveram temáticas variadas, sempre com o
intuito de aliar o fotojornalismo à fotografia artística.
Com o tempo, foram surgindo ideias de atividades a ser
englobadas pelo projeto. O resgate da história da fotografia em Ponta Grossa
surgiu em 2011 como uma série de reportagens e passou a ter maior
abrangência, transformando-se em um esforço de pesquisa e levantamento de
dados. Os alunos envolvidos no projeto realizam entrevistas com fotógrafos que
têm envolvimento com a história da fotografia na região, para posterior análise
dos dados coletados e sistematização das informações.
Em 2013, foram adicionadas atividades ao grupo: “Antes e
Depois” e “Destaque”. Ambas surgiram de uma necessidade de dar agilidade à
produção jornalística, novamente com o interesse de valorizar a estética
fotográfica aliada ao valor-notícia da imagem. “Destaque” consiste na escolha de
duas fotografias consideradas por uma comissão avaliadora como as melhores
da semana. Essas fotografias são publicadas no blog do Foca Foto e conferem ao
fotógrafo pontuações cumulativas. O ranking dos fotógrafos será convertido em
prêmios no final do ano.
A atividade “Antes e Depois” consiste na reprodução de fotos
antigas de locais da cidade de Ponta Grossa, colocando em contraponto as
fotografias originais com fotografias produzidas pelos estudantes de jornalismo
no mesmo local, com o enquadramento e angulação o mais próximo possível do
original. A ideia é mostrar, por meio do comparativo entre as fotografias, as
mudanças sofridas pela cidade ao longo da história. Essa produção também é
semanal e publicada no blog do projeto.
Dando
continuidade
às
discussões
sobre
fotografia
e
fotojornalismo, o projeto promove palestras e debates com profissionais da
área, com o intuito de colocar os alunos extensionistas em contato com a área
profissional. Também são organizadas viagens, tanto com o 1º ano do curso
quanto com os alunos do projeto de extensão, para a produção fotográfica.
Considerações Finais
O projeto Foca Foto se configura como uma tentativa de pensar
o ensino de fotojornalismo aliado à extensão universitária. Essa integração entre
teoria e prática se torna necessária na atual conjuntura do jornalismo, sendo
que para inserir-se no mercado de trabalho, o recém-formado jornalista precisa
ter conhecimentos especializados. O diferencial da experiência em produção
laboratorial acrescenta, assim, valor à formação do jornalista.
A importância das atividades de produção de fotorreportagens
com o 1º ano está no aprofundamento dos conhecimentos da disciplina de
Fotojornalismo e na aplicação desses conhecimentos em atividades práticas,
facilitando o processo de aprendizagem. Como os estudantes do curso de
Jornalismo só têm contato com a redação de textos jornalísticos no segundo
semestre do 1º ano, o contato com as fotorreportagens prepara o aluno desde o
momento em que entra na graduação.
O projeto tem como um de seus objetivos principais suscitar a
discussão sobre maneiras de aliar o fotojornalismo e a fotografia artística, que
têm sido historicamente separados, embora não sejam necessariamente
excludentes. Assim, pensar a produção de fotografias com conteúdo jornalístico
e informativo sem deixar de lado a estética que é própria da fotografia artística
faz parte de um esforço de melhoria da qualidade do fotojornalismo,
considerando a importância da imagem na produção de sentidos.
Outra importante contribuição deste projeto de extensão está
no ineditismo do levantamento da história da fotografia em Ponta Grossa, ainda
mais quando se trata de utilizar os relatos orais dos profissionais envolvidos
nessa história. Embora ainda esteja em processo, esse trabalho já permite um
mapeamento dos pioneiros e da trajetória histórica dos principais fotógrafos da
região e também dos primeiros fotojornalistas. A compreensão das limitações e
potencialidades da profissão, além de sua progressão tecnológica, contribui com
o processo de aprendizado do fotojornalismo.
Referências Bibliográficas
CANAVILHAS, João Manuel Messias. Ensino do jornalismo: o digital como
oportunidade. In: FIDALGO, J.; MARINHO, S. (org). Actas do Seminário
“Jornalismo: Mudanças na Profissão, Mudanças na Formação”.
Braga: Universidade do Minho, 2009.
CORREIA, Manuel. Fotojornalismo – Um olhar do repórter. 20--. Disponível
em: < http://www.ipv.pt/forumedia/5/14.htm> Acessado em 18 mar 2013.
MARTINS,
L.
M.
Ensino-pesquisa-extensão
como
fundamento
metodológico da construção do conhecimento na universidade. 2009.
MEDITSCH, Eduardo. Novas e velhas tendências: os dilemas do ensino de
jornalismo na sociedade da informação. Revista Brasileira de Ensino de
Jornalismo, Brasília, v.1, n.1, p.41-62, abr./jul. 2007. Disponível em:
<http://www.fnpj.org.br/rebej/ojs/viewissue.php?id=6>. Acesso em 19 mar
2013.
QUEIROGA, Tony. Transformações no saber-fazer dos jornalistas a partir do
digital: reflexos na formação profissional. Revista Brasileira de Ensino de
Jornalismo, Ponta Grossa, v.1, n.7, p. 31-49, jun/dez 2010.
REZENDE, Ivan; LANA, Luiz. Reflexões sobre o ensino de jornalismo por
módulos. Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo, Brasília, v. 2, n. 11,
p. 114-124, jul./dez. 2012
SOUSA, Jorge Pedro. Desafios do ensino universitário do jornalismo ao nível da
graduação no início do século XXI. In: LÓPEZ, Xosé; ANEIROS, Rosa (org.).
Comunicación e cultura en Galicia e Portugal: relatórios do III Congreso
Luso-Galego de Estudos Xornalísticos. Santiago de Compostela: Consello da
Cultura Galega, 2006.
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