ANEXOS- PARTE3 - Estação da Leitura

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Anexo VII
- Apresentação dos Projetos de Pesquisa em
Eventos e Presença em Expedições de
Pesquisa e Extensão do ESTALE
* Certificados
* Textos Produzidos
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3
Obs: Texto apresentado na Semana de Pedagogia, 24 e 25-10-2010, UESB-Jequié - antes da revisão
de metodologia científica dos projetos, feita nos Estágio.
4
5
6
A LITERATURA INFANTIL COMO INSTRUMENTO
TRANSFORMADOR NO ESPAÇO ESCOLAR
* ensaio - versão preliminar *
Carla Valéria dos Santos Sales
Gizelen Santana Pinheiro
Elane Nardoto Rios Cabral
Maria Afonsina Ferreira Matos
A literatura sem dúvida é de grande importância na construção de nossa história, pois ela
amplia e diversifica nossas visões e interpretações sobre o mundo e a vida como um todo. A
literatura nasceu na antiga Grécia, sendo que em sua fundação não possuía tal nome, visto que
era intitulada de poesia, além disso, tinha como finalidade entreter a nobreza no entremeio das
guerras.
No entanto, a literatura não era vista no século VI a. C como uma matéria educativa, uma vez
que esta não servia para fazer parte do currículo escolar sob a sua identidade original.
Colocada na base da educação, a leitura pôde assumir de imediato o componente
democratizante da época e em seguida foi interpretada de forma incoerente como
alfabetização, já que ler passou a significar introdução ao mundo dos sinais conhecidos como
alfabeto e a certeza do poder fornecido por ele.
Segundo Osakabe “o acesso ao conhecimento diferenciado, aquele que permite ao leitor
reconhecer sua identidade, seu lugar social, as tensões que animam o contexto em que vive ou
sobrevive, e sobretudo a compreensão, assimilação e questionamento seja da própria escrita,
seja do real em que a própria escrita se inscreve.”
Precisamos estar atentos a esta questão, pois a ausência da leitura em nossa vida bloqueia a
possibilidade e acaba de certa forma, nos excluindo dos acontecimentos, da interpretação, da
imaginação e das ficções, seja num romance ou num artigo; numa crônica ou num conto,
numa poesia ou num manifesto, num jornal ou num ensaio, num gibi ou numa história infantil
ou infanto-juvenil, enfim, são inúmeras as possibilidades de mergulhar no mundo da fantasia
e da realidade encontradas no mundo das palavras.
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A leitura propicia ao ser humano um instrumento para socializar com os demais novas
informações. Levando ao homem o conhecimento e o acumulo de informações na sua
biblioteca interior possibilidade de que ele acumule conhecimentos à medida que sua leitura
progrida. O relacionamento do homem com o livro, a melhor ferramenta condutora de
conhecimento, deve começar desde cedo. É importante aprender a ler, porque a condição de
leitor é requisito indispensável à ascensão a novos graus de ensino e da sociedade.
Ao trazermos o papel da literatura para os dias atuais, e destacando para isso o papel da escola
como mediadora na construção do processo de formação de leitores, podemos perceber que a
escola tem sido falha em explanar o lúdico e a leitura.
Além disso, o prazer pela leitura se constrói através de um processo contínuo e dedicado.
Nesse sentido, faz-se necessário propor atividades diversas e diferenciadas a fim de que se
formem leitores capazes não somente de decodificar o que está escrito, mas se posicionar de
maneira crítica frente à leitura desenvolvida.
Acreditamos que as crianças e os jovens precisam sentir prazer em contato com a leitura.
Martins (1989) chama a atenção para o contato sensorial com o trabalho, pois antes de ser um
texto escrito, um trabalho é um objeto; tem forma, cor, textura. É imprescindível que a criança
e/ou adolescente tenham o primeiro contato com a forma, o objeto de leitura, uma vez que são
esses primeiros contatos que propiciarão o encanto pela leitura.
Nesse contexto, a escola torna-se peça-chave para que a criança e/ou adolescente adquira o
gosto de ler e, conseqüentemente, se torne leitor. Zilberman (1991) afirma que a escola é o
lugar onde se aprende a ler e escrever, conhece-se a literatura e desenvolve-se o gosto de ler.
Muitos estudos e pesquisas têm evidenciado a importância das atividades literárias
diferenciadas no contexto educacional para o bom desempenho do aluno. A utilização da
literatura como recurso pedagógico pode ser enriquecida e potencializada pela qualidade das
intervenções do educador. Quando se refere à criança, logo percebemos que a literatura é
essencial na escola como meio indispensável para que o aluno entenda o que se passa ao seu
redor e para que seja capaz de compreender várias situações e escolher os caminhos com os
quais se identifica.
Assim, é necessário que dentro do ambiente escolar, o professor faça a mediação entre o texto
literário e o aluno para que, assim, sejam criadas situações nas quais o aluno seja capaz de
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realizar suas próprias leituras, concordando ou discordando e, sobretudo, fazendo uma leitura
crítica do que lhe foi apresentado. Silva (2004) mostra que o educador preocupado com a
formação do prazer pela leitura deve reservar espaços em que recomende atividades novas
sem a obrigação de impor leituras e avaliar o educando. Trata-se de organizar espaços na
escola e na sala de aula onde a leitura por fruição-prazer possa ser praticada pelas crianças e
jovens.
Portanto, é de suma importância desenvolver em nós uma “cultura de leitura”, pois só assim
seremos aprendizes e formadores de opinião em todo ambiente social e democrático que
estivermos.
O avanço nos estudos pedagógicos a partir do século XX trazem uma nova dimensão e
significado à infância, bem como a literatura destinada as crianças, sendo que estas deixam de
ser tratadas ao longo da história como pequenos adultos, passando a serem vistas como
crianças que necessitam de cuidados apropriados a sua condição.
O autor Monteiro Lobato pode ser considerado um precursor da literatura infantil no nosso
país, uma vez que inovou a linguagem dos livros infantis, isso em uma época em que os livros
brasileiros eram editados em Paris, ou em Lisboa. Ele torna-se editor, passando a editar livros
no Brasil, além disso, implanta uma série de inovações nos livros didáticos e infantis.
Dedicando-se a escrever para as crianças faz uso de um estilo de escrita simples, em que
realidade e fantasia se misturam.
Segundo Marisa Lajolo (2000) o surgimento de livros para as crianças pressupõe uma
organização social moderna, por onde circule uma imagem especial da infância: uma imagem
da infância que veja nas crianças um público que, arregimentado pela escola, precisa ser
iniciado em valores sociais e afetivos que a literatura torna sedutores. (...), um público
específico, que precisa de uma literatura diferente da destinada aos adultos.
Lobato ao voltar-se para o público infantil aposta alto na fantasia, presenteando a seus leitores
modelos infantis, cujas as personagens se pautam pela curiosidade, pela imaginação, pela
independência, pelo espírito crítico, pelo humor.
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Pode-se notar que Lobato não poupou esforços para conhecer, satisfazer, até mesmo
ultrapassar as expectativas de seu público alvo, destacando-se principalmente por criar suas
obras com emoção, e pela forma simples e colorida, cujo elemento mais importante e que dá
sentido as suas narrativas, é o aspecto de vivência, uma vez que suas criações nasciam de suas
experiências, e dessa forma tirava proveito de maneira criativa e inteligente das narrativas
fabulosas, das lendas e mitos regionais, dando-lhes vida, e transpondo-lhes para a realidade.
Esse autor busca escrever para as crianças brasileiras sobre a sua gente, suas raízes e culturas,
o que para Lajolo (2000) “na mesma busca de sintonia com seu tempo, não deixa de
incorporar às histórias que inventa um lastro sólido de informações, muitas vezes coincidente
com o currículo escolar. (...), em vários de seus livros, encontramos uma escola alternativa”.
Levando em conta as palavras dessa autora não poderíamos deixar de citar como exemplo de
uma grande escola, O Sítio do Picapau Amarela, a sua mais bela invenção, o qual a história
passa a circular em 1921, ano em que foi publicado a “A menina do narizinho arrebitado”. O
Sítio transforma-se em uma magnífica escola, onde as crianças aprendem gramática,
aritmética, e até mesmo geologia.
É possível notar que suas obras apesar de serem extremamente enraizadas na cultura
brasileira, ultrapassam os limites do ruralismo, uma vez o Brasil arcaico onde vivem as suas
personagens une-se com um Brasil moderno que encontra petróleo, fala ao telefone e viaja a
lua. Além disso, o sítio de Dona Benta abriga personagens de outras tradições, como os heróis
gregos, o Peno Polegar, Popeye e Dom Quixote.
Para Lajolo (2000), “(...) colonizando a linguagem, Monteiro Lobato rompe em definitivo
com a linguagem da literatura infantil brasileira anterior a ele. Em vez da imposição modelar
de voz que narra às crianças, o narrador de Monteiro Lobato manifesta o gosto pela oralidade,
pelo despojamento sintático, pela criação vocabular”.
A leitura de suas obras era destinada ao leitor comum, para quem a magia de suas histórias era
direcionada, sendo essa a razão pela qual evitou uma linguagem excessivamente técnica,
proporcionando a fruição e encantamento pelos pequenos ante as suas obras. Assim, para
Azevedo e Camargos (2001), “inovando na temática, Lobato não se esquece da linguagem,
que ele dota de uma oralidade e uma simplicidade até então ausentes”.
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Assim, podemos destacar que forma intuitiva e pioneira esse autor por meio de suas invenções
ensinava a meninada a questionar a veracidade das convenções imposta pelos adultos. É
através da magia de suas histórias que reside dentre outros aspectos, o seu caráter de
universalidade, tornando suas obras atraentes e acessíveis a qualquer criança.
Entretanto, é importante destacar que se em suas obras adultas eram enfocados os problemas
brasileiros, da mesma maneira na sua produção literária infantil esse viés se faz presente, pois
através do regaste do imaginário rural, seus costumes e folclore, ele aproxima o pequeno
leitor do universo popular.
Pode-se ressaltar ainda que Lobato além de adaptar seus textos literários ás fazes de raciocínio
dos seus pequenos leitores, utiliza o livro como uma ferramenta através da qual muitos
valores sociais passam a ser incorporados, de maneira que cria para a mente das crianças
hábitos associativos, uma vez que relaciona a situações imagéticas vividas na ficção a ideais,
comportamentos e crenças do dia a dia.
Esse autor faz uso de um caráter descritivo, mesclando a realidade, e senso crítico num
universo onde o real e à fantasia se misturam, mas sem deixar a margem à denúncia. Assim,
investe ao mesmo tempo na inteligência e sensibilidade de seus leitores.
Em suma, Monteiro Lobato destacou-se por trazer em suas obras literárias características
nacionais que fizeram seus leitores se identificarem de imediato com as suas criações, sendo
notória a sua preocupação com a ruptura da dicotomia que até então permanecia na literatura
infantil brasileira, visto que é possível destacar em suas obras um a inquietação mostrada
através de seus personagens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AZEVEDO, Carmem Lucia, CAMARGOS, Marcia & SACCHETA, Vladimir. Monteiro
Lobato: furacão na Botocúndia. 3ª Ed. – São Paulo: SENAC. São Paulo, 2001.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Editora
Atlas S/A, 2008.
11
LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A leitura rarefeita: Livro e Literatura no Brasil. São
Paulo: Brasiliense, 1991.
LAJOLO, Marisa. Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida/Marisa Lajolo.- São Paulo:
Moderna, 2000.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1989.
ORLANDI, Eni Puccinelli (Org.). A leitura e os leitores. Campinas, SP: Ed. Pontes, 1998.
SILVA, Ezequiel Theodoro. Leitura na escola e na biblioteca. Campinas: Papirus,1995.
SILVA, Ezequiel Theodoro. A produção da leitura na escola : pesquisas x propostas . São
Paulo: Ática, 2004.
SOUZA, Renata Junqueira de. Narrativas Infantis: a literatura e a televisão de que as
crianças gostam. Bauru: USC, 1992.
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZILBERMAN, Regina, SILVA, Ezequiel Theodoro. Literatura e pedagogismo – ponto &
contraponto. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.
ZIBERMAN, Regina. A Leitura e o Ensino da Literatura. São Paulo-SP; Contexto, 1988.
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Anexo VIII
- Texto Fundamentos Etnográficos das
Pesquisas do Programa Estação da Leitura
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FUNDAMENTOS ETNOGRÁFICOS DAS PESQUISAS DO PROGRAMA ESTAÇÃO
DA LEITURA 1
MARIA AFONSINA FERREIRA MATOS2
...precisamos cantar com todas as vozes da
montanha, precisamos pintar com todas as
cores do vento...
Música cantada por Pocachontas no filme do
mesmo nome - Walt Disney.
I – INTRODUÇÃO: Considerações Históricas Sobre a Pesquisa Etnográfica
1 - Gênese da Disciplina Antropológica:
Oswald de Andrade garante que foi num dia de chuva que vestiram o índio, pois fosse
uma manhã de sol/ o índio tinha despido o português. A piada do poeta modernista faz
remissão a um momento de espanto do velho mundo: a descoberta do Mundo Novo.
Espanto, porque o contato visual com o estranho encheu a velha Europa de indagações:
- Quem é esse outro?
- Ele faz parte da humanidade?
- Será que eles têm alma?
- Que ser humano é esse homem?
- É homem?
A cada relato dos viajantes, o centro do mundo se enchia todo de pontos de
interrogação, de exclamação, travessões, reticências... até que, sobre os pergaminhos
1
Texto apresentado como parte das atividades do Estágio Pós-doutoral na FACED/UFBA, para as Supervisoras
Profª. Dra. Eulina da Rocha Lordelo e Profª. Dra Mary De Andrade Arapiraca.
2
Pós-doutoranda, Coordenadora do Programa Estação da Leitura- ESTALE –CEL/UESB.
14
dessa história, duas ideologias concorrentes e contrárias foram tomando corpo nos
horizontes de um debate – ainda hoje marcado pelos ranços de um duplo discurso:
1.1. A Recusa do Estranho/Diferente
Nesse discurso, se configura a exclusão da diferença. O outro – definido pela carência e
apreendido pela falta - precisa ser eliminado, aculturado. Um exemplo significativo
desse posicionamento é o do jurista espanhol Sepulvera (1550) para quem: as nações
bárbaras e desumanas devem se conformar a uma vida mais humana e ao culto da
virtude nem que para isso se usem as armas, pois é justo que os homens honrados,
inteligentes, virtuosos e humanos dominem aqueles que não têm essas virtudes (Apud:
LAPLANTINE,1991:39)
1.2 - A Fascinação pelo Estranho/Diferente
Numa leitura contrária, o discurso da condescendência e proteção paternalista – fundado
na insatisfação com a sociedade/a civilização – forma a seguinte opinião sobre os
primitivos:
Esses povos igualaram ou até superavam muitas nações e tinham uma
ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa (...)
igualavam-se aos gregos e romanos (...) superaram a Inglaterra, a
França (...) Espanha (...) Nós mesmos fomos piores” (através de
nossos ancestrais) pela barbárie de nosso modo de vida e pela
depravação dos nossos costumes. (Resposta do dominicano Las Casas
a Sepulvera, idem: 38-9).
2- A Antropologia a partir do Século XIV
2.1. O Mau Selvagem:
Sob o signo da ausência, índios e negros, eram julgados pelos seguintes critérios:
- Religioso: sem religião, sem alma, sem espírito, sem Deus...
- Aparência física: sem roupa, sem barba, sem sobrancelhas, sem pelos, sem beleza...
- Comportamentos alimentares: sem modos (se alimenta como animal), não cozinha a
carne (lembrando canibalismo)
15
- Comportamento social: sem lei, sem Estado, sem objetivo, sem arte, sem ardor com
sua fêmea, desorganizados, ( visto no século XV, sem complexo de Édipo)...
- A inteligência: sem língua inteligível, sem escrita...
- Histórico: sem passado, sem futuro, sem História...
- Utilitário: preguiçosos, desanimados, vegetativos..
2.1.1. Partidários desse discurso:
Tomados de horror ao estado de natureza de índios e/ou negros, ao longo do tempo,
alguns nomes vão se perfilando na história do pensamento:

Oviedo, em: História das Índias (1550)

Cornelius de Pauw: Pesquisas sobre Americanos ou Relatos Interessantes à
História da Espécie Humana (1774)

Hegel: Introdução à Filosofia da História (1830)
2.2 - O Bom Selvagem:
Numa leitura romantizada – decorrente do desencanto com o progresso e com as
promessas da sociedade tecnológica – alguns viajantes e estudiosos preferem uma
inversão de olhar, de significações e valores, assumindo critérios radicalmente opostos
no julgamento do diferente:
- o vazio se torna cheio;
- o menos se torna mais;
- a desvantagem se torna vantagem.
Essa perspectiva inversa surge, embrionariamente, nos relatos dos primeiros viajantes,
ganha força no Rousseaunianismo do século XVIII e toma corpo no Romantismo.
Entre os exemplos que, neste sentido, podem ser bem lembrados, estão:
2.2.1
-Dentre os Primeiros Viajantes:
 Américo Vespúcio – que via os nativos como pessoas nuas, bonitas, corpo elegante,
um grupo social onde o homem procura a mulher que lhe agrada não se importando
se ela é a sua irmã, amiga, ou mãe...
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 Cristovão Colombo – que vê no Novo Mundo a melhor terra, os melhores homens...
que não sabem se matar...
Ambos citados por Laplantine (1991: 47)
2.2.2 - No Século XVI:
É tempo de discutir a noção de crueldade e os debates se orientam sobre a crítica da
civilização e o elogio da ingenuidade original. Nesse sentido:
* Léry - em Viagem - é de opinião que os críticos eurocêntricos são mais cruéis que os
selvagens de que falam.
* Montaigne - em seus Ensaios – afirma que nós os superamos em toda sorte de
barbárie.
2.2.3 - Nos Secúlos XVII e XVIII
* Nas primeiras Relações dos Jesuítas (1626) se lê:
-São afáveis, liberais, moderados...
-Seu ideal: viver em comum, sem avareza, assíduo no trabalho.
* La Hontan, entre os livre-pensadores, se entusiasma:
-sem lei, sem prisões, sem torturas passam a vida na doçura, na tranqüilidade e
gozam
de
uma
felicidade
desconhecida
dos
franceses
(Apud:
LAPLANTINE,1991:48)
-Nos Espetáculos parisienses, como Arlequim Selvagem (1721), personagens
caracterizando nativos criticam o mundo civilizado:
-vocês são pobres, pois limitam seus bens ao dinheiro em vez de simplesmente gozar
da criação, como nós...(idem: 49).
* Bougainvelle, em Viagem ao redor do mundo, decanta a qualidade de vida do novo
mundo:
-dia ou noite, as casas estão abertas (...) Tudo lembra a cada instante as doçuras
do amor...(idem: 49)
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Nessa mesma linha pode-se ainda lembrar Chateaubriand, Condilac e até Sapir
(1925) que chama essas sociedades de autênticas e faz ecoar, através do tempo, o
romantismo franco de Malinowski em sua declaração: A Antropologia, para mim,
era uma fuga (...) para longe da nossa cultura uniformizada.
Isso, para Alfred Métraux, é nostalgia do neolítico na vocação de etnólogo (idem:
51).
Diante do exposto, até aqui, é possível afirmar que, entre a repulsa e o fascínio, a imagem
da alteridade foi oscilando até o século XVIII: feio ou lindo, feliz/infeliz,
trabalhador/preguiçoso,
sem
Deus/religioso,
violento/pacífico,
predador/solidário,
estúpido/virtuoso...
Pode-se disso, também, apreender os primeiros dados etnográficos considerados:
características físicas, estados emocionais, fé, comportamento social, hábitos, costumes,
crenças, desempenho lingüístico e tudo o mais que possa significar na descrição de um
grupo de ethos.
De tudo isso se depreende ainda os exercícios básicos do fazer etnográfico: o
estranhamento e a auto–reflexão.
II – A ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA DO HOMEM:
A Pesquisa
Etnológica/Etnográfica Propriamente Dita
1 - O Projeto Antropológico a partir do século XVIII
Desejando criar uma ciência do homem, esse projeto trabalha sobre os seguintes
pressupostos:
1.1 - Construção de um conceito de homem não mais apenas como sujeito, mas,
agora, também como objeto do saber... O homem passa a si pesquisar...
1.2 - Constituição de um saber de observação, isto é, de um novo modo de acesso
ao homem em sua existência concreta, o homem físico enquanto ser vivo que trabalha,
pensa e fala... sob a mira de um observador ocular...
1.3 - Problemática essencial: a diferença, rompendo com o pensamento do mesmo...
18
1.4 - Um método de observação e análise: o método indutivo: Os grupos sociais,
enquanto sistemas, podem ser estudados empiricamente, a partir da observação de
fatos que levam à teorização. Pois não basta apenas observar, é preciso processar a
observação. Não basta mais interpretar é preciso interpretar interpretações. E a
interpretação será sempre uma versão sobre determinada cultura.
Sobre essas bases nasceu, enfim, a etnologia, a ciência das sociedades primitivas que
se dedicou ao estudo do exótico, do estranho aos nossos olhos.
2 - A Etnografia como Leitura do Homem no Mundo:
Até o século XVIII, o exercício antropológico consistiu em transformar o exótico em
familiar, mas com as mudanças sociais ocorridas nos séculos seguintes, a pesquisa
antropológica se deu conta da existência de um universo de decisões e interações
cotidianas, além das sociedades ditas primitivas. A ciência do homem percebeu que
era possível, no contexto das sociedades denominadas complexas, transformar o
familiar em exótico (Gilberto Velho, Da Mata...) para estranhar regras sociais que
estão petrificadas dentro de nós pela reificação e pelos mecanismos de ligitimação.
(Da Mata, 1978: 29). A antropologia, então, passou a observar o familiar, no desejo de
ultrapassar os mapas que as nossas leituras apressadas e cotidianas constroem sobre a
realidade.
Isso nas palavras de Da Mata (idem) é uma viagem. Antes, na Antropologia Clássica,
era uma viagem do herói que saía da sua sociedade para descobrir novos mundos.
Agora, ele sai da sua sociedade para encontrar o outro nos confins do seu próprio
mundo social. Se a viagem daquele tempo era horizontal, a viagem de agora é vertical:
é um mergulho no fundo do poço da sua própria cultura, procurando o outro a alguns
quarteirões de onde mora (Velho, 1978)...
2.1 - O trabalho do etnólogo/etnógrafo: lidar com fatos sociais (= fatos
etnográficos), buscar as regras, os valores, as idéias, ou melhor, os imponderáveis da
vida social pela leitura verbal/não verbal do universo pesquisado. Veja, por exemplo, a
leitura feita no texto Os Sonacirema: todos os seus hábitos, costumes,
19
comportamentos... são anotados. Esse texto, diga-se de passagem, é uma brincadeira
com a Antropologia: sonacirema é anagrama de Americanos – o autor brinca de fazer
uma etnografia sobre eles, como se estivesse lidando com uma tribo dita primitiva.
2.2 - Tema basilar da Antropologia: a diferença, o diálogo com a alteridade... pois o
homem não se enxerga sozinho (...) ele precisa do outro como seu espelho e seu guia.
(Da Mata, 1978:35).
2.3 - Perspectiva do Olhar Antropológico: o relativismo = considerar as coisas no
seu contexto e não em termos de cultura superior ou inferior como quer a atitude
etnocêntrica.
2.4 - Objeto de Trabalho: O indivíduo como fenômeno social (Marcel Mauss, 1988).
O homem inserido na sua cultura (Geertz, 1978) - sendo cultura entendido como
conjunto de crenças, rede de significados, sistema de representação de um grupo de
ethos - o seu modo de vida...
2.5 - Método: predominantemente qualitativo.
2.6 - Estratégias: observação ocular, observação participante entrevistas abertas,
contato direto, pessoal, vivência temporária no meio do grupo pesquisado, diário
etnográfico (Malinowski, 1978), coleta de depoimentos, de relatos orais, das histórias
de vida quando se deixa clara a admissão do ponto de vista dos nativos. Para Mauss
(1988:36), a história de vida é a técnica capaz de captar o que sucede na encruzilhada
da vida individual com o social.
2.7 - Papel do Etnólogo/etnógrafo: interpretar, traduzir. Para Da Mata (1978:25), o
etnógrafo é um tradutor.
2.8 - Tema: a diferença – o diálogo com a alteridade.
2.9 - Desafio da Antropologia: tentar pôr-se no lugar do outro e captar suas vivências
e experiências particulares.
2.10 - Atitude Epistemológica: ir do concreto ao desconhecido (Marcel Mauss,
1974).
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2.11 - Princípio: o diálogo entre o particular e o universal.
2.12 - Código: a mistura tradição/modernidade
2.13 - Objeto de Análise: categorias nativas, discursos e práticas de indivíduos
socialmente datados...
2.14 - Questões Antropológicas: A ciência do homem faz as seguintes perguntas:
- Quem sou eu?
- Quem é o outro?
- O que somos?
- O que queremos e pensamos da vida?
- Em que acreditamos?
2.15 - Exercício Cognitivo: a prática da intersubjetividade:
- compreender o outro para compreender a lógica de sua própria compreensão,
criticando-se. (Zaluar, 1991 e Marleau Ponty, s/d.)
- o estranhamento, o diálogo com o outro, como meios de auto-reflexão e
confronto de teorias. (Peirano, 1990).
Em outras palavras, isso equivale a dizer que os contatos do etnógrafo com o
campo lhe permitem revisões nos conceitos socialmente cristalizados: os rótulos
atribuídos às coisas a partir de um mapeamento superficial da realidade.
2.16.-Objetivos etnográficos:

desvendar máscaras sociais (Malinowski, 1978)

fazer uma leitura cuidadosa:
- da gramática cultural de um grupo de ethos
- dos sistemas de representação, classificação e organização de um determinado
universo (Dauster, 1994);
- do homem embebido e portador de sua cultura (Lavisolo,1984);
- do homem tratado como ser vivo (Laplantine, 1991);
- dos homens como atores sociais (Magnani, 1988).
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2.17 - A entrada do Antropólogo no Campo de Pesquisa:
Roberto Da Mata (1978) descreve três fases do trabalho Antropológico (teóricointelectual; prático; pessoal ou existencial) e eu acrescento mais uma (a quarta fase: a
da escrita do texto etnográfico), assim:
1ª fase) Teórico–intelectual: é a fase de conhecer, em abstrato, o objeto da
pesquisa, ou seja, conhecer pelos livros, artigos, ensaios de outros o universo a ser
pesquisado... É a primeira aproximação, feita indiretamente... É a fase do contato
com a teoria e a história da Antropologia (Peirano, 1990) E é a fase da leitura do
verbal, mais que outra...
2ª fase) Período prático: é a fase de planejar a inserção no campo: o que vou
levar? De que necessito para realizar meu trabalho? Quanto preciso para passar
essa temporada no campo? É a fase de uma leitura predominantemente nãoverbal...
3ª fase) Pessoal ou existencial: é o momento de fazer a síntese da biografia com a
teoria, da prática do mundo com a do ofício. É a fase de leituras, ora mais verbal,
ora mais não-verbal. Não se está mais, aqui, dialogando com livros, planos, mas
com pessoas. Estou no campo e, como diz Da Mata (idem: 25),
Vejo-me diante de gente de carne e osso. Gente boa e antipática, gente
sabida e estúpida, gente feia e bonita. Estou submerso num mundo que
se situava, e depois da pesquisa volta a se situar entre a realidade e o
livro.
É a fase de se dar conta de estar entre dois fogos: a minha cultura e uma outra, o
meu mundo e um outro para traduzir um outro sistema para minha linguagem e
sem medo de ser feliz. É fase de assumir uma objetividade relativa e admitir a
subjetividade da interpretação... A propósito dessa fase, é muito comum, nos
depoimentos dos etnógrafos, a descrição de estado de solidão decorrente da
indiferença dos nativos em relação a eles e do fato de se colocarem no cerne de
uma cultura diferente... Geertz (1978), por exemplo, conta de sua entrada em Bali
para o estudo da briga de galos: a sensação de absoluta transparência, decorrente
da total indiferença com que era tratado pelos balineses.
22
4ª fase) Escrita etnográfica: é a fase de leitura tanto do verbal como do nãoverbal. É a fase de lidar com o fenômeno observado enquanto instituição (que tem
sua racionalidade, sua lógica, suas regras). É fase de se dar conta de que cada
piscadela é um texto cultural... É a fase de rever conceitos postos pela própria
teoria-e-etnografia, de lidar com os fatos etnográficos, de fazer dizer o indizível,
de dar brecha para a linguagem do nativo dialogar diretamente com o leitor. É a
hora de desvendar as regras – quais são as regras e valores dentro daquela situação
- que não estão escritas e de fundamentar os significados descobertos num dado
sistema de crenças...
O exposto permite relacionar o trabalho etnográfico à Leitura e Interpretação de universos
verbais e não-verbais pois, o que se vê desde a origem da disciplina antropológica, é a prática
da observação ocular de um grupo de ethos, nos seus mínimos gestos, palavras e textos
culturais. Para confirmar isso, basta uma viagem pelo texto sobre o Casamento de Gilberto
Velho, ou pela brincadeira com Os Sonacirema (Os Americanos), onde cada piscadela é um
texto cultural. A título de consideração final, vale, aqui, observar a distinção mínima entre
etnologia e etnografia: a primeira é mais teorizante, enquanto a segunda é mais interpretativa
(coleta os dados e teoriza/interpreta seus significados – é uma descrição interpretada).
Entretanto, a grosso modo, um termo é empregado pelo outro.
III – ESSES FUNDAMENTOS NAS PESQUISAS DO PROGRAMA ESTAÇÃO DA
LEITURA
As pesquisas do Programa Estação da Leitura – ESTALE - têm sido sustentadas por muitos
dos Fundamentos da Pesquisa Etnográfica. Desde os primeiros trabalhos de 1992, a decisão
de atuar empiricamente, isto é, de ir a campo, fazer observações, anotações, interpretar dados
e as próprias interpretações dos pesquisados marcou a condução de suas investigações e os
resultados de seus trabalhos. Mais recentemente, a pesquisa com Histórias de Vida de leitores
da comunidade acadêmica da UESB foi a que mais se fundamentou nas orientações da
pesquisa antropológica: histórias de leitores foram coletadas, selecionadas e analisadas
segundo o roteiro da pesquisa etnográfica.
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Hoje, o ESTALE recorre a esses fundamentos para subsidiar as pesquisas junto aos estudantes
da comunidade através dos Projetos: Emília vai à Escola: práticas de leitura da obra
lobateana no Ensino Médio e No Reino da Imaginação: Experiências com Literatura
Infanto-juvenil.
Assim, quando planeja suas intervenções em campo, esses projetos têm em mente:
- pesquisar o estudante como homem, isto é, como objeto do saber. Os estudantes pesquisados
são considerados como portadores de cultura;
- constituir um saber de observação: os estudantes pesquisados são seres humanos físicos que
agem, pensam, falam sob a mira de um observador ocular. Nas oficinas de leitura dos
projetos em questão, além do ministrante há sempre um ou mais observadores atentos ao
que ocorre durante os trabalhos, registrando cada evento;
- valer-se do método indutivo para observação e análise: um grupo social (estudantes desta ou
daquela série e faixa etária) é observado empiricamente e a partir dessas observações é
feita a teorização, sendo que nesse momento não basta apenas interpretar, é necessário
interpretar as interpretações dos pesquisados. Para tanto, são coletados depoimentos,
feitas entrevistas ao final das oficinas para compor o corpus de análise;
- atuar numa sociedade complexa como quer a Antropologia Contemporânea. Os projetos em
questão fazem o exercício de transformar o familiar em exótico, segundo Velho e Da
Mata, para estranhar práticas e conceitos, ou melhor, pré-conceitos extratificados no senso
comum por mecanismos de legitimação, como diria Da Mata (1978:29). Essas pesquisas
querem saber se de fato O estudante de hoje não lê ou não gosta de ler ou ainda se O
jovem de hoje não se interessa pela leitura, como se ouve comumente. Nesse sentido, os
projetos do ESTALE aproveitam a proposta antropológica de observar o familiar no
intuito de ultrapassar os mapas das leituras apressadas e cotidianas sobre a realidade do
ensino da leitura nos espaços de educação formal. Assim, como quer Da Mata, as
investigações do ESTALE fazem uma viagem contemporânea: seus pesquisadores saem da
sua própria sociedade para encontrar o outro no próprio mundo social, realizando o que
Gilberto Velho (1978) chama de viagem vertical ou mergulho na própria cultura
procurando algo mais a poucos metros de onde mora. Assim, os grupos de pesquisados
pelos projetos do ESTALE são selecionados em escolas da mesma comunidade que os seus
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pesquisadores, mas pertencentes a esferas sociais distintas: os pesquisados são estudantes
da educação básica, enquanto os pesquisadores são em sua maioria estudantes de nível
superior e professores;
- lidar com fatos sociais da leitura, tal como Etnólogo/Etnógrafo lida com fatos sociais em
geral (= fatos etnográficos), procurando saber: se os estudantes lêem, o que lêem, como
lêem, que sentidos atribuem aos textos, se gostam de ler, como gostam de ler...
- mergulhar em campo em busca de semelhanças e diferenças, uma vez considerado que o
tema basilar da Antropologia é a diferença, o diálogo com a alteridade: o outro como seu
espelho e seu guia (Da Mata, 1978:35). No caso das pesquisas do ESTALE, o
comportamento dos pesquisados, diante desse ou daquele texto, faz o grupo de
pesquisadores pensar a sua própria relação e a do seu grupo social com os mesmos textos,
sua história de leitores bem como a do seu grupo de ethos. Nesse sentido, vale lembrar a
experiência com o texto Negrinha de Monteiro Lobato, quando, diante das leituras dos
pesquisados, os pesquisadores se remeteram naturalmente às leitura do mesmo correntes no
meio acadêmico, percebendo a lógica arrevesada dessas últimas – seus conceitos e préconceitos;
- considerar as coisas em seu contexto a exemplo da perspectiva do olhar antropológico e seu
relativismo. Os pesquisadores buscam compreender a lógica da produção sentido dos
pesquisados
sem
considerá-las
melhores
ou
piores,
superiores
ou
inferiores,
contextualizando cada dado e fato;
- eleger como objeto de trabalho leitores inseridos na sua cultura, buscando compreender o
seu modo de serem leitores. Tal como Geertz (1978) busca o homem inserido na sua
cultura e Marcel Mauss (1988) vê o indivíduo como fenômeno social, o ESTALE vai a
campo investigar a gramática da leitura entre crianças e jovens estudantes;
- privilegiar o método qualitativo de análise, sendo o recurso ao quantitativo apenas
coadjuvante, quando se entende que ele pode enriquecer a discussão;
- valer-se das estratégias de observação ocular, observação participante, entrevistas abertas,
contato direto, pessoal e temporário com o grupo pesquisado, diário etnográfico de
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Malinowski (1978) - a que chamamos diário de campo -, coletas de depoimentos,
excluindo biografias e relatos...
-
conferir
aos
pesquisadores
o
papel
de
tradutores,
como
o
desempenham
Etnólogos/Etnógrafos na expressão de Da Mata (1978:25). Os pesquisadores do ESTALE
buscam traduzir o que viram e ouviram em campo;
- adotar a atitude epistemológica de ir do concreto ao abstrato ou do concreto ao
desconhecido como diria Marcel Mauss (1974). As pesquisas do ESTALE partem das
oficinas de leitura nas escolas, em turmas selecionadas, para a reflexão sobre a formação
de leitores: da recepção do texto à metodologia de trabalho com leitura nos espaços de
educação formal, isto é, partem de suas experiências práticas para dialogar com os teóricos
da Estética da Recepção, da Pedagogia e da Sociologia da Leitura...
- ter por princípio, o diálogo entre o particular e o universal e, como código, a mistura
tradição-modernidade. Na teorização, os pesquisadores do ESTALE trabalham com todas
as vozes e todas as cores que possam colaborar no trabalho de interpretação do corpus
selecionado para análise, sendo o critério que rege as fontes de fundamentação a demanda
dos dados em análise;
- aceitar o exercício cognitivo da prática da intersubjetividade, admitindo a auto-reflexão, o
confronto de teorias (Peirano, 1990), o compreender o outro criticando-se (Zaluar, 1991 e
Merleau Ponty, s-d). O que permite aos pesquisadores dos projetos em questão a revisão
das supostas verdades sobre a leitura e a formação de leitores nascidas de mapeamentos
superficiais da realidade;
- assumir as quatro fases do pesquisador em campo tal como as três fases apontadas por Da
Mata (1978) sobre o trabalho do Antropólogo e às quais acrescentei uma quarta :
1ª - fase de contato com a teoria, quando os pesquisadores do ESTALE fazem a revisão
de literatura instrumentalizando-se teoricamente para atuar em campo (Fotos - Anexo
1);
2ª - fase de planejar a inserção em campo, escolhendo o que precisa levar, quando a
equipe de pesquisadores elabora formulários de entrevistas, diário de campo,
depoimentos, preparam máquina fotográfica para registro dos trabalhos, escolhem
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textos, preparam as oficinas de leitura, elegem o(s) ministrante(s) da oficina, decidem
sobre como conduzir as atividades e observar o grupo de pesquisados em ação (Fotos Anexo2);
3ª – fase do contato com os pesquisados e confronto com as teorias. É o momento em
que os pesquisadores estão em campo, isto é, em contato direto com a turma de
estudantes pesquisados, certificando a suficiência ou não do que viram na teoria, a
eficácia ou não da proposta de promoção de leitura escolhida. Nesse momento, tal como
Geertz em Bali, há ocasiões em que os pesquisadores se sentem transparentes por conta
da indiferença de alguns grupos de estudantes pesquisados (Fotos - Anexo 3);
4ª - fase de lidar com o observado enquanto instituição, dando conta de que o mínimo
gesto é significativo. Nessa fase, a que ainda não chegaram os projetos em questão, os
pesquisadores do ESTALE deverão rever conceitos, lidar com os fatos, fazer falar
gestos e palavras dos pesquisados, desvendar jogos e regras e fundamentar os
significados descobertos...
IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exposto permite afirmar:
- que as Pesquisas do ESTALE, mesmo sem se pretenderem Etnografias, encontram boa
fundamentação na Orientação Metodológica da Teoria da Pesquisa Etnográfica
Contemporânea. Mesmo sua ida a campo não chegando a se configurar como uma imersão
num grupo de ethos, nem seus resultados pretenderem dar conta de um sistema de crenças
de determinado grupo, suas ações contemplam itens importantes na Teoria dessa pesquisa,
a exemplo de: o tipo de saber construído (de observação), o método de observação e
análise (indutivo), a perspectiva de olhar (relativismo), o objeto de trabalho (o homem em
sua cultura), o método de análise (predominantemente qualitativo), as estratégias de
observação e registro de dados (contato direto, diário de campo – Modelo - Anexo 4 -...), o
papel do pesquisador (tradutor), a atitude epistemológica (ir do concreto ao abstrato), o
princípio (diálogo particular-universal), o código (mistura tradição-modernidade), o
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exercício cognitivo (da intersubjetividade), as fases de trabalho (teórico-intelectual,
prático, pessoal ou existencial, escrita)...
- que as atividades do estágio pós-doutoral nos permitiram pontuar essa contribuição da
Antropologia para as Pesquisas do Programa ESTALE - o que até então não havíamos
feito. Vale salientar que a partir da decisão de estagiar discutindo nossa(s) metodologia(s)
de trabalho, passamos a realizar sessões semanais de estudos sobre Metodologia da
Pesquisa ( Fotos - Anexo 5) e, dentre os resultados desses estudos, podemos destacar uma
qualificação no nosso trabalho de registro de dados a exemplo da Ficha de Identificação
dos Sujeitos Pesquisados ( Modelo - Anexo 6), criada para garantir um conhecimento
maior do nosso objeto de estudo.
V - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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ZALUAR, A. Relativismo cultural na cidade? In: Primeira Versão IFCH/Unicamp, nº 391991.
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Anexo IX
- Folder do novo Projeto de Pesquisa: Letras
de Nossa Terra
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32
33
EQUIPE ESTALE NA FACED/UFBA - 29/09/2011
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35
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