Anexo VII - Apresentação dos Projetos de Pesquisa em Eventos e Presença em Expedições de Pesquisa e Extensão do ESTALE * Certificados * Textos Produzidos 1 2 3 Obs: Texto apresentado na Semana de Pedagogia, 24 e 25-10-2010, UESB-Jequié - antes da revisão de metodologia científica dos projetos, feita nos Estágio. 4 5 6 A LITERATURA INFANTIL COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ESPAÇO ESCOLAR * ensaio - versão preliminar * Carla Valéria dos Santos Sales Gizelen Santana Pinheiro Elane Nardoto Rios Cabral Maria Afonsina Ferreira Matos A literatura sem dúvida é de grande importância na construção de nossa história, pois ela amplia e diversifica nossas visões e interpretações sobre o mundo e a vida como um todo. A literatura nasceu na antiga Grécia, sendo que em sua fundação não possuía tal nome, visto que era intitulada de poesia, além disso, tinha como finalidade entreter a nobreza no entremeio das guerras. No entanto, a literatura não era vista no século VI a. C como uma matéria educativa, uma vez que esta não servia para fazer parte do currículo escolar sob a sua identidade original. Colocada na base da educação, a leitura pôde assumir de imediato o componente democratizante da época e em seguida foi interpretada de forma incoerente como alfabetização, já que ler passou a significar introdução ao mundo dos sinais conhecidos como alfabeto e a certeza do poder fornecido por ele. Segundo Osakabe “o acesso ao conhecimento diferenciado, aquele que permite ao leitor reconhecer sua identidade, seu lugar social, as tensões que animam o contexto em que vive ou sobrevive, e sobretudo a compreensão, assimilação e questionamento seja da própria escrita, seja do real em que a própria escrita se inscreve.” Precisamos estar atentos a esta questão, pois a ausência da leitura em nossa vida bloqueia a possibilidade e acaba de certa forma, nos excluindo dos acontecimentos, da interpretação, da imaginação e das ficções, seja num romance ou num artigo; numa crônica ou num conto, numa poesia ou num manifesto, num jornal ou num ensaio, num gibi ou numa história infantil ou infanto-juvenil, enfim, são inúmeras as possibilidades de mergulhar no mundo da fantasia e da realidade encontradas no mundo das palavras. 7 A leitura propicia ao ser humano um instrumento para socializar com os demais novas informações. Levando ao homem o conhecimento e o acumulo de informações na sua biblioteca interior possibilidade de que ele acumule conhecimentos à medida que sua leitura progrida. O relacionamento do homem com o livro, a melhor ferramenta condutora de conhecimento, deve começar desde cedo. É importante aprender a ler, porque a condição de leitor é requisito indispensável à ascensão a novos graus de ensino e da sociedade. Ao trazermos o papel da literatura para os dias atuais, e destacando para isso o papel da escola como mediadora na construção do processo de formação de leitores, podemos perceber que a escola tem sido falha em explanar o lúdico e a leitura. Além disso, o prazer pela leitura se constrói através de um processo contínuo e dedicado. Nesse sentido, faz-se necessário propor atividades diversas e diferenciadas a fim de que se formem leitores capazes não somente de decodificar o que está escrito, mas se posicionar de maneira crítica frente à leitura desenvolvida. Acreditamos que as crianças e os jovens precisam sentir prazer em contato com a leitura. Martins (1989) chama a atenção para o contato sensorial com o trabalho, pois antes de ser um texto escrito, um trabalho é um objeto; tem forma, cor, textura. É imprescindível que a criança e/ou adolescente tenham o primeiro contato com a forma, o objeto de leitura, uma vez que são esses primeiros contatos que propiciarão o encanto pela leitura. Nesse contexto, a escola torna-se peça-chave para que a criança e/ou adolescente adquira o gosto de ler e, conseqüentemente, se torne leitor. Zilberman (1991) afirma que a escola é o lugar onde se aprende a ler e escrever, conhece-se a literatura e desenvolve-se o gosto de ler. Muitos estudos e pesquisas têm evidenciado a importância das atividades literárias diferenciadas no contexto educacional para o bom desempenho do aluno. A utilização da literatura como recurso pedagógico pode ser enriquecida e potencializada pela qualidade das intervenções do educador. Quando se refere à criança, logo percebemos que a literatura é essencial na escola como meio indispensável para que o aluno entenda o que se passa ao seu redor e para que seja capaz de compreender várias situações e escolher os caminhos com os quais se identifica. Assim, é necessário que dentro do ambiente escolar, o professor faça a mediação entre o texto literário e o aluno para que, assim, sejam criadas situações nas quais o aluno seja capaz de 8 realizar suas próprias leituras, concordando ou discordando e, sobretudo, fazendo uma leitura crítica do que lhe foi apresentado. Silva (2004) mostra que o educador preocupado com a formação do prazer pela leitura deve reservar espaços em que recomende atividades novas sem a obrigação de impor leituras e avaliar o educando. Trata-se de organizar espaços na escola e na sala de aula onde a leitura por fruição-prazer possa ser praticada pelas crianças e jovens. Portanto, é de suma importância desenvolver em nós uma “cultura de leitura”, pois só assim seremos aprendizes e formadores de opinião em todo ambiente social e democrático que estivermos. O avanço nos estudos pedagógicos a partir do século XX trazem uma nova dimensão e significado à infância, bem como a literatura destinada as crianças, sendo que estas deixam de ser tratadas ao longo da história como pequenos adultos, passando a serem vistas como crianças que necessitam de cuidados apropriados a sua condição. O autor Monteiro Lobato pode ser considerado um precursor da literatura infantil no nosso país, uma vez que inovou a linguagem dos livros infantis, isso em uma época em que os livros brasileiros eram editados em Paris, ou em Lisboa. Ele torna-se editor, passando a editar livros no Brasil, além disso, implanta uma série de inovações nos livros didáticos e infantis. Dedicando-se a escrever para as crianças faz uso de um estilo de escrita simples, em que realidade e fantasia se misturam. Segundo Marisa Lajolo (2000) o surgimento de livros para as crianças pressupõe uma organização social moderna, por onde circule uma imagem especial da infância: uma imagem da infância que veja nas crianças um público que, arregimentado pela escola, precisa ser iniciado em valores sociais e afetivos que a literatura torna sedutores. (...), um público específico, que precisa de uma literatura diferente da destinada aos adultos. Lobato ao voltar-se para o público infantil aposta alto na fantasia, presenteando a seus leitores modelos infantis, cujas as personagens se pautam pela curiosidade, pela imaginação, pela independência, pelo espírito crítico, pelo humor. 9 Pode-se notar que Lobato não poupou esforços para conhecer, satisfazer, até mesmo ultrapassar as expectativas de seu público alvo, destacando-se principalmente por criar suas obras com emoção, e pela forma simples e colorida, cujo elemento mais importante e que dá sentido as suas narrativas, é o aspecto de vivência, uma vez que suas criações nasciam de suas experiências, e dessa forma tirava proveito de maneira criativa e inteligente das narrativas fabulosas, das lendas e mitos regionais, dando-lhes vida, e transpondo-lhes para a realidade. Esse autor busca escrever para as crianças brasileiras sobre a sua gente, suas raízes e culturas, o que para Lajolo (2000) “na mesma busca de sintonia com seu tempo, não deixa de incorporar às histórias que inventa um lastro sólido de informações, muitas vezes coincidente com o currículo escolar. (...), em vários de seus livros, encontramos uma escola alternativa”. Levando em conta as palavras dessa autora não poderíamos deixar de citar como exemplo de uma grande escola, O Sítio do Picapau Amarela, a sua mais bela invenção, o qual a história passa a circular em 1921, ano em que foi publicado a “A menina do narizinho arrebitado”. O Sítio transforma-se em uma magnífica escola, onde as crianças aprendem gramática, aritmética, e até mesmo geologia. É possível notar que suas obras apesar de serem extremamente enraizadas na cultura brasileira, ultrapassam os limites do ruralismo, uma vez o Brasil arcaico onde vivem as suas personagens une-se com um Brasil moderno que encontra petróleo, fala ao telefone e viaja a lua. Além disso, o sítio de Dona Benta abriga personagens de outras tradições, como os heróis gregos, o Peno Polegar, Popeye e Dom Quixote. Para Lajolo (2000), “(...) colonizando a linguagem, Monteiro Lobato rompe em definitivo com a linguagem da literatura infantil brasileira anterior a ele. Em vez da imposição modelar de voz que narra às crianças, o narrador de Monteiro Lobato manifesta o gosto pela oralidade, pelo despojamento sintático, pela criação vocabular”. A leitura de suas obras era destinada ao leitor comum, para quem a magia de suas histórias era direcionada, sendo essa a razão pela qual evitou uma linguagem excessivamente técnica, proporcionando a fruição e encantamento pelos pequenos ante as suas obras. Assim, para Azevedo e Camargos (2001), “inovando na temática, Lobato não se esquece da linguagem, que ele dota de uma oralidade e uma simplicidade até então ausentes”. 10 Assim, podemos destacar que forma intuitiva e pioneira esse autor por meio de suas invenções ensinava a meninada a questionar a veracidade das convenções imposta pelos adultos. É através da magia de suas histórias que reside dentre outros aspectos, o seu caráter de universalidade, tornando suas obras atraentes e acessíveis a qualquer criança. Entretanto, é importante destacar que se em suas obras adultas eram enfocados os problemas brasileiros, da mesma maneira na sua produção literária infantil esse viés se faz presente, pois através do regaste do imaginário rural, seus costumes e folclore, ele aproxima o pequeno leitor do universo popular. Pode-se ressaltar ainda que Lobato além de adaptar seus textos literários ás fazes de raciocínio dos seus pequenos leitores, utiliza o livro como uma ferramenta através da qual muitos valores sociais passam a ser incorporados, de maneira que cria para a mente das crianças hábitos associativos, uma vez que relaciona a situações imagéticas vividas na ficção a ideais, comportamentos e crenças do dia a dia. Esse autor faz uso de um caráter descritivo, mesclando a realidade, e senso crítico num universo onde o real e à fantasia se misturam, mas sem deixar a margem à denúncia. Assim, investe ao mesmo tempo na inteligência e sensibilidade de seus leitores. Em suma, Monteiro Lobato destacou-se por trazer em suas obras literárias características nacionais que fizeram seus leitores se identificarem de imediato com as suas criações, sendo notória a sua preocupação com a ruptura da dicotomia que até então permanecia na literatura infantil brasileira, visto que é possível destacar em suas obras um a inquietação mostrada através de seus personagens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AZEVEDO, Carmem Lucia, CAMARGOS, Marcia & SACCHETA, Vladimir. Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia. 3ª Ed. – São Paulo: SENAC. São Paulo, 2001. GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas S/A, 2008. 11 LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A leitura rarefeita: Livro e Literatura no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1991. LAJOLO, Marisa. Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida/Marisa Lajolo.- São Paulo: Moderna, 2000. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1989. ORLANDI, Eni Puccinelli (Org.). A leitura e os leitores. Campinas, SP: Ed. Pontes, 1998. SILVA, Ezequiel Theodoro. Leitura na escola e na biblioteca. Campinas: Papirus,1995. SILVA, Ezequiel Theodoro. A produção da leitura na escola : pesquisas x propostas . São Paulo: Ática, 2004. SOUZA, Renata Junqueira de. Narrativas Infantis: a literatura e a televisão de que as crianças gostam. Bauru: USC, 1992. SOLÉ, I. Estratégias de leitura. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. ZILBERMAN, Regina, SILVA, Ezequiel Theodoro. Literatura e pedagogismo – ponto & contraponto. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990. ZIBERMAN, Regina. A Leitura e o Ensino da Literatura. São Paulo-SP; Contexto, 1988. 12 Anexo VIII - Texto Fundamentos Etnográficos das Pesquisas do Programa Estação da Leitura 13 FUNDAMENTOS ETNOGRÁFICOS DAS PESQUISAS DO PROGRAMA ESTAÇÃO DA LEITURA 1 MARIA AFONSINA FERREIRA MATOS2 ...precisamos cantar com todas as vozes da montanha, precisamos pintar com todas as cores do vento... Música cantada por Pocachontas no filme do mesmo nome - Walt Disney. I – INTRODUÇÃO: Considerações Históricas Sobre a Pesquisa Etnográfica 1 - Gênese da Disciplina Antropológica: Oswald de Andrade garante que foi num dia de chuva que vestiram o índio, pois fosse uma manhã de sol/ o índio tinha despido o português. A piada do poeta modernista faz remissão a um momento de espanto do velho mundo: a descoberta do Mundo Novo. Espanto, porque o contato visual com o estranho encheu a velha Europa de indagações: - Quem é esse outro? - Ele faz parte da humanidade? - Será que eles têm alma? - Que ser humano é esse homem? - É homem? A cada relato dos viajantes, o centro do mundo se enchia todo de pontos de interrogação, de exclamação, travessões, reticências... até que, sobre os pergaminhos 1 Texto apresentado como parte das atividades do Estágio Pós-doutoral na FACED/UFBA, para as Supervisoras Profª. Dra. Eulina da Rocha Lordelo e Profª. Dra Mary De Andrade Arapiraca. 2 Pós-doutoranda, Coordenadora do Programa Estação da Leitura- ESTALE –CEL/UESB. 14 dessa história, duas ideologias concorrentes e contrárias foram tomando corpo nos horizontes de um debate – ainda hoje marcado pelos ranços de um duplo discurso: 1.1. A Recusa do Estranho/Diferente Nesse discurso, se configura a exclusão da diferença. O outro – definido pela carência e apreendido pela falta - precisa ser eliminado, aculturado. Um exemplo significativo desse posicionamento é o do jurista espanhol Sepulvera (1550) para quem: as nações bárbaras e desumanas devem se conformar a uma vida mais humana e ao culto da virtude nem que para isso se usem as armas, pois é justo que os homens honrados, inteligentes, virtuosos e humanos dominem aqueles que não têm essas virtudes (Apud: LAPLANTINE,1991:39) 1.2 - A Fascinação pelo Estranho/Diferente Numa leitura contrária, o discurso da condescendência e proteção paternalista – fundado na insatisfação com a sociedade/a civilização – forma a seguinte opinião sobre os primitivos: Esses povos igualaram ou até superavam muitas nações e tinham uma ordem política que, em alguns reinos, é melhor que a nossa (...) igualavam-se aos gregos e romanos (...) superaram a Inglaterra, a França (...) Espanha (...) Nós mesmos fomos piores” (através de nossos ancestrais) pela barbárie de nosso modo de vida e pela depravação dos nossos costumes. (Resposta do dominicano Las Casas a Sepulvera, idem: 38-9). 2- A Antropologia a partir do Século XIV 2.1. O Mau Selvagem: Sob o signo da ausência, índios e negros, eram julgados pelos seguintes critérios: - Religioso: sem religião, sem alma, sem espírito, sem Deus... - Aparência física: sem roupa, sem barba, sem sobrancelhas, sem pelos, sem beleza... - Comportamentos alimentares: sem modos (se alimenta como animal), não cozinha a carne (lembrando canibalismo) 15 - Comportamento social: sem lei, sem Estado, sem objetivo, sem arte, sem ardor com sua fêmea, desorganizados, ( visto no século XV, sem complexo de Édipo)... - A inteligência: sem língua inteligível, sem escrita... - Histórico: sem passado, sem futuro, sem História... - Utilitário: preguiçosos, desanimados, vegetativos.. 2.1.1. Partidários desse discurso: Tomados de horror ao estado de natureza de índios e/ou negros, ao longo do tempo, alguns nomes vão se perfilando na história do pensamento: Oviedo, em: História das Índias (1550) Cornelius de Pauw: Pesquisas sobre Americanos ou Relatos Interessantes à História da Espécie Humana (1774) Hegel: Introdução à Filosofia da História (1830) 2.2 - O Bom Selvagem: Numa leitura romantizada – decorrente do desencanto com o progresso e com as promessas da sociedade tecnológica – alguns viajantes e estudiosos preferem uma inversão de olhar, de significações e valores, assumindo critérios radicalmente opostos no julgamento do diferente: - o vazio se torna cheio; - o menos se torna mais; - a desvantagem se torna vantagem. Essa perspectiva inversa surge, embrionariamente, nos relatos dos primeiros viajantes, ganha força no Rousseaunianismo do século XVIII e toma corpo no Romantismo. Entre os exemplos que, neste sentido, podem ser bem lembrados, estão: 2.2.1 -Dentre os Primeiros Viajantes: Américo Vespúcio – que via os nativos como pessoas nuas, bonitas, corpo elegante, um grupo social onde o homem procura a mulher que lhe agrada não se importando se ela é a sua irmã, amiga, ou mãe... 16 Cristovão Colombo – que vê no Novo Mundo a melhor terra, os melhores homens... que não sabem se matar... Ambos citados por Laplantine (1991: 47) 2.2.2 - No Século XVI: É tempo de discutir a noção de crueldade e os debates se orientam sobre a crítica da civilização e o elogio da ingenuidade original. Nesse sentido: * Léry - em Viagem - é de opinião que os críticos eurocêntricos são mais cruéis que os selvagens de que falam. * Montaigne - em seus Ensaios – afirma que nós os superamos em toda sorte de barbárie. 2.2.3 - Nos Secúlos XVII e XVIII * Nas primeiras Relações dos Jesuítas (1626) se lê: -São afáveis, liberais, moderados... -Seu ideal: viver em comum, sem avareza, assíduo no trabalho. * La Hontan, entre os livre-pensadores, se entusiasma: -sem lei, sem prisões, sem torturas passam a vida na doçura, na tranqüilidade e gozam de uma felicidade desconhecida dos franceses (Apud: LAPLANTINE,1991:48) -Nos Espetáculos parisienses, como Arlequim Selvagem (1721), personagens caracterizando nativos criticam o mundo civilizado: -vocês são pobres, pois limitam seus bens ao dinheiro em vez de simplesmente gozar da criação, como nós...(idem: 49). * Bougainvelle, em Viagem ao redor do mundo, decanta a qualidade de vida do novo mundo: -dia ou noite, as casas estão abertas (...) Tudo lembra a cada instante as doçuras do amor...(idem: 49) 17 Nessa mesma linha pode-se ainda lembrar Chateaubriand, Condilac e até Sapir (1925) que chama essas sociedades de autênticas e faz ecoar, através do tempo, o romantismo franco de Malinowski em sua declaração: A Antropologia, para mim, era uma fuga (...) para longe da nossa cultura uniformizada. Isso, para Alfred Métraux, é nostalgia do neolítico na vocação de etnólogo (idem: 51). Diante do exposto, até aqui, é possível afirmar que, entre a repulsa e o fascínio, a imagem da alteridade foi oscilando até o século XVIII: feio ou lindo, feliz/infeliz, trabalhador/preguiçoso, sem Deus/religioso, violento/pacífico, predador/solidário, estúpido/virtuoso... Pode-se disso, também, apreender os primeiros dados etnográficos considerados: características físicas, estados emocionais, fé, comportamento social, hábitos, costumes, crenças, desempenho lingüístico e tudo o mais que possa significar na descrição de um grupo de ethos. De tudo isso se depreende ainda os exercícios básicos do fazer etnográfico: o estranhamento e a auto–reflexão. II – A ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA DO HOMEM: A Pesquisa Etnológica/Etnográfica Propriamente Dita 1 - O Projeto Antropológico a partir do século XVIII Desejando criar uma ciência do homem, esse projeto trabalha sobre os seguintes pressupostos: 1.1 - Construção de um conceito de homem não mais apenas como sujeito, mas, agora, também como objeto do saber... O homem passa a si pesquisar... 1.2 - Constituição de um saber de observação, isto é, de um novo modo de acesso ao homem em sua existência concreta, o homem físico enquanto ser vivo que trabalha, pensa e fala... sob a mira de um observador ocular... 1.3 - Problemática essencial: a diferença, rompendo com o pensamento do mesmo... 18 1.4 - Um método de observação e análise: o método indutivo: Os grupos sociais, enquanto sistemas, podem ser estudados empiricamente, a partir da observação de fatos que levam à teorização. Pois não basta apenas observar, é preciso processar a observação. Não basta mais interpretar é preciso interpretar interpretações. E a interpretação será sempre uma versão sobre determinada cultura. Sobre essas bases nasceu, enfim, a etnologia, a ciência das sociedades primitivas que se dedicou ao estudo do exótico, do estranho aos nossos olhos. 2 - A Etnografia como Leitura do Homem no Mundo: Até o século XVIII, o exercício antropológico consistiu em transformar o exótico em familiar, mas com as mudanças sociais ocorridas nos séculos seguintes, a pesquisa antropológica se deu conta da existência de um universo de decisões e interações cotidianas, além das sociedades ditas primitivas. A ciência do homem percebeu que era possível, no contexto das sociedades denominadas complexas, transformar o familiar em exótico (Gilberto Velho, Da Mata...) para estranhar regras sociais que estão petrificadas dentro de nós pela reificação e pelos mecanismos de ligitimação. (Da Mata, 1978: 29). A antropologia, então, passou a observar o familiar, no desejo de ultrapassar os mapas que as nossas leituras apressadas e cotidianas constroem sobre a realidade. Isso nas palavras de Da Mata (idem) é uma viagem. Antes, na Antropologia Clássica, era uma viagem do herói que saía da sua sociedade para descobrir novos mundos. Agora, ele sai da sua sociedade para encontrar o outro nos confins do seu próprio mundo social. Se a viagem daquele tempo era horizontal, a viagem de agora é vertical: é um mergulho no fundo do poço da sua própria cultura, procurando o outro a alguns quarteirões de onde mora (Velho, 1978)... 2.1 - O trabalho do etnólogo/etnógrafo: lidar com fatos sociais (= fatos etnográficos), buscar as regras, os valores, as idéias, ou melhor, os imponderáveis da vida social pela leitura verbal/não verbal do universo pesquisado. Veja, por exemplo, a leitura feita no texto Os Sonacirema: todos os seus hábitos, costumes, 19 comportamentos... são anotados. Esse texto, diga-se de passagem, é uma brincadeira com a Antropologia: sonacirema é anagrama de Americanos – o autor brinca de fazer uma etnografia sobre eles, como se estivesse lidando com uma tribo dita primitiva. 2.2 - Tema basilar da Antropologia: a diferença, o diálogo com a alteridade... pois o homem não se enxerga sozinho (...) ele precisa do outro como seu espelho e seu guia. (Da Mata, 1978:35). 2.3 - Perspectiva do Olhar Antropológico: o relativismo = considerar as coisas no seu contexto e não em termos de cultura superior ou inferior como quer a atitude etnocêntrica. 2.4 - Objeto de Trabalho: O indivíduo como fenômeno social (Marcel Mauss, 1988). O homem inserido na sua cultura (Geertz, 1978) - sendo cultura entendido como conjunto de crenças, rede de significados, sistema de representação de um grupo de ethos - o seu modo de vida... 2.5 - Método: predominantemente qualitativo. 2.6 - Estratégias: observação ocular, observação participante entrevistas abertas, contato direto, pessoal, vivência temporária no meio do grupo pesquisado, diário etnográfico (Malinowski, 1978), coleta de depoimentos, de relatos orais, das histórias de vida quando se deixa clara a admissão do ponto de vista dos nativos. Para Mauss (1988:36), a história de vida é a técnica capaz de captar o que sucede na encruzilhada da vida individual com o social. 2.7 - Papel do Etnólogo/etnógrafo: interpretar, traduzir. Para Da Mata (1978:25), o etnógrafo é um tradutor. 2.8 - Tema: a diferença – o diálogo com a alteridade. 2.9 - Desafio da Antropologia: tentar pôr-se no lugar do outro e captar suas vivências e experiências particulares. 2.10 - Atitude Epistemológica: ir do concreto ao desconhecido (Marcel Mauss, 1974). 20 2.11 - Princípio: o diálogo entre o particular e o universal. 2.12 - Código: a mistura tradição/modernidade 2.13 - Objeto de Análise: categorias nativas, discursos e práticas de indivíduos socialmente datados... 2.14 - Questões Antropológicas: A ciência do homem faz as seguintes perguntas: - Quem sou eu? - Quem é o outro? - O que somos? - O que queremos e pensamos da vida? - Em que acreditamos? 2.15 - Exercício Cognitivo: a prática da intersubjetividade: - compreender o outro para compreender a lógica de sua própria compreensão, criticando-se. (Zaluar, 1991 e Marleau Ponty, s/d.) - o estranhamento, o diálogo com o outro, como meios de auto-reflexão e confronto de teorias. (Peirano, 1990). Em outras palavras, isso equivale a dizer que os contatos do etnógrafo com o campo lhe permitem revisões nos conceitos socialmente cristalizados: os rótulos atribuídos às coisas a partir de um mapeamento superficial da realidade. 2.16.-Objetivos etnográficos: desvendar máscaras sociais (Malinowski, 1978) fazer uma leitura cuidadosa: - da gramática cultural de um grupo de ethos - dos sistemas de representação, classificação e organização de um determinado universo (Dauster, 1994); - do homem embebido e portador de sua cultura (Lavisolo,1984); - do homem tratado como ser vivo (Laplantine, 1991); - dos homens como atores sociais (Magnani, 1988). 21 2.17 - A entrada do Antropólogo no Campo de Pesquisa: Roberto Da Mata (1978) descreve três fases do trabalho Antropológico (teóricointelectual; prático; pessoal ou existencial) e eu acrescento mais uma (a quarta fase: a da escrita do texto etnográfico), assim: 1ª fase) Teórico–intelectual: é a fase de conhecer, em abstrato, o objeto da pesquisa, ou seja, conhecer pelos livros, artigos, ensaios de outros o universo a ser pesquisado... É a primeira aproximação, feita indiretamente... É a fase do contato com a teoria e a história da Antropologia (Peirano, 1990) E é a fase da leitura do verbal, mais que outra... 2ª fase) Período prático: é a fase de planejar a inserção no campo: o que vou levar? De que necessito para realizar meu trabalho? Quanto preciso para passar essa temporada no campo? É a fase de uma leitura predominantemente nãoverbal... 3ª fase) Pessoal ou existencial: é o momento de fazer a síntese da biografia com a teoria, da prática do mundo com a do ofício. É a fase de leituras, ora mais verbal, ora mais não-verbal. Não se está mais, aqui, dialogando com livros, planos, mas com pessoas. Estou no campo e, como diz Da Mata (idem: 25), Vejo-me diante de gente de carne e osso. Gente boa e antipática, gente sabida e estúpida, gente feia e bonita. Estou submerso num mundo que se situava, e depois da pesquisa volta a se situar entre a realidade e o livro. É a fase de se dar conta de estar entre dois fogos: a minha cultura e uma outra, o meu mundo e um outro para traduzir um outro sistema para minha linguagem e sem medo de ser feliz. É fase de assumir uma objetividade relativa e admitir a subjetividade da interpretação... A propósito dessa fase, é muito comum, nos depoimentos dos etnógrafos, a descrição de estado de solidão decorrente da indiferença dos nativos em relação a eles e do fato de se colocarem no cerne de uma cultura diferente... Geertz (1978), por exemplo, conta de sua entrada em Bali para o estudo da briga de galos: a sensação de absoluta transparência, decorrente da total indiferença com que era tratado pelos balineses. 22 4ª fase) Escrita etnográfica: é a fase de leitura tanto do verbal como do nãoverbal. É a fase de lidar com o fenômeno observado enquanto instituição (que tem sua racionalidade, sua lógica, suas regras). É fase de se dar conta de que cada piscadela é um texto cultural... É a fase de rever conceitos postos pela própria teoria-e-etnografia, de lidar com os fatos etnográficos, de fazer dizer o indizível, de dar brecha para a linguagem do nativo dialogar diretamente com o leitor. É a hora de desvendar as regras – quais são as regras e valores dentro daquela situação - que não estão escritas e de fundamentar os significados descobertos num dado sistema de crenças... O exposto permite relacionar o trabalho etnográfico à Leitura e Interpretação de universos verbais e não-verbais pois, o que se vê desde a origem da disciplina antropológica, é a prática da observação ocular de um grupo de ethos, nos seus mínimos gestos, palavras e textos culturais. Para confirmar isso, basta uma viagem pelo texto sobre o Casamento de Gilberto Velho, ou pela brincadeira com Os Sonacirema (Os Americanos), onde cada piscadela é um texto cultural. A título de consideração final, vale, aqui, observar a distinção mínima entre etnologia e etnografia: a primeira é mais teorizante, enquanto a segunda é mais interpretativa (coleta os dados e teoriza/interpreta seus significados – é uma descrição interpretada). Entretanto, a grosso modo, um termo é empregado pelo outro. III – ESSES FUNDAMENTOS NAS PESQUISAS DO PROGRAMA ESTAÇÃO DA LEITURA As pesquisas do Programa Estação da Leitura – ESTALE - têm sido sustentadas por muitos dos Fundamentos da Pesquisa Etnográfica. Desde os primeiros trabalhos de 1992, a decisão de atuar empiricamente, isto é, de ir a campo, fazer observações, anotações, interpretar dados e as próprias interpretações dos pesquisados marcou a condução de suas investigações e os resultados de seus trabalhos. Mais recentemente, a pesquisa com Histórias de Vida de leitores da comunidade acadêmica da UESB foi a que mais se fundamentou nas orientações da pesquisa antropológica: histórias de leitores foram coletadas, selecionadas e analisadas segundo o roteiro da pesquisa etnográfica. 23 Hoje, o ESTALE recorre a esses fundamentos para subsidiar as pesquisas junto aos estudantes da comunidade através dos Projetos: Emília vai à Escola: práticas de leitura da obra lobateana no Ensino Médio e No Reino da Imaginação: Experiências com Literatura Infanto-juvenil. Assim, quando planeja suas intervenções em campo, esses projetos têm em mente: - pesquisar o estudante como homem, isto é, como objeto do saber. Os estudantes pesquisados são considerados como portadores de cultura; - constituir um saber de observação: os estudantes pesquisados são seres humanos físicos que agem, pensam, falam sob a mira de um observador ocular. Nas oficinas de leitura dos projetos em questão, além do ministrante há sempre um ou mais observadores atentos ao que ocorre durante os trabalhos, registrando cada evento; - valer-se do método indutivo para observação e análise: um grupo social (estudantes desta ou daquela série e faixa etária) é observado empiricamente e a partir dessas observações é feita a teorização, sendo que nesse momento não basta apenas interpretar, é necessário interpretar as interpretações dos pesquisados. Para tanto, são coletados depoimentos, feitas entrevistas ao final das oficinas para compor o corpus de análise; - atuar numa sociedade complexa como quer a Antropologia Contemporânea. Os projetos em questão fazem o exercício de transformar o familiar em exótico, segundo Velho e Da Mata, para estranhar práticas e conceitos, ou melhor, pré-conceitos extratificados no senso comum por mecanismos de legitimação, como diria Da Mata (1978:29). Essas pesquisas querem saber se de fato O estudante de hoje não lê ou não gosta de ler ou ainda se O jovem de hoje não se interessa pela leitura, como se ouve comumente. Nesse sentido, os projetos do ESTALE aproveitam a proposta antropológica de observar o familiar no intuito de ultrapassar os mapas das leituras apressadas e cotidianas sobre a realidade do ensino da leitura nos espaços de educação formal. Assim, como quer Da Mata, as investigações do ESTALE fazem uma viagem contemporânea: seus pesquisadores saem da sua própria sociedade para encontrar o outro no próprio mundo social, realizando o que Gilberto Velho (1978) chama de viagem vertical ou mergulho na própria cultura procurando algo mais a poucos metros de onde mora. Assim, os grupos de pesquisados pelos projetos do ESTALE são selecionados em escolas da mesma comunidade que os seus 24 pesquisadores, mas pertencentes a esferas sociais distintas: os pesquisados são estudantes da educação básica, enquanto os pesquisadores são em sua maioria estudantes de nível superior e professores; - lidar com fatos sociais da leitura, tal como Etnólogo/Etnógrafo lida com fatos sociais em geral (= fatos etnográficos), procurando saber: se os estudantes lêem, o que lêem, como lêem, que sentidos atribuem aos textos, se gostam de ler, como gostam de ler... - mergulhar em campo em busca de semelhanças e diferenças, uma vez considerado que o tema basilar da Antropologia é a diferença, o diálogo com a alteridade: o outro como seu espelho e seu guia (Da Mata, 1978:35). No caso das pesquisas do ESTALE, o comportamento dos pesquisados, diante desse ou daquele texto, faz o grupo de pesquisadores pensar a sua própria relação e a do seu grupo social com os mesmos textos, sua história de leitores bem como a do seu grupo de ethos. Nesse sentido, vale lembrar a experiência com o texto Negrinha de Monteiro Lobato, quando, diante das leituras dos pesquisados, os pesquisadores se remeteram naturalmente às leitura do mesmo correntes no meio acadêmico, percebendo a lógica arrevesada dessas últimas – seus conceitos e préconceitos; - considerar as coisas em seu contexto a exemplo da perspectiva do olhar antropológico e seu relativismo. Os pesquisadores buscam compreender a lógica da produção sentido dos pesquisados sem considerá-las melhores ou piores, superiores ou inferiores, contextualizando cada dado e fato; - eleger como objeto de trabalho leitores inseridos na sua cultura, buscando compreender o seu modo de serem leitores. Tal como Geertz (1978) busca o homem inserido na sua cultura e Marcel Mauss (1988) vê o indivíduo como fenômeno social, o ESTALE vai a campo investigar a gramática da leitura entre crianças e jovens estudantes; - privilegiar o método qualitativo de análise, sendo o recurso ao quantitativo apenas coadjuvante, quando se entende que ele pode enriquecer a discussão; - valer-se das estratégias de observação ocular, observação participante, entrevistas abertas, contato direto, pessoal e temporário com o grupo pesquisado, diário etnográfico de 25 Malinowski (1978) - a que chamamos diário de campo -, coletas de depoimentos, excluindo biografias e relatos... - conferir aos pesquisadores o papel de tradutores, como o desempenham Etnólogos/Etnógrafos na expressão de Da Mata (1978:25). Os pesquisadores do ESTALE buscam traduzir o que viram e ouviram em campo; - adotar a atitude epistemológica de ir do concreto ao abstrato ou do concreto ao desconhecido como diria Marcel Mauss (1974). As pesquisas do ESTALE partem das oficinas de leitura nas escolas, em turmas selecionadas, para a reflexão sobre a formação de leitores: da recepção do texto à metodologia de trabalho com leitura nos espaços de educação formal, isto é, partem de suas experiências práticas para dialogar com os teóricos da Estética da Recepção, da Pedagogia e da Sociologia da Leitura... - ter por princípio, o diálogo entre o particular e o universal e, como código, a mistura tradição-modernidade. Na teorização, os pesquisadores do ESTALE trabalham com todas as vozes e todas as cores que possam colaborar no trabalho de interpretação do corpus selecionado para análise, sendo o critério que rege as fontes de fundamentação a demanda dos dados em análise; - aceitar o exercício cognitivo da prática da intersubjetividade, admitindo a auto-reflexão, o confronto de teorias (Peirano, 1990), o compreender o outro criticando-se (Zaluar, 1991 e Merleau Ponty, s-d). O que permite aos pesquisadores dos projetos em questão a revisão das supostas verdades sobre a leitura e a formação de leitores nascidas de mapeamentos superficiais da realidade; - assumir as quatro fases do pesquisador em campo tal como as três fases apontadas por Da Mata (1978) sobre o trabalho do Antropólogo e às quais acrescentei uma quarta : 1ª - fase de contato com a teoria, quando os pesquisadores do ESTALE fazem a revisão de literatura instrumentalizando-se teoricamente para atuar em campo (Fotos - Anexo 1); 2ª - fase de planejar a inserção em campo, escolhendo o que precisa levar, quando a equipe de pesquisadores elabora formulários de entrevistas, diário de campo, depoimentos, preparam máquina fotográfica para registro dos trabalhos, escolhem 26 textos, preparam as oficinas de leitura, elegem o(s) ministrante(s) da oficina, decidem sobre como conduzir as atividades e observar o grupo de pesquisados em ação (Fotos Anexo2); 3ª – fase do contato com os pesquisados e confronto com as teorias. É o momento em que os pesquisadores estão em campo, isto é, em contato direto com a turma de estudantes pesquisados, certificando a suficiência ou não do que viram na teoria, a eficácia ou não da proposta de promoção de leitura escolhida. Nesse momento, tal como Geertz em Bali, há ocasiões em que os pesquisadores se sentem transparentes por conta da indiferença de alguns grupos de estudantes pesquisados (Fotos - Anexo 3); 4ª - fase de lidar com o observado enquanto instituição, dando conta de que o mínimo gesto é significativo. Nessa fase, a que ainda não chegaram os projetos em questão, os pesquisadores do ESTALE deverão rever conceitos, lidar com os fatos, fazer falar gestos e palavras dos pesquisados, desvendar jogos e regras e fundamentar os significados descobertos... IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS O exposto permite afirmar: - que as Pesquisas do ESTALE, mesmo sem se pretenderem Etnografias, encontram boa fundamentação na Orientação Metodológica da Teoria da Pesquisa Etnográfica Contemporânea. Mesmo sua ida a campo não chegando a se configurar como uma imersão num grupo de ethos, nem seus resultados pretenderem dar conta de um sistema de crenças de determinado grupo, suas ações contemplam itens importantes na Teoria dessa pesquisa, a exemplo de: o tipo de saber construído (de observação), o método de observação e análise (indutivo), a perspectiva de olhar (relativismo), o objeto de trabalho (o homem em sua cultura), o método de análise (predominantemente qualitativo), as estratégias de observação e registro de dados (contato direto, diário de campo – Modelo - Anexo 4 -...), o papel do pesquisador (tradutor), a atitude epistemológica (ir do concreto ao abstrato), o princípio (diálogo particular-universal), o código (mistura tradição-modernidade), o 27 exercício cognitivo (da intersubjetividade), as fases de trabalho (teórico-intelectual, prático, pessoal ou existencial, escrita)... - que as atividades do estágio pós-doutoral nos permitiram pontuar essa contribuição da Antropologia para as Pesquisas do Programa ESTALE - o que até então não havíamos feito. Vale salientar que a partir da decisão de estagiar discutindo nossa(s) metodologia(s) de trabalho, passamos a realizar sessões semanais de estudos sobre Metodologia da Pesquisa ( Fotos - Anexo 5) e, dentre os resultados desses estudos, podemos destacar uma qualificação no nosso trabalho de registro de dados a exemplo da Ficha de Identificação dos Sujeitos Pesquisados ( Modelo - Anexo 6), criada para garantir um conhecimento maior do nosso objeto de estudo. V - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: DA MATA, R. O oficio do etnólogo, ou como ter Antropological Blues. In: Aventura Sociológica (Org. Nunes) Rio: Zahar, 1978. Dauster, T. Navegando contra a corrente? O educador, o antropólogo e o relativismo. In: A crise dos Paradigmas (org. Zaia Brandão). São Paulo: Cortez, 1994. DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, pp 73-84. DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. Introdução – pp 2005-19 e Conclusão – pp 234-45. 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