O VINHO NOVO DA INTERIORIDADE Olhar só por fora é inútil e vão. Por dentro das coisas é que as coisas são. (António Aleixo) É “por dentro” que podes escutar o murmúrio do Espírito, acolher a sua luz que te revela quem és, com o nome que Deus te deu ao criar-te… Entra na tenda do teu coração e deixa-te encontrar pelo Senhor que nele habita… Na intimidade que te faz ser o que és, na verdade do sonho de Deus para ti… Na fonte onde a vida brota e ilumina o teu olhar para saberes como és preciosa para o teu Deus… R/ Deixa Deus entrar na tua própria casa. / Deixa-te tocar pela sua graça! Dentro em segredo, reza-Lhe sem medo: / Senhor, Senhor, que queres que eu faça? Acolhe o dom da graça que fecunda os teus gestos, os teus passos… Deus, que te plasma a cada momento… ”Ele quer-te apoiada somente n’Ele”! (C. 165,2) A relação contigo mesma só pode acontecer neste luminoso espaço de serenidade, no abraço da paz com que o Pai te envolve como “filha muito amada”. Permanece em silêncio sob o olhar de Deus Criador, deixando-te amar por Ele… Que no teu “mais dentro” te encontres contigo mesma, sem tensões nem divisões: toma consciência da medula do teu ser onde és, apenas e totalmente, o que Deus é em ti… Este centro é o lugar privilegiado de relação contigo mesma… e com o teu Senhor. Entra descalça, devagarinho, na terra sagrada da tua interioridade: deixa-te tocar por Deus, que transforma o teu coração no seu Coração para te amares como Ele te ama e Lhe confiares o teu desejo de fazeres da tua vida um Dom. (Música de fundo muito suave, que vai baixando progressivamente… até dar lugar ao silêncio) Após este encontro com a própria interioridade, agradeçamos ao nosso Criador o ser que Ele partilhou com cada uma de nós. A perfeição a que aspiramos nunca será a “marca” da nossa vida: como disse Emmanuel Mounier, “nós não somos, vamos sendo”… Só Deus É! Só n’Ele nós podemos ir aprendendo a ser, “até atingirmos a maturidade em Cristo”! Só na sua Luz seremos luz para o mundo…Só com a sua graça, seremos capazes de, como Paula, “velar pela Luz do Sacrário”, pela nossa “luz interior”, sinal da sua Presença. Cada irmã, serenamente, vai buscar a sua lamparina e permanece em oração silenciosa Vamos fazer nosso, hoje, o Salmo 138, na atitude que Paula sempre viveu: “Como é Bom o nosso Bom Deus!” Senhor, Tu olhas-me e lês no meu olhar o que guardo na tenda do meu coração; cada meu gesto Te é familiar porque me criaste e continuamente me recrias na liberdade do meu interior. És a minha força no trabalho e no meu tempo livre; conheces os meus pensamentos e desejos, as palavras que digo e todos os projectos que encerram. A tua presença sempre me acompanha: esta certeza fascina-me e conduz-me! O que seria eu sem ti? Que esperanças não passariam de miragens, sem a tua luz? Todo o meu ser é um dom maravilhoso (C. 566,4.) criado pela tua mão, cinzelado com arte e amor, nas entranhas do seio da minha mãe. Como Te agradeço, Senhor, a beleza que partilhaste comigo fazendo de mim um raio da tua beleza! Tu conhecias os meus sonhos e os meus medos ainda antes que eu os experimentasse; todos os acontecimentos da minha existência Te eram familiares mesmo antes que eu os vivesse… Como encheste a minha vida de dons e de graças! Tenho vontade de os ir contando a todos, mas seria uma história muito longa: inumeráveis pequenos sinais que sempre me projectam para o grande e único Dom que és Tu, Senhor! Concede-me a tua luz para me conhecer no íntimo do meu coração. Faz-me ir discernindo se as minhas escolhas são justas e conduz-me pela mão, cada dia, pelos caminhos que me levam à Vida verdadeira. Amen. (adapt. Sergio Carrarini) Cultiva no teu coração o silêncio e a paz. Reveste-te da serenidade do poente e da esperança do nascer de cada dia. Fazte presença a ti mesma, feliz por tudo o que te é dado, reconciliada com o que te parece que terias direito a ter e não encontras. Livre e feliz. Grata e confiante. Nessa atitude, poderás celebrar a vida como uma festa, a tua vida, a vida dos outros, a vida do mundo. Em ti, Deus alegrar-se-á com o banquete da Vida: a Vida que Ele é e nos chama a partilhar, numa crescente concelebração de esperança e de alegria. Prepara a mesa da festa, com amor; o banquete da vida, com generosidade; acolhe cada um dos que forem chegando, com o calor do teu coração; partilha com todos, sem fazeres acepção de pessoas, tudo o que tens e és. Tu… és tu e a riqueza do que vive no teu coração! Tu… és tu e a relação que fores aprendendo a ter com tudo o que vai tecendo o teu dia a dia! Tu… és tu e a feliz convivência com os teus dons, possibilidades e limites – na certeza de que vais construindo, passo a passo, a perfeição do teu primeiro dia do Amor na plena Luz! Cântico final: 1. No mais fundo do meu ser, / vais cantando Tu: Eu sou. / E tentando responder, / Eu vou-Te seguindo, vou… E na força da canção, / vou abrindo o coração… R/ Tu vais sendo corpo em mim, / eu vou renascendo em Ti. /Tu és raiz de mim, / em ti Eu sou. Em ti! 2. Vem Tu receber, Senhor, / a oferta do meu ser: / e o dom de Ti em mim / mantém novo meu viver. E neste cantar profundo, /Tu vais transformando o mundo… R/ ENTRA NA TENDA DO TEU CORAÇÃO… DEUS CUIDARÁ DA TUA LUZ! CAPÍTULO GERAL XX ROMA, OUT. – NOV. 2009