O ESTÁGIO COMO CAMPO DE CONHECIMENTO: EDUCAÇÃO

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O ESTÁGIO COMO CAMPO DE CONHECIMENTO: EDUCAÇÃO
SOCIOCONSTRUTIVISTA E RESPONSABILIDADE SÓCIO–AMBIENTAL E
CULTURAL.
Autora: Bruna Dayane Xavier de Araújo
Graduanda em Geografia - Universidade Federal do Ceará- UFC
[email protected];
Co-autora: Lorene Gomes da Silva
Graduanda em Geografia - Universidade Federal do Ceará - UFC
[email protected],
Orientadora: Profª Ms. Maria Edivani Silva Barbosa
Universidade Federal do Ceará - UFC
[email protected]
Resumo:
O presente trabalho é resultado de uma pesquisa realizada durante o Estágio Curricular
Supervisionado I, do curso de Geografia, da Universidade Federal do Ceará.
Compreende-se o Estágio Curricular como um campo de conhecimento que se produz na
interação entre os cursos de formação e o campo social no qual de se desenvolvem as
práticas educativas. Assim, o estágio pode se constituir em atividade de pesquisa. A escola
particular Vila onde foi realizado o Estágio possui uma metodologia socioconstrutivista,
portanto, considera o reconhecimento do espaço, a identificação cultural, a valorização do
patrimônio cultural e a responsabilidade sócio-ambiental dentro de sua metodologia de ensino.
A pesquisa focaliza o espaço escolar, seus atores sociais e as propostas pedagógicas na qual
a escola se baseia. A metodologia para o desenvolvimento deste trabalho se traduz na
observação do espaço escolar, na análise das propostas pedagógicas da escola e o
embasamento teórico a partir de textos que trabalham com a temática. O objetivo principal é
a experiência do estágio curricular na formação dos licenciandos, futuros profissionais da área
de educação, enfatizando o estágio como componente curricular e eixo central nos cursos de
formação de professores. Assim, salientado que a escola em questão possui uma metodologia
diferenciada, que instigará a buscar métodos inovadores para as aulas de Geografia.
Compreende-se neste trabalho que a educação pode ser um instrumento tanto de dominação
e manutenção da ideologia predominante como também pode ser um instrumento de
transformação social. Portanto, é preciso estar atento que educação os futuros docentes
estarão difundindo.
Palavras - chave: Estágio curricular, Educação socioconstrutivista, Relatos de experiências
CONCEPÇÃO DE ESTÁGIO: TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DOCENTE
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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O presente trabalho é um esforço de síntese de relato e reflexão acerca da disciplina
Estágio Curricular Supervisionado I, realizado durante o semestre 2010.1, no curso de
Geografia da Universidade Federal do Ceará - UFC. Sendo o resultado de uma pesquisa do
estágio já citado, tendo como obetivo analisar o espaço escolar, seus atores sociais e as
propostas pedagógicas na qual a escola se baseia.
Salienta-se que o estágio curricular tem como objetivo a integração do processo de
formação do aluno, futuro profissional, considerando o campo de atuação como objeto de
análise e interpretação crítica, a partir dos vínculos com as disciplinas do curso. Dessa forma
o estágio curricular é campo de conhecimento. Trata-se de uma área de conhecimento que
permite a interação entre as várias disciplinas cursadas durante a formação do professor, é o
momento do estagiário avaliar os saberes docentes adquiridos ao longo de sua formação
inicial, momento de reflexão de aproximação entre o campo de trabalho no qual vai atuar.
Sendo assim, Pimenta & Lima (2009, p. 43) “afirmam que é o estágio possibilita os
futuros profissionais aproximarem-se da escola ajudando-os a compreenderem a
complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais como
alternativa no preparo para sua inserção profissional”.
O Estágio ao longo da história da formação docente sempre foi identificado como a
parte prática do curso e os currículos construídos como um conjunto de disciplinas isoladas
entre si, sem estabelecer a conexão entre as disciplinas e a realidade social vivida pelo aluno,
nem tão pouco evidenciando o campo de atuação profissional dos estagiários, chegando a
gerar práticas fragmentadas sem a percepção da totalidade do processo educativo. Em
relação à prática como instrumentalização técnica:
“A perspectiva técnica no estágio gera um distanciamento da vida e do
trabalho concreto que ocorre nas escolas, uma vez que as disciplinas que
compõem os cursos de formação não estabelecem os nexos entre os
conteúdos (teorias?) que desenvolvem e a realidade nas quais o ensino
ocorre”. (PIMENTA & LIMA, 2009).
Importante expor que o estágio como campo de conhecimento significa atribuir-lhe
um estatuto epistemológico que supere sua tradicional redução a atividade prática
instrumental. Dessa forma é válido ressaltar o estágio como atividade de pesquisa, onde os
futuros docentes desenvolvem postura e habilidades de pesquisador a partir das situações de
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estágio, elaborando projetos que torne possível simultaneamente compreender e
problematizar as situações que observam.
Pimenta e Gonçalves (1990) afirmam ter o Estágio a finalidade de propiciar ao aluno a
aproximação à realidade na qual atuará o que requer a adoção de novos procedimentos, uma
vez que a realização do estágio como uma atividade de conhecimento, requer fundamentação,
diálogo e intervenção na realidade, pois é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema
de ensino e da sociedade que a práxis se efetiva.
Portanto, a experiência pelo primeiro contato com as diversas e contraditórias
realidades escolares traz, aos alunos do curso de graduação em geografia, a expectativa da
construção de sua identidade como professor, de como ser um bom docente e certa
preocupação acerca da realidade social de seus alunos.
Deste modo, é importante ressaltar que a prática não pode ser inventada pela teoria,
os saberes adquiridos durante a formação acadêmica são apenas os alicerces para a
construção desta prática. A formação docente é um eterno fazer-se. A cada dia no exercício
da docência há momentos de contínua aprendizagem, de trocas de saberes entre seus colegas
de profissão e entre seus alunos, isso porque como seres humanos estamos em constante
processo de construção, portanto:
[...] “o estágio é teoria e prática (e não teoria ou prática). De acordo com o
conceito de ação docente, a profissão de educador é uma prática social.
Como tantas outras, é uma forma de se intervir na realidade social, no caso
por meio da educação que ocorre não só, mas essencialmente, nas
instituições de ensino. Isso porque a atividade docente é ao mesmo tempo
prática e ação” (PIMENTA & LIMA, 2009).
Contudo, pode-se dizer que o estágio não é atividade prática, mas teórica,
instrumentalizadora da práxis docente, entendida como atividade de transformação da
sociedade. A prática docente é uma atividade imprescindível na construção de saberes.
Como uma atividade social, a expectativa dos estagiários, também, circula em torno de
questionamentos, comuns, acerca da realidade social de seus futuros alunos. Os mesmos se
questionam se estarão preparados para lidar com situações como a deficiência física, a fome,
a violência doméstica, entre outros problemas reais que possam vir a dificultar o processo de
aprendizagem de seus discentes.
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As atividades desenvolvidas neste estágio têm a dimensão do conhecimento presente
nos momentos em que se trabalha a reflexão sobre a realidade profissional, vendo a prática,
como instrumento de inserção do aluno na realidade social, econômica, a compreensão de
sua área ou curso, possibilitando a interlocução com os referenciais teóricos do currículo e
assim,
“o estágio prepara para um trabalho docente coletivo, uma vez que o ensino
não é um assunto individual do professor, pois a tarefa escolar é resultado
das ações coletivas dos professores e das práticas institucionais, situadas
em contextos sociais, históricos e culturais”. (PIMENTA & LIMA, 2009 p.
56)
O Estágio Curricular Supervisionado em Geografia I da Universidade Federal do
Ceará – UFC é o primeiro contato dos licenciandos em geografia com a escola. É o estágio
de boas vindas à este universo no qual futuramente estarão inseridos e o espaço escolar é o
seu objeto de estudo.
A
EXPERIÊNCIA
DE
ESTAGIAR
EM
UMA
ESCOLA
SOCIOCONSTRUTIVISTA
O Estágio foi realizado na escola particular de Ensino Fundamental I e II Vila, que se
localiza no bairro de Fátima na zona central da cidade de Fortaleza - Ceará. Esta possui
como proposta didático-pedagógica influências do socioconstrutivsimo. Libâneo explana a
definição deste conceito.
“É socio porque compreende a situação de ensino – aprendizagem como uma
atividade conjunta, compartilhada, do professor e dos alunos, como uma
relação social entre professor e aluno ante o saber escolar. É construtivista
porque o aluno constrói, elabora, seus conhecimentos, seus métodos de
estudo, sua afetividade, com a juda da cultura socialmente elaborada, com a
ajuda do professor”. (LIBÂNEO, 1995 apud CAVALCANTI, 1998, p.139)
Deste modo, comprende-se este método como um instrumento de construção do
conhecimento a partir da interação dos educandos com a sua realidade, valorizando e
aprofundando o que os alunos tem como bagagem de conhecimento. O conhecimento e a
inteligência vão se desenvolvendo passo a passo, num processo de construção que é tão
importante quanto o próprio conhecimento. Cavalcanti (1998, p. 145) explica que o
socioconstrutivismo:
“é um ensino baseado em atividades que promovam interação do homem
(aluno) com o mundo dos objetos (saber escolar), que provoca
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desenvolvimento intelectual. Trata-se assim de buscar no ensino atividades
que propiciem o desenvolvimento de instrumentais cognitivos nos alunos.”
Diante do exposto, analisando o projeto político pedagógico desta instituição
educacional percebe-se que está colocado que o processo ensino–aprendizagem deve conter
os conteúdos do currículo da educação básica que é exigido pelo MEC, porém também
relacioná-los com o contexto social, cultural e ambiental. Com o objetivo de formar cidadãos
conscientes e comprometidos com o social e com o meio ambiente.
A idéia principal da escola é a formação de uma pessoa completa, conhecedora de
que faz parte de uma teia, chamada sociedade, e de que é preciso existir um espírito de
cooperatividade, sinergia e pro - atividade.
A partir das visitas à escola foi percebido também que a arquitetura escolar interfere
na forma da circulação das pessoas, na definição das funções para cada local.
Cantina, corredores, pátio, salas, cada um desses espaços tem uma função definida a
priori e cada um deles tem um significado e um papel na aprendizagem dos alunos.
Como afirma Kimura (2008) “a escola é uma teia de relações e por isso possui
diversos aspectos articulados entre si como materiais voltados para o ensinar - aprender,
pensar-fazer como fonte do ensinar-aprender, organização dos tempos e espaços escolares e
sistemas de ensino e políticas públicas”.
Na visita observamos os diversos espaços além das salas de aula que a escola possui,
como o ‘quintal’ que é um espaço de lazer das crianças, e os distintos laboratórios temáticos
que a instituição possui.
Os laboratórios do pomar, de horta e de farmácia viva estimulam o contato com a
natureza, e constrói uma sensibilização e conscientização ambiental. Nestes laboratórios são
realizadas aulas extras da disciplina de geografia, mostrando que a Ciência Geográfica faz
parte do cotidiano dos discentes, algo tão discutido na contemporaneidade. Ocorre, também,
a questão da interdisciplinaridade com a Biologia, História e etc.
Um ambiente muito utilizado e que está ligado a uma prática muito desenvolvida é o
“canto” dos resíduos sólidos, onde se trabalha a reutilização de materiais como garrafas pet,
caixas de leite, pneus velhos, garrafas de vidro, papel, papelão e etc. Esta é uma boa iniciativa
para com os alunos. Neste local se desenvolve a formação de educação ambiental nos
estudantes, tema intrinsecamente ligado com o ensino geográfico.
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Além dos laboratórios, existem atividades complementares como música artes
plásticas, artesanato e teatro, estimulando, assim, as potencialidades que os estudantes
possuem latentes ou evidentes. Desta forma, a escola Vila busca também desenvolver e
valorizar a identidade cultural de seus alunos.
ANALISANDO A SALA DE AULA
A sala de aula possui muitos recursos didáticos, o que possibilita um nível de pesquisa
e conhecimento maior, pois eles estão ao acesso dos estudantes. A aula de geografia é
realizada com bastante interatividade, participação dos alunos, e utilização de diversos
recursos didáticos, como globos e mapas.
A utilização de utensílios que estimulem o desenvolvimento cognitivo dos alunos, “os
instrumentais cognitivos particularmente importantes para a aprendizagem de geografia são:
observação, localização, relação, compreensão, descrição, expressão e representação”.
(GOULART, 1993, apud, CAVALCANTI, 1998, p.53).
Nota-se que em cada sala possui um número relativamente pequeno de alunos, cerca
de quinze estudantes, o que possibilita relação mais próxima entre professor e aluno.
Em nossas análises percebemos que o espaço da Escola Vila possui uma
infra-estrutura adequada para o desenvolvimento cognitivo dos estudantes e também para o
seu desenvolvimento físico. Todas essas influências que a Escola Vila aspirou tornaram-na
diferenciada e com práticas que têm dado certo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreende-se que um dos objetivos do Estágio Curricular Supervisionado em
Geografia I da UFC é ser uma oportunidade de edificação de aprendizagens significativas no
processo de formação dos futuros docentes. Aliando a isso ao diálogo com as disciplinas
teóricas desenvolvidas no curso de licenciatura em Geografia.
Afirma-se que foi bastante importante estagiar nesta escola diferenciada, porque ela
mostrou que o método da educação tem que possuir criatividade, tem que ser multicolorido,
tem que ser um processo divertido, movimentado, lúdico e envolvente aos alunos.
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Entende-se também que é preciso trabalhar a responsabilidade cultural e ambiental
nos estudantes, só acresentariamos a isso uma metodologia reflexiva no que correspondem a
trabalhar com as questões sociais, políticas e econômicas de forma que possibilite o senso
critico do aluno.
Diante desses percalços, os futuros professores são confrontados com a necessidade
de definirem novos saberes e práticas. O estágio como um campo de conhecimento por parte
do futuro docente abre aos alunos a possibilidade de se confrontarem com tais realidades, de
modo que possam desde então edificar percepções que num futuro próximo lhes
proporcionem o exercício de uma prática docente que seja, de fato, humana e justa.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ana Maria Bezerra de; LIMA, Maria Socorro Lucena; SILVA, Silvina
Pimentel. Dialogando com a Escola. 1ª Fortaleza: Edições Democrito Rocha, 2002
ATITUDE, Escola. O que
é
sócio construtivismo. Disponível em:
<http://www.escola-atitude.com/o-que-e-socio-construtivismo.html>. Acesso em: 20 maio
2010.
Escola Vila. Disponível em: <http://www.escolavila.com.br>. Acesso em: 20 maio 2010.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência: questões
e propostas. 4ª São Paulo: Cortez, 2009.
PIMENTA, Selma Garrido; GONÇALVES, C. L. Revendo o ensino de 2º grau,
propondo a formação do professor. São Paulo: Cortez, 1990.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, Escola e construção de conhecimentos. 1ª
ed. São Paulo: Papirus Editora, 1998.
KIMURA, Shoko. Geografia no ensino básico: questões e propostas. 1ª São Paulo:
Contexto, 2008.
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