O ENSINO DE BIOLOGIA ATRAVÉS DE DEMONSTRAÇÕES PRÁTICAS: ESTUDANDO A GAMETOGÊNESE E A FECUNDAÇÃO Ray Luiz Babilon Carreço1, Adriana Azevedo Vimercati Pirovani1, Ariane Cardoso Costa1, Leticia Rodrigues Alves 1, Mariane Pereira dos Santos Souza1, Karla Maria Pedra de Abreu 2 1,2 Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre, Rua Principal s/nº - Distrito de Rive – Caixa Postal 47, CEP: 29500-000 – Alegre-ES Alegre – ES. E-mail: [email protected] Resumo- A compreensão de alguns conteúdos como a gametogênese e a fecundação humana são essenciais na área de Biologia. Diante da dificuldade apresentada no entendimento desses conteúdos, objetivou-se avaliar novas experiências em sala de aula e buscar novas formas de ensinar e aprender esses temas. Para isso, realizou-se uma aula prática com 179 alunos distribuídos em sete turmas do ensino médio de uma escola estadual do município de Guaçui, ES. Vários recursos didáticos foram utilizados na aula (quadro branco, televisor, microscópio óptico) para que os alunos pudessem ter uma explanação completa sobre o assunto. Após a explicação com uso de figuras e desenhos, os alunos fizeram a observação de gametas (espermatozoides bovinos) no microscópio, com o intuito de torná-los aprendizes científicos. Observou-se que 79% dos alunos aprenderam a função do espermatozoide e que grande parte entendeu sobre as adaptações dos gametas para a fecundação. A aula prática demonstrou ser eficaz, mas ressaltase a necessidade de um bom planejamento e envolvimento dos alunos. Palavras-chave: Aula prática, Ensino de Biologia, espermatozoide, gametas Área do Conhecimento: Biológicas (INID) Introdução O ensino de Ciências passou por diferentes posicionamentos que influenciaram e continuam influenciando a organização de seu ensino. Atualmente, o ensino por investigação parte do princípio de que existe o tratamento de situações problemáticas abertas, as quais podem levar os alunos a se comportarem como jovens cientistas, buscando a resposta de determinados problemas. Segundo Lima (2008), nas situações escolares é indispensável o interesse e a curiosidade no objeto de estudo para que o aluno tenha motivos de ação no sentido de apropriar-se do conhecimento. Para tanto, é função do professor descobrir as estratégias ou os recursos para fazer com que o aluno queira aprender, devendo fornecer subsídios para que o aluno se sinta motivado a aprender e ao estimulá-lo, o educador está desafiando-o sempre (FILHO, 2009). Os conteúdos gametogênese, fecundação, reprodução e desenvolvimento embrionário são essenciais para a compreensão de várias discussões na área de Biologia (LONGHI, 2010). No entanto, para Andrade e Oliveira (2011) entre processo de ensino e aprendizagem permeiam dificuldades que devem estar sempre na mente do professor, que possuirá a responsabilidade de criar momentos instigantes durante as aulas. As aulas práticas são uma maneira de instigar não só o interesse pelas aulas, como também de aguçar a curiosidade dos alunos. Visando a busca dessas situações, que causam os desafios necessários à motivação dos alunos, os professores podem lançar mão de artefatos eficientes, como os recursos disponíveis e, por conseguinte, aulas práticas (ANDRADE; OLIVEIRA, 2011). Diante da dificuldade apresentada no entendimento dos conteúdos referentes à gametogênese e fecundação e da importância da mesma, realizou-se uma aula prática de observação de gametas objetivando avaliar novas experiências em sala de aula e buscar novas formas de ensinar e aprender assuntos relacionados à fecundação humana. Metodologia A aula prática foi realizada com 179 alunos distribuídos em sete turmas do ensino médio de uma escola estadual do município de Guaçui, ES. Inicialmente foi feito uma explicação sobre o aparelho reprodutor feminino e masculino, para isso algumas figuras foram mostradas no televisor da sala de aula (Figura 1- a). Em seguida houve uma explicação sobre as adaptações do espermatozoide e do óvulo para que aconteça a fecundação, para isso utilizou-se de pincel e quadro branco (Figura 1- b). Após as explicações, os alunos fizeram perguntas relacionadas ao tema trabalhado na aula. Em seguida os mesmos puderam observar XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 1 espermatozoides bovinos ainda vivos (material derivado de fazenda que realiza inseminação artificial em bovinos) ao microscópio óptico com aumento de 400 vezes (Figura 2). Como não foi possível ser feita a observação de óvulos ao microscópio, algumas imagens foram mostradas aos alunos pelo televisor. No final da aula, os alunos assistiram a um vídeo sobre a realização da fertilização in vitro em laboratórios. Figura 1- a. Explicação dos aparelhos reprodutores no televisor. b. Explicação das adaptações dos gametas no quadro branco. pudessem desenhar o que observaram ao microscópio. Além disso, perguntas sobre as adaptações dos gametas foram feitas de forma oral. Resultados Na Figura 3 pode-se observar que 79% dos alunos conseguiram responder de maneira correta a função do espermatozoide. Diversas respostas foram aceitas na hora da correção, as mais frequentes foram: “Fecundar o óvulo, levando a carga genética do pai até a carga genética da mãe”, “Chegar ao óvulo e fecundá-lo”, “Levar a carga genética ao óvulo”. Alguns alunos deram respostas mais complexas, como por exemplo: “Fecundar o óvulo, levando os 23 cromossomos do pai até os 23 cromossomos da mãe para formação do embrião”. Figura 3- Porcentagem de acertos e erros dos alunos sobre a função do espermatozoide. Nas perguntas orais sobre as adaptações dos gametas para que ocorresse a fecundação, os alunos se mostraram entusiasmados para responder, até mesmo o que não era perguntado era lembrado pelos mesmos. Analisando os desenhos dos alunos sobre a observação dos espermatozoides, pode-se constatar que todos conseguiram expressar que havia muitos espermatozoides na lâmina, que esses eram compostos de cabeça e cauda e que estavam dispersos em várias direções como mostra a Figura 4. Figura 2- Espermatozoides bovinos observados ao microscópio óptico (aumento de 400 vezes). Como forma de avaliação os alunos receberam uma folha com a pergunta: “Qual a função do espermatozoide?” e com espaço para que eles XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 2 Figura 4- Desenho dos alunos sobre o que foi observado no microscópio óptico. Discussão Destaca-se que do total de 21% dos alunos que erraram a questão, a maioria respondeu que a função do espermatozoide era de chegar ao óvulo, respostas desse tipo foram consideradas erradas, pois além de chegar ao óvulo o espermatozoide deve fecundá-lo, esse foi um fator agravante para que os alunos errassem a questão. Com a observação dos desenhos, acredita-se que os alunos conseguiram visualizar os espermatozoides de maneira correta, e, além disso, representaram o que estavam estudando. Na hora da observação, alguns alunos acharam a experiência muito interessante e motivadora para entender o conteúdo. Destaca-se a fala de uma aluna na hora da observação: “Nossa que legal, é de verdade? Muito maneiro... As aulas podiam ser sempre assim”. Acredita-se assim como Oliveira e Andrade (2011) que é importante salientar a necessidade de adequar o diálogo ao entendimento dos alunos. Certos termos representam dificuldades na compreensão do assunto e, por muitas vezes, se observou que os alunos ficam em silêncio deixando passar a oportunidade de perguntar o significado das palavras, talvez por receio de ser motivo de risos ou por não acreditar que tal palavra seja necessária à compreensão de determinado fato. Essa adequação e analogia a algum assunto do cotidiano do aluno é função do professor e corrobora com Alencar e Fleith (2004), que consideram o professor fundamental para ajudar o aluno a desenvolver o seu potencial. Da mesma forma, acredita-se que há outros elementos que contribuem na construção do conhecimento por parte dos alunos além da postura do professor, como por exemplo, a natureza do conteúdo a ser ministrado, o número de alunos em sala, o grau de motivação, seus esforços, adequação da matéria à visão dos alunos, confluindo em um ensino motivador, interessante e com grande conhecimento científico. Os resultados de situações provocadas que motivam os alunos são riquíssimos e tem sua importância quando o conhecimento passa da teoria para algo prático, relacionado ao dia a dia do aluno. Observando os gametas era despertado nos alunos interesse por questões mais frequentes no dia-a-dia como, por exemplo, a gravidez. Essa situação é dependente também da participação dos alunos, que durante a aplicação da aula prática se fez a partir do momento em que os mesmos contribuíam com perguntas, respostas ou comentários, enquanto ocorriam as explanações. Conclusão Analisando os resultados, pode-se concluir que grande parte dos alunos conseguiu compreender qual a função do espermatozoide e quais as adaptações dos gametas para que ocorra a fecundação. Não se pode concluir que esses alunos não compreenderam a função do gameta, acredita-se que grande parte deles apenas não soube redigir de maneira correta o seu entendimento. Acredita-se que buscar um ensino de Biologia com atividades que aproximem a sala de aula do cotidiano pode tornar a aprendizagem um processo mais interessante e prazeroso, além de ser um bom caminho para a construção de uma alfabetização científica. A aula de observação de gametas com explanações sobre a gametogênese e a fecundação pode ser eficaz para o aprendizado dos alunos sobre o conteúdo se bem elaborada e se houver a participação e o interesse dos alunos. É possível em uma única aula atrelar vários meios didáticos, os tradicionais, como o quadro branco e os eletrônicos, como o televisor e os microscópios. Os próprios alunos opinaram a respeito daquilo que gostariam de ter em uma aula prática e ajudaram o professor com a concretização da mesma. O fato de não estar em uma sala de aula convencional, apenas ouvindo o professor transmitir o conteúdo, já é, sem dúvida, um grande estímulo à aprendizagem. Referências - ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de; FLEITH, Denise de Souza. Inventário de práticas docentes que favorecem a criatividade no ensino superior. Psicologia: Reflexão e Critica. Porto Alegre, V.17, n.1, p. 105-110, 2004. - ANDRADE, Éverson; OLIVEIRA, André Luis. Modelos didáticos no Ensino de Biologia: Uma abordagem investigativa sobre embriologia. Disponível em: http://www.uel.br/ccb/biologiageral/ eventos/erebio/painel/T133.pdf. Acesso em 30 Ago. 2013. XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 3 - FILHO, J. R. O. Motivação dos alunos em sala de aula. Disponível em: http://www.webartigos. com/articles/20719/1/MOTIVACAO-DOS-ALUNOS -EM-SALA-DE-AULA/pagina1.html#ixzz16WOn5v DP. Acesso em 26 Ago. 2013. - LIMA, S. V. A importância da motivação no processo de aprendizagem. Disponivel em: http://www.artigonal.com/educacao-artigos/a-impo rtancia-da-motivacao-no-processo-de-aprendizage m-341600.html. Acesso em 26 Ago. 2013. - LONGHI, Maria Luiza Gonçalves; SCHIMIN, Eliane Strack. Modelagem: estratégia facilitadora para a aquisição de conceitos em reprodução edesenvolvimento embrionário. Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/ arquivos/1081-4.pdf. Acesso em 01 Set. 2013. XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 4