I. F. A. De Mattos, F. A. R. P. Arzolla, F. E. S. P. Vilela, C. Moura

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II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
O PARQUE ESTADUAL DA CANTAREIRA: UMA FLORESTA NA CIDADE DE
SÃO PAULO, BRASIL
MATTOS, I.F.A de (1); ARZOLLA, F. A. R. P.
KANASHIRO, M. M. (5)
Instituto Florestal -
(1)
(2)
, VILELA, F. E. S. P.
[email protected];
[email protected];
[email protected]
(4)
(2)
(3)
; MOURA, C.(4);
[email protected];
[email protected]
(3)
(5)
;
Introdução
A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é um dos maiores aglomerados
urbanos do mundo e apresenta uma concentração demográfica acima de 2.000
hab/km2. No entorno da cidade de São Paulo são encontrados ainda, expressivos
remanescentes de vegetação do bioma da Mata Atlântica, e é neste contexto que se
encontra o Parque Estadual da Cantareira (Figura 01).
Figura 01: Localização do Parque Estadual da Cantareira na Região Metropolitana de São
Paulo, SP.
O Parque Estadual da Cantareira – PEC possui área de 7.916,5 hectares e foi criado
pelo Decreto Estadual nº 41.626, de 30/11/1963, e pela Lei nº 10.228, de 24/9/1968.
1
Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Localizado na Serra da Cantareira, abrange parte dos municípios de Caieiras,
Guarulhos, Mairiporã e São Paulo e conta com quatro núcleos de desenvolvimento,
Águas Claras, Cabuçu, Engordador e Pedra Grande.
Situado no Planalto Atlântico, o Parque ocupa parte do maciço da Cantareira e da
Serra de Pirucaia, com altitudes que variam de 860 a 1.215 metros. Localiza-se na face
norte da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP, que ocupa uma área de 8.051
Km2 e abrange 39 municípios, sua população é estimada em 19 milhões de habitantes,
sendo que 10 milhões moram no município de São Paulo.
A concentração demográfica na área se distribui de maneira caótica, revelando um
ambiente social regido por contradições o que se reflete na organização do espaço
territorial. Este ambiente social promove uma enorme demanda pelos recursos
naturais provocando perdas e impactos que dificilmente podem ser reparados a não
ser com altos custos de investimento.
A Região Metropolitana figura também, entre os cinco maiores aglomerados do
mundo, incluindo Tóquio, Seul, Cidade do México e Nova Iorque e sua importância
econômica pode ser observada em seu Produto Interno Bruto, que corresponde a
aproximadamente 15,5% do total brasileiro.
Apesar do padrão de ocupação da RMSP ser o responsável pela grande perda da
vegetação nativa e conseqüente perda da qualidade ambiental da sua população,
observa-se ainda, no entorno da área urbana, expressivos remanescente da Mata
Atlântica. Tais remanescentes devem ser considerados como áreas importantes e
prioritárias para a conservação.
O PEC, por estar situado em uma região altamente conurbanizada é diferente da
grande maioria das unidades de conservação e apresenta uma maior diversidade e
amplitudes de pressões. Isto resulta do processo de crescimento urbano e das
transformações do uso da terra o que provocou a supressão da maior parte de sua
vegetação estando os remanescentes localizados nas regiões periféricas,
principalmente em áreas de proteção de mananciais. Segundo a Lei que instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (BRASIL, 2000), entende-se por
unidade de conservação o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as
águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo
Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial
de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.
O Parque representa hoje um importantíssimo fragmento florestal que se constitui
em importante reserva da Mata Atlântica e de recursos hídricos. Foi tombada no final
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do século XIX para garantir o abastecimento da cidade de São Paulo, protegendo o
sistema de captação, formado pelas Represas do Engordador e Barrocada, atualmente
desativadas, e Cabuçu, em processo de recuperação. Aproximadamente 50% da
população da Grande São Paulo é abastecida pelo sistema protegido pelo Parque.
Na elaboração de planos de manejo os levantamentos de vegetação são um
componente-chave, resultando dele o mapeamento que identifica e espacializa os
tipos vegetacionais e a caracterização da paisagem que permitem a definição de locais
de amostragem para os demais pesquisadores do meio biótico e mesmo físico. Este
elemento agiliza os trabalhos de campo desses pesquisadores (Keel et al. 2003).
As informações produzidas pela espacialização da cobertura vegetal de uma dada
área podem ser usadas para priorizar sítios e definir estratégias de manejo em uma
unidade de conservação, abordando zonas potenciais para os diferentes usos,
definidos pelo SNUC, tais como: pesquisa, educação ambiental e turismo ecológico e
de áreas com características relevantes para proteção.
O conhecimento do componente biótico, do Parque Estadual da Cantareira, tornase um elemento muito importante para a sua conservação, uma vez que é uma das
poucas áreas verdes dessa região densamente povoada, como é a cidade de São Paulo.
O Parque assim proporciona lazer, recreação e atividades de educação ambiental a
essa população, através de seus núcleos de desenvolvimento. Desta forma, visando
contribuir com esse conhecimento e subsidiar o seu Plano de manejo, procedeu-se o
mapeamento das condições atuais da cobertura vegetal da unidade de conservação.
Material e Métodos
O clima da área de estudo é classificado como mesotérmico úmido, do tipo Cfb, sem
estação seca definida, conforme o Sistema Internacional de Classificação Climática de
Köppen. O mês com maior média de temperatura é fevereiro com 21 oC, e o mês com
menor média é julho com 14,4oC. A precipitação média anual é 1.545 mm. (Ventura et
al., 1965/66).
Segundo Almeida et al. (1981), a geologia é constituída por rochas
metassedimentares do Grupo São Roque e granitos intrusivos. As rochas graníticas
ocorrem a Oeste da falha do Mandaqui e pertence à Suíte Granítica Sintectônica –
Fácies Cantareira. Também se constata, em menor presença, Sedimentos Cenozóicos
da Bacia de São Paulo e Coberturas Holocênicas. Observa-se também a presença de
quartzito no alto da Serra do Pirucaia e Capitão Freire (Knetch, 1977).
3
Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Segundo Ross e Moroz (1997), a área se insere na Unidade Morfoestrutural do
Cinturão Orogênico do Atlântico, que se desenvolve desde o Uruguai até o norte da
Bahia em uma faixa que acompanha o litoral. Encontra-se na Unidade Morfoescultural
do Planalto Atlântico, constituída por formas de topos convexos, vales profundos e
densa rede de drenagem. As altitudes encontram-se entre 800 e 1000 m, com declives
dominantes entre 10 e 20% e com padrão de drenagem dendrítico. Apresentam um
nível de fragilidade potencial médio, suscetível a fortes atividades erosivas.
Ocorre na área predominância de solos do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo,
subdivididos em duas classes (Ultisols); Latossolo Vermelho-Amarelo (Oxisols),
também ocorre à Sudeste do Parque, em pequenas porções do relevo de morrotes; e,
Gleissolos (Aquents), ao longo das várzeas e cursos d’água (Oliveira et al., 1999).
De acordo com os critérios estabelecidos por Veloso et al. (1991), a vegetação da
Serra da Cantareira pode ser classificada como Floresta Ombrófila Densa Montana. Ao
analisar a similaridade florística do componente arbóreo da Serra da Cantareira com
outras formações do Estado de São Paulo, Arzolla (2002) concluiu que a vegetação da
Serra da Cantareira apresenta maior afinidade florística com as serranias do Planalto
Atlântico, entre elas o reverso da Serra do Mar, a Serra de Paranapiacaba, no Sul do
Estado, e a Serra da Bocaina, em Bananal, em função de climas mais frios e úmidos.
A espacialização da cobertura vegetal do PEC. seguiu com coleta de informações
secundárias bibliográficas e cartográficas, com a fotointerpretação de fotografias
aéreas e com trabalhos de identificação de campo.
A metodologia de mapeamento teve como base os procedimentos adotados por
Lueder (1959) e Spurr (1960) que identificam e classificam a vegetação utilizando os
elementos da imagem fotográfica: cor, tonalidade, textura, forma, dimensão e
convergência de evidências, correlacionadas aos parâmetros de campo, tais como
porte, densidade, estrutura da vegetação, condições ecológicas e de preservação.
As diferentes fisionomias da vegetação foram classificadas segundo o sistema de
classificação da vegetação brasileira proposto por Veloso et al. (1991), baseada em
critérios florísticos e fisionômico-ecológicos, e na adaptação do sistema desenvolvido
por Eiten (1968), utilizando-se os critérios básicos adotados para estrutura e forma de
crescimento, buscando amostrar com maior clareza a vegetação.
O processo de fotointerpretação das fotografias aéreas seguiu o adotado em
Mattos & Matsukuma, (1990), Mattos (1994) e Mattos et al. (1997). Para tanto, foram
utilizadas fotografias aéreas obtidas pela BASE-Aerofotogrametria e Projetos S/A. Obra
B-0986, na escala de 1:30.000 do ano de 2007. Materiais bibliográficos e cartográficos
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(digitais e impressos) foram coletados para correlação com as informações
fotointerpretadas.
Os dados da vegetação foram espacializados através da digitalização sobre as Cartas
Topográficas na escala de 1:50.000 do ano de 1972, Folhas Guarulhos (SF-23-Y-C-III-4)
e Itaquaquecetuba (SF-23-Y-D-I-3) e as fotografias aéreas digitais georreferenciadas do
ano de 2007, utilizando-se o software ERDAS 8.6. A vetorização, correção dos dados
fotointerpretados e a finalização dos mapas foram realizadas utilizando o software
Arcview GIS 3.2.
A partir da correlação destes dados foi elaborado o mapa final de caracterização da
vegetação atual para o Parque e tabela contendo dados de área para cada
fitofisionomia e a correspondente avaliação do seu grau de conservação.
As tabelas de dados das fitofisonomias da área foram realizadas a partir do banco
de dados do Arcview GIS 3.2 e o cálculo de área operacionalizado por este software a
partir dos dados vetorizados. A finalização das tabelas foi realizada pelo software
Microsoft Word 2002 e Microsoft Excel 2002.
No trabalho de campo foram percorridos os limites e as estradas que seccionam o
Parque, realizando-se a conferência em campo do trabalho de mapeamento realizado
em laboratório, fornecendo elementos para os ajustes necessários.
Resultados
O mapeamento da vegetação é apresentado na Figura 02 e indica 14 unidades
fitofisionômicas. Foram mapeados os tipos vegetais naturais presentes na área, as
alterações neles encontradas, as áreas fortemente alteradas e constituídas por
vegetação secundária, além de plantios com nativas e exóticas que fazem parte do
histórico do Parque.
A principal formação florestal do PEC é a Ombrófila Densa Montana em diversos
estágios de regeneração originada a partir da regeneração florestal de áreas que foram
adquiridas no final do século XIX para o abastecimento de água da cidade de São
Paulo. Predominam no Parque as florestas em estádio médio de regeneração.
A Floresta Ombrófila Densa ocorre em áreas de elevadas temperaturas, com médias
acima de 25oC, e de alta precipitação distribuída durante o ano, de 0 a 60 dias secos,
em variados tipos de solos. Esse tipo vegetacional é subdividido nas formações aluvial,
de terras baixas, sub-montana, montana e alto - montana (IBGE, 1992).
Floresta Ombrófila Densa Montana - Na latitude de 23oS em que se encontra o
Parque Estadual da Cantareira, a faixa de variação em que ocorre esse tipo
5
Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
vegetacional é dos 500 aos 1.500 metros de altitude. A variação altitudinal da Serra da
Cantareira é dos 775 aos 1.215 metros aproximadamente.
Neste tipo florestal foi possível definir através do mapeamento algumas alterações
em sua fisionomia assim caracterizadas:
Dmu - Vegetação de porte arbóreo alto com estrutura de dossel uniforme e pouca
ou nenhuma alteração. Encontramos duas unidades ainda em bom estado de
conservação, a situada no Morro do Pavão/Pau Furado e a do Fundo do Cabuçu, estas
áreas caracterizam-se por indivíduos de grande porte, com alta densidade, revelando
copas grandes e bem visíveis, formando um dossel contínuo na imagem fotográfica.
Embora se observe alguma alteração, constituída principalmente por taquaras, isto
não é significativo em relação ao restante do Parque. Esta unidade ocorre em
aproximadamente 4,5% da área em locais mais declivosos e internos do Parque.
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Figura 02: Mapeamento da vegetação do Parque Estadual da Cantareira, SP – Brasil.
Dm1 - Vegetação de porte arbóreo alto com estrutura de dossel desuniforme e
pouca alteração. Esta unidade encontra-se distribuída por todo o Parque e em situação
de acesso mais difícil e se distribui por aproximadamente 23% da área do Parque.
Encontramos grandes manchas no Núcleo Cabuçu, Núcleo Engordador e entorno do
Morro do Pavão. Embora seja caracterizada por indivíduos altos, por vezes
encontramos na imagem fotográfica, agrupamento de árvores de porte menor dando
ao dossel um aspecto descontínuo.
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Dm2 - Vegetação de porte arbóreo médio com estrutura de dossel desuniforme e
forte alteração. Nestas áreas observa-se processo de regeneração. São constituídas
por indivíduos de copas pequenas e de alturas variadas, formam agrupamentos e se
encontram entremeados por forte alteração da vegetação, terreno muito trilhado por
caçadores ou coletores de plantas. Sua distribuição corresponde a aproximadamente
10% da área.
Dm6, Dm7 e Dm8 – são constituídos por vegetação secundária de porte arbóreo
médio, variando entre eles a estrutura do dossel e o grau de alteração. Situam-se
principalmente nos Núcleo Pedra Grande e Engordador, nas vertentes voltadas para
Sul mais próximas à área densamente povoada e ocorrem em 22,5% do Parque. A
vegetação é caracterizada por indivíduos em vários estádios de crescimento
conferindo um aspecto rugoso na imagem fotográfica além deste aspecto, é
entremeda por taquaras e outras espécies invasoras.
Dm9 e Dm10 – são caracterizadas por indivíduos adensados, copas pequenas e
estádio médio de regeneração. Na unidade 10, que ocupa 32,5% da área do Parque,
encontramos vários pontos de alteração.
Floresta Ombrófila Densa Aluvial - Nas planícies coluvio-aluviais, de distribuição
restrita, em meio aos relevos mais íngremes, ocorre a formação aluvial em
aproximadamente 1% da área total. Situam-se em áreas de margens de córregos e
ribeirões e, planícies que se formam, onde as condições de luminosidade favorecem a
ocorrência de espécies heliófitas. Estas áreas foram denominadas por Da.
Escrube - Para descrever este tipo vegetacional optou-se pela classificação de Eiten
(1970). Nesse tipo vegetacional há a predominância de arbustos. Ocorre nos topos de
morro da Serra da Pirucaia, onde há solos rasos e rochosos e afloramentos de rocha
quartzítica de um modo geral. No mapeamento essas unidades foram denominadas de
Dm5.
Mata baixa - Este tipo vegetacional também foi descrito pela classificação de Eiten
(1970). Apresenta porte baixo. Está associada ao Escrube, ocorrendo em locais de
solos mais profundos que este último. Ocorre nas partes mais altas das vertentes da
Serra da Pirucaia e ocupa menos de 1% da área do Parque. Possui semelhança florística
com a vegetação de Escrube. No mapeamento estas unidades foram denominadas por
Dm3 e Dm4.
Sistema Secundário (Áreas Antrópicas) - Incluem-se as áreas onde houve
intervenção humana e descaracterização da vegetação primária.
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No mapeamento do Parque optou-se por incluir neste item a área caracterizada por
vegetação de porte herbáceo a arbóreo baixo esparso – Vs1. Nesta área houve
raspagem e compactação do solo para construção, Portanto, demandará um tempo
maior para a recuperação florestal caso não haja uma intervenção direta.
Incluíram-se também, as áreas ao longo dos canais de drenagem, denominadas no
mapeamento por Vs2, que muitas vezes por intervenção direta do homem e
perturbações continuas do ambiente provocaram fortes alterações na composição da
vegetação facilitando a instalação de espécies invasoras descaracterizando estes locais.
Portanto, a sua recuperação necessita de intervenção.
As áreas utilizadas para plantio de várias espécies, nativas e exóticas, denominadas
de “R” no mapeamento e situadas na região do Núcleo Águas Claras. São plantios
antigos com subbosque de nativas em vários estádios de regeneração, dificultando a
definição de espécie por fotointerpretação. Estes plantios deverão ser manejados de
forma adequada.
Nessas florestas as espécies pioneiras e secundárias iniciais ocupam o dossel da
floresta, ocorrendo com abundância a sangra-d′água Croton macrobothrys, capixingui
Croton floribundus, tapiá-mirim Alchornea triplinervia, tapiá-guaçu Alchornea sidifolia,
ingá-ferradura Inga sessilis, cuvantã Cupania oblongifolia, Matayba elaeagnoides,
louro Cordia sellowiana, pindaíba Xylopia brasiliensis, mandioqueiro Schefflera
angustissima, erva de lagarto Casearia sylvestris, bico-de-pato Machaerium nyctitans,
jacarandá-paulista Machaerium villosum, goiabeira-do-mato Eugenia convexinervia,
sete-capotes Campomanesia guazumifolia, pixirica Miconia cinnamomifolia,
pessegueiro-bravo Prunus myrtifolia, sacambu Platymiscium floribundum, pau-jacaré
Piptadenia gonoacantha, canelas do gênero Nectandra, como Nectandra oppositifolia,
Nectandra membranacea, e Ocotea, como Ocotea dispersa e Ocotea puberula, açoitacavalo Luehea divaricata e L. grandiflora, Pera glabrata, bicuíba Virola bicuhyba e a
guaricica Vochysia magnifica.
Há poucos trechos significativos de floresta em estádios avançado e maduro. Os
mais importantes foram amostrados durante a elaboração do Plano de Manejo (Fundo
do Cabuçu, Morro do Pavão, Pau-Furado e Pinheirinho). Há vários outros trechos de
dimensões menores que se encontram espalhados no Parque em meio às florestas em
estádio médio. São reconhecidos pela presença de espécies secundárias tardias no
dossel como o guatambu Aspidoperma olivaceum, brinco-de mulata Heisteria silvianii,
ouriço-do-mato Sloanea spp., canelas Ocotea catharinensis, O. bragai, Beilschmiedia
emarginata e Cryptocarya mandioccana, copaíba Copaiffera trapezifolia, juçara
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Euterpe edulis, pacarvalho nacional Euplassa cantareirae, jatobá Hymenaea courbaril
var. altissima, mirtáceas Calyptranthes grandifolia, Eugenia beaurepaireana e E.
cerasiflora e as sapotáceas guapeva Pouteria caimito, Diploon cuspidatum e Ecclinusa
ramiflora. Essas áreas são testemunhos mais próximos da floresta original do PEC e
matrizes para o seu repovoamento.
Nas pequenas planícies coluvio-aluviais, de distribuição restrita, e em meio aos
relevos mais íngremes, ocorre à formação aluvial da Floresta Ombrófila Densa, que se
caracteriza pela abundância do cedro-rosa Cedrela fissilis, canjerana Cabralea
canjerana, ceboleiro Phytolacca dioica, canela Ocotea frondosa, fumão Bathysa
australis, tapiá-mirim Alchornea triplinervia, fetos arborescentes como o xaxim Dicksonia sellowiana e os samambaiaçus - Alsophila setosa, Cyathea delgadii e C.
phalerata, além de helicônias Heliconia sp.
Um tipo vegetacional de ocorrência bastante restrita no PEC e que, necessita de
especial esforço para sua conservação são as formações situadas nas áreas mais
elevadas e que se encontram nas altitudes de 950 a 1100 m. Tais altitudes,
caracterizam a Serra da Pirucaia, onde é comum a presença de extensas zonas de
afloramentos rochosos caracterizadas por quartzitos feldspáticos e xistos.
Nesta fisionomia ocorrem espécies até pouco tempo desconhecidas para o Parque.
Trata-se de um mosaico de fitofisionomias relacionado a solos rasos e afloramentos
rochosos onde ocorrem o Escrube, formação predominantemente arbustiva, e a Mata
baixa.
Essa formação foi severamente impactada por uma série de intervenções
antrópicas, tendo sido utilizada como caixa de empréstimo para a duplicação da
Rodovia BR 381 - Fernão Dias. Como exemplos dessa flora diferenciada das outras
áreas do Parque, têm-se Agarista pulchella var. pulchella, Baccharis semiserrata,
Brunfelsia brasiliensis, Dasyphyllum synacanthum, Eremanthus erythropappus, Eriope
macrostachya, Gordonia fruticosa, Ilex amara, Maytenus glaucescens, Ouratea
semiserrata, Roupala rhombifolia, lauráceas como Ocotea nutans, O. bicolor, O.
corymbosa e Persea alba, mirtáceas como Marlierea laevigata, Myrcia guianensis M.
hartwegiana, M. venulosa e Pimenta pseudocaryophyllus.
O Parque encontra-se circundado por áreas urbanizadas e de expansão urbana nas
quais se destacam os assentamentos precários (loteamentos e favelas), condomínios
de alto padrão (chácaras residenciais e de lazer) e atividades de mineração dentre
outros, o que provoca vários níveis de interferências na vegetação.
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A direção preferencial dos ventos na região faz com que a poluição atmosférica
produzida pelo complexo urbano e industrial da Grande São Paulo sejam carreados
para a Serra da Cantareira o que se revela uma ameaça à integridade da floresta.
Temos ainda, como fatores de ameaça, o fogo, a extração de madeira e os efeitos
de borda decorrentes da fragmentação, pois o Parque é cortado por rodovias, vias
pavimentadas e caminhos de terra e trilha, além de estruturas lineares (linhas de alta
tensão), que causam a modificação da fisionomia da vegetação, podendo ser
observado através da descontinuidade do dossel, da quantidade de lianas, da presença
de espécies invasoras em alta densidade e de outras evidências de perturbação.
O uso e a ocupação do solo do entorno exercem também, pressão sobre o Parque
através da intensificação dos processos de urbanização que demandam cada vez mais
a implantação de infraestutura de transportes.
O PEC encontra-se isolado de remanescentes florestais maiores, e é cortado por
três vias de fluxo intenso de veículos: as estradas da Roseira e da Santa Inês e a
Rodovia Fernão Dias sendo esta a mais significativa dessas vias.
Na região da Hortolândia, a vegetação do tipo escrube e floresta baixa encontramse bastante ameaçadas pelo fogo. No local há vestígios de incêndio recente, o que
favoreceu a invasão de gramíneas e da samambaia Pteridium aquilinum var.
arachnoideum.
Verifica-se várias clareiras na floresta, estas são utilizadas para a prática de cultos
religiosos que além do bosqueamento da floresta promovem a deposição de resíduos,
potencializando o risco de incêndios através do uso de velas.
Nas margens de caminhos e estradas, e nos limites próximos às áreas mais
populosas, ocorre o descarte de lixo, entulhos, animais mortos, veículos e outros
materiais causando poluição e comprometendo o aspecto cênico.
Em algumas áreas de drenagens e cursos d'água, há a dominância de espécies
herbáceas, trepadeiras e escandentes, dificultando o desenvolvimento de espécies
arbóreas no local.
Mesmo nas áreas onde são encontrados os principais remanescentes de floresta
madura do Parque, ocorrem situações onde a floresta foi suprimida restando apenas
algumas árvores de grande porte no dossel. As taquaras dominaram o sub-bosque,
dificultando as possibilidades de regeneração da floresta.
São encontrados também, alguns talhões de exóticas que deverão ser manejados
de forma gradativa, mediante métodos adequados para a regeneração florestal
11
Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
evitando-se que ocorra a invasão de espécies oportunistas como taquaras, gramíneas
ou aquelas de hábito trepador ou escandente.
Espécies com características invasoras como o bambu comum (Bambusa vulgaris) e
bambusóides também são encontradas invadindo clareiras e bordas de mata, onde
estes estão se prevalecendo das condições de borda e invadindo o interior da mata.
Conclusões
A mata da Serra da Cantareira é uma importante área para a conservação genética
“in situ”. Representando também, um dos últimos remanescentes da biodiversidade
florestal paulista que, somada às demais áreas preservadas – oficiais e particulares –
reúnem um reservatório gênico das populações comuns, de grande importância
científica, econômica e social para a atual e as futuras gerações.
Os fatos relatados constituem motivos suficientes para que haja uma preocupação
no sentido da conservação do Parque. Desta forma, é necessário o maior acúmulo
possível de conhecimento sobre a área e a intervenção no sentido de monitorar e
impedir as interferências externas, bem como, a criação de novas áreas no entorno
visando formar um contínuo que possibilite maior ganho genético e, como
conseqüência, melhoria da qualidade ambiental e social.
12
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
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