A CRISE ECONÔMICA NA VISÃO DOS CONSUMIDORES Abril 2016 87% dos brasileiros consideram grave a crise econômica Depois da euforia que marcou a primeira década dos anos 2000, o pessimismo toma conta dos brasileiros. Não é por acaso: de acordo com o IBGE, em 2015, o Produto Interno Bruto encolheu 3,8%; a inflação ultrapassou o teto da meta, atingindo 10,67% e o número de desempregados chegou a 9,1 milhões no trimestre encerrado em janeiro de 2016. A pesquisa “A crise econômica na visão dos consumidores”, conduzida pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), mostra como o brasileiro enxerga o cenário econômico atual, bem como os impactos em sua vida e o que busca fazer para contorná-los. Para o estudo, foram entrevistados residentes em todas as regiões brasileiras, com idade igual ou superior a 18 anos, ambos os sexos e todas as classes sociais. Para 58% dos brasileiros, situação financeira piorou em 2016 No diagnóstico do brasileiro, é grave a crise econômica pela qual o país passa. Para 86,8% deles, a crise é grave ou muito grave. Apenas 4,4% avaliam a crise como nada grave ou pouco grave. O cenário econômico reflete-se na situação financeira do entrevistado: 58,0% consideram que sua situação financeira piorou na comparação entre o início de 2016 e o mesmo período do ano anterior; apenas 6,4% observaram melhora. A queda dos investimentos e os resultados das contas públicas parecem dar razão aos entrevistados. Para 2016, projeta-se queda acima de 3,5% no Produto Interno Bruto, a suceder resultados de 0,1% em 2014 e -3,8% em 2015. Segundo a economista chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, “o impasse político que se verifica desde o início do ano passado contribuiu para forte e rápida deterioração da economia. O ajuste fiscal proposto há pouco mais de um ano não foi levado a cabo, dificultando a aprovação de medidas que atacassem os problemas econômicos. Isso derrubou de vez a confiança dos empresários e consumidores. Superada a crise política, será preciso avançar numa agenda de reformas e de medidas econômicas, uma tarefa politicamente delicada mesmo em tempos de normalidade”. Diante desse quadro, uma das situações mais comuns enfrentadas pelos brasileiros é a pesquisa de preço: 87,0% dizem que passaram fazê-la com maior frequência. Também em razão da crise, 85,9% tiveram que fazer corte ou ajustes no orçamento. A lista de restrições é extensa: há os que agora evitam comprar roupas e calçados (80,5%); os que tiveram que abrir mão de produtos e serviços aos quais tinha acesso (79,1%); os que passaram a comprar produtos de marcas mais baratas (76,9%); os que deixaram de viajar (75,5%) e de sair com os amigos para bares e restaurantes (71,3%). Gastos com produtos de beleza (56,8%) e serviços como internet e celular (30,7%) e TV por assinatura (28,9%) também foram alvos de cortes, em menor proporção que os demais. As classes C/D/E realizaram mais cortes que as classes A/B em itens como roupas e calçados, alimentos supérfluos e compras no cartão de crédito. O estudo ainda revela que 44,3% dos entrevistados estão com as finanças descontroladas e 37,0% dizem não conseguir pagar as contas em dia por causa da crise e por isso estão com o nome sujo. Outra forma de se defender da crise é tentar aumentar as receitas. Aí aparecem os chamados “bicos”, um trabalho extra para complementar a renda. 71,2% dos entrevistados afirmaram estar empregados. Entre esses, 41,7% dizem estar fazendo bicos ou trabalhos extras para complementar a renda. Nas classes C, D e E, a proporção sobe para 47,0%. Nos mais jovens, com idade entre 18 e 34 anos, o número é de 49,5%. Segundo a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, as famílias deparam-se com a necessidade de ajustar o orçamento, seja pelo lado do gasto ou dos ganhos. “A inflação e o desemprego corroem a renda das famílias e, muitas vezes, exigem mudanças no padrão de gastos. Havendo a possibilidade de ganho com trabalho extra, vale considerar a proposta, desde que não impacte o desempenho na atividade principal”, diz Kawauti. 2 83% dos brasileiros acredita que o desemprego aumentará em 2016 Ainda sobre o emprego, quatro em cada dez brasileiros (42,2%) têm alguém desempregado em casa e 76,3% conhecem alguém que perdeu o emprego nos últimos seis meses ou que tiveram que baixar as portas do negócio. A grande maioria acredita que esse quadro tende a piorar: para 82,7%, o desemprego seguirá aumentando em 2016. Entre os que estão empregados (71,2%), 37,0% sentem-se inseguros no seu posto. O risco de perder o emprego, com efeito, aumentou e age perversamente sobre a confiança do consumidor, alimentando a queda do consumo e do próprio emprego, num ciclo vicioso. A perspectiva de melhora da economia até o final do ano é baixa. Quando questionados sobre os rumos que o Brasil vem tomando, 60,5% dos entrevistados acreditam que os problemas na Economia vão piorar ainda mais, para 22,9% vão continuar do mesmo jeito e apenas 11,5% acreditam que irão começar a melhorar. Reflexo disso, 79% acredita que as vendas no comércio continuarão caindo. Em face da crise política e econômica, 80,1% dos brasileiros dizem-se indignados ao discutir sobre os problemas atuais do país. O sentimento de vergonha é apontado por 71,4%; o de stress e raiva, por 63,3%. A desesperança é um sentimento comum para quase metade (48,3%). E ainda há os que perdem o sono: um quinto dos entrevistados (20,6%). 3 Temores diante da crise: 48,2% têm medo de não conseguir pagar nem mesmo as contas básicas Diante desse quadro, não conseguir pagar as contas básicas da casa é um temor compartilhado por 48,2% dos entrevistados. Teme-se ainda que o país não saia da crise (41,1%) e que seja preciso pagar mais impostos (38,4%). Um dado alarmante mostra que um em cada cinco (20,9%) temem não conseguir fazer as compras de supermercado, com destaque para a classe C, D e E, em que a proporção sobe para 23,2%. Os entrevistados também elencaram o que consideram ser os principais problemas a serem resolvidos em 2016. A corrupção aparece com o maior número de citações, mencionada por 78,6% dos entrevistados. Em seguida aparece a crise política (46,3%) e a Saúde Pública (29%). Inflação e Desemprego aparecem com respectivamente 15,9 e 15,5%. É razoável a prioridade dada à crise da política, já que a resolução desse impasse é pré-condição para a resolução dos problemas econômicos. No entanto, nem toda solução política para atacar o problema econômico é aceita pela população. A recriação da CPMF, por exemplo, é rejeitada por 79,2% dos entrevistados, que defendem que o governo busque outras formas aumentar a arrecadação. A previsão é que o Congresso aprecie a proposta de volta da CPMF até a metade do ano. Um dado que mostra a rapidez da evolução da crise é que 73,6% não imaginavam, há quatro anos, que o país passaria pela crise atual. Até o início da presente década, o que imperou foi o otimismo. Agora, caminhando para o terceiro ano consecutivo sem crescimento econômico, o consumidor brasileiro sente o revés. A maioria considera que a crise econômica atual é grave. A superação desse quadro, que impõe restrições de todo tipo às famílias, depende fundamentalmente da recuperação da confiança e da resolução do impasse político. No curto prazo, o esforço deverá centrar-se no equilíbrio das contas públicas e controle da inflação. 4 METODOLOGIA Público-alvo: residentes em todas as regiões brasileiras, com idade igual ou superior a 18 anos, ambos os sexos e todas as classes sociais. Método de coleta: pesquisa realizada via web e pós-ponderada por sexo, idade, regiões e renda. Tamanho amostral da pesquisa: 602 casos, gerando uma margem de erro no geral de 3,9 p.p para uma confiança a 95%. Data de coleta dos dados: entre 24 e 31 de março de 2016. 5