entrevista Doenças respiratórias no inverno A chegada do frio e a redução da umidade relativa do ar aumentam nossa predisposição a inflamações e infecções das vias aéreas. Isso ocorre porque o nosso organismo precisa trabalhar mais para aumentar o metabolismo e manter a temperatura corpórea, o que faz a imunidade diminuir. É impossível pular a estação. Mas existem orientações que podem ajudar a minimizar riscos e sintomas das doenças respiratórias, apresentadas nesta edição pelo médico pneumologista dr. José Eduardo Delfini Cançado. -Acompanhe a entrevista: As estações do ano mais frias e secas se aproximam e trazem junto o aumento dos casos de doenças ligadas ao sistema respiratório. Porque isso acontece? José Eduardo Delfini Cançado CRM 53.862 Presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT) Doutor em Ciências e Pesquisador da FMUSP [email protected] Dr. Cançado - Tanto a redução da temperatura como da umidade relativa do ar predispõem a inflamações e infecções das vias aéreas. Isso porque o nosso organismo tem uma temperatura interna de 37oC, que precisa ser mantida continuamente. Assim, nessas condições atmosféricas, o organismo tem que aumentar o metabolismo para manter a temperatura corpórea e a imunidade diminui. Nessas condições atmosféricas também ocorre maior circulação no ar de vírus e bactérias, as pessoas vivem em ambientes mais fechados, contribuindo para o aumento das doenças respiratórias. Associado a isso, a baixa umidade relativa do ar aumenta a poluição atmosférica, por diminuir a dispersão dos poluentes, desencadeando mais doenças. Por tudo isso, no inverno temos mais infecções virais (resfriado e gripe) e bacterianas e, manifestações alérgicas (rinite, asma, bronquite). Dr. Jornal - Quais são os vilões mais comuns, responsáveis pelas doenças respiratórias e desconforto nesta época do ano? Dr. Cançado - As infecções mais comuns são as virais, tais como o resfriado, desencadeado por muitos vírus, especialmente, adenovirus, vírus sincicial respiratório, rinovirus, etc) e a gripe, desencadeada pelos vírus Influenza A, B e C. As infecções bacterianas mais freqüentes são as amidalites, faringites, sinusites, otites e pneumonia sendo causadas principalmente por vírus e pelas bactérias pneumococo, estreptococo, stafilococo, mycoplasma, clamídia, legionela, com maior ou menor incidência de uma ou outra, dependendo da faixa etária e fatores de risco.. Devido ao fato de vivermos no inverno em ambientes mais fechados, em temperaturas mais baixas e expostos à maior quantidade de poluentes no ar, nessa época, aumentam também as crises alérgicas de rinite, asma, bronquite, além de os pacientes portadores de DPOC (Enfisema e Bronquite Crônica) terem mais exacerbações. Dr. Jornal - Quais são as principais doenças respiratórias? Quais as diferenças entre gripe e resfriado? É verdade que uma gripe pode evoluir para pneumonia Dr. Cançado - As principais doenças respiratórias são as infecções e alergias citadas anteriormente. Tanto o resfriado como a gripe são infecções virais, porém, causadas por diferentes tipos de vírus. Em geral a gripe é um quadro mais grave, no qual o paciente apresenta febre alta, mialgia, artralgia, toxemia, podendo ainda ter como sintomas coriza, dor de garganta, tosse, congestão nasal e diarréia. É causada pelo vírus Influenza A, B ou C e por ser mais grave e comprometer o estado geral, quando acomete idosos, crianças muito pequenas e portadores de baixa imunidade (pacientes com câncer, diabetes, DPOC, cardiopatia, nefropatias, hepatopatias, etc) diminui muito a imunidade aumentando o risco de complicações, tais como, pneumonia ou piora do quadro de base (exacerbação do diabetes, da ICC, da DPOC, etc), levando à internação e às vezes, ao óbito. Dados da OMS mostram que hoje a gripe mata em torno de 500 mil pessoas no mundo (mortalidade de 0,6%). Já o resfriado é uma infecção mais leve, causada por muitos vírus diferentes especialmente, adenovirus, vírus sincicial respiratório e rinovirus, que desencadeiam quadro mais comum e menos grave, de dor de garganta, congestão nasal, febre baixa e tosse que duram de 1 a 2 semanas e melhoram rapidamente. Dr. Jornal - Que outras doenças do sistema respiratório precisam de atenção. A incidência também é grande? Dr. Cançado - Asma e DPOC são problemas de saúde pública hoje no mundo. Dados nacionais e internacionais mostram que 10% da população é portadora de cada um desses problemas. A DPOC é um misto de bronquite crônica e enfisema pulmonar desencadeados em 88% dos casos pelo tabagismo, e no restante, por exposição à fumaça e poeiras no ambiente de trabalho. Os pacientes evoluem com perda de capacidade pulmonar, dispnéia progressiva, tosse, chiado no peito e com piora da qualidade de vida. O diagnóstico é simples, feito pela Espirometria, que avalia o grau de perda funcional e classifica a doença em leve, moderada, grave ou muito grave. Dados do DataSUS mostram que hoje a DPOC é a 6ª causa de óbito no Brasil e a 4ª causa de internação hospitalar. Estudo realizado na América Latina mostrou de 15,8% de adultos (maiores de 45 anos de idade e fumantes) tem DPOC na cidade de São Paulo. Felizmente, desde de 2007, após parceria entre a Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), que tenho a honra de presidir, e da Secretaria Estadual de Saúde, o governo de São Paulo, distribui gratuitamente no SUS os melhores medicamentos disponíveis para tratamento adequado dessa doença. Mas ainda há um subdiagnóstico e tratamento inadequado. Já a Asma, é uma inflamação crônica das vias aéreas, de natureza alérgica, que as torna hipersensíveis. Por isso, quando o asmático é exposto a mudança de tempo, alérgenos, poluição, infecções, etc., entra em crise, apresenta quadro de tosse, chiado, aperto no peito e falta de ar. Infelizmente o diagnóstico não é feito pela maioria dos colegas médicos, que acabam tratando apenas os sintomas e não a inflamação. Com isso, a tendência é o paciente se tornar cada vez mais sensível, com sintomas e crises freqüentes e, tende a perder função pulmonar e ficar mais limitado. Dados do DataSUS mostram que a asma é a 3ª causa de internação hospitalar (400 mil/ano) sendo o principal fator, o mau tratamento com conseqüente descontrole da doença. Dr. Jornal - Quais as principais medidas para se proteger nessa época do ano contra essas doenças ? Dr. Cançado - Está indicada vacinação contra Influenza (gripe) e pneumococo para idosos, crianças pequenas e portadores de doenças crônicas.Orientar indivíduos com morbidade pré-existente (doenças crônicas cardio-respiratórias e metabólicas) e idosos maiores de 65 anos a evitar fazer exercício físico de moderado a intenso em dias de baixa umidade relativa do ar. Manter hidratação adequada, exceto se restringida por orientação médica, especialmente em crianças, idosos e em indivíduos que permanecem em locais com ar condicionado. entrevista Doenças respiratórias no inverno Também é importante umidificar o ambiente (vaporizador, umidificador, recipientes com água, toalhas úmidas no quarto, passar pano úmido no chão e sobre os móveis, molhar o jardim, etc), Recomenda-se utilizar os umidificadores por curtos períodos, arejando os ambientes assim que possível, evitando assim favorecer a proliferação de fungos e ácaros. Utilizar soluções oftálmicas umidificantes (lágrima artificial sem conservantes) várias vezes ao dia Utilizar soro fisiológico (sem vasoconstritor) nas narinas várias, vezes ao dia. Evitar banhos com água muito quente (que em situações normais já ressecam a pele) e utilizar cremes hidratantes para a pele e protetor solar. Manter arejados os ambientes internos (especialmente dormitórios) e evitar carpetes e cortinas que acumulem poeira. Evitar aglomerações. Dr. Jornal - Por que é preciso dar atenção especial a idosos e crianças, que sinais dever servir de alerta se eles são portadores de tais quadros ? Dr. Cançado - As crianças pequenas, menores de 5 anos de idade, ainda não tem o sistema imunológico bem formado, sendo mais susceptíveis às infecções respiratórias e aos alérgenos e irritantes domiciliares. Dados da OMS mostram que a pneumonia bacteriana é a maior causa de mortes em crianças com menos de 5 anos de idade, no mundo. As más condições de alimentação e higiene, associadas à poluição no ar em casa, especialmente pelo hábito de fumar dos pais, são fatores predisponentes e desencadeantes. Já os idosos,frequentemente tem outras co-morbidades, tais como, doenças cardio-respiratórias, metabólicas e neoplasias que contribuem para diminuição da imunidade e o aumento das infecções respiratórias. Estas acabam desencadeando exacerbações das doenças de base, o que leva a piora da qualidade de vida, aumento da morbidade e da mortalidade. Dr, Jornal - Muitas pessoas preferem se automedicar diante de uma gripe ou resfriado. Que tipo de risco existe nesta medida? Dr, Cançado - O resfriado, quadro menos grave e mais freqüente, não tem tratamento específico, exatamente por ser causado por muitos tipos diferentes de vírus e que frequentemente sofrem mutações. O tratamento é feito a base de medicamentos sintomáticos, tais como, descongestionantes, analgésicos, antiinflamatórios e mucolíticos. nJá a gripe, causada pelos vírus Influenza A, B e C pode ser tratada com o medicamento oseltamivir (comecializado com o nome de Tamiflu®), o qual deve ser prescrito por médico, nas primeiras 24 horas do quadro. O tratamento específico diminui muito a gravidade do quadro e o risco de complicações, como a pneumonia bacteriana e o óbito. entrevista Receita para reduzir complicações respiratórias no inverno: •Vacinação contra gripe e pneumono para idosos e crianças pequenas. •Procure se alimentar bem e ingerir em média, 30ml/Kg de líquidos diariamente (exceto se contra-indicado por médico). •Umidificar o ambiente quando a umidade relativa do ar estiver abaixo de 40%, com vaporizador, umidificador, recipientes com água ou toalhas úmidas. Vaporizadores e umidificadores devem ser usados por curtos períodos de tempo. •Deixe sua casa bem ventilada, limpe-a com pano úmido e lave as roupas de inverno antes de utilizá-las.•Evite ambientes fechados, tais como, cinemas, teatros, bares onde há aglomerado de pessoas, com maior circulação de agentes infecciosos e risco de contaminação. •Se você tem rinite, asma e doenças crônicas pulmonares procure seu médico para orientá-lo em relação a medidas preventivas de exacerbações e um plano de ação para essa época de ano. Siga corretamente suas orientações. •Evite exercícios físicos ao ar livre em locais próximos a vias de tráfego, indústrias e queimadas. APM dia-a-dia Campanha do agasalho Por conta da chegada do inverno, APM Piracicaba se une aos esforços de solidariedade de toda a comunidade, e realiza até o dia 17 de julho a campanha do agasalho. As doações devem ser encaminhadas à nossa sede, na avenida Centenário, 546. O que for arrecadado será encaminhado a entidade beneficente de Piracicaba.