Universidade Estadual de Maringá 26 e 27/05/2011 AS DIFICULDADES DOS ALUNOS, DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL, PARA A REALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS: ADIÇÃO, SUBTRAÇÃO, MULTIPLICAÇÃO E DIVISÃO COM NÚMEROS NATURAIS BRANDT, Celia Finck (UEPG) BASSOI, Tânia Stella (UEPG) PEREZ, Marlene (UEPG) DIONIZIO, Fátima Queiroz (UEPG) MIDENBERG, Adriane (UEPG) WOLSKI, Denise Therezinha Marques (UEPG) CABRAL, Andréia (UEPG) ROCHA, Hallayne Nadal B. (UEPG) Introdução O presente texto apresenta os resultados de uma pesquisa relativa às respostas dadas por alunos de quatro 6os anos, ou seja, antigas 5as séries, com aproximadamente 30 alunos em cada turma, à questões envolvendo operações de adição, subtração, multiplicação e divisão com números naturais. Essas respostas caracterizaram os dados empíricos, submetidos à analise à luz da teoria dos Campos Conceituais de Gérard Vergnaud (1990), da presente investigação que buscou responder às seguintes questões: Quais as dificuldades dos alunos, do 6º ano do ensino fundamental, para a realização das operações de adição, subtração, multiplicação e divisão com números naturais? Os erros são decorrentes da compreensão da estrutura do sistema de numeração decimal? Os erros são decorrentes da compreensão da estrutura do algoritmo? Os erros cometidos são decorrentes da compreensão da organização dos registros de representação (palavra e notação arábica)? Com o desenvolvimento da investigação pretendeu-se atingir os seguintes objetivos: compreender as dificuldades das crianças no domínio da estrutura do Sistema de Numeração Decimal (SND); explicitar a compreensão do SND pelas crianças no momento da utilização dos algoritmos operatórios; desvelar as hipóteses que as crianças manifestam para justificar estratégias e procedimentos utilizados para realizar operações de adição, subtração, multiplicação e divisão com números naturais; apontar o campo conceitual (conjunto de situações e conjunto de conceitos) necessário para a realização de operações de adição, subtração, multiplicação e divisão com números naturais. Procedimentos Metodológicos A investigação foi encaminhada numa abordagem qualitativa, que se desenvolveu em momentos distintos. Primeiramente, foi aplicado um instrumento de coleta de informações, com dez questões, com os quatro tipos de operações matemáticas: adição, subtração, multiplicação e divisão para quatro turmas de alunos do 6° ano (5ª série) do Ensino Fundamental de uma escola pública. As respostas apresentadas, por escrito, foram organizadas numa tabela de acordo com a seguinte categorização: resolução correta ou incorreta. Para a resolução correta elencaram-se mais duas subcategorias, resolução com algoritmo e resolução sem algoritmo. Para as resoluções incorretas elencaram-se três subcategorias: questão não resolvida (NF), questão errada (R) e erro incompreensível (I). Essa tabela pode ser visualizada a seguir: Questão Aluno Acerto: Estratégias Erro I NF R Procedimentos de organização dos dados Os erros foram apontados bem como as resoluções apresentadas não passíveis de compreensão. Dessa forma pudemos identificar os tipos de erros apresentados na resolução das questões e o número de sujeitos do grupo que apresentaram o mesmo tipo de erro. Esses erros forma analisados à luz da Teoria dos Campos Conceituais de Gérard Vergnaud, A tabela a seguir permite visualizar esse procedimento e, ao mesmo tempo, os diferentes erros cometidos e sua natureza. Questão A: Adição sem recurso à ordem superior, com duas parcelas de dois algarismos: 35 + 42. Efetuou corretamente com a utilização do algoritmo. Não fez. 2 Efetuou corretamente sem a utilização do algoritmo. Faltou. Registro incompreensível: sem utilização do algoritmo, resultado 41. Utilização incorreta do algoritmo apresentou um resultado que não condiz com a conta (57). Não especificado Errou a soma só na casa das dezenas Utilizou o processo da subtração, realizando a operação da direita para a esquerda. Subtraiu e por essa razão teve que emprestar para poder subtrai 4 de 3. Fez isso emprestando da casa das unidades (era 5, ficou 4). No entanto o empréstimo foi colocado ao lado do algarismo da casa das dezenas (e não a ele adicionado, ficando 31 para retirar as 4 dezenas) Ex:3154 Questão B: Adição com recurso à ordem superior, com duas parcelas sendo a 1º. Com três algarismos e a segunda com quatro algarismos: 2785+3456 Resolução correta com uso do algoritmo, com o registro das reservas sobre as ordens. (69 alunos) Resolução correta, sem utilização do algoritmo. (4 alunos) Resolução correta com uso do algoritmo, com o registro das reservas sobre as ordens. Errou a soma das unidades. (2 alunos) Fez sem a utilização do algoritmo e errou a soma das unidades de milhar (2 alunos) Fez sem a utilização do algoritmo e errou a soma das dezenas e unidades (1 aluno) Fez sem a utilização do algoritmo e errou a soma das dezenas e das centenas (1aluno) Fez sem a utilização do algoritmo e errou soma da casa das unidades e centenas (1 aluno) Utilização incorreta do algoritmo.Colocou a unidade 8 abaixo da dezena 4 e realizou a operação.(Resultado 6326) (5 alunos) Utilização correta do algoritmo com registro das reservas. Errou a soma das centenas (3724 e 3924) (1 aluno) Utilização correta do algoritmo com registro das reservas. Errou a soma das centenas e dezenas (6134 e 3794) (2 alunos) Copiou a conta errada (2785+35460=3845) (2 alunos) Acrescentou um zero ao número 278 ficando 2780 e realizou a operação. (1 aluno) Utilização correta do algoritmo sem registro das reservas. Errou a soma das dezenas (1 aluno) Deixou em branco. (4 alunos) Faltou. (20 alunos) Irreconhecível (4 alunos) 278 +3546 0226 Irreconhecível Não especificado (1) Questão C: Subtração com recurso à ordem superior na ordem das dezenas com três algarismos no minuendo e no subtraendo: 839 Utilização correta do algoritmo com o registro do empréstimo ao algarismo de ordem superior. (63 alunos) Resposta correta, sem uso do algoritmo. (6 alunos) Inverteu a operação: somou ao invés de subtrair. (7 alunos) Subtraiu o menor do maior, invertendo minuendo e subtraendo. (3-5=2) (10 alunos) Subtraiu o menor do maior na casa das dezenas. (3 alunos) Somou (4 alunos) Somou uma parte dos algarismos e subtraiu outra. (2 alunos) Utilização correta do algoritmo sem o registro do empréstimo ao algarismo de ordem superior, 3 ocasionando o erro na ordem das dezenas. (1 aluno) Somou corretamente com a utilização do algoritmo, mas deveria ter subtraído. (6 alunos) Faltou. (20 alunos) Não foi possível analisar: sem algoritmo, só o resultado 115 e 336 (2 alunos); II) só o resultado 405; sem utilização de algoritmo, só o resultado 41. (3 alunos) (resultado 1574 e 386) (2 alunos) Não fez (5 alunos) Questão D: Subtração com recurso à ordem das dezenas, com três algarismos no minuendo e no subtraendo: 942-543 Utilização correta do algoritmo com o registro do recurso à ordem superior. (47 alunos) Resposta correta sem a utilização do algoritmo. (2 alunos) Subtraiu o maior do menor. (5 alunos) Somou (5 alunos) Erro parcial: utilizou corretamente o algoritmo com o registro do recurso à ordem superior, mas errou nas centenas e⁄ou dezenas e⁄ou unidades. (5 alunos) Somou e subtraiu ao mesmo tempo. (4 alunos) Copiou errado o algarismo da centena da segunda parcela (8 ). Fez o registro incorreto do empréstimo (49) (1 aluno) Copiou o sinal da subtração, mas resolveu como se fosse adição e fez a soma errada. (2) Na casa das unidades não era possível subtrair 3 de 2, mas possivelmente fez o inverso e colocou como resultado o número 1 (2-3=1) e na casa das dezenas fez uso do recurso normalmente. (2 alunos) Ao emprestar um número da casa das dezenas, somou com o das unidades como se fosse unidade, e ao emprestar da casa das centenas, fez certo, mas não diminuiu uma unidade nas centenas. (1 aluno) Errou (não apresentado o tipo de erro). (2 alunos) Não foi possível categorizar: resultado 115. (2 alunos) Deixou em branco. (10 alunos) Faltou (22 alunos). Questão E: Multiplicação por 1 com três algarismos no multiplicador: 121x1 Acertou com algoritmo. (84 alunos) Acertou sem algoritmo. (5 alunos) Incompreensível, obteve 3 na casa das centenas. (1 aluno) Duplicou o valor numérico após multiplicação por 1: obteve 242. (1 aluno) Não fez. (13 alunos) Copiou errado (1 aluno) Errou o resultado da multiplicação. (2 alunos) Somou uma unidade a cada algarismo 121x1= 132. (3 alunos) Faltou. (21 alunos) Questão F: Multiplicação por zero e com três algarismos no multiplicador: 784 x 0. acertou sem algoritmo. (5 alunos) Errou, deu como resultado 784 (resultado da multiplicação por 1, utiliza o zero como elemento neutro). (36 alunos) Errou, deu como resultado 7840 ( utiliza o zero como elemento neutro e acrescenta mais um zero)(1 aluno) Faltou. (20 alunos) Não fez. (9 alunos) Resultado 700. (1 aluno) 4 Questão G: multiplicação de um algarismo no multiplicador por três algarismos no multiplicando: 743 x 2. Acertou, registrando a reserva. (70 alunos) Acertou sem uso do algoritmo (2 alunos) Errou ao multiplicar a centena (1 aluno) Faltou. (19 alunos) Efetuou divisão. (1 aluno) Não registrou a unidade de milhar. (1 aluno) Errou o resultado da multiplicação do multiplicador pelo algarismo da dezena do multiplicando Multiplicou 2 x 4 = 12 (1.526) (1 aluno) Utilização do algoritmo, somando a unidade,multiplicando a dezena e somando a centena (1 aluno) 743 x 2 = 985.multiplicou e somou (1 aluno) Não há nenhum tipo de registro. (22 alunos) Colocou o nº 1 no multiplicador. (1 aluno) Não fez (5 alunos) Questão H: Multiplicação de dois algarismos no multiplicador e no multiplicando: 45 x 16. Acertou, registrando a reserva. (36 alunos) Utilizou algoritmo com a reserva, mas errou na tabuada (10 alunos) Registrou e utilizou a reserva, mas errou na soma (4 alunos) Errou sem utilização do algoritmo, resultado aleatório (2 alunos) Faltou. (20 alunos) Não fez . (14 alunos) Dividiu. (1 aluno) Registrou e utilizou a reserva. Errou na multiplicação de 6x5, e 6x4 (393). (1 aluno) registrou e utilizou a reserva. Também erra a posição do resultado, por não compreender que não multiplicou por 1 e sim por 10. Incompreensíveis. (9 alunos) Registrou e utilizou a reserva. Mas copiou errado.(1 aluno) Multiplica a unidade do multiplicador pela unidade do multiplicando, registra a reserva. Multiplica a dezena do multiplicador pela unidade e dezena do multiplicando. (70) (1 aluno) Somou as unidades e somou novamente 6 com 4 utilizando a reserva. (1 aluno) Erro na Tabuada (3 alunos) Só multiplicou a unidade. (4 alunos) Não utilizou algoritmo, resultado aleatório: 370 e 302454 (2 alunos) Na hora de colocar o valor da multiplicação do número da casa das unidades pelo número da casa das dezenas, esqueceu de fazer a soma com o que foi elevado (colocou 24 ao invés de colocar 24+3=27) (1 aluno) Multiplicou primeiro a casa das dezenas do multiplicador pelo multiplicando e depois não soube onde colocar o resultado da multiplicação da casa das unidades. (1 aluno) Só multiplicou a casa das unidades do multiplicador pelos algarismos do multiplicando (16x45=270) (1 aluno) Não somou o valor que “subiu” e colocou na posição errada a segunda parcela da multiplicação (2 alunos) Colocou na posição errada a segunda parcela da multiplicação. (1 aluno) Copiou errado e errou na multiplicação. (1 aluno) Errou na multiplicação, (tabuada). (1 aluno) Errou no momento de fazer a soma. (1 aluno) Errou a tabuada e somou o resultado da multiplicação com o número que foi na casa das dezenas. (1 aluno) 5 Errou na multiplicação (tabuada) e na soma na casa das dezenas. (1 aluno) Questão I: Divisão de 100 por 2. Faltou. (20 alunos) Não fez. (28 alunos) Acertou com a utilização do algoritmo. (50 alunos) Obteve o resultado correto direto. (1 aluno) Efetuou na horizontal. (1 aluno) Fizeram tentativas de usar o algoritmo. (5 alunos) Arrisca o algoritmo e obtém como quociente (100) e resto (0).(2 alunos) Arrisca o algoritmo e obtém como quociente (200) e resto (0). (1 aluno) Só colocou o 5 na resposta, e não o 50. (2 alunos) Errou na divisão (1 aluno) Divide 10:2 =5, resto 10. Novamente 10:2 e obtém resto 10, 10: 2 = 5 e resto 0, sem registro no quociente. (1 aluno) Realizou uma multiplicação. (1 aluno) OBS: a professora considerou errada Ex: 100∟2 10 050 00 0 Utiliza parcialmente o algoritmo não sabendo registrar o resultado da divisão de zero por (3 alunos) Incompreensível (4 alunos) Questão J: Divisão de um número com três algarismos no dividendo por um algarismo no divisor. Faltou. (20 alunos) Não fez. (36 alunos) Acertou, efetuando a divisão pelo processo curto. (36 alunos) Acertou, efetuando a divisão pelo processo longo (1 aluno) Errou (3 alunos) Não baixou o segundo número do dividendo, mas fez diretamente a divisão. (1 aluno) Errou a tabuada. (1 aluno) (errou na tabuada fazendo 8 x 5 = 45, obtendo como resposta 168) (2 alunos) O aluno faz que 9x5 = 45, logo 845- 45 = 800 e como é preciso eliminar o 8 ele coloca o 8 no quociente. (1aluno) Errou ao trabalhar com o resto. (2 alunos) utiliza o algoritmo e realiza a operação pelo método breve, mas erra tabuada, sendo 3x5 = 30. Tendo como resultado do quociente (139) (1 alunos) Multiplicou (1 aluno) Não sabe utilizar o algoritmo.(2 alunos) Incompreensível (5 alunos) Sem resultado. Ex: 845÷5∟5(1 aluno) Organização dos dados por erros Os erros foram agrupados numa tabela para análise posterior e podem ser visualizados a seguir: 6 Erros de adição tanto nas adições como nas multiplicações Empréstimos da casa das unidades para a casa das dezenas, da casa das dezenas para a casa das centenas. O valor emprestado é considerado uma unidade que não é somado ao algarismo de qualquer casa e sim justaposto (ou à direita ou à esquerda). Ou esse valor emprestado é considerado uma unidade. Nesse caso será preciso entrevistar a criança para descobrir que hipóteses ela construiu para dar significado à estrutura do SND. A estrutura do SND compreende teoremas, pois envolve adições e multiplicações e compreende também invenções de natureza arbitrária: base, valor posicional e registros de representação (palavra e notação escrita) Utilização excessiva do algoritmo. Até para multiplicar por 1 e por zero. Falta de segurança para a realização das operações sem a utilização de algoritmos. Novamente necessidade de um trabalho voltado para a compreensão da estrutura do SND presente nos registros de representação utilizados para representar os números e a forma de organização dos diferentes registros: palavra (sufixos e prefixos) e notação escrita (valor absoluto e valor relativo dos algarismos). Pensar em estratégias para desenvolvimento de habilidades relativas ao cálculo mental e à memorização de pequenas somas. Utilização errada do algoritmo oriundo da não compreensão da estrutura do SND (colocar unidades em baixo de dezenas, ...). Acréscimo de zero ao número. Subtrair o menor do maior não importando quem é o minuendo e quem é o subtraendo ou somar quando não dá para subtrair (mesmo que isso signifique somar alguns algarismos e subtrair outros na mesma operação. Multiplicação por 1: soma uma unidade a cada algarismo ou duplica o valor de cada algarismo. Multiplicação por zero dá o mesmo número ou acrescenta um zero ao número. Muitas crianças cometem esse erro, isto é, consideram o zero como elemento neutro. Na multiplicação por um algarismo no multiplicador erra uma das multiplicações Divide ao invés de multiplicar. Não registra o algarismo da ordem das unidades de milhar ao multiplicar um número de 3 algarismos por um número de um algarismo. Soma e multiplica na mesma operação. Substituiu o multiplicador 2 por 1. Trata cada algarismo do multiplicador como se valor absoluto (unidades) e não relativo e, por essa razão, erra a posição do resultado para adicionar. Multiplica a unidade por unidade do multiplicando, registra a reserva, e a dezena por dezena. Somou o algarismo das unidades do multiplicador aos algarismos do multiplicando (tanto dezenas como unidades) Não considerou o algarismo da dezenas do multiplicador. Entrevistar a criança. Erro de tabuada. Tanto nas multiplicações como nas divisões. Esquecem de adicionar a reserva na multiplicação. Só multiplica pelo algarismo da unidade do multiplicador. Multiplicou primeiro a casa das dezenas do multiplicador pelo multiplicando e depois não soube onde colocar o resultado da multiplicação da casa das unidades. Entrevistar a criança. Fizeram tentativas de usar o algoritmo.. Arrisca o algoritmo e obtém como quociente (100) e resto (0). Arrisca o algoritmo e obtém como quociente (200) e resto (0). Entrevistar a criança. Pode ser que multiplicou. Não sabe o que fazer para dividir zero por dois. Só colocou o 5 na resposta, e não o 50. Compreensão da professora: não aceita o resultado 050 (a criança ao tentar dividir 1 por dois vê que não dá e coloca zero. Segue dividindo corretamente e por isso o resultado 050) 7 Não baixou o segundo número do dividendo, mas fez diretamente a divisão. Utilização errada do algoritmo. Reproduz espacialmente o algoritmo das estruturas aditivas conforme já identificado por (MUNIZ, 2009) porém manipula o algoritmo conforme o da divisão , isto é, inicia pela esquerda. 100 ÷2 05 Incompreensíveis 11 845∟5 370 5 Ex. 845∟5 ( 1) 84 171 5 Ex: ∟5 (1) 845 Ex: 845∟5(1) 40 14 0 Sem resultado. Ex: 845÷5∟5(1) 845∟5 10 8 7 Ex: 845∟5 (1) 24 249 45 0 Ex: 845 ∟5(1) -50 955 34 -4 14 - 4 10 - 10 00 Ex:845 ∟5 (1) 4225 0 8 Procedimentos de análise dos dados empíricos: esquemas próprios utilizados pelos alunos que fundamentam a realização de suas atividades matemáticas. A análise das produções matemáticas das crianças implicou no conhecimento das formas de pensar dessas crianças, subsidiado por uma teoria de conhecimento na dimensão epistemológica e psicológica. Nossa opção foi pela teoria de campos conceituais de Gérard Vergnaud pela possibilidade de análise dos procedimentos de resolução de questões de matemática, explicitando as significações compreendidas nos esquemas de pensamento utilizados pelos alunos. Segundo Vergnaud (1990, p. 155), a teoria dos campos conceituais trabalha com a idéia de situação e da ação dos sujeitos nestas situações. Vergnaud (1990) reconhece a importância da teoria de Piaget para a teoria dos campos conceituais e destaca dois conceitos de Piaget: o conceito de esquema (organização invariante da conduta para uma dada classe de situações) e de invariante operatório. Os erros foram analisados em relação aos esquemas que, segundo o autor, permitem investigar os conhecimentos-em-ação do sujeito, especificamente em relação às categorias de elementos: metas e antecipações, regras de ação, invariantes operatórios (conceitos e teoremas em ato) e possibilidades de inferência em situação. Dado o exposto passaremos, na sequência, a apresentar as análises dos procedimentos de resolução, buscando explicar os diferentes tipos de erros apresentados, as hipóteses levantadas, os conceitos não construídos e as significações atribuídas às diferentes soluções.. Análise dos erros Erros de adição e subtração. Exemplo: 35+42 = 67. Empréstimos: da casa das unidades para a casa das dezenas, da casa das dezenas para a casa das centenas ou o valor emprestado considerado uma unidade não somada ao algarismo de qualquer casa e sim justaposta (ou à direita ou à esquerda). Por exemplo: 3154 981412 - 42 -5 8 3 272 340 9 Subtração do menor do maior não importando quem é o minuendo e quem é o subtraendo ou adição em virtude da não possibilidade de subtração (mesmo que isso signifique somar alguns algarismos e subtrair outros na mesma operação).Exemplo: (942-583=441) Acréscimo de zero ao número. Na operação 278+3546 faz 2780 + 3546. Multiplicação por 1: soma uma unidade a cada algarismo ou duplica o valor de cada algarismo. Multiplicação por zero dá o mesmo número ou acrescenta um zero ao número. Muitas crianças cometem esse erro, isto é, consideram o zero como elemento neutro. Utilização errada do algoritmo oriundo da não compreensão da estrutura do SND (colocar unidades em baixo de dezenas, ...). + 3546 278 6326 Tratamento de cada algarismo do multiplicador em função de seu valor absoluto (unidades) e não relativo e, por essa razão, erro da posição do resultado para adicionar. (por exemplo registro e utilização da reserva, no entanto, adição de unidade com dezena e dezena com unidade.Por exemplo Multiplicação da unidade por unidade do multiplicando, registro da reserva, e da dezena por dezena. Adição do algarismo das unidades do multiplicador aos algarismos do multiplicando (tanto dezenas como unidades) Não consideração do algarismo da dezenas do multiplicador. Multiplicação pelo algarismo da unidade do multiplicador. Por exemplo (16x45=270) Os erros identificados, tanto nas operações de adição como de multiplicação, relativos às adições, foram analisados em relação ao teorema mobilizado (Card A + Card B= Card (A + B). Qualquer que seja a estratégia utilizada, contar todos ou contar na sequência, vai significar que a criança está lançando mão de um teorema em ação. Enquanto conceitos são necessários a contagem (contagem de unidades ou de grupos e, neste caso, é necessário seguir a lógica de contagem: contar todos, contar apenas uma vez e repetir os nomes dos números na mesma ordem) e a cardinalidade (estabelecer relações de ordem e inclusão hierárquica). 10 Foram também identificados erros de subtração e, por essa razão a necessidade da identificação de conceitos e teoremas em ato necessários para a realização correta das operações de subtração. Para os problemas que envolvem subtrações, Fayol (1996) apresenta tipos diferenciados de procedimentos dentre os quais destacamos: “contar para trás a partir 1 1 1 1 1 1 1 1 1 de” (12,11,10, 9, 8, 7, 6, 5, 4) ou “contar para trás até” (12,1 11, 10, 19, 18) a partir do maior dos termos até atingir o menor, enumerando os elementos da seqüência obtida. No caso das crianças analisadas podemos inferir, a partir de suas produções escritas que as estratégias “contar para trás a partir de” ou “contar para trás até”, relacionadas ao procedimento de diferença ou ao procedimento do complemento falham levando as crianças a apresentarem erros de subtração. Essas estratégias exigem também conceitos de contagem e, também, a manipulação de objetos ou dedos ou a mobilização em pensamento da correta ordem da sequência numérica recitada em ordem inversa. Igualmente, como na adição, mobiliza o teorema Car (A)–Car (B) = Car (A–B). Os erros relativos aos significados atribuídos aos empréstimos, posicionamento dos numerais no algoritmo ou à não possibilidade de retiradas, foram analisados em relação às metas traçadas pela criança que compreenderam regras baseadas em conceitos em ato relacionados à estrutura do SND. Isso porque segundo Duval (1995) um conceito envolve um significante, um significado e uma significação pelo sujeito tendo por referência um objeto de conhecimento, nesse caso o SND utilizado para a representação dos números na forma numérica. FIGURA 1 - ESTRUTURA DIÁDICA E TRIÁDICA DA SIGNIFICÂNCIA . Conceito referência Significado Significação atribuição algarismos de do (nesse caso a significação aos registro de Objeto (O SND) representação da escrita numérica pela criança) Significante representação (a escrita numérica) A criança realiza uma operação de subtração e cria hipóteses a partir da significação atribuída aos algarismos dessa escrita. Essa significação não compreende o conhecimento da estrutura que está presente nesse tipo de registro (de base dez e 11 posicional). Por essa razão ela, ao realizar a operação 35 – 42 e, ao não conseguir retirar 4 (dezenas) de 3 (dezenas), empresta 1 do 5 (que é unidade) e coloca esse valor numérico à direita das 3 dezenas interpretando o novo valor como sendo 31, retirando as 4 dezenas (consideradas 4 unidades), obtendo 27. As 4 unidades que ficaram são suficientes para a retirada das 2 unidade do 42, resultando em 272. Essa interpretação foi baseada no registro apresentado pela criança 4 315 -42 272 A mesma análise permite interpretar os procedimentos em que as crianças subtraem o menor do maior, não importando se o algarismo do registro seja do minuendo ou do subtraendo. Nesse caso a criança trabalha com os algarismos dos numerais como se fossem algarismos justapostos, pois não atribui significação ao registro de representação do número. As antecipações compreendem regras de ação que explicitam conceitos em ato utilizados (o conceito de subtração, nesse caso, retirar o menor do maior) e esquemas que dão conta de obtenção de resultados (a utilização do algoritmo que se baseia num conceito em ato fragilizado, isto é, a compreensão da estrutura do SND). Essas inferências podem justificar também o caso em que a criança completa com um zero à direita em um numeral com menos algarismos para adicionar a outro com mais algarismos. A não significação aos registros de representação do número embasa as ações da criança que se apóia no procedimento algoritmo, mecanizado, mas que lhe dá segurança para acreditar que obterá o resultado. Esse procedimento é realizado conforme orientações recebidas, isto é, colocar os algarismos um em baixo do outro e, nesse caso, o zero é acrescentado por não ter valor nenhum. Os resultados da multiplicação por 1 e por zero poderiam ser realizados sem o recurso ao algoritmo se a criança estivesse de posse do conceito de multiplicar. O mesmo ocorre com a multiplicação por dois que poderia ser realizada sem a recorrência ao algoritmo se acoplada à conceitualização da estrutura do SND. A utilização correta do algoritmo, mas com adições do multiplicando aos algarismos do multiplicador (121 x 1 = 232), ou com a duplicação desses algarismos (121 x 1 = 242), ou com a invariância desses algarismos na multiplicação por zero (121 x 0 = 121), foi analisada em relação ao esquema e, como conseqüência, às antecipações e regras de ação cujos conceitos em ato revelam uma atribuição de significação equivocada em relação ao registro de representação da operação em forma de algoritmo 12 escrito. Num outro contexto pode ser que a criança atribua uma significação diferenciada que a leve a apresentar o resultado correto da operação. No nosso cotidiano não se manifestam situações em que precisemos multiplicar por 1ou dividir zero por 2. Prevalece nesse caso a idéia de que multiplicar é aumentar (idéia de adição sucessiva) e essa idéia tem que ser associada ao registro escrito que se manifesta no sinal de x (vezes).Ou prevalece a idéia de que o zero não modifica nada (transportado da adição) e, por essa razão, ao enxergar o sinal de x (vezes) no registro escrito transporta essa significação ao resultado. A antecipação da criança, para a utilização do algoritmo, se apóia numa regra de ação que revela lançar mão de um conceito em ato relativo á estrutura do SND que se baseia em hipóteses próprias (que não respeitam o valor posicional) em relação aos algarismos da escrita numérica levando-a a colocar os numerais em posições relativas não coincidentes. A esse fato se associa a utilização de um teorema em ato fragilizado (relativo à adição) que não permite que a criança perceba a cardinalidade resultante dessa adição revelada pela soma obtida. A reproduz espacial do algoritmo das estruturas aditivas, para a realização da multiplicação, conforme já identificado por (MUNIZ, 2009), leva a criança a manipular o algoritmo da divisão, isto é, inicia pela esquerda ou faz a multiplicação da unidade vezes unidade fazendo a reserva e depois faz dezena vezes dezena. 3 45 ou x16 70 100 ÷2 05 Nestes dois casos aplica o algoritmo da adição para a realização de multiplicação (somar unidade com unidade e dezena com dezena). Pode-se inferir que houve a reprodução espacial do algoritmo das estruturas aditivas. Esse erro tem que ser interpretado em relação ao esquema e sua efetividade. O esquema de adicionar ou subtrair unidade/dezena com(de) unidade/dezena mantém-se invariante para essa criança para realização da operação de multiplicação. Esse esquema compreendeu uma meta, isto é, realizar a operação para obter o resultado, antecipações e neste caso a criança antecipa que deve multiplicar unidade/dezena por unidade/dezena que caracterizou as regras que comandaram a ação. Essas regras, por sua vez têm que ser associadas aos conceitos e conhecimentos em ato (invariantes operatórios) que nesse caso, para uma nova situação, no caso a multiplicação, estão fragilizados. Nesse caso é 13 o teorema que se refere à multiplicação e lhe da a possibilidade de certas inferências, especificamente proceder da mesma forma que na adição. Esses procedimentos revelam uma antecipação apoiada sobre hipóteses construídas pela criança em relação à significação atribuída ao algoritmo da multiplicação. Nesse caso o esquema se apóia num conceito ainda equivocado e, por essa razão, hipóteses que poderão ser refutadas em processos de intervenção por meio de desafios cognoscitivos. Essas hipóteses são construídas em virtude da não atribuição de significação ao procedimento algoritmo. Ela sabe que cada algarismo do multiplicando se relaciona com cada algarismo do multiplicador. Como esse conceito é equivocado ela ao invés de multiplicar, soma, além de esquecer-se do algarismo da casa das dezenas. Considerações finais Na presente investigação foi possível identificar algumas das dificuldades dos alunos, do 6º ano do ensino fundamental, para a realização das operações de adição, subtração, multiplicação e divisão com números naturais. Igualmente a natureza desses erros como sendo decorrentes da compreensão da estrutura do sistema de numeração decimal, da estrutura do algoritmo ou da organização dos registros de representação (palavra e notação arábica)? A partir dos resultados encontrados foi possível compreender as dificuldades das crianças no domínio da estrutura do Sistema de Numeração Decimal (SND). As análises permitiram explicitar a compreensão do SND pelas crianças, no momento da utilização dos algoritmos operatórios e desvelar as hipóteses que elas manifestam, para justificar estratégias e procedimentos utilizados para realizar essas operações. Ao proceder com análises subsidiadas pela teoria dos Campos Conceituais de Gérard Vergnaud foi possível apontar o campo conceitual (conjunto de situações e conjunto de conceitos) necessário para a realização dessas operações. Até o momento procedemos com a avaliação dos erros. Estaremos na continuidade do estudo procedendo com as análises das formas de intervenção para que esses erros sejam superados. Para tanto será importante observar (nas atividades a serem propostas) que para a utilização do algoritmo da divisão inicia-se pelo algarismo de maior ordem que não é 14 o caso do algoritmo da adição, subtração e multiplicação. Isso significa que deve haver também aprendizado do algoritmo. Igualmente observar que ao manipular os algoritmos as crianças lançam mão dos mesmos esquemas (iniciar da direita para a esquerda para as adições, subtrações e multiplicações e da esquerda para a direita no caso das divisões), no entanto os erros são decorrentes da não identificação da estrutura do SND na notação arábica. Por isso emprestam ao subtrair uma unidade da dezenas (ou vice e versa) e a acrescentam às unidades ou a elas justapõem, ou trabalham com o valor absoluto dos algarismos do numeral. Teremos que observar se os erros apresentados por nossas crianças são decorrentes da incompreensão da estrutura do SND ou se são decorrentes da incompreensão do algoritmo e ainda, se os esquemas são criações próprias que funcionariam se houvesse compreensão do SND. Importante, nas intervenções, será considerar as produções dos alunos e evidenciar os esquemas utilizados e as atribuições de significados aos dígitos da notação numérica que levam a soluções diferentes pelos alunos. E isto deve ser feito aproveitando os argumentos utilizados pelas crianças e ao mesmo tempo socializando com os demais colegas da classe. São essa produções que podem subsidiar propostas de intervenção para superação de obstáculos (epistemológicos ou pedagógicos) e avanços conceituais. O esquema é um produto de ordem psicológica apoiado na representação mental. As produções escritas não são capazes de revelar as construções amplas e complexas das crianças. É necessário, portanto, complementar os registros com justificativas e argumentos que revelam o que não se torna explicitado. Tal intencionalidade implica considerar a diversidade do pensamento humano na organização da prática educativa e, por essa razão efetivar uma transposição didática do conhecimento científico produzido, não o levando como pronto e acabado, ao contemplar interesses, necessidades, dificuldades, intuições primeiras, possibilidades, abordagens, encaminhamentos, estratégias, entre outras questões. Igualmente considerar a necessidade de uma forma diferenciada do olhar do professor em relação às produções das crianças buscando compreendê-las, aceitá-las quando corretas, mesmo que diferentes ou não canônicas, socializá-las para valorizar o sujeito epistêmico que é capaz de pensar e de produzir conhecimento, entendê-las 15 enquanto frágeis ou oriundas de processos de desenvolvimento, e, colaborar para as rupturas necessárias por meio de desafios cognoscitivos e de problematizações. Essa forma diferenciada de olhar implica rupturas pessoais oriundas de nossos processos de formação tanto escolar como profissional em cursos de formação de professores. Essas rupturas significarão desconstruções e reconstruções de natureza conceitual, procedimental e profissional, conforme apontado por Muniz (2009). REFERÊNCIAS FAYOL, M. A criança e o número: da contagem à resolução de problemas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. MUNIZ, Cristiano A. B. & BITTAR, Marilena. A aprendizagem matemática na perspectiva da teoria dos campos conceituais. 1. Ed. Curitiba: Editora CRV, 2009. VERGNAUD (1990), Gérard. La théorie des champs conceptuels. Recherches em didactique de mathématiques, v. 10, n. 23, 1990, p.133-170. DUVAL, Raymond. Sémiósis et pensée humaine: registres sémiotiques et apprentissages intellectuels. Suisse: Peter Lang, 1995. 16