o conceito de amizade em aristóteles

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O CONCEITO DE AMIZADE EM ARISTÓTELES: UMA LEITURA DO PONTO
11 (LIVRO VIII) AO PONTO 05 (LIVRO IX) DO LIVRO ÉTICA A NICÔMACO
Solange Alves Sobreira (Bolsista ICV), Zoraida Maria Lopes Feitosa (Orientadora,
Departamento de Filosofia – UFPI)
INTRODUÇÃO: Este trabalho tem por objetivo analisar a comparação que Aristóteles faz entre
os diferentes tipos de amizade e as conseqüências que cada uma tem no cotidiano dos
cidadãos. Explicitar as espécies de Constituição política e seus desvios, assim como a relação
desses desvios com a amizade a partir da leitura do ponto 11 (livro VIII) ao ponto 05 (livro IX)
do livro Ética a Nicômaco. Antes de Aristóteles, nenhuma teoria fora elaborada para definir-lhe
a natureza. A abordagem mais extensa da philia pode ser encontrada nos escritos de
Aristóteles, especialmente em seu tratado sobre ética, Ética a Nicômaco, onde no livro VIII e IX
ele faz essa abordagem. Coube a Aristóteles o merecimento de ter resumido o que de melhor o
pensamento grego nos legou sobre a amizade. Como veremos, Aristóteles ao tratar da
amizade tenta mostrar não só como os homens devem se portar nas relações interpessoais e
políticas, mas também a importância que ela possui no sentido de possibilitar a construção de
vínculos políticos para favorecer o bem comum.
METODOLOGIA: Nosso plano de ação consistiu, ao longo da investigação em: a) fazer a
leitura da obra Ética a Nicômaco e de forma mais específica a leitura do ponto 11 (livro VIII) ao
ponto 05 (livro IX) desta obra; b) a utilização de alguns comentadores para explicação do
conceito de amizade para Aristóteles; c) realização de encontros a fim de esclarecer o
andamento da pesquisa; d) E por fim, foi apresentado e discutido em sala de aula o relatório
parcial, com a finalidade de mostrar nosso entrosamento com a pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: A preocupação fundamental de Aristóteles, diferente de outros
filósofos (principalmente os platônicos), não é com a busca da “amizade em si”, mas de uma
amizade que visa o “bem para todos” como algo que é essencial para os amigos e
concidadãos, visto que o homem nasceu para a cidadania. Aristóteles distingue três tipos de
amizade, que se baseiam na virtude, no agradável e no interesse, estabelecendo uma
hierarquia entre eles. Só o primeiro equivale à “amizade perfeita”, ao passo que as outras duas
formas são consideradas imperfeitas, acidentais ou instrumentais. Com relação a cada um
desses tipos de amizade, alguns são amigos em termos de igualdade e outros em virtude de
uma superioridade. Elas acontecem entre iguais e desiguais, sendo que a semelhança é
essencial para uma amizade duradoura. A phília consiste, essencialmente, em um bem para o
homem, já que aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude. E por
estar vinculada a esta, além de nobre, a amizade é extremamente necessária à vida em
comunidade, pois todas as espécies de amizade envolvem uma forma de associação. Nesse
sentido é que a amizade consiste numa relação de convivência, principalmente na pólis. O elo
que une os cidadãos não é apenas a necessidade e o interesse, mas também a amizade, que
se exerce, no plano político, por meio da capacidade e da liberdade de deliberar-se e de agir
em comum. A vida comunitária se baseia no prazer de compartilhar a vida na pólis com os
demais cidadãos. A função da amizade como elo fundamental entre os cidadãos só é
compreensível porque na filosofia aristotélica a idéia de comunidade política compreende o
desenvolvimento de um projeto comum dos cidadãos.
CONCLUSÃO: Como podemos perceber, Aristóteles localiza a comunidade na base de toda
amizade; ele estende as relações de amizade quase à totalidade de relações humanas,
incluindo formas de parentesco, vínculos entre cidadãos na comunidade e relação de
hospitalidade. O conceito e o sentido da amizade são determinados pela perspectiva da pólis.
A amizade civil seria o reflexo da constituição do Estado na vida dos indivíduos; é a
constituição do Estado que determina o valor moral da amizade civil. A amizade perfeita, a qual
se define pela raridade, só pode crescer no solo da amizade civil; ela cria as condições para a
aparição, entre poucos indivíduos, da amizade perfeita. Segundo Aristóteles, não existe uma
única, mas várias formas de amizade, constituídas em vários gêneros, numa multiplicidade de
significados, diferentes entre si, mas que se relacionam, de uma forma ou de outra, ao bem,
princípio que dá origem à amizade segundo a virtude, à qual todas as outras se relacionam.
Nessa concepção, mais que uma simples necessidade de ligação afetiva entre as pessoas, a
amizade significa essencialmente uma ação virtuosa marcada pela reciprocidade na prática do
bem, sobretudo entre aqueles que convivem, principalmente na pólis. A amizade constitui um
“bem” tanto para a vida prática, quanto para a vida contemplativa, uma vez que, na presença
ou na companhia de amigos, é muito mais fácil a finalidade da ação e da contemplação, pois a
presença do amigo nos dá a distância necessária que permite determinar o significado e valor
pleno das ações boas. Sendo assim, a razão pela qual os indivíduos se reúnem nas cidades,
isto é, formam comunidades políticas, não é apenas de viver em comum, mas de “viver bem”.
A amizade, portanto, não é parte ou elemento orgânico da pólis, como o são a casa de família,
por exemplo, mas sim uma forma qualificada de relação no seio da comunidade, que visa,
acima de tudo, ao bem propriamente humano. Mas para que o objetivo da “boa vida” possa ser
realizado, é necessário que os cidadãos visem ao interesse comum, ou em conjunto ou por
intermédio de seus governantes.
PALAVRAS-CHAVES: Amizade. Aristóteles. Cidadãos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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