Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Delineamento de algumas Implicações Psicopedagógicas no Ensino de Geografia Márcia de Paiva Macêdo1 Marta de Paiva Macêdo2 Aristeu Geovani de Oliveira3 1 Concluinte do Curso de Psicopedagogia, Faculdade Araguaia, 74.030-040, Brasil, marcia33_hotmail.com 2 Professora no Curso de Geografia, UEG/UnU de Morrinhos, 75.650-000, Brasil, [email protected] 3 Professor no Curso de Geografia, UEG/UnU de Itapuranga, 76.680-000, Brasil, [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogia, Ensino de Geografia, Ensino Médio, EJA. 1 INTRODUÇÃO O enfoque da problemática colocada para este estudo viabiliza um campo fértil para debates em torno dos problemas relacionados com o ensino em geral, e o ensino de Geografia em particular, a partir das implicações psicopedagógicas envolvidas nesse processo. Esta pesquisa ateve-se aos problemas da aprendizagem de Geografia na escola, o que inviabilizou um trabalho mais amplo de investigação sobre o Ensino para Jovens e Adultos – EJA e a própria Psicopedagogia, o que também fugiria aos propósitos deste estudo. A Psicopedagogia objetiva o estudo do comportamento humano e as dificuldades nos processos de construção do conhecimento. Suas matrizes provém do conhecimento da Psicologia e da Pedagogia, e aqui foi tomada como instrumento de avaliação do processo de aprendizagem de alunos do Ensino Médio, dentro do Sistema EJA de Ensino. Demarca-se como objetivo principal deste trabalho, compreender os processos envolvidos na aprendizagem de Geografia, considerando os níveis de desenvolvimento cognitivo do aluno adulto, de diferentes faixas etárias. Quanto ao ensino de Geografia, torna-se aqui objeto de avaliação psicopedagógica no sentido de se buscar a validade das teses psicopedagógicas ao processo de ensino-aprendizagem na área específica da Geografia, para solver alguns dos muitos problemas envolvidos na aprendizagem escolar de alunos em faixa etárias especiais1. A Associação Brasileira de Psicopedagogia, em suas normas internas informa textualmente que: A Psicopedagogia formaliza atualmente a área que lida com a compreensão e o tratamento dos problemas de aprendizagem ampliando o foco através da contribuição de outras áreas do conhecimento como a Didática, 1 Estamos nos referindo às faixa etárias dos jovens e adultos, que juntos participam de um mesmo processo de ensino-aprendizagem. 1 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Lingüística, Psicanálise, Psicologia, Filosofia, Sociologia, entre outras. [...] A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio, família, escola e sociedade no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia.” (Regulamentação da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA – ABPp, 2010) Assim, esse campo do conhecimento, pode auxiliar sobremaneira os estudos sobre o ensino, tornando-se primordial buscar o estreitamento dos vínculos que retratem de forma apropriada a relação da Psicopedagogia com o processo de ensino-aprendizagem nas diversas áreas do conhecimento. No intuito de situar os problemas decorrentes da aprendizagem do jovem e do adulto, em especial da aprendizagem de Geografia escolar, é que este estudo ganha relevância, ao considerar os comprometimentos psicopedagógicos desse processo, na educação especial, onde inclui-se o Sistema EJA de Ensino. A Educação para Jovens e Adultos – EJA consiste um sistema de ensino da rede de ensino público no Brasil. Seu objetivo pauta pelo desenvolvimento de projetos de ensino, que visem a formação de alunos fora de idade escolar, nos níveis fundamental e médio. O Ministério da Educação - MEC, através da Coordenação Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, é o órgão fiscalizador desse Sistema de Ensino. (http://www.mundoeducacao.com.br/educacao/educacao-para-jovens-dultoseja.htm). Caracteriza o perfil do aluno do EJA a sua composição por jovens e adultos trabalhadores, e também pessoas da chamada terceira idade, que por diversas razões não estudaram durante a idade escolar, e vêem uma oportunidade para avançar em seus conhecimentos através do referido sistema de ensino. (http://www.grzero.com.br/inscricoes-eja-2010-2011/). 2 MATERIAL E MÉTODOS Os procedimentos metodológicos desta pesquisa envolveram: a) Pesquisa bibliográfica referente à Psicopedagogia e à atuação psicopedagógica na educação, além de pesquisa bibliográfica sobre o processo de ensino-aprendizagem de Geografia, especificamente, a geografia escolar; b) Organização e aplicação de questionários de entrevistas, como atividade da pesquisa empírica (no campo), contendo questões relacionadas tanto à Psicopedagogia, quanto à Geografia e seu ensino; c) Correlação dos dados de campo (empíricos) com as teorias pesquisadas; d) Redação final. A estratégia metodológica utilizada foi a busca de respostas na direção de um pensamento geográfico ou espacial, ou seja, a aplicação de questões que levariam os alunos a pensarem sobre o espaço geográfico, através de conceitos relacionados com os conteúdos do ensino de Geografia, do nível médio de ensino. Esperou-se com isso, a elaboração de um pensamento espacial ou que se aproximasse dele, com base no conhecimento adquirido durante as aulas, ou, pelo menos, pistas que os levassem a essa maneira de pensar sobre Geografia. Cavalcanti (2002) denomina essa maneira de pensar como modo de pensar geográfico. Segundo esta autora, há um trabalho de educação geográfica na 2 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 escola que deve se concretizar, no sentido de levar o aluno – cidadão à “(...) uma consciência de espacialidade das coisas, dos fenômenos que [...] vivenciam diretamente ou não, como parte da história social.” (p. 12-13). A mesma autora assinala ainda, que o papel dos conteúdos geográficos ensinados na escola é o de “(...) contribuir para a formação geral dos cidadãos.” (p.14). Do ponto de vista dos conteúdos geográficos, essa autora destaca os conceitos, a cartografia e a educação geográfica para a vida urbana como elementos conteudísticos que servem à formação de raciocínio geográfico. Por isso, neste estudo destacamos a questão dos conceitos e das representações gráficas como mapas/ gráficos na estruturação do pensamento dos alunos dentro da aprendizagem de Geografia. Compartilhando desse entendimento, Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007) incluem gráficos e mapas entre os recursos didáticos indispensáveis ao conhecimento geográfico na escola, valorizando o uso de diferentes tipos de linguagens no processo de ensino-aprendizagem de Geografia. Por outro lado, Oliveira (2006) esclarece o conceito de aprendizagem nos diferentes níveis de ensino, sublinhando que esta não se dá pela simples acumulação passiva, mas mediante a “(...) atividade exercida sobre os conteúdos, articulando-se uns com os outros.” (p. 217). Essa autora examina a idéia de atividade e explica que atividade nesse caso não é movimento físico, mas didaticamente é “atividade interior” em que há a participação mental ativa do aluno no processo de construção da aprendizagem, ou seja, tendo o aprendiz como ser social ativo que constrói sua própria aprendizagem, mediada pelo professor. (p. 217) Tendo como base esses estudos, foram elaborados dois questionários para entrevistas, que envolveram questões da Psicopedagogia e do ensinoaprendizagem de Geografia, destinadas aos alunos do Ensino para Jovens e Adultos – EJA, de uma escola estadual localizada na cidade de Goiânia-GO. A finalidade dessa etapa foi investigar através desse ensino o processo de aprendizagem dos alunos, em suas diferentes faixas etárias, quando estes constituem um único grupo, e sob as mesmas condições de ensino, possuem condições diferenciadas do ponto de vista social e da experiência de vida, portanto condições básicas diferentes ao conhecimento dos conteúdos ensinados na escola. Assim, foi elaborado um “Questionário de Avaliação Psicopedagógica em Geografia”, e aplicado aos alunos que enquadram-se nas seguintes faixa etárias, adaptadas de Berger (2002): 18 - 22 anos, 23 – 28 anos, 29 – 33 anos, 34 – 40 anos, 41 – 45 anos, e, 46 anos e mais. Ressalta-se que o referido autor refere-se aos estágios da vida adulta, segundo Levinson (1978), conforme a figura 1. 3 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Fonte: Berger (2003, p. 345). Figura 1. Quadro dos estágios da idade adulta, segundo Levinson (1978). As questões da Psicopedagogia foram relacionadas à: motivações ao retorno dos estudos, dinâmica de estudo na sala de aula, estratégias de aprendizagem, condição sócio-econômica do aluno (quantidade de salários mínimos do grupo familiar). Já, as questões sobre o ensino-aprendizagem de Geografia foram relacionadas à importância da Geografia ensinada na escola, à idéia de Geografia e a finalidade de seu estudo, os recursos de representação gráfica da geografia (material didático) e à concepção de uma Geografia social. Visando à aplicação das questões aos alunos, realizou-se as entrevistas, cujo universo de respondentes não fói aleatório. Baseado na estrutura do Sistema de Ensino EJA que está organizado atualmente em quatro semestres letivos, elegeram-se representantes de cada semestre, das diferentes faixas etárias, agrupando-se os alunos jovens e adultos do Ensino Médio da escola pública. As faixas etárias definidas nessa etapa, seguiram uma postura mais operacional da pesquisa para a realização das entrevistas, e foram as seguintes: 18 – 26 anos, 27 – 35 anos, 36 – 44 anos, e 45 e mais anos de idade. 4 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Daí, alunos de cada semestre responderam questões que relacionaram aspectos psicopedagógicos ao ensino de Geografia, que levariam ao entendimento sobre a existência de alguma influência da maturidade dos alunos de acordo com as faixa etárias, na assimilação dos conteúdos da matéria de Geografia. Ressalta-se que cada respondente foi discriminado quanto: à condição sócio-econômica, ao gênero/ idade, e o semestre cursado no EJA. Apesar disso, metodologicamente foi considerado o trabalho de Bee e Mitchell (1984) para as fases do desenvolvimento humano, no ciclo de desenvolvimento adulto, em que considera as seguintes fases: dos 20 aos 40 anos, dos 40 aos 65 anos e dos 65 anos e mais, conforme a figura 2. Fonte: Bee e Mitchell (1984, p. 506). Figura 2. Tabela geral do desenvolvimento humano. As referidas autoras propõem para o desenvolvimento humano, alguns aspectos que devem ser considerados na avaliação do desenvolvimento. Entre tais aspectos, elegemos os seguintes: o desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento físico e as interações sociais, apenas, como forma de amparar o processo de investigação baseado também em trabalho de campo, com a aplicação das entrevistas. 5 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Fonte: Berger (2003, p. 368). Figura 3. Gráfico de Q.I.’s (verbal/desempenho) para a faixa etária dos 20 aos 74 anos de idade. Foram considerados ainda os níveis de Quoeficientes de Inteligência – Q.I.’s verbal e de desempenho, na avaliação das mudanças cognitivas no decorrer da vida, segundo proposto por Berger (2003), de acordo com a figura 3. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Baseando-nos em Bee e Mitchell (1984) sobre o ciclo de desenvolvimento, em que, para a fase adulta considera dos 20 aos 40 anos, dos 40 aos 65 anos e dos 65 anos em diante, tivemos representantes nesse estudo apenas dos 20 aos 40 anos, dos 40 aos 65 anos, e dos 65 anos em diante. Por outro lado, foi definiu-se também o final da adolescência, ou seja, as idades entre 18 e 20 anos de idade, o que operacionalizou as etapas propostas para este estudo. Tendo como referência os autores supra-citados, pôde-se verificar através das entrevistas aplicadas durante o trabalho de campo, que os alunos com 40 anos de idade ou mais apresentaram um desenvolvimento cognitivo mais apurado em relação àqueles das demais faixa etárias. Situaram-se entre os que responderam mais prontamente às questões colocadas, e com habilidade verbal (Q.I. verbal) dentro dos padrões considerados na figura 3. Apenas 6,6% dos entrevistados fugiu à este padrão. 6 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Gráfico 1. Faixa etária dos entrevistados. IDENTIFICAÇÃO DOS ENTREVISTADOS POR FAIXA ETÁRIA 4 3,5 3 2,5 Qde. 2 1,5 1 0,5 0 18-26 anos 27-35 anos 36-44 anos 45 e + anos Fonte: Pesquisa empírica realizada em outubro de 2010. Segundo os dados empíricos da pesquisa, pôde-se constatar que as faixas etárias de 18-26 anos, 36-44 anos e 45 e mais anos de idade, foram representadas por 26,6% dos entrevistados, cada uma, e que, 20% está entre 27-35 anos de idade. O gráfico 1 mostra assim, que o interesse crescente pelos estudos, ocorre não apenas entre os jovens no início da fase adulta, mas diversas razões tem levado as pessoas a procurarem uma formação escolar, como via para alcançar conhecimento. Essa realidade pode ser corroborada pelas informações contidas na tabela proposta por Levinson (1978), e destacada por Berger (2003), na figura 1, em que a partir dos 33 anos de idade o adulto atravessa as fases de Assentamento e Transição do Período Intermediário da Vida, caracterizadas entre outros fatores, pela busca de realização pessoal. Quando questionados sobre as razões que os levaram a retomar os estudos, 53,3% responderam que a principal motivação é a expectativa de melhoria salarial (condições sócio-econômicas). Esse fator pode assim, explicar o esforço empreendido pelos alunos para a conclusão de seus estudos, no nível médio. Aliado a isso, os 73,3% que disseram haver participação ativa nas aulas de Geografia contribuíram para reforçar a constatação supra-mencionada, apesar de não haver segundo 80% dos entrevistados uma diversificação dos momentos de aprendizagem, como por exemplo atividades extra-classe, o que também retrata as condições insuficientes do ambiente escolar ao bom desempenho do aprendiz. Desse modo, fica reservada à criatividade e estratégias do professor na sala de aula, bem como à interação aluno-professor durante as aulas, a dinamização do processo de ensino-aprendizagem. Em relação às questões sobre o ensino de Geografia, 100% dos alunos entrevistados reconheceram a importância dessa matéria na escola. Apesar disso, um universo de 66,6% não soube explicar a idéia de geografia, ou o que esta representaria nem mesmo em termos de matéria de ensino. Por isso, avaliamos como insuficiente a aprendizagem de Geografia pelos alunos do EJA, que apesar de terem condições diferenciadas de aprendizagem, 7 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 como já dito, terminam por não se sentirem esclarecidos quanto ao sentido da Geografia escolar. Quanto questionados sobre a importância de representações cartográficas como gráficos e mapas na aprendizagem de Geografia, 53,3% dos alunos responderam que os mesmos são importantes, ao lado de 46,7% que disseram não conhecer estas formas de linguagem através das aulas de Geografia, o que caracteriza um estado de insuficiência do curso, pois são justamente os alunos do terceiro e quarto semestre do curso, que sairão do ensino médio sem esse conhecimento, ou nenhum contato com a parte cartográfica da Geografia. A produção de um pensamento espacial, fica desse modo prejudicada em razão da forma de organização da aula de Geografia, pois, um esboço, ou tentativas de representar os fenômenos geográficos ainda que de forma imperfeita mediante o uso do quadro-negro, manteria um pouco as condições de auxílio ao raciocínio na direção de uma espacialidade, em que sociedade e natureza são colocadas em sua relação de interdependência dentro de um mesmo processo – o de reprodução da vida, e produção/ reprodução do espaço geográfico. A realização desse raciocínio pelos alunos do EJA, é muito mais próxima quando se caminha nessa direção, uma vez que os alunos desse sistema de ensino apresentam um perfil diferenciado com relação às condições de aprendizagem, como mencionado anteriormente. O pensamento de um dos alunos entrevistados corrobora essa necessidade: “Geografia é isso que eu falei, tudo que tem massa e ocupa lugá no espaço. Pá melhorá nosso custo de vida, dia-a-dia.” (Relato de um aluno do EJA, em Goiânia. Entrevista realizada em outubro de 2010). Esse pensamento ressalta a necessidade do estabelecimento de estratégias de ensino-aprendizagem que esclareçam sobre os objetivos das matérias de ensino nas escolas. Neste caso, especificamente, não avaliamos o entrevistado quanto à sua capacidade de aprender, mas quanto às informações que possui sobre os conteúdos das diferentes matérias do Ensino Médio. Gráfico 2. Entrevistados segundo o gênero. IDENTIFICAÇÃO DOS ENTREVISTADOS SEGUNDO O GÊNERO 40% Masculino Feminino 60% Fonte: Pesquisa empírica realizada em outubro de 2010. 8 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 No material consultado, nada foi encontrado a respeito da aprendizagem em relação ao gênero do aprendiz, no entanto, achou-se conveniente destacar esse aspecto aqui, a fim de se perceber o quantitativo de pessoas do sexo masculino que buscam o sistema de ensino EJA, na expectativa de melhorar as suas condições de trabalho/ renda familiar. Dos entrevistados, 60% são homens que, entre outras razões, almejam ampliar as possibilidades de retorno financeiro através da educação escolar. Dentre este percentual, 50% dos entrevistados afirmaram como única motivação nos estudos a melhoria salarial. No caso das pessoas do sexo feminino, do total de entrevistadas, 66,6% almejam com os estudos apenas a melhoria salarial e das condições de trabalho. O relato de uma entrevistada corrobora esta afirmação: Eu voltei a estudar porque voltei pro mercado de trabalho e não sabia ligar o computador. Meu patrão me mandou estudar, quando eu entregar o diploma prá ele vai aumentá meu salário. (Relato de um aluno do EJA, em Goiânia. Entrevista realizada em outubro de 2010). Em relação ao questionamento sobre a finalidade da Geografia concernente à produção de diferentes maneiras de ver o mundo, 40% dos entrevistados apresentaram respostas que se aproximam da concepção de um ensino de Geografia eficiente. Porém, falta ainda um pouco de atenção ao ensino de Geografia que amplie mais os horizontes de quem aprende, no sentido de levar o aluno a perceber a dimensão do que importa conhecer a respeito dos fenômenos geográficos, e da importância dessa matéria de ensino. Gráfico 3. Condição sócio-econômica dos entrevistados. CONDIÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DOS ENTREVISTADOS POR SALÁRIOS MÍNIMOS 9 8 Sal. Mín. 7 6 5 4 3 2 1 0 1-2 s.m. 2.1-4 s.m. 4.1-6s.m. 6.1e+s.m. Fonte: Pesquisa empírica realizada em outubro de 2010. Por outro lado, pôde-se verificar que a condição sócio-econômica dos alunos pouco ou nada influencia nas questões relacionadas à aprendizagem. Os dados da pesquisa mostram que no caso específico do universo de alunos entrevistados, um percentual de 53,3% possui renda familiar de 2,1 a 4 salários mínimos, enquanto 33,3% recebe em família de 1 a 2 salários mínimos. Apenas 13,3% possui renda que varia entre 6, 1 e mais salários mínimos. 9 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Evidentemente esta condição dos alunos é um fator muito importante para a sua permanência na escola, entretanto, não define as suas condições para a aprendizagem em termos de Q.I., podendo relacionar-se apenas às condições de acesso às informações complementares que se podem conseguir fora do ambiente escolar, como por exemplo através de filmes cinematográficos e outros tipos de acessos às informações. No caso da aprendizagem da matéria de Geografia, nada se constatou pela pesquisa sobre diferenças cognitivas nos alunos, relacionadas ao quantitativo da renda familiar, estabelecida como parâmetro de comparação no processo de investigação. 4 CONCLUSÕES Pôde-se notar um forte impacto nos alunos diante das questões a eles colocadas, o que avaliamos como o anúncio de um estímulo à reflexões sobre a aprendizagem de Geografia. De modo geral, os alunos mais experientes, consequentemente os mais adultos, responderam mais prontamente às questões das entrevistas, e sempre tinham um edifício de respostas, principalmente às questões relacionadas com o estudo da Geografia, ou seja, à sua aprendizagem. Quanto às motivações ao estudo no EJA, a própria diversidade cultural e social, encarregou-se de mostrar à pesquisa. Aqueles alunos que necessitam estudar porque almejam um futuro socialmente melhor, afirmaram com segurança que isto só se realizará através dos estudos. No entanto, pôde-se perceber um desacordo, mais que uma contradição em suas respostas quanto às suas referências de Geografia, em relação às suas razões de voltar a estudar. Um quantitativo considerável de alunos não possui autonomia de respostas às questões que lhes foram colocadas, o que pôde ser observado em suas falas, que muitas foram caracterizadas como repetições das aulas, amparadas pelos diferentes conteúdos da matéria de Geografia. Esta conclusão resulta dos conteúdos das falas dos alunos, quando estes mencionaram sempre os diferentes assuntos tratados na sala de aula, e contidos na Grade Curricular do Ensino Médio de Geografia. Ou, ainda quando repetiram o próprio discurso do professor de Geografia do EJA, afirmando que o professor havia falado sobre tal assunto ou tema. Ressalta-se entretanto, que aos alunos com uma carga de experiência acumulada, isto não foi computado, uma vez que estes dedicaram-se a explicar o que poderia ser cada resposta às questões colocadas. Além disso, os resultados mostraram que a concepção de Geografia dos alunos está um pouco distante de um pensamento espacial, mas que, apesar disso, estes têm potencial par alcançá-lo. Um aspecto importante é que, apesar de estarem cursando o Ensino Médio, num “Sistema Compacto de Ensino” – o EJA, em apenas dois anos, os alunos desse sistema de ensino tem representantes que contradizem as expectativas de pesquisadores que não admitem encontrar alunos capazes de elaborar um pensamento geográfico compatível com as concepções de uma 10 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Geografia crítica, já no Ensino Médio. Daí, o EJA ser um referencial para contrapor essa idéia, por ser um sistema especial de ensino que recebe alunos com uma diversidade sócio-cultural diferenciada dos alunos do ensino médio regular (ensino médio para alunos em idade escolar). A pesquisa mostrou que no Ensino para Jovens e Adultos – EJA, a condição sócio-econômica do aluno pouco influencia as suas condições de aprendizagem. Nesse caso, a experiência vivida e o conhecimento acumulado ao longo da vida dos alunos é o fator preponderante e facilitador da sua aprendizagem. Notadamente uma conjunção de fatores entra na composição dos problemas relacionados à esse processo. Podem ser citados alguns: a própria formação insuficiente do professor de Geografia, a falta de material didático na escola (suficiente/ adequado), o perfil do aluno do EJA – trabalhador - e não tem muito tempo para estudar e realizar atividades extra-classe, as condições do ambiente escolar, entre outros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGER, Katheen Stassen. O Desenvolvimento da Pessoa: do nascimento à Terceira Idade. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003. Tradução: Dalton Conde de Alencar. BEE, Helen L.; MITCHELL, Sandra K. A Pessoa em Desenvolvimento. 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