Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ano lectivo – 2008/2009 “RECICLAGEM – UMA TENDÊNCIA SOCIAL DE PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL” Trabalho Elaborado por: Catarina Porfírio de Oliveira Cadeira: Pesquisa de Marketing Docentes: Raquel Ribeiro e Sónia Sebastião Ciências da Comunicação, 2º ano Nos últimos anos, com a crescente preocupação mundial em relação ao meio ambiente, o crescimento da camada de ozono, a desflorestação acelerada e o aquecimento global, a reciclagem tornou-se um dos pontos fundamentais de discussão pública. A reciclagem de materiais visa principalmente a redução dos resíduos depositados nas lixeiras a céu aberto, bem como diminuir a quantidade de recursos naturais utilizados no fabrico dos mais variados produtos, entre eles o petróleo, usado no fabrico de plásticos e as árvores, no fabrico de papel. No fundo é um novo tratamento dado a materiais (papel, vidro, metal, etc.), para possibilitar a sua reutilização e, assim, preservar o ambiente e os recursos naturais. O ciclo da reciclagem compreende um conjunto sucessivo de etapas, começa pela recolha e selecção e termina com a obtenção dos produtos finais. Se os RSU (Resíduos Sólidos Urbanos) forem despejados num só contentor a recolha é indiferenciada, se promove a separação dos diferentes tipos de resíduos, ou seja, se coloca o papel no papelão, as pilhas no pilhão, o vidro no vidrão, etc., a recolha será selectiva. A triagem ou pré-processamento é simultaneamente um meio de separar os diferentes componentes dos resíduos para reciclar e de retirar os materiais indesejáveis. O armazenamento o transporte e reprocessamento são também etapas da reciclagem. Em Portugal a entidade gestora dos resíduos de embalagens é a Sociedade Ponto Verde. É uma entidade privada sem fins lucrativos que foi licenciada oficialmente para dar cumprimento à legislação relativa à gestão integrada de embalagens e resíduos de embalagens não reutilizáveis a nível nacional. Nasceu em 1996 e desde então não tem parado de ensinar os portugueses a respeitarem o meio ambiente através do simples acto de fazer a separação e reciclagem de embalagens. Para ser sincera, apesar de já se fazer reciclagem há muitos anos (praticamente desde a Segunda Guerra Mundial), só me recordo da existência deste boom de gente consciencializada a partir desse mesmo ano. Antes disso, ninguém falava de reciclagem, e quem o fazia era acusado de ter um “modo de vida alternativo”. Actualmente, a reciclagem é uma tendência social. “Quando iniciámos a nossa actividade, em 1996, estávamos perante um país algo reticente perante o tema da reciclagem, cujos valores de materiais encaminhados para reciclagem eram realmente baixos e em que, além do vidro e do papel, pouco mais se separava”, contou à Meios e Publicidade1 Luís Veiga Martins, director-geral da SPV. 1 O Meios & Publicidade é um jornal semanal, nascido em Março de 1998, que aposta fortemente na informação económica profissional e independente para profissionais de comunicação. Informação que “Dez anos volvidos, as quantidades de materiais retomados têm registado números bastante expressivos, o que nos leva a crer que essa mudança de mentalidades e, fundamentalmente, de hábitos, fica a dever-se, não só mas também, á nossa estratégia de comunicação”, confirma. Para muitos, reciclar passou a ser uma necessidade do hoje e do agora. A “onda verde” assume um papel importante em muitas comunidades, que de facto incorporam no seu dia-a-dia práticas mais sustentáveis e limpas. Detectando aí uma oportunidade, o mercado movimentou-se e, tomando os EUA como exemplo, muitas empresas começaram a adoptar a responsabilidade de reciclar ou reaproveitar os produtos usados e obsoletos dos seus consumidores. Em Portugal, segundo números da Sociedade Ponto Verde, em cada 10 lares, 4 não separam, e apenas 3 o fazem regularmente. Existem muitas explicações para isto. Entre as ameaças para a reciclagem, estão a falta de consciencialização e educação da população adulta sobre o que pode ser feito com, por exemplo, uma simples folha de jornal, ou apenas a falta de vontade das pessoas em participarem na separação do lixo que é reciclável ou não. A isto junta-se a falta de incentivos fiscais. Há ainda o problema da recolha selectiva porta-a-porta. Segundo os dados da Câmara Municipal de Lisboa, a recolha selectiva porta-a-porta apresenta taxas de reciclagem muito superiores às dos ecopontos, sendo que para os plásticos e metais esse aumento ronda os 200%, enquanto que para o papel e cartão é de cerca de 75%. Também em termos económicos a recolha porta-a-porta apresenta vantagem sobre os ecopontos, uma vez que reduz substancialmente os custos de recolha e tratamento de resíduos indiferenciados. Como é que algo tão bom e eficaz pode ser uma ameaça? Eu explico: É irrisório o número de cidades que contam com este sistema. Infelizmente, a nível nacional apenas 4% dos cidadãos têm acesso a este tipo de sistema, o que na opinião da Quercus2 tem sido um factor limitante para se atingirem níveis de reciclagem mais ambiciosos. vai desde a notícia à análise profunda das tendências e estratégias do sector. O marketing, a publicidade e a criatividade, a produção, os media e seus negócios, o planeamento de meios, a comunicação estratégica, a internet e as relações públicas são algumas das áreas abordadas semanalmente no jornal. 2 É uma associação independente, apartidária, de âmbito nacional, sem fins lucrativos e constituída por cidadãos que se juntaram em torno do mesmo interesse pela Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais e na Defesa do Ambiente em geral, numa perspectiva de desenvolvimento sustentado. Quanto às pessoas que não usufruem deste sistema, não têm outra alternativa senão deslocarem-se até ao ecoponto3 (que muitas vezes está demasiado longe de casa) e aí fazer a separação de materiais. Contudo, mesmo essas encontram diversas vezes ecopontos sujos, vandalizados, e com lixo a transbordar, o que acaba por dar ao público uma má imagem dos ecopontos e desincentivam a participação dos cidadãos. Para além disso, há controvérsias sobre a quantidade de energia que a reciclagem realmente economiza. No caso do alumínio, gasta-se, realmente, menos energia, mas noutros processos como a reciclagem do vidro ou papel, a diferença não é assim tão grande (cerca de 40% menos). Porém, no caso do alumínio, é preciso ter em conta o transporte de todo o material. Se tem que atravessar meio país de avião, a sua eficiência energética diminui- e consequentemente, aumentam as emissões de gases do efeito de estufa. Ou seja: o valor da energia economizada depende da eficiência do processo. Contudo, nem tudo são ameaças para a Reciclagem. Há também oportunidades que a indústria da reciclagem tem aproveitado e outras que poderá vir a aproveitar. A reciclagem representa uma grande actividade económica indirecta, tanto pela economia de recursos naturais como pela diminuição dos gastos com tratamento de doenças, controlo da poluição ambiental e reparação de áreas degradadas. É também uma actividade económica directa pela valorização, venda e processamento industrial de produtos “descartados”. Para além disso, com esta crescente onda de preocupação com “o futuro dos nossos filhos” os consumidores tendem a liderar uma nova tendência denominada de "consumismo ambiental", que defende a compra de produtos verdes em detrimento dos produtos convencionais. Assim, estimula-se a concorrência, uma vez que esses produtos passam a ser comercializados em paralelo com aqueles que são feitos a partir de matérias-primas virgens. Comprar materiais que possam ser reciclados e ter preferência por produtos reciclados são, definitivamente, comportamentos favoráveis à reciclagem. Consequentemente, as empresas começaram a responder com mais consistência a esta tendência, procurando atender às necessidades dos seus clientes através da oferta de produtos "amigos do ambiente". Os produtos passam a ser avaliados com base, não apenas, no desempenho ou no preço, mas também tendo em conta a responsabilidade 3 Para separar o lixo utilizamos os ecopontos. No ecoponto azul colocamos o papel e o cartão, no verde o vidro e no amarelo o plástico. social dos produtores. O conceito de "valor" passa a incluir a salubridade do produto e da embalagem, e a imagem de qualidade passa, pois, a estar associada ao impacto ambiental. Assim, o marketing ambiental deverá ser assimilado pelas empresas como uma ferramenta estratégica, uma vez que se vêem confrontadas com a necessidade de dar uma resposta rápida face aos novos interesses ambientais dos consumidores. Há também outro factor importantíssimo a considerar – as crianças (nunca podemos subestimar o seu poder!). Actualmente, a Educação Ambiental faz parte do seu currículo escolar e desde pequenas que lhes são incutidas todo o tipo de preocupações ambientais. Segundo um estudo efectuado este ano pela Consumer Insight OMG, do Grupo Omnicom Media Portugal, as crianças entre os 7 e 12 anos têm um forte poder de influência sobre os pais no que toca à reciclagem. São elas que ensinam os pais a fazer a reciclagem, e que os repreendem quando estes erram no ecoponto ou quando não fazem separação do lixo. Não é por acaso que as crianças foram, na maior parte dos casos, os veículos de transmissão da mensagem “separar o lixo em prol do ambiente” aos portugueses nas campanhas publicitárias da Sociedade Ponto Verde. Para além disso, através da educação ambiental, está-se a contribuir para a formação de adultos com responsabilidade e sensibilização ambiental, com a preocupação diária de manter o meio ambiente limpo. Quem vê televisão, provavelmente já constatou que a Sociedade Ponto Verde tem vindo a desenvolver uma campanha apelidada de “2 causas por 1 causa”. Consiste em aliar a reciclagem à prevenção do cancro da mama sendo que a SPV e os seus parceiros, propõem-se a fazer uma doação em euros por cada tonelada de resíduos de embalagens retomada. Muitos vêem isto como chantagem emocional; uma forma de a SPV se escapulir aos problemas concretos do terreno (acima referidos) efectuando donativos para “causas nobres”. Críticas à parte, o que é certo é que está a resultar, e a SPV vê aí uma oportunidade de se publicitar e ainda promover a reciclagem (e alcançar deste modo os níveis de separação e reciclagem exigidos - não só pela situação ambiental do mundo - mas mais concretamente pela imposição da União Europeia). Também a Tetra Pak lançou uma nova campanha publicitária – “Impacto Mínimo”- para esclarecer eventuais dúvidas sobre a cor do ecoponto onde se deve colocar as embalagens de cartão (segundo um estudo efectuado pela empresa em questão, ¼ dos inquiridos colocava-as no ecoponto errado: o azul), incentivando simultaneamente o consumidor a reciclar. A recolha selectiva porta-a-porta, tal como já mencionei, é uma importante variável nesta equação. Apesar de não estar ao dispor de todos os portugueses, é mais eficaz e mais barato do que o sistema dos ecopontos, possibilitando a recolha de maiores quantidades de materiais para reciclagem (segundo um estudo do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa realizado em Dezembro de 2002, a pedido do Instituto dos Resíduos). Este sistema tem também a vantagem de introduzir a recolha de resíduos orgânicos (restos de comida) ao domicílio. Vivemos numa sociedade que dá extrema importância à tecnologia e (ainda!) não foi inventada uma forma de zipar os resíduos sólidos domésticos e enviá-los via e-mail para os ecopontos. Enquanto isso não acontece, os meios de comunicação digitais e a publicidade digital aliados aos meios de comunicação tradicionais podem ser utilizados para sensibilizar as pessoas para a reciclagem, para as mentalizar para os problemas ambientais modernos. Na minha opinião a reciclagem pode ser um problema justamente pelo facto de ser muitas vezes o único indício de consciência ecológica desenvolvida pelas pessoas. Muitas delas acreditam que, já que reciclam, podem andar todos os dias de carro, tomar banhos de uma hora e passar o dia com o ar condicionado ligado. Deixemo-nos de hipocrisias: a maior parte de nós pensa assim. O problema é que reciclar não é o suficiente; Reciclar é o mínimo necessário. Para melhorar o mundo é preciso começar pelas pessoas, pelas nossas atitudes, enfim, pelo despertar das consciências individuais "Pensar globalmente e agir localmente" (In Conferência do Rio, 1992). BIBLIOGRAFIA: ANDRADRE, Fernando de – O papel da reciclagem na sociedade, A Gazeta, 2008 (http://procuradesimesmo.blogspot.com/2008/05/o-papel-da- reciclagem-na-sociedade.html), consulta a 19/11/2008 PETRY, Caroline – A era da reciclagem, Ideia Mirabolante, 2008 (http://www.ideiamirabolante.com/atualidade/a-era-da-reciclagem), consulta a 19/11/2008 Autor Desconhecido – O Problema com a Reciclagem: Parte 1, 2007. (http://nossoquintal.org/2007/10/19/o-problema-com-reciclagem-parte-1/), consulta a 19/11/2008 Autor Desconhecido – O Problema com a Reciclagem: Parte 2, 2007. (http://nossoquintal.org/2008/01/24/o-problema-com-reciclagem-parte-2/), consulta a 19/11/2008 CAVACO, Ana – Dez anos a ensinar a reciclar, 2007. (http://www.meiosepublicidade.pt/2007/01/05/Dez_anos_a_ensinar_a_recicla r/), consulta a 19/11/2008 Autor Desconhecido – Reciclagem de Lixo é actividade lucrativa, 2008. (http://www.reciclagemlixo.com/mercado/reciclagem-de-lixo-e-atividadelucrativa.html), consulta a 19/11/2008 Sociedade Ponto Verde – (http://www.pontoverde.pt/), consulta a 21/11/2008