Com Maria... a contemplar A alegria de sermos discípulos missionários entusiasma-nos a viver de forma renovada este Ano Pastoral. Fazemo-lo, em ambiente de celebração do Centenário das Aparições em Fátima (1917-2017), na perspetiva da fé contemplada. Propomo-nos continuar a redescobrir a nossa identidade cristã e o dom da fé, numa adesão e conversão a Jesus Cristo, contemplando as maravilhas que Deus operou em Maria e na nossa própria vida pessoal, familiar, paroquial e social. Como Maria, felizes, porque acreditamos, queremos percorrer um caminho de conversão até Jesus Cristo. Pela fidelidade da presença de Maria junto à Cruz, vamos tecendo, compondo e recordando no coração os acontecimentos e palavras da vida. Com Maria… junto à Cruz “Ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a Ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe; e, nesta imagem materna, o povo lê todos os mistérios do Evangelho. Não é do agrado do Senhor que falte à sua Igreja o ícone feminino. Ela, que O gerou com tanta fé, também acompanha «o resto da sua descendência, isto é, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus» (Ap 12, 17)” (Evangelii Gaudium, 285). Maria recebe a missão de acolher o discípulo amado e todos quantos ele representa como filhos e filhas. O discípulo amado é, na verdade, o símbolo da comunidade cristã, de cada um de nós enquanto discípulos amados do Senhor. “Eis o teu filho”, “eis a tua mãe” – é dito para cada um, pessoalmente. Aqui “está plenamente indicado o motivo da dimensão 3 mariana da vida dos discípulos de Cristo... A maternidade de Maria que se torna herança do homem é um dom: dom que o próprio Cristo faz a cada homem pessoalmente” (Redemptoris Mater, 45). Maria faz parte da Igreja e da vida de fé do discípulo como um bem precioso e um valor vital; a Igreja e cada fiel podem reconhecer nela a mãe que lhes foi confiada e a quem eles foram confiados. Isto suscita em nós o amor a Maria e convida a deixarmos que este amor alimente o nosso amor a Cristo e à Igreja. Com Maria… na Igreja O nosso amor a Maria é muito mais do que uma mera devoção sentimental; é, antes, a contemplação da beleza do amor misericordioso de Deus por nós, pela humanidade dispersa que Ele quer reunir; é a contemplação da beleza da Igreja como Povo do Senhor, de que ela é membro eminente e mãe amorosa; e da beleza da vida com Cristo, de quem ela foi mãe, primeira e perfeita discípula. Naturalmente, tudo tem em vista uma renovação da vida cristã e da Igreja. Como afirma perspicazmente o cardeal Walter Kasper, “uma verdadeira renovação da Igreja não é possível sem uma renovada mariologia e sem uma renovada devoção a Maria. Por isso, Maria pode ser também hoje um modelo para uma renovação da vida da Igreja e ajudar a realizá-la”. A Igreja, em toda a sua história, cultivou intensamente a relação com Maria pois não se pode perceber a si mesma sem contemplar a fé de Maria, a sua eleição gratuita, a sua disponibilidade, o seu compromisso. Neste sentido, a disponibilidade e o compromisso de Maria tornam-se a disponibilidade e o compromisso da Igreja, isto é, daqueles e daquelas que aceitam ser habitados por Deus. “Ir até Maria é ir à escola do Cristianismo; compreendê-la é possuir a gramática para compreender a humanidade e para falar a língua da vida. [...] Nela está o alfabeto da vida. [...] Maria é como o ADN da Igreja e de cada discípulo, nela já está presente o património original e fundamental que faz crescer a Igreja” (Ermes Ronchi). Com Maria… nas dores e alegrias A existência da Virgem Maria não foi uma caminhada tranquila, sem encruzilhadas, sem esquinas, sem tensões, sem dúvidas ou sem dores. Maria passa por tudo isso, mas pondera, acolhe, compõe e tece no seu coração com linhas de sofrimento. Ao longo de toda a sua vida, soube manter sempre claro e firme o seu “sim” à vontade de Deus. Porque guardava tudo no coração, Maria torna-se a “Virgem Fiel”. Maria de Nazaré “recordava”, aprendia “de cor”, guardava no seu coração tudo o que tinha ouvido e visto acerca de Jesus. A sua fidelidade nutria-se diariamente da memória sempre refrescada das maravilhas do Senhor. Esta alegria gerada pela contemplação das maravilhas do Senhor aparece bem sublinhada pelo Papa Bento XVI quando diz: “com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo, transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo. [...] Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida, confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados. Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história” (Porta Fidei, 13). Com Maria… na Quaresma No contexto da caminhada do Ano Litúrgico, temos vindo a assumir as atitudes de Maria como modelo da nossa experiência de Deus e de vida em Igreja, conforme podemos ver no quadro que se segue: Tempo Litúrgico Atitude de Maria Advento Tempo Comum I Quaresma Páscoa Tempo Comum II Silêncio Louvor Penitência Oração Ação de Graças 5 A Quaresma é um tempo que convida à reflexão e à conversão interior, no fundo, a “voltarmo-nos para Deus de todo o coração” e ponderar, recordar e contemplar a Palavra de Deus, preparando-nos para reconhecer toda a alegria Pascal que vem da Ressurreição de Jesus, que nos salva e nos compromete com Ele e com os irmãos. Neste espírito, queremos celebrar e viver as atitudes de Maria acima enunciadas para estes Tempos Litúrgicos. Segue-se uma proposta de caminhada Quaresmal, a partir das dores de Maria, que posteriormente terá continuidade na caminhada para o Tempo Pascal, que se apresentará em ligação com as alegrias de Maria. Será na escuta atenta e no acolhimento da Palavra, ao ritmo da Liturgia de cada Domingo, que esta conversão se poderá operar, através de uma predisposição e de uma atitude que passará pela vivência na Família, na Catequese e na Liturgia. Quaresma: tecidos de Misericórdia O Tempo da Quaresma abre para cada cristão a porta da conversão que conduz à alegria da reconciliação. Efetivamente, sendo um tempo de uma vivência profunda dos mistérios da paixão-morte-ressurreição de Jesus Cristo, pretende-se desenvolver uma atitude de penitência e conversão para um encontro fundamental e alegre com Jesus Cristo. Para exprimir todo este dinamismo de conversão e de revestimento de Cristo, numa imagem que fosse a base de trabalho e de desenvolvimento desta caminhada, recorremos a três elementos: a Cruz, a figura de Maria e tecidos/faixas. Estes devem estar unidos entre si: uma cruz visível, com Cristo ou sem a figura de Cristo, revestida de panos/faixas/tecidos manchados, escuros, com a figura de Maria a seus pés. Assim, abeiramo-nos de Maria, Mãe de Misericórdia, para que com ela possamos lavar, tecer e recriar o tecido da nossa vida, marcado pela fragilidade e pelo pecado. Com Maria, acreditamos que será possível revestir os cantos mais íntimos da nossa vida com mais esperança e misericórdia, fazendo essa experiência em vários ambientes: a nível pessoal, na família, na liturgia e na catequese. LITURGIA O caminho da Quaresma será percorrido ao ritmo da Palavra de Deus que ilumina a nossa vida e nos faz reconhecer os aspetos do tecido do nosso viver que necessitam de purificação (conversão), tal como se apresenta no quadro da página seguinte. A partir dos elementos simbólicos e do itinerário propostos, vamos procurar cultivar a penitência, como atitude a aprender de Maria, valorizando em cada celebração o momento da Preparação Penitencial: a) o presidente introduz o momento, em conformidade com um texto que se preparará para cada celebração semanal, evocando a atitude que será necessário purificar no tecido da nossa vida e convidando a assembleia a um tempo de silêncio; b) convida depois à oração da Confissão; c) da Cruz retira-se a faixa onde está escrita a palavra que identifica a atitude que queremos purificar; d) o tecido é colocado num cesto, junto de Maria; e) para concluir o momento penitencial reza-se a oração: «À Vossa Proteção…». À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita. Amém 7 Esquema da Caminhada Quaresmal Itinerário Simbólico Celebração Data Contemplar a Alegria do Evangelho Quarta feira de Cinzas 1 de março “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” Indiferença I Domingo 5 de março “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” Esquecimento de Deus II Domingo 12 de março “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O” Egoísmo III Domingo 19 de março “Se conhecesses o dom de Deus…” IV Domingo 26 de março “Eu sou a Luz do Mundo” Pessimismo V Domingo 2 de abril “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá” Desconfiança Domingo de Ramos 9 de abril “Jesus fez-se obediente até à morte” Desobediência Atitude mariana Penitência Expressão na faixa que pende da Cruz Orgulho 9 Celebração penitencial e Via Sacra O perdão – como diz o Papa Francisco – é uma carícia de Deus, que nos traz a liberdade interior, a paz espiritual e a alegria. É necessário redescobrir este sacramento. Neste sentido e tendo por base o texto bíblico de Jo 19, 26-27 (Maria e João junto à Cruz), a Comissão de Liturgia apresentará uma Celebração Penitencial, que poderá ser preparada em família, onde será possível recuperar a oração mariana e o exame de consciência, e celebrada em cada comunidade cristã, em ordem a valorizar a vivência pessoal e comunitária da maravilha do perdão que Deus opera na vida de cada cristão. Quanto à Via Sacra, também será apresentada uma proposta que conduzirá à meditação do percurso dos passos de Jesus com Maria. Sugere-se também, como opção, tendo em conta a celebração do Centenário das Aparições em Fátima, a Via Sacra Orai Assim, elaborada pelo Padre Marcelino Paulo Machado Ferreira (Edições Salesianas, 2017). 11 CATEQUESE Dinâmica da sessão de catequese Em cada sala de catequese haverá três elementos centrais para a vivência da caminhada proposta: Cruz, Maria e tecidos/faixas. As faixas/tecidos estarão já colocadas na Cruz à semelhança do que se fez na igreja paroquial. A imagem de Maria estará também junto à Cruz. Assumindo a atitude de Maria junto à cruz, poderemos tentar ajudar as crianças e adolescentes a aprender a fazer e a cultivar o hábito do exame de consciência diário, a partir de uma experiência feita na sessão de catequese. Para isso, ao preparar a sessão, deve ter-se em conta o melhor momento para fazer o exame de consciência a partir dos seguintes pontos: - Agradecer o dia vivido; - Pedir a Luz do Espírito Santo; - Examinar o que terá sido menos bom, iniciando com a confissão (as perguntas abaixo apresentadas podem ajudar neste momento); - Pedir perdão (ato de contrição); - Propor (propósito de melhoria para o dia seguinte). Este momento pode ser enriquecido com o gesto vivido na celebração da Liturgia da comunidade. No final desta dinâmica, cada catequizando é levado a fazer um compromisso que há de ser escrito, levado para casa e colocado no Cantinho Mariano de Oração, ou andar com ele no dia a dia, num lugar onde a criança ou adolescente o possa facilmente ver e recordar. Na 13 sessão seguinte, ao fazer memória da semana, deve fazer-se sempre referência ao compromisso. A celebração do Sacramento da Reconciliação surgirá, neste itinerário, como momento luz em toda esta dinâmica. Por isso, sugerese que cada grupo de catequese participe na Celebração Penitencial. Proposta de Exame de Consciência 1. Oração - Vou sempre à Missa aos domingos ou às vezes arranjo desculpas para não ir? Costumo comungar? Procuro dialogar com Jesus que veio a mim na comunhão? Ao longo do dia vou pensando na presença de Deus e falo com Ele? - Tenho agradecido a Deus os dons e as graças que recebo? Faço o meu exame de consciência diário, peço perdão e procuro melhorar e não voltar a pecar? - Aproveito a catequese para conhecer melhor Jesus? - Falo de Jesus aos amigos ou, pelo contrário, tenho vergonha? - Estou zangado(a) com alguém? Falo mal de alguém nas suas costas? Sou mandão (mandona)? - Desobedeço aos pais, aos professores e aos catequistas? Na escola e na catequese faço barulho, perturbando os outros? 2. Esmola - Decerto recebo dos meus pais uma “semanada” ou uma “mesada”: por que não destinar alguma quantia para um pobre? - Com os amigos na catequese ou com a família, posso até apoiar uma instituição que ajude os mais necessitados; tenho aderido a essas iniciativas com alegria? 3. Jejum - Sou guloso(a)? Sou demasiado dependente da TV, do telemóvel, do computador e do tablet? - Minto? Sou egoísta, invejoso(a) e materialista? Convencido(a)? Vaidoso(a)? Preguiçoso(a)? - Fui violento(a) nas atitudes ou palavras ou chamei nomes feios a alguém? Roubei ou estraguei de propósito alguma coisa dos outros? - Utilizo bem o tempo, tentando não o desperdiçar? - Procuro respeitar a natureza, não poluindo o ambiente nem deitando lixo para o chão? Confesso a Deus todo-poderoso e a vós irmãos, que eu pequei muitas vezes por pensamentos, palavras, actos e omissões por minha culpa, minha tão grande culpa. Peço à Virgem Maria aos Anjos e Santos e a vós, irmãos, que rogueis por mim a Deus Nosso Senhor. 15 FAMÍLIA A dinâmica em casa consiste em criar um tempo de oração e conversão em família. Assim, cada família da comunidade é convidada a criar um Cantinho Mariano de Oração. Aí a família poderá reunir-se em oração, tal como Maria fez com os discípulos no Cenáculo. A oração poderá começar com o acender de uma vela, invocar o dom da presença do Espírito Santo, e rezar/meditar a partir da proposta do livro Rezar na Quaresma (Edições Salesianas, 2017). Posto isto, criar um breve tempo de silêncio, para acolher com a docilidade e calma de Maria a Palavra escutada e meditada, e aí cada um poder realizar um exame de consciência, ora pessoal, ora familiar, com a ajuda do esquema anteriormente proposto. Como seria bom que esta oração fosse feita em família! Depois deste momento, o compromisso trazido da catequese é colocado debaixo da imagem de Maria. A ela confiamos as nossas dores e esperanças. Com ela e por ela nós queremos chegar à paz de coração que vem de seu Filho Jesus. Este tempo de oração termina com a oração a Maria “À Vossa Proteção…”. À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita. Amém 17 COM MARIA… DOMINGO A DOMINGO Segue-se uma proposta de reflexão para cada Domingo da Quaresma. Em ano dedicado à Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja. Este itinerário pretende auxiliar os ambientes nos quais a conversão deve acontecer. Maria guarda no coração a Palavra de Deus. Será na escuta atenta e no acolhimento da Palavra, ao ritmo da Liturgia de cada Domingo, que a conversão se pode operar, através de uma predisposição e de uma atitude que passará pela vivência na Catequese, na Família e na Liturgia. 19 Quarta-feira de cinzas “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” * Tomar consciência de que somos cinza e de que, em Tempo Quaresmal, há necessidade de cada um “voltar-se mais para Deus de todo o coração”, recordar com fidelidade a sua vida e tecê-la com a misericórdia de Deus. * Seguindo os passos de Maria, estabelecer uma profunda relação com Deus. “Maria conservava todas estas palavras, ponderando-as (compondo-as/tecendo-as) no seu coração”. Maria guarda no coração a Palavra de Deus. * O Tempo Quaresmal que inicia na Quarta-feira de Cinzas deve ser um caminho de autêntica conversão, um tempo propício para cada um/família se “voltar para Deus” e “recordar”, “guardar” palavras e acontecimentos, abrindo espaço à conversão e à verdadeira penitência. * As cinzas são expressão da atitude necessária durante esta caminhada, sinal desta consciência humana e atitude humilde que permitirá percorrer este caminho de verdadeira conversão do coração em direção à Páscoa. * Em Ano Mariano, lembramos ainda todas as mães, mulheres e famílias, que também fazem este caminho de conversão, tornandose cinza, no encontro pessoal com Cristo e com os irmãos, na Evangelização/Testemunho/Anúncio de Cristo a todas as pessoas. * A partir do Evangelho, sublinhar quatro atitudes fundamentais: oração, jejum, esmola e penitência. * Fazer referência ao destino do Contributo Penitencial. * Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido. * No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar a faixa/tecido com a expressão “Indiferença” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”. * Depois da homilia, segue-se a imposição das cinzas sobre as pessoas. 21 “Nem só de Pão vive o homem, mas de toda a palvara que sai da boca de Deus” 1º Domingo da Quaresma * Tomar consciência de que voltar-se para Deus passará por fazer deste Tempo Quaresmal um tempo de deserto, um espaço de paragem, reflexão e oração para não cedermos às diversas tentações do mundo. * “Antes de dar início à Sua pregação, Jesus entrega-se à oração, uma atitude quaresmal; antes de se apresentar em público, vai para o deserto; antes de Se misturar com o povo, retira-se para a solidão. Antes de ir ao encontro dos homens, busca a intimidade do Seu Pai, que está no Céu” (Karl Rahner). * O deserto é espaço de paragem obrigatória, de reflexão, oração, introspeção para quem quer fazer um caminho sério em direção à Páscoa, isto é, em direção a uma vida nova, livre das tentações, ou melhor, com força para se ir libertando das várias tentações com que se é confrontado diariamente. * Depois de 40 dias de desânimo, vagueando pelo deserto, o profeta Elias encontra Deus. Jonas, em nome de Deus, concede aos pecadores 40 dias para se converterem e mudarem de vida. Jesus está 40 dias no deserto e o jejum ajuda-O a sintonizar plenamente com o projeto de Deus. * Só orando, refletindo, entrando no deserto do meu íntimo, é que me transformo ao ponto de me poder “voltar para Deus de todo o coração”, acolhendo-O na Sua Palavra, pois só assim perceberei que “nem só de pão vive o homem” (Evangelho). * S. Paulo refere na segunda leitura: “A Palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”. Então, aproveitemos este Tempo Quaresmal para acolher e amar essa Palavra que está tão perto, dentro de nós. * Por outro lado, a tentação de Jesus no Deserto não foi um acontecimento isolado, foi o começo de uma luta que se prolongará por toda a vida, atingindo o auge com a morte em Jerusalém. * O Batismo não nos introduz num estado de segurança. É antes o começo de uma exigente caminhada, no decorrer da qual a nossa fidelidade a Deus é, muitas vezes, posta à prova. * Em Ano Mariano, somos precisamente convidados a refletir sobre a nossa fidelidade a Deus, sobre o “sim” à nossa vocação batismal, que implica acolher Deus de todo o coração, na Sua Palavra. * Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido. * No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar a faixa/tecido com a expressão “Esquecimento de Deus” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”. Entrelinhas Obrigado por estes 40 dias que me concedes, Senhor. Fica comigo e ajuda-me a fazer escolhas sérias. Se Tu estiveres comigo, vou conseguir encontrar um estilo novo para a minha vida. Obrigado por estes 40 dias que quero passar com Jesus. 23 “Este é o meu Filho muito amado, no qual qual pus toda a minha complacência. Escutai-O” 2º Domingo da Quaresma * Tomar consciência de que voltar-se para Deus passará por querer estar mais com Ele (“Mestre, como é bom estarmos aqui!”), escutar mais a Sua Palavra, acolher mais as propostas que Deus me vai fazendo no silêncio e ser mais presença d’Ele no mundo e na Igreja (Viver as 24 horas para o Senhor como oportunidade de conhecer o rosto transfigurado de Jesus). * A Quaresma convida a parar interiormente, a construir tendas do encontro e do acolhimento a Jesus na minha vida, mas simultaneamente a agir, a descer do monte e a anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo transfigurado. * A experiência, breve mas maravilhosa, que foi dada viver aos apóstolos na transfiguração, constitui uma “antevisão” de Jesus ressuscitado. “O seu rosto ficou resplandecente como o Sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz”. Este acontecimento quer iluminar o nosso caminho, quer que descubramos a verdadeira missão do Messias e a coragem necessária para seguirmos os Seus ensinamentos e a Sua vida de ressuscitado. Mostra que é na Cruz que descobriremos o verdadeiro sentido da vida, a verdadeira luz. A transfiguração é o prenúncio de que o triunfo da vida e da dignidade do homem nasce da Cruz, no dar a vida, concretizando-se no homem transfigurado, no homem que deixa branquear as vestes do seu Batismo pela luz da ressurreição. * Tal como Cristo, cada um é chamado a dar-se, a assumir a sua cruz, transfigurando-se e dignificando-se. Mas este dar-se tem de ser permanente e sem barreiras, como acontece com Maria que assume a missão, a graça que Deus derrama na sua vida. * Chega de caricaturas e de verdades a meias. Quem é mesmo Jesus? Para lá das imagens “fofinhas” do menino Jesus do presépio… para lá da tentativa de reduzir Jesus a um profeta contestatário… para lá do Jesus homem bondoso…queres saber quem é realmente Jesus? Escuta a voz do Pai. * Como Maria aos pés da Cruz, vivemos um tempo favorável da fé, um tempo do acolhimento da Palavra no nosso coração, um tempo de contemplação do rosto misericordioso de Deus. * Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido. * No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar a faixa/tecido com a expressão “Egoísmo” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”. Entrelinhas Tu és filho. Tu és amado. Daqui nasce a tua força, a tua coragem, a tua alegria. Quero estar mais contigo. E como Tu, sentir-me filho amado pelo Deus da beleza e da ternura. 25 “ Se conhecesses o dom de Deus...” 3º Domingo da Quaresma ** Tomar consciência de que voltar-se para Deus, que é Pai Misericordioso, passará por estar atentos aos seus apelos e, como Maria o fez, acolher a Sua Palavra e vontade, com mais fé e alegria na nossa vida e no nosso coração. * Contrariando uma opinião corrente entre os seus contemporâneos, Jesus afirma que, na vida presente, não existe relação direta entre pecado e desgraça, calamidades e erros. * Já tentamos tantas coisas, tantas soluções para uma vida feliz. A maioria nem sequer funciona. Limitam-se a ficar com o dinheiro que pagamos e a deixar o coração ainda mais insatisfeito. Outras parecem funcionar, mas ao fim de alguns dias vemos que não resistem ao teste do tempo, ao embate com os altos e baixos da vida. E começamos a duvidar de tudo. E a vida parece uma longa travessia pelo deserto, cheio de sede e desilusão. * Não deixa de haver, no entanto, sinais ou apelos da parte de Deus à mudança de vida, à conversão permanente, apelos que todos temos de acolher, pois não somos melhores do que os que sofrem. * A Quaresma ensina-nos que todos somos pecadores, todos precisamos de recordar das nossas faltas e pecados, as nódoas que mancham a relação pessoal, com os outros e com Deus, mas, acima de tudo, acolher com coragem a Misericórdia de Deus, através do Sacramento da Reconciliação, vivido numa Celebração Penitencial. * É urgente arrependermo-nos e convertermo-nos ao Sagrado Coração de Jesus, que tanto nos ama e que só n’Ele está a salvação. * Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido. * No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar a faixa/tecido com a expressão “Orgulho” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”. Entrelinhas Tu és água fresca, Senhor da vida abundante. Tu és a resposta aos desejos mais profundos que trago dentro de mim. Em Ti, só em Ti, encontro paz, perdão, sentido, esperança. Em Ti, só em Ti, recupero forças para me levantar e continuar a viver com entusiasmo. 27 “Eu sou a Luz do Mundo” 4º Domingo da Quaresma * Tomar consciência de que é importante recordar o caminho que nos aproxima ainda mais de Deus e que poderá passar por nos reconciliarmos com Deus, com os irmãos e com o próprio. Durante esta semana, pode viver-se o Sacramento da Reconciliação ou pode optar-se por fazer a Via Sacra. * Jesus propõe-nos um caminho novo, um caminho de reconciliação, um caminho de regresso à casa do Pai, um encontro com a Sua Palavra, no fundo, um “voltar-se para Ele”. * Recordar que a “Penitência” é a atitude mariana que se pretende viver neste itinerário. * A Cruz e o perdão são um caminho novo de conversão, em oposição às tantas “costas voltadas”, que tantas vezes nos limitam, prendem e não nos deixam olhar de frente. * Na comunidade e na catequese, deve incentivar-se à prática do sacramento da Reconciliação, como sinal de encontro com a misericórdia e o perdão que Deus sempre oferece. * A reconciliação obriga cada um a olhar para dentro de si mesmo, reiniciando um processo de renovação e de reconciliação com o Pai. * “Por Cristo, Deus reconciliou-nos consigo”, diz-nos S. Paulo na segunda leitura. * Acreditar em Jesus é acreditar no dom da vida e da reconciliação do homem consigo, com os outros, com Deus e com a natureza, como acolhimento de uma proposta nova, de caminho alternativo àquele que nos conduz às trevas e nos faz sair da casa do Pai, como o filho mais novo de que fala o Evangelho. * No entanto, o pai acolheu-o novamente em seus braços, em suas mãos, fazendo festa por aquele filho ter “voltado para o Pai”. * Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido. * No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar a faixa/tecido com a expressão “Pessimismo” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”. Entrelinhas Quero ver quem és Jesus! Quero sentir a tua presença e a tua consolação. Quero olhar para Ti e ver o rosto do Pai. Quero deixar-me abraçar por ti. Quero acreditar em Ti e deixar que a fé se torne em mim vida nova! 29 * Este Domingo convida à prática do jejum, uma atitude que me propõe renunciar e jejuar àquilo que me satisfaz apenas a mim, sugerindo-me uma entrega mais radical aos outros. * Acreditas? Achas que Jesus te pode curar da cegueira? Que Ele pode dar uma qualidade nova ímpar à tua vida? Acreditas ao ponto de arriscar tudo com Ele? * Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido. * No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar a faixa/tecido com a expressão “Desconfiança” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”. Entrelinhas “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá” 5º Domingo da Quaresma * Tomar consciência de que voltar-se para Deus passará por não condenar ninguém, sendo capazes de oferecer o dom do perdão, podendo, porventura, recordar algum irmão a quem tenhamos condenado ou levantado algum boato ou falso testemunho. * Jesus condena sempre o pecado, mas, perante o pecador, a Sua atitude não é de condenação, mas de salvação e misericórdia. * Jesus veio para libertar o homem do pecado, para lhe dar a alegria do perdão. * “Voltar-se para Deus”, ou seja, acolher Deus passará também por sermos mais acolhedores uns dos outros, por nos perdoarmos uns aos outros, tal como refere a oração do “Pai Nosso”. Não sei muito bem como dizer em palavras a minha fé. Mas sei que em Ti consigo perdoar. Sei que contigo na minha vida resisto ao sofrimento, à doença e ao desânimo. Sei que ao Teu lado é possível construir um amor fiel, que supera todos os solavancos. Por tudo o que fizeste na minha vida, é fácil acreditar em Ti. 31 “Jesus fez-se obediente até à morte” Domingo de Ramos * Tomar consciência de que voltar-se para Deus passará por vivermos em profundidade o mistério desta Semana Santa, isto é, o mistério da paixão, morte e ressurreição. * Recordar, em Dia Mundial da Juventude, os jovens de todo o mundo e de cada paróquia, particularmente os que vivem sem rumo e desorientados pelas drogas, álcool ou outros vícios, pela falta de emprego e de projetos, pela falta de amor e de afetos, no fundo, um apelo a que os acolhamos e ajudemos. * Celebramos, neste Domingo, dois acontecimentos da vida de Cristo, lembrados no nome litúrgico deste dia (Ramos): a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e a Sua Paixão e Morte. Aqueles que O aclamaram na Sua entrada em Jerusalém foram os mesmos que, pouco tempo depois, O mataram e suspenderam na Cruz, na Sexta- feira Santa, três dias antes de ressuscitar. * A Cruz é o sinal por excelência deste Tempo Quaresmal, é fonte e geração de uma vida nova. Maria, junto à Cruz de Seu Filho, manifesta a fidelidade e a esperança para toda a Igreja. * Iniciar a celebração com a Bênção dos Ramos fora da Igreja. * Neste dia deve apelar-se, mesmo aos jovens e na catequese, uma vez que é Dia Mundial da Juventude, à vivência e participação nas celebrações da Semana Santa e na celebração da Vigília Pascal e do Dia de Páscoa, como forma e condição para haver uma forte vivência do espírito pascal em cada um/família, ou seja, como forma de cada um se permanecer junto da Cruz de Jesus, tal como Maria nos testemunha. * Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido. * No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar a faixa/tecido com a expressão “Desobediência” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”. Entrelinhas Quero gritar-Te a minha alegria. Tu conheces os meus desejos mais sinceros e profundos. E quiseste entrar na minha cidade. Vieste à minha vida e trouxeste o dom de Deus. Para Ti, o meu aplauso, o meu louvor, a minha adoração. 33 Comissão para a Liturgia