Guia de Leitura

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O dom
Susie Morgenstern
IlustraçõesChen Jiang Hong
Temas Judaísmo • Música • Vida comunitária • Carência e superação
Guia de leitura
para o professor
48 páginas
Acompanha CD
O ilustrador Chen Jiang Hong é pintor, ilustrador e escritor.
Nasceu em Tianjin, China, em 1963 e cresceu durante a
Revolução Cultural. Formado pela Escola de Belas-Artes de
Pequim, vive em Paris, França, desde 1987. Começou a ilustrar
livros infantis em 1994 e estreou como autor dois anos depois,
com La Légende du cerf-volant [A lenda da pipa], 1999.
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Entre outros livros, ilustrou Oriyou et le pêcheur et autres contes
de la Caraïbe [Oriyou e o pescador e outros contos do Caribe],
1999, de Praline Gay-Para; Contes de la mer Caspienne [Contos
do mar Cáspio], 2003, de Anne-Marie Passaret; Hatchiko, chien
de Tokyo [Hatchico, cão de Tóquio], 2003, de Claude Helft.
Uma de suas obras mais conhecidas é Zhong Kui. La terreur
des forces du mal [Zhong Kui. O terror das forças do mal],
2001, cativante álbum sobre a Ópera de Pequim. Em Le Cheval
magique de Han Gan [O cavalo mágico de Han Gan], 2005,
conta a lenda do artista chinês Han Gan. A Revolução Cultural
chinesa foi tema da narrativa autobiográfica Mao et moi [Mao e
eu], 2008.
Recebeu diversos prêmios internacionais, como os franceses
Charles Oulmont (1992) e Prix Sorcières (2004) e o Deutscher
Jugendliteraturpreis (2005).
A autora Susie Morgenstern nasceu na cidade
norte-americana de Nova Jersey, em 18 de março
de 1945. Estudou na Universidade Rutgers (EUA),
na Universidade Hebraica de Jerusalém (Israel) e na
Faculdade de Letras de Nice (França).
Recebeu vários prêmios literários e condecorações,
como o título de “chevalière” das Artes e
das Letras, concedido pelo governo francês.
Atualmente, sua obra é composta por mais de
sessenta livros, dentre os quais Même les princesses
doivent aller à l’école [Até as princesas devem ir
à escola], 1991; Lettres d’amour de 0 à 10 ans
[Cartas de amor de 0 a 10 anos], 1996; Joker
[Coringa], 1999 e Emma, 2007.
Em parceria com o ilustrador Chen Jiang Hong,
já havia publicado, antes de O dom, Archimède,
la recette pour être un génie [Arquimedes, receita
para ser gênio], 2002, e Je ferai des miracles
[Farei milagres], 2006. Mais informações sobre
a autora podem ser encontradas em
http://susie.morgenstern.free.fr/siteweb/
Bienvenue.htm
O dom
Explorações
paralelas
Referências judaicas
No livro há diversas referências à
cultura judaica (termos em iídiche
e hebraico, costumes rituais,
fatos históricos etc.), elucidadas
a seguir.
Circuncisão (em hebraico, brit milá):
retirada cirúrgica do prepúcio de um
bebê, oito dias após o nascimento,
sinalizando sua inclusão na
comunidade judaica. A cerimônia
remonta à aliança de Deus com
Abraão.
Iídiche: língua das comunidades
judaicas da Europa Central e Oriental,
baseada no alemão do século XIV,
com acréscimo de elementos
hebraicos e eslavos. Foi a língua mais
falada entre os judeus da Europa
Oriental até a Segunda Guerra
Mundial.
Mitzvót (plural de mitzvá,
mandamento em hebraico): empregado
originalmente para os mandamentos
divinos na Bíblia, tal termo passou
a referir-se a qualquer boa ação.
Segundo se lê no Talmud, o propósito
das mitzvót é aprimorar a natureza
do homem, disciplinando-o a seguir a
Deus e não a seus próprios desejos.
Susie Morgenstern
O álbum
Numa pequena aldeia na Europa Oriental nasce Oycher (“riqueza”, em iídiche), terceiro filho dos Oifetzmil, judeus pobres e
esperançosos. No dia da circuncisão do bebê, um estranho bate
à porta trazendo um presente para a criança: uma caixa que só
poderia ser aberta quando o menino completasse três anos.
Curiosos, os moradores da aldeia tentam adivinhar o conteúdo da caixa: dinheiro, passagens para a América, uma arma contra os inimigos, uma linguagem universal. O rabino, porém, vê
com maus olhos tanta agitação, obstáculo ao cumprimento das
mitzvót, os mandamentos divinos.
Enquanto isso, Oycher cresce forte e sadio, a não ser por um
detalhe: não aprende a falar. Aos dois anos e meio, não faz senão
repetir “ga ga gu gu”.
No entanto, uma reviravolta ocorre por ocasião de seu terceiro aniversário: a abertura da caixa, enfim autorizada, solta
a língua do menino. Um violino! – eis o presente tão esperado e a primeira palavra pronunciada por Oycher. A partir daí,
ele se dedica totalmente ao aprendizado da música e acaba por
transformar em realidade todos os sonhos suscitados pela caixa: conquista dinheiro, obtém sucesso profissional e se realiza
pessoalmente.
Leitura da obra
O condão e o destino
O parágrafo inicial de O dom condensa um traço fundamental da narrativa: a fé na superação de dificuldades pela confiança simultânea no trabalho humano e em forças misteriosas. Ele
começa com uma descrição que conecta o concreto do interior
doméstico – com seu teto de “telhas, palha e sucata” – ao abstrato
exterior – a “confiável” eternidade de estrelas “escrupulosas”. Há
aí, ao mesmo tempo, algo de proteção e de desamparo, de força e
de incerteza: a cobertura, embora remendada, servia de teto, ao
passo que a solidez do céu dependia de confiança, do convívio
entre a fragilidade da vida e os mistérios da natureza. Afinal, a
história de Oycher não gira exatamente em torno de um presente e de uma vocação, da sorte e do esforço associados contra a
precariedade?
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O dom
Imigração: os pogroms, a penúria e a
superpopulação provocaram grande
êxodo dos judeus do Leste europeu
nos séculos XIX e XX. Entre 1881 e
1930, mais de três milhões de judeus
da Rússia, do Império Austro-Húngaro,
Polônia e Romênia emigraram:
2,8 milhões para os Estados Unidos;
30 mil para o Brasil; 220 mil para a
Argentina (de 1881 até 1942).
Pogrom (tempestade, assalto,
destruição em russo): pilhagens,
agressões e assassinatos cometidos
contra os judeus na Rússia tsarista.
Por volta de 1881 houve uma onda
de pogroms, da Ucrânia para Odessa
e Kiev; em 1903, ocorreu um terrível
pogrom em Kishinev, então capital
da Bessarábia, hoje Moldávia, entre a
Ucrânia e a Romênia.
Shtetl (aldeia em iídiche, plural
shtetlech): pequena comunidade de
judeus na Europa oriental pré-moderna
(Rússia, Polônia, Lituânia e parte
leste do Império Austro-Húngaro).
Tendo por língua o iídiche, era um
microcosmo completo, com rabinos,
chazanim (cantores que oficiam o
serviço religioso), professores, ricos
comerciantes, vagabundos, mulheres
e crianças. Esse mundo foi destruído
pela Primeira Guerra Mundial, pelos
pogroms, pelas guerras civis da
Revolução Russa, pela Segunda Guerra
Mundial e a fúria nazista.
Susie Morgenstern
Dom significa dádiva recebida de outrem e também vocação
pessoal a ser descoberta e burilada. Sinônimo de dom, a palavra
condão tem na origem o sentido de doar, e a estrutura da história
criada por Morgenstern lembra justamente a de alguns contos
de fadas.
O estranho que visita o recém-nascido no dia de sua circuncisão lembra um pouco as fadas portadoras de presentes que selam
o destino da princesa Aurora em A bela adormecida. É como se
o inesperado visitante também levasse consigo uma varinha de
condão capaz de transformar o presente contido na misteriosa
caixa em profecia: um instrumento que coincidiria com a aptidão do pequeno Oycher. A referência às fadas também aparece,
de modo rápido, na passagem em que Malka intervém como “a
última fada (ou a primeira bruxa).” A palavra fada vem do latim
fata, a deusa do destino, do fado. Mas se algo de providência divina torna o menino fadado a ser violinista, ele também deve fazer
a parte dele, aliando o talento inato ao esforço para se tornar um
grande artista.
Sonho e realidade
Morgenstern liga o componente fantástico à representação
realista da vida no shtetl, termo em iídiche para as cidadezinhas
judaicas na Europa oriental, com sua história de sofrimentos
(por exemplo, os pogroms, perseguições antissemitas na Rússia
tsarista), sonhos (como o desejo de imigração para a América),
tradições, crenças e, sobretudo, personagens típicos, como o
mascate, a dona da padaria, o sapateiro, o ferreiro, o escrivão, o
alfaiate, o açougueiro e o rabino.
Cumpre notar como o caráter, a profissão, o temperamento,
a visão de mundo desses personagens se projetam nas hipóteses que eles levantam sobre o conteúdo da caixa. “Acostumado a pesar mercadorias”, o mascate reduz tudo a dinheiro, ao
que o pai de Oycher retruca, enfatizando a primazia dos laços
afetivos e da inteligência sobre a riqueza: “Você diz que pode
comprar qualquer coisa com dinheiro, menos pai, mãe e um
bom cérebro”.
De maneira similar, ante o deslumbramento da dona da padaria (que sonha com passagens para um lugar onde se apanha
ouro do chão), a mãe de Oycher responde com proverbial sabedoria: “Onde há mel, há moscas”. O sonho da imigração para a “dourada América” era em grande parte motivado pelos pogroms, por isso, Beryl, o ferreiro, ima-
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O dom
Espinosa e as paixões
Na Ética de Espinosa, a alma e as
ideias não são causas dos movimentos
do corpo nem o corpo é causa das
ideias; ambos são modos distintos de
expressão de uma mesma essência,
denominada conatus, que é o
esforço para nos mantermos vivos e
nos realizarmos plenamente. Cada
qual pode aumentar o poder do
conatus pela ação e pelo intelecto ou
sofrer um decréscimo de potência,
deixando-se arrastar pelas paixões e
pela imaginação. A liberdade, porém,
não consiste em se livrar das paixões,
inerentes à natureza humana, mas
em se deixar influenciar por paixões
positivas, ou alegres, que têm objetos
mais ou menos reais. As paixões
tristes, em contrapartida, decorreriam
de objetos ausentes, remotos ou
contingentes. A esperança (spes) seria
para Espinosa uma paixão triste, uma
alegria instável voltada para objetos
incertos, dos quais se duvida. Do
mesmo modo, o medo (metus) definiria
uma tristeza instável, provocada pela
ideia de um mal igualmente incerto.
Quem está suspenso pela esperança
imagina mil obstáculos à realização
do desejo e os teme; inversamente,
os que sentem medo imaginam que
o pior pode não acontecer e por
isso têm esperança. Dessa maneira,
afirma Espinosa, “não há esperança
sem medo, nem medo sem
esperança”. (E spinosa, Baruch. Ética,
Parte III, Da origem e da natureza
das afecções. São Paulo: Abril
Cultural, 1983, p. 214. Coleção Os
pensadores.).
Susie Morgenstern
ginava que a caixa contivesse uma arma capaz de curar o ódio
dos inimigos. Já Feivel, o sapateiro, sempre às voltas com calçados, desejava que a caixa contivesse algo que ajudasse a trilhar o
“caminho da liberdade”.
É particularmente expressivo o contraste entre as opiniões
do escrivão Schia e do alfaiate Moische. Afeito ao trabalho com
palavras, o escrivão aposta que o menino, até então mudo, encontraria no baú uma “linguagem universal”. O alfaiate, porém,
incrédulo quanto à possibilidade de se esconder uma língua em
uma caixa, diz que “boas ferramentas” seriam o presente ideal. O
violino então concilia ambas as conjecturas: o pequeno Oycher
ganhara a oportunidade de exercer um ofício, mas sua ferramenta era a música.
Esperança, paixão triste?
Dentre os diversos personagens, destaca-se a figura do rabino que, à diferença das suposições otimistas expressas pela
maioria (à exceção de Malka), via na caixa um estojo de vícios.
Ridicularizado por sua intolerância e pela retórica vazia, ele revela a face negativa da esperança depositada na caixa, que suscitava mais a curiosidade que a prática de boas ações, o cumprimento das mitzvót. É como se a esperança tivesse também
uma dimensão alienante, que detém o esperançoso e o desvia
da ação.
Tal dimensão está presente na alusão à caixa de Pandora (ou
jarro, segundo algumas versões do mito), feita pelo escritor
Moacyr Scliar no posfácio do livro. O que fazia a esperança
dentro de uma caixa que continha todos os males do mundo?
Tratava-se de uma espécie de armadilha criada por Zeus como
punição aos homens, a quem o titã Prometeu havia dado o fogo
que roubara aos deuses.
Há até quem considere “esperança” uma tradução para o mal
,
que restara no fundo da caixa, designado pelo termo grego ελπ ι′ ς
(elpís). Este talvez fosse mais bem traduzido pela palavra “ansiedade”, receio antecipado diante de um bem que não chega ou um
mal que pode advir.
Baruch Espinosa (1632-1677), filósofo racionalista nascido em Amsterdã (Holanda) numa família de judeus portugueses, também se dedicou ao exame dessa face sombria da
esperança em sua obra fundamental, Ética, de 1677. Ali, ele
define a esperança como uma paixão triste, que compromete
a capacidade de ação do sujeito e mina sua autonomia.
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O dom
Susie Morgenstern
O shtetl em imagens
As imagens criadas por Chen Jiang Hong para representar a
paisagem, os ambientes e os personagens da história de Morgenstern distinguem-se pela gama reduzida de cores. Ele usa sobretudo tons de ocre, amarelo e cinza, numa paleta meio esmaecida, por vezes soturna. Tal opção parece acentuar o polo realista
de uma narrativa que, como dissemos, oscila entre prudência e
fantasia, trabalho e magia, pobreza e redenção.
Seria curioso comparar tais ilustrações com algumas das
imagens do pintor francês de origem russa Marc Chagall (1887-1985), um dos maiores artistas do século XX. A pintura de
Chagall também se volta para a vida miúda dos habitantes de
shtetl: suas telas são povoadas por rabinos e violinistas, vivendo
em casas humildes, entre cabras e galinhas, violinos e preces. No
entanto, tais elementos temáticos, que revelam as raízes culturais
e afetivas do artista, recebem tratamento onírico, com suas figuras flutuantes, subversão da perspectiva e da correspondência
cromática, isto é, com seus burros verdes e gigantescos, noivas
que levitam e paisagens sobrenaturais.
A comparação entre a diferença no tratamento pictórico de
temas semelhantes poderia render uma bela discussão com os
alunos.
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O dom
Violinistas de carne e osso
O violino, instrumento musical de fácil
transporte, tem sido associado à história
dos judeus, povo errante e afeito à arte.
Cumpre notar que muitos dos maiores
violinistas do mundo são judeus:
Mischa Elman (1891-1967), Jascha
Heifetz (1901-1987), Nathan Milstein
(1904-1992), David Oistrakh (1908-1974), Yehudi Menuhin (1916-1999),
Isaac Stern (1920-2001), Itzhak Perlman
(1945- ), entre outros.
Conhecer a trajetória do violinista
Isaac Stern amplia a compreensão de
O dom. Nascido em Kreminiecz, na
Rússia, em 1920, seus pais fugiram
da Revolução Russa e chegaram aos
Estados Unidos quando ele tinha dez
meses. Começou a tocar violino aos
oito anos e fez seu primeiro recital aos
treze. Vendo no talento dos jovens a
“arma secreta” de Israel, Isaac Stern
patrocinou muitos jovens violinistas
israelenses e também de outros países.
Cena inesquecível de seus cursos:
começava a tocar e se deixava levar
totalmente. Stern foi o solista do filme
Um violinista no telhado
(1971), de Norman
Jewison, baseado no
musical de Joseph
Stein e vencedor de três
prêmios Oscar.
Susie Morgenstern
Os judeus e a música
Além de constituir o principal assunto da narrativa, a música
é também parte integrante da obra, como o texto e as ilustrações.
Ela está presente no CD que acompanha o livro, o qual contém
peças para violino de compositores consagrados, como Johann
Sebastian Bach (1685-1750) e Niccolò Paganini (1782-1840), e
vinhetas de Louis Dunoyer de Segonzac (1959- ), pertencentes
ao gênero klezmer. Tal gênero designa um tipo de música folclórica, de natureza não litúrgica, desenvolvida por judeus da Europa
oriental a partir do século XV.
Sofrendo influência da música cigana, as composições klezmer
animavam as festas nos shtetlech. Feitas para a dança, eram executadas sem partitura e comportavam altas doses de improvisação.
De início, os grupos de klezmer eram constituídos basicamente
por instrumentos de corda, com lugar de destaque para o violino. A partir do florescimento das bandas militares, no século
XIX, instrumentos de sopro e percussão foram acrescentados à
formação original.
Vale ainda lembrar que a história de Oycher termina com
uma alusão ao rei Davi, que também era músico e construtor de instrumentos. Atribui-se a Davi uma reorganização do
serviço religioso em que a música passa a desempenhar função central no louvor a Deus. Segundo afirma o Antigo
Testamento, foi Davi quem organizou os sacerdotes levitas para dirigir o canto na casa do Senhor,
profetizando com harpas, címbalos e
saltérios (1 Crônicas, 25: 1-7).
Dessa maneira, Oycher
se filia a uma longa tradição que vai dos tempos bíblicos aos
tempos atuais e até a musicais como
Um violinista no telhado. Esse espetáculo,
que alcançou enorme sucesso na Broadway
convertendo-se posteriormente em filme, foi baseado em uma obra do escritor judeu Scholem Aleichem
(1859-1916), a novela Tobias, o leiteiro, que também trata de perseguições antissemitas e do sonho de imigração
para a América.
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O dom
Susie Morgenstern
NA SALA DE AULA
Antes da leitura
Num primeiro momento, antecipando que apresentará uma
história de adivinhação, o professor pode estimular os alunos a
imaginar o conteúdo da obra inspirados pelo título. Então, seria
interessante refletir sobre a duplicidade do significado da palavra
dom, conforme se indicou anteriormente.
Durante a leitura
Ao iniciar a leitura, o professor chama a atenção dos alunos
para as imagens do livro: aquelas construídas por palavras e as
desenhadas.
Pode-se pedir que observem o primeiro parágrafo, perguntando-lhes como interpretam as imagens do teto e do céu, cujos
significados latentes (pobreza, desamparo, fragilidade e força,
proteção, mistério) servirão de guia para o restante da história.
Quando a caixa misteriosa entra em cena (p. 12-14), os alunos
são instados a formular hipóteses sobre seu conteúdo. Após conjecturar livremente, eles devem mergulhar no texto, anotando
os diversos modos de se referir à caixa (“oferenda ‘envenenada’”,
“presente que queima”, “caixa duvidosa”, “estojo impenetrável”
etc.) e investigando também por meio das ilustrações a caracterização de vários personagens (“o benfeitor farsante”, “o rabino
cético” etc.).
Outra atividade possível consiste em destacar frases proverbiais que relativizam os sentidos de pobreza e riqueza, comparando-as com provérbios brasileiros de sentido semelhante. Eis
alguns exemplos:
• Eles sabiam que ninguém é tão pobre quanto o ignorante. E, de
qualquer modo, ricos ou pobres, no fim todos se encontram sob a
mesma terra.
• Você diz que pode comprar qualquer coisa com dinheiro, menos pai, mãe e um bom cérebro.
• Onde há mel, há moscas.
• (...) se os ricos levam Deus nos bolsos, ela o levava em seu
coração.
• Ter uma profissão é possuir um reino. Uma profissão é um
escudo contra a pobreza.
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O dom
Susie Morgenstern
Depois da leitura
• Recuperar os significados da palavra dom e considerar a forma como, por fim, todas as hipóteses se confirmam. Perceber
a relatividade das perspectivas e a necessidade de tolerância;
afinal, egoisticamente, todos têm razão. Reconhecer a especificidade da ambientação judaica do livro e, ao mesmo
tempo, a universalidade das relações nele representadas.
• Para ampliar o repertório dos alunos, o professor pode sugerir que façam pesquisas sobre os temas da narrativa. O
resultado delas, realizadas em grupo, pode ser posteriormente socializado com seminários ou exposições murais.
Tópicos sugeridos:
a)rituais, costumes e história do povo judeu;
b)fazer a América: imigrantes europeus no Novo Mundo;
c)a caixa (ou jarro) de Pandora.
Reportar-se aos versos do poeta grego Hesíodo (de meados do século VIII a. C.) em Os trabalhos e os dias. Texto
disponível em: www.fflch.usp.br/dh/heros/traductiones/
hesiodo/erga/pandora.html
(Hesíodo. Os trabalhos e os dias. São Paulo: Iluminuras, 1990, p. 2729, versos 42-106).
• Em colaboração com o professor de artes, sugerem-se duas
atividades:
a)Exploração das raízes judaicas na pintura de Marc Chagall e comparação de algumas de suas pinturas (disponíveis em diversos sites) com as ilustrações de Chen Jiang
Hong em O dom. Pode-se comparar o motivo do violinista em Chagall – em telas como O violinista (1911), O
violinista verde (1923-24) e O violinista azul (1947) – à
ilustração de Hong na p. 45. Após discutir as diferenças entre os dois artistas (modo de composição, técnicas, paleta de cores, uso da luz etc.), os alunos podem
ser estimulados a produzir um desenho revisitando esse
mesmo motivo a sua maneira.
b)A descrição da anatomia do violino na p. 29 poderia ensejar uma pesquisa sobre a história desse instrumento (origem, transformações, fabricantes) e de seus intérpretes.
• Com base nas informações obtidas mediante pesquisa e
inspirados pela discussão em torno das questões suscitadas
pela leitura, propõe-se aos alunos um exercício de produção textual: escrever uma narrativa breve sobre a relação
entre dádiva, trabalho e talento. 8
O dom
Susie Morgenstern
• Por fim, após ouvir a narração de Caco Ciocler no CD, os
alunos poderiam ler as próprias redações em voz alta e talvez até, lançando mão de algum aparato cênico (cenário,
figurinos, iluminação, sonoplastia etc.), transformar a narrativa de O dom em um texto dramático, a ser encenado
para toda a escola.
SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES
Para os alunos
Livros
•Landmann, Bimba. Como me tornei Marc Chagall. São Paulo:
Edições SM, 2006.
•Scliar, Moacyr. ABC do mundo judaico. São Paulo: Edições
SM, 2007.
•Zimet, Ben. O Colombo de Chelem e outras histórias judaicas.
São Paulo: Edições SM, 2007.
filme
•Um violinista no telhado (Fiddler on the roof). Estados Unidos,
1971. Direção: Norman Jewison. Colorido. 179 min. Elenco:
Topol, Norma Crane, Leonard Frey, entre outros. Distribuição: Fox Home Entertainment. Lançamento: 2005.
O casamento de Tzeitel e Hodel, as duas filhas mais velhas
de Tevye, o leiteiro, acaba com o sossego do pobre homem,
que já tinha tudo arranjado para elas. Ambas contrariam as
escolhas do pai, e a situação se agrava ainda mais quando
uma terceira filha, Chava, decide casar-se com um não judeu. Para piorar as coisas, o Tsar expulsa todos os judeus da
Rússia, condenando ao exílio Tevye e sua família.
Para o professor
Livros
•Aleichem, Scholem. A paz seja convosco. São Paulo:
Perspectiva, 1966.
•Unterman, Alan. Dicionário judaico de lendas e tradições:
222 ilustrações. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
Elaboração do guia Ieda Lebensztayn – doutora
em Literatura Brasileira pela Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP;
Preparação Fabio Weintraub, Revisão Carla
Mello Moreira.
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