mapeamento de cobertura e uso da terra: uma

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
MAPEAMENTO DE COBERTURA E USO DA TERRA: UMA
IMPORTANTE FERRAMENTA NA ELABORAÇÃO DO
ZONEAMENTO GEOAMBIENTAL
TATIANE OLIVEIRA DELAMARE1
SIMONE EMIKO SATO2
Resumo: Os mapas de cobertura e uso da terra permitem compreender as interações
estabelecidas entre os processos naturais e os processos antrópicos, possibilitando uma análise
integradora do meio ambiente e sociedade. Dessa forma são uma ferramenta essencial para a
elaboração do zoneamento geoambiental, pois permite entender a gênese dos processos de
alteração da paisagem. A presente pesquisa ter por objetivo evidenciar o papel do mapeamento de
cobertura e uso da terra na elaboração do zoneamento geoambiental, para tanto utilizará os mapas
elaborados por DELAMARE (2014), referentes a dois cenários distintos (1953 e 2010) da Colônia de
Pescadores Z3 (Pelotas, RS). Na Colônia de Pescadores Z3 o processo de ocupação ocasionou
intensas alterações na paisagem, alterando a morfodinâmica do sistema físico-ambiental.
Palavras-chave: Zoneamento geoambiental; Cobertura e uso da terra; Paisagem.
Abstract: The maps coverage and land use possible to understand the interactions established
between natural processes and anthropogenic processes, enabling a comprehensive analysis of the
environment and society. It is an essential tool to prepare the geoenvironmental zoning because it
allows to understand the genesis of landscape change processes. This research aim to highlight the
role of cover mapping and land use in the preparation of geoenvironmental zoning, therefore use the
maps drawn up by DELAMARE (2014), referring to two different scenarios (1953 and 2010) of the
Cologne Z3 Fishermen (Pelotas, RS). In Fishermen's Z3 the occupation process caused intense
changes in the landscape, changing the morphodynamics of the physical-environmental system.
Key-words: Geoenvironmental zoning; Cover and land use; Landscape.
1
Acadêmico bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do
Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Rio Grande. E-mail de contato:
[email protected]
2
Docente do programa de pós-graduação da Universidade Federal de Rio Grande.
E-mail de contato: [email protected]
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1 – Introdução
A zona costeira é um palco de grandes intervenções entre a sociedade e
a natureza, sendo que ambos são fatores modificadores da morfodinâmica espacial
desses sistemas. Isso acontece visto que as zonas litorâneas são áreas que
apresentam grande dinamismo, conforme menciona Borges (2004):
O litoral é um dos ambientes naturais mais dinâmicos e produtivos do
Planeta, assim como um dos contextos mais importantes onde a atividade
humana, sedimentar e morfológica interagem, independentemente de ser
ocupado por praias, campos de dunas, lagunas, estuários ou outro
conteúdo geomorfológico. (BORGES, 2004, pg. 67)
A ausência de planejamento e zoneamento durante o processo de
urbanização, estes essenciais para um controle adequado e consciente dos
sistemas socioambientais necessários para a sustentabilidade das zonas costeiras
(SCHERER, 2012), ocasionou a ocupação de áreas inadequadas e de fragilidade,
gerando danos ambientais e o transformando de forma permanente.
A ação antrópica, entretanto, não é o único transformador das zonas
costeiras, segundo Cunha e Guerra (1998, pg. 280) “a configuração de um litoral
representa
o
resultado
de
longa
integração
entre
processos
tectônicos,
geomorfológicos, climáticos e oceanográficos”, sendo assim, cada região irá ter uma
característica
própria
dependendo
de
como
se
apresentarem
os
fatores
mencionados. Contudo, ambos estão diretamente relacionadas durante todo o
processo de transformação das zonas costeiras, principalmente devido ao uso e
ocupação da terra.
O zoneamento geoambiental torna-se uma ferramenta de extrema
importância, visto que através de sua abordagem sistêmica, e interdisciplinar
possibilita a integração dos fatores ambientais com os socioeconômicos. O que
resulta, por meio de uma análise integrada, no entendimento da ecodinâmica e
evolução da paisagem no decorrer dos processos de uso e ocupação (TRICART,
1997). O zoneamento geoambiental, a partir do seu diagnóstico, permite orientar o
uso sustentável dos sistemas físico-ambientais por meio da avaliação de suas
potencialidades e limitações.
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Diante das problemáticas ambientais causadas pelos processos de
ocupação indevidos, torna-se importante levantar questionamentos referentes aos
processos de uso e ocupação da terra. As modificações e transformações da
paisagem resultantes dos diferentes tipos de uso e ocupação de determinado lugar é
um assunto de extrema importância para a ciência geográfica, pois, a partir da
análise dos processos evolutivos de uso e ocupação da terra, é possível
compreender os fatores que determinaram as alterações ocorridas na paisagem,
além de compreender os processos socioeconômicos ocorridos em determinado
segmento de pesquisa.
Para Bertrand (2007) a vegetação representa o principal elemento
integrador de análise das alterações na paisagem, sendo então por meio da
cartografia de mapas de cobertura e uso da terra um dos principais elementos de
elaboração do zoneamento geoambiental.
1.1 – Área de estudo
A zona costeira do estado do Rio Grande do Sul recebe destaque pelos
inúmeros corpos lagunares, em especial a Laguna dos Patos com sua significativa
zona de estuário. As zonas costeiras lagunares correspondem a 13% do litoral
mundial e estão distribuídas desde zonas tropicais até os polos (FREITAS, 1996).
A Colônia de Pescadores Z3 (Figura 1), 2ª distrito do município de Pelotas
(RS), representa essa porção costeira lagunar gaúcha. Localizada às margens da
Laguna dos Patos, a vila do distrito foi fundada em 29 de junho de 1921, e possui
atualmente 3.166 habitantes, que vivem principalmente da pesca e da agricultura
(IBGE, 2010). Devido ao processo de urbanização sem planejamento, muitas áreas
foram ocupadas indevidamente, ocasionando alterações no sistema físico-ambiental.
Durante este processo de ocupação ocorreram processos de aterramento,
retilinização de canais fluviais, retirada de perfil praial e da cobertura vegetal o que
ocasionou uma alteração na morfodinâmica do sistema físico-ambiental.
A análise das alterações ocorridas na paisagem devido aos processos de
uso e ocupação da terra na Colônia de Pescadores Z3 se torna essencial para uma
gestão da zona costeira do município de Pelotas, pois subsidiará dados importantes
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de avaliação dos danos causados ao meio ambiente, colaborando para melhoria da
qualidade do sistema natural e socioeconômico.
Figura 1: Mapa de Localização da Colônia de Pescadores Z3, Pelotas – RS. Fonte: Organizado
pela autora.
1.2. – Método e metodologia
A presente pesquisa ter por objetivo evidenciar o papel do mapeamento
de cobertura e uso da terra na elaboração do zoneamento geoambiental. A base
conceitual e teórica deste trabalho constitui-se em um método sistêmico, a partir de
uma fundamentação teórica e metodológica de análise integrada entre os sistemas
naturais e sociais.
A Teoria Geral dos Sistemas, criada por Bertalanffy (1930), tem como
base a integração, onde as partes formam uma totalidade, sendo o sistema o
conjunto dessas partes que interagem e que são interdependentes, formando um
todo que tem objetivo e função. A TGS é utilizada na geografia física a partir de uma
perspectiva de análise integrada do sistema ambiental, que converge num
abordagem sistêmica.
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Essa abordagem proporciona conceber a natureza de forma integrada,
onde os elementos não podem ser compreendidos separadamente. Tricart (1977)
complementa que o conceito de sistema é o instrumento ideal para estudar os
problemas ambientais, pois o mesmo possibilita uma atitude dialética e integrada
que permite compreender a dinâmica ambiental. Silva (1997) afirma:
O modelo explicativo da teoria geral dos sistemas (Bertalanffy, 1977)
possibilita a prática de interdisciplinaridade nos estudos da problemática
ambiental, integrando os resultados das pesquisas para avaliação da
capacidade de sustentação, face aos tipos de apropriação das ofertas
ecológicas, atuantes e previsíveis, e das tendências de mudanças de
estado ambiental. Essa percepção possibilita a identificação de alterações
introduzidas pelo homem e a previsão dos danos que podem ser causados
por usos incompatíveis com a capacidade de suporte dos ambientes.
(SILVA, 1997, p. 16)
Segundo Silva (1997) para a realização efetiva de um zoneamento é
necessário seguir fases: Diagnóstico espacial, ou seja, é a constatação da
constituição e do funcionamento dos sub-sistemas naturais e como estes interagem
com os sub-sistemas socioeconômicos; Prognose das tendências de transformação
detectadas pela identificação de usos inadequados, ressaltando os danos
ambientais e conflitos sociais; Busca de soluções para as alternativas de usos de
acordo com a capacidade de suporte dos ambientes, sendo apoiadas em diretrizes
ambientais e na adesão da comunidade.
O mapeamento de cobertura e uso da terra identifica os elementos
essenciais para o diagnóstico do Zoneamento Geoambiental, pois nele está
representada a integração entre os diferentes usos e a dinâmica de ocupação. Para
tanto, se fará uso dos mapas de cobertura e uso da terra elaborada por Delamare
(2014), referente a dois cenários distintos (1953 e 2010) da Colônia de Pescadores
Z3 (Pelotas, RS). A utilização de dois recortes espaço-temporais possibilita, além do
diagnóstico, uma análise que permite compreender as tendências de transformação
que ocorreram na área de estudo devido aos usos e alterações no sistema natural.
2 – Desenvolvimento
Os mapas de cobertura e uso da terra permitem compreender as
interações estabelecidas entre os processos naturais e os processos antrópicos,
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possibilitando uma análise integradora do meio ambiente e sociedade, à qual
contribui para um debate sobre as fragilidades, potencialidades e vulnerabilidades
tanto no que se refere ao sistema físico-ambiental como ao sistema socioeconômico.
Além da compreensão dos aspectos conflitivos dessas relações entre natureza e
sociedade, decorrentes do intenso processo de antropização.
Os mapas de cobertura e uso da terra elaborados por Delamare (2014),
dos anos de 1953 e de 2010 (Figura 2), permitem identificar as alterações ocorridas
na paisagem no decorrer do processo evolutivo de ocupação da Colônia de
Pescadores Z3. A identificação e compreensão de cada uso e cobertura permite
uma análise integrada do sistema natural e social, o que possibilita perceber que
áreas estão sofrendo maior ou menor processo de alteração.
Figura 2: Mapas de uso e cobertura da terra e hidrografia da Colônia de Pescadores Z3. Organizado:
Delamare, 2014.
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O processo de urbanização ocorrido no segmento da pesquisa
transcorreu sem planejamento ou preocupação com o sistema natural, se
concentrando próximo à Laguna dos Patos. Os dados mapeados demostram um
aumento da urbanização, sendo que em 1953 a área urbana possuía 0,02 km² de
extensão, e em 2010 esta área aumentou para 0,34 km², fato que tem relação direta
com a alteração e degradação dos elementos do sistema físico-ambiental desse
segmento. O crescimento da área urbana ocasionou intensas modificações, como:
retilinização de canais, construção da estrada de acesso à Colônia, construção de
dois atracadouros para os barcos, aterramento de parte da Laguna dos Patos e
retida de material do perfil praial.
O processo de urbanização dessa área iniciou com a vinda de famílias
oriundas de diversas cidades da porção sul do estado do Rio Grande do Sul, as
quais buscavam uma melhor condição de vida através da pesca artesanal e da
agricultura. Na década de 90, devido ao enfraquecimento da economia de Pelotas,
consequência do fechamento de indústrias de conserva de doces, muitas famílias
sem emprego migraram para a Colônia Z3 na tentativa de melhoria de vida e de
sustento por meio da pesca artesanal. Atualmente muitas famílias ainda deixam
zonas periféricas da cidade de Pelotas para habitar a colônia, principalmente no
período de safra do camarão.
Outra alteração que tem relação direta com o processo de ocupação é o
aumento nas áreas de banhado, denominadas no mapeamento elaborado por
Delamare (2014) como áreas de formações sob influência flúvio-lacustre (FIFL). Os
dados obtidos pelo mapeamento demostram que em 1953 as áreas de FIFL
ocupavam uma área de 2,22 km², em 2010 houve aumento destas áreas, que
passaram a ocupar 3,76 km². Entende-se que esse aumento transcorreu de forma
gradativa, devido às modificações ocorridas na linha de costa, como o aterramento
de canais e a construção dos atracadouros de barcos que vieram a alterar a
circulação da água da laguna, ocasionando com isso que algumas áreas passassem
a concentrar um aporte maior de água por um período maior.
Em contrapartida a esse aumento das áreas de banhado (FIFL), as áreas
campestres, ou campos úmidos, praticamente desapareceram no decorrer desses
57 anos. Em 1953 as áreas campestres correspondiam a 1,57 km², em 2010
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apresentam área de 0,02 km² (diminuindo 98,72%). Para
compreender
essa
alteração se fez necessário buscar o período que as aerofotografias e imagem de
satélite foram obtidas, a primeira foi obtida no mês de fevereiro (período de verão) e
a segunda no mês de julho (período de inverno), e também a incidência de
precipitação do ano de 2010, este ano se comparado com as normais climatológicas
ficou um pouco abaixo da média, ocorrendo em fevereiro o maior período de
precipitação do ano. Schafer (2009) complementa que no inverno as formações
campestres tentem a se reduzir significativamente devido à influência da laguna, já
que nessa época do ano o nível de água da mesma aumenta, inundando essas
áreas próximas.
Entende-se que essa sobreposição das áreas de banhado (FIFL) sobre as
áreas campestres é temporal e sofre a influência direta dos fatores físico-ambientais
correlacionados com as alterações antrópicas ocorridas, como o aterramento de
canais que possibilitavam o escoamento da água acumulada para a laguna, a não
existência dos canais em consonância com as más condições de drenagem do solo,
ocasionou maior permanência da água sobre as áreas campestres, dificultando o
escoamento em direção à laguna, e consequentemente alterando o sistema natural.
O corpo de água continental, identificado no mapeamento de 1953,
também desapareceu em 2010, sendo ocupado pelas áreas de banhado. Entendese que essa alteração ocorreu de forma gradativa, e tem relação também com os
processos de ocupação da Colônia Z3. Identificou-se no mapeamento de 1953 um
canal fluvial que desaguava no corpo de água continental, e que tinha conexão com
a laguna, predominavam em torno dele áreas campestres e de banhado. Em 2010 o
canal desapareceu, provavelmente em função das práticas agrícolas implementadas
ao norte, fora da abrangência do mapeamento. Devido à redução da vazão de água
nesse corpo de água continental, o mesmo foi gradualmente se convertendo em
uma superfície encharcada, o que possibilitou a evolução para áreas de banhado,
conforme mostra o mapeamento de 2010. Sendo assim áreas com bom escoamento
superficial acabaram por permanecer mais tempo alagadas, acarretando em
modificações na composição vegetal de determinados segmentos.
Apesar das grandes alterações ocorridas nas outras áreas mapeadas
devido ao processo de ocupação, as áreas florestais foram preservadas, no
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mapeamento verificou-se que em 1953 essas áreas ocupavam 1,50 km², em 2010
expandiram para 1,77 km². Essa informação é positiva, pois a preservação da
vegetação pioneira tende a conservar o ambiente ecologicamente equilibrado, além
de manter o solo estável e com nutrientes.
O mapeamento de cobertura e uso da terra elaborados por Delamare
(2014) permitiram compreender a gênese das alterações ocorridas no sistema físicoambiental decorrentes, em grande parte, ao processo de uso e ocupação do
território. A compreensão desses processos proporciona identificar as fragilidades do
sistema físico-ambiental e como ele se adapta a essas alterações. Possibilitando
assim elaborar um zoneamento geoambiental que de fato contemple as
necessidades
de
manutenção
e
preservação
do
sistema
natural
e
consequentemente do social.
3 – Conclusão
Conclui-se a partir da elaboração desta pesquisa que o mapeamento de
cobertura e uso da terra é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento do
Zoneamento Geoambiental, pois ele possibilita entender os processos decorrentes
da ocupação de determinado recorte e com isso colaborar para reorganização do
espaço e análise de medidas para contenção dos danos ambientais.
A integração dos elementos durante a análise do mapeamento de
cobertura e uso da terra proporciona a compreensão da configuração do sistema
físico-ambiental, permitindo com isso identificar as fragilidades, potencialidades e
capacidade de adaptação do sistema. Possibilitando a partir desses dados a
elaboração de um zoneamento geoambiental eficaz e que de fato contribua para a
manutenção de determinado ambiente.
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