Raphael Marianelli SEGUIMENTO DOS PACIENTES COM COLPOSCOPIA ANAL NORMAL E CITOLOGIA ANAL ALTERADA APÓS O TRATAMENTO DO CONDILOMA ACUMINADO DO ÂNUS Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Pesquisa em Cirurgia São Paulo 2013 Raphael Marianelli SEGUIMENTO DOS PACIENTES COM COLPOSCOPIA ANAL NORMAL E CITOLOGIA ANAL ALTERADA APÓS O TRATAMENTO DO CONDILOMA ACUMINADO DO ÂNUS Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Pesquisa em Cirurgia Área de Concentração: Anormalidades da Proliferação e Morte Celular Orientador: Prof. Dr. Sidney Roberto Nadal São Paulo 2013 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Marianelli, Raphael Seguimento dos pacientes com colposcopia anal normal e citologia anal alterada após o tratamento do condiloma acuminado do ânus./ Raphael Marianelli. São Paulo, 2013. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Pesquisa em Cirurgia. Área de Concentração: Anormalidades da Proliferação e Morte Celular Orientador: Sidney Roberto Nadal 1. Infecções por papillomavirus 2. Condiloma acuminado 3. Neoplasias do ânus 4. Colposcopia 5. Citodiagnóstico BC-FCMSCSP/88-13 DEDICATÓRIA À minha querida esposa, Zulaina, por todo seu apoio e compreensão sem os quais não teria sido possível concluir esta dissertação. “Não existem coisas tão distantes que não sejam alcançadas, nem tão escondidas que não sejam descobertas.” (René Descartes) AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. Sidney Roberto Nadal, por compartilhar toda sua experiência e conhecimento. Muito obrigado por estar sempre disponível em todos os momentos que precisei e por sua paciência. Ao Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em especial as equipes de Proctologia e Anatomia Patológica, que foram fundamentais na realização desse estudo. Á Fundação CAPES, pelo auxilio na realização desse trabalho. Ao Prof. Dr. Edinílson Eduardo Calore, pela realização dos exames de anatomia patológica. Aos Professores Doutores Carlos Augusto Real Martinez, Sylvia Heloisa Arantes Cruz e Elias Jirjoss Ilias, pelo auxílio no exame de qualificação. À Pós-Gradução da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em especial aos membros da Secretaria, pelo suporte prestado ao longo destes anos. Aos meus familiares e amigos, pela compreensão na minha ausência para a realização desta dissertação. ABREVIATURAS E SÍMBOLOS AIDS Acquired Immunodeficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) ASC-H Atypical Squamous Cells cannot exclude HSIL (Atipias Celulares nas quais não se pode excluir Lesão de Alto Grau) ASC-US Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance (Atipias Celulares de Significado Indeterminado) ASCRS American Society of Colon and Rectal Surgeons (Sociedade Americana dos Cirurgiões Colorretais) ATA Ácido Tricloroacético CEC Carcinoma Espinocelular CGA Campo de Grande Aumento DIMEP Dimetil Éter Propano DNA Deoxyribonucleic acid (Ácido Desoxirribonucleico) HAART Highly Active Antiretroviral Therapy (Terapia Altamente Eficaz com Antiretrovirais) HC2 Captura Híbrida do Tipo 2 HIV Human Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana) HPV Human Papillomavirus (Papilomavirus Humano) HPV-O HPV Oncogênico HR-HPV High Risk HPV (HPV de Alto Risco) HSH Homens que fazem Sexo com Homens HSIL High Grade Intraepithelial Lesion (Lesão Intraepitelial Escamosa de Alto Grau) HSV Herpes Simples Vírus IIER Instituto de Infectologia Emílio Ribas JEC Junção Escamocolunar LSIL Low Grade Intraepithelial Lesion (Lesão Intraepitelial Escamosa de Baixo Grau) LR-HPV Low Risk HPV (HPV de Baixo Risco) NIA Neoplasia Intraepitelial Anal NIA-A NIA de Alto Grau NIA-B NIA de Baixo Grau NIC Neoplasia Intraepitelial Cervical NILM Negative for Intraepithelial Lesion or Malignancy (Negativo para Neoplasia Intraepitelial ou Malignidade) RLU Relative Light Unit (Unidade Relativa de Luz) tat-1 Proteína transativadora do HIV-1 ZTA Zona de Transformação Anal SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1 2 - OBJETIVO ....................................................................................................... 13 3 - CASUÍSTICA E MÉTODO ............................................................................... 14 3.1 - Caracterização da amostra .................................................................... 14 3.1.1 - Gênero e idade .............................................................................. 14 3.2 - Critérios de inclusão ............................................................................... 15 3.3 - Critérios de exclusão .............................................................................. 15 3.4 - Método .................................................................................................... 15 3.4.1 - Dianóstico dos condilomas ............................................................ 15 3.4.2 - Tratamento dos condilomas ........................................................... 15 3.4.3 - Avaliação pós-erradicação dos condilomas ................................... 16 3.4.4 - Seguimento após erradicação dos condilomas ............................. 16 3.4.4.1 - Catura híbrida do tipo 2 para HPV oncogênico ...................... 17 3.4.4.2 - Citologia anal .......................................................................... 17 3.4.4.3 - Colposcopia anal .................................................................... 18 3.4.4.4 - Contagem sérica dos linfócitos T CD4+ ................................. 20 3.4.4.5 - Carga viral do HIV ................................................................... 20 3.4.4.6 - Término do seguimento .......................................................... 20 3.5 - Análise estatística ................................................................................... 20 4 - RESULTADOS ................................................................................................. 21 4.1 - Achados da colposcopia anal e da citologia anal durante o seguimento 21 4.2 - Avaliação de possíveis variáveis de risco para seguimento ................... 26 4.2.1 - Infecção por HPV oncogênico (HPV-O) ......................................... 26 4.2.2 - Associação da infecção pelo HIV .................................................. 26 4.2.3 - Contagem dos Linfócitos T CD4+ entre os pacientes HIV-positivo 27 4.2.4 - Carga viral dos portadores do HIV ................................................. 28 5 - DISCUSSÃO .................................................................................................... 30 6 - CONCLUSÃO .................................................................................................. 40 7 - ANEXOS .......................................................................................................... 41 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 42 RESUMO .............................................................................................................. 51 ABSTRACT ........................................................................................................... 52 1. INTRODUÇÃO A infecção pelo papilomavirus humano (HPV) é a doença sexualmente transmissível mais frequente em todo o mundo.(1) Estes vírus apresentam tropismo por células epiteliais, causando infecções na pele e nas mucosas do tracto anogenital, oral, laríngeo e esofágico, sendo que sua replicação ocorre no núcleo das células escamosas epiteliais.(2) Nos EUA, estima-se que a cada ano, um milhão de novos casos de verrugas anogenitais sejam diagnosticados, o que a faz comum na prática clínica do ginecologista, do urologista e do coloproctologista.(3, 4) O HPV pertence à família Papoviridae – gênero Papillomavirus. Trata-se de vírus não envelopado, com simetria icosaédrica, com genoma de 8.000 pares de bases. Apesar do tamanho pequeno (50-55nm), sua biologia molecular é bastante complexa. O genoma viral é constituído por um DNA de fita dupla circular variando de 5 a 8 Kbp de tamanho. Está dividido em região reguladora, que contém a origem de replicação e a maioria dos promotores de transcrição, e em regiões codificadoras, que são divididas nas sequências precoce e tardia.(5) A região precoce E codifica as proteínas envolvidas na replicação do DNA viral e transformação celular, das quais se destacam as E1, E2, E6 e E7 (6) , enquanto a região tardia L codifica as proteínas do capsídeo (L1 e L2), responsáveis pelas etapas finais da replicação do vírus, como a síntese de proteínas estruturais.(7, 8) As proteínas E6 e E7 são as principais oncoproteínas do HPV. A primeira faz com que a célula infectada se torne insensível aos sinais anticrescimento. Seu mecanismo de ação consiste no aumento da degradação da proteína p53, importante na sinalização de genes envolvidos na parada do ciclo celular e apoptose.(9,10) Já, a proteína E7, além de levar à perda de sensibilidade aos sinais anticrescimento, induz a imortalização dos ceratinócitos através da inativação da proteína pRB, que libera o fator de transcrição E2F e estimula o crescimento celular, enviando as células para a fase S.(11) 2 Região Controladora Regiões Codificadoras FIGURA 1. Genoma do HPV-16. Modificado de Schiffman M, Castle PC, Jeronimo J, Rodriguez AC, Wacholder S. Human papillomavirus and cervical cancer. Lancet. 2007;370:890-907. Aproximadamente 200 tipos diferentes de HPV estão catalogados, sendo que 40 destes causam infecção no epitélio do trato anogenital. São divididos nos de alto (HR-HPV) e baixo risco (LR-HPV), dependendo do seu poder oncogênico. Os LRHPV mais comuns, o HPV 6 e o HPV 11, estão associados às lesões benignas e hiperproliferativas como os condilomas e as neoplasias intraepiteliais ou displasias de baixo grau. Os tipos HR-HPV, sendo os tipos 16 e 18 os mais frequentes, provocam as neoplasias intraepiteliais escamosas ou displasias de alto grau, que podem evoluir para o carcinoma invasor.(12, 13) A forte associação entre infecção por HR-HPV e a ocorrência do carcinoma do colo uterino já é bem conhecida, definindo foco na prevenção deste tipo de neoplasia nos últimos 30 anos.(1) A redução da prevalência de 35 – 40 / 100.000 para 8 / 100.000 foi alcançada graças às estratégias para o rastreamento e tratamento deste tumor maligno e das suas lesões precursoras.(14) Todavia, a infecção pelo HPV também está associada a várias outras neoplasias do trato anogenital e aerodigestivo. Estima-se que 36 a 40% dos carcinomas de vulva, 64 a 90% dos da vagina, 50% dos penianos, 80 a 93% dos anais, 20% daqueles da 3 orofaringe e 10% dos da laringe e do esôfago possam ser atribuídos à infecção por esse vírus.(1, 15, 16) Apesar da infecção pelo HPV ser extremamente comum, apenas pequena parte dos casos evoluirá para o carcinoma que, geralmente, ocorre anos após o contágio.(17-9) A despeito de muitos dos caminhos pelos quais a infecção pelo HPV induz à carcinogênese estarem esclarecidos, é importante conhecer a história natural dessa infecção para compreendermos porque somente alguns pacientes infectados irão desenvolver o câncer . O ciclo de vida do HPV está diretamente relacionado ao programa de diferenciação celular da célula hospedeira. O vírus infecta as células basais totipotentes do epitélio que apresentam potencial de diferenciação. As funções vegetativas virais, a síntese do DNA e das proteínas do capsídeo, bem como a montagem dos novos vírus ocorrem exclusivamente nos queratinócitos diferenciados. Os HPVs parecem permanecer no seu hospedeiro por longos períodos de vida. Seus tipos virais podem ser detectados em sítios aleatórios da pele normal em humanos, o que reforça que o ciclo de vida latente é característica comum desta infecção.(20-3) Modelos da história natural, baseados em estudos com coelhos, propuseram que a infecção das células basais do epitélio escamoso e de transição ocorre após microtraumatismos da região, como, por exemplo, após relação sexual.(24) As células infectadas são estimuladas a se diferenciar para reparar o dano epitelial, resultando na replicação das partículas virais e infecção ativa pelo HPV, podendo produzir lesões clinicamente detectáveis como os condilomas, ou lesões subliclínicas como as neoplasias intraepiteliais anais (NIA). (25) Após o controle da infecção pela resposta imune do hospedeiro, algumas células totipotentes basais ainda mantêm partículas virais, caracterizando a infecção viral latente. O trauma deste epitélio pode estimular a diferenciação das células infectadas e reativar a infecção latente (Fig. 2). Em indivíduos com resposta imune normal, esta reativação é rapidamente controlada, a exemplo do que ocorre com o vírus do herpes simples (HSV). No entanto, em imunossuprimidos como os 4 transplantados e os portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV), a infecção pode persistir na forma de condilomas ou NIAs de baixo ou alto grau. Acredita-se que a persistência dessas lesões propicia o acúmulo de alterações genéticas que levam à carcinogênese.(24) A: Infecção ativa B: Resposta Imune C: Latência D: Dano Epitelial E: Reativação Células em diferenciação Células basais Células de Langerhans Células T Célula Tronco Célula Tronco com infecção latente Células T ativas Expressão de E4 e montagem viral Expressão de E4 e amplificação genômica Células induzidas ao ciclo celular FIGURA 2. Representação esquemática da história natural da infecção pelo HPV. A: Infecção ativa; B: Resposta imune; C: Infecção latente; D: Dano epitelial. E: Reativação da infecção viral. Modificado de Gravitt PE. The known unknowns of HPV natural history. J Clin Invest. 2011;121:4593-9. Historicamente, o carcinoma do canal anal era doença de indivíduos acima de 60 anos com preponderância em mulheres (6:1). Apesar de rara, sua incidência vem aumentando em homens e mulheres na população em geral, duplicando de 1/100.000 para 2/100.000 de 1973 a 2000.(26) No entanto, grupos considerados de risco, como pacientes HIV-positivo e homens que fazem sexo com homens (HSH), têm incidência que superam em muitas vezes a da população em geral. Dados de registros de carcinoma anal mostram risco relativo 37 vezes maior em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) quando comparados à população em geral.(27) A incidência do carcinoma anal é ainda duas vezes mais frequente nos HSH HIV-positivo do que em HSH HIV-negativo, que é estimada em 37/100.000. Esta incidência é comparável à do carcinoma de colo uterino na era anterior aos programas de rastreamento e prevenção, e que hoje está estimada em 8/100.000.(14) 5 Mesmo após o advento da terapia antirretroviral altamente ativa (HAART), a incidência do carcinoma espinocelular (CEC) do canal anal continua a aumentar.(2831) Acredita-se que a sobrevivência aumentada dos HSH HIV-positivo proporcionada pela HAART e as alterações genéticas decorrentes da infecção crônica pelo HPV sejam as responsáveis (Fig. 3).(24, 32) Infecção pelo HPV Infecção pelo HIV HPV HPV HPV Morte, pré-HAART Morte, pós-HAART Tempo NIA 1 NIA 2 e 3 Câncer Anal Doença Anogenital Mutações genéticas do hospedeiro FIGURA 3. Patogênese da NIA e câncer anal relacionados à infecção pelo HPV em pacientes soropositivos antes e após o advento da HAART. Modificado de Ching-Hong PV, Palefsky JM. Natural history and clinical management of anal papillomavirus disease in men and women infected with human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis. 2002; 35:1127-34. O emprego da citologia e da colposcopia anal permitem o diagnóstico das NIAs e vêm sendo utilizadas em inúmeros estudos, mostrando forte associação entre a ocorrência destas lesões, a imunossupressão induzida pelo vírus do HIV e a infecção pelos tipos oncogênicos do HPV.(33-8) A descrição da citologia anal segue o que foi preconizado na conferência de Bethesda 2001, e utiliza a mesma terminologia empregada para descrever a citologia cervical.(39) 6 As lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau ou LSIL são caracterizadas pela presença de núcleos anormais em células maduras de tipo superficial ou intermediário (Fig. 4).(40, 41) FIGURA 4. Citologia anal representando neoplasia intraepitelial anal de baixo grau (LSIL). Coloração de Papanicolau (aumento de 40x). Adaptado de Wikimedia Commons. [on line]. Available from: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page [Access 2013 Fev 10]. As lesões intraepiteliais escamosas de alto grau ou HSIL são identificadas pelo achado de células displásicas com núcleos anormais e citoplasma escasso em tipos celulares parabasais (Fig. 5).(41) FIGURA 5. Citologia anal representando neoplasia intraepitelial anal de alto grau (HSIL). Coloração de Papanicolau (aumento de 40x). Adaptado de Wikimedia Commons. [on line]. Available from: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page [Access 2013 Fev 10]. Nos casos em que células atípicas são suspeitas mas não diagnósticas de LSIL utiliza-se o termo células escamosas atípicas de significado indeterminado ou ASC-US. Quando se identificam células atípicas que são suspeitas mas não 7 diagnosticas de HSIL, chamamos de células escamosas atípicas que não podem excluir HSIL ou ASC-H.(42, 43) A classificação histopatológica proposta para displasia anal, a exemplo da citologia anal, segue o mesmo modelo da doença cervical causada pelo HPV. Existe uma variedade de termos equivalentes para a descrição das lesões anais. Os termos NIA-B e NIA 1 são equivalentes a displasia leve, enquanto NIA-A, NIA 2 ou NIA 3 são equivalentes a displasia moderada ou grave.(41) Embora o sistema de Bethesda tenha sido proposto originalmente para classificação citológica, observa-se tendência de utilização desta terminologia para descrição histológica de toda a doença anogenital relacionada ao HPV.(39) Portanto não é incomum a utilização do termo LSIL para descrição da displasia leve e de HSIL para displasia moderada ou grave.(40) Ao longo do texto utilizaremos o Sistema de Bethesda somente para descrição da citologia anal e os termos NIA-A e NIA-B para as alterações histológicas induzidas pelo HPV. A histologia normal do canal anal compreende uma área de transição entre o epitélio colunar do reto distal e o epitélio escamoso estratificado não queratinizado da mucosa anal. Esta área é chamada de Zona de Transformação Anal (ZTA) e é revestida por epitélio escamocuboidal também chamado de epitélio transicional da mucosa anal, onde se observa a metaplasia escamosa. A ZTA se inicia logo acima da linha pectínea e se estende por 1 a 2 cm em direção ao reto distal.(44) Os achados histológicos de NIA-B são caracterizados por maturação atrasada do epitélio escamoso estratificado. Isso fica aparente pela perda de diferenciação celular progressiva normal no terço inferior da camada epitelial. Em vez de apresentar uma faixa estreita de células basais, as lesões de baixo grau apresentam faixa larga de células displásicas com aparência basal (Fig. 6).(45) 8 FIGURA 6. Histologia exemplificando NIA de baixo grau. Coloração: Hematoxilina e Eosina (aumento de 20x). Adaptado de Wikimedia Commons. [on line]. Available from: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page [Access 2013 Fev 16]. Na NIA-A identificam-se células com atipia basal que se estendem até o terço médio (Fig. 7A) ou superior do epitélio (Fig. 7B). (46) A B FIGURA 7. Histologia exemplificando NIA de alto grau. A: NIA 2; B: NIA 3. Coloração: Hematoxilina e Eosina (aumento de 20x). Adaptado de Wikimedia Commons. [on line]. Available from: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page [Access 2013 Fev 16]. Uma vez identificada citologia anal alterada (ASC-US, ASC-H, LSIL, HSIL ou Carcinoma de Células Escamosas) está indicada a Colposcopia Anal para avaliação sistemática de todo o canal anal.(40, 41) A técnica e os materiais utilizados para a realização da colposcopia anal se baseiam no modelo da colposcopia cervical. Na literatura médica, pouco foi publicado acerca das características colposcópicas específicas das NIAs. A exceção 9 a esta regra é o artigo clássico descrito por Jay em 1997, em que ele valida a utilização das características das lesões cervicais, para definir as doenças anais induzidas pelo HPV.(47) A colposcopia anal consiste em examinar a margem e o canal anal, sobretudo a zona de transformação anal, com o colposcópio após a utilização de soluções de ácido acético e lugol na tentativa de revelar lesões subclinicas (Fig. 8). (47, 48) FIGURA 8. Zona de Transformação Anal (ZTA) normal. A seta mostra a região de nítido contraste entre o epitélio escamoso pálido e o epitélio colunar róseo. Adaptado de Darragh TM, Berry JM, Jay N, Palefsky JM. Doença anal. In: Apgar BS, Brotzman GL, Spitzer M. Colposcopia: princípios e prática. Revinter: Rio de Janeiro; 2010. p. 451-78. As diretrizes que norteiam a identificação de uma zona de transformação atípica incluem a avaliação da cor da lesão antes e após a aplicação de ácido acético, o relevo da superfície da lesão e seus limites, a característica do padrão vascular e a coloração ou não pela solução de lugol.(49) A reação acetobranca é a capacidade do epitélio em assumir coloração esbranquiçada após a aplicação de ácido acético 3% a 5%. O mecanismo exato pelo qual isso ocorre não é completamente compreendido. Acredita-se que ocorre desidratação temporária do epitélio, fazendo com que células anormais, com alto teor de proteína e núcleos aumentados, e epitélios mais espessos, bloqueiem a passagem de luz para camadas mais profundas. O resultado disso é uma coloração esbranquiçada à colposcopia, consequente ao reflexo da luz pelo epitélio. (49) 10 Após a reação acetobranca o relevo do epitélio fica mais aparente e pode revelar lesões inicialmente ocultas. De forma geral, as lesões podem assumir relevo plano como placa espessa lisa, granular superficial, papilar exofítico ou verrucoso como nos condilomas, e suas margens podem se apresentar distintas ou mal delimitadas (Fig. 9).(47) A B C FIGURA 9. Colposcopia anal mostrando diferentes padrões de reação acetobranca do epitélio da ZTA. A: placa lisa; B: padrão verrucoso plano; C: padrão verrucoso papilar. Modificado de Siekas LL, Aboulafia DM. Establishing an anal displasia clinic for hiv-infected men. AIDS Read. 2009; 19:178-86. Quando o limite da reação acetobranca é impreciso, pode-se aplicar a solução de lugol. O epitélio escamoso normal é rico em glicogênio e assume a coloração castanho-escuro quando entra em contato com o iodo. O epitélio colunar retal, as lesões de alto grau e muitas das lesões de baixo grau não contém glicogênio ou o possuem em quantidade menor, o que lhes confere coloração amarelo-mostarda ou mais clara que o epitélio escamoso normal (Fig. 10).(41) A B FIGURA 10. Colposcopia anal mostrando HSIL com área de acetobranqueamento plano com pontilhado vascular, antes (A) e após (B) a aplicação de solução de lugol. Modificado de Darragh TM, Berry JM, Jay N, Palefsky JM. Doença anal. In: Apgar BS, Brotzman GL, Spitzer M. Colposcopia: princípios e prática. Rio de Janeiro: Revinter; 2010. p.451-78. 11 Dentro da área acetobranca, podemos identificar vasos sanguíneos anormais. O padrão que esses vasos assumem é de suma importância na identificação da neoplasia intraepitelial escamosa. Quando o epitélio anormal apresenta papilas estromais, a colposcopia pode revelar pontilhado de coloração vermelha que reflete a extremidade dos capilares destas papilas. Quando o estroma papilar e seus capilares são comprimidos entre as ilhas de epitélio escamoso de maneira contínua ocorre o desenvolvimento do padrão de paralelepípedo ou favo chamado mosaico ou mosaicismo (Fig. 11).(41, 47, 49, 50) A B FIGURA 11. Colposcopia anal mostrando HSIL. A: Lesão acetobranca com áreas de pontilhado vascular (seta branca) e mosaicismo (seta preta); B: Lesão acetobranca com vasos aberrantes (quadrante superior direito). Modificado de Darragh TM, Berry JM, Jay N, Palefsky JM. Doença anal. In: Apgar BS, Brotzman GL, Spitzer M. Colposcopia: princípios e prática. Rio de Janeiro: Revinter; 2010. p.451-78. Uma vez identificada a NIA, a estratégia de manejo é ajustada a cada paciente, e de acordo com os protocolos de cada instituição, tendo em vista não haver consenso. Entretanto, existem recomendações, como a da American Society of Colon and Rectal Surgeons (ASCRS), para se rastrear, tratar e seguir as NIA’s com citologia e colposcopia anal, tendo como objetivo a prevenção do CEC de canal anal. Esta recomendação foi fundamentada em revisão sistemática do assunto e publicada recentemente.(51) De forma geral, as lesões podem ser submetidas à ablação química (ácido tricloroacético 90%, Podofilina, Podofilotoxina) ou física (eletrocauterização, laser, coagulação por infravermelho, crioterapia), podem ser submetidas à excisão cirúrgica e seguidas com citologia e colposcopia anal em intervalos variáveis.(41, 51) O 12 seguimento é especialmente recomendado para grupos de alto risco como HSH, pacientes soropositivos para HIV, imunossuprimidos, mulheres com história de NIC de alto grau ou carcinoma de colo uterino, vulva ou vagina, e pacientes com antecedente de condilomas anais.(51-8) Indivíduos com condiloma anal tratado apresentam risco aumentado de NIA e câncer de canal anal porque o tratamento dessas lesões não controla a infecção anal pelo HPV.(59) O seguimento pós-tratamento desses indivíduos com citologia do canal anal e colposcopia anal revela sinais de infecção persistente pelo HPV em 83,7% dos casos. Além disso, em 35,4% dos pacientes a colposcopia anal é normal e a citologia anal alterada, mostrando doença ativa(59, 60). Nestes casos, não há o que tratar, pois, as lesões não estão visíveis ao colposcópio. Acreditamos que estes indivíduos possam evoluir com negativação da citologia ou progredir e serem identificadas nas suas formas clínicas e subclínicas nos exames subsequentes. Desta forma, o seguimento destes pacientes foi o objeto de nosso estudo. 13 2. OBJETIVO Avaliar como evoluem os pacientes com colposcopia anal normal e citologia anal alterada ao longo de um ano de seguimento e quais os fatores de risco para o desenvolvimento de lesões induzidas pelo HPV nesse grupo de doentes. 14 3. CASUÍSTICA E MÉTODO A Equipe Técnica de Proctologia do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER) mantém base de dados coletados prospectivamente de acordo com o protocolo de estudo e atendimento aos portadores da infecção anal pelo HPV. O protocolo que utilizamos para nossa pesquisa registrou informações referentes ao tratamento e ao seguimento destes pacientes após erradicação clínica das lesões. Nele, constam os dados dos atendimentos ambulatoriais realizados entre março de 2009 e dezembro de 2012. Este estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Infectologia Emílio Ribas segundo o parecer número 428/2009. 3.1 - Caracterização da Amostra A amostra do estudo é constituída por 196 portadores de condilomas anais atendidos consecutivamente no ambulatório de Proctologia, sendo 140 soropositivos e 56 soronegativos para o HIV. Todos foram tratados com erradicação clínica das lesões, definida aqui como a ausência de lesões macroscópicas visíveis 30 dias após o término do tratamento. 3.1.1 – Gênero e Idade A proporção entre sexo masculino e feminino (M:F) foi de 127 homens para 13 mulheres entre os soropositivos, e de 29 homens para 27 mulheres entre os pacientes HIV-negativo. A média etária foi de 40 anos (18 a 64 anos) para os pacientes HIV-positivo e de 32 anos (18 a 54 anos) para os soronegativos. 15 3.2 - Critérios de inclusão Como critérios de inclusão estabelecemos que deveriam ser indivíduos adultos, maiores de 18 anos, HIV-positivo ou HIV-negativo, de ambos os sexos, que trataram condilomas anais e que no período de 30 dias após o tratamento não apresentavam lesões HPV induzidas clinicamente visíveis. 3.3 - Critérios de exclusão Excluímos do estudo as gestantes, aqueles com antecedentes de carcinoma espinocelular de margem ou canal anal, pacientes na vigência de imunoterapia com interferon e aqueles que não concordaram em participar do estudo. Também excluímos da análise de seguimento os que tiveram apenas o 1º exame de seguimento e aqueles que tiveram citologia classificada como inadequada. 3.4 - Método 3.4.1 – Diagnóstico dos condilomas Os condilomas tiveram diagnóstico clínico com base no exame proctológico, que consistiu na inspeção estática e dinâmica, palpação perianal, toque retal e anuscopia. O toque retal e a anuscopia não foram realizados quando as lesões comprometiam a margem anal, com o intuito de evitar dor e sangramento. Biópsias foram colhidas para confirmar o diagnóstico clínico. 3.4.2 – Tratamento dos condilomas O tratamento inicial foi sempre clínico e consistiu de aplicações semanais de podofilina a 25% em vaselina sólida nas lesões da margem anal, e de ácido tricloroacético a 90% nas lesões do canal anal. Os doentes foram avaliados após quatro aplicações e aqueles que apresentavam lesões remanescentes foram levados para tratamento cirúrgico. 16 Para tal, os doentes foram submetidos à raquianestesia e colocados em posição de litotomia. As lesões verrucosas ou pediculadas foram ressecadas com tesoura, e a hemostasia dos pontos de sangramento foi feita por eletrocoagulação. As lesões pequenas e planas foram tratadas por eletrocauterização. Enviamos as lesões ressecadas para exame anatomopatológico. 3.4.3 – Avaliação pós-erradicação dos condilomas A primeira avaliação aconteceu 30 dias após a erradicação das lesões. Consideramos erradicação clínica dos condilomas a ausência de lesões HPV induzidas no exame proctológico. Aqueles que não apresentavam sinais visíveis da doença foram selecionados para seguimento. 3.4.4 – Seguimento após erradicação dos condilomas O seguimento foi realizado de acordo com o protocolo do Ambulatório de Proctologia do IIER. Nele, os pacientes são submetidos à coleta de três raspados do canal anal com escova, o primeiro para realização de captura híbrida do tipo 2 (HC2) para HPV oncogênico (HPV-O), e outros dois para realização de citologia oncótica. Após a coleta do material com escova, realizamos a colposcopia anal. Em pacientes HIV-positivo foram ainda anotados os resultados mais recentes da contagem de linfócitos T CD4+ e da carga viral do HIV. O tempo de intervalo entre as avaliações clínicas no seguimento dos pacientes foi definido como seis meses. Quando a colposcopia identificou lesões induzidas por HPV, o paciente foi tratado no ato do exame. Após desaparecimento das lesões visíveis e da cicatrização das feridas, retornaram ao protocolo inicial. As lesões do canal anal foram tratadas com eletrocauterização, crioterapia com spray de Dimetil Éter Propano (DIMEP) ou aplicação de ATA 90% conforme seu tamanho e número. Naquelas da margem anal, utilizamos a eletrocauterização, DIMEP ou podofilina a 25% em vaselina sólida. Da amostra inicial de 196 pacientes, foram excluídos 68 que não completaram o seguimento, reduzindo o número de indivíduos para 128 (109 homens e 19 mulheres), que foram submetidos a 458 colposcopias no 17 período. Destes 128 pacientes analisados, 95 (74%) eram soropositivos para o HIV e 33 (26%) eram soronegativos. 3.4.4.1 - Captura Híbrida do Tipo 2 para HPV oncogênico A coleta do material para HC2 foi realizada mantendo o paciente em posição de litotomia com utilização de kit apropriado (HC2 High-Risk HPV DNA Test Digene®) contendo escova e tubo de ensaio com sondas de RNA marcado em meio líquido. O kit utilizado detecta 13 tipos de HPV de alto risco (tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 68). A técnica de coleta do material foi a seguinte: a) Afastam-se as nádegas e se introduz a escova no ânus até 4 cm da margem anal. A escova é levemente pressionada contra as paredes do canal anal e as células são esfoliadas com movimento suave de rotação; b) A escova é retirada realizando-se movimento de rotação; c) A ponta da escova é acondicionada no tubo de ensaio contendo o líquido de transporte; d) O tubo de ensaio contendo a escova acondicionada com as sondas em meio líquido é enviado ao laboratório para processamento. Os resultados foram considerados com base no valor de referência informado pelo fabricante (Digene Corporation). Os valores são expressos em RLU (unidade relativa de luz), sendo que 1 RLU equivale a leitura de sinal de controle positivo com 1 pg/mL de DNA de HPV-O, ou aproximadamente 10.000 cópias. Valores abaixo de 1 RLU foram considerados negativos, enquanto valores iguais ou superiores a 1 RLU foram considerados positivos.(61-3) 3.4.4.2 - Citologia anal Posicionando os pacientes em litotomia, realizamos raspado do canal anal para a coleta do material de citologia com escova apropriada (cytobrush), da seguinte forma: 18 a) Afastam-se as nádegas e se introduz a escova no ânus fazendo movimentos suaves de rotação até a 4 centímetros da margem anal. A escova é levemente pressionada contra as paredes do canal anal e as células são esfoliadas com movimento suave de rotação; b) Esfrega-se a escova em lâmina de vidro previamente identificada, fazendo movimentos de rotação, e em zigue-zague, para distribuição uniforme do esfregaço;(64) c) Coloca-se a lâmina em frasco de plástico contendo álcool etílico a 70% em quantidade suficiente para cobrir toda a superfície e fixar o material; d) Realiza-se a coleta da segunda amostra, seguindo a mesma técnica, utilizando nova escova e acondicionando a lâmina num segundo frasco com as mesmas características.(65) Os frascos contendo as lâminas foram enviados ao Laboratório de Patologia para a coloração pelo método de Papanicolau.(66) O mesmo patologista avaliou todas as lâminas de citologia. Consideramos como resultado definitivo aquele com o maior grau de displasia, independente se observado na primeira ou na segunda amostra. As amostras de citologia foram descritas como adequadas ou inadequadas. No caso de amostra adequada, a nomenclatura utilizada para descrição dos achados citológicos seguiu o preconizado pela Classificação de Bethesda.(39) 3.4.4.3 - Colposcopia anal Para realização da colposcopia anal utilizamos o colposcópio óptico (marca Medpej 7000, binocular com lentes de 7 a 25 aumentos). A padronização técnica utilizada para o exame foi a seguinte: a) Após a coleta dos raspados do canal anal para HC2 e citologia anal, estando o doente em posição de litotomia, borrifamos ácido acético a 3% no períneo e na região perianal; 19 b) Deixa-se o ácido acético saturar o tecido por dois minutos, e então se examina o paciente procurando por áreas acetobrancas ou com padrão vascular anormal.(47) Inicia-se o exame pelo períneo, seguindo pela margem anal em sentido horário, até completar toda a circunferência; c) Para diferenciar lesões acetobrancas de alterações cicatriciais, podemos pincelar as áreas suspeitas com azul de toluidina a 1%, que cora as lesões induzidas pelo HPV; d) Introduz-se o anuscópio descartável até a região da linha pectínea; e) Aplica-se o ácido acético a 3% com utilização de haste flexível recoberta por gaze algodonada, deixando a solução saturar o tecido por 2 minutos; f) Após a reação acetobranca do epitélio, realiza-se a leitura do exame procurando identificar com precisão a zona de transformação anal em busca de lesões acetobrancas ou padrão vascular anormal.(47) Caso necessário pode-se reaplicar a solução de ácido acético 3% para revelar lesões. Também, utiliza-se solução iodada (Solução de Schiller) para melhor delimitação de lesões ou auxílio diagnóstico de áreas suspeitas. As áreas normais coram-se em castanho escuro, enquanto as lesões HPV induzidas, como não contém glicogênio, coram-se com menos intensidade.(41) g) A sistematização descrita no item “ f ” é aplicada a todo o canal anal à medida que o anuscópio é retirado; h) Realiza-se tratamento das lesões diagnosticadas de acordo com o padrão apresentado. No caso de lesões isoladas, submetemos o doente à eletrocauterização, sob anestesia local. Quando as lesões eram esparsas pela margem e canal anal, repetimos o tratamento tópico. A colposcopia foi descrita como negativa ou normal na ausência de alterações, e positiva ou alterada quando identificadas áreas acetobrancas ou com padrão vascular anormal (47) na margem e/ou no canal anal. 20 3.4.4.4 - Contagem sérica dos linfócitos T CD4+ Nos pacientes soropositivos para o HIV, em cada consulta foi anotada a contagem sérica mais recente dos linfócitos T CD4+. Os pacientes foram categorizados em três níveis de acordo com a contagem das células T CD4+: a) menor que 200/mm3; b) entre 200 - 499/mm3; c) maior ou igual a 500/mm3. Realizamos comparação entre pacientes com colposcopia positiva e negativa. 3.4.4.5 - Carga Viral do HIV Também anotamos em cada consulta o resultado mais recente da carga viral do HIV em pacientes soropositivos. Os pacientes foram divididos em duas categorias de acordo com os níveis de carga viral: a) carga viral indetectável; b) carga viral detectável. Comparações entre indivíduos com colposcopia normal e alterada foram realizadas. 3.4.4.6 - Término do seguimento Definimos como término do seguimento: a) o período de 12 meses desde o inicio do seguimento do paciente; ou b) o terceiro exame de seguimento; ou c) o último exame realizado dentro do período de 12 meses; ou d) o achado de lesões clínicas ou subclínicas nos exames de seguimento. 3.5 – Análise estatística Realizamos análise estatística dos resultados com aplicação dos testes paramétricos t de Student, exato de Fisher e do chi-quadrado utilizando o software estatístico SPSS for Windows®. Consideramos o índice de tolerância menor que 5% para todos os testes estatísticos. 21 4. RESULTADOS 4.1 – Achados da colposcopia anal e da citologia anal durante o seguimento Na primeira avaliação após término do tratamento das lesões anais pelo HPV observamos que 66 de 128 pacientes (52%) apresentavam colposcopia anal com anormalidades (Tab. 1). Entre os pacientes soropositivos para o HIV encontramos 54 de 95 pacientes (57%) com alterações à colposcopia anal, enquanto em soronegativos apenas 12 de 33 pacientes (36%) apresentavam alterações ao exame (p = 0,042). TABELA 1. Resultado da Colposcopia Anal no primeiro exame de seguimento de 128 pacientes após o tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Geral HIV + HIV - Colposcopia Positiva 66 (52%) 54 (57%) 12 (36%) Colposcopia Negativa 62 (48%) 41 (43%) 21 (64%) Total 128 95 33 Chi-quadrado = 4,11 (p = 0,042) Quando analisados os resultados da citologia anal observamos que 87 de 128 pacientes (68%) apresentavam citologia alterada. Entre os pacientes HIV-positivo encontramos 67 de 95 (71%) com citologia alterada contra 20 de 33 (61%) dos pacientes HIV-negativo. A diferença entre pacientes soropositivos e soronegativos para o HIV com relação à citologia anal não obteve significância estatística (Chiquadrado = 0,32; p = 0,57). Os achados da citologia anal após o primeiro exame de seguimento estão resumidos na Tabela 2. 22 TABELA 2. Resultado da Citologia Anal no primeiro exame de seguimento de 128 pacientes após o tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Citologia Geral HIV + HIV - Normal 36 (28%) 26 (27%) 10 (30%) ASCUS 1 ( 1% ) 0 - 1 ( 3% ) LSIL 52 (41%) 41 (44%) 11 (33%) HSIL 34 (26%) 26 (27%) 8 (25%) Inadequada 5 ( 4% ) 2 ( 2% ) 3 ( 9% ) Total 128 95 33 Chi-quadrado = 0,32; (p = 0,57) A título de comparação entre colposcopia anal e citologia anal, utilizamos os termos citologia normal e citologia alterada (ASCUS, LSIL e HSIL), sendo que foram excluídos dessa análise os cinco pacientes com citologia inadequada Analisando em conjunto colposcopia anal e citologia anal, observamos que 105 de 123 pacientes (85%) apresentavam evidência de lesão induzida pelo HPV em ao menos um dos exames na primeira avaliação de seguimento. Apenas 18 pacientes (15%) apresentavam-se livres de lesão tanto à colposcopia quanto à citologia anal. A correlação entre colposcopia anal e citologia anal no início do seguimento está representada na Tabela 3. TABELA 3. Correlação entre Colposcopia Anal e Citologia Anal no início do seguimento de 123 pacientes pós-tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Colposcopia Positiva Colposcopia Negativa Citologia Alterada 47 (72%) 40 (69%) Citologia Normal 18 (28%) 18 (31%) Total 65 58 Chi-quadrado = 0,17 (p = 0,68) Observando a Tabela 3 percebemos que mesmo em pacientes com colposcopia anal sem evidência de NIA, encontramos 40 de 58 (69%) pacientes com citologia anal alterada. O resultado da citologia anal entre os pacientes com colposcopia anal negativa e citologia anal alterada está representado na Figura 12. 23 1 (2,5%) 14 (35%) ASCUS LSIL HSIL 25 (62,5%) FIGURA 12. Descrição rição da Citologia Anal entre 40 pacientes com Colposcopia Anal negativa ne e Citologia Anal alterada no início do seguimento pós-tratamento tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Na evolução até 12 meses, os dados da colposcopia anal e da citologia anal mostraram que sete dos 40 pacientes acima (17,5%) mantiveram tiveram colposcopia negativa com normalização da d citologia, 16 de 40 (40%) apresentaram lesões provocadas pelo HPV à colposcopia e 17 de 40 (42,5%) continuaram com colposcopia normal e citologia anal alterada. Entre os pacientes cientes soropositivos para o HIV observamos que a incidência de NIA ao longo do seguimento foi muito maior do que em soronegativos, com 15 de 29 pacientes (52%) apresentando lesões à colposcopia anal contra apenas um de 11 pacientes (9%). A diferença observada obser mostrou significância estatística (teste exato de Fisher, p = 0,014). 0,014 O seguimento dos pacientes com colposcopia anal normal e citologia anal alterada está resumido na Tabela 4 e Figura 13. 24 TABELA 4. Evolução de 40 pacientes com Colposcopia Anal normal e Citologia Anal alterada ao longo de 12 meses de seguimento pós-tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Geral HIV + HIV - Colposcopia Anal negativa e Citologia Anal normal 7 (17,5%) 6 (21%) 1 ( 9% ) Colposcopia Anal negativa e Citologia Anal alterada 17 (42,5%) 8 (27%) 9 (82%) Colposcopia Anal positiva * 16 (40,0%) 15 (52%) 1 ( 9% ) Total 40........ 29.. 11 * A diferença entre o número de pacientes com colposcopia positiva durante o seguimento de pacientes HIV-positivo e HIV-negativo foi calculada pelo teste exato de Fisher (p = 0,014) 100% 90% 80% 70% Colposcopia Anal positiva 60% 50% Colposcopia Anal negativa / Citologia Anal positiva 40% Colposcopia Anal negativa / Citologia Anal normal 30% 20% 10% 0% HIV + HIV - FIGURA 13. Evolução de 40 pacientes com Colposcopia Anal negativa e Citologia Anal alterada ao longo de 12 meses de seguimento pós-tratamento do condiloma acuminado do ânus de acordo com o status de infecção pelo HIV. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Quando avaliamos a evolução dos pacientes com colposcopia anal negativa e citologia anal alterada de acordo com o resultado dessa citologia (Fig. 12), observamos que entre os pacientes com HSIL a ocorrência de NIA à colposcopia anal nos 12 meses de seguimento foi de sete em 14 pacientes (50%), enquanto entre os pacientes sem evidência de HSIL à citologia anal essa ocorrência foi de 25 nove em 26 pacientes (35%). No entanto, essa diferença não obteve significância estatística (Qui-quadrado = 0,9; p = 0,34). Os dados acima estão representados na Tabela 5. TABELA 5. Evolução de 40 pacientes com Colposcopia Anal negativa e Citologia Anal alterada ao longo de 12 meses de seguimento pós-tratamento do condiloma acuminado do ânus de acordo com o resultado da citologia. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Colposcopia Positiva Colposcopia Negativa Total ASCUS e LSIL 9 (35%) 17 (65%) 26 HSIL 7 (50%) 7 (50%) 14 Chi-quadrado = 0,9 (p = 0,34) Por fim, comparamos a evolução dos pacientes com colposcopia anal negativa e citologia anal alterada com a daqueles com colposcopia anal negativa e citologia normal. Esta comparação teve por finalidade criar um grupo controle para avaliar se a presença de citologia anal alterada nestes pacientes aumenta o risco de NIA. Observamos que 16 de 40 pacientes (40%) com citologia anal alterada apresentaram lesões à colposcopia ao longo do seguimento contra oito de 18 pacientes (44%) entre aqueles com citologia anal normal (Tab. 6). Não observamos diferença estatística entre os dois grupos (Qui-quadrado = 0,1; p = 0,75). TABELA 6. Comparação entre a evolução dos pacientes com Colposcopia Anal negativa que apresentavam Citologia Anal alterada e aqueles com Citologia Anal normal, ao longo de 12 meses de seguimento pós-tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Colposcopia Positiva Colposcopia Negativa Total Citologia Anal alterada 16 (40%) 24 (60%) 40 Citologia Anal normal 8 (44%) 10 (56%) 18 Chi-quadrado = 0,1 (p = 0,75) 26 4.2 – Avaliação de possíveis variáveis de risco para o seguimento 4.2.1 – Infecção por HPV oncogênico (HPV-O) A prevalência de HPV-O entre os 40 indivíduos que apresentaram colposcopia anal negativa e citologia anal alterada no início do seguimento foi de 23 casos (57,5%). Nos pacientes soropositivos para o HIV, observamos que 20 de 29 indivíduos (69%) apresentavam infecção por HPV-O contra três de 11 indivíduos (27%) em soronegativos (p = 0,021). A Tabela 7 apresenta os resultados encontrados pela colposcopia anal nesses 40 indivíduos, comparando a ocorrência de NIA com a infecção pelos tipos oncogênicos do HPV. TABELA 7. Infecção por HPV-O e ocorrência de NIA ao longo de 12 meses em 40 pacientes com Colposcopia Anal normal e Citologia Anal alterada no início do seguimento pós-tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Infecção por HPV-O Colposcopia Positiva Colposcopia Negativa Sim 13 (81%) 10 (42%) 23 Não 3 (19%) 14 (58%) 17 16........... 24.......... 40 Total Total Chi-quadrado = 6,16 (p = 0,013); RR = 3,2 (IC95%: 1,08 - 9,50) 4.2.2 – Associação da Infecção pelo HIV Entre os 40 indivíduos que apresentaram colposcopia anal negativa e citologia anal alterada na avaliação inicial, 11 (27,5%) eram soronegativos para o HIV e 29 (72,5%) eram soropositivos. Avaliamos isoladamente a infecção pelo vírus do HIV nestes pacientes e sua relação com ocorrência de NIA à colposcopia ao longo de 12 meses de seguimento (Tab. 8). 27 TABELA 8. Infecção pelo HIV e ocorrência de NIA ao longo de 12 meses em 40 pacientes que apresentaram Colposcopia Anal normal e Citologia Anal alterada no início do seguimento póstratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. HIV + HIV - Colposcopia Positiva 15 (52%) 1 ( 9% ) Colposcopia Negativa 14 (48%) 10 (91%) Total 29.......... 11........... Teste de Fisher (p = 0,014); 4.2.3 – Contagem dos Linfócitos T CD4+ entre os pacientes HIV-positivo A Tabela 9 mostra o perfil da contagem de Linfócitos T CD4+ nos 29 pacientes soropositivos que apresentaram colposcopia anal negativa e citologia anal normal na avaliação inicial, de acordo com a ocorrência de NIA à colposcopia ao longo do seguimento. TABELA 9. Valores mínimos, médios, máximos e mediana dos Linfócitos T CD4+ vs. ocorrência de NIA à colposcopia anal nos 29 pacientes HIV-positivo com Colposcopia Anal normal e Citologia Anal alterada no início do seguimento pós-tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Mínimo Máximo Média Mediana Colposcopia Positiva 113 615 362 * 360 Colposcopia Negativa 184 1016 418 * 370 * Teste t de Student (p = 0,794) A Tabela 10 apresenta os resultados encontrados no seguimento dos mesmos 29 pacientes, comparando a contagem sérica dos linfócitos TCD4+ e a ocorrência de NIA à colposcopia. 28 TABELA 10. Contagem dos Linfócitos T CD4+ e ocorrência de NIA em 12 meses de seguimento de 29 pacientes HIV-positivo com Colposcopia Anal normal e Citologia Anal após o tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Linfócitos CD4+ Colposcopia Positiva Colposcopia Negativa < 200 3 (20%) 2 (14%) 200 – 499 9 (60%) 9 (64%) ≥ 500 3 (20%) 3 (22%) Total 15 14 Chi-quadrado = 0,17 (p = 0,92) 4.2.4 – Carga Viral dos portadores do HIV A Tabela 11 apresenta os resultados da Carga Viral do HIV encontrados no seguimento dos 29 pacientes soropositivos que apresentaram colposcopia anal negativa e citologia anal normal na avaliação inicial, e sua relação com ocorrência de NIA ao longo do seguimento. TABELA 11. Carga Viral do HIV e ocorrência de NIA em 12 meses de seguimento de 29 pacientes HIV-positivo com Colposcopia Anal normal e Citologia Anal após o tratamento do condiloma acuminado do ânus. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. Carga Viral do HIV Indetectável Detectável Total Teste de Fisher (p = 0,025); Colposcopia Positiva Colposcopia Negativa 10 (67%) 14 5 (33%) 0 15 RR = 2,40 (IC95%: 1,49 - 3,85) 14 (100%) 29 TABELA 12. Estatística descritiva da coorte de pacientes HIV positivo e HIV negativo. Instituto de Infectologia Emílio Ribas, São Paulo, 2013. HIV-positivo HIV-negativo 95 (74%) 33 (26%) M 90 (95%) 19 (58%) F 5 ( 5% ) 14 (42%) Número p Sexo <0,0001 Idade Média M 40 29 <0,0001 F 37 35 0,429 Positiva 54 (57%) 12 (36%) Negativa 41 (43%) 21 (64%) 26 (27%) 10 (30%) Colposcopia Anal 0,042 Citologia Anal Normal ASCUS 0 - 1 ( 3% ) LSIL 41 (43%) 11 (33%) 0,473 HSIL 26 (27%) 8 (25%) 0,684 2 ( 3% ) 3 ( 9% ) Sim 69 (73%) 11 (33%) Não 26 (27%) 22 (67%) Inadequada Infecção por HPV-O <0,0001 Linfócitos T CD4+ < 200 4 (4%) - 200-499 52 (55%) - ≥ 500 39 (41%) - Indetectável 71 (75%) - < 10.000 17 (18%) - ≥ 10.000 7 ( 7% ) - Carga viral do HIV 30 5. DISCUSSÃO A infecção pelo HPV é a doença sexualmente transmissível mais comum nos dias de hoje.(1,66) Pacientes HIV-positivo tem prevalência de doença anal relacionada ao HPV que supera em muitas vezes a da população em geral. Esta prevalência é ainda maior no grupo de HSH.(67) Além disso, existem fortes evidências da associação entre infecção por HPV e carcinoma espinocelular anogenital. Estudos mostraram taxas de carcinoma de ânus tão altas quanto 37/100.000 em HSH soronegativos para o HIV, sendo que em HSH soropositivos, esta prevalência varia entre 69 e 114/100.000.(14, 68) Em nosso estudo, o grupo de pacientes soropositivos para o HIV correspondeu a 74% da população avaliada. Na literatura consultada encontramos prevalência de infecção pelo HIV de 56% entre os portadores de condiloma anal.(52) Nossa taxa elevada de pacientes soropositivos talvez se justifique pelo fato do IIER ser um serviço de referência em AIDS. Também verificamos que a proporção (M:F) foi de (6:1), onde 85% da população portadora de condiloma anal tratado foi constituída por homens. Em nosso meio, Hossne encontrou prevalência de 80% do sexo masculino em indivíduos com condiloma anal.(69) Esses dados são consequentes ao fato da doença anal induzida pelo HPV ser mais comum nos HSH e soropositivos para o HIV, como exposto anteriormente. Observamos que o grupo de pacientes soropositivos para o HIV apresentou idade superior ao dos soronegativos. Estudos mostraram que a imunodepressão induzida pelo HIV tende a perpetuar a infecção pelo HPV aumentando o risco de lesões induzidas por este vírus com a idade.(70, 71) Sabemos que a NIA e o carcinoma de canal anal induzidos pelo HPV são eventos tardios, e que a carcinogênese depende de um acúmulo de alterações genéticas que por sua vez se desenvolvem durante a infecção persistente pelo vírus.(23-5) 31 A prevalência geral de NIA no início do estudo foi de 57% em HIV positivos e 36% em HIV negativos demonstrando que a infecção pelo HIV é fator de risco para NIA, conforme observado por Schlecht e por Parisi.(72, 73) A literatura médica relatou prevalência de NIA entre 39,1% e 68% nos pacientes soropositivos e de 10,4% a 26% nos soronegativos.(35, 56, 70, 72, 74-6) Acreditamos que a alta prevalência de NIA encontrada em pacientes HIV-negativo se justifique pelo fato de todos neste grupo terem antecedentes de condiloma anal, e pelas altas taxas de infecção por HPV-O (33%). Sabemos que nestes indivíduos a ocorrência de NIA é comum, pois o tratamento dos condilomas não controla a infecção anal pelo vírus do HPV.(59) Além disso, a maioria dos estudos com pacientes HIV-negativo da literatura disponível avaliam indivíduos do sexo feminino com antecedentes de lesão cervical relacionada ao HPV, não apresentando história pregressa de doença anal relacionada ao vírus.(33, 35, 56, 75) Não encontramos entre os estudos avaliados, artigo com resultado semelhante ao que obtivemos na nossa amostra. Observamos citologia anal diferente do normal em 73% dos pacientes HIV-positivo e em 70% dos HIV-negativo. Essa diferença, no entanto, não teve significância estatística (p = 0,74). Os índices de citologia anormal variam bastante na literatura médica disponível de acordo com as populações onde é aplicada, oscilando entre 9% a 87%. Índices mais baixos estão presentes em mulheres HIVnegativo e sem antecedentes de doença anal relacionada ao HPV, enquanto que os HSH, HIV-positivo e com antecedentes de condiloma anal são os que apresentam mais alterações ao exame citopatológico do canal anal.(14, 33-7, 54-8, 77) A descrição da citologia anal mostrou que entre os indivíduos com citologia alterada 1% correspondia a ASCUS, 41% a LSIL e 26% a HSIL, não havendo diferença significante entre HIV positivos e HIV negativos (Tab. 2 e Fig. 12). Admite-se que as lesões de baixo grau não progridem diretamente para CEC, mas podem evoluir para lesões de alto grau que, ao longo do tempo, podem progredir para o carcinoma.(31) Em nossos dados, o predomínio das lesões de baixo grau sobre as de alto grau corrobora este pensamento. No entanto, dada a frequência em que ocorre a infecção anal pelo HPV e a raridade do CEC do canal 32 anal, provavelmente o canal anal não seja tão suscetível à transformação maligna quanto o colo uterino.(32) Chama atenção em nossos resultados o baixo índice de ASCUS, já que as taxas de LSIL e HSIL encontram-se dentro da faixa relatada pela literatura.(34-7, 52-4, 77) Estudos descrevem taxas de ASCUS á citologia anal que variam entre 12% a 25%.(34, 52-3, 77) No protocolo de estudo utilizado, realizamos duas coletas de raspado com escova para realização da citologia anal. Este método já demonstrou aumentar a sensibilidade na detecção de atipias celulares do canal anal.(65) Esta situação aliada ao fato de que em nosso estudo todas as lâminas foram analisadas pelo mesmo patologista e não por técnicos em citologia, talvez sejam responsáveis pelas taxas observadas. É importante lembrar que a categoria ASCUS foi motivo de controvérsia desde a sua instituição, pois chegou a representar o resultado da maior parte dos exames. Na Conferência de Bethesda 2001 alguns participantes propuseram a eliminação desta categoria, mas foi reconhecido que a sensibilidade da citologia cairia muito se esses casos fossem reclassificados como normais. Além disso, a interpretação de ASCUS é bastante subjetiva, com considerável variabilidade entre os patologistas.(39) A sensibilidade da citologia anal no rastreamento das NIAs varia de 69% a 93% quando comparada a colposcopia anal, com especificidade entre 32% e 59%.(33-7, 51-8) No entanto, em populações de alto risco como nos HSH não infectados pelo HIV, o número de exames falso negativo chega a 23%, e até 45% nos HSH positivos para o HIV.(31) Com base na literatura médica disponível, temos conhecimento que a concordância entre citologia anal e colposcopia anal é moderada, com taxas relatadas de até 74,7%.(51-8) Também pudemos observar isso, encontrando concordância entre os dois exames em 53% dos casos. 33 É difícil falarmos em sensibilidade e especificidade da citologia anal com precisão, pois mesmo a colposcopia anal, considerada padrão ouro para avaliação da NIA, apresenta falhas devido ás características anatômicas do canal anal. A associação de outras patologias anais, como doença hemorroidária e fissura anal, pode criar dificuldades técnicas que limitam a detecção de lesões induzidas pelo HPV. A possibilidade de doença oculta no interior das criptas anais também é outro fator que pode interferir na detecção de NIA à colposcopia.(55) Como reflexo da grande variabilidade de resultados relativos à citologia anal, a opinião de se utilizar este método como forma isolada de rastreamento para NIA e triagem para a colposcopia é dividida na literatura disponível. Muitos autores defendem o emprego da citologia anal como método sensível e comparável a citologia cervical para rastreamento,(14, 33, 54, 78, 79) enquanto que outros defendem o seu uso em conjunto com colposcopia anal e testes de captura híbrida para o HPVO com intuito de evitar falsos negativos.(34, 37, 60, 67, 76, 80-2) Apesar dos dados apresentados mostrarem sensibilidade aceitável para citologia anal como método de seguimento, defendemos sua utilização em conjunto com a colposcopia anal por acreditarmos que ambos podem apresentar falhas e que sua associação aumentaria o diagnóstico das lesões subclínicas. Se tivéssemos realizado a colposcopia anal apenas em pacientes com citologia anal alterada, deixaríamos de diagnosticar NIA em 18 de 65 pacientes (28%). Da mesma forma, sabemos que pequenas lesões podem passar despercebidas à colposcopia anal, seja por estarem no interior de criptas anais ou ocultas por pregas de mucosa, e a citologia anal positiva nesta situação nos fornece evidência para manter o paciente em vigilância. A infecção anal por tipos oncogênicos de HPV é mais comum entre os infectados pelo HIV e varia de 40% a 84% nos soropositivos (29, 34, 52, 59, 83, 84) 17% a 56% nos soronegativos segundo a literatura disponível.(29, 83, 85) e de Em nossa série encontramos infecção por HPV-O em 73% dos indivíduos HIV positivo e em 33% dos HIV negativo (p < 0,0001). 34 Entre os fatores associados a maior prevalência de HPV-O nos indivíduos HIV-positivo estão o número de parceiros sexuais ao longo da vida e a prática de coito anal receptivo.(84, 85) Além disso é frequente a infecção por mais de um tipo de HPV entre os soropositivos, o que aumenta a chance de infecção por tipos oncogênicos nesses pacientes.(85) Muitos estudos associaram a infecção por HPV-O à ocorrência de NIA.(34, 52, 56, 70, 77, 86-8) A análise dos nossos resultados confirma essa associação mostrando que a infecção por tipos oncogênicos do HPV ocorreu em 13 de 16 (81%) dos pacientes com NIA, e em 10 de 24 (42%) dos que não apresentavam lesão à colposcopia (p=0,013). Na infecção por tipos oncogênicos do HPV a integração do DNA viral ao genoma do hospedeiro é um evento relativamente comum. Após o processo de integração ocorre um aumento na expressão das oncoproteínas virais E6 e E7 devido a perda por quebra ou deleção do gene E2 responsável pela down regulation dos genes E6 e E7.(19) Sugere-se que o processo de integração esteja relacionado com a transição das lesões de baixo grau para alto grau. Em estudo realizado para avaliar a integridade do gene viral E2 em amostras de lesões neoplásicas e préneoplásicas,(32) evidenciou-se a presença de DNA do HPV integrado em 8% das lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau, em 67% das lesões de alto grau e até 83% dos carcinomas invasores. Também há evidências de que o processo de integração do HPV tem consequências tanto para o genoma viral quanto para o do hospedeiro. Além dos efeitos já descritos sobre a expressão dos oncogenes virais E6 e E7, a integração do HPV leva à instabilidade do genoma celular, caracterizada por anormalidades dos centrossomos que por sua vez propiciam a formação de mitoses multipolares e assimétricas tendo como consequência final alterações da ploidia e do número de cromossomos.(20, 21) Diferente do que relatou a maior parte dos artigos relacionados,(36, 37, 58, 78, 84, 89) a contagem sérica dos linfócitos T CD4+ não se mostrou fator de risco para NIA 35 em nossa análise (Tab. 11 e 12). Da mesma forma, Pineda(90) não observou relação entre baixos níveis de linfócitos T CD4+ e a ocorrência ou persistência de NIA. Existe muita variabilidade na forma como a contagem dos linfócitos T CD4+ é abordada nesses estudos. Alguns avaliam a contagem no momento do diagnóstico, outros a variação entre contagens sucessivas ou ainda a menor contagem em determinado período. Esta falta de uniformidade no método de avaliação dos linfócitos T CD4+ pode gerar resultados discordantes.(90-5) O nível sérico da carga viral do HIV esteve significativamente associado à ocorrência de NIA segundo nossos dados (Tab. 11). Pacientes com carga viral indetectável apresentaram menor risco de NIA, uma vez que todos os pacientes soropositivos com colposcopia negativa apresentaram carga viral indetectável contra 67% daqueles com colposcopia positiva (p = 0,025). Não encontramos, em nossa revisão de literatura, artigos que comparassem a ocorrência de NIA e a carga viral do HIV. No entanto, estudo realizado por Kang(91) demonstrou que o risco de infecção por HPV em indivíduos HIV-positivo é três vezes menor quando os valores da carga viral do HIV estão abaixo de 400 cópias/mL. Credita-se este fato a interações moleculares entre os dois vírus. A principal via pela qual esta interação ocorre se dá por meio da proteína transativadora do HIV-1 (tat-1) que induz a reversão da expressão do gene E2 do HPV.(91, 96) A associação entre carga viral do HIV e ocorrência de NIA merece ser melhor estudada em estudos subsequentes. A grande maioria dos artigos relacionados à NIA se restringe ao diagnóstico, rastreamento ou eficácia de tratamentos específicos.(14, 29, 33, 34, 37, 55, 57, 59, 67, 74, 76-8, 80, 88, 89, 91) Em nossa revisão, encontramos poucos autores que abordaram o seguimento dos portadores de NIA e eficácia dos tratamentos instituídos ao longo do tempo, reportando taxas de recidiva e persistência de lesões à colposcopia e sua possível evolução para carcinoma.(90, 92, 93) Além disso, revisão sistemática da Cochrane Library(94) mostrou apenas um estudo controlado randomizado abordando intervenções para tratamento de NIA. Este estudo utilizou imiquimod versus placebo no tratamento das lesões sem diferença estatística com relação à cura. Nenhum 36 ensaio clínico controlado randomizado com ablação de lesões guiada pela colposcopia anal foi encontrado, demonstrando a necessidade de estudos no assunto. A maior série de pacientes soropositivos com NIA seguidos e tratados com o emprego da colposcopia anal(90) fornece dados de seguimento durante período de 10 anos, relatando incidência de 1,2% de câncer, 18,7% de persistência e 57% de recidiva de NIA. O mesmo autor também publicou resultados referentes ao seguimento de pacientes soronegativos no mesmo período,(92) mostrando incidência de câncer de 2,4% e taxas de recidiva e ou persistência de NIA de 45%. Em estudo recente, Weis(93) seguiu portadores de NIA com colposcopia anal por cerca de 2 anos, comparando a evolução de indivíduos tratados e não tratados. Os resultados mostraram que 88% dos indivíduos não tratados mantinham NIA ao término do seguimento, sendo que 5% dos casos evoluíram com carcinoma espinocelular do canal anal. Já, em indivíduos tratados a persistência de NIA foi de 25%, não sendo diagnosticados casos de câncer. Devaraj(95) também encontrou incidência de carcinoma do canal anal em 7,5% dos portadores de NIA conduzidos conservadoramente durante período de 32 meses. Esses relatos sugerem que o índice de carcinomas anais em portadores do HPV anal não esteve associado à infecção pelo HIV, mas, sim à falta de seguimento adequado após tratamento das lesões induzidas pelo HPV. Em nosso estudo, na primeira avaliação após a erradicação clínica dos condilomas anais, observamos apenas 18 de 123 pacientes (14,6%) com citologia anal e colposcopia anal normais (Tab. 3). O restante dos indivíduos (85,4%) apresentava evidência de doença induzida pelo HPV à citologia anal, à colposcopia anal ou em ambas (Tab. 3). Isso reforça o fato, já demonstrado por Manzione,(59) de que o tratamento das verrugas anais não controla a infecção pelo HPV assim como as lesões subclínicas relacionadas ao vírus. Não encontramos em nossa revisão de literatura estudo que, assim como o nosso, seguiu pacientes de alto risco para NIA e que apresentaram colposcopia anal 37 negativa e citologia anal alterada no início do seguimento. Após o seguimento deste grupo de pacientes observamos incidência de NIA de 40%, com 16 de 40 pacientes apresentando lesões à colposcopia no período de 12 meses (Tab. 6). Percebemos ainda que, em soropositivos para o HIV, a incidência de NIA foi maior (52%) que em soronegativos (9%). Este achado sugere que pacientes HIV-positivo devam ser seguidos de forma diferente, com intervalos mais curtos e períodos mais longos de seguimento do que os HIV-negativo. No entanto, não foi observado maior incidência de NIA entre os pacientes com HSIL à citologia, como seria de se esperar. Talvez isto tenha ocorrido pelo baixo número de pacientes alocados em cada categoria citológica, prejudicando a análise estatística. Além disso, quando comparamos os pacientes que apresentavam colposcopia anal negativa na avaliação inicial, separando-os entre os que tinham citologia normal e alterada, também não encontramos diferença significante com relação à incidência de NIA no seguimento de 12 meses. Isso talvez se justifique porque não foi possível controlar variáveis de confusão como o status de infecção pelo HIV e infecção por HPV-O, já que nossa amostra ficou muito restrita não revelando resultados estatisticamente significantes. Nosso seguimento, apesar de mais curto do que o relatado nas séries anteriores, trouxe informações novas acerca da evolução deste grupo específico de pacientes. A exemplo do observado por Weis,(93) não houve evolução para carcinoma entre os pacientes tratados e em seguimento da nossa amostra, talvez pelo curto intervalo do estudo. No entanto, vale lembrar que em outros estudos(90, 95) o diagnóstico de CEC do canal anal aconteceu tão precoce quanto em 10 e 14 meses de seguimento. Um ponto controverso e que pode ser apontado como crítica ao nosso estudo é a não utilização de biópsia de rotina à colposcopia anal para confirmação diagnóstica de NIA. Justificamos, tendo em vista que todos os pacientes possuíam exame histopatológico prévio proveniente das amostras para diagnóstico e das lesões ressecadas durante o tratamento cirúrgico, e porque já está bem estabelecida a correlação entre o padrão de lesão à colposcopia e a histologia da NIA.(47, 74) Além disso, em nossa série, todas as NIAs identificadas á colposcopia anal foram 38 tratadas, diferente de alguns protocolos onde só as NIA-A foram submetidas a ablação.(97) De uma forma geral, o achado de lesões planas com superfície lisa, a ausência de papilas ou vasos verrucosos, e a presença de pontilhado grosseiro ou mosaicismo está associado à NIA-A. Já, as lesões elevadas, superfície granular ou verrucosa, o achado de papilas e vasos verrucosos e o pontilhado vascular fino são comuns na NIA-B.(47) Também podem ser encontrados vasos com ramificações atípicas na superfície das lesões acetobrancas na forma de salsicha, vírgula e vasos sinuosos dilatados. O achado deste padrão vascular é altamente sugestivo de NIA de alto grau e carcinoma microinvasor.(50) Em virtude da experiência adquirida ao longo dos anos no ambulatório de Proctologia do IIER, reservamos as biópsias para casos com dúvida diagnóstica e para as lesões extensas ou com critérios de carcinoma invasor. Esta estratégia também é utilizada por outros autores.(47, 90, 92) Apesar das evidências aqui apresentadas não serem provenientes de estudos clínicos randomizados e controlados, acreditamos que são consistentes o bastante para justificar a utilização da colposcopia anal no seguimento e tratamento de pacientes em risco de desenvolver NIA e CEC do canal anal. Sobretudo, se levarmos em conta o alto índice de persistência e recidiva das lesões, além da possibilidade de progressão para carcinoma, principalmente nos pacientes não tratados. Sabemos que há vários fatores que dificultam a realização de estudos multicêntricos randomizados e controlados no tratamento e seguimento de portadores de NIA, entre eles, questões éticas e a falta de profissionais treinados e habilitados na realização da colposcopia anal. Por isso reforçamos a ideia de que os resultados obtidos por aqueles que seguem os portadores de NIA devam ser publicados para fornecer mais evidências científicas que auxiliem na formulação de protocolos sobre o assunto. 39 Vale ressaltar que continuamos seguindo estes pacientes para aumentar o tempo de seguimento e o número de indivíduos em acompanhamento, e assim melhorar a consistência de nossos dados e esclarecer questões mal definidas neste estudo. 40 6. CONCLUSÃO Em pacientes com antecedentes de condiloma anal tratado, pode haver evolução para remissão ou aparecimento de lesões clínicas ou subclínicas induzidas pelo HPV diante de uma colposcopia anal normal e uma citologia oncótica do canal anal com alterações. A infecção por tipos oncogênicos do HPV e pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, além da carga viral do HIV em níveis detectáveis, são fatores de risco para a ocorrência dessas lesões. 41 7. ANEXOS Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa 42 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Trottier H, Franco EL. The epidemiology of genital human papillomavirus infection. Vaccine. 2006; 24(Suppl.1):S1-15. 2. Doorbar J. The papillomaviruses life cycle. J Clin Virol. 2005; 32(Suppl1):S715. 3. Marianelli R, Nadal SR. Infecções anais pelo papilomavírus humano, crioterapia e crioimunologia. Rev bras Colo- proctol. 2011; 31:94-7. 4. Scheinfeld N, Lehman DS. An evidence-based review of medical and surgical treatments of genital warts. 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Todavia, em alguns pacientes, o exame com o colposcópio está normal e a citologia se mostra alterada. Objetivo: Avaliar a evolução dos pacientes que apresentaram colposcopia anal normal e citologia anal alterada após o tratamento com erradicação das verrugas anais. Método: Seguimos 128 pacientes (109 homens) com condilomas anais tratados por período de um ano através da realização de captura híbrida para HPV oncogêncio (HPV-O), citologia anal e colposcopia anal. Os 40 pacientes (32%) que apresentaram colposcopia anal normal e citologia anal alterada no início do seguimento foram avaliados quanto a sua evolução. A ocorrência de NIA foi confrontada com infecção por HPV-O, status de infecção pelo HIV, contagem de Linfócitos T CD4+ e carga viral do HIV. Resultados: 16 dos 40 (40%) pacientes com colposcopia anal normal e citologia anal alterada apresentaram NIA durante o seguimento; em soropositivos essa incidência foi de 15 de 29 pacientes (52%) contra um de 11 pacientes (9%) em soronegativos (p=0,014). Diagnosticamos NIA em 13 de 23 pacientes (57%) infectados pelo HPV-O contra três de 17 (18%) naqueles não infectados (p=0,013). Em indivíduos HIV-positivo a contagem média dos linfócitos T CD4+ foi de 362 naqueles que apresentaram NIA durante o seguimento, e de 418 nos que não apresentaram lesões (p=0,794). Cinco dos 15 pacientes (33%) soropositivos que evoluíram com NIA durante o seguimento apresentavam carga viral do HIV em níveis detectáveis; naqueles com colposcopia negativa todos apresentavam carga viral do HIV indetectável (p=0,025). Conclusão: Em pacientes com colposcopia normal e citologia alterada, pode haver evolução para remissão ou aparecimento de lesões induzidas pelo HPV e os fatores de risco para a recidiva foram as infecções por HPV-O e pelo HIV, além da carga viral do HIV nos doentes soropositivos. Palavras Chave: Infecções por papillomavirus, Condiloma acuminado, Neoplasias do ânus, Colposcopia, Citodiagnóstico. 52 Marianelli R. Follow-up of patients with normal high resolution anoscopy and anal intraepithelial neoplasia in anal cytology after treatment of anal condyloma. Master of Science degree dissertation, 2013 ABSTRACT: Background: The human papillomavirus infection (HPV) is the most common sexually transmitted disease in the world. The disease induced by anal HPV is associated with formation of warts, anal intraepithelial neoplasia (AIN) and anal cancer. High resolution anoscopy (HRA) and anal Pap smears are used for early detection and monitoring of AIN and anal carcinoma. Objective: To evaluate the outcome of patients that showed normal HRA and had anal intraepithelial neoplasia (AIN) in anal cytology after treatment of anal warts. Methods: We followed 128 patients (109 men) treated anal warts for one year performing hybrid capture 2 for oncogenic HPV (HPV-O), anal cytology and HRA. The 40 patients (32%) who had normal HRA and AIN in anal cytology at baseline were evaluated for their outcome. The occurrence of AIN was correlated to the HPV-O infection, HIV status, CD4+ T lymphocytes count and HIV viral load. Results: 16 of 40 (40%) patients with normal HRA and AIN in anal cytology, had squamous intraepithelial lesions (SIL) diagnosed at HRA during follow-up; in HIV-positive patients the incidence was 52% versus 9% in HIV-negative patients (p = 0.014). AIN was diagnosed in 13 of 23 HPV-O infected patients (57%) against three of the 17 (18%) in non-infected individuals (p = 0.013). The average CD4+ T lymphocytes count was 362 in those who presented AIN during follow-up, and 418 in patients without lesions (p = 0.794). Five of 15 HIV-positive patients (33%) who developed AIN during follow-up had HIV viral load at undetectable levels, those with negative HRA all had undetectable HIV viral load (p = 0.025). Conclusion: In patients with normal HRA and AIN in anal cytology, the outcome may be remission or appearance of squamous intraepithelial lesions in HRA, and the risk factors for these lesions were HPV-O infection, the HIV-positive status, and the HIV viral load at detectable levels. Keywords: Papillomavirus Infections, Condylomata Acuminata, Anus Neoplasms, Colposcopy, Cytodiagnosis.