NOVAS CONCEPÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE SOCIOLOGIA COM RECURSOS DO CINEMA GOMES, Cleber Fernando1 - PUCCampinas Grupo de trabalho- Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O objetivo deste trabalho é pesquisar novas concepções de ensino-aprendizagem de Sociologia na escola média. Um dos fatores importante é analisar se nas aulas de Sociologia do ensino médio é possível discutir o cinema como recurso didático para compreender os conceitos teóricos da disciplina. Observou-se em um levantamento preliminar que o problema dessa pesquisa é a lacuna teórica existente entre cinema e ensino de Sociologia, fato resultante das idas e vindas da disciplina Sociologia no currículo da educação brasileira nas últimas décadas. Destaca-se que em outras áreas da ciência já existe uma quantidade importante de trabalhos científicos envolvendo o uso do cinema no processo de ensino-aprendizagem. A relevância deste estudo é entender como a imagem contribui para assimilação e construção do conhecimento. Sendo muitos os caminhos para auxiliar o professor na escola, o filme torna-se uma importante ferramenta didática. O método de pesquisa bibliográfica, aliado a levantamentos, coleta de dados e análises histórica da disciplina Sociologia no ensino médio, são recursos utilizados para entender como o cinema, uma mídia de massa, pode tornar-se meio de acesso ao conhecimento, dando contribuições a Sociologia no ensino médio. Sob a perspectiva da pedagogia histórico-crítica, este trabalho pretende tornar-se um objeto de reflexão quanto às metodologias utilizadas em aulas de Sociologia. Entende-se que no ensino médio esta disciplina ainda tem um longo caminho a percorrer para firmar o seu lugar entre as outras disciplinas mais tradicionais do currículo. Como resultado final nota-se que o cinema em sala de aula contribui para ensinar, promover o debate e a reflexão, usando conceitos e métodos próprios da Sociologia. Palavras-chave: Ensino-aprendizagem. Ensino Médio. Sociologia. Cinema. Introdução A Sociologia como disciplina no Ensino Médio tem seus complicadores quando exposta aos alunos de forma pura e direta. O professor de Sociologia ao entrar em sala de aula 1 Graduado em Ciências Sociais (Sociólogo) pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), PósGraduando (especialização) em Artes visuais, Intermeios e Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Pesquisador com trabalhos na área de Sociologia da Educação e Sociologia da Cultura. E-mail: [email protected]. 16213 se depara com alunos que vão resistir ao aprendizado da Sociologia, pois estarão sob um processo de estranhamento radical que se não for naturalizado pelo professor poderá se tornar impossível lecionar a disciplina. Diante desse contexto da falta de vínculo da Sociologia com os alunos do Ensino Médio, o professor tem um grande problema a resolver em busca da escolha sobre qual o melhor método de ensino-aprendizagem dessa disciplina que já sofreu grandes golpes, nas suas idas e vindas no currículo da escola secundária brasileira. Mas antes da escolha do método é importante entender como funciona o processo de aprendizado do aluno contemporâneo. Para compreender esse processo, de forma sucinta é possível recorrer ao livro “Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sóciohistórico” escrito por Marta Kohl de Oliveira (2000), professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Neste livro a autora descreve de forma clara alguns pontos da teoria de Vygotsky no que tange ao processo sócio-histórico da aprendizagem humana. Sendo assim, compreende-se que o homem na teoria de Vygotsky passa de um processo de transformação biológica para um processo sócio-histórico, sendo a cultura responsável pela composição da natureza humana. Por meio de uma perspectiva marxista, o homem tido como um ser histórico construído por meio das relações com a natureza e com o mundo social, faz com que a cultura desempenhe um papel fundamental nesse processo de construção. A cultura sendo parte do mundo social, passa ser responsável pela constituição do homem. Nesse sentido, o Cinema sendo um produto da cultura, também influencia as transformações do mundo social deste homem. Segundo Oliveira (2000), o fundamento sócio-histórico de Vygotsky é compreendido pelo conceito de mediação, que indica que a relação do homem não é uma relação direta com o mundo e sim uma relação mediada, por meio dos sistemas simbólicos e dos elementos intermediários entre o mundo e o sujeito, conforme se observa nos Quadros 1, 2 e 3. E ----------------------------------------------------- R (estímulo) processo simples (resposta) Quadro 1 – Processo simples de mediação não defendido por Vygotsky. Fonte: Quadro organizado pelo autor com base em Oliveira (2000, p.27). 16214 E ----------------------------------------------------- R processo complexo (estímulo) (resposta) (M) (mediador) Quadro 2 – Processo complexo de mediação válido para Vygotsky. Fonte: Quadro organizado pelo autor com base em Oliveira (2000, p.27). Observa-se que na realidade dos alunos contemporâneos essa mediação também acontece com base na vida cultural em que o aluno esta inserido. Partindo deste pressuposto, pode-se dizer que todo produto da cultura é uma forma de mediação entre o aluno e o mundo em que ele esta inserido. O uso do Cinema nas aulas de Sociologia passa então a desempenhar um instrumento de mediação entre o professor e o aluno, ou seja, um recurso facilitador que está para ajudar o professor na tentativa de explicar os conceitos teóricos da disciplina, e também para auxiliar o aluno no processo de aprendizagem de uma disciplina que é considerada por muitos alunos do Ensino Médio como complexa e desinteressante. E ----------------------------------------------------------- R processo complexo (estímulo - professor) (resposta - aluno) (M) (mediador - Cinema) Quadro 3 - O cinema como mediador num processo complexo. Fonte: Quadro organizado e proposto pelo autor. Esse processo de mediação não é simplificado, existe uma complexidade no elo mediador que precisa ser trabalhado e detalhado no sentido de ser esclarecido quais são as reais intenções ou a finalidade do elemento usado como mediador. Para Oliveira (2000, p.26) “mediação, em termos genéricos, é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento”. Sendo assim, o Cinema como elemento mediador não pode ser simplificado nas aulas de Sociologia, é preciso problematizá-lo com objetivo de despertar o senso crítico do aluno e 16215 que consequentemente possa despertar a imaginação sociológica, fazendo com que o Cinema como recurso didático seja um instrumento de transformação do ambiente, desenvolvendo uma relação com o meio no âmbito de um processo histórico-cultural. Esse “instrumento” de transformação esta relacionado à teoria histórico-cultural de Vygotsky que é definida como produtos culturais humanos, também composto por “signos” e pela relação com o “outro”. Segundo Fontana & Cruz (1997, p.59) Vygotsky destacava que, diferentemente das outras espécies, o homem, pelo trabalho, transforma o meio produzindo cultura. Sendo assim, o Cinema como “instrumento psicológico” (signo) é um produto da cultura, construído pelo homem, e que pode auxiliá-lo no processo de ensino-aprendizagem da Sociologia na escola secundária. Os signos podem ser utilizados para ampliar as nossas possibilidades de memória, raciocínio planejamento, imaginação, etc. (FONTANA & CRUZ, 1997, p. 60). Ao inserir o Cinema (signo) dentro das aulas de Sociologia, o professor deve enfatizar que o uso de filmes não é apenas um passatempo, ou uma forma de ilustrar o conteúdo da disciplina. É preciso antes de tudo, problematizar a temática que se pretende trabalhar. Usar um texto científico (também um signo) que exponha o conteúdo do tema é primordial, bem como a definição dos conceitos que estarão presentes no decorrer da dinâmica da aula. O professor precisa ficar atento aos novos conceitos que surgirão nas aulas de Sociologia. Para o aluno de Ensino Médio esses novos conceitos (capitalismo, consumo, desigualdade social, pós-modernidade, entre outros) são coisas fora do vocabulário escolar dos alunos, a linguagem e o contexto cultural da escola média no século XXI, é composta na maioria das vezes pelo pensamento neoliberal. Vygotsky trabalha, então, com a noção de que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas, fundamentalmente, uma relação mediada. As funções psicológicas superiores apresentam uma estrutura tal que entre o homem e o mundo real existem mediadores, ferramentas auxiliares da atividade humana. (OLIVEIRA, 2000 p.27) Nota-se que essas ferramentas auxiliares podem ser comparadas ao uso do Cinema dentro das aulas de Sociologia, como um recurso didático para ajudar o professor a transmitir os conceitos da disciplina. O Cinema produtor de vários gêneros de filme apresenta ao professor uma gama de “ferramentas auxiliares” contribuindo para que sua atividade como docente no Ensino Médio seja atraente para o aluno e eficiente no que diz respeito ao ensinoaprendizagem. 16216 As dificuldades de expor os conceitos e suas definições podem ganhar um aliado com o uso do Cinema nas aulas de Sociologia. O Cinema pode ser um elemento intermediário desempenhando um processo de intervenção na relação do aluno com a Sociologia. O Cinema como elemento intermediário passa a ser um facilitador no processo de ensino-aprendizagem quando o aluno estiver em contato com algo que ele não tem familiaridade, a Sociologia. A história da Sociologia no Ensino Médio brasileiro não foi uma história de sucesso. A Sociologia passou por grandes intervenções no decorrer de sua inserção na escola média. Esse processo de idas e vindas da disciplina fez com que os alunos perdessem o vínculo com a Sociologia, diferente de outras disciplinas (Português, Matemática, História, entre outras) que se apresentam aos alunos como coisas naturalizadas. A dificuldade de ensinar Sociologia se potencializa, pois é preciso criar novos recursos pedagógicos para que o aluno consiga entender os objetivos da disciplina no Ensino Médio. Nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM, 2006, p.129) é sugerido o uso do Cinema como recurso metodológico, pois os alunos de hoje estão mais condicionados a ver do que a ouvir, tendo a imagem como meio de saberes em quase todas as áreas do conhecimento. Sendo assim, o Cinema na sala de aula submete os alunos ao estranhamento e a desnaturalização das coisas. Mas o uso do Cinema na escola não esta somente como um recurso inovador nas aulas de Sociologia. De acordo com as OCEM (2006, p.129) o Cinema tem a função de criar um choque com as formas tradicionais de ensino. A imagem-movimento tem o poder de mexer com a subjetividade dos alunos, fazendo com que eles entrem na escola de um jeito e saem de outro. Com o uso do Cinema nas aulas de Sociologia é possível criar uma nova perspectiva diante da vida. Uma perspectiva crítica e cidadã. O Cinema se torna um objeto inovador de análise, e de reflexão sobre a realidade. A pedagogia histórico-crítica como método de ensino de Sociologia Uma das críticas ao método tradicional de ensino-aprendizagem é sobre a sua forma mecânica e repetitiva de transmitir conhecimento. Saviani (2001, p.68) critica a pedagogia bancária porque a mesma é passiva e só transmite conteúdos, levando o aluno a memorização, ou seja, a decorar conteúdos. 16217 Nas aulas de Sociologia esse hábito de decorar conceitos acaba sendo utilizado pelos alunos, pois são conceitos considerados complexos e os alunos os consideram fora de sua realidade. Diante dessa realidade dentro da sala de aula, o professor pode adotar uma pedagogia articulada valorizando os interesses populares, estimulando as atividades e iniciativa dos alunos e professores, bem como favorecendo o diálogo entre ambos, não esquecendo de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente (SAVIANI, 2001, p.69). Na perspectiva de Saviani (2001, p. 70) nota-se que professores e alunos são agentes sociais que interligam educação e sociedade numa proposta de diferenciar a construção do conhecimento por meio das experiências, ou seja, da prática social. Nesse contexto que interliga educação e sociedade, o Cinema como produto cultural da sociedade pode ser usado para mediar ações educativas dentro das aulas de Sociologia, uma vez que por meio do Cinema é possível estimular o diálogo entre alunos e professores, criando uma atmosfera de reflexões e debates, valorizando a Sociologia enquanto disciplina no Ensino Médio. Em Saviani (2001, p.70-72) observa-se que o autor cria uma metodologia partindo de cinco passos, sendo a prática social um dos elementos norteadores desses passos. Conforme o Quadro 4, Gasparin (2002, p. 8-10) fez um mapeamento desse método para compreender melhor esses cinco passos: Passos 1º Descrição Prática Social Inicial Definição O professor explica o conteúdo do que vai ser trabalhado estabelecendo um diálogo com os alunos. Os alunos são estimulados a dizer o que gostaria de saber a mais sobre o tema. 2º Problematização Identifica os principais problemas encontrados com a prática e conteúdo, por meio do debate e da visão do aluno. O conteúdo formal passa a ser um desafio a ser problematizado. 3º Instrumentalização A formação dos conceitos, as diferentes abrangências dos conceitos cotidianos e científicos, as possíveis ações didáticopedagógicas para construção do conhecimento científico na escola, visando dar respostas às questões levantadas na problematização, tendo o professor como mediador. Para Saviani (2001, p. 71) são instrumentos teóricos e práticos, e ferramentas culturais necessários à luta social. 4º Catarse É a síntese, onde o aluno será capaz de elaborar intelectualmente o cotidiano e o científico, o teórico e o prático, se aproximando da solução das questões levantadas anteriormente. 5º Prática Social Final É o novo agir do aluno diante da sua realidade, ele volta para prática social sob uma nova perspectiva, unindo teoria e prática, pois aprendeu um novo conteúdo. Quadro 4 – Metodologia histórico-crítica de Saviani. Fonte: Quadro organizado pelo autor com base em Gasparin (2002, p. 1-10). 16218 Sob a perspectiva desses cinco passos, entende-se que professor e aluno como agentes sociais estão em diferentes níveis de conhecimento e experiência, porém se complementam. O professor fornece o conteúdo teórico próprio da disciplina, e os alunos informam suas necessidades básicas para o aprendizado. Ao inserir o Cinema nesses cinco passos o professor tem que fazer um plano de trabalho que aloque a temática em cada um desses passos. A escolha do filme tem que estar em sintonia com o conceito sociológico que se pretende trabalhar em sala de aula. Os conceitos sociológicos podem ser trabalhados dentro dessa nova concepção metodológica, usando o filme como um instrumento mediador. Conforme o Quadro 5, observa-se um exemplo do conceito de globalização sendo proposto dentro dos cinco passos, para se trabalhar com alunos do Ensino Médio. Tema Passos Descrição 1º Prática Social Inicial 2º Problematização 3º Instrumentalização 4º Catarse Globalização Definição O professor explica o conteúdo sobre globalização estabelecendo um diálogo com os alunos na tentativa de descobrir o que eles gostariam de saber a mais sobre o tema. Identificar quais são as principais dúvidas que os alunos têm sobre o tema da globalização e problematizar essas dúvidas por meio da teoria escolhida. O que é globalização? Como surgiu historicamente? Quais suas conseqüências? Trabalhar com material teórico: ALVES, Giovanni. Dimensões da Globalização. O Capital e suas contradições. Bauru: Ed. Práxis, 2001. Trabalhar com material audiovisual: MOORE, Michel. Fahrenheit 11 de Setembro. Documentário. EUA, 2004, 116min. Trabalhar com material jornalístico: Pedir aos alunos que fazem pesquisa em jornais e revistas e trazem reportagens sobre o tema. Fazer com que os alunos reflitam historicamente e questionem criticamente sobre a globalização, quais os processos e conseqüências desse fenômeno, e em seguida pedir aos alunos que escrevam uma síntese comparando os diversos materiais analisados. 5º Prática Social Final Refletir com os alunos de forma histórica e crítica sobre a globalização e verificar como eles dão conta dos conceitos estudados. Abrir um debate para saber se as idéias sobre a temática foram assimiladas e se os alunos conseguem dialogar sobre o tema. Quadro 5 – Conceito de Globalização com base na metodologia histórico-crítica. Fonte: Quadro organizado e proposto pelo autor com base na metodologia histórico-crítica. Observa-se que o filme colocado dentro da proposta dos cinco passos da pedagogia histórico-crítica não esta isolado de outros recursos didáticos para se trabalhar temas da Sociologia. É importante o professor ter em mente que o Cinema não pode substituir o texto 16219 teórico, bem como outros recursos didáticos que possam ajudar na exposição de um determinado tema. O Cinema nas aulas de Sociologia tem que estar alinhado com teoria e prática. A teoria se materializa pelos textos científicos e didáticos, e a prática se materializa com os acontecimentos do dia a dia, sendo os jornais, revistas, e fatos diários da sociedade recursos importantes para exemplificar os temas sociológicos. A didática da pedagogia histórico-crítica possibilita fazer uma ligação entre educação e sociedade, abrindo um debate reflexivo e crítico sobre os grandes temas que implicam nossa sociedade e que são passíveis de análise sociológica. Os cinco passos oferecem ao professor uma dinâmica de aula que cria uma interface entre prática-teoria-prática. Essa interface é interessante porque o professor da maior ênfase na prática vivenciada pelo aluno, dentro de um contexto social em que ele esta inserido. Em seguida com apoio da teoria é possível analisar situações da prática social, com uso do Cinema, e de reportagens jornalísticas. Logo após é possível voltar à prática social final, com recursos teórico-histórico e histórico-cultural que vão dar ao aluno as ferramentas necessárias para que ele análise sociologicamente os temas abordados. Conforme o Quadro 6, observa-se uma síntese da interface prática-teoria-prática: Prática Teoria Prática nível de zona de desenvolvimento imediato novo nível de desenvolvimento desenvolvimento atual atual Prática Social Problematização Instrumentalização Catarse Inicial do Prática Social Final do Conteúdo Conteúdo Quadro 6: Prática – Teoria – Prática. Fonte: Quadro organizado pelo autor com base em Gasparin (2002, p. 159). Diante desse contexto, prática-teoria-prática, o aluno se beneficia do processo analítico tornando-se um agente social ativo, real. E o Cinema dentro desse processo analítico desempenha um papel qualitativo de mediação da ação do professor; uma desigualdade no ponto de partida e uma igualdade no ponto de chegada (SAVIANI, 2001, p.72). Para facilitar a dinâmica das aulas, o professor de Sociologia que lecionar em mais de uma sala de aula, pode recorrer ao “tipo ideal” de Max Weber. Segundo Costa (2005, p.100) 16220 por meio de um estudo sistemático das diversas manifestações particulares, é possível construir um modelo das diversas manifestações particulares, acentuando o que for mais característico ou fundante. Nesse sentido, o professor tem a possibilidade de construir o tipo ideal de cada sala de aula e consequentemente saber qual o melhor método de ensinoaprendizado que ele pode usar em cada caso especifico. Sabe-se que cada sala de aula tem suas particularidades e que o método de ensinoaprendizagem não pode ser generalizado. Sendo assim, quando o professor tiver construído o tipo ideal de cada sala de aula, ele poderá aplicar de forma mais eficiente um método, tendo o Cinema como recurso didático. Em alguns casos será possível usar o filme de forma completa, porém em outras experiências, será necessário usar o filme de forma compacta, disponibilizando aos alunos somente os trechos mais importantes. O professor de Sociologia tem que estar atento ao tipo ideal das salas de aula em que atua, pois dessa forma ele terá condições de montar suas aulas com base nas necessidades de cada sala, interagindo com a dinâmica local do ambiente. A Sociologia em tempos modernos A Sociologia vem ganhando espaço no mundo contemporâneo. Nos últimos anos os sociólogos vem ganhando destaque em programas de televisão, na mídia impressa (jornais e revistas), e na mídia digital (internet). Cada vez mais é possível ver análises sociológicas em diversos meios de comunicação, a presença de sociólogos vem sendo solicitada para analisar situações reais que acontecem no Brasil e no mundo. Na televisão os sociólogos estão fazendo análises em programas jornalísticos sobre política, eleições, violência urbana, fenômenos tecnológicos e biológicos, entre outros. Na mídia impressa é possível ler artigos de sociólogos analisando situações complexas do mundo contemporâneo, principalmente em questões ligadas aos conflitos do Oriente Médio. Na internet muitos sociólogos atuam ativamente em movimentos sociais ligados aos direitos humanos e ambientais, disseminando “abaixo assinado”, e denunciando fatos abusivos que estão prejudicando grupos sociais minoritários. Para Bomeny & Freire-Medeiros (2010, p.05) é preciso “ler sociologicamente o mundo, usando diferentes linguagens (textos jornalísticos, literários, fotografias, ilustrações, filmes, gráficos e tabelas)”. O Cinema se encaixa perfeitamente nessa leitura de mundo, porque reproduz fatos sociais de nossa sociedade em diversos gêneros cinematográficos. 16221 As autoras Bomeny & Freire-Medeiros (2010), faz uso do Cinema de Charles Chaplin para analisar sociologicamente vários conceitos da disciplina. Encontramos em sua obra “Tempos Modernos, Tempos de Sociologia” um método de trabalho a partir do filme Tempos Modernos (1936), que por meio da “imaginação sociológica” é possível dialogar com o contexto cultural dos alunos, interagindo com suas experiências e criando uma atmosfera de trabalho em sala de aula que favorece o aprendizado de Sociologia de acordo com o cotidiano dos alunos. Entende-se que os alunos contemporâneos estão habituados a receber estímulos visuais diariamente e que a linguagem do Cinema já é algo naturalizado para todos, uma vez que estão em constante contato com vídeos pela internet, televisão, redes sociais, entre outros meios. Os filmes nesta modalidade de atividade têm função lúdica – motivar, interessar, descontrair, entreter – e ao mesmo tempo são objeto de estudo. Ao serem usados com intenção pedagógica, eles precisam ser desnaturalizados. Por essa razão, associamos a exibição de filmes a debates em sala de aula com um tema motivador. (BOMENY & FREIRE-MEDEIROS, 2010, p.09) Ao utilizar o Cinema nas aulas de Sociologia é possível “pensar sociologicamente” diversos aspectos da vida social. A imagem do Cinema é um recurso didático que facilita a compreensão dos conceitos e teorias uma vez que esta inserida dentro do contexto social dos alunos. Mesmo representando a vida social de forma ficcional, o Cinema tem o poder de causar impacto nos alunos, suas histórias são reproduzidas de modo que desperta o interesse do telespectador. Diante dessa realidade cinematográfica o professor tem que fazer uso do Cinema explorando as partes do filme que mais tem a ver com o conceito sociológico que esta sendo trabalhado em sala de aula. O ensino da sociologia tem uma particularidade: a quantidade de informações que recebemos cotidianamente (notícias nacionais e internacionais; filmes, livros, CDs; eventos como eleições, olimpíadas, ameaças de guerras, crises etc.) é fonte inesgotável para o trabalho em sala de aula. (BOMENY & FREIRE-MEDEIROS, 2010, p.05) Nesse sentido, a quantidade de informação que o cinema transmite muitas vezes não é necessária passar aos alunos, por isso o filme completo em alguns casos não é interessante, o professor pode fazer recortes do filme e usar somente trechos que mais tem a ver com os 16222 conceitos sociológicos. Outra questão é a falta de tempo, sabe-se que as aulas tem um tempo muito reduzido e a maioria dos filmes são acima de uma hora de duração. Uma das alternativas disponíveis é usar um recurso tecnológico para fazer recortes em filmes. O programa Windows Movie Maker, possibilita ao professor fazer cortes das cenas mais interessantes e assim trabalhar somente com pequenos trechos do filme. Algumas experiências em sala de aula mostram que trabalhar com trechos de filmes é muito mais produtivo do que usar o filme inteiro. Em alguns casos, quando se trabalha com a exibição de filmes inteiros, os alunos acabam ficando cansados e perdendo o foco da aula. O ideal seria o professor fazer o recorte fílmico e trabalhar com os trechos mais interessantes. Sabe-se que a realidade de algumas escolas não permite em muitos casos a exibição de filmes, principalmente escolas da rede pública de ensino. Nesse caso, o professor pode trazer para sala de aula um resumo do filme, e solicitar aos alunos que reflitam sobre o tema. Em outros casos é possível solicitar aos alunos que acessem via lan house o site youtube e os próprios alunos ficariam encarregados de assistir partes do filme. Segundo Bomeny & Freire-Medeiros (2010, p.07) o filme pode gerar diferentes interpretações, tudo depende da cultura e biografia do aluno que vai assisti-lo. Cada aluno vê de forma diferente o mesmo filme. Sendo assim, o professor tem o papel de mediador, conectando os alunos num caminho de reflexões que possibilite a análise dos fatos com base nos conceitos sociológicos da disciplina. Ensinar sociologia não é uma tarefa fácil pelos motivos já argumentado sobre as idas e vindas da disciplina no Ensino Médio. A falta de vínculo da sociologia com os alunos é um obstáculo que precisa ser superado, e o cinema pode ser um recurso didático disponível, pois se apresenta de forma natural aos alunos, sendo parte do dia a dia. Os meios de comunicação de massa disparam diariamente trailer de filmes no intervalo de programas televisivos. Na internet é possível ficar por dentro dos últimos lançamentos no cinema. E a comercialização de Dvds piratas nos centros de compras populares é uma realidade na vida de muitos alunos. Além da troca de filmes entre alunos por meio de recursos tecnológicos, como os pen-drives e os CDs. Diante dessa realidade, ao ensinar Sociologia percebe-se que “os conceitos são representações mentais adquiridas e assimiladas sobre a realidade” (BRIDI; ARAÚJO & MOTIM, 2008, p.65). Esses conceitos são partes integrante da sociedade, facilitando a 16223 comunicação entre indivíduos. E nesse sentido, aprender Sociologia requer um domínio desses significados conceituais. A Sociologia para fazer sentido ao aluno tem que estar relacionada ao contexto cultural, social, econômico e político da sua vida. O aluno só vai entender os conceitos básicos da disciplina na medida em que o professor relacionar a teoria sociológica à realidade do aluno. O conteúdo trabalhado tem que estar conectado à realidade local, regional e global dos alunos. É preciso que o conteúdo a ser estudado seja relacionável e incorporável à estrutura cognitiva do aluno e esse deve manifestar disposição, estar motivado para relacionar de maneira substantiva o novo conteúdo potencialmente significativo à sua estrutura cognitiva. Daí a importância de explorar o meio, o contexto de vida do aluno. O aprendizado então será significativo, terá valor para ele, não lhe parecerá estranho e distante. (BRIDI; ARAÚJO & MOTIM, 2008, p.68). Aprender Sociologia não requer dos alunos decorar ou memorizar mecanicamente conceitos, o aluno precisa entender o contexto histórico-cultural daquele conceito, para então assimilar e utiliza-lo de forma produtiva, atuando de forma ativa e eficiente na sociedade onde esta inserido. O uso do Cinema é um facilitador na estratégia de entender o contexto históricocultural de um conceito sociológico. A imagem-movimento tem o poder de despertar no aluno o interesse pelo espetáculo cinematográfico. São diversos recursos embutidos em um único produto. O filme esta estruturado com sons, imagens, roteiro, ação. Essa estrutura filmica auxilia o aluno no processo de armazenagem das informações e quando for preciso buscar na memória um conceito específico, o aluno vai associá-lo a cena de um filme e a reflexão será mais produtiva, instantânea. Quando o professor faz uso do Cinema em sala de aula, ele esta contribuindo com a formação cidadã do aluno contemporâneo. Ao analisar o filme junto com os alunos, refletindo sobre suas funções, o professor deve esclarecer aos alunos que a obra cinematográfica ficcional ou não, esta enquadrada dentro de um contexto político-cultural específico. O Cinema é produto de uma indústria cultural que depende economicamente de bons resultados para ser difundido socialmente. Os fatores econômicos e políticos devem ser expostos aos alunos, para que a reflexão crítica e sociológica sobre o Cinema seja feita de forma consciente, e que o aluno não se iluda com um recurso didático que é produto de uma indústria. O processo de desnaturalização por parte do professor deve ser essencial. 16224 Considerações finais O conhecimento sociológico construído com auxilio do Cinema deve ser capaz de promover uma reflexão crítica sobre a realidade, porém deve ir além da crítica, e oferecer ao aluno uma interação maior com o professor e com a realidade em que está inserido. O Cinema deve proporcionar um diálogo problematizado que incentive o aluno a transformar sua realidade social. Para Blasco (2002, p. 153) por meio da linguagem cinematográfica é possível estabelecer uma comunicação eficaz com os alunos. O Cinema fala à cabeça e ao coração, nos educa e faz aprender. O autor também destaca que é preciso ouvir as opiniões espontâneas dos alunos, sem induzir respostas. Em tempos modernos o ensino-aprendizagem de Sociologia no Ensino Médio pode recorrer a outros métodos para lecionar a disciplina. Segundo Blasco (2002, p.190) “o cinema, a imagem, facilita a colocação de conceitos, grudam fácil”. O Cinema como recurso educacional já foi defendido por Blasco (2002) em sua tese sobre o uso de produções cinematográficas na educação médica. Ao analisarmos o uso do Cinema na área da educação médica, compreende-se que na área da educação sociológica, o Cinema também pode desempenhar um papel importante na construção do conhecimento, enriquecendo as reflexões e o debate de temas pertinentes a Sociologia. Portanto, são muitos os problemas da escola média brasileira, tanto no que tange as estruturas escolares, quanto às políticas educacionais propostas para o ensino de Sociologia no Ensino Médio. O Cinema não é a solução dos problemas, mas pode ser uma proposta de trabalho interessante e positiva para professores e alunos, diante do contexto em que a Sociologia esta inserida. REFERÊNCIAS BLASCO, Pablo G. Educação médica, medicina de família e humanismo: expectativas, dilemas e motivações do estudante de medicina analisadas a partir da discussão sobre produções cinematográficas. Tese de Doutorado apresentada à Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002. BOMENY, Helena; FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Tempos Modernos, Tempos de Sociologia. Editora do Brasil, FGV. 1ºed. São Paulo, 2010. 16225 BRASIL. 2006. Ciências Humanas e suas Tecnologias / Secretaria de Educação Básica – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 133 p. (Orientações Curriculares Para o Ensino Médio: volume 3). Conhecimentos de Sociologia. Cap. 04. BRIDI, Maria Aparecida; ARAÚJO, Silvia Maria; MOTIM, Benilde Lenzi. Ensinar e aprender sociologia no ensino médio: In Aprendizagem significativa e construção do conhecimento em sociologia. Editora Contexto. São Paulo, 2009. p.63-84. COSTA, Cristina. Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Ed. Moderna, 2005. FONTANA, Roseli A.C.; CRUZ, Maria N. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Ed. Atual, 1997. GASPARIN, João L. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas: Ed. Autores associados, 2002. OLIVEIRA, Marta K. A mediação simbólica. In: Vygotsky – Aprendizado e desenvolvimento – Um processo sócio-histórico. São Paulo: Ed. Scipione, 2000. SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Campinas: Ed. Autores associados, 2001.