PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

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PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
SECRETARIA DO ESTADO DA SAÚDE
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS
FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO – FUNDAP
Gláucia de Oliveira Morato
Uso de âncora de titânio associada a fio poliéster trançado, na estabilização
extra-articular, para tratamento de luxação coxofemoral em um cão.
Monografia apresentada ao programa de
aprimoramento profissional / CRH / SES-SP e
FUNDAP, elaborada no Hospital Veterinário
da Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias – UNESP – Jaboticabal
JABOTICABAL – SP
2011
Morato, Gláucia de Oliveira
M835u
Trabalho apresentado ao Programa de Aprimoramento
Profissional/ CRH/SES – SP e FUNDAP Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinária – UNESP, Câmpus de Jaboticabal para
conclusão de Residência Médico Veterinária, 2011.
vi, 31 f. : il. ; 28 cm
Orientador: José Luiz Laus
Banca examinadora: João Guilherme Padilha Filho, Júlio Carlos
Canola
Bibliografia
1. Luxação coxofemoral. 2.Sutura íliofemoral. 3.âncora. I. Título.
II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias.
CDU 619: 617.3: 636.7
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da
Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus
de Jaboticabal.
ii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às pessoas especiais em minha
vida, minha mãe e Artur, minha força de vida.
Agradeço a Deus por tê-los perto de mim.
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que tão bondosamente esteve comigo em toda minha vida.
Aos meus pais, que não medem esforços para que eu alcance meus objetivos.
Obrigada por serem minha base e meu porto seguro.
A todos os residentes do Hospital Veterinário pela boa companhia, risadas,
noites viradas no HV e muito aprendizado durante estes anos, especialmente ao Tiago
e Leo, irmãozinhos de residência. Obrigada pelas caronas Tiago!!!!
Ao Professor João Guilherme pelo exemplo, pelos ensinamentos, conselhos e
boas conversas.
Ao Professor Laus, também pelo exemplo de um bom profissional, postura e
disponibilidade.
Ao Professor Canola pelas dicas e diagnósticos durante todo período da
residência.
A Professora Paola pela ajuda durante a residência, pelo companheirismo e
risadas.
À empresa CÃO MÉDICA pela confecção e fornecimento gratuito da âncora de
titânio.
A FUNDAP pela bolsa e ao Hospital Veterinário pelo apoio estrutural.
Agradeço em especial ao Artur, meu R2, que nunca me deixou na mão e fez
tudo ser mais agradável da residência, meu amigo, sempre me ajudando nos
momentos difíceis e sempre com boas histórias e risadas para dividir... meu
namorado, que me proporciona os melhores momentos do meu dia.
iv
SUMÁRIO
Resumo .....................................................................................................
v
Abstract ......................................................................................................
vi
I. Introdução ................................................................................................ 1
II.Revisão da Literatura ..............................................................................
2
II.1 Anatomia Cirúrgica ........................................................................... 2
II.2 Luxação Coxofemoral ......................................................................
3
II.3 Apresentação clínica ........................................................................ 4
II.4 Diagnóstico ...................................................................................... 5
II.5 Tratamento ....................................................................................... 5
II.5.1 Manejo Conservativo ............................................................. 6
II.5.2 Tratamento Cirúrgico ..............................................................
7
II.5.3 Sutura íliofemoral ................................................................... 9
II. 6 Prognóstico ...................................................................................... 11
III. Caso de Interesse .................................................................................
11
III.1 Anamnese e Exame físico ..............................................................
11
III.2 Confecção de âncora de titânio ....................................................... 13
III.3 Procedimento Cirúrgico ................................................................... 13
III.4 Pós- Operatório ...............................................................................
14
IV. Resultados............................................................................................. 16
V. Discussão...............................................................................................
17
VI. Conclusões............................................................................................
20
VII. Referências ..........................................................................................
20
v
Uso de âncora de titânio associada a fio poliéster trançado na
estabilização extra-articular para tratamento de luxação coxofemoral em
um cão.
RESUMO
As técnicas cirúrgicas extra-articulares para estabilização do quadril
luxado têm sido as mais estudadas, tendo em vista a manutenção da
integridade da cartilagem articular e a redução da progressão da doença
articular degenerativa. Dentre estas técnicas, a sutura de fixação íliofemoral,
tem se mostrado efetiva, com boa recuperação dos pacientes. O propósito,
com este trabalho, foi o de avaliar a âncora de titânio como método de fixação
do fio se sutura ao ílio, substituindo, assim, na técnica de fixação íliofemoral, a
trabalhosa manobra de passagem do material de sutura através de um túnel no
corpo ilíaco. Esta técnica foi realizada em um cão, sem raça definida, de 15 Kg
e 2 anos de idade, atendido no Hospital Veterinário da UNESP – Jaboticabal. O
paciente, vítima de atropelamento, apresentou-se com impotência funcional do
membro pélvico direito e dor no quadril. Ocorreram reluxações após tentativas
de redução fechada e o paciente foi submetido então à redução cirúrgica da
luxação por meio da sutura iliofemoral modificada. O paciente foi acompanhado
clínica e radiograficamente por 90 dias pós-operatório. Observou-se apoio com
carga no membro 3 dias após o procedimento e aos 10 dias o paciente não
mais claudicava. Não foram visibilizadas no exame radiográfico, osteólise
perimplante, ou o surgimento de osteófitos ou de esclerose articular. A sutura
ílio femoral, modificada pela utilização de uma âncora fixada ao ílio, mostrou-se
eficiente no tratamento da luxação coxofemoral crônica em um cão, não sendo
observada recidiva da luxação. Adicionalmente, a utilização da âncora de
titânio
facilitou
sobremaneira
a
fixação
do
significativamente o tempo cirúrgico.
PALAVRAS-CHAVE
Luxação coxofemoral, sutura íliofemoral, âncora.
fio
ao
ílio,
reduzindo
vi
Titanium anchor associated with nonabsorbable strand used in extraarticular stabilization of coxofemoral luxation in a dog
ABSTRACT
Surgical techniques for extra-articular stabilization of the traumatic coxofemural
luxation have been largely studied in veterinary medicine because that kind of
procedure keeps the integrity of articular cartilage and reducing progression of
degenerative joint disease. Among these techniques, iliofemoral suture fixation
has been proved as an effective technique, with excellent recovery of the
treated patients. The purpose of this study was to evaluate the titanium anchor
as a fixation method of the suture material in the ilium. It avoids the difficult
passing suture maneuver through the iliac body. This technique was tested in a
mixed breed dog, 15 kg, 2 years of age, referred in Veterinary Hospital of
UNESP – Jaboticabal with coxofemoral luxation. The patient, a victim of
vehicular trauma, was with functional impotence of the right hind limb and hip
pain. Reluxations occurred after attempted closed reduction, than the patient
was submitted to surgical dislocation reduction by the modified iliofemoral
suture. Recovery was assessed clinically and radiographically at 90 days
postoperatively. Weight bearing occurred 3 days after the procedure and 10
days later the lameness disappeared. Radiographic examination showed no
osteolysis around the implant, osteophytes or articular sclerosis. The iliofemoral
suture,with modification by titanium anchor association, was efficient in
treatment of chronic coxofemural luxation in a dog, with no observed recurrence
of the dislocation in the follow-up period. The use of titanium anchor greatly
facilitated the suture fixation in the ilium body, and significantly reducing the
operative time was observed.
.
KEY – WORDS: Coxofemural luxation, iliofemoral suture, anchor.
1
I. INTRODUÇÃO
As luxações são parte significativa dos casos ortopédicos observados na
medicina veterinária em pequenos animais. A luxação coxofemoral é a mais
comum, representando 50 a 90% de todas as luxações articulares (BONE;
WALKER; CANTWELL, 1984).
Objetivam-se, com o tratamento da luxação do quadril, reduzir a luxação
com o menor prejuízo possível para as superfícies articulares e estabilizar a
articulação, para permitir a cicatrização de tecidos moles (PIERMATTEI & FLO,
1999).
Inicialmente, faz-se redução fechada e fixação externa com bandagens,
entretanto, nos casos em que há grande lesão dos tecidos moles por longo
período de tempo, geralmente ocorre recidiva, mesmo se bem-sucedida a
redução fechada. A recidiva pode alcançar 50% e até 70% dos casos
(OZAYDIN et al., 2003; DENNY & BUTTERWORTH, 2006). Portanto, na
maioria deles, a redução cirúrgica é necessária (BARDET, 1997).
A grande variedade de técnicas cirúrgicas desenvolvidas para tratamento
da luxação coxofemoral demonstra que não há método de reparo ideal.
Problemas potenciais relacionados ao tratamento cirúrgico incluem reluxação,
migração ou falha de implantes, como no caso do uso de pino trans-articular ou
fixação externa, infecção e injúria da cartilagem articular, nos casos de técnicas
intra articulares (BONE; WALKER; CANTWELL, 1984; PIERMATTEI & FLO,
1999; MARTINI; SIMONAZZI; DEL BUE, 2001).
A sutura iliofemoral é uma técnica extracapsular para estabilização do
quadril
utilizada
com
sucesso
para
tratamento
da
luxação
(MEIJ;
HAZEWINKEL; NAP, 1992; MARTINI; SIMONAZZI; DEL BUE, 2001; DENNY &
BUTTERWORTH, 2006).
Com este trabalho propõe-se a modificação da técnica da sutura
iliofemoral associando-se uma âncora de titânio ao ílio, para fixação do material
de sutura, visando-se a proporcionarem-se, benefícios para realização do
procedimento, e a facilitarem-se as manobras cirúrgicas, reduzindo o tempo de
exposição e o risco de infecção.
2
II. REVISÃO DA LITERATURA
II.1 ANATOMIA CIRÚRGICA
O quadril é uma articulação diartrodial (bola e encaixe), onde a cabeça
do fêmur, hemisférica, encaixa-se em uma cavidade elipsóide, o acetábulo, no
interior do osso pélvico (DENNY & BUTTERWORTH, 2006). O acetábulo é
formado pelos ossos ílio, púbis, ísquio e acetabular. Estes quatro ossos
fundem-se na 12º semana de vida pós-natal, formando a cavidade acetabular,
que continua a se desenvolver em resposta à presença da cabeça femoral
(MANLEY, 1998).
A articulação coxofemoral (ACF) permite amplos ângulos de movimentos
em extensão, flexão, adução e abdução. Não há ponto final bem definido para
movimentação em qualquer dessas direções, sendo a tensão criada nos
tecidos
moles
periarticulares
e
intrarticulares,
tais
como
ligamentos,
musculatura e cápsula articular (DENNY & BUTTERWORTH, 2006). O principal
aspecto estabilizador dessa articulação é a sua própria configuração esferoidal,
onde o ligamento redondo e a cápsula articular são as principais estruturas de
tecido mole que se contrapõem à luxação (WADSWORTH, 1996).
O ligamento da cabeça do fêmur (ligamento redondo) estende-se desde
uma depressão na cabeça do fêmur denominada fóvea, até a fossa acetabular,
onde se funde com o periósteo e o ligamento acetabular transversal (Figura 1)
(MANLEY, 1998).
A cápsula articular é espessa e tensa revestindo a cabeça e parte do
colo femoral; produz líquido sinovial do qual a cartilagem articular deriva seus
nutrientes durante o movimento normal da articulação (JOHNSON & HULSE,
2005; MANLEY, 1998).
A ACF está circundada por vários grupos musculares volumosos, que
são importantes na sustentação, estabilidade e locomoção. Dentre os flexores
encontram-se: íliopssoas, tensor da fáscia lata, reto femoral e sartório.
3
Os extensores proporcionam a maior massa muscular desta região,
sendo eles os glúteos, o piriforme, o bíceps femoral, o semitendinoso, o
semimembranoso, o grácil e adutor. Há, ainda, os rotadores externos obturador externo e interno, quadrado femoral e iliopssoas - e os rotadores
internos: glúteos e tensor da fáscia lata.
II.2 LUXAÇÃO COXOFEMORAL
As luxações coxofemorais compõem parte significativa dos casos
ortopédicos observados na medicina veterinária em pequenos animais. O
quadril é a articulação mais frequentemente luxada no cão e no gato
(WADSWORTH, 1996). A maioria dos casos envolve pacientes acima de 1 ano
de idade. A lesão, que causaria a luxação em animais maduros, é causa
possível de fraturas da fise femoral, e não de luxação, em pacientes
esqueleticamente imaturos (WALLACE, 1991; DENNY & BUTTERWORTH,
2006).
As luxações coxofemorais em cães e gatos geralmente resultam de
traumas externos, sendo 59 a 83% decorrentes de traumatismos produzidos
por veículos. A maioria das lesões é unilateral. Ademais, em decorrência das
grandes forças requeridas para produzir a luxação, cerca de 50% têm lesões
4
importantes associadas, tais como traumatismos torácicos (BRINKER et al.,
1999).
Variando de acordo com o posicionamento que a porção proximal do
fêmur assume após o deslocamento, a luxação é classificada em dorsal,
craniodorsal, caudodorsal, ventral, ventrocaudal, ventrocranial, ou ainda,
intrapélvica, que é menos comum (WADSWORTH, 1996; PIERMATTEI & FLO,
1999).
As luxações craniodorsais são as mais frequentes, presumivelmente em
virtude da contração dos músculos glúteos, que são fortes extensores e
abdutores do quadril e, se inserem no trocânter maior do fêmur (PIERMATTEI
& FLO, 1999; MANLEY, 1998; DONE et al. 2002). Sua principal causa é um
forte traumatismo aplicado à região glútea, quando o trocânter maior colide
com o solo, a energia do golpe é transmitida do colo femoral até a cabeça
femoral. Esta é impulsionada por sobre a borda dorsal, lacerando a cápsula
articular e o ligamento redondo. Desse modo, a cabeça femoral passa a
repousar em sua posição mais comum de luxação, crânio-dorsalmente ao
acetábulo (WADSWORTH, 1996).
Além do ligamento redondo e da cápsula articular, outras estruturas
podem ser lesionadas, em decorrência da luxação. A musculatura, por
exemplo, sofre graus variados de injúria; a cartilagem articular pode sofrer
erosões associadas ao atritamento da cabeça femoral com o ílio; fragmentação
óssea do acetábulo e cabeça femoral em consequência da forte avulsão do
ligamento redondo e, ainda, fraturas do acetábulo, cabeça e colo femorais
(PIERMATTEI & FLO, 1999; MANLEY, 1998).
II.3 APRESENTAÇÃO CLÍNICA
A maioria dos pacientes tem histórico de trauma, geralmente
atropelamento, e não suporta peso sobre o membro.
A apresentação varia de acordo com o tipo de luxação. No caso de
luxação craniodorsal, a perna aduz, sofrendo rotação externa. Nas luxações
ventrocaudais, o membro é comumente mantido em abdução com rotação
interna (MANLEY, 1998; JOHNSON & HULSE, 2005).
5
Ao exame físico, nota-se dor na articulação coxofemoral. Quando a
luxação é craniodorsal pode-se palpar uma distância maior do que a normal
entre o trocânter maior do fêmur e a tuberosidade isquial (TOMLINSON, 1998,
MANLEY, 1998). Com o animal em decúbito lateral pode ser feito o teste de
deslocamento do polegar, no qual o polegar de uma das mãos do examinador
é pressionado na depressão caudal ao trocânter maior enquanto se faz rotação
externa do membro. Em uma articulação normal, o trocânter deve empurrar o
polegar para fora da depressão, o que não ocorre caso haja luxação
coxofemoral (HARASEN, 2005).
Deve-se observar o comprimento dos membros. Ao se praticar uma
extensão completa dos membros pélvicos, o afetado estará mais curto nas
luxações craniodorsais, e mais longo nas ventrocaudais. A comparação com o
lado não afetado, frequentemente revela assimetria na posição dos trocânteres
maiores (MANLEY, 1998). Crepitação pode ser sentida ao se colocar a mão
sobre a articulação e rotando-se o membro com a outra (WHITTICK, 1978).
II. 4 DIAGNÓSTICO
Embora, na maioria das vezes, a luxação possa ser determinada com
base nos sinais clínicos, é imperativo que radiografias sejam feitas para
confirmar o diagnóstico, identificar a direção da luxação e descartar as lesões
que apresentam sinais clínicos semelhantes. Estas lesões incluem fraturas do
acetábulo, da epífise, da cabeça ou colo femorais (PIERMATTEI & FLO, 1999).
É preciso verificar radiograficamente se não há avulsão da inserção do
ligamento redondo, uma vez que a presença de fragmentos ósseos no espaço
articular impede o sucesso na redução fechada (DENNY & BUTTERWORTH,
2006).
II.5 TRATAMENTO
Apesar
das
luxações
coxofemorais
não
serem
consideradas
emergências, é preciso tratá-las o mais rápido possível para se evitarem danos
contínuos nos tecidos moles circundantes e degeneração da cartilagem
6
articular (WALLACE, 1991; JOHNSON & HULSE, 2005).
Caso contrário,
formar-se-á pseudoartrose, resultando em graus variáveis de disfunção
(MANLEY, 1998).
O tratamento depende se o deslocamento traumático é recente ou não
(WHITTICK, 1978). Quanto mais tempo o quadril estiver deslocado, mais difícil
será sua redução, dada a contração muscular e a fibrose local (WADSWORTH,
1996).
II. 5.1 Manejo conservativo – redução fechada
A redução fechada é melhor realizada nas primeiras 48 horas da luxação
ou, no máximo, nos primeiros quatro a cinco dias (PIERMATTEI & FLO, 1999).
Deve ser o método de eleição em qualquer caso em que os danos aos tecidos
moles, articulares ou ósseos sejam pequenos (HARASEN, 2005). Ela não está
indicada em casos de avulsão da inserção do ligamento redondo. A redução
fechada deixará o fragmento ósseo no espaço articular, impedindo o encaixe
adequado da articulação ocorrendo recidiva da luxação (HARASEN, 2005).
Outro fator relacionado ao êxito na redução fechada é o local onde a
cápsula articular é rompida (Figura 2). O tipo B resulta em articulação muito
instável, no tipo C a cápsula impede a redução. O tipo A é o mais comum e o
que melhor responde bem à redução fechada.
7
Na maioria dos casos, desde que o acetábulo e a cabeça femoral não
sejam displásicos, é possível realizar a redução fechada por tração direta. O
paciente deve estar sob anestesia geral para que sejam feitas as manobras
(BARDET, 1997; DENNY & BUTTERWORTH, 2006).
Uma bandagem de Ehmer pode ser aplicada após as reduções fechadas
craniodorsais. Nas caudoventrais, as bandagens não são necessárias
(MANLEY, 1998). Se as técnicas de redução fechada falharem ou se o
deslocamento reincidir com persistência depois de repetidas reduções, torna-se
necessária a redução aberta com fixação (BARDET, 1997).
II. 5.2 Tratamento Cirúrgico – Redução aberta
Indica-se a redução aberta em casos de avulsão da fóvea ou quando,
com o procedimento conservativo, não se conseguiu manter a redução do
quadril (JOHNSON & HULSE, 2005).
Considerando-se que o insucesso nas reduções fechadas estão em
torno de 47 a 65%, alguns cirurgiões preferem, de pronto, a redução aberta
(PIERMATTEI & FLO, 1999).
Se possível, a articulação coxofemoral deve ser reduzida antes do
procedimento cirúrgico, o que facilita a dissecção. A escolha da abordagem
varia. Se a articulação é redutível, a abordagem craniolateral é apropriada. Se
necessário, pode ser expandida pela incisão do tendão do músculo glúteo
(PIERMATTEI & JOHNSON, 2004). A osteotomia do trocânter maior, pela
abordagem dorsal, também pode ser usada (MANLEY, 1998). Ela é o método
de escolha para luxações crônicas ou quando grande reconstrução é
necessária. Com a articulação exposta, os objetivos se voltam para a remoção
ou a redução de tecidos moles que se interponham ao acetábulo, o
reposicionamento da cabeça e femoral no acetábulo e, a sua estabilização
(BRINKER et al., 1999).
Inúmeras técnicas, intra e extra-articulares estão disponíveis para se
manter a articulação estável, até que ocorra a cicatrização da cápsula articular
(DENNY & BUTTERWORTH, 2006; SPRAKLIN ET AL. 2006; MANLEY, 1998;
JOHNSON & HULSE, 2005; BARROS, 2009).
8
A capsulorrafia primária tem sido indicada por alguns autores
(JOHNSON & HULSE, 2005; DENNY & BUTTERWORTH, 2006). Os mesmos
afirmam que a simples sutura da cápsula com fios absorvíveis sintéticos ou não
absorvíveis de maior calibre é suficiente (PIERMATTEI & FLO, 1999). Caso
haja grande comprometimento da cápsula, a reconstrução articular com
cápsula protética pode ser realizada (JOHNSON & HULSE, 2005).
A transposição do trocânter maior é uma das técnicas extra-capsulares
disponíveis. Realiza-se a osteotomia do trocânter e seu reposicionamento em
área mais caudal e distal à sua origem. A fixação pode ser feita com pinos
ortopédicos e fio de cerclagem em banda de tensão (JOHNSON & HULSE,
2005). Klesty et al. (1992) obtiveram sucesso ao utilizarem a técnica de
translocação caudodistal do trocânter maior, fixado com parafuso, em 53 cães.
São descritos, ainda, procedimentos cirúrgicos que visam à estabilização
da articulação coxofemoral por meio da aplicação de pinos (temporários) ou de
fios de sutura através do trocânter maior, em direção à cabeça do fêmur, até o
acetábulo. No caso de uso de fios, estes são fixados no acetábulo por meio de
implantes como âncoras ou pino em cavilha. Estas mimetizam os pontos de
inserção do ligamento redondo e proporcionam rápido retorno ao apoio do
membro (HICKMAN & WALKER, 1983; PIERMATTEI & FLO, 1999, SPRAKLIN
ET AL. 2006).
São descritas técnicas visando à estabilização articular, com o uso de
enxertos tais como a fáscia lata autógena, o centro frênico de eqüino
conservado em glicerina ã 98% e o pericárdio bovino, conservado da mesma
maneira. Estes tecidos podem ser utilizados na reconstituição da cápsula
articular e do ligamento redondo do fêmur em cães com luxação coxofemoral.
(BRANDÃO et al., 2002; RODASKI et al, 2002; BRANDÃO et al., 2006; SIA et
al., 2006).
Outra técnica de substituição do ligamento redondo é a de transposição
do ligamento sacrotuberal, na qual este é deslocado com um fragmento de
osso sacral e ambos conduzidos através de túnel, entre o acetábulo e a cabeça
e colo femorais, sendo e são fixados na região do trocânter maior. Os
resultados
obtidos
em
dez
cães
avaliados
foram
100%satisfatórios,
9
registrando-se, todavia, dificuldade na obtenção do segmento ligamentar
(OZAYDIN et al., 2003).
A colocefalectomia (excisão da cabeça e colo femorais) e a prótese total
de quadril ficam indicadas como técnicas de salvamento da articulação para
aqueles casos onde haja fratura irreparável da cabeça femoral ou acetábulo, ou
em casos de luxações recidivantes já tratados com métodos abertos e
fechados e abertos (MANLEY, 1998).
.
II. 5.3 Sutura íliofemoral
A sutura íliofemoral é uma técnica de estabilização extra-articular do
quadril descrita por Meij, Hazewinkel e Nap (1992). Trata-se da amarração do
ílio ao fêmur em rotação interna, utilizando-se fios inabsorvíveis como poliéster
trançado, náilon de pesca ou fios absorvíveis, como poliglactina 910 (MARTINI;
SIMONAZZI; DEL BUE, 2001; DENNY & BUTTERWORTH, 2006).
Para execução da técnica cirúrgica, deve ser feita exposição do ílio
cranial ao acetábulo. Um túnel é perfurado no ílio em direção lateromedial dorsoventral, 1 a 2 centímetros cranial ao acetábulo (Figura 3, A). O diâmetro
do túnel dependerá do tamanho do paciente. Um segundo túnel é perfurado na
base do trocânter maior do fêmur em ângulo de 90º, com o eixo axial do osso
(Figura 4, B). O material de sutura é passado através do orifício no ílio, em
direção lateromedial e recuperado com uma pinça mosquito para a lateral do
ílio (Figura 3, C e D). Uma das extremidades do fio é passada pelo túnel feito
no fêmur e a outra segue abaixo da musculatura glútea, em direção caudal,
onde se procede a amarração do nó (Figura 3, E). Durante o aperto do nó, o
membro deve permanecer abduzido e em rotação interna (MARTINI;
SIMONAZZI; DEL BUE, 2001).
A quantidade de fio a ser utilizada dependerá do tamanho do paciente e
da composição do material de sutura, por exemplo, poliamida, poliéster,
poliglactina (MEIJ; HAZEWINKEL; NAP, 1992; DENNY & BUTTERWORTH,
2006).
A atadura do material de sutura é o aspecto mais importante dá técnica,
pois a boa estabilidade é obtida mediante adequada tensão e correto
10
posicionamento do membro (MARTINI; SIMONAZZI; DEL BUE, 2001). O
método tem sido utilizado no tratamento de cães com luxação coxofemoral
aguda ou crônica, sendo observado o rápido apoio de carga do membro
afetado (MARTINI; SIMONAZZI; DEL BUE, 2001).
II.6 PROGNÓSTICO
Com o manejo apropriado, o prognóstico geralmente é bom em casos
não complicados. Taxas de insucesso de 47 a 67% têm sido relatadas para
tentativas simples de redução fechada da luxação coxofemoral, consideraseque 10 a 15% dos casos
tratados com redução aberta e estabilização
interna podem apresentar reluxação recorrente ( DENNY & BUTTERWORTH,
2006). A falha da redução aberta está relacionada com a estabilidade
conseguida após a redução, com o intervalo de tempo entre a luxação e o
tratamento, e com a
presença prévia de displasia coxofemoral ou doença articular degenerativa
(PIERMATTEI & FLO, 1999). A osteoartrose secundária à luxação é rara,
todavia, poderá ocorrer em alguns pacientes (DENNY & BUTTERWORTH,
2006).
11
Figura 3. Sutura ílio-femoral segundo Martini; Simonazzi; Del Blue, (2001). A realização do túnel no corpo do ílio; B – Perfuração do túnel no fêmur; C– Fios de
sutura passados através do orifício no ílio em direção lateromedial; D- Uma das
extremidades dos fios é passada pelo túnel feito no fêmur. E- A outra extremidade dos
fios de sutura é passada caudalmente, por baixo da musculatura glútea. O nó é
realizado na porção caudal do trocânter maior, mantendo os fios dispostos na forma
do número “8” (FONTE: MARTINI; SIMONAZZI; DEL BUE, 2001)
12
III. CASO DE INTERESSE
III. 1. ANAMNESE E EXAME FÍSICO
Foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias da UNESP – Campus Jaboticabal um cão, sem raça definida,
macho, com dois anos de idade e 15kg de peso. Havia histórico de
atropelamento cerca de vinte e quatro horas antes do momento da consulta. O
paciente apresentava-se com impotência do membro pélvico direito (MPD),
sem apoio
de carga, contudo encontrava-se alerta, sem alterações
neurológicas e com parâmetros fisiológicos para a espécie.
Os valores hematológicos e indicadores da função renal e hepática se
encontravam dentro da normalidade.
Ao exame físico, observou-se dor à movimentação da articulação
coxofemoral e edema. O posicionamento dos membros pélvicos em extensão
revelava “encurtamento” do MPD e, em posição quadrupedal, este membro
permanecia em leve adução, com rotação do joelho lateralmente e do tarso
medialmente.
Foram realizadas avaliações radiográficas da região pélvica, nas
projeções lateral e ventrodorsal (Figura 4), que confirmaram luxação
coxofemoral crâniodorsal.
Optou-se, pela realização de redução fechada. Para tanto, o paciente foi
submetido à anestesia geral intravenosa com propofol (dose-efeito), que
permitiu a manipulação adequada para recolocação da cabeça do fêmur no
acetábulo. A manobra foi realizada com sucesso e o paciente foi liberado
portando bandagem de Ehmer.
13
Decorridos doze dias, realizou-se nova avaliação. O paciente havia
retirado a bandagem e observa-se ainda impotência funcional do membro.
Constatou-se recidiva da luxação coxofemoral à radiografia. Decidiu-se, por
conseguinte pela redução cirúrgica.
III. 2. CONFECÇÃO DE ÂNCORA DE TITÂNIO
A técnica cirúrgica de escolha foi a sutura íliofemoral modificada. A
modificação consistiu da aplicação de um implante de titânio no corpo do ílio,
para ancoragem do fio de poliéster, que por sua vez foi fixado ao fêmur
conforme descrito na técnica original (MARTINI; SIMONAZZI; DEL BUE, 2001).
Foram confeccionadas âncoras de titânio auto atarrachantes e com
rosca para osso esponjoso. As âncoras apresentam “cabeça” com orifícios de 2
mm para passagem de fios, além de possuir encaixe cestavado para chave de
rosqueamento (Figura 5).
As âncoras foram embaladas e, em seguida, esterilizadas em autoclave
e armazenadas em ambiente seco até o momento da cirurgia.
14
III. 3. PROCEDIMENTO CIRÚRGICO
Sob anestesia epidural associada à anestesia geral inalatória, conforme
técnica rotineira para cirurgias da região dos membros pélvicos do Serviço de
Anestesiologia deste Hospital Veterinário, o animal foi posicionado em decúbito
lateral esquerdo. A pele do MPD e região pélvica direita, já tricotomizada, foi
preparada assepticamente com soluções de Clorexidine degermante à 2% e,
em seguida, com Clorexidine alcoólico à 0,9%. A porção distal do MPD foi
envolvida com malha tubular estéril.
Procedeu-se à abordagem crâniolateral da articulação coxofemoral
conforme técnica descrita por Piermattei e Johnson (2004), a qual permite a
exposição da porção caudal do corpo do ílio, e do terço cranial do acetábulo e
das porções cranial e dorsal da cabeça e colo femorais. Após exposição
cirúrgica, realizou-se reposicionamento aberto da cabeça do fêmur no
acetábulo.
Confeccionou-se um orifício no corpo do ílio, a uma distância de
aproximadamente 1,5 cm cranial à borda cranial do acetábulo (Figura 6, A). O
orifício foi realizado com broca de 3,5 mm de diâmetro. No local da perfuração,
fixou-se uma âncora de titânio de 4,5 mm de diâmetro e de 15 mm de
comprimento, associada a quatro fios de poliéster transado, número 2 (Figura
6, C e D).
15
Perfurou-se, também, o trocânter maior do fêmur, em sentido caudocranial, utilizando-se uma broca de 2,5mm (Figura 6, B). Através do túnel
formado no fêmur, foram passados quatro fios de poliéster, os quais foram
posicionados de modo que assumissem conformação semelhante ao número
“8”, concluídos os nós (Figura 6, E e F). Com o MPD em rotação interna,
procedeu-se a amarração dos fios com quatro nós simples.
A aproximação da musculatura e do tecido subcutâneo se deu
empregando-se sutura em padrão simples contínuo com fio poliglecaprone 25,
número 2-0. A pele foi aproximada com fio de nylon cirúrgico 3-0, em um
padrão simples interrompido.
Após recuperação anestésica, o animal foi liberado com a indicação de
uso do colar protetor e restrição de exercícios que exigissem grande esforço
III. 4. PÓS-OPERATÓRIO
Consistiu de Cefalexina (30mg/kg, a cada 12 horas) durante dez dias,
Tramadol (3 mg/ kg BID) por 6 dias e Meloxican (0,1 mg/kg SID) por 4 dias.
Foram realizadas radiografias no pós-operatório imediato e após 30, 60
e 90 dias. O paciente foi ainda avaliado clinicamente neste período, quanto ao
apoio do MPD e de dor na articulação coxofemoral afetada.
16
Figura 6. Sutura ílio femoral utilizando âncora de titânio e fio de poliéster transado. AÉ realizada uma perfuração no corpo do ílio; B- Outra perfuração é feita no trocânter
maior do fêmur; C- Quatro fios de poliéster número 2 são passados através do orifício
da âncora de titânio previamente à sua fixação no corpo do ílio; D- A âncora de titânio
é fixada com auxílio de uma chave cestavada, no orifício perfurado no corpo do ílio; EO fio quádruplo de poliéster é passado através do túnel no fêmur; F- Procede-se a
amarração dos fios em conformação do número ‘’8”. (FONTE: Arquivo pessoal)
17
IV. RESULTADOS
A avaliação radiográfica no pós-operatório imediato mostrou redução
efetiva da luxação de quadril e tamanho adequado do implante fixado no íleo
(Figura 7).
Na reavaliação após 3 dias, o paciente já apresentava apoio do MPD
com carga total no membro, tanto ao caminhar como ao correr.
A evolução clínica e radiográfica foi acompanhada periodicamente até
noventa dias pós-operatórios, quando o paciente apresentou-se sem alterações
na marcha e com ausência de qualquer manifestação de dor à manipulação.
Contudo, verificou-se a presença de aumento de volume flutuante no local da
ferida cirúrgica, já cicatrizada. Realizou-se a punção no local a qual revelou
líquido seroso contendo celularidade inflamatória discreta e ausência de
bactérias.
Na avaliação radiográfica aos 90 dias, não foram visibilizados sinais de
osteólise ao redor do implante no corpo do ílio. Ademais, não foram
observados sinais de degeneração da articulação (Figura 7).
18
V. DISCUSSÃO
O acesso cirúrgico crâniolateral proveu boa exposição do acetábulo, da
cabeça do fêmur e do corpo do ílio conforme descrito por Piermattei e Johnson
(2004), sendo possível a adequada realização das manobras cirúrgicas.
A estabilização extra-articular com âncora de titânio mostrou-se um método
simples e efetivo para tratamento da luxação coxofemoral crônica. A
associação deste implante ao corpo do ílio facilitou sobremaneira a execução
da fixação íliofemoral.
Alguns autores descreveram a realização de dois túneis para passagem do
material de sutura, um no fêmur e outro no ílio. (MEIJ; HAZEWINKEL; NAP,
1992; MARTINI; SIMONAZZI; DEL BUE, 2001). A passagem do fio pelo túnel
confeccionado no ílio é uma etapa trabalhosa e problemática da técnica, tendo
em vista a necessidade de se alcançar a porção medial do corpo do ílio com
uma pinça hemostática curva, para resgatar o fio de sutura. Esta manobra
requer desinserção do músculo íliopssoas e potencial risco de lesão do nervo
obturatório ou até mesmo o nervo femoral. Ademais, dependendo do porte do
paciente, há a necessidade da passagem de três ou mais fios por este túnel
tornando a manobra ainda mais trabalhosa (DONE, et al, 2002; MARTINI;
SIMONAZZI; DEL BUE, 2001; DENNY & BUTTERWORTH, 2006).
Com a utilização da âncora, foi possível abreviar e facilitar a fixação do
material de sutura no ílio. Este pôde ser passado pelo orifício presente na
âncora previamente à fixação do implante no osso, o que evitou a necessidade
de acesso à porção medial do corpo do ílio. Além disso, a âncora possui
encaixe para chave cestavada, sendo facilmente rosqueada no orifício
previamente realizado, sem necessidade a de macheamento.
O tipo de rosca que a âncora possui, auto-atarrachante e para osso
esponjoso, proporcionou encaixe firme ao osso e resistência à tração durante o
procedimento cirúrgico e no período pós- operatório, não sendo observados
deslocamentos ou osteólise ao redor do implante.
Segundo Denny e Butterworth (2006), a fixação íliofemoral age de
maneira similar à tipóia de Ehmer, pois mantém a articulação coxofemoral
rotacionada internamente, evitando a reluxação, enquanto ocorre a cicatrização
19
dos tecidos moles. Por esta razão, estes autores afirmam que os pacientes
tendem a apresentar piora no caminhar durante algumas semanas e,
subitamente,
retornam
ao
normal,
presumivelmente
em
virtude
do
afrouxamento da sutura.
No caso descrito, a recuperação ocorreu de forma diferente do que
Denny e Butterworth (2006) afirmaram. O paciente não apresentou piora na
claudicação em qualquer dos momentos pós-operatórios, em comparação com
sua apresentação clínica no pré-operatório. Foi observado apoio precoce do
MPD, com apenas três dias do procedimento. Estes eventos podem ser
atribuídos à ausência de deformidades na cabeça do fêmur e do acetábulo o
que permitiu excelente coaptação articular após redução. Ademais, pode-se
atribuir a rápida recuperação do animal ao grau de rotação realizada no
membro durante a atadura do nó, que pode ter sido suficiente para evitar uma
reluxação, não sendo, contudo, suficiente para causar grande incômodo para o
paciente, que teve ambulação normal tão precocemente após a cirurgia.
Apesar da similaridade do mecanismo entre a bandagem de Ehmer e a
fixação iliofemoral, esta técnica possibilita a rápida utilização do membro,
diferentemente da primeira. Trata-se de uma grande vantagem, notadamente
naqueles pacientes com múltiplas injúrias ortopédicas, os quais necessitam,
muitas vezes, de se manterem em estação em apenas dois ou três membros.
Adicionalmente, esta similaridade faz com que não seja necessária a
imobilização pós-operatória, o que reduz substancialmente o grau de atrofia
muscular, proliferação de tecido fibroso periarticular e contratura pericapsular,
contribuindo para a recuperação do paciente (BOJRAB, 1993; MARTINI;
SIMONAZZI; DEL BUE, 2001; DENNY & BUTTERWORTH, 2006). Nenhuma
forma de imobilização do paciente foi utilizada após a cirurgia, sendo o animal
encorajado a usar o membro tão logo fosse possível, apenas com restrição de
exercícios pesados. A boa recuperação obtida valida, mais uma vez, as
afirmações destes autores.
A natureza extra-capsular desta técnica evita danos iatrogênicos à
articulação (MEIJ; HAZEWINKEL; NAP, 1992). Este fator, associado a já
mencionada ausência de deformidades na cabeça do fêmur e do acetábulo,
pré-existentes, provavelmente são a base para justificar o fato de não terem
20
sido constatados sinais clínicos ou radiográficos de doença articular
degenerativa durante as avaliações.
O material de sutura a ser utilizado para fixação íliofemoral pode ser
absorvível ou inabsorvível. Meij; Hazewinkel e Nap, (1992), utilizaram poliéster
de tamanhos variados em 14 cães e 3 gatos submetidos à referida técnica para
tratamento da luxação coxofemoral. Os autores afirmaram que durante 20
meses de acompanhamento pós-cirúrgico, não foi observada formação de
fistula pelo uso de fio de sutura multifilamentar em qualquer dos pacientes. Em
contrapartida, Martini; Simonazzi e Del Bue (2001) descreveram a sutura
iliofemoral utilizando fio multifilamentar absorvível (Poliglactina 910) baseados
nos potenciais riscos descritos de infecções, formação de fistula ou mesmo de
neoplasias, que podem decorrer do uso de fios não absorvíveis. Martini;
Simonazzi e Del Bue (2001) realizaram a estabilização extra-articular
empregando a poliglactina 910, com excelentes resultados, em 14 cães, não
sendo observadas reluxações ou formação de fístula por até 11,6 meses de
avaliação.
No presente caso, aos 90 dias, o paciente apresentou aumento de
volume na região da cirurgia sem, contudo, apresentar alterações na marcha. A
análise do líquido puncionado não revelou a presença de contaminantes,
podendo-se
concluir
que
não
havia
infecção
bacteriana.
Entretanto,
encontraram-se células inflamatórias. Avaliações posteriores serão necessárias
para se averiguar a evolução da reação ao material de sutura utilizado, que
deverá ser removido caso seja necessário. Com base nos resultados de
Martini; Simonazzi e Del Bue (2001), é conveniente que sejam realizados
estudos utilizando-se fios de sutura absorvíveis associados à âncora de titânio.
VI. CONCLUSÕES
1- A sutura ílio femoral, modificada pela da utilização de implante de
titânio fixado ao ílio, mostrou-se eficiente no tratamento da luxação coxofemoral
crônica de cão, não sendo observada recidiva da luxação num período máximo
de 90 dias;
21
2- A utilização da âncora de titânio facilitou sobremaneira a fixação do fio
ao ílio, reduzindo o tempo cirúrgico;
3- A âncora de titânio manteve-se fixa ao ílio, não sendo observados
sinais de osteólise.
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