Perfil nutricional de praticantes de badminton (PDF

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FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 7 número 2 - maio/agosto 2008
EDITORIAL
Novos desafios, Walace D. Monteiro .......................................................................................................................... 55
ARTIGOS ORIGINAIS
Perfil nutricional de praticantes de badminton, Heloá Urban Papadopoli,
Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Nathalia Caldeira, Marcia Nacif ........................................................................ 56
Avaliação da qualidade de vida em pacientes submetidos à revascularização
do miocárdio que realizaram reabilitação cardíaca fase I, Jaime Luiz Nunes de Aguiar,
Fabiano Souza Barbosa, André Luis dos Santos Silva, Hélio Ricardo dos Santos,
Lamara Laguardia V. Rocha, Natália Cardoso Lima, Daniel Almeida da Costa,
Marcus Vinícius de Mello Pinto .................................................................................................................................. 60
Análise comparativa de testes laboratoriais de esteira e de campo para determinar
a freqüência cardíaca máxima e o consumo máximo de oxigênio em mulheres
saudáveis, Lawrens Fabrício Cardozo Makkai, Daniela Fantoni de Lima Alexandrino,
Janaína Lubiana Altoé, Cintia Lúcia de Lima, João Carlos Bouzas Marins ................................................................... 67
Consumo de recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes de musculação
das academias de Santa Maria, RS, Cati Reckelberg Azambuja, Daniela Lopes dos Santos ........................................ 74
REVISÕES
Treinamento de força muscular em portadores da síndrome da fibromialgia,
Sérgio Siqueira Teotônio, José Sílvio de Oliveira Barbosa ............................................................................................. 81
Estudo sobre os fatores geradores de fadiga muscular, Daniela Silva Scalon,
Vanessa Rodrigues Figueiredo, Dernival Bertoncello ................................................................................................... 93
OPINIÃO
Protocolo de recondicionamento físico após lesão nas categorias de base
de futebol no São Paulo Futebol Clube, Marco Aurélio Buchaim Regos,
Marcus Vinicius Grecco ............................................................................................................................................ 100
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 106
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 108
54
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
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FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
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Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
55
Editorial
Novos desafios
Walace D. Monteiro
Editor Associado da RBFEx
Este volume da Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício (RBFEx) concretiza a retomada da proposta
original de publicação trimestral do periódico. A partir de
2008 a revista retoma sua periodicidade, graças ao empenho de algumas pessoas que insistiram em não abandonar
o projeto de criação da Sociedade Brasileira de Fisiologia
do Exercício, da qual a RBFEx é órgão oficial. Além de
manter a periodicidade da revista, o próximo desafio recai
na indexação da mesma em algumas bases de dados para
o seu crescimento. Esse trabalho já está sendo realizado,
para que no próximo ano possamos aumentar o impacto
das publicações, o que despertará maior interesse dos pesquisadores da área.
Visando aumentar a demanda de artigos encaminhados à revista a partir de 2009, estamos criando áreas específicas relacionadas à fisiologia do exercício. Desta forma,
a revista passará a conter sessões direcionadas aos seguintes
aspectos: a) fisiologia do exercício aplicada ao treinamento
de alto rendimento; b) fisiologia do exercício aplicada ao
condicionamento físico de não-atletas; c) fisiologia do
exercício aplicada à prescrição de exercícios para populações
com necessidades especiais (criança, idosos, indivíduos com
problemas de saúde); d) fisiologia do exercício e nutrição;
e) fisiologia do exercício e morfologia corporal; f ) fisiologia básica. Também serão aceitos artigos de revisão sobre
temas aplicados as diferentes áreas que compõem a revista.
Por fim, é importante destacar que estamos reformulando
o sistema de envio de manuscritos através de submissão
on-line, facilitando o envio dos trabalhos para a RBFEx.
Novos revisores serão adicionados ao grupo existente para
agilizar os pareceres dos trabalhos encaminhados, o que é
fundamental para a manutenção da periodicidade e qualidade da revista. Todas essas inovações estão sendo possíveis
devido à estrutura da Atlântica Editora, que sempre nos
apoiou e incentivou.
Além de melhorar a consistência do periódico, as
inovações implementadas na RBFEx têm um desafio maior,
que é fomentar a retomada das atividades da Sociedade
Brasileira de Fisiologia do Exercício. Reconhecemos que
esse é um passo mais ambicioso, contudo, viável de ser
atingido e esperamos que a RBFEx possa contribuir. É
claro, as mudanças implementadas de nada adiantarão sem
a colaboração dos pesquisadores, enviando trabalhos para
serem publicados. Acreditamos que a maior diversificação
de áreas relacionadas à fisiologia do exercício, bem como
a retomada da periodicidade da revista sejam passos nessa
direção. Mais uma vez agradecemos aos que ajudaram e
conclamamos os interessados para enviar estudos e sugestões para o aprimoramento da revista.
56
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Artigo original
Perfil nutricional de praticantes de badminton
Nutricional profile of badminton players
Heloá Urban Papadopoli*, Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia*, Nathalia Caldeira*, Marcia Nacif, D.Sc. **
*Graduandas em nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar pelo HC –
FMUSP, Professora do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Paulista
Resumo
Abstract
Introdução: O badminton é um esporte individual ou de duplas,
semelhante ao tênis, praticado com raquete e uma peteca. Esta atividade física é do tipo intermitente, e exige força, velocidade, agilidade,
bons reflexos e resistência. O presente estudo teve como objetivo
realizar a avaliação dos parâmetros antropométricos e nutricionais
de atletas integrantes de uma equipe competitiva de badminton,
filiados a um clube da zona sul de São Paulo. Métodos: A amostra foi
composta por 6 atletas adolescentes, sendo verificados peso, altura,
circunferências, dobras cutâneas e dados referentes ao consumo
alimentar. Resultados: Segundo o índice de massa corpórea, 16,7%
dos jogadores apresentaram sobrepeso, enquanto 83,3% estavam
eutróficos. Em relação ao percentual de gordura corporal, 66,7%
estavam acima dos padrões recomendados, e 33,33% apresentavam
percentual de gordura adequado. O consumo médio de carboidratos,
lipídios, ferro e cálcio estavam inadequados, enquanto ao consumo
de proteínas, vitaminas A e C se mostraram adequados. Conclusão:
São necessárias intervenções nutricionais, a fim de otimizar o desempenho atlético dos jogadores de badminton estudados.
Background: The badminton is a sport of individual or double,
similar to tennis, practiced with racket and a shuttle. This physical
activity is intermittent, and requires strength, speed, agility, good
reflexes and endurance. This study aimed to carry out the evaluation
of anthropometric and nutrition parameters of athletes members of
a competitive team of badminton, affiliated to a club of the south
area of São Paulo. Methods: The sample was composed of 6 athletes
adolescents, and checked weight, height, circumferences, skinfold
thickness and data on food consumption. Results: According to the
body mass index, 16.7% of the players showed overweight, while
83.3% were normal. Regarding the percentage of body fat, 66.7%
were above the recommended standards, and 33.33% had adequate
percentage of fat. The average consumption of carbohydrates, lipids, iron and calcium were inadequate, while the consumption of
protein, vitamins A and C were adequate. Conclusion: Nutritional
interventions are needed, in order to optimize the performance of
badminton players.
Palavras-chave: badminton, consumo alimentar, adolescente,
antropometria.
Key-words: badminton, food consumption, teenager,
anthropometry.
Recebido 12 de abril de 2008; aceito em 18 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Rua Doutor Roberto Zwicker, 78, 02835-010 São Paulo SP,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
O badminton é um esporte individual ou de duplas,
semelhante ao tênis, praticado com raquete e uma peteca ou
volante. O objetivo do jogo é, usando a raquete, rebater a
peteca sobre a rede para a quadra do adversário, sem deixar a
peteca tocar no chão. Aquele que deixar a peteca cair dentro
do seu lado da quadra, ou rebater a peteca para fora da quadra,
perde a jogada. O jogo tem duração máxima de três “games”,
o famoso melhor de três, sendo o vencedor do game aquele
jogador que atingir antes 21 pontos [1].
Esta atividade física é do tipo intermitente e exige força,
velocidade, agilidade, bons reflexos e resistência. Esse esporte
que teve sua origem na Índia, atualmente é praticado por
equipes de todos os continentes, sendo mais de 130 membros
da Federação Intermacional de Badminton (IBF) [2]. Sua
popularidade aumentou em decorrência de sua inclusão como
esporte oficial nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992,
nos Jogos Pan-Americanos de Mar del Plata, Argentina, em
1995, e principalmente no Brasil pelos Jogos Pan-Americanos
Rio 2007 [3].
Praticantes de atividade física tem uma demanda energética aumentada pelo organismo, pois a energia correponde
diretamente à capacidade do indivíduo realizar o trabalho. A
avaliação nutricional e o cálculo das necessidades nutricionais,
levando em consideração a modalidade praticada, a fase de
treinamento e os objetivos da equipe são essenciais para uma
boa performance do atleta [4].
A alimentação adequada de praticantes de atividade física
e de atletas é essencial para a manutenção da saúde, controle
do peso e da composição corporal, melhora do rendimento em
treinamentos e competições. Os nutrientes fornecem a energia
necessária para o trabalho realizado durante a atividade física,
além de otimizar a obtenção e utilização dessa energia [5].
O excesso de peso e, mais especificamente, o excesso de
gordura corporal podem ser vistos como um fator de limitação
da performance dos atletas. As características da composição
corporal dos atletas podem guiar os treinadores, preparadores
físicos e fisiologistas do exercício com informações relevantes
no decorrer de um processo de treinamento seja num determinado momento, seja durante toda uma temporada ou mesmo
em toda sua vida atlética [6].
Tendo em vista a necessidade de se conhecer melhor as particularidades de um esporte cada vez mais em ascensão como
o badminton e as características de seus atletas, o presente
estudo teve como objetivo realizar a avaliação dos parâmetros
antropométricos e nutricionais de atletas integrantes de uma
equipe competitiva de badminton, filiados a um clube da
zona sul de São Paulo – SP.
Material e métodos
Estudo transversal realizado em um clube localizado na
zona sul da cidade de São Paulo, com 6 adolescentes, 2 do
57
sexo feminino e 4 do sexo masculino, com idades entre 14 a
19 anos, praticantes de badminton.
Para a avaliação antropométrica, verificou-se o peso
corporal a partir de balança digital (marca Gradiente®, com
capacidade de 150 kg e intervalo 100 g) com a pessoa descalça,
usando roupas leves e sem nenhum acessório. O adolescente
foi orientado a ficar de costas para a balança, ereto, com os
pés juntos e braços estendidos ao longo do corpo. A altura foi
verificada utilizando-se uma fita métrica inelástica (milimetrada, da marca Fiber-glass Japan Butterfly) fixada na parede,
sem relevos, onde o adolescente também permaneceu com os
pés descalços, ereto, com os braços estendidos, cabeça livre de
adereços e erguida. Os calcanhares, nádegas e ombros foram
encostados na parede e a medição foi feita com auxílio de um
esquadro (da marca AD Designer).
Foram medidas as circunferências de braço, cintura, quadril e abdômen, com o auxílio de uma fita métrica inelástica (a
mesma utilizada para verificar a estatura). As dobras cutâneas
foram verificadas com o auxílio de adipômetro (da marca
Cescorf – Equipamentos Ltda.).
O IMC foi calculado através da fórmula P/h² (na qual,
P = peso e h = altura). Os pontos de corte utilizados foram
àqueles propostos pela curva de IMC/IDADE da Organização
Mundial da Saúde [7].
O risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares
foi estimado a partir dos valores de perímetro abdominal,
segundo a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da
Sociedade Brasileira de Cardiologia [8] e os pontos de corte
para análise do abdômen isolado são: mulheres com valores
de CA acima de 80 cm e homens com valores de CA maiores
a 94 cm foram classificados como apresentando um acúmulo
de gordura abdominal considerado como risco associado ao
desenvolvimento de doenças ligadas à obesidade.
A porcentagem de gordura foi calculada segundo as equações de Slaughter [9] e classificada de acordo com os pontos
de corte de Deurenberg [10].
Para a avaliação do consumo alimentar foi aplicado um
recordatório de 24 horas aos atletas, a fim de avaliar a adequação nutricional, em relação ao valor calórico, macro e
micronutrientes. Estes dados foram calculados por meio do
software Avanutri.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário São Camilo, por meio do
documento 047/05.
Resultados
Foram avaliados 6 atletas com idade média de 16 anos.
Todos treinavam badminton com freqüência de 6 vezes na
semana, tendo os treinos duração de 2 horas.
Na tabela I podem ser observados os valores médios,
mínimos e máximos e desvios-padrão obtidos na avaliação
antropométrica dos atletas.
58
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela I - Valores médios, mínimos, máximos e desvios-padrão dos
parâmetros antropométricos dos jogadores adolescentes de badminton.
São Paulo, 2008.
Parâmetros antropométricos
Peso (kg)
Estatura (cm)
IMC (kg/m²)
Circunferência do
braço (cm)
Circunferência abdominal (cm)
Circunferência do
quadril (cm)
Circunferência da
cintura (cm)
Dobra cutânea triciptal (mm)
Dobra cutânea biciptal (mm)
Dobra cutânea
suprailiaca (mm)
Dobra cutânea
abdominal (mm)
Dobra cutânea subescapular (mm)
% de gordura
ferro e cálcio está abaixo do recomendado pela Diretriz da
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte [4].
Média
60,5
165
22,2
Desviopadrão
5,43
7,38
1,08
MáxiMínimo mo
53,5
68
156
177
20,86 24,09
27,78
1,86
26
31,5
80,6
4,4
75,5
86,5
95,58
3,12
91,5
99,5
73,86
4,97
71
80,5
15,5
3,69
10
20
10,5
2,87
6
14
Discussão
15
4
9
21
20
6,83
11
31
10,8
21,38
1,46
4,28
9
14,6
13
25,7
A composição corporal e a força muscular podem tanto
refletir no estado de saúde como predizer o desempenho em
determinadas modalidades esportivas [12]. Tendo em vista a
falta de estudos realizados com atletas e praticantes de badminton, é muito difícil precisar quais são as exigências fisiológicas
ocasionadas pela prática deste esporte e os reflexos que essas
exigências acarretarão na composição corporal dos jogadores.
Os jogadores adolescentes de badminton, participantes
do presente estudo, mostraram-se eutróficos em sua maioria
em relação ao IMC, dado também observado por Nunes e
Pazin [13], em estudo com jogadores adolescentes de tênis
de campo.
Em estudo com jogadores de basquete com idade média
de 15,1 anos foi observado que 57,1% dos adolescentes apresentavam percentual de gordura corporal acima dos padrões
recomendados, e nenhum atleta apresentava percentual de
gordura baixo ou muito baixo [14]. No presente estudo foram
observados 66,7% dos atletas com percentual de gordura
acima dos padrões recomendados por Deurenberg et al. [10]
e nenhum atleta apresentou percentual de gordura baixo ou
muito baixo.
A adequação do consumo energético e nutricional é essencial para a manutenção da performance, da composição
corporal e da saúde desses indivíduos. A baixa ingestão de
energia pode resultar em fornecimento insuficiente de importantes nutrientes relacionados ao metabolismo energético,
à reparação tecidual, ao sistema antioxidante e à resposta
imunológica [15].
O consumo energético médio encontrado foi de 2349,72
Kcal. Apesar de se considerar uma grande variação individual
do gasto energético, estes valores merecem uma análise cuidadosa, pois desvios no consumo de energia trazem consigo
alterações metabólicas e fisiológicas.
A avaliação do estado nutricional dos atletas, por meio do
indicador IMC, mostrou que 16,7% (n = 1) dos jogadores
apresentaram sobrepeso (classificados entre os percentis 85 e
97), enquanto 83,3% (n = 5) estavam eutróficos.
Com relação aos valores de percentual de gordura corporal,
verificou-se que 66,7 % (n = 4), estavam acima dos padrões
recomendados por Deurenberg et al. [10], e 33,33% (n = 2)
apresentavam percentual de gordura adequado.
De acordo com a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias
e Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia [8], nenhum atleta
apresentou risco para doenças cardiovasculares.
Na Tabela II podem ser observados valores médios e
desvio-padrão de calorias, macronutrientes e micronutrientes
do recordatório de 24h dos atletas de badminton.
Em relação ao consumo alimentar pôde-se observar que
o consumo médio de carboidratos dos atletas está abaixo do
recomendado, que é de 60-70% do aporte calórico segundo
a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, enquanto
que a média do consumo de lipídios está acima dos 30% do
VET recomendados por esta Instituição. Quanto à ingestão
média de proteínas verificou-se que os valores consumidos
pelos atletas estão de acordo com a recomendação de 1,2 a
1,6 g/kg/peso [4].
A média de ingestão das vitaminas A e C está adequada,
segundo as DRIs [11]. De forma contrária, a ingestão de
Tabela II - Valores médios e desvios-padrão de calorias, macro e
micronutrientes do recordatório de 24h dos jogadores adolescentes
de badminton. São Paulo, 2008.
Calorias, macro e micronutrientes
Carboidrato (% VET*)
Lipídio (% VET)
Proteína (% VET)
Caloria
Vitamina A (μg)
Vitamina C (mg)
Ferro (mg)
Cálcio (mg)
Média
49,79
34,3
15,92
2349,72
665,48
123,87
12,65
576,22
Desvio
padrão
7,93
5,59
3,89
201,34
266,13
97,9
5,73
292,33
*VET = Valor Energético Total
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
As recomendações de carboidratos para atletas são de
6-10 g/kg de peso corporal por dia ou 60-70% da ingestão
energética diária; entretanto, a necessidade individual dependerá do gasto energético, da modalidade esportiva, do
sexo e das condições ambientais. A média de consumo de
carboidratos foi de 49,79% do VET neste estudo, estando
abaixo do recomendado. O consumo adequado de carboidratos é fundamental para a otimização dos estoques iniciais
de glicogênio muscular, a manutenção dos níveis de glicose
sangüínea durante o exercício e a adequada reposição das
reservas de glicogênio na fase de recuperação [4,15].
Em geral, a ingestão dietética de lipídios de atletas deve
seguir as recomendações para a população geral, ou seja, não
deve ultrapassar 30% do VET. No presente estudo observouse um consumo médio de 34,3% do VET, sendo este um
valor acima da recomendação e que exige atenção, pois o
elevado consumo de lipídios pode significar um déficit na
ingestão de carboidratos, dado observado no presente estudo,
representando menores quantidades de glicogênio e perda de
performance [4,5].
As proteínas contribuem para o fornecimento de energia
em exercício de endurance, sendo ainda necessária na síntese
protéica muscular no pós-exercício. Atualmente, recomendase que os atletas de endurance tenham uma ingestão diária de
proteínas entre 1,2 a 1,6 g/kg/peso corporal [4]. O consumo
médio de proteínas encontrado foi de 15,92% do VET,
estando adequado.
As vitaminas e minerais participam de processos celulares
relacionados ao metabolismo energético; contração, reparação
e crescimento muscular; defesa antioxidante e resposta imune. Contudo, tanto o exercício agudo como o treinamento
podem levar a alterações no metabolismo, na distribuição e
na excreção de vitaminas e minerais. Em vista disso, as necessidades de micronutrientes específicos podem ser afetadas
conforme as demandas fisiológicas, em resposta ao esforço
[16]. A média de ingestão das vitaminas A e C estava adequada
segundo as DRIs.
A ingestão média de ferro e cálcio se mostrou insuficiente
em todos os atletas. O consumo insuficiente de ferro causa
fadiga e anemia, diminuindo o desempenho e interferindo no
treinamento. Recomenda-se atenção especial ao consumo de
alimentos com ferro, de elevada biodisponibilidade [4,16].
O consumo adequado de cálcio é particularmente importante para a mineralização adequada e manutenção do osso em
crescimento, prevenindo a ocorrência de fraturas e também a
osteoporose. Esta substância é perdida no suor e o exercício
pode aumentar sua necessidade em atletas [16,17].
Conclusão
Embora a maioria dos atletas tenha se apresentado eutrófico em relação ao IMC, houve elevada prevalência de
indivíduos com porcentagem de gordura acima dos padrões
recomendados.
59
Analisando os dados de ingestão de macronutrientes e
micronutrientes, acredita-se que sejam necessárias intervenções nutricionais, a fim de otimizar o desempenho atlético
dos jogadores de badminton.
Assim, são necessários mais estudos sobre avaliação do
estado nutricional e de hábitos alimentares, e que visem a
determinação do gasto energético e do perfil ideal de jogadores
e praticantes desta modalidade esportiva.
Referências
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[citado 2008 Fev 17]. Disponível em: URL: http://www.fpbadminton.pt/BadmintoneaHistoria.pdf
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[citado 2008 Fev 13]. Disponível em: http://www.badminton.
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60
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Artigo original
Avaliação da qualidade de vida em pacientes
submetidos à revascularização do miocárdio
que realizaram reabilitação cardíaca fase I
Evaluation of quality of life in patients submitted
to myocardial revascularization that participated in a phase I
cardiac rehabilitation program
Jaime Luiz Nunes de Aguiar, Esp*, Fabiano Souza Barbosa, Esp*, André Luis dos Santos Silva, D.Sc.*, Hélio Ricardo dos
Santos, D.Sc.*, Lamara Laguardia V. Rocha, M.Sc.*, Natália Cardoso Lima**, Daniel Almeida da Costa, Esp ***, Marcus
Vinícius de Mello Pinto, D.Sc.****
*Fisioterapeutas, Professores da Faculdade de Minas (FAMINAS – MG), **Graduanda em Fisioterapia da Faculdade de Minas
(FAMINAS – MG), ***Médico, Professor da Faculdade de Minas. FAMINAS – MG e Mestrando em Ciências da Reabilitação do
Centro Universitário de Caratinga – MG, ****Professor e Pesquisador do Laboratório de Inflamação, Dor e Laser – LABIINFLA do
Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação do Centro Universitário de Caratinga – MG
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio que
participaram de um programa de reabilitação cardíaca fase I. Foram
incluídos neste estudo 11 indivíduos de ambos os sexos (63,63% do
sexo masculino e 36,36% do feminino) com faixa etária variando
entre 33 e 73 anos e submetidos à cirurgia de revascularização do
miocárdio, com quadro clínico estável, participantes do programa
de reabilitação cardíaca fase I. Os dados foram obtidos após realização da cirurgia utilizando como instrumento o questionário
WHOQOL-Bref. A análise dos resultados aponta um nível de
satisfação elevada em várias modalidades avaliadas; 63,60% dos pacientes classificam sua qualidade de vida como boa e têm capacidade
de locomoção funcional. Apesar de revelarem que a dor é um fator
limitante de algumas atividades (45,40%) e que houve prejuízo em
relação ao sono (45,40%); consideram-se satisfeitos na capacidade de
realizar atividades diárias (63,60%). Este estudo sugere os benefícios
da reabilitação cardíaca fase I, a qual proporcionou autoconfiança e
retorno às atividades diárias.
The objective of this study was to evaluate quality of life of
patients who underwent myocardial revascularization surgery and
participated in a phase I cardiac rehabilitation program. 11 individuals of both genders (63.63% male and 36.36% female), aged 33-73
years old, were submitted to myocardial revascularization surgery,
with stable clinical course, and carried out a phase I cardiac rehabilitation program. Data were obtained after a surgery’s procedure,
by using a questionnaire WHOQOL-Bref. The results suggested a
high level of treatments satisfaction; 63.60% of the patients classified
their life quality as good and have locomotor capacity. Although
they confirm that the most common activity limitation was pain
(45.40%) and had some problems to sleep (45.40%) they were
satisfied to perform daily activities (63.60%). This study suggests
the benefits of phase I cardiac rehabilitation, which have provided
self-confidence and return to daily activities.
Key-words: myocardial revascularization, quality of life, cardiac
rehabilitation.
Palavras-chave: revascularização do miocárdio, qualidade de
vida, reabilitação cardíaca.
Recebido em 12 de março de 2008; aceito em 19 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Marcus Vinícius de Mello Pinto, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
A reabilitação cardíaca (RC) é o processo de desenvolvimento e manutenção do nível desejável de atividade física,
social e psicológica após o início da doença coronária sintomática. Os maiores objetivos são: melhora da capacidade
funcional e da qualidade de vida, mudança de hábitos após
evento coronário, modificação dos fatores de risco e redução
dos índices de mortalidade.
Os benefícios ocorrem a partir de oito semanas, destacando-se os aumentos entre 30% e 40% do consumo máximo de
oxigênio e entre 30% e 35% na capacidade de exercício.
Melhora da qualidade de vida e estabilidade psicológica
também são relatadas após período de 3 a 6 meses [1].
A avaliação da qualidade de vida (QV) é de suma importância, uma vez que permite perceber o impacto que a doença
e as terapêuticas têm nas diferentes áreas de funcionamento do
doente, estendendo-se desde o nível somático, com a avaliação
dos sintomas físicos, a capacidade funcional e o sono, até à
avaliação das respostas emocionais, da capacidade de recreação
e sensação de bem-estar.
A fase I da RC aplica-se ao paciente internado. É o passo inicial em direção a uma vida ativa e produtiva. Devem
predominar a combinação de exercício físico de baixa intensidade, técnicas para o controle do estresse e programas de
educação em relação aos fatores de risco. O programa, nesta
fase, objetiva que o paciente tenha alta hospitalar com as
melhores condições físicas e psicológicas possíveis, munido
de informações referentes ao estilo saudável de vida.
O presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade
de vida em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização
do miocárdio que participaram do programa de reabilitação
cardíaca fase I, através do questionário WHOQOL-Bref.
Fatores de risco para doença cardiovascular
A doença cardiovascular (DC) é multifatorial e sistêmica, ligada a fatores hereditários, ambientais e de comportamento [2].
É nesse conjunto de fatores de risco que a RC atua, em
nível primário tentando diminuir a incidência da doença arterial coronariana (DAC), e em nível secundário pela redução
da morbidade e mortalidade. A prática de exercícios físicos,
isoladamente, parece trazer benefício pequeno em relação à
morbidade e mortalidade na DAC. Ocorre diminuição mais
significativa destas taxas com a associação do exercício à correção dos vários fatores de risco cardiovasculares e mudanças
dos hábitos de vida [3].
Um dos principais fatores de risco para complicações
cardiovasculares é a hipertensão arterial sistêmica (HAS), pois
atua diretamente na parede das artérias, podendo produzir
lesões. Daí a importância do tratamento anti-hipertensivo na
redução da morbidade e mortalidade cardiovasculares [4].
A HAS é o fator mais importante: 80% das mortes por
acidente vascular cerebral estão associadas à hipertensão arte-
61
rial, enquanto que 40% das mortes por doenças coronarianas
se acompanham de hipertensão. Além disso, a doença hipertensiva causa diretamente a morte de 5% dos que morrem
por doenças cardiovasculares [5].
Infarto agudo do miocárdio
Entre as doenças cardiovasculares, a de maior incidência
é a DAC cujas principais manifestações clínicas são a angina
pectoris, o infarto agudo do miocárdio (IAM) e a morte
súbita [3].
Aspectos como utilização de novas tecnologias de reconhecida eficácia, admissão em uma unidade de terapia intensiva,
tempo decorrido entre o início dos sintomas e o primeiro
atendimento têm mostrado importante impacto na redução
da letalidade por IAM [6].
A indicação de cirurgia de revascularização do miocárdio (CRVM) precoce, realizada logo após o IAM, tem sido
amplamente discutida com base em observações clínicas,
sem que haja consenso sobre os riscos e benefícios deste
procedimento, bem como, sobre o intervalo de tempo ideal
entre o procedimento e o IAM. Durante muito tempo a revascularização precoce foi considerada de risco. Entretanto,
mais recentemente, têm sido registrados baixos índices de
morbi-mortalidade em pacientes operados nos primeiros dias
ou semanas após o IAM [7].
Cirurgia de revascularização do miocárdio
A introdução a CRVM, há mais de duas décadas, possibilitou uma nova e eficaz terapêutica a pacientes com doença
arterosclerótica avançada, com alívio sintomático em grande
número de pacientes e aumento da sobrevida em alguns
subgrupos [8].
Na CRVM um vaso sangüíneo (geralmente a veia safena
e/ou a artéria mamária interna) é anastomosado com a artéria coronária; distal ao ponto ocluído, e a aorta ascendente,
de forma a isolar o local do vaso obstruído e restabelecer a
perfusão da artéria coronária. O objetivo da revascularização do miocárdio é aliviar a angina e preservar a função do
miocárdio [9].
A cirurgia é uma das opções no tratamento cirúrgico
destes indivíduos e tem como objetivos: prolongar a vida,
promover alívio da dor de angina e melhorar a qualidade de
vida dos pacientes [10].
Reabilitação cardíaca
Apesar de ser considerada modalidade terapêutica segura, no
Brasil os benefícios dos programas estruturados de reabilitação
são ainda pouco mobilizados em prol dos pacientes. [11]
Os estudos atuais permitem afirmar que a RC tem resultados significativos tanto no prolongamento da sobrevida com
qualidade, no controle das alterações patológicas, como na
62
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
regressão da placa arterosclerótica do indivíduo com DAC.
Isso permite o retorno mais rápido às atividades laborativas,
redução no número de re-internações hospitalares e redução
nos custos a longo prazo [12]
Idealizada inicialmente para portadores de DAC, a RC
abrange também os pacientes com HAS, doença arterial
periférica, valvopatia, cardiopatia congênita, particularmente
na sua fase pós-operatória e, mais recentemente, insuficiência
cardíaca e transplante cardíaco [13].
Os programas de reabilitação cardiovascular normalmente
compreendem três ou quatro fases distintas de atuação[14].
Inicialmente a fase I compreende o período de convalescença ou fase hospitalar. Esta deve ter sua duração em
torno de 7 a 14 dias e tem seu início em até 24 horas após
o desaparecimento dos sintomas ou de eventuais complicações. Sua finalidade é inspirar confiança ao paciente, reduzir
a tensão e o medo, evitar a ocorrência de tromboses venosas,
atelectasias pulmonares e reduzir os malefícios do repouso
sobre a capacidade física [15]. Inicia-se após o paciente ter
sido considerado compensado clinicamente.
A fase II se inicia quando o paciente tem alta hospitalar e
volta para casa. Nesta fase, o paciente deve ser submetido a trabalho de equipe multidisciplinar que objetive, além da prática
orientada e supervisionada de exercícios, fornecer orientação
nutricional e esclarecimentos [16]. Em relação à fase III da
reabilitação cardiovascular, sugere-se também o emprego de
atividades para o ganho de flexibilidade, elasticidade muscular,
força e resistência muscular, capacidade cardiorespiratória,
bem como da melhora da composição corporal. Tais atividades
têm como finalidade gerar incrementos nos componentes da
aptidão física, facilitando a realização das atividades físicas
diárias [17]. A fase IV é considerada como sendo de manutenção a longo prazo. Nesta fase devem ser enfatizados tipos
diferentes de exercícios de força e resistência muscular, bem
como a independência do paciente [18].
Qualidade de vida
A qualidade de vida (QV) está diretamente relacionada
com a recuperação depois da cirurgia cardíaca, em especial
à dimensão física. O indicador de uma baixa qualidade de
vida após a cirurgia cardíaca é uma deficiente recuperação do
estado funcional, ainda no período hospitalar [19].
A QV foi definida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) como “a percepção do indivíduo sobre a sua posição
na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos
quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas,
padrões e preocupações”[20].
Assim, inicialmente, foi desenvolvido um instrumento de
avaliação de QV com 100 questões (o WHOQOL-100). O
desenvolvimento do WHOQOL-100 seguiu a metodologia
envolvendo a participação de vários países, representando
diferentes culturas, tendo sido desenvolvida uma versão
brasileira [21].
A necessidade de instrumentos curtos que demandem
pouco tempo para seu preenchimento, mas com características
psicométricas satisfatórias, fez com que o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do
WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref [20].
Dados demonstram que o impacto do treinamento físico
associado à mudança de estilo de vida diminuiu a mortalidade
cardíaca de 20 a 35%. A redução na mortalidade aumenta a
longevidade, aumentando a expectativa de vida; com isto a preocupação em estudar a qualidade de vida das pessoas [12].
Materiais e métodos
Onze indivíduos de ambos os sexos com faixa etária
compreendida entre 33 e 73 anos que foram submetidos à
cirurgia de revascularização Miocárdica participaram do programa de reabilitação cardíaca fase I do Hospital Prontocor,
Muriaé – MG.
Foi entregue a todos os participantes o questionário autopreenchível, WHOQOL-Bref, composto de 26 questões,
após a realização da CRVM.
O questionário utilizado consta de 26 questões, sendo
duas questões gerais de qualidade de vida e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõe o instrumento
original [20]. Estas 24 questões são agrupadas em quatro
domínios: físico (7 itens), psicológico (6 itens), relações sociais
(3 itens) e meio ambiente (8 itens).
O instrumento não admite um escore total de QV, portanto cada domínio é pontuado de forma independente,
entretanto o questionário permite a obtenção de um escore
bruto para cada domínio.
Assim, após o cálculo do escore bruto é possível obter uma
média geral de cada domínio e dessa forma, o escore pode
variar de zero a cem, sendo que quanto maior o valor, melhor
é o domínio de qualidade de vida avaliado.
A pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em
Pesquisa do Hospital Prontocor e da Faculdade de Minas –
FAMINAS.
Resultados
A média de idade da população de estudo foi de 57.72
anos, sendo 63,64% do sexo masculino com média de idade
de 61,85 anos e o restante 36,36% pertencentes ao sexo
feminino com média de idade de 50,5 anos.
Em relação ao preenchimento correto do questionário
WHOQOL-Bref, 36,40% dos participantes foram capazes de
realizar o preenchimento sem auxílio. Já 63,60% necessitaram
do auxílio do entrevistador.
Nas tabelas abaixo, pode-se observar a análise das perguntas
presentes no questionário de acordo com as opções de resposta.
Ao serem questionados sobre como avaliavam sua qualidade de vida, 63,6% dos pacientes classificam sua qualidade
de vida como boa (Tabela I).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
63
Tabela I - Distribuição percentual frente à primeira questão do WHOQOL- Bref.
Situação
Muito ruim
Como você avaliaria sua qualidade 0%
de vida
Ruim
0%
Nem ruim nem boa
27,3%
Boa
63,6%
Muito Boa
9,1%
Tabela II - Distribuição percentual frente à segunda questão do WHOQOL-Bref.
Situação
Muito insatisfeito
0%
Satisfação com a sua saúde
Insatisfeito
0%
Nem satisfeito
nem insatisfeito
9,1%
Satisfeito
Muito satisfeito
63,6%
27,3%
Tabela III - Distribuição percentual frente às questões de 3 a 9 do WHOQOL-Bref.
Situação
Nada
Muito pouco
Dor como fator limitante
Necessidade tratamento médico
O quanto você aproveita a vida
Sua vida tem sentido
Capacidade de concentração
Segurança com vida diária
Quão saudável é o seu ambiente físico
0%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
27,30%
18,20%
27,30%
9,10%
9,10%
36,30%
0%
Mais ou
menos
27,30%
18,20%
36,30%
9,10%
54,50%
27,30%
18,20%
Bastante
Extremamente
45,40%
54,50%
27,30%
36,40%
27,30%
27,30%
36,40%
0%
9,10%
9,10%
45,40%
9,10%
9,10%
45,40%
Tabela IV - Distribuição percentual frente às questões de 10 a 14 do WHOQOL-Bref.
Situação
Energia suficiente para seu dia-a-dia
Você é capaz de aceitar sua aparência física
Dinheiro suficiente para suas necessidades
Informações disponíveis para seu dia-a-dia
Oportunidades de atividade de lazer
Nada
0%
9,10%
0%
0%
9,10%
Muito pouco
0%
0%
27,30%
0%
27,30%
Médio
63,60%
27,30%
45,40%
9,10%
9,10%
Muito
36,40%
36,30%
18,20%
63,30%
54,40%
Completamente
0%
27,30%
9,10%
27,30%
10,00%
Tabela V - Distribuição percentual frente à décima quinta questão do WHOQOL-Bref.
Situação
Capacidade de locomoção
Muito ruim
0%
Ruim
0%
Nem ruim nem bom
18,20%
Bom
18,20%
Muito bom
63,30%
Tabela VI - Distribuição percentual frente às questões 16 a 25 do WHOQOL-Bref.
Situação
Muito insatisfeito
Satisfação com sono
0%
Satisfação no desempenho atividades vida diária 0%
Capacidade para trabalho
18,20%
Quão satisfeito (a) você está consigo mesmo
0%
Satisfação com suas relações pessoais
0%
Quão satisfeito (a) você está com sua vida
0%
sexual
Satisfação com apoio dos amigos
0%
Satisfação com moradia
0%
Satisfação com acessoao serviço de saúde
0%
Satisfação com meio deTransporte
0%
Insatisfeito
27,30%
18,20%
27,30%
0%
0%
18,20%
Nem satisfeito
nem insatisfeito
45,40%
63,60%
36,30%
0%
9,10%
18,20%
Satisfeito
18,20%
18,20%
18,20%
90,90%
54,40%
9,10%
Muito satisfeito
9,10%
0%
0%
9,10%
36,40%
0%
0%
0%
0%
0%
9,10%
0%
27,30%
27,40%
54,40%
63,60%
45,40%
36,30%
36,40%
36,40%
27,30%
36,30%
Tabela VII - Distribuição percentual frente a vigésima sexta do WHOQOL-Bref.
Situação
Freqüência de sentimentos
negativos
Nunca
45,40%
Algumas vezes Freqüentemente
45,40%
9,20%
Muito freqüentemente
0%
Sempre
0%
64
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Em relação à satisfação com sua saúde, os pacientes revelam satisfação, já que 63,3% assinalaram essa alternativa e
27,3% se consideram muito satisfeitos (Tabela II).
As questões de 3 a 9 apresentam como opção de resposta
nada-muito-mais ou menos-bastante e extremamente. O
percentual geral obtido em cada questão se apresenta na
Tabela III.
As questões de 10 a 14 têm como opção de resposta:
nada-muito pouco-médio-muito e completamente, assim,
na Tabela IV, apresentamos os percentuais gerais obtidos
nessas questões.
Em relação à capacidade de locomoção, esse não foi um
fator que obteve prejuízo após a CRVM, já que 63,60% dos
pacientes revelaram que sua capacidade para locomoção está
muito boa (Tabela V).
As questões de 16 a 25 têm como opção de resposta
muito insatisfeito-insatisfeito-nem satisfeito, nem insatisfeitosatisfeito-muito satisfeito. As respostas obtidas se mostram na
forma de percentuais gerais, conforme Tabela VI.
Quando questionados em relação à freqüência com que
sentem sentimentos negativos, tais como ansiedade e depressão, observa-se que apenas 9,20% dos pacientes têm esses
sentimentos frequentemente e 45,40% nunca ou algumas
vezes. (Tabela VII)
Em relação à pontuação frente aos domínios do questionário utilizado, realizou-se a distribuição da pontuação obtida
por cada indivíduo (Tabela VIII).
Tabela IX - Média (desvio padrão) do escore bruto de cada domínio,
segundo sexo.
Domínios
Físico
Psicológico
Relações sociais
Meio ambiente
Sexo
Masculino
20 (2.08)
23.4 (1.90)
10.4 (2.93)
31.1 (4.52)
Feminino
23.2 (3.09)
22 (0.81)
9.7 (2.62)
29. (5.74)
Ao estratificar por gênero percebe-se que os indivíduos
do sexo masculino mostraram índices maiores de qualidade
de vida com relação ao sexo oposto, entretanto esses valores
permaneceram muito próximos demonstrando qualidade de
vida adequada para ambos os sexos (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Média geral do somatório dos domínios, estratificado
por sexo.
Tabela VIII - Distribuição absoluta dos escores brutos frente a
cada domínio.
Físico
Psicológico
Relações
sociais
Meio ambiente
Indivíduo 1
21
26
8
40
Indivíduo 2
25
23
12
37
Indivíduo 3
18
24
8
27
Indivíduo 4
18
24
8
27
Indivíduo 5
26
22
11
25
Indivíduo 6
19
21
6
25
Indivíduo 7
23
25
12
33
Indivíduo 8
18
23
11
29
Indivíduo 9
20
21
10
30
Indivíduo 10
23
22
10
31
Indivíduo 11
22
21
16
32
Ao dicotomizar por faixa etária percebe-se que os indivíduos acima de 60 anos relataram melhor qualidade de vida
em relação aos menores que 60 anos (Gráfico 2).
Gráfico 2 - Média geral do somatório dos domínios após dicotomização por idade.
A Tabela IX mostra a média do escore bruto obtido em
cada domínio de acordo com o sexo.
Ao examinar cada dimensão, observa-se que o maior escore
dentre os domínios foi alcançado pelo escore meio ambiente,
com média de 30,5%. Logo após, o domínio relações pessoais com média 22,5%. O domínio psicológico e o domínio
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
físico se mostram posteriormente com médias de 20,18% e
10,18%, respectivamente.
Gráfico 3 - Média do escore bruto para cada domínio.
A média e a mediana do escore geral foram 84,81 (dp =
8,37) e 84 pontos, respectivamente, demonstrando boa qualidade de vida entre os participantes. A faixa de pontuação obtida nos escores brutos do WHOQOL variou de 71 a 97.
Discussão
Apesar dos receios provenientes da cirurgia e de todo o
processo pós-operatório, observou-se, após a realização da
cirurgia, que os pacientes sentiam-se satisfeitos de forma
geral. Estes resultados suportam os achados, que estudaram 862 pacientes provenientes de CRVM e submetidos à
fase I da RC [22]. Em relação à satisfação com sua saúde,
este estudo identifica a mesma porcentagem em relação à
satisfação com a qualidade de vida. O autor ainda revela
que tais pacientes haviam retornado às atividades diárias
mais rapidamente por sentirem-se preparados fisicamente
para este retorno e emocionalmente estáveis, semelhantes
aos nossos resultados.
É relatado que os pacientes que passaram pela reabilitação
cardíaca não perceberam benefícios além daqueles decorrentes do procedimento cirúrgico [23]. Tais pacientes foram
entrevistados 6 meses e 1 ano após a cirurgia e tiveram suas
respostas equiparadas aos pacientes que não passaram pela
reabilitação.
Em nosso estudo, observa-se que a dor física ainda é
um limitante das atividades. A dor do paciente reduz a
movimentação, evita respiração profunda, e interrompe o
sono, provocando desgaste físico e menor motivação para o
tratamento [24].
Observou-se que os pacientes que passaram pela reabilitação cardíaca no período hospitalar, relataram ganhos no
campo emocional mesmo tendo sido entrevistados 6 meses
após a cirurgia [25].
De acordo com um determinado estudo, os pacientes
relataram (12%) comprometimento de funções intelectuais,
65
como a memória [14]. Em nosso estudo, esta não foi uma
variável que mostra insatisfação por parte dos pacientes.
Com relação à alteração no padrão de humor, relatada no
grupo estudado como tristeza, depressão e desânimo, alguns
autores referem que no período pós-operatório do paciente
revascularizado são comuns crises de choro e momentos de
tristeza por se tratar de um tempo de reflexão para o doente
que costuma analisar sua vida anterior [26]. Em nosso estudo
a grande maioria revela nunca ter sentimentos negativos. Este
é um resultado que leva em consideração o bom nível de satisfação revelado em outros aspectos, tais como: segurança no
dia-a-dia, condições favoráveis de moradia e transporte, acesso
aos serviços de saúde e apoio de amigos e familiares.
Na categoria locomoção, os pacientes revelam que estão
satisfeitos. Por isso, a importância da reabilitação cardíaca em
todos os aspectos, incluindo realização de um plano educacional e orientação para alta hospitalar, além disso, o paciente ao
receber alta hospitalar, deve estar confiante em sua capacidade
de enfrentar a situação doméstica [13].
No presente estudo os pacientes revelam insatisfação moderada em relação à capacidade de trabalho por não estarem
aptos ao retorno de suas atividades.
Quanto às atividades sexuais, revela-se que após cirurgia
de RVM, há tendência ao não retorno à vida sexual na população estudada [18]. Esta situação pode ser evidenciada
em nosso estudo, já que entre aqueles que responderam esse
quesito, apenas uma pequena parcela mostra-se satisfeito com
sua vida sexual.
Conclusão
Após um mês da realização da cirurgia de revascularização
miocárdica, a avaliação de qualidade de vida dos participantes
deste estudo revela que a autoconfiança foi devolvida, trazendo
melhor perspectiva de vida e segurança para a retomada das
atividades da vida diária.
Os participantes encontravam-se física e emocionalmente
melhores, referindo benefícios trazidos pela reabilitação cardíaca. Isto leva a concluir a importância de estudos qualitativos
e quantitativos para orientar a elaboração de demais estratégias
que maximizem os efeitos da reabilitação cardíaca em todos
os grupos de pacientes.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
67
Artigo original
Análise comparativa de testes laboratoriais
de esteira e de campo para determinar a freqüência
cardíaca máxima e o consumo máximo de oxigênio
em mulheres saudáveis
Comparative analysis between treadmill laboratory tests and field tests
to determine the maximum heart rate and maximal oxygen uptake
in healthy women
Lawrens Fabrício Cardozo Makkai*, Daniela Fantoni de Lima Alexandrino**, Janaína Lubiana Altoé***,
Cintia Lúcia de Lima****, João Carlos Bouzas Marins, D.Sc.*****
*Especialista em avaliação e prescrição de atividades motoras para portadores de necessidades especiais e grupos especiais (em andamento) pela UNIFOA e participante do Grupo de Pesquisa - Aspectos Biodinâmicos do Movimento Humano (UFJF), **Especialista
em musculação e personal trainer (UCB), Especialista em organização e administração da recreação e do lazer (em andamento)
pela UFJF e participante do grupo de pesquisa Corpo e Diversidade cadastrado no CNPq pela FAEFID (UFJF), ***Educação
Física, Universidade Federal de Viçosa (UFV), ****Educação Física, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Especialista em Educação pela UNIPAC e participante do Grupo de Pesquisa Corpo e Diversidade cadastrado no CNPq pela FAEFID
(UFJF),*****Professor Adjunto e coordenador do Laboratório de Performance Humana (LAPEH) do departamento de Educação
Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Resumo
Abstract
Os objetivos deste estudo foram comparar e analisar as respostas
da FCmáx e do VO2máx de dois protocolos máximos de esteira (Bruce
e Balke) e dois de campo (Cureton 1600 m e Cooper 2400 m),
além de comparar os dados da FCmáx obtida com a predita pelas
equações de estimação da FCmáx de Tanaka e Marins. Foram avaliadas mulheres (n = 30) com idade média 22,4 ± 1,44 anos. Para
determinar as diferenças entre VO2máx e FCmáx (obtida e estimada)
optou-se pelo teste de análise da variância Anova One Way, múltiplas
comparações – Tukey. Os resultados do VO2máx indicam haver diferença significativa entre os protocolos, exceto entre Balke e Cureton.
Concluímos que o protocolo de Balke proporciona o registro do
maior VO2máx e Cooper a maior FCMáx. A equação de Tanaka é mais
indicada para predizer a FCmáx na população estudada, nos quatro
protocolos avaliados.
The present study aims at comparing and analyzing the responses of the HRmax and VO2max from two treadmill maximum
protocols performed in laboratory (Bruce and Balke) and two of
field (Cureton 1600 m and Cooper 2400 m), as well as comparing
the HRmax data obtained from these tests to the prediction equations
suggested by Tanaka and Marins. The sample comprised women (n
= 30) aged 22.4 ± 1.44 years. The One Way Analysis of Variance,
multiple comparisons - Tukey was chosen in order to determine
the differences between HRmax and VO2max (obtained and estimated
ones). The results regarding the VO2max show a significant difference
between Balke and Cureton protocols. Therefore, we can conclude
that Balke protocol provides the register of the highest VO2max and
Cooper as well as the highest HRmax. Tanaka equation showed to be
the most adequate one to predict the HRmax in the studied sample,
in all of the four protocols analyzed.
Palavras-chave: freqüência cardíaca, consumo de oxigênio,
equação de predição.
Key-words: heart rate, oxygen consumption, prediction equations.
Recebido em 15 de maio de 2008; aceito em 20 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Lawrens Fabrício Cardozo Makkai, Av. Independência 2320/1301, 36025-290 Juiz de Fora MG, Tel:
(32) 3241 3792, E-mail: [email protected]
68
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
Para a avaliação do componente cardiorrespiratório tem-se
o teste de esforço máximo, como sendo um dos exames não
invasivos mais utilizados para avaliar atletas, pessoas aparentemente saudáveis e pessoas com doença cardiovascular suspeita
ou conhecida [1]. Essa avaliação física determina entre outros
dados a freqüência cardíaca máxima (FCmáx) e o consumo máximo de oxigênio (VO2máx), parâmetros esses importantes para
a prescrição de exercícios aeróbicos de forma precisa. Esses
parâmetros podem ser identificados avaliando a capacidade
cardiorrespiratória em testes de esteira ergométrica, sendo
importante devido a sua homogeneização das condições de
avaliação e reprodutibilidade em laboratório. Contudo, esse
tipo de procedimento apresenta limitações, como o custo
elevado, utilização de aparelhagem sofisticada e inviável para
avaliar grandes grupos [2-4].
Como alternativa, têm sido proposto protocolos de
campo, devido à redução de custos e a aplicação em vários
indivíduos em um período curto de tempo. Esses testes foram
difundidos no mundo inteiro por sua praticidade, sendo utilizados para avaliar escolares, atletas e a população em geral,
fornecendo dados para a prescrição de exercícios, seleção
esportiva, avaliação da progressão do treinamento e testes
físicos para exércitos em diversos países do mundo [5].
Os objetivos de um teste de esforço variam conforme a
interpretação do avaliador. Em um diagnóstico médico, o enfoque principal é identificar possíveis disfunções miocárdicas,
distúrbios hemodinâmicos esforço-induzidos e prognosticar
doenças cardiovasculares que venham a limitar ou mesmo
impedir determinados níveis de atividades físicas [6].
Especificamente no campo da Educação Física um teste de
esforço terá como principais pontos, avaliar a progressão da
preparação física, estabelecer a FCmáx e as zonas metabólicas
de treinamento, identificar o limiar anaeróbico, auxiliando
assim, a correta prescrição do exercício [7]. O profissional de
educação física utiliza-se deste tipo de teste para direcionar e
periodizar o seu trabalho atendendo os objetivos do indivíduo
com segurança e eficiência.
A forma de aplicação de um teste de esforço inclui ergômetro de braço, cicloergômetro de membros inferiores e esteira
rolante, usualmente empregados em laboratório [8]. Contudo,
testes de campo são alternativas usuais para determinar o
VO2máx e a FCmáx, além de possuir a vantagem de reproduzir as
condições em exercício mais próximas do ambiente real, como
a temperatura externa e correntes de ar. Cabe ainda destacar
que o valor máximo da FC seja determinado individualmente
[9], sendo que os testes de campo são uma excelente forma
de monitoramento constante da FCMax [10,11].
Quando não se torna possível a realização do teste de
esforço máximo por um professor de Educação Física, devido
a fatores estruturais, idade elevada, problemas ortopédicos,
coronarianos, obesidade mórbida entre outros, torna-se necessário o emprego de equações que predizem a FCmáx, sendo
uma alternativa interessante para prescrição de exercício
[2], visto que, atualmente existem equações que predizem a
FCmáx com margens de erros mínimas de 1,6 a 1,8 bpm para
uma prova máxima [11]. Em contrapartida, a seleção de uma
equação inadequada pode gerar interpretações errôneas sobre
o desenvolvimento do teste.
Contudo, é necessário observar que existem várias equações
propostas, sendo validadas em populações de perfil totalmente
diferente, além de fatores como tipo de ergômetro, estado de
saúde, gênero e idade [10]. Estabelecer a equação mais fidedigna para cada perfil populacional significa prescrever exercícios
com mais segurança e qualidade nos resultados.
Comparando mulheres e homens fisicamente saudáveis
no que tange a FCmáx, parece não existir diferenças significativas dos seus valores na literatura [11-14]. As mulheres
geralmente apresentam em cada nível de esforço submáximo
uma FC mais alta do que os homens, este fato se associa a
um menor volume sistólico [15]. Considerando o VO2máx,
foi demonstrado que as diferenças dos valores encontrados
entre homens e mulheres, podem, em parte, ser explicado
pela maior porcentagem de gordura corporal nas mulheres e
menores taxas de hemoglobina no sangue, acarretando assim,
em uma redução da capacidade de transporte de oxigênio em
relação aos homens agindo de forma negativa no resultado
final do VO2máx [16].
Assim, os objetivos deste estudo foram comparar as
respostas da FCmáx e do VO2máx obtidos em testes de esteira
segundo protocolos de Balke [7] e Bruce et al. [17] e os
testes de campo de 1600 m de Cureton et al.[18] e 2.400
m de Cooper [5], além de validar as equações de Tanaka et
al.[19] [FCmáx = 208,75 – 0,73 (idade)] e Marins [20] [FCmáx
= 222,2 – 1,155 (idade)] para estimar a freqüência cardíaca
máxima em exercício máximo na esteira e teste de campo.
Por último, pretendeu-se verificar se as equações de Bruce et
al. [17] [VO2máx = 42,9 – 0,312 (idade)] e Neto et al. [21]
[VO2máx = 58,684 – 0,3124 (idade)] ambas para mulheres
ativas estimam o VO2máx de maneira adequada em jovens
aparentemente saudáveis.
Material e métodos
Sujeitos
A amostra foi composta por um total de 30 indivíduos
do gênero feminino, estudantes universitárias, com idade
entre 19 e 27 anos (média de 22,4 ± 1,44 anos), saudáveis e
fisicamente ativas, que se apresentaram como voluntárias para
a realização deste estudo. Todas tinham plena consciência dos
riscos envolvidos na realização dos testes e eram livres para
abandonar a pesquisa em qualquer momento. Ao longo de
todo o estudo, foram adotadas as normativas brasileiras para
estudos com seres humanos. Para melhor visualização da
amostra, a Tabela I traz referências do grupo em questão.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
69
Tabela I - Características dos indivíduos estudados.
Média
Desvio-padrão
Máximo
Mínimo
Idade (anos)
22,4
1,44
27
19
%G*
21,60
4,68
32,2
14,5
MCM ( kg)
44,87
3,55
55,16
37,23
GT (kg)
12,57
3,7
21,28
1,59
* Cálculo estimado do percentual de gordura (%G) pela técnica de Jackson e Pollock [32].
MCM = massa corporal magra; GT = gordura total.
Procedimentos
O estudo foi desenvolvido a partir da coleta de dados
no Laboratório de Performance Humana (LAPEH - UFV),
além de uma pista oficial de 400 m de atletismo. Cada um
dos indivíduos foi submetido à realização de quatro testes
distintos de esforço máximo. Não houve uma ordem predeterminada para aplicação dos testes, sendo feita de forma
totalmente aleatória.
Na fase que antecedeu os testes, os indivíduos foram instruídos a abster-se de comida pelo menos entre duas ou três
horas antes dos testes, a manter a hidratação de forma a não
se super-hidratarem, a evitar o álcool, a ter pelo menos 8 horas
de sono na noite anterior ao teste e estarem com vestimentas
confortáveis e tênis.
As avaliadas responderam ao PAR-Q proposto por Thomas
et al. [22] e receberam um termo de consentimento, revelando
todos os riscos possíveis de ocorrer durante a realização dos
testes, devendo ser assinado pela voluntária caso estivesse de
acordo.
Foram fornecidas informações prévias a respeito de cada
protocolo a ser aplicado, sendo as avaliadas instruídas a evitar
segurar-se no corrimão da esteira e a manter o ritmo de corrida
no caso do teste de campo. Foi apresentada a cada uma a escala
do índice de percepção de esforço (IPE) que compreende
valores entre 6 e 20, proposta por Borg [23].
Quatro diferentes protocolos de teste de esforço máximo
foram aplicados. Nos testes realizados em laboratório foi
utilizada uma esteira rolante (Ecafix EG 700X®). O teste de
campo foi aplicado na pista de atletismo de 400 metros do
Departamento de Educação Física da UFV.
A FC foi registrada por meio de monitores cardíacos da
marca Polar® S 610i, e a pressão arterial (PA) monitorada
com um esfigmomanômetro de coluna de mercúrio da marca
Tycos® e um estetoscópio da marca Wan Méd®. A FCmáx prevista
foi calculada por meio da equação de Tanaka et al.
Fatores ambientais como temperatura e umidade relativa
do ar, no laboratório, foram controlados, sendo mantidos
valores entre 21 e 23 °C e aproximadamente 60 a 80% de
umidade.
Foram empregados protocolos máximos em esteira rolante
de Bruce et al. e Balke, e no campo através dos protocolos de
1600 m de Cureton et al. e 2.400 m de Cooper. Os quatro
testes foram realizados exclusivamente na parte da manhã,
caso o primeiro tenha sido feito nesse período, ou exclusiva-
mente na parte da tarde, caso o primeiro tenha sido realizado
no período da tarde.
Antes de iniciar os testes, o indivíduo permanecia um
tempo assentado em repouso (entre 5 e 15 minutos), para
serem coletados o menor valor de FC e pressão arterial (PA)
inicial. Para desenvolvimento do protocolo, valores de segurança para essas variáveis foram preestabelecidos, como FC
< 100 bpm, PA diastólica < 90 mmHg e PA sitólica < 140
mmHg, representando uma ação mais conservadora que a
indicada pela SBC [6].
As avaliações foram realizadas com intervalos de pelo
menos 48 horas. Para os testes de esteira rolante foi feito
um aquecimento de três minutos, com velocidade de 3,0
milhas por hora (mph), sem inclinação. No caso dos testes
de campo, o aquecimento foi feito por meio da realização
de três voltas na pista de atletismo, sendo uma caminhada
rápida na primeira e um trote nas duas últimas, mantendo
em todas as situações a FC abaixo de 140 bpm. Na esteira,
a FC foi registrada a cada minuto, a PA e o IPE no final de
cada estágio, desde o aquecimento até o final dos testes. Na
pista, a FC foi monitorada no final de cada volta.
O tratamento estatístico deste estudo empregou uma
estatística descritiva, com a média, desvio-padrão, valor máximo e valor mínimo para cada um dos parâmetros obtidos
durante os quatro testes.
Para determinar a existência de diferenças significativas
do VO2máx ml(kg.min)-1 e FCmáx calculado e obtido, optou-se
pelo teste de análise de variância Anova One Way, múltiplas comparações – Tukey, sendo considerado um nível de
significância de p < 0,05 para considerar válida a hipótese
estatística. Utilizou-se o programa estatístico Software Sigma
Start®, versão 2.0. As equações utilizadas para estimar a FC
foram de Tanaka et al., que corresponde a [208,75 - (0,73 x
idade)], e Marins [222,2 - (1,155 x idade)]. Já para estimar
o VO2máx adotou-se as equações de Bruce et al. [VO2máx =
42,9 – 0,312 x idade] e Neto et al. [VO2máx = 58,684 –
0,3124 x idade].
Resultados e discussão
Na Tabela II são apresentados os resultados encontrados
para a FCmáx. Já a Tabela III mostra o resultado do teste estatístico, indicando a existência ou não de diferenças significativas
entre as FCmáx obtidas e estimadas.
70
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela II - FCmáx obtida nos quatro protocolos de esforço máximo de Balke, Bruce, Cureton e Cooper e estimada por Tanaka et al. [19] e
Marins [7].
Média
DP
Máximo
Mínimo
Balke
Bruce
192,2
7,31
204
178
189,5
6,35
205
179
Cureton
1600 m
192,6
6,42
206
179
Cooper
2400 m
194,1
6,08
204
180
Tanaka et al. [19]
208,75 - (0,73 x id)
192,4
1,54
195
189
Marins [7]
222,2 - (1,155 x id)
196,3
2,29
200
191
id = idade; m = metros; DP = desvio-padrão.
Tabela III - Níveis de significância das médias de FCmáx (bpm)
obtidas e estimadas.
Diferença
Grupos
FCmáx (bpm)
Marins vs. Balke
Marins Bruce
Marins vs. Tanaka
Marins vs. Cureton 1600 m
Marins vs. Cooper 2400 m
Cooper 2400 m vs. Balke
Cooper 2400 m vs. Bruce
Cooper 2400 m vs. Tanaka
Cooper 2400 m vs. Cureton
1600 m
Cureton 1600 m vs. Balke
Cureton 1600 m vs. Bruce
Cureton 1600 m vs. Tanaka
Tanaka vs. Balke
Tanaka vs. Bruce
Bruce vs Balke
196,3
196,3
196,3
196,3
196,3
194,1
194,1
194,1
192,2
189,5
192,4
192,6
194,1
192,2
189,5
192,4
entre
médias
4,0*
6,7*
3,9*
3,7
2,2
1,8
4,5*
1,7
194,1
192,6
1,5
192,6
192,6
192,6
192,4
192,4
189,5
192,2
189,5
192,4
192,2
189,5
192,2
0,3
3,0
0,2
0,1
2,8
2,7
* Diferença significativa p < 0,05; bpm = batimento por minuto.
Os dados estatísticos mostram que a equação de Marins pode ser empregada para estimar a FCmáx somente
nos testes de campo de 1600 m e 2.400 m. Já a equação
de Tanaka et al. mostrou ser adequada tanto para os testes
de campo deste estudo como para os de esteira de Balke
e Bruce et al., concordando com os estudos de Marins e
Fernandez [10,11] em estudantes universitários de que
a fórmula proposta por Tanaka et al. é a mais adequada.
Cabe destacar que a equação de Marins não foi testada
nos referidos estudos.
Ao comparar as médias da FCmáx obtidas em cada protocolo, observa-se que o valor mais alto registrado (194,1 ± 6,08
bpm) para essa variável foi encontrado no protocolo de 2.400
m de Cooper apontando não existir diferença significativa
entre os protocolos, exceto entre Bruce et al. vs. Cooper onde
ocorreu essa diferença. Esses resultados estão de acordo com
os encontrados por Froelicher et al. [24], que ao compara-
rem a FCmáx em dois protocolos máximos em esteira (Bruce
vs. Balke), não observaram diferenças significativas entre os
valores da mesma.
Entre os protocolos realizados em esteira rolante, o grupo apresentou valor médio mais elevado em Balke (192,2
± 7,31 bpm). Assim como nesse estudo, já se observou em
outras pesquisas que os testes de campo tendem a provocar
maior FCmáx em relação aos de laboratório [8,9]. É possível
especular que o valor mais alto obtido em pista foi decorrente das condições ambientais, incontroláveis no teste de
campo, levando o sistema cardiovascular a um maior estresse
físico [25]. Já nos testes realizados em laboratório, as condições ambientais controladas minimizaram a influência
da temperatura e da umidade nas respostas cronotrópicas
dos avaliados.
Todos os protocolos apresentaram característica de um
teste máximo segundo as considerações feitas por Lazzoli
[26], de que testes que levassem o avaliado a atingir patamares superiores a 85% da FCmáx calculada seriam considerados
máximos. Outro critério para validação é a verificação dos
valores apresentados no último registro da FC com variação
de 10 bpm em relação a FCmáx calculada [27]. Portanto,
todas as voluntárias envolvidas neste trabalho apresentaram
respostas condizentes com as considerações dos referidos
autores.
Para indicar o emprego de uma equação estimativa da
FCmáx, Robergs e Landwehr [28] estabeleceram limites de
± 3 bpm para testes máximos e ± 8 bpm para prescrição
de exercícios. Neste estudo a equação de Tanaka et al. registrou intervalo de + 0,1 bpm a + 2,8 bpm e Marins com
intervalo de + 2,2 bpm a + 6,7 bpm em relação aos quatro
protocolos.
Quando comparados os resultados da FCmáx estimada,
em relação à idade, pelas equações de Tanaka et al. e Marins,
encontrou-se diferença estatisticamente significativa (p < 0,05)
entre elas, percebeu-se que os valores estimados por Tanaka
et al. se encontravam em maior porcentagem dentro da faixa
de flutuação de ± 8 bpm (tabela IV), corroborando com os
valores encontrados no estudo de Marins e Fernandez [11]
obtendo 81% da amostra dentro da faixa, em comparação a
Marins visto na Tabela V.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela IV - Comparação da faixa de flutuação de ± 8 bpm da
FCmáx obtida nos quatro protocolos com a predita pela equação de
Tanaka et al. [19].
Teste
Balke
Bruce
Cureton 1600 m
Cooper 2400 m
Abaixo da
faixa de ±
8 bpm
15%
5%
10%
6,66%
Dentro da
faixa de ±
8 bpm
75%
90%
83,33%
76,66%
Acima da
faixa de ±
8 bpm
10%
5%
6,66%
16,66%
Tabela V - Comparação da faixa de flutuação de ± 8 bpm da
FCmáx obtida nos quatro protocolos com a predita pela equação de
Marins [7].
Teste
Balke
Bruce
Cureton 1600 m
Cooper 2400 m
Abaixo da
faixa de ±
8 bpm
30%
30%
23,33%
13,33%
Dentro da
faixa de ±
8 bpm
70%
70%
73,33%
86,66%
Acima da
faixa de ±
8 bpm
0%
0%
3,33%
0%
Assim, fisiologicamente, a equação de Tanaka et al. é
mais recomendada para sujeitos com características semelhantes às deste grupo estudado. Quanto à equação estimativa desenvolvida por Marins, foi encontrada diferença
significativa ao ser comparada com os protocolos de Balke
e Bruce et al., sendo adequada aos protocolos de Cureton et
al. 1600 metros e Cooper 2400 metros, retomando, assim,
sua proposta inicial tendo em vista que foi desenvolvida
tomando como base resultados de FCmáx obtida no teste de
Cooper 2400 m.
Os resultados obtidos ratificam as indicações de Marins
[20] para o uso da sua equação para o teste de Cooper de
2.400 m. Contudo, o uso da equação de Tanaka et al. aponta ser superior para uso deste grupo. Para o grupo avaliado,
ambas as equações são ferramentas importantes, Tanaka et al.
tanto para a interpretação dos testes ergométricos como para
prescrição de exercícios e Marins utilizada para prescrição de
exercícios e para os protocolos de pista. Sendo assim, deve
existir por parte do avaliador uma análise para selecionar
uma fórmula adequada para determinado teste, evitando
assim, mascarar a real intensidade da faixa de treinamento
71
do indivíduo podendo gerar resultados desfavoráveis quanto
aos seus objetivos.
Consumo máximo de oxigênio
Na Tabela VI são apresentados os valores de média, desviopadrão, máximo e mínimo, assim como a classificação do
VO2máx ml(kg.min)-1, obtidos nos quatro protocolos empregados, indicando haver diferença estatisticamente significativa
na predição do VO2máx entre eles, com exceção apenas entre
os protocolos de Balke vs. Cureton et al.
Os resultados obtidos de VO2máx nos quatro protocolos
também foram comparados aos resultados do VO2máx estimados pelas equações de Bruce et al. e Neto et al. para mulheres
ativas. Os dados indicam que a equação de Bruce et al. tem
uma tendência a subestimar os valores da capacidade aeróbica
quando comparados com os obtidos nos protocolos, exceto
para o teste de Cooper onde houve uma proximidade nos
resultados, 36,29 ml(kg.min)-1 representado por Cooper
contra 36,05 ml(kg.min)-1 da equação.
Já a equação de Neto et al. que foi criada para a população brasileira, apresentou valores superestimados em todos
os protocolos do VO2máx 51,69 ml(kg.min)-1 contra o maior
valor entre os protocolos 44,88 ml(kg.min)-1 obtido em Balke.
Robergs & Landwehr [28] destacam que o erro de estimativa
para propósitos de prescrição de exercícios aceitáveis na determinação do VO2máx deve ser abaixo de 3 ml(kg.min)-1.
Em relação às equações preditivas do VO2máx deste estudo,
deve-se ter precaução ao afirmar que as fórmulas subestimaram
ou superestimaram o VO2máx final, devido ao fato de não ter
sido utilizado a espirometria direta ou ergoespirometria para
análise de gases espirados.
O protocolo de Bruce et al., entretanto, parece ser o mais
indicado para pessoas bem condicionadas, com o intuito de
conhecer as respostas fisiológicas, determinar a capacidade
funcional e obter parâmetros para prescrição de exercício
físico. Na literatura, este protocolo e o de Ellestad são os
mais indicados para indivíduos fisicamente ativos e/ou jovens aparentemente saudáveis [6]. Entretanto, o protocolo
de Bruce et al. que obteve VO2máx 39,48 ± 4,71 ml(kg.min)-1
para a população deste estudo não seria indicado, tendo em
vista os relatos da maioria das avaliadas, ao apresentarem
fadiga periférica antes que ocorre-se fadiga central, fator este
Tabela VI - Resultados do VO2máx ml(kg.min)-1 obtido e estimado pelas equações de Bruce et al. [17] e Neto et al. [21] e a classificação segundo
o AHA [33].
VO2máx
Classificação
DP
Máximo
Mínimo
Balke
Bruce
Cureton
1600 m
Cooper
2400 m
44,88
Boa
4,53
52,45
36,56
39,48
Boa
4,71
48,1
31,3
43,59
Boa
3,0
50,11
37,12
36,29
Regular
3,15
43,91
30,94
Bruce et al. [17]
VO2máx = 42,9 –
0,312 x idade
35,91
X
0,83
39,4
35,1
Neto et al. [21]
VO2máx = 58,684 –
0,3124 x idade
51,69
X
0,60
52,74
50,24
72
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
responsável pela interrupção do teste reduzindo possivelmente
os valores reais do VO2máx do grupo. No trabalho de Kang
et al.[29] verificou-se valores próximos a deste estudo 40,84
ml(kg.min)-1. Testes mais curtos acarretam em valores menores
de VO2máx, possivelmente por causa de limitações musculares
causadas por elevada intensidade de esforço [21].
Os resultados deste estudo sinalizam que uma anamnese
prévia auxilia a estabelecer qual tipo de teste poderá ser mais
indicado. Em mulheres corredoras com hábito de corrida o
teste de esteira de Bruce et al. poderá ser o mais indicado. Por
outro lado, o teste de esteira de Balke será recomendado em
mulheres ativas, porém, não corredoras minimizando o risco
de interrupção do teste por fadiga periférica.
Quanto aos protocolos de Cureton et al. e Cooper, observaram-se valores médios para a capacidade aeróbica de 43,59 ±
3,0 ml(kg.min)-1 e 36,29 ± 3,15 ml(kg.min)-1 respectivamente,
confirmando os resultados encontrados por Makkai [25], para
esses protocolos, possivelmente esta diferença entre os testes
se deva ao fato do protocolo de Cureton et al. ter um tempo
de duração menor, sendo assim, o resultado pode ter sido
influenciado pelo componente anaeróbico. Outro propósito
está relacionado com a temperatura ambiente e a umidade
do ar, que no caso, poderia afetar o desempenho negativamente no teste de Cooper por este ser mais longo, expondo
a avaliada a um maior desgaste físico durante a avaliação. É
imprescindível que sejam padronizadas as aplicações no que
diz respeito principalmente ao horário do dia.
Pollock e Wilmore [30] sugerem então, que para a realização de um teste de campo seja feito um período de adaptação
para que o avaliado experimente o percurso e ritmo do teste,
sabendo, dessa forma, o seu tempo médio por volta, apresentando assim, um melhor desempenho aeróbico, mais próximo
do real. No presente estudo, a maior parte das avaliadas já
possuía este conhecimento, contudo em poucos casos foi
possível observar avaliadas com dificuldade em administrar
um ritmo de corrida constante.
Um ponto importante a ser ressaltado é em relação ao
tempo de duração do protocolo que segundo a literatura,
a faixa recomendável concentra-se entre 8 a 15 minutos
[7,30,31]. Contrariando esses autores Astorino et al. [12]
investigou sobre tempo ideal para duração de protocolos
máximos para homens e mulheres em idade universitária,
verificou que protocolos com tempo acima de 13 minutos
causavam menores resultados de VO2máx 3,45 ± 0,79 L.min-1
versus 3.58 ± 0,83 L.min-1 do protocolo com 10 minutos de
duração, concluiu seus achados determinando um tempo
entre 10 ± 2 minutos como sendo ideal para aquisição do
VO2máx e que tempos acima de 13 minutos causariam redução
de 4 a 5 % do mesmo.
Para este estudo o protocolo de Balke obteve o valor médio
mais elevado para o consumo máximo de oxigênio 44,88 ±
4,53 ml(kg.min)-1, porém, a duração da avaliação na esteira
para este teste oscilou de 19 a 22 minutos, ultrapassando
excessivamente o limite recomendado. Para solucionar este
problema quanto à aplicação deste protocolo, sugere-se iniciar
o teste desconsiderando os estágios iniciais visando manter a
avaliação dentro da faixa de tempo predita como ideal, para
a amostra deste estudo recomenda-se partir entre o sétimo e
décimo estágio do protocolo de Balke.
Conclusão
Ao comparar as médias da FCmáx obtidas em cada protocolo, observa-se que os valores foram próximos, sendo
o protocolo de 2.400 m de Cooper tendendo apresentar a
maior FCmáx.
Dos quatro protocolos de esforço máximo aplicados, os
resultados indicam haver diferença estatisticamente significativa na predição do VO2máx entre os protocolos, com exceção
apenas entre os protocolos de Balke vs. Cureton et al., onde
não existiu essa diferença.
Conclui-se que a equação de Tanaka et al. tem aplicabilidade aceitável para ser usada nos quatro protocolos, já a
desenvolvida por Marins teve resultados consideráveis para o
seu emprego nos testes de campo deste estudo.
A equação de predição do VO2máx de Bruce et al. apresentou resultados que tendem a subestimar o VO2máx obtido,
exceto em Cooper, já a equação de Neto et al. revelou valores
que superestimam o VO2máx em todos os protocolos para a
população analisada neste trabalho, porém, para concretização destes resultados deve ser aplicado o teste máximo com
analisador de gases.
Agradecimentos
Estudo parcialmente financiado pela Fundação de Apoio
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
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74
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Artigo original
Consumo de recursos ergogênicos farmacológicos
por praticantes de musculação das academias
de Santa Maria RS
Pharmacological ergogenic resources consumption
among gymnastic academy performers in Santa Maria RS
Cati Reckelberg Azambuja*, Daniela Lopes dos Santos*
*Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS
Resumo
Abstract
O objetivo deste trabalho foi verificar como ocorre o uso de
recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes de musculação
das academias da cidade de Santa Maria, RS. A amostra estratificada
proporcional constituiu-se de 236 indivíduos, escolhidos aleatoriamente, de ambos os sexos, das academias de Santa Maria, RS. O
instrumento de coleta de dados foi um questionário, previamente
validado, composto por 22 questões sobre o uso de recursos ergogênicos farmacológicos, tipos mais utilizados, faixa etária, nível de
escolaridade, renda, metodologia adotada para o treino, orientação,
finalidade de uso, efeitos adversos e controle bioquímico. Os dados
foram analisados através de percentuais, médias e desvios padrão.
A média de idade da amostra foi de 24,4 ± 7,04 anos, sendo que
a maioria dos pesquisados foi do sexo masculino (77,12%), com
nível de escolaridade superior incompleto (36,44%) e sem renda
própria (56,36%). Os resultados indicaram médio consumo de
recursos ergogênicos (n = 10; 4,24%). Deca-Durabolin (60%),
Durateston (50%) e Hemogenim (40%) foram as substâncias
mais citadas, motivados pelo aumento no desempenho (60%) e
de peso (50%), sendo que, 50% por vontade própria e 30% por
indicação do professor da academia. A aquisição destes ocorreu
em farmácias (50%) e através de professores (20%). A maioria dos
usuários administrou a substância na forma injetável (50%) e oral
(50%), com freqüência de uso diário (40%). Apesar de 80% dos
entrevistados que utilizaram ergogênicos terem conhecimento dos
possíveis efeitos adversos, somente 10% realizaram exames bioquímicos de controle das alterações hormonais. Os efeitos colaterais
relatados foram irritação (50%), euforia e agressividade (40%); e a
média do valor gasto mensalmente na aquisição de REF foi de R$
236,50 ± 168,05.
The aim of this work was to verify how the use of pharmacological ergogenic resources occurs when bodybuilder performers
adopt them in the gymnastic academies of Santa Maria, RS, Brazil.
The ratio of the stratified sample is constituted of 236 individuals,
randomly chosen, both sexes, from Santa Maria, in RS – Brazil,
gymnastic academies. The means through which data was collected
was a previously validated questionnaire, containing 22 questions
about the use of the pharmacological ergogenic resources, much
adopted types of those resources, age range, education level, income,
training methodology used, orientation, usage target, adverse effects
and biochemical control. Data was examined using percentage, averages and pattern deflections. Sample average age was from 24.4 ±
7.04 years, mostly men (77.12%), incomplete third grade education
level (36.44%), who did not have their own income (56.36%). The
results indicated medium consumption of ergogenic resources (n
= 10; 4.24%). Most mentioned substances were Deca-Durabolin
(60%), Durateston (50%) and Hemogenim (40%), mainly because
of their effect in the performance increase (60%) and in weight
(50%), and considering that 50% were choosing themselves those
products while 30% were using those products after their being
indicated by the coach. The purchasing of those products occurred
through shopping them in the drugstores (50%) and through
coaches (20%). Most users took the substance in the form of
shots (50%) and orally (50%), of daily usage (40%). Among the
sample group, 80% of the interviewed who were using ergogenics
had known of the possible adverse effects and even so, only 10%
took biochemical control testing on hormonal alterations. The side
effects reported were irritation (50%), euphoria and aggressiveness
(40%); and the monthly average expenditure in the acquisition of
pharmacological ergogenic resource was of R$ 236.50 ± 168.05 (R$
= Reais, Brazilian currency).
Palavras-chave: recursos ergogênicos, dopagem, musculação.
Key-words: ergogenic resources, doping, bodybuilder.
Recebido em 12 de novembro de 2007; aceito em 17 agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Cati Reckelberg Azambuja, Rua Araújo Viana, 111/303, Centro, 97.015-040 Santa Maria RS, Tel:
(55) 30280078, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
A busca pelo corpo perfeito, tão evidenciado pela mídia,
a falta de organização em relação às atividades diárias e conseqüentemente a ilusão de resultados rápidos e facilitados e a
necessidade de melhor desempenho em competições são apenas alguns dos motivos que tem levado as pessoas a utilizarem
meios ilícitos para alcançar seus objetivos físicos [1].
A crescente comercialização observada no meio esportivo
aumentou a pressão sobre o atleta para alcançar o seu rendimento máximo a curto prazo [2]. No caso de atletas de alto
nível, o uso de drogas transcende a questão da saúde individual. As drogas que favorecem o desempenho nas diversas
modalidades são consideradas, eticamente, indesejáveis e,
portanto, ilícitas, independentemente de produzirem danos
para a saúde [3]. O American College of Sports Medicine ACSM apóia princípios éticos e deplora o uso de esteróides
anabólicos androgênicos pelos atletas.
Mais preocupante do que este fato, é o de que os freqüentadores de academias têm dividido com os atletas os percentuais
de uso destas drogas que, em sua maioria, são substâncias
de procedência duvidosa, muitas vezes, manipuladas sem
cuidados adequados de higiene, proporcionando, inclusive,
doenças infecto-contagiosas [4,5].
Os recursos ergogênicos farmacológicos, condenados pelo
Comitê Olímpico Internacional - COI são drogas destinadas a
funcionar como hormônios ou neurotransmissores encontrados naturalmente no corpo humano. Eles podem intensificar
a potência física, afetar a força mental e o limite mecânico, o
que tem despertado preocupação, visto que o consumo vem
persistindo e seu uso é considerado como doping [6].
A utilização de substâncias químicas com o propósito da
dopagem traz conseqüências nocivas para quem faz uso destas.
O exercício e o estresse físico e emocional causam alterações
bioquímicas e funcionais importantes que podem modificar
o efeito da substância [7].
Portanto, este estudo buscou averiguar como ocorre o uso
de recursos ergogênicos farmacológicos - REF nos praticantes
de musculação das academias de Santa Maria, RS.
Recursos ergogênicos farmacológicos
Ergogênicos são aquelas substâncias ou fenômenos que
melhoram o desempenho de um atleta [8]. Os recursos ergogênicos farmacológicos fazem parte da Toxicologia Social
que, segundo Oga [9], é a área da Toxicologia que estuda os
efeitos nocivos decorrentes do uso não médico de fármacos
ou drogas, causando danos não somente ao indivíduo mas
também a sociedade.
Por fármaco entende-se uma substância de estrutura química definida que, quando em contato ou introduzida em
um sistema biológico, modifica uma ou mais de suas funções.
Droga é a matéria prima de origem mineral, vegetal ou animal
que contém um ou mais fármacos [10].
75
Poucas são as substâncias disponíveis no mercado que
realmente possuem propriedades ergogênicas ou capazes de
produzir fenômenos supostamente ergogênicos [11]. Para que
uma substância seja legitimamente classificada como ergogênica, é necessário a comprovação da melhora no desempenho
pela mesma [8].
Segundo Silva [2], as substâncias consideradas de uso
proibido são agrupadas de acordo com suas propriedades
farmacológicas. A lista do COI contém os seguintes grupos:
1) estimulantes; 2) analgésicos narcóticos; 3) hormônios
peptídicos e análogos; 4) bloqueadores beta-adrenérgicos; 5)
diuréticos e 6) esteróides anabólicos.
Estimulantes são todas as substâncias utilizadas voluntariamente com a finalidade de obtenção de estados alterados
de consciência, caracterizados por euforia decorrente da estimulação do Sistema Nervoso Central – SNC [12] e podem
causar aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca,
propensão a arritmias cardíacas, espasmos coronarianos e
isquemia miocárdica em pessoas suscetíveis, distúrbios do
sono, tremores, agitação e falta de coordenação motora.
Os analgésicos narcóticos são indicados, terapeuticamente,
para analgesia profunda, o que pode auxiliar os praticantes
anônimos de atividades físicas e atletas que utilizam a morfina
e a heroína como recurso ergogênico. Porém, entre os vários
potenciais riscos para a saúde dos usuários se encontra a inibição perigosa da dor em atletas, o que pode agravar muito
uma lesão instalada; risco de dependência física e síndrome
de abstinência ocasionada pela cessão do uso da substância
[13].
Hormônios peptídicos e análogos têm como função principal alterar as velocidades de reações celulares específicas de
‘células alvo’ também específicas [3]. Essa modificação pode
ser conseguida através da alteração da velocidade da síntese
protéica intracelular, da mudança do ritmo da atividade enzimática, da modificação do transporte através da membrana
plasmática e pela indução da atividade secretória.
Os bloqueadores beta-adrenérgicos, como agente de
dopagem, são utilizados para reduzir o tremor muscular e o
estresse, principalmente, nas modalidades esportivas de pouca
atividade física e que exigem precisão e exatidão para a sua
prática [2]. A ação destes fármacos pode depreciar os sistemas nervoso central, cardiovascular, endócrino, respiratório
e digestivo [14].
Diuréticos são substâncias sintéticas, com estruturas
químicas bastante variadas e que, na sua maioria, atuam
diretamente nos rins sobre a função tubolar, aumentando a
formação da urina. Considerando que os rins desempenham
uma função fundamental para a manutenção da homeostase,
torna-se evidente a grande importância dos diuréticos como
possíveis agentes tóxicos [7].
Contudo, dentre os recursos ergogênicos farmacológicos,
os esteróides anabólicos ocupam o lugar principal. Seu potente
efeito anabolizante associado à prática de exercícios com pesos,
acena com a promessa do record para o atleta e do “corpo
76
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
perfeito” para o praticante de musculação que possui objetivos
estéticos. Infelizmente, cada vez mais o efeito terapêutico dos
anabolizantes é desvirtuado a ponto da própria concepção
leiga do seu nome ser associada a um perigo iminente, o que
de fato se justifica em decorrência dos abusos cometidos e dos
episódios trágicos freqüentemente relatados [15].
Materiais e métodos
A coleta de dados ocorreu entre os meses de setembro
e novembro de 2004, sendo que a amostra estratificada
proporcional constituiu-se de 236 indivíduos, escolhidos
aleatoriamente, de ambos os sexos, das academias inscritas
no Departamento de Estágios de Centro de Educação Física
e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria. O
instrumento utilizado para avaliar o objetivo proposto foi
um questionário, previamente validado, composto por 22
questões sobre o uso de recursos ergogênicos farmacológicos,
tipos mais utilizados, faixa etária, nível de escolaridade, renda,
metodologia adotada para o treino, orientação, finalidade de
uso, efeitos adversos e controle bioquímico, acompanhado
de termo de consentimento livre e esclarecido. A análise dos
dados foi realizada através de estatística descritiva [16] para determinação da média aritmética, desvio padrão e percentuais
e de forma qualitativa, conforme os objetivos da pesquisa.
Resultados e discussão
Os resultados obtidos por meio do instrumento de pesquisa indicaram que os praticantes de musculação das academias
de Santa Maria (RS), que participaram desta pesquisa, tinham
idade entre 15 e 53 anos, com média de 24,4 ± 7,04. Constatou-se que 70,34% tinham entre 15 e 24 anos. No estudo
realizado com freqüentadores de academias no RS, verificou-se
que 77,5% encontravam-se na faixa etária entre 16 e 25 anos
[17]. Já, a pesquisa nas academias de Vitória (ES) encontrou
a média de 27,5 anos entre os alunos pesquisados [18].
O perfil da amostra aponta, ainda, que a maioria dos
pesquisados era do sexo masculino. A característica de freqüentadores de academias de ginástica do Rio Grande do Sul
é essencialmente do sexo feminino (62,11%) [17]. Entretanto,
é importante ressaltar que este estudo restringiu-se aos alunos
das salas de musculação da cidade de Santa Maria (RS). Apesar
de ter aumentado o número de mulheres adeptas, a especulação
de que a musculação pode masculinizá-las ainda persiste.
A maioria dos pesquisados não possuía renda própria
(56,36%), o que é condizente com o grau de escolaridade
assinalado por 36,44% dos entrevistados - Ensino Superior
Incompleto, o que permite inferir que a maioria dos pesquisados eram estudantes universitários. Em segundo e terceiro
lugar, respectivamente, ficaram os Ensinos Médio Completo e
Superior Completo. Este dado encontra-se em conformidade
com a média da idade verificada e com a informação de que a
maioria não possuía renda própria. Outro dado interessante,
é que 66 indivíduos (27,96%) possuíam Ensino Superior
Completo, dos quais, 24 (10,16%) possuíam algum nível de
Pós-Graduação.
Verificou-se que a maioria dos entrevistados praticava
musculação há menos de um ano. Porém, identificou-se um
grupo com maior adesão, dos quais 35,08% o faziam há mais
de dois anos. No estudo de Rufino et al. [17], encontrou-se
um grupo flutuante, com até 6 meses de tempo de prática,
de 70,63%. A adesão aos programas de musculação pode
sofrer influência direta de vários fatores, como, por exemplo,
o desejo de alcançar os objetivos propostos a curto prazo.
A amostra optou pela musculação, como exercício físico,
com a intenção de promover a saúde e em função da estética.
Isso indica que a amostra preocupava-se com a aparência física,
mas não ignorava as questões relacionadas à saúde e qualidade
de vida. A mesma relação entre estética e qualidade de vida
foi observada no estudo de Rufino et al. [17]. Pesquisas têm
demonstrado que tanto homens como mulheres tem grande
interesse em modificar o corpo e, assim, a musculação contribui significativamente [19].
Outra questão importante se refere à visão de promoção da
saúde e melhor qualidade de vida, veiculada pela mídia, muitas vezes, de forma equivocada, confundida com parâmetros
puramente estéticos, o que pode deformar estes conceitos.
Destaca-se que entre os outros motivos relacionados, os
que se referem ao alívio do estresse diário e de tensões profissionais, bem como preparação específica para esportes. O
exercício físico se constitui em importante agente repressor
do estresse. Pesquisadores sugerem que o efeito positivo do
exercício físico na diminuição do estresse pode estar relacionado ao aumento da concentração de endorfina no sangue
devido à secreção desta substância pela glândula pituitária
durante o exercício físico [20].
O principal objetivo mencionado pelos alunos, praticantes
de musculação, foi a hipertrofia muscular (50%), seguido
pela definição muscular (48,73%). Como esta amostra foi
composta 77,12% por pessoas do sexo masculino, justifica-se
um percentual tão alto para os dois objetivos mais citados,
visto que, a preferência masculina está relacionada à visão de
corpos fortes e musculosos [21]. Cabe ressaltar que das 60
marcações atribuídas ao emagrecimento, 75% foram feitas
por mulheres.
Os treinos de musculação aconteciam 5 ou mais dias por
semana (61,47%), com prevalência de 5 vezes na semana
(27,97%), provavelmente porque a amostra pesquisada, na
maioria, estudantes, possuía maior disponibilidade de tempo
para praticar exercícios físicos. Dantas [22] recomenda, para
programas de treinamento de sedentários e para a manutenção
das condições de saúde, a freqüência de três a cinco vezes por
semana, pois considera esta, uma faixa suficiente de treinabilidade das qualidades físicas, ao mesmo tempo em que o risco
de lesões se mantém em níveis aceitáveis.
Verificou-se que os treinos de musculação eram divididos
em rotinas diferentes (68,64%), preferencialmente em A e B,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
em dias alternados de prática. Sobre este aspecto, dois pontos
devem ser analisados: rotinas diferentes, em dias alternados
permitem não sobrecarregar o número de horas destinadas ao
treino e, também, a permitir intervalos de recuperação de 48
horas para os grupos musculares trabalhados [22].
O alongamento é uma parte da sessão de treinamento na
musculação, assim como em qualquer outra modalidade e a
amostra tinha o hábito de realizá-los. Segundo Dantas [22],
a hipertrofia muscular e a hipertonicidade resultantes do
treinamento de musculação, se não forem trabalhadas complementamente, por meio de alongamento e flexionamento,
poderão provocar uma diminuição do arco articular de alguns
movimentos. Entretanto, Tubino [23] declara que “deve-se
evitar a aplicação, logo após as sessões de musculação, de
exercícios de flexibilidade que impliquem em estiramentos
musculares fortes, pois haverá um grande risco de tensões
nas fibras musculares”. Portanto, é oportuna a diferenciação
entre flexionamento, em que pode haver um razoável risco de
distensão e, alongamento, o qual atua com níveis de segurança
mais confiáveis.
Os resultados deste trabalho também indicaram que
4,24% (n = 10) dos alunos do grupo estudado utilizavam
recursos ergogênicos farmacológicos. Segundo pesquisa realizada nas academias de Goiânia (GO), 9% de desportistas
consumiam REF, com predominância dos esteróides anabolizantes androgênicos - EAA, sendo considerado, pelos autores,
um percentual elevado de usuários [24]. Em Porto Alegre
(RS), Conceição et al. [25] constataram em seu estudo que
24,3% dos praticantes de musculação das academias desta
capital faziam uso de EAA. Em outro estudo aplicado nas
academias americanas encontrou-se de 4 a 11% de usuários
de algum tipo de anabolizante, o que demonstrou, segundo
Yesalis et al. [26], um alto consumo destas substâncias.
Importante ressaltar que o percentual de usuários de REF
encontrado nesta pesquisa localiza-se no limite inferior do
que pode ser considerado alto. Portanto, baseado nos percentuais de outros estudos, concluí-se que o consumo destas
substâncias, pelos praticantes de musculação das academias
de Santa Maria (RS), encontra-se num padrão que pode ser
considerado de médio para alto.
Ressalta-se, ainda, que em apenas 5 academias (41,67%)
foram detectados sujeitos que utilizavam REF. Tal achado
permite inferir que há academias que estão mais predispostas
a esta prática. Outro detalhe a ser destacado, refere-se aos
percentuais individuais de cada estrato onde foram achados
questionários positivos para o uso de REF, representando de
0,5 a 20% da amostra individual, o que pode ser considerado
um alto percentual em algumas delas.
O pequeno número de usuários de REF impossibilitou o
emprego de teste estatístico para avaliar significativamente a
faixa etária na qual se concentrou o maior consumo do produto. Entretanto, contatou-se que este grupo possuía idade
entre 23 e 44 anos, com média de 29 ± 7,47, sendo, todos,
do sexo masculino. No Brasil, o consumidor preferencial de
77
EAA encontra-se entre 18 e 34 anos de idade e, em geral, é
do sexo masculino [21].
O nível de escolaridade entre os usuários concentrou-se
no Ensino Superior Completo (50%), diferentemente do
percentual encontrado na amostra total deste estudo e da
pesquisa de Araújo et al. [24] relatando que os usuários de
EAA, entre os praticantes de musculação das academias de
Goiânia (GO) possuíam, na maioria, Ensino Fundamental
ou Médio.
Analisando-se a renda individual, constatou-se que 80%
(n = 8) dos usuários recebiam entre 3 e 6 salários mínimos.
Diante destes dados, infere-se que os usuários de REF
possuíam independência financeira, o que lhes permitiu
comprometer, mensalmente, entre R$ 24,00 a 580,00, com
média de R$ 236,50 ± 168,05 dos seus salários na aquisição
dos produtos.
O tempo de prática de musculação dos usuários de REF
acompanha a tendência da amostra total, porém, é mais homogênea. Há de se destacar que 90% encontram-se na faixa
que compreende até 3 anos de prática, dos quais 30% no grupo com menos de 1 ano de prática, que pode ser considerado
como flutuante, enfatizando que muitos usuários utilizam-se
de REF para alcançar os objetivos a curto prazo.
A maioria dos usuários mencionou ter optado pela musculação, como exercício físico, com fins estéticos (50%).
Verificou-se que o objetivo principal dos usuários de recursos
ergogênicos era hipertrofia muscular (70%). Estes dados,
analisados de forma simultânea, reforçam a idéia de que cada
dia mais as pessoas acreditam que ergogênicos nutricionais e
farmacológicos podem ser usados, de forma indiscriminada,
como parte do treinamento físico. Conforme Courtine [1], as
últimas décadas ascenderam a valorização do corpo e ditaram
o modelo “ideal” de físico, desprezando o aspecto saúde, na
obtenção do mesmo. O registro crescente de consumo de substâncias ergogênicas, principalmente entre jovens, demonstra
que não há limites para a aquisição de padrões estéticos.
Quanto a freqüência de treino, 90% dos usuários de
recursos realizavam as rotinas de musculação, mais do que 4
dias na semana. Segundo Dantas [22], levando-se em consideração que o objetivo principal da maioria dos usuários era
a hipertrofia, verifica-se que a freqüência semanal de treinos
encontrava-se em conformidade com os princípios científicos
do treinamento desportivo. Santos & Santos [18] encontraram em seu estudo 56% de praticantes com freqüência
semanal de 5 vezes.
Também pode-se perceber que 90% dos usuários de recursos ergogênicos dividiam as sessões em rotinas diferentes (A e
B ou A, B e C) em dias alternados de prática, caracterizando,
desta forma, estrutura de treinos mais avançados e intensos,
condizentes com o objetivo de hipertrofia e a freqüência de
mais de 4 dias na semana, verificados anteriormente [27].
Os usuários de REF, às vezes, realizavam alongamentos
(70%) quando praticavam a musculação. Como argumentado
anteriormente, a problemática conceitual, metodológica e
78
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
fisiológica entre alongamento e flexionamento repercute de
forma negativa entre aqueles que realizam exercícios físicos
com a intenção hipertrófica, ressaltando-se que, segundo
Guiselini [27], músculos muito encurtados podem exercer
uma pressão muito grande em partes do corpo mais suscetíveis a tensões.
Os REF mais citados, entre os usuários, foram os classificados no grupo de EAA – Hemogenim, Deca-Durabolin e
Durateston, seguidos por Winstrol e Testosterona, (Tabela I).
O estudo realizado por Iriart & Andrade [21], em Salvador
(BA), verificou a predominância do uso de Testosterona e
Nandrolona, além da combinação de Testosterona e Estradiol. Segundo Araújo et al. [24], dos 17 usuários de EAA das
academias de Goiânia (GO), 66% utilizavam Hemogenim
e Testosteron.
dologia “mista”. Foi identificado entre os pesquisados um que
adotava o “ciclo” (cycling), que usava o EAA por 8 semanas
consecutivas e, após um intervalo não definido, retomava a
administração.
Tabela I - Distribuição da freqüência e percentagem de usuários,
segundo o tipo de REF usado pelos praticantes de musculação das
academias de Santa Maria (RS), 2004.
Observou-se que a grande maioria das pessoas que relataram o uso de recursos ergogênicos, especificamente os
EAA, afirmaram que a motivação se deu pelo aumento no
desempenho (60%) e do peso corporal (50%). A utilização
de anabolizantes está associada àqueles que possuem neurose
pelo corpo e são, freqüentemente, compulsivos pelo exercício
e desejam resultados a curto prazo [19].
Possivelmente, o aumento de peso corporal, associado ao
uso de esteróides anabolizantes, está relacionado às sínteses
de proteínas no músculo esquelético, principalmente devido
à regulação da transcrição do RNA ribossômico, quando aplicado por períodos curtos; porém, estes efeitos, provavelmente,
perdem-se ou diminuem após algumas semanas, ou mesmo
pelo uso continuado da droga [28].
Entre as respostas para o resultado que os usuários observaram, pode-se citar: “Estou mais forte!”; “ganhei peso e
aumentei a massa muscular”; “a recuperação é mais rápida”;
“estou mais definido”. Diante dessas afirmações é cabível a
citação de Iriart & Andrade [21]: “O anabolizante é visto
então, como uma droga poderosa que permite ao organismo
trabalhar mais rapidamente, proporcionando resultados quase
mágicos, e recompensando imediatamente o suor despendido
na malhação”.
Quando questionados sobre quem orientou o uso dos
produtos - REF, as informações concentraram-se em por
vontade própria (50%) e por orientação médica (30%).
Oportuno esclarecer, que o percentual verificado na indicação
de REF por médicos não representam significativamente a
realidade dos profissionais desta área, que desempenham suas
atividades na cidade de Santa Maria (RS). No estudo realizado
por Araújo et al. [24], a fonte mais utilizada para indicação
de anabolizantes foram o professor (11%) e por intermédio
de amigos (11%). Segundo o trabalho realizado por Rocha
& Pereira [29], 63% receberam orientação para o consumo,
dos quais 41% por profissionais da saúde e 59% através de
professores, amigos e leitura sobre o assunto.
A aquisição destas substâncias ocorreu, preferencialmente, em farmácias (50%) e através do professor da academia
Recurso ergogênico farmacológico
Deca-Durabolin
Durateston
Hemogenim
Winstrol
Testosterona
Cocaína
Ecstasy
f
6
5
4
3
3
2
3
%*
60.00
50.00
40.00
30.00
30.00
20.00
30.00
*A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a
marcação de mais de uma opção.
A Tabela II demonstra que as formas de administração
mais utilizadas foram oral e injetável. Iriart & Andrade [21]
relataram no seu estudo que a via de administração injetável
é preferida por ser mais barata e produzir efeito imediato.
Foi verificado, também, que 70% dos usuários da amostra
fazem uso combinado de REF, na tentativa de potencializar
os efeitos anabólicos e, muitas vezes, minimizar os efeitos
androgênicos e adversos [4].
Tabela II - Distribuição da freqüência e percentagem de usuários,
segundo a forma de administração de REF usado entre os praticantes
de musculação das academias de Santa Maria (RS), 2004.
Formas de Administração REF
Oral
Injetável
Supositório
Adesivo
f
5
5
2
1
%*
50.00
50.00
20.00
10.00
A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a
marcação de mais de uma opção
Quanto a freqüência de uso dos ergogênicos, na Tabela
III, verifica-se que houve predominância da aplicação diária
e semanal que, reforçada pela combinação de uso oral e
injetável que, segundo Lise et al. [4], caracterizaram a meto-
Tabela III - Distribuição do número e percentagem de usuários,
segundo a freqüência de uso de REF pelos praticantes de musculação
das academias de Santa Maria (RS), 2004.
Freqüência de uso REF
Somente em dias de treino
Diário
Semanal
Quinzenal
Não definido
Total
n
1
4
3
1
1
10
%
10.00
40.00
30.00
10.00
10.00
100.00
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
(20%). Outra importante ressalva faz-se necessária, visto que
se verificou que nem todos os instrutores de musculação das
academias de Santa Maria (RS) são profissionais formados
em Educação Física. Pesquisas têm demonstrado que, além
dos farmacológicos, recursos ergogênicos nutricionais têm
sido indicados por instrutores e professores das academias
[24,18,30]. Segundo o Código de Ética do Conselho Federal
de Educação Física - CONFEF [31], esta prática caracteriza
exercício irregular da profissão e demonstra uma atitude
antiética destes profissionais.
Os usuários de REF também foram questionados quanto
aos problemas relacionados à ingestão dos produtos avaliados.
Foram relatados, principalmente, irritação, euforia e agressividade (Tabela IV). Lise et al. [4] considera a euforia e a irritação
como efeitos adversos comuns. Segundo o estudo de Araújo
et al. [24], os usuários de anabolizantes referiram-se à euforia
(81%) e aumento de cravos e espinhas (94%).
Tabela IV - Distribuição da freqüência e percentagem dos efeitos
adversos causados pelo uso de REF por praticantes de musculação
das academias de Santa Maria (RS), 2004.
Efeito adverso
Irritação
Euforia
Agressividade
Hálito forte
Cãimbras
Tremores
f
5
4
4
4
2
2
%*
50.00
40.00
40.00
40.00
20.00
20.00
A soma dos percentuais não totaliza 100% por ter sido permitido a
marcação de mais de uma opção.
A maioria dos usuários (80%) afirmou ter conhecimento
sobre os possíveis efeitos colaterais que costumam ocorrer.
Apesar de alarmante, este dado confirma os achados discutidos
anteriormente: usuários com maior grau de escolaridade e
independência financeira deixaram-se iludir pelos benefícios
ergogênicos imediatos, para alcançar objetivos puramente
estéticos, menosprezando os potenciais riscos para a saúde,
a qualquer tempo.
Entretanto, segundo Iriart & Andrade [21], no estudo
realizado entre jovens de um bairro popular de Salvador (BA),
foi observado que “de maneira geral, os fisiculturistas entrevistados não demonstraram bom nível de informação sobre
os danos causados à saúde pelos anabolizantes que utilizam”.
Ressalta-se a falta de informação em relação às propriedades
farmacológicas dos EAA, o conhecimento informal através de
experiências próprias ou de amigos e a tolerância aos sintomas
mais comuns que não refletem os efeitos a longo prazo.
Confirmando o exposto anteriormente e, apesar dos usuários terem afirmado possuir conhecimento sobre os efeitos
adversos causados pelo uso de REF, 90% destes não realizam
exames bioquímicos para controlar as possíveis alterações
metabólicas, demonstrando que talvez este conhecimento
restrinja-se aos efeitos mais comuns e menos preocupantes.
79
Apesar de não ser objeto de estudo desta pesquisa, é importante registrar que 3,39% (n = 8) informaram o uso de
suplementos nutricionais, demonstrando o desconhecimento,
por parte dos usuários, do tipo de recurso ergogênico que
utilizavam.
Os recursos ergogênicos nutricionais - REN citados
foram Creatina, L-Carnitina, Albumina, Proteína de Soja
Texturizada e Levedura de Cerveja, motivados por melhora de
desempenho e pela vontade de emagrecer. Foi verificado que
a indicação ocorreu por vontade própria, através de amigos
e familiares e por informações obtidas por meio de publicações especializadas. A grande maioria relatou que adquiriu os
produtos em lojas do ramo e em farmácias. A administração
acontecia na forma oral, líquidos, cápsulas e em pó, diariamente ou somente em dias de treino. Os resultados obtidos
com o uso de REN foram diversos, desde emagrecimento,
maior disposição para treinar e aumento de massa muscular,
até o não reconhecimento de nenhum efeito. Os usuários de
REN afirmaram possuir conhecimento sobre os efeitos adversos, porém, o único relatado foi cefaléia esporádica e não
realizam exames bioquímicos de controle. Em relação ao gasto
mensal na aquisição dos suplementos, verificou-se que estes
se encontram numa faixa de valores bem inferior a dos REF,
concentrando-se em aproximadamente R$ 20,00.
Conclusão
Os dados produzidos neste estudo permitem concluir que
o uso de recursos ergogênicos farmacológicos por praticantes
de musculação nas academias de Santa Maria, RS é considerado de médio para alto quando comparado às pesquisas
consultadas, representando 4,24% da amostra estudada.
Entre os recursos ergogênicos farmacológicos mais utilizados, os esteróides anabolizantes androgênicos ganharam
destaque, sendo, o Deca-Durabolin, Hemogenin e Durateston, os mais citados.
Todos os usuários eram do sexo masculino e, a maioria
deles, tinha idade entre 23 e 28 anos, nível de escolaridade
superior, renda até 6 salários mínimos e comprometiam entre
R$ 136,00 e R$ 248,00 mensais na aquisição dos REF.
A estética foi a maior motivação entre os usuários para
praticar a musculação. O tempo de treino variou até três anos,
sendo a hipertrofia, o principal objetivo. A maior parte dos
usuários treinava de quatro a seis dias por semana, em rotinas
subdivididas e às vezes incluíam alongamentos à sessão.
Melhor desempenho físico foi o motivo que levou os
usuários a utilizarem os REF, por vontade própria, adquiridos,
principalmente, em farmácias.
A administração ocorria nas formas oral e injetável, diariamente, e verificou-se alguns relatos positivos de resultados.
Contudo, os usuários de REF admitiram ter conhecimento
sobre os efeitos colaterais e não realizarem exames bioquímicos
de controle. Euforia, irritação e agressividade foram os efeitos
adversos mais assinalados.
80
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Diante da pouca literatura encontrada sobre o consumo
de REF entre os praticantes de exercícios físicos brasileiros,
faz-se necessário a realização de outros trabalhos para identificar com maior precisão o consumo destas substâncias pelos
freqüentadores de academias de ginástica.
Considera-se de suma importância a divulgação das conseqüências do uso de REF e orientação das pessoas diretamente
envolvidas na prática esportiva, visto que o consumo deste
tipo de substância apresenta-se significativa.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
81
Revisão
Treinamento de força muscular em portadores
da síndrome da fibromialgia
Muscle strength training in patients with fibromyalgia syndrome
Sérgio Siqueira Teotônio*, José Sílvio de Oliveira Barbosa**
*Licenciatura Plena em Educação Física e Desportos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, **Orientador, UERJ
Resumo
Abstract
A Síndrome da Fibromialgia (SFM) é uma condição dolorosa
generalizada, crônica, não-inflamatória. É considerada síndrome pela
razão de englobar uma série de manifestações clínicas, como dor,
fadiga, indisposição, distúrbios do sono, entre outras. Apesar de a
SFM poder apresentar-se de forma extremamente dolorosa e incapacitante, ela não ocasiona comprometimento articular inflamatório
ou restritivo. A dor muscular é uma manifestação muito freqüente
na fibromialgia, podendo ser difusa ou acometer preferencialmente
algumas regiões, como o pescoço e os ombros. Os exercícios físicos
geralmente são incluídos no programa de reabilitação de pacientes
com SFM. Apesar de haver muitos estudos examinando o efeito
do treinamento aeróbio, relaxamento muscular e alongamentos,
o treinamento de força (TF) como meio de tratamento foi pouco
estudado. Apenas recentemente, os pesquisadores têm avaliado e
incluído o TF em programas de exercício físico para indivíduos
com fibromialgia. Assim, o TF vem surgindo como mais uma
estratégia de intervenção ou opção de tratamento, no sentido de
intervir positivamente no tratamento da SFM, minimizando o
quadro miálgico, bem como melhorando a qualidade de vida dos
indivíduos por ela afetados.
The Fibromyalgia Syndrome (FMS) is a non-inflammatory
chronic pain condition. It is considered a syndrome due to clinical
symptoms: musculoskeletal pain, fatigue, tiredness, sleep disturbances and headache. Although FMS maybe extremely painful, there
is no inflammatory or restrictive findings. Pain may be diffuse or
focused in determined points on the body as neck and shoulders.
Physical exercises are included in rehabilitation program for FMS.
There are several studies analyzing effects of aerobic training, muscular relaxation, stretching on FMS, but few researches focused on
resistance training (RT) as treatment tool for FMS. There are recent
studies including RT in physical exercises programs for FMS, so
that RT appears as an auxiliary tool for FMS treatment. Exercises
are commonly included. Treatment plans must be individualized to
respond to the patient’s needs and lifestyle. Several studies show the
effect of aerobic treatment, muscular relaxing and extension. Exercise
has proven to be beneficial and essential as a natural treatment for
fibromyalgia. Strength training as a treatment for fibromyalgia has
not been much studied. Nowadays it has been included as another
way of treatment and can produce great improvements in overall
health.
Palavras-chave: treinamento, força, fibromialgia.
Key-words: training, strength, fibromyalgia.
Recebido em 26 de maio de 2008; aceito em 22 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Sérgio Siqueira Teotônio, Rua Júlio de Castilho, Lt 06, Qd 12, Parque São Judas Tadeu, 25540-330
São João de Meriti RJ
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
A Educação Física vem ampliando seu campo de ação e
se especializando em diferentes áreas em função da crescente
demanda por atividades preventivas e terapêuticas. A prescrição de exercícios está buscando cada vez mais atender às
peculiaridades de cada indivíduo.
Para pessoas portadoras de doenças crônicas isso não é
diferente. Como veremos mais adiante, diversos estudos vêm
sinalizando para a importância da inclusão de exercícios físicos,
em suas rotinas de vida, auxiliando a prevenção e ao tratamento.
Há uma crescente demanda por estas atividades, ainda mais
por possuírem efeitos terapêuticos sobre a dor [1].
Dentre as patologias que apresentam dor crônica, a Síndrome da Fibromialgia (SFM) – ou, simplesmente, fibromialgia –
vem despertando cada vez mais interesse de pesquisadores pela
necessidade de respostas a diversas questões que continuam
parcialmente respondidas e pelo grande número de pessoas
que procuram clínicas, ambulatórios, centros esportivos,
clubes e academias em busca de exercícios físicos adaptados
a suas necessidades. Vale ressaltar o aumento da pesquisa e
melhoria da qualidade científica de estudos sobre SFM e
exercícios físicos nos últimos 20 anos [2].
Para que possa ser oferecida mais uma variedade de atividade
física ao portador de fibromialgia, possibilitando mais um auxílio ao controle de seu quadro clínico e ainda melhorando sua
qualidade de vida, buscou-se através desta revisão de literatura,
identificar os prováveis benefícios proporcionados pelo treinamento de força, ainda hoje carente de um número maior de
publicações sobre sua efetividade, benefícios e mecanismos.
Sabendo que a fibromialgia é uma patologia que acomete
o músculo esquelético, torna-se necessário saber sobre sua
estrutura e funcionamento, como ele se compõe, assim como
sobre a síndrome e da possível contribuição do treinamento de
força no controle do quadro clínico e melhora da qualidade
de vida de seus portadores.
Este trabalho divide-se, portanto, em quatro partes: a
primeira faz uma descrição da síndrome da fibromialgia; em
seguida, uma breve abordagem sobre os aspectos musculares
do corpo humano; depois, as possíveis contribuições do
treinamento de força para os portadores da síndrome; e por
fim, são apresentadas algumas sugestões para prescrição de
um programa de treinamento de força.
Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se pela pesquisa bibliográfica, em função desta demonstrar diferentes
metodologias empregadas no treinamento da força muscular
em portadores da SFM e seus respectivos resultados, auxiliando para uma futura prescrição de exercícios mais segura
e com alguma perspectiva.
A síndrome da fibromialgia
Dor difusa não é um sintoma novo. A partir dos anos
70, do século passado, ela passou a ser estudada com maior
interesse. Um grupo específico de pacientes com quadro de
dor difusa foi melhor caracterizado clinicamente recebendo
então a denominação de Síndrome da Fibromialgia (SFM).
Desde então houve grande divulgação desta enfermidade
e suas particularidades, assim como das crenças que não
apresentavam o menor fundamento. Durante um determinado período houve um questionamento por parte de alguns
membros da comunidade médica reumatológica acerca do
diagnóstico da SFM, isso, antes do estabelecimento dos critérios de diagnóstico; principalmente pela crença de que tal
enfermidade apresentava etiologia psicogênica [3].
Felizmente, essa visão vem decrescendo aceleradamente
à medida que clinicamente a fibromialgia tem sido melhor
caracterizada e o conhecimento dos possíveis mecanismos
envolvidos na sua sintomatologia tem avançado.
O reconhecimento das vias aferentes, das vias inibitórias
de dor e da ação de neurotransmissores permitiu compreender melhor os mecanismos que controlam o processamento
central da dor. Alterações do fluxo sangüíneo cerebral bem
como sua atividade metabólica em pacientes com dor crônica
corroboram a hipótese da presença de alterações no processamento central da dor e que justificam a alodínea e hiperalgesia
observadas nestes pacientes [1].
A musculatura esquelética representa um importante
alvo na SFM, pois muitos pacientes relatam ser o local onde
sentem maior dor e rigidez [4]. Isso ocorre devido ao fato da
dor muscular ser o sintoma principal da síndrome. Por esse
motivo, os estudos sobre a musculatura esquelética recebem
a atenção de muitos investigadores.
Atualmente sabe-se que a fibromialgia é uma forma de
reumatismo associada à sensibilidade do indivíduo frente a
um estímulo doloroso. O termo reumatismo pode ser justificado pelo fato de a fibromialgia envolver músculos, tendões
e ligamentos. O que não quer dizer que acarrete deformidade
física ou outros tipos de seqüela [3].
A fibromialgia tem despertado crescente interesse da classe
médica em diferentes especialidades, pois suas manifestações
vêm associadas geralmente a outras doenças. Portanto, se
uma pessoa apresentar queixas de dor muscular por um
período maior que três meses consecutivos, aconselha-se que
ela procure o seu médico para que o diagnóstico correto seja
estabelecido [5].
Uma patologia crônica como a SFM, necessita de uma
abordagem multidisciplinar [1]. Portanto, a abordagem
atual do indivíduo com SFM baseia-se na associação de terapêuticas medicamentosa, psicológica e de reabilitação física,
dependendo da gravidade dos sintomas, das caracterísicas
físicas e psicológicas do paciente, da presença ou não de doenças concomitantes e de fatores agravantes. O tratamento
da SFM deve objetivar o controle e até mesmo uma possível
redução dos sintomas no quadro fibromiálgico. Dentre os
resultados identificadores de sucesso no tratamento, pode-se
citar a redução da dor, principal característica da síndrome;
e a melhoria do sono, sendo que distúrbios do sono são rela-
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tados na maioria dos casos [6]. Assim, o tratamento da SFM
ajuda o fibromiálgico a lidar com as tarefas da vida diária de
maneira mais eficiente.
Após o diagnóstico e a avaliação do médico, bem como a
identificação de qualquer doença associada, o próximo passo
é estabelecer os objetivos em curto, médio e longo prazo.
Segundo Norm e Hanson [7], o objetivo imediato é educar
e informar o paciente sobre sua doença, assegurando-lhe
que seus sintomas são reais e podem ser controlados. Em
seguida a isso, a terapêutica pode ser dividida em nãomedicamentosa e medicamentosa. Na realidade, as duas
são aplicadas concomitantemente e se complementam [1].
Apenas 25 a 45% dos pacientes respondem, contudo, ao
tratamento com drogas [8]. Após cinco anos, mais de 80%
continuam sintomáticos [9]. Sendo assim, a terapia medicamentosa sozinha é insuficiente no tratamento de pacientes
fibromiálgicos. As formas de tratamento não medicamentoso
atualmente utilizadas são: acupuntura, tratamento cognitivo comportamental, biofeedback (técnica de relaxamento
e reeducação corporal na qual o indivíduo monitora sua
contração e relaxamento por meio de eletroneuromiografia
– EMG) e exercícios físicos [1].
Definição e breve histórico
No início do século XX, pessoas que apresentavam dor
generalizada e uma série de queixas mal definidas não tinham
sua condição tratada como sendo sua patologia a fibromialgia.
Por vezes, diagnósticos envolvendo problemas emocionais
consideravam tais problemas como fator determinante desse
quadro ou então um diagnóstico errôneo estabelecia como
“fibrosite”, inflamação das fibras musculares. Isso ocorria, pois
se acreditava que houvesse o envolvimento de um processo
inflamatório muscular, daí a terminação “ite” [10].
Atualmente sabe-se que as dores difusas – com recorrência
durante determinado tempo – não estão somente relacionadas
com problemas emocionais ou estresse da vida diária, como
é o caso da Síndrome da Fibromialgia [11].
Epidemiologia
Com base em pesquisas internacionais, a freqüência da
fibromialgia é de 1 a 5% na população em geral [11]. Nos
serviços de clínica médica, essa freqüência é em torno de
5%, e nos indivíduos hospitalizados, 7.5%. Em clínicas de
reumatologia, por sua vez, essa síndrome é detectada entre
14% dos atendimentos. No Brasil, uma pesquisa feita com
as populações de Porto Alegre, Fortaleza e Rio de Janeiro, em
1982, observou que 10% da população total destes estados
era portadora de fibromialgia, além de ressaltar a influência
de fatores sócio-econômicos [1].
A fibromialgia é mais freqüente no sexo feminino, que corresponde a 80% dos casos [11]. As estimativas de prevalência
variam de acordo com os estudos, a população avaliada e a
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metodologia aplicada, mas, de maneira geral, a fibromialgia
afeta indivíduos do sexo feminino, entre 80 e 90% dos casos
detectados. Cerca de 10 % das mulheres adultas jovens entre
20 e 49 anos são afetadas, sendo que a prevalência tende a se
elevar com a idade, alcançando cerca de 23% das mulheres
na sétima década de vida [12-14].
Em média, a idade do seu início varia entre 29 e 37 anos,
sendo a idade de seu diagnóstico entre 34 e 57 anos, pois em
geral tardiamente o paciente consegue encontrar um profissional que lhe dê um diagnóstico preciso. Os sintomas de dor,
fadiga e distúrbios do sono tendem a instalar-se lentamente
na vida adulta. No entanto, 25% dos casos referem apresentar
estes sintomas desde a infância [11].
Manifestações clínicas comumente encontradas
A principal queixa dos pacientes com fibromialgia é a
dor difusa e crônica, muitas vezes difícil de ser localizada ou
caracterizada com precisão [15]. Os distúrbios do sono e a
fadiga são relatados por 75% dos casos, fadiga esta que tem
início logo ao despertar e duração maior do que uma hora,
reaparecendo no meio da tarde. Os pacientes referem, ainda,
rigidez matinal e sensação de sono não restaurador, apesar de
terem dormido de 8 a 10 horas. O sono é superficial, tendo
os pacientes, facilidade de acordar frente a qualquer estímulo,
além de apresentar um despertar precoce [6].
Embora os distúrbios do humor estejam presentes em
grande parte dos indivíduos com fibromialgia, em pelo menos
25% não se encontra indício algum de distúrbio emocional.
Tal dado contraria a origem psíquica da fibromialgia. Sabese hoje que a sensibilidade dolorosa apresenta dois componentes, o discriminativo e o comportamental. Este último
sofre influência constante de nosso estado do humor. Esta
interação entre o componente comportamental da dor e o
estado emotivo nos possibilita entender como os distúrbios
do humor influenciam a sensibilidade dolorosa. Cerca de 50%
dos pacientes possuem depressão. Ansiedade, alteração do
humor e do comportamento, irritabilidade ou outros distúrbios psicológicos acompanham aproximadamente 1/3 destes
pacientes, embora o modelo psicopatológico não justifique a
presença da fibromialgia [16].
Apesar de a fibromialgia poder apresentar-se de forma
extremamente dolorosa e incapacitante, ela não ocasiona
comprometimento articular inflamatório ou restritivo [17].
A presença dos pontos dolorosos é um achado importante do
exame físico, não se observando edema ou sinovite, a não ser
na concomitância de patologias como a osteoartrite ou artrite
reumatóide [18]. A fraqueza muscular, o adormecimento e
tremor em extremidades, embora referidos por 75% dos pacientes, não são comprovados ao exame neurológico [19].
Outros achados do exame físico incluem o espasmo
muscular localizado, referidos como nódulos, a sensibilidade
cutânea ao pregueamento (alodinia) ou dermografismo, após
compressão local. A sensibilidade ao frio também pode estar
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presente e manifestar-se como “cutis marmorata” em especial
nos membros inferiores [20].
A dor muscular, apesar de difusa, pode acometer preferencialmente algumas regiões, como o pescoço e os ombros
e então propagar-se para outras áreas do corpo. O indivíduo
descreve sua sensação de dor das mais diferentes formas, desde
um leve incômodo até uma condição incapacitante. Por vezes
relata ardência, dor em pontadas, rigidez, câimbras [21].
bios do sono) poderiam ativar nociceptores e meconoceptores,
que ocasionariam excitação na neurotransmissão da dor por
meio do Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso
Simpático (SNS); a dor e a inatividade conduziriam ao descondicionamento do músculo e à fadiga, ficando o músculo
mais exposto ao microtrauma. Os distúrbios do sono e outras
condições orgânicas ou psicológicas poderiam agravar o microtrauma muscular.
Possíveis fatores desencadeantes
Diagnóstico
A fibromialgia está relacionada à interação de fatores genéticos, neuroendócrinos, psicológicos e distúrbios do sono
[22]. Frente a processos dolorosos, a esforços repetitivos, à
artrite crônica, a situações estressantes como cirurgias ou
traumas, processos infecciosos, condições psicológicas e até
retirada de medicações, como corticosteróides, pode haver
alterações nos mecanismos de percepção da dor, predispondo o indivíduo à fibromialgia [24,25]. Assim sendo, uma
infecção, um episódio de gripe ou um acidente de carro pode
estimular o aparecimento dessa síndrome. Por outro lado, os
sintomas de fibromialgia podem provocar alterações no humor
e diminuição da atividade física, o que agrava a condição de
dor. Pode-se observar, portanto, uma “via de mão dupla”
nesta doença [11].
Não se pode afirmar que a fibromialgia seja uma condição
psiquiátrica primária, porém fatores psicológicos apresentam
atuação importante em alguns pacientes [26,27].
Parece que os distúrbios psicológicos como a ansiedade,
depressão e estresse atuam como fatores de retro-alimentação
positiva à condição dolorosa crônica em portadores da SFM
[24].
Doenças crônicas, como as artropatias inflamatórias,
devem, muitas vezes, ser encaradas dentro de um contexto
biopsicossocial, uma vez que não existe um processo biológico
único envolvido em sua origem, no entanto, evidências de
lesão tecidual estão presentes. O termo “síndromes disfuncionais” foi proposto por Yunus [24] para melhor compreender os
mecanismos biofisiológicos envolvidos em síndromes crônicas
nas quais não se detecta lesão tecidual. Pela denominação
“mecanismos biofisiológicos”, entende-se a natureza de uma
determinada entidade clínica, suas causas, processos e conseqüências. Este modelo integrado é o que melhor se aplica
ao estudo da fibromialgia.
Uma idéia bastante razoável sugerida por Feldman [28],
para explicar como o músculo esquelético é afetado pela SFM,
engloba, entre outros fatores, a microcirculação muscular e
o microtrauma repetitivo do músculo. Fatores preexistentes
(alterações nos receptores de serotonina, endorfina) e fatores
precipitantes (trauma repetitivo, descondicionamento, distúr-
Estudos demonstram que a definição do diagnóstico bem
como a melhor compreensão por parte do paciente sobre a
natureza da sua doença contribuem para aliviar seu “comportamento doentio”, aliviar sua sintomatologia complexa e
conseqüentemente reduzir sua procura por serviços médicos
diminuindo os gastos com a saúde. Estes pacientes adquirem
melhores condições de enfrentamento de situações adversas
apresentando uma evolução mais favorável [29].
Como não existem exames complementares que por si só
confirmem o diagnóstico, a experiência clínica do profissional
que avalia o indivíduo com fibromialgia é fundamental para o
sucesso do diagnóstico e do tratamento. Porém, é importante
ressaltar que a boa descrição dos sintomas – em detalhes – e
da duração dos mesmos são fatores também determinantes
para um diagnóstico efetivo [30].
Há pesquisas que indicam, ainda, que o portador da SFM
pode apresentar problemas cardiorrespiratórios [31].
Em 1990 foram elaborados critérios diagnósticos que,
embora sejam atualmente criticados, ainda são muito utilizados, sobretudo em estudos de pesquisa clínica. Esses critérios
auxiliam no diagnóstico dessa síndrome, diferenciando-a de
outras condições que acarretem dor muscular ou óssea. Eles
valorizam a questão da dor difusa por um período maior que
três meses e a presença de pontos dolorosos padronizados [3235]. Esses pontos são considerados presentes quando, ao serem
pressionados pelo médico a uma certa intensidade (4 kgf de
pressão máxima), o indivíduo refere dor [36]. A presença de
sensibilidade dolorosa em determinados sítios anatômicos,
é um achado clínico importante e são chamados de “tender
points” [37] ou “pontos dolorosos”.
Faz-se importante ressaltar que os “pontos dolorosos”
não são geralmente conhecidos pelos pacientes, e normalmente não se situam na zona central de dor por eles
referida. Os critérios de resposta dolorosa em pelo menos
11 desses 18 pontos é recomendado como proposta de
classificação, mas não deve ser considerado como essencial
para o diagnóstico. Alguns pacientes com menos de 11
sítios dolorosos podem ser classificados como portadores
de fibromialgia [38].
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Figura 1 - “Tender Points” ou “Pontos Dolorosos”.
Desde 1990 esses critérios estabelecidos pelo Colégio
Americano de Reumatologia (ACR) são adotados internacionalmente para o diagnóstico da fibromialgia [39].
Fatores moduladores
As manifestações de dor podem variar de acordo com o
horário do dia, intensidade dos esforços físicos realizados,
condições climáticas, aspectos emocionais e ligados ao padrão do sono [40]. Os principais fatores geradores e também
moduladores são: estresse emocional, processos infecciosos
(principalmente virais) e traumas físicos (DORT, cervicalgia
pós-acidente, cirurgias de grande porte). As situações de estresse, falta de condicionamento físico e a reação psicológica
às doenças poderiam atuar como amplificadores nociceptivos
e perpetuadores dos sintomas dessa síndrome [1].
A dor
Devido ao fato de a dor muscular ser o sintoma principal
desta condição, os estudos do músculo tem recebido atenção
de muitos investigadores. Durante os últimos anos, os estudos
controlados, comparando a estrutura e a função muscular
desses pacientes, apresentaram resultados controversos.
Os achados histológicos nesses pacientes, tanto por microscopia ótica como por microscopia eletrônica, têm se mostrado
normais ou com alterações estruturais não-específicas, que
também são encontradas nos pacientes-controle [41-44].
A isquemia ou o distúrbio metabólico parece exercer
influência, pelo menos nos sítios denominados “tender
points”, pois os estudos do metabolismo muscular concluíram que existem anormalidades de oxigenação nesses pontos
musculares [45,46]. Contudo, não foi provado ainda se tal
anormalidade seria uma alteração primária do músculo, ou
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seria secundário ao descondicionamento físico aeróbio desses
indivíduos, uma vez que cerca de 80% dos fibromiálgicos
apresentam níveis abaixo da média nos estudos de condicionamento aeróbio [47].
Uma antiga hipótese sobre a possibilidade de que “a
hipóxia produziria espasmo muscular e isquemia, que conseqüentemente aumentaria a dor causando mais espasmos, e
assim formaria um ciclo vicioso”, não se sustentou pela falta
de evidência eletrofisiológica de espasmo muscular nestes
pacientes [43].
A força e o desempenho muscular de pacientes portadores
de SFM são comparáveis aos das pessoas normais [48,49]. Porém, existe uma diminuição da contração voluntária máxima
(provavelmente pela falta de esforço voluntário) e, em alguns
casos, uma diminuição na capacidade de relaxamento durante
os intervalos de contração muscular dinâmica [43,50,51].
Trabalhos recentes aplicando a técnica de espectroscopia
por ressonância magnética nuclear utilizando fósforo (P31),
no intuito de estudar o metabolismo muscular na fibromialgia, não conseguiram demonstrar anormalidades, tanto nos
“tender points” como em sítios não-dolorosos [52,53].
Os estudos de fluxo sangüíneo muscular demonstram
alterações que podem ser justificadas apenas pelo descondicionamento físico [47].
Outra hipótese sugere que a origem da dor nesta síndrome
seria por tensão muscular excessiva, que conduziria a uma
excitabilidade elevada de seus nociceptores, ocasionando um
aumento no tônus muscular, juntamente com uma disfunção
simpática que levaria a um distúrbio na microcirculação e,
novamente, a uma excitação de nociceptores [54]. Entretanto,
estudos de eletroneuromiografia não demonstraram tensão
muscular excessiva ou qualquer disfunção nervosa simpática
[55-59].
Há também hipótese bastante razoável, em que são consideradas alterações centrais (sistema nervoso central) e periféricas (musculatura) na fibromialgia, que engloba, dentre outros
fatores, a microcirculação muscular e o microtrauma repetitivo
no músculo. Fatores genéticos (alterações nos receptores de
serotonina, endorfina) e fatores precipitantes (trauma repetitivo, descondicionamento, distúrbios do sono) poderiam
levar os nociceptores e mecanoceptores, que ocasionariam excitação na neurotransmissão da dor através SNC e do sistema
nervoso simpático, a dor e a inatividade, que conduziriam ao
descondicionamento do músculo e a fadiga, ficando o músculo mais exposto ao microtrauma. Os distúrbios do sono e
outras condições orgânicas ou psicológicas poderiam agravar
o microtrauma muscular [47]. Como se percebe, então, essa
hipótese envolve também fatores centrais, como o estado
psicológico ou as alterações nos neurotransmissores.
Yunus [60] propõe um modelo de fisiopatologia que
integram muitas das idéias publicadas e que sugere que
o distúrbio primário na fibromialgia seria uma alteração
em algum mecanismo central de controle da dor, o qual
poderia resultar de uma disfunção de neurotransmissores.
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Tal disfunção neuro-hormonal incluiria uma deficiência de
neurotransmissores inibitórios em níveis espinhais ou supraespinhas (serotonina, encefalina, norepinefrina e outros),
ou uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios
(substâncias P, glutamato, bradimicina e outros peptídeos),
ou ainda ambas as condições poderiam ser geneticamente
predeterminadas e talvez desencadeadas por algum estresse
não-específico como, por exemplo, uma infecção viral,
estresse mental ou trauma físico.
Uma excelente revisão foi publicada discutindo as
anormalidades do eixo hipófise-hipotálamo-adrenal e o
sistema nervoso simpático, que são os principais sistemas
de resposta ao estresse, e suas interações com outras disfunções neuro-hormonais, e que podem todas contribuir
para essa síndrome dolorosa crônica. Neste trabalho,
sugere-se que a vulnerabilidade ao desenvolvimento de
fibromialgia possa ser influenciada por fatores genéticos,
ambientais e hormonais, causando alterações nos receptores
neuro-hormonais; algum fator estressante agudo poderia
desencadear o desenvolvimento de perturbação do eixo
hipófise-hipotálamo-adrenal por mecanismos ainda não
esclarecidos, mas que poderia envolver o sistema nervoso
simpático e o sistema serotoninérgico. Talvez, então, o eixo
hipófise-hipotálamo-adrenal possa desempenhar um papel
na mediação e na perpetuação dos sintomas da síndrome
da fibromialgia [61].
Evidências de anormalidades centrais e neuro-hormonais
têm sido declaradas desde os primeiros estudos de polisonografia em fibromialgia que reportaram um padrão anormal
de instrução de ondas alfa durante os estágios 2, 3 e 4 do
sono não-REM, conhecido como traçado “alfa no delta”
[6,62]. Esse achado corresponde a um aumento da tonicidade
muscular global, a um aumento na freqüência respiratória e
ao aparecimento de mioclonias. Convém lembrar que esses
achados não são exclusivos da fibromialgia, podendo ocorrer
na síndrome da fadiga crônica, na artrite reumatóide, na
depressão e em outras condições ou, até mesmo, em pessoas
saudáveis.
Apesar da incerteza quanto à causa dos distúrbios do sono
na fibromialgia, sabe-se que alterações nos neuro-hormônios
modulares da dor exercem influência na fisiologia do sono
e nos sintomas desta síndrome. A deficiência de serotonina,
um neuro-hormônio inibitório da dor, pode contribuir
para as anomalias do sono, depressão e amplificação da
dor [63].
A liberação de sustância-P, um neuro-hormônio excitatório, é influenciada pela deficiência de serotonina,
seja no sistema nervoso central, seja no sistema nervoso
periférico e pode causar um aumento na percepção da
dor [63].
Alguns acreditam que o triptofano, um precursor da
serotonina e também um neuromodulador, e outros nove
aminoácidos teriam sua concentração plasmática diminuída
na fibromialgia e ainda, que existiria uma maior afinidade na
ligação de imipramina aos receptores serotonérgicos plaquetários nesses pacientes [34].
Pesquisas também evidenciaram uma diminuição dos
níveis de triptofano e de outros aminoácidos, e um aumento da concentração de substância-P, endorfinas e ácido
5-hidroxi-indolacético no sangue e no líquor de portadores
de fibromialgia [33,34,60,63].
Em contraste com os estudos dos neuropeptídios moduladores da dor, pouca atenção foi dada a investigação das
estruturas do SNC que estão envolvidas na percepção da dor.
Os primeiros estudos neste sentido empregaram a tomografia
computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), no
sentido de estudar fluxo sanguíneo cerebral. Em um deles
constatou-se uma diminuição significativa do fluxo sanguíneo
nas regiões bilaterais do tálamo e do núcleo caudado cerebral
dos portadores da fibromialgia quando comparados com
indivíduos saudáveis [64]. Esses achados trazem implicações
importantes, uma vez que o tálamo exerce papel essencial
na integração dos sinais da dor e nas gerações de sinais que
regulam o eixo hipófise-hipotálamo-adrenal e, por sua vez,
o núcleo caudado também está envolvido na percepção da
dor, pois se demonstrou que uma quantidade expressiva de
neurônios nociceptores específicos estão sitiados no núcleo
caudado [65].
Em outro estudo, os resultados mostraram uma média
normal de fluxo sangüíneo local e demonstrou reduções
principalmente em áreas frontais, e também em regiões
temporais, centrais e/ou parietais do córtex cerebral, sendo
algumas de envolvimento bilateral [66]. Este trabalho pode
ser interpretado como uma possibilidade da fibromialgia estar
correlacionada com os distúrbios discretos, primários e/ou
secundários, da função cerebral e com uma acentuação da
disfunção em regiões corticais frontais.
Ambos os estudos sustentam a hipótese de que a anormalidade de percepção da dor, que ocorre na fibromilagia,
possa ser o resultado de um distúrbio funcional em estruturas
cerebrais.
As mais diversas anormalidades têm sido observadas nos
portadores dessa síndrome músculo-esquelética crônica.
Dentre elas as mais importantes são a substância-P elevada
no líquor, a serotonina reduzida nas plaquetas; um nível baixo
de triptofano e de adenosina e um metabolismo anormal de
carboidratos nas hemácias; regulação da produção de cortisol;
e diminuição de fluxo a sangüíneo em determinadas estruturas
cerebrais [66].
Nenhumas dessas disfunções são específicas, portanto não
devem ser empregadas para fins diagnósticos. Contudo, elas
vêm possibilitando um melhor discernimento desta moléstia
e conduzindo as diferentes atitudes terapêuticas em relação
a seus portadores.
A figura a seguir é proposta como um esquema resumido
da hipótese neuro-hormonal da fisiopatologia da fibromialgia
adaptada por Crofford e Demitrack.
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Figura 2 - Esquema resumido da hipótese neuro-hormonal da
fisiopatologia da fibromialgia – adaptado de Crofford e Demitrack
[1].
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venções não-farmacológicas [2]; apenas 5 foram encontrados
analisando treino de força isoladamente.
Apesar das evidências relatadas em estudos científicos
demonstrarem um efeito benéfico do trabalho de força, ainda
são necessários estudos que aprofundem os conhecimentos
sobre os verdadeiros mecanismos que podem estar gerando
esses efeitos positivos, assim como o estabelecimento de
dose-resposta (freqüência, intensidade e volume) adequada e
os efeitos crônicos. Com isso, são necessárias pesquisas com
uma amostra maior, que possa comprovar a efetividade do
treinamento de força. Tudo isso dará um maior embasamento
teórico à prática dessa atividade.
Treinamento da força muscular na síndrome da
fibromialgia
Exercícios e a fibromialgia
Um dos primeiros investigadores a observar a relação
entre dor e exercício foi Moldofsky [6]. Este estudo demonstrou que a privação do sono diminui o limiar de dor
em sedentários, mas o mesmo não acontece em indivíduos
treinados. Apenas uma década mais tarde, ensaios clínicos
foram publicados demonstrando que exercícios aeróbios e o
treinamento de força contribuem na diminuição da dor na
fibromialgia [3,35,67].
Tendo referência no quadro apresentado, obtemos um
somatório de resultados que ajudam a perceber o quanto pode
o treinamento de força vir a contribuir na melhoria do quadro
da SFM, pois foram encontradas melhora na força muscular;
no quadro de depressão; uma melhora significativa da força
muscular, sem aumento do quadro de dor proporcionado
pela síndrome; e ainda, possivelmente ser responsável por
melhoria do quadro clínico.
De acordo com o levantamento bibliográfico, consultando
artigos de periódicos nacionais, internacionais e eletrônicos
no sistema Medline e Scielo e livros recentemente publicados,
foram publicados nos últimos 20 anos: 30 ensaios clínicos
sobre exercício físico no tratamento da fibromialgia, incluindo
aproximadamente 1500 indivíduos: 12 avaliaram o condicionamento aeróbio; 10 estudaram programas combinados ou
associados ao tratamento medicamentoso ou outras inter-
Poucos estudos, com amostras pequenas, têm sido publicados sobre o fortalecimento muscular na fibromialgia. Estes
demonstraram que o treino de força promove um conjunto
maior de benefícios comparado com o treino de flexibilidade
[69,71]. Além disso, estudos comprovam que o treinamento
de força é seguro, não aumentando os sintomas de dor e nem
provocando lesão, quando bem dirigido [71,72]. Mais estudos
com relação ao treinamento de força são necessários, para
haver maior garantia de sua seguridade e de seus benefícios à
qualidade de vida [35,55].
Pacientes com SFM parecem necessitar de um período
maior e mais esforço pessoal para adaptação a um programa
de exercício. Por isso a progressão da carga deve ser mais
lenta que o habitual. Além disso, alguns autores notaram que
alguns pacientes podem até piorar nas primeiras 8 semanas de
atividade física [76]. Este fato pode explicar porque ensaios
de curta duração não demonstraram nenhuma melhora na
qualidade de vida, enquanto, programas mais longos, com
mais de 15 semanas, conseguiram observar melhora em vários
aspectos, inclusive qualidade de vida.
Um estudo piloto feito por Rooks et al. [72], em que se
treinaram exercícios de força e aeróbios em portadores da
SFM, observou melhoria geral de força e dos sintomas da
SFM, sem ocorrência de lesões, e o que é destacado como
mais importante: integração social, companheirismo, diversão também são alcançados durante o treinamento de força,
além de todos os benefícios físicos adquiridos. Também foi
observado que, com estímulo apropriado, a força pode ser
desenvolvida, trabalhando-se com intensidades baixas inicialmente. Posteriormente, poderá ocorrer aumento gradual da
carga (intensidade) de trabalho, com a garantia de poderem
retornar a valores mais baixos caso não se adaptassem. Enfim,
tal opção ficou por conta das próprias participantes. Esta
estratégia deu segurança aos participantes e acredita-se que
foi responsável pelos resultados obtidos. Acredita-se ainda
que o excesso de cautela na determinação das intensidades
em estudos anteriores, como a utilização de pesos inferiores
àqueles que poderiam ser trabalhados para prevenir lesão
88
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela I - Principais estudos encontrados envolvendo treinamento de força e portadores da SFM
Autor
Martin et al. [68]
Häkkinen et al.
[69]
Jones et al. [70]
Geel et al. [71]
Rooks et al. [72]
Häkkinen et al.
[73]
Valkeinen et al.
[74]
Kingsley et al [75]
Exercício
Freqüência
Intensidade
A = 3x semana
A = exercício aeróbico, força 6 semanas
e flexibilidade
B = 1x semana 60-80% FCmáx.
B = relaxamento
6 semanas
A = Treinamento de força
B = Controle
(sem treinamento)
C = Indivíduos Saudáveis
(com treinamento)
A = fortalecimento
progressivo
B = flexibilidade estática
A = musculação
B = controle (sem treinamento)
Treinamento de força e exercício aeróbio
A = treinamento de força
B = controle
(sem treinamento)
C = Indivíduos saudáveis
(com treinamento)
A = musculação
B = controle
(sem treinamento)
A = Treinamento de força
B = Controle
(sem treinamento)
Sujeitos Resultados
A = 18
B = 20
Melhora significativa nos pontos
de dor, escore de mialgia e condicionamento aeróbio do grupo A.
A = 11
B = 10
C = 12
Melhora da força muscular e do
quadro de depressão em A comparado a B.
2x semana
21 semanas
Cargas
crescentes
12 semanas
0,5 a 1,5 kg
A = 28
B = 28
Melhora significativa da força 2x
mais em A comparado a B, sem
aumento da dor.
2x semana
8 semanas
60-70% de 1RM
A = 10
B=6
Redução dos sintomas clínicos e
melhoria da força muscular.
Cargas
progressivas
N = 15
Treinamento de força é seguro.
21 semanas
Cargas
crescentes
A = 11
B = 10
C = 12
Magnitude e o tempo de curso de
adaptação neromuscular compatíveis entre os grupos A e C.
2x semana
21 semanas
Cargas progressivas
A = 13
B = 11
Aumento de 33% na força de
extensão de perna e de 13% na
flexão no grupo A em relação a B.
2x semana
12 semanas
40-80% 1 RM
A =15
B =14
Melhoria da força e do quadro
clínico.
20 semanas
durante o estudo, foi responsável pela não ocorrência de alterações fisiológicas. Chegou-se a conclusão que o treinamento
de força pode ser seguro, viável e benéfico para portadores
de SFM e que mulheres com esta síndrome podem executar
exercícios submáximos a uma intensidade suficiente para
estimular adaptações fisiológicas na força muscular, sendo a
aderência e a progressão do exercício fatores fundamentais
para este processo. Os resultados obtidos sugerem a inclusão
do treinamento de força nos programas de exercícios voltados
aos portadores de SFM.
Outro estudo realizado por King et al. [77] foi de grande
importância para a constatação de como pode ser benéfico o
treinamento de força para melhoria do quadro da SFM. Em
um estudo randomizado, com treinamento de força isolado e
uma baixa evasão (9%), concluiu-se que mulheres com SFM
podem participar de um programa de treinamento de força
especialmente delineado e obterem uma melhoria geral em seu
quadro clínico, sem exacerbação dos sintomas por conta dos
exercícios e sem aumento na utilização de medicamentos.
Existem pesquisas que compararam a força de mulheres com
fibromialgia e mulheres saudáveis e verificou-se que, em ambas,
o sistema neuromuscular possui a mesma capacidade para se
exercitar, mostrando também que este treino trouxe resultados
positivos no tratamento dos sintomas da síndrome [28].
Programa de treinamento para portadores de
fibromialgia
Antes de iniciar um programa de exercícios é importante realizar uma avaliação funcional e cardiovascular para
identificar condições que possam interferir no desempenho
e na resposta ao exercício ou oferecer risco como doença
coronariana e hipotensão postural. As co-morbidades musculoesqueléticas podem limitar o treinamento e devem ser
tratadas previamente [32].
A anamnese também deve conter informações da história
pregressa de hábito de atividade física – freqüência, modalidade, preferência, tolerância e comportamento familiar em
relação ao exercício. Estas informações ajudam a individualizar
a prescrição e aumentar a adesão [2].
A prescrição do exercício deve detalhar orientações sobre
a intensidade inicial do treino e como aumentar progressiva-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
mente a carga. Para adequada prescrição individual é importante considerar as preferências do indivíduo, co-morbidades,
uso de medicamentos e capacidade funcional [79].
Estudos que buscam identificar os benefícios trazidos pelo
treinamento de força no controle da fibromialgia, utilizando o
alongamento como intervenção-controle, deveriam procurar
um método menos questionável, pois foi observada alguma
melhora na utilização de alongamento para o controle do
quadro fibromiálgico [24].
A sugestão aqui oferecida sobre o programa de treinamento
levou em consideração alguns aspectos do posicionamento
oficial do American College of Sports Medicine [37] sobre
o treinamento de força, para adultos saudáveis. Foram feitas
algumas adaptações para a população com fibromialgia [1]:
Freqüência das sessões de musculação: duas a três vezes
por semana para alunos iniciantes, ou seja, para aqueles que
nunca tiveram contato com exercícios físicos ou há muito
tempo não os pratica; e de quatro a cinco vezes por semana
para alunos que já tenham completado a fase de adaptação
ou já vêm vindo de uma prática de atividade física recente,
isto é, não iniciantes.
Intensidade: evitar cargas excessivas. Iniciar com um trabalho muscular em torno de 40 a 60% da carga máxima (1
RM) ou da carga que possibilite o aluno a executar o número
limite de repetições prescritas, ou seja, um treinamento de
resistência muscular localizada.
Volume: evitar grande número de repetições e séries extensas. Usar entre 10 a 15 repetições, com uma a três séries
por exercício. O número de exercícios deve ser reduzido e
devem ser usados exercícios, principalmente, para os grandes
grupos musculares no princípio (cinco). A quantidade de
exercícios deverá aumentar conforme a resposta fisiológica
de cada aluno, com o desenvolvimento da força muscular e
melhoria de seu quadro clínico.
Seqüência dos exercícios: colocar primeiro os grupos musculares maiores e depois os menores, e priorizar os exercícios
multiarticulares e depois os mono articulares.
Velocidade de contração moderada: 1-2 segundos na fase
concêntrica e 1-2 segundos na fase excêntrica (lembre-se: não
enfatize a fase excêntrica).
Intervalo: usar intervalos de descanso entre 60 a 120
segundos.
Tipos de exercícios contra-indicados: Microlesões em
fibras musculares foram observados após treinamento excêntrico e com pré-estiramento. Cabe ressaltar que a recuperação
do dano causado nas fibras musculares durante o treinamento
não segue o mesmo padrão temporal da dor pós-exercício
- “dor tardia” - sentida por quem praticou a atividade: as
fibras se recuperam, mas a dor ainda se encontra presente.
Provavelmente, o dano da fibra muscular em si pode não ser
a única causa da dor pós-exercício; outros fatores, tais como
edema, inchaço ou inflamação, causados conjuntamente,
poderão também estar relacionados [78]. Assim, exercícios
com componente excêntrico elevado e exercícios com pré-
89
estiramento devem ser evitados para se evitar que, somado
ao quadro de dor da SFM, acabe também por acarretar a
“dor tardia” devido a estes tipos de exercícios, como descrito
anteriormente.
Progressão: aumentar o peso, gradativamente, entre 2 a
10% quando o aluno conseguir executar uma ou duas repetições a mais do que o número de repetições prescrito.
Respiração: usar a respiração de forma natural ou passiva
eletiva (expira na fase concêntrica e inspira na fase excêntrica).
Material: elástico ou garrote (reduz o efeito da fase excêntrica), pesos livres, máquinas de musculação de resistência
variável.
O profissional que for ministrar o treinamento de força
para portadores da SFM deve providenciar sua integração em
uma equipe multidisciplinar: mantendo contato com médicos
(reumatologista, endocrinologista), psicólogo, fisioterapeuta,
massagista, acupunturista etc. É importante a troca de informações entre especialistas da área da saúde ou áreas afins,
pois a SFM é uma patologia muito complexa e única em
cada indivíduo, o que torna muito difícil o estabelecimento
de uma única forma de tratamento.
Monte, se possível, uma aula específica para um grupo
com indivíduos portadores de SFM: a participação em grupo
ajuda a encorajar, pois o sucesso de um contagia e motiva os
demais. Lembre-se de que estes indivíduos sentem dor mesmo quando estão parados, então, a tendência é que, cada vez
mais, eles diminuam seu nível de atividade física. Isso ocorre
porque imaginam que a dor pode aumentar se fizerem esforço
físico, quando na realidade, acontece o contrário; o baixo
condicionamento físico pode agravar ainda mais os sintomas
da SFM. Portanto, seu papel é estimulá-los.
O programa deve incluir educação sobre a SFM: esclarecimentos sobre a doença irão ajudar seu aluno a compreender
melhor suas limitações e possibilidades. O indivíduo precisa
se sentir seguro e confiante. Monte um ciclo de palestras em
sua academia com especialistas no assunto a fim de enriquecer
seu trabalho e para que os alunos possam esclarecer as dúvidas.
Isso ajudará e estimulará os bons resultados.
Avaliação: primeiramente, seu aluno deve ser avaliado e
diagnosticado pelo médico. O médico irá verificar, também,
se o indivíduo não tem nenhuma outra patologia associada,
que geralmente irá influenciar a gravidade dos sintomas da
SFM. Após a liberação médica para a prática de exercícios
físicos, o profissional de Educação Física, atento às avaliações
e diagnósticos médico, deverá fazer uma anamnese de seu
aluno portador da SFM, a fim de obter informações sobre
seu nível de atividade física, sua experiência motora anterior
e suas expectativas. O educador físico poderá pedir auxílio
aos médicos ou psicólogos quanto à aplicação de questionários específicos para SFM, que possam complementar sua
avaliação dos resultados com os indivíduos. Exemplos são
Arthritis Impact Measurement (AIMS) e o Fibromyalgia Impact
Questionnaire (FIQ), que é o mais usado no Brasil, avaliados
90
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
como válidos em uma população com SFM, ou mesmo o
Short-Form Health Survey (SF-36), instrumento genérico que
avalia a incapacidade física e para o trabalho.
Estabelecer os objetivos de seu programa: informar
aos portadores da SFM que o tratamento que irá propor
é mais paliativo, ou seja, tem como objetivo maior o de
amenizar seu quadro clínico, e não de provocar um desaparecimento por completo dos sintomas, pois ainda não
há cura para a SFM. É importante estabelecer objetivos em
curto, médio e longo prazos. Dentre os principais objetivos
do programa de treinamento estão a redução do quadro
miálgico, a melhora do sono e da capacidade funcional,
o reforço muscular, o aumento da resistência aeróbia e o
alívio do estresse.
Conclusão
O treinamento de força (TF) foi pouco pesquisado em
portadores da Síndrome da Fibromialgia (SFM). Apenas recentemente o TF tem sido reconhecido como um recurso para
promover saúde e melhoria da qualidade de vida em pessoas
acometidas por doenças crônicas, porém ainda são poucos
os estudos que buscaram obter seus efeitos em portadores da
SFM, além disso, as amostras estudadas foram pequenas e o
tempo de intervenção curto.
Portanto, há necessidade de um número maior de estudos
sobre a eficácia e efetividade, os benefícios e mecanismos do
treinamento de força para portadores de fibromialgia, assim
como estudos com maiores amostras, maior tempo de intervenção, e entre outras, questões metodológicas que possam
interferir nas evidências produzidas.
Pesquisas com relação à aplicação dos princípios do treinamento tornam-se necessárias, para maior seguridade no ato
da prescrição dos exercícios.
Tendo em vista que é uma síndrome que acomete grande
porcentagem da população nacional, precisa ser mais divulgada nos meios acadêmicos, para que haja maior número de
profissionais preparados para atender a demanda.
Todavia, a literatura existente informa que o treinamento
de força pode ser recomendado e utilizado, pois é eficaz e
parece não acarretar lesão para os portadores da Síndrome da
Fibromialgia (SFM), quando bem direcionado.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
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Revisão
Estudo sobre os fatores geradores de fadiga muscular
A study about the factors involved in muscle fatigue
Daniela Silva Scalon*, Vanessa Rodrigues Figueiredo*, Dernival Bertoncello, Ft., D.Sc.**
*Acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade de Uberaba, **Docente responsável pelo Laboratório de Bioengenharia e disciplina de Ciências Fisiológicas da Universidade de Uberaba, Uberaba – MG
Resumo
Abstract
A fadiga é um processo fisiológico em que ocorre depleção
das reservas energéticas associada ao acúmulo de catabólitos no
organismo ou a outros fatores. Isto dificulta a continuação da
atividade física, podendo provocar até incapacidade temporária
para o exercício e/ou para o desempenho psicológico do indivíduo.
Pode ser encarada como um elemento importante ou até mesmo
essencial do estímulo global para os músculos aprimorarem sua
força ou fazerem outras adaptações estruturais e metabólicas. A
fadiga parece preceder uma lesão funcionando como mecanismo
de proteção para evitar o esgotamento total das reservas físicas.
Este estudo teve o objetivo de avaliar os fatores geradores de fadiga
muscular, procurando identificar aqueles que envolvem aspectos
clínicos. Para isso, foram realizadas buscas em bases de dados que
contemplam periódicos científicos, como Medline, Pubmed e Lilacs.
O período tomado como base para coleta de artigos científicos foi
dos últimos 10 anos. A pesquisa também tomou como base livros
e textos de caráter didático relacionados ao tema. Conclui-se com
esta pesquisa quais os principais agentes metabólicos que levam à
fadiga, seja ela de origem central ou periférica. Procurou-se elucidar a
função deste processo não como falha do organismo, mas sim como
agente protetor de lesões.
Fatigue is a physiological process in which there is a depletion
of energy reserves related to the accumulation of catabolites in the
organism or to other factors. It makes it hard to continue the physical activity and it can even cause temporary incapacity to physical
exercise and/or psychological performance. It can be considered as
an important or even an essential factor to global stimulus in order
to make muscles gain strength and make structural and metabolic
adaptations. Fatigue seems to be a lesion working as a mechanism
of protection to avoid the total debility of physical reserves. This
study aims at evaluating the factors responsible for muscular fatigue,
trying to identify those which involve clinical aspects. To accomplish
it, our research database included data from scientific publications,
such as Medline, Pubmed and Lilacs. The articles consulted were
published within ten years. The research was also based on textbooks
related to the subject. This research points the main metabolic agents
that lead to central or peripheral fatigue. We tried to elucidate the
function of this process not as a failure of the organism, but as a
protecting agent against muscular damage.
Key-words: muscle fatigue, muscle damage, central fatigue,
peripheral fatigue.
Palavras-chave: fadiga muscular, lesões musculares, fadiga
central, fadiga periférica.
Recebido em 12 de janeiro de 2008; aceito em 20 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Daniela Silva Scalon, Rua Silva Jardim, 358, 38190-000 Sacramento MG, E-mail: daniscalon@
yahoo.com.br
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
Na fisiologia do exercício a fadiga muscular tem se destacado como um dos temas mais estudados [1]. Durante
este processo, ocorre esgotamento das reservas energéticas e
redução da atividade enzimática, os quais provocam o acúmulo de catabólitos e leva a distúrbios hídricos, alterações nas
trocas eletrolíticas, na coordenação (inter e intramuscular), na
percepção sensorial, além de diminuição na produção do neurotransmissor presente no neurônio motor somático [2].
Dentre os fatores geradores desse processo, estão a movimentação de íons potássio (K+), sódio (Na+), cloro (Cl-),
magnésio (Mg++) em suas atividades intra e extracelulares;
modificações de pH, temperatura e do fluxo sangüíneo, além
de resultados metabólicos da hidrólise, como a adenosina
monofostato (AMP), adenosina difosfato (ADP), inosina
monofosfato (IMP), fosfato inorgânico (Pi) e amônia; lesão
muscular, destacando aquela ocorrida por exercício predominantemente em contrações excêntricas; também, o stress
oxidativo ou a perda da homeostasia do íons cálcio (Ca++)
[1,3].
Da mesma forma, ocorre queda na produção hormonal,
em especial de corticóides e adrenalina e acúmulo ou falta
de acetilcolina nas sinapses, essenciais para realização da
atividade física [4].
Essas modificações fisiológicas fazem com que haja queda
da capacidade de desempenho físico e/ou psicológico; ainda
assim sendo possível a manutenção da carga mesmo que isto
custe maior gasto energético. Podem surgir distúrbios na
atenção, na concentração e no pensamento em conjunto com
atenuação de vontade e aumento do tempo de reação [3-8].
Até 1977, Guyton [9] definia a fadiga como um processo
com origem apenas sobre a depleção de ATP nas fibras musculares, de modo que o trabalho nervoso continuaria a funcionar
– os impulsos nervosos seriam transmitidos, normalmente, da
junção neuromuscular para a fibra muscular e os potenciais
de ação naturalmente se propagariam pelo músculo.
Em conceito mais atual, Pires e Grosso [10] conceituaram
a fadiga como falência da propagação do potencial de ação e do
acoplamento do sistema de contração-relaxamento. Pode-se
encontrar esse resultado através da eletroestimulação neuromuscular de baixa e média freqüência. É mais apropriado
conceituar a fadiga como um mecanismo protetor da vida por
prevenir o início de aumento de força muscular irresponsável
e suas conseqüentes e numerosas lesões desportivas, além de
proteger os processos de recuperações subseqüentes [8,11].
Os dois principais processos implicados no surgimento
do fenômeno da fadiga, que são constituídos da transmissão
do sinal nervoso e da cadeia energética metabólica, interagem
fortemente e se sobrepõem constantemente, constituindo em
tal modo, seja singular ou sinergicamente, a causa desencadeante deste fenômeno [12].
Outro fator relacionado à fadiga é a emoção intensa que
acompanha competições importantes, pois são capazes de
desencadear os fatores psicológicos e emocionais que devem
ser considerados tanto na análise da estrutura quanto na metodologia do desenvolvimento da resistência à fadiga [13]. A
fadiga muscular pode acontecer em quase todos os exercícios
físicos, sejam eles realizados por indivíduos sadios ou por
indivíduos debilitados.
O presente estudo procurou oferecer embasamento teórico
sobre os fatores desencadeadores de fadiga, os quais poderão
contribuir para outros trabalhos e para melhores avaliações
de pacientes e atletas. Assim, este estudo teve o objetivo de
identificar os fatores geradores de fadiga muscular procurando
relacionar aqueles que envolvem aspectos práticos.
Material e métodos
Foram utilizados neste estudo buscas em bases de dados,
que contemplam periódicos científicos, como Medline e
Bireme, usando as combinações de palavras: fadiga muscular
(muscle fatigue), fadiga física (physical fatigue), exercícios e
fadiga (fatigue and exercise)
Os artigos selecionados foram os compreendidos no período de 1994-2006, com destaque aos nacionais.
A partir dessas informações, foi elaborado um texto de
revisão no qual foram discutidos os aspectos da fadiga muscular periférica, fadiga central e os instrumentos de avaliação
da fadiga.
Fatores determinantes do processo de fadiga
Ascensão et al. [1] citam que a ocorrência de fadiga pode
ser influenciada pela idade, sexo e pela prevalência dos padrões
de ativação e coativação de alguns grupos musculares.
O sistema neuromuscular possui características importantes como a capacidade de adaptação crônica de acordo
com os diferentes estímulos recebidos. A fadiga muscular é
um exemplo comum de adaptação às alterações agudas que
ocorrem em exercícios intensos e suas manifestações podem
ocorrer durante e após o exercício, seja ele máximo ou submáximo [1,3].
Adicionalmente, os mecanismos responsáveis pela fadiga
dependem de fatores como intensidade, tipo (aeróbico ou
anaeróbico) e duração do exercício, atividade contrátil, composição fibrosa do músculo em contração – as fibras do tipo
II se fadigam mais facilmente que as fibras tipo I – e nível de
condicionamento individual [5,8,14,15].
Em exercício físico intenso e prolongado, a fadiga está relacionada à hipoglicemia –diminuição da glicose e conseqüente
diminuição da oxidação de carboidratos. Já em exercícios com
intensidade alta (90% de VO2máx) e de curta duração, uma
parte da energia, que seria destinada para a atividade física, é
utilizada na produção de metabólitos como o lactato, íons hidrogênio (H+), Pi e ADP que acabam por acumular-se levando
à diminuição do rendimento, mesmo tendo sido utilizados os
fosfatos de alta energia e preservado o glicogênio [5].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Pinto et al. [16] afirmam que o aumento da temperatura
corporal, gerado pelo metabolismo na atividade física e/ou
influência ambiental, como também o estado de hidratação do indivíduo, poderiam acelerar o início da fadiga. Os
mecanismos capazes de diminuir a elevação da temperatura
corporal em ambientes quentes podem ser: a umidificação da
pele; resfriamento facial; o uso de roupas especiais; a exposição
prévia a ambientes frios e a imersão em água fria poderiam
provocar mais tolerância ao esforço [17,18].
A fadiga possui causas multifatoriais e pode ser dividida
em dois componentes principais: a fadiga periférica, ou local,
e a fadiga central. Na fadiga periférica ocorrem as modificações fisiológicas já descritas e que resultam em disfunção
no processo de contração. Esta alteração é levada ao sistema
nervoso central através de nervos sensoriais (fadiga central)
que, por sua vez, transmite sinais inibitórios provocando
um declínio ou queda total do desempenho físico cujo objetivo é preservar a integridade estrutural da fibra muscular,
prevenindo possíveis danos irreversíveis à mesma [6,18].
Porém, também pode resultar de decréscimo progressivo da
velocidade e freqüência de condução em impulso voluntário
na atividade física (fadiga predominantemente central) [1].
Segundo Santos, Dezan e Sarraf [8], a fadiga central acontece
quando é afetada a parte nervosa da contração muscular, e
a periférica, quando se verifica deterioração dos processos
bioquímicos e contráteis.
Fadiga periférica
Um erro, ou uma limitação em um ou mais processos
na unidade motora – neurônios motores, nervos periféricos,
nas ligações neuromusculares ou fibras musculares – leva à
fadiga periférica [8].
A fadiga sináptica ocorre quando o período de excitação
é progressivamente prolongado e intensificado, reduzindo
gradualmente a transmissão sináptica, tornando deprimida
a sensibilidade dos circuitos neuronais [19].
A acetilcolina é um neurotransmissor que possui como
principal precursor a colina, cujo consumo reduzido parece
provocar a diminuição da capacidade dos impulsos nos músculos esqueléticos [8].
O início desse modo de fadiga depende do tipo de fibra
muscular utilizada no exercício, pois as fibras de contração
rápida (tipo II) têm melhor desempenho anaeróbico favorecendo maior capacidade de formar ácido lático. Contudo,
o acúmulo de ácido lático poderia dificultar a função muscular através de dois mecanismos fisiológicos. Por um lado,
o aumento de H+ reduz o pH intracelular deteriorando o
processo de excitação-contração por reduzir a quantidade de
Ca++ liberada pelo retículo sarcoplasmático (RS) de modo
que interfere na capacidade de fixação cálcio-troponina. Por
outro lado, uma maior concentração de H+ torna a glicólise
mais lenta, reduzindo, por conseguinte, a disponibilidade de
ATP na produção de energia [8].
95
Já as fibras de contração lenta (tipo I), têm o sistema oxidativo mais desenvolvido na produção energética e, em estudos
com animais, verificou-se que a redução da força deste tipo de
fibra seria devido a alterações miofibrilares e no RS [6].
Uma das hipóteses para a causa da fadiga periférica é a
da “depleção de glicogênio”, uma das principais formas de
armazenamento energético. O glicogênio normalmente é
quebrado para formar moléculas de ATP, a qual representa
a energia potencial para a realização dos diversos trabalhos
biológicos que necessitam energia, por exemplo, a contração
muscular [5].
A quebra da creatina fosfato e a degradação do glicogênio muscular a ácido lático ocorrem durante o exercício
de alta intensidade sendo as maiores vias de fornecimento
de ATP. Com a diminuição do glicogênio e da creatina, a
energia anaeróbica e o desempenho do exercício podem
diminuir [3].
Durante a contração muscular, ocorre hidrólise do ATP
em ADP e o seu retorno à ATP (refosforilação) acontece durante processos aeróbicos ou oxidativos, como também em
exercícios anaeróbicos de alta intensidade. Cada dois ADPs
geram um ATP e um AMP. Quando há déficit nessa refosforilação, aumenta o número de ADP e AMP. Este último é
quebrado a IMP em atividade moderada, liberando amônia
durante a reação, que é vinculada tanto à fadiga central como
à periférica. O aumento da sua concentração na atividade
física tem relação com a composição das fibras musculares,
com a intensidade e o tempo de exercício [5].
Durante a realização de séries repetidas, o nível de fosfocreatina (CP) e sua ressíntese sofrem redução em vista de sua
utilização na formação de ATP durante as séries acarretando
em queda na ressíntese de ATP e levando à fadiga [17].
Quando ocorre a ressíntese de ATP e de CP há incorporação de H+ às reações. Com aumento dessas ressínteses,
então, aumenta-se o consumo de H+ evitando a queda de pH
e prevenindo a instalação da fadiga [17].
A formação de IMP e amônia no exercício intenso e
prolongado é inversamente proporcional à degradação do
glicogênio intramuscular, o qual leva à deficiência de energia
no nucleotídeo de adenina [5].
Neste mesmo tipo de atividade, ocorre acúmulo de lactato
acarretando queda do pH. Esta condição de acidose inibe a
enzima PFK (fosfofrutoquinase) e reduz o processo de glicólise prevenindo, desta forma, a acidez para que não aconteça
morte celular ou a fadiga precoce [5,8].
Pode ainda ocorrer diminuição na geração máxima de
força devido ao acúmulo de ácido láctico. Isso constitui um
dos principais fatores causadores da fadiga. A acidose por aumento do H+ interfere na contração muscular ou no processo
de excitação-contração.
O declínio na geração de força contrátil no músculo via
efeito metabólico nas proteínas contráteis e a redução da
liberação de Ca++ do retículo sarcoplasmático são fatores que
geram fadiga. Este processo pode ter início pelas altas con-
96
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
centrações de lactato por aumentar a concentração de íons
H+ diminuindo o pH [3].
Essas alterações no retículo sarcoplasmático podem ser
críticas, pois ele atua como local de armazenamento de Ca++
e ainda controla as concentrações citoplasmáticas deste íon,
a qual regula a força das contrações. A redução de Ca++ pode
causar dificuldade no relaxamento e a redução da força perante a fadiga [3].
A análise do lactato plasmático permite verificar as fases
aeróbica e anaeróbica durante o esforço físico e definir o momento em que o indivíduo estará mais predisposto à fadiga
[5]. É possível ainda, predizer o treinamento ideal e, assim,
permitir que a pessoa tenha melhora da performance sem
prejudicar suas funções corporais.
Fadiga central
A importância do metabolismo de proteínas e aminoácidos
para o desempenho em atividades prolongadas permaneceu
relegada a segundo plano por muitos anos [5].
Pode-se dizer que a fadiga central ocorre por queda
da condução do impulso nervoso de forma voluntária ou
involuntária, causando redução relativa de unidades motoras e da freqüência de ativação dos motoneurônios. Para
estudar o papel do sistema nervoso central na produção da
fadiga, utilizam-se exercícios em contrações interpoladas
nos quais se promove, através da eletroestimulação, uma
contração maior que a máxima e, assim, compara-se com
a máxima gerada pelo indivíduo. Nesta situação ocorre feedback reflexo advindo de mecanoceptores – fusos
neuromusculares, e/ou órgãos tendinosos de Golgi, ou
terminações nervosas do tipo III e IV – sensíveis ao acúmulo de alguns metabólitos que, por isso, inibem a taxa de
descarga dos motoneurônios durante a fadiga. Além disso,
ocorre déficit na condução do impulso nervoso a partir
das regiões superiores do cérebro [1]. Quando ocorre em
nível supra-espinhal é através da inibição aferente desde os
fusos neuromusculares, sendo que pode acontecer redução
de sensibilidade causada pela excessiva utilização da maior
parte dos circuitos neurais [8].
O neurotransmissor dopamina foi o primeiro a ser estudado em sua relação com a fadiga central. Possivelmente
ela inibe parte das sínteses de metabolismo da serotonina
(5-HT) retardando a fadiga central. Baixas concentrações
de dopamina possivelmente diminuem a coordenação e leva
à perda de motivação. O aumento da dopamina em relação a 5-HT, em algumas regiões do cérebro, pode levar ao
desenvolvimento de motivação, estimulação e coordenação
muscular. Entretanto, quando a serotonina está em maior
concentração em relação à dopamina, é possível a ocorrência
de fadiga [5,8].
Alguns esportistas passaram a ingerir drogas dopaminérgicas a fim de aumentar o desempenho por melhorar
a função motora. Além disso, utilizou-se para a perda de
peso por ser um agente também anorético e supressor de
apetite [5].
Tem sido estudada a comparação do tempo de exercício
até a exaustão com a variação da síntese e liberação, no cérebro, de alguns neurotransmissores, os mesmos, associados à
motivação, à atenção, ao humor, à depressão, e à coordenação
neuromuscular. Por exemplo, a razão serotonina/dopamina, o
papel da cafeína – bloqueia receptores da adenosina, a qual é
um potente inibidor excitatório do SNC – em exercícios de
longa duração [1,5].
Conforme Kreider apud Rogero, Mendes e Tirapegui
[20], quando há diminuição dos estoques de energia como
conseqüência da redução do glicogênio muscular, pode ocorrer estimulação da oxidação intramuscular de aminoácidos
de cadeia ramificada (AACR), como a leucina, isoleucina
e valina, os quais competem com o triptofano livre pela
ligação a um mesmo transportador de aminoácidos neutros
na barreira hemato-encefálica fazendo com que haja sua diminuição plasmática. Isto facilitaria a captação hipotalâmica
de triptofano e, a partir deste, ocorreria maior produção de
serotonina estabelecendo-se a fadiga central caracterizada,
principalmente, pela desmotivação [8,17,20,21].
Portanto, a fadiga que ocorre por aumento da atividade
serotonérgica no cérebro é chamada fadiga central [5], visto
que a modulação da serotonina relaciona-se diretamente com
a regulação da dor, comportamento alimentar, humor, fadiga
e sono [17,20,21].
A amônia (NH3) em acúmulo no cérebro pode prejudicar
a coordenação, o controle motor e o sistema oxidativo local.
Pode ser resultado do catabolismo dos AACR associado à
fadiga central [8].
O triptofano (TPF) é encontrado no plasma de forma
livre ou ligado à albumina. No exercício prolongado, há
aumento da forma livre, pois os ácidos graxos, que estão em
maiores concentrações, competem com o TPF para ligaremse à albumina. O TPF é transportado através da barreira
hemato-encefálica em sua forma livre, ou seja, quando não
está ligado à albumina, gerando um acréscimo na síntese
cerebral de serotonina [1,17,20,21].
Alguns estudos, por isso, sugerem a suplementação ergogênica com AACR já que concorrem com o TPF pela entrada
no cérebro podendo retardar a fadiga em exercícios de longa
duração [1].
A acetilcolina é um neurotransmissor produzido de acordo com a disponibilidade de seu precursor, a colina, sendo
normalmente relacionada com a produção de força muscular.
Portanto, há relação entre a queda plasmática de colina e o
início da fadiga em exercícios de longa duração, mesmo que
ainda não esteja determinado se esta é um tipo de fadiga
central ou de fadiga periférica. Contudo, não houve sucesso
em estudo conduzido por Spector et al. , citado por Ascensão
[1], com suplementação oral de bitartrato de colina, pois não
houve como resultado aumento do tempo de exercício até a
exaustão ou aumento plasmático de colina.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Métodos de avaliação da fadiga
Muitos modelos experimentais são utilizados visando o
entendimento das causas da incapacidade de manutenção
de um nível de performance. Dentre esses modelos, pode-se
citar os estudos in vitro na busca da verificação da função
das estruturas celulares, por exemplo, o sarcolema, o retículo sarcoplasmático (RS), as mitocôndrias ou o aparelho
miofibrilar. Neste tipo de estudo, também, pode-se verificar
alterações metabólicas de adenosina trifosfato (ATP), ADP,
Pi, potencial de hidrogênio iônico (pH) e íons cálcio, relacionados à fadiga [1].
Da mesma forma, o tecido muscular pode ser estudado
in vitro. Neste caso, são estudadas fibras individuais (com sarcolema intacto ou removido), onde são impostas a diferentes
protocolos de estimulação elétrica para se obter a relação entre
as mudanças nas condições do meio e a tensão gerada pelas
fibras. Outro tipo de estudo possível é o in situ, de unidades
motoras isoladas estimulando-se o nervo motor de animais
anestesiados. Este tipo de estudo, assim como os do tipo in vitro
não permitem recrutar de forma relativa as fibras musculares de
acordo com seu nível de fadiga. Os trabalhos in vivo são os que
se destacam no estudo da fadiga, visto que há uma análise das
ações orgânicas e sistêmicas na atividade e na recuperação. Para
isso, podem ser realizadas biópsias musculares rapidamente,
durante e imediatamente após a finalização do exercício [1].
A eletromiografia (EMG) é uma técnica que possibilita o
registro dos sinais elétricos que são gerados pela despolarização
das células musculares possibilitando estudo in vivo. Assim, a
EMG possibilita o registro da atividade muscular durante o
movimento. No entanto, essa técnica não fornece informação
a respeito do torque e é preciso ter entendimento quanto à
utilização e limitações do equipamento e é realizada freqüentemente em condições isométricas, mesmo que a fadiga possa
ser induzida por qualquer outro tipo de exercício. Portanto,
a EMG é uma técnica para avaliação da fadiga muscular e
representa o instrumento eletrodiagnóstico mais utilizado em
procedimento clínico [1,16,22].
O limiar de fadiga pode ser observado através da relação
limiar entre intensidade e a taxa de aumento da atividade
eletromiográfica. O limiar de fadiga seria a intensidade do
exercício, a qual poderia ser mantida indefinidamente sem
alterações na ativação neuromuscular, ou seja, sem aumento
dos sinais eletromiográficos ao longo do tempo [23].
Através do sinal mioeletétrico, pode ser observado o
comportamento temporal da amplitude e da freqüência.
Pela velocidade de propagação dos potenciais de ação das
fibras musculares, pode-se também observar as mudanças
na permeabilidade do sarcolema em função do acúmulo de
metabólitos e, conseqüentemente, nas suas propriedades
em relação à propagação dos potenciais de ação das fibras
musculares [22].
A redução da freqüência na fadiga muscular, segundo Ascensão et al. [1], parece ser influenciada, predominantemente,
97
pela diminuição da velocidade de condução do potencial de
ação por conseqüência, pelo menos em parte, do aumento
da concentração de ácido lático no exercício levando à diminuição do pH.
O aumento da amplitude do sinal do EMG na situação
de fadiga muscular parece ocorrer devido ao aumento da
amplitude do potencial de ação, mudança na ordem de recrutamento das unidades motoras, aumento do recrutamento
de unidades motoras ou pela elevação das taxas de disparo do
neurônio motor. Isto ocorre com o objetivo de compensar a
redução da função motora [24,25].
Outro método para análise é através da lactacidemia. A
partir de uma determinada intensidade de trabalho, a concentração sanguínea de lactato aumenta devido à intensificação
da via glicolítica resultando na conversão do piruvato em
lactado [26].
Como existe relação entre fadiga e depleção das reservas
de gliocogênio, a diminuição da velocidade em que ocorre o
limiar de lactacidemia sugere maior possibilidade de fadiga.
Assim sendo, a medida do lactato pode ser usada como instrumento de avaliação da fadiga. No entanto, não deve ser
o único parâmetro utilizado para analisar a aproximação da
fadiga periférica [5].
Um dos métodos utilizados na quantificação da lactacidemia é a espectroscopia de Raman, que consiste em uma
técnica de espectroscopia vibracional usada para determinação
da estrutura molecular e para a identificação e quantificação
de materiais. É utilizada como uma possível ferramenta para
identificação de metabólitos como o ácido láctico no sangue
ou em músculo esquelético, in vivo, e de uma forma não-invasiva, baseados no fato de que cada componente bioquímico
apresenta um espectro vibracional característico, com bandas
estreitas e bem resolvidas. Em trabalho realizado por Souza
et al. [27], com ratos Wistar machos, utilizando a técnica de
forma in vivo e in vitro, houve confirmação de que este método
apresenta informações da presença de ácido láctico quando há
aumento de sua concentração na musculatura. Porém, trata-se
ainda de uma tecnologia em desenvolvimento.
O dinamômetro isocinético também tem se apresentando como um equipamento de grande importância para se
identificar o momento em que o indivíduo tem queda da
performance do movimento e, assim, identificar índice de
fadiga [28,29]. No entanto, o custo ainda elevado do equipamento dificulta sua aplicabilidade em situações de avaliação
e/ou tratamento.
Também, utiliza-se de procedimentos de ressonância
nuclear magnética para uma análise mais precisa da situação
metabólica no músculo induzida pelo exercício. A eletromiografia constitui outra técnica que busca analisar a fadiga
através de alguns dos seus indicadores [1].
Cada parâmetro avaliado, a fim de se considerar o índice
ou grau de fadiga, pode ser complementado por análise
subjetiva, como a proposta pela escala de Borg, em que o
indivíduo sinaliza sua percepção do esforço em determina-
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
do momento [23,30]. A escala analógica de dor também é
apresentada como uma ferramenta útil na prática clínica,
a fim de considerar o fator dor como sinal da presença de
fadiga [31,32].
Implicações da fadiga para a clínica
Através da eletroestimulação (EE) pode-se promover
fortalecimento e hipertrofia muscular, ajudando como um
complemento no processo e facilitando a conduta fisioterapêutica. É realizada através de corrente elétrica fazendo com
que ocorra contração muscular. Porém, devido à fadiga, a
maior limitação da EE é a queda precoce da força muscular.
Binder Mac Leond e Mc Dermond apud Pires e Grosso [10]
afirmam que os fatores determinantes da força muscular são
a intensidade e a freqüência, propondo que quanto maior a
freqüência, maior a fadiga muscular. Os segundos autores
indicam a corrente de média freqüência para produzir maior
força e menor fadiga musculares.
A fadiga muscular induzida pela EE pode ser avaliada pela
análise da atividade do sinal eletromiográfico e também pela
escala visual analógica [10].
A mensuração da eletromiografia, dos metabólitos e da
força durante um exercício cansativo, possibilita a identificação dos possíveis fatores causadores da fadiga [6].
Em relação aos atletas de alta performance, as lesões
provenientes do processo de supertreinamento comumente
ocorre após sucessivas manifestações de fadiga. Os métodos
para avaliação e identificação do overtraining são pouco utilizados. No entanto, se o treinador conhecer os mecanismos
geradores de fadiga, pode identificar o momento de parar ou
diminuir a carga de treinamento, através dos sinais e sintomas
apresentados pelo atleta [33-36].
Na clínica geral ou de especialidades, os fatores geradores de fadiga podem ser indicativos da presença de doença,
já instalada ou em vias de desenvolvimento. Um exemplo
é das manifestações clínicas da fibromialgia, cujos sinais e
sintomas são muitas vezes decorrentes do processo de fadiga
física [37,38].
Visto que os fatores desencadeantes da fadiga muscular
sofrem a influência do estado emocional do indivíduo, há que
se sugerir a estimulação verbal, na qual parece ser necessário
certo apelo psicológico no intuito de elevar o limiar de fadiga
por tornar forte a vontade de realizar e vencer a atividade
imposta. Isso pode ser conseguido com frases imperativas
de incentivo cuidando para que não haja aumento, por essa
influência, da “auto-cobrança”, pois esta poderia, de forma
equívoca, atrapalhar o desempenho.
Também, estímulos táteis na atividade ativo-assistida
poderiam incentivar positivamente, pois assim é demonstrado que com um pouco mais de vontade, pode-se chegar ao
movimento máximo sem que ocorra a fadiga.
Outra condição seria evitar o excesso de treinamento
que, portanto, deverá ser quantificado e qualificado indivi-
dualmente de modo que o terapeuta deverá estar atento às
características e aos objetivos do tratamento ou treinamento.
Um indivíduo melhor condicionado parece ter um limiar de
fadiga mais elevado comparando-se àquele descondicionado
considerando a melhor capacidade anaeróbica ou metabólica
em geral.
Conclusão
A redução, principalmente, de fosfocreatina e glicogênio
além de alterações em outros compostos desempenham
papel-chave no desencadeamento da fadiga. Não obstante, é
influente o aspecto psicológico ou de motivação individual,
os quais imperam no desempenho físico de forma voluntária
ou involuntariamente. Novas pesquisas devem ser realizadas
no intuito de desvendar como alguns outros componentes,
não citados neste trabalho, estão relacionados a esse processo, por exemplo, o monóxido de azoto, os radicais livres e
magnésio.
Ao finalizar essa revisão pode-se concluir que a fadiga é
representada por fenômenos sucessivos e interdependentes
e, mesmo sem saber qual o fator desencadeante inicial, este
processo acontece na cadeia fisiológica da contração muscular
visando à proteção. Desta forma, funciona como mecanismo
protetor da atividade celular por prevenir o início de aumento
de força muscular excessivo e suas conseqüentes e numerosas
lesões desportivas. Além disso, protege os processos de recuperações subseqüentes.
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100
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Opinião
Protocolo de recondicionamento físico após lesão
nas categorias de base de futebol no São Paulo
Futebol Clube
Physical reconditioning protocol after injury in soccer players
of São Paulo Football Club
Marco Aurélio Buchaim Regos*, Marcus Vinicius Grecco**
*Preparador Físico do Centro de Formação de Atletas do São Paulo Futebol Clube, Especialista em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP e Especializando em Treinamento Desportivo pela UNIFESP, **Mestrando em Fisiopatologia das Afecções Músculo-Esquelética da Faculdade de Medicina da USP
Resumo
Abstract
Uma das áreas mais desafiadoras da reabilitação desportiva é
o recondicionamento do atleta após lesão atlética. O objetivo de
qualquer programa de recondicionamento físico é levar o atleta ao
estado ideal anterior à lesão e elaborar um programa de manutenção
preventiva capaz de minimizar a possibilidade de o atleta ter nova
lesão. Os protocolos mostrados neste trabalho ajudam o preparador
físico a ter constância e continuidade durante todo o processo de
recondicionamento físico, lembrando que se trata apenas de diretrizes, pois sabemos que cada atleta tem suas necessidades específicas
quando se trata de futebol. Portanto, são essenciais as avaliações
iniciais e as reavaliações subseqüentes ao programa de recondicionamento físico para o controle da sobrecarga.
One of the most challenging areas of sports rehabilitation is
the athlete reconditioning after athletic injury. The objective of any
program of physical reconditioning is to take the athlete to previous
ideal state of the injury and to elaborate a program of preventive
maintenance capable to minimize the possibility to have new injury.
The protocols shown in this work, help the physical instructor to
have constancy and continuity during all the process of physical
reconditioning, remembering that these are only some procedures,
because we know that each athlete has its specific needs when we are
talking about soccer. Therefore, it is essential the initial evaluations
and the subsequent reevaluation to the physical reconditioning
program for the overload control.
Palavras-chave: recondicionamento físico, lesão, futebol.
Key-words: physical reconditioning, injury, soccer.
Recebido em 12 de fevereiro de 2008; aceito em 12 de agosto de 2008.
Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Ribeiro de Barros 81/31, Vila 05027-020 Pompéia SP, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Introdução
O atleta, após a reabilitação fisioterápica, estará clinicamente recuperado, mas, dependendo do grau da lesão e do
tempo que o atleta esteve em recuperação, ele não estará apto
a suportar as cargas de treinamento e competição. De um
modo geral, na Fisioterapia, o foco principal é restabelecer
clinicamente o membro lesionado, fazendo com que haja
um déficit de coordenação intra e intermuscular nos demais
grupos musculares não lesionados.
Para que este déficit seja minimizado, torna-se necessário
um período de recondicionamento físico para que o atleta
tenha condições físicas e psicológicas de voltar a trabalhar em
grupo. Antes de o atleta entrar em um programa de recondicionamento físico, será preciso seguir os critérios provenientes
de uma avaliação detalhada da equipe de medicina esportiva,
composta por médicos e fisioterapeutas:
• ter amplitude normal do movimento da coluna e extremidades;
• força muscular até 20% de diferença com o lado não cometido, sendo o ideal situar-se entre 0 e 10%;
• exame neurológico sem anormalidades;
• edema não persistente;
• estabilidade articular adequada;
• sem dor ao movimento;
• sem uso de medicamento.
O condicionamento físico (CF) pode ser entendido como
exercícios orientados, que visam aumentar qualitativa e ou
quantitativamente o desempenho físico. A função do CF não
se embasa exclusivamente no aumento de rendimento físico
do atleta, mas também na prevenção de lesões, manutenção da
saúde do atleta e da capacidade funcional do movimento. Em
geral, o CF indica modificação do rendimento físico, refletido
na performance geral dos atletas. O objetivo principal do CF
é o desenvolvimento das capacidades motoras (condicionais
e coordenativas) do atleta, necessárias para obter um melhor
rendimento motor, que se faz por meio de exercícios corporais.
Na prática, traduz-se pela execução variada de exercícios apropriados para fins de performance educacional no movimento
esportivo. O CF é pautado por uma visão de totalidade que
reconhece, na dinâmica da organização dos diversos sistemas
corporais envolvidos na prática de exercícios, a capacidade de
interação com o meio ambiente, possibilitando uma via de
desenvolvimento do potencial atlético. A plasticidade humana,
funcional ou estrutural, caracteriza-se como um grande diferencial no processo de adaptação ao treinamento, demonstrando
a capacidade de interação de organismo humano e meio ambiente, resultando, dessa maneira, na organização e obtenção
de novos patamares de estabilidade atingidos [1-3].
O grande mérito do CF, com intuito reabilitativo, é fazer
com que o atleta retorne às suas atividades nas mesmas condições prévias a uma lesão, promovendo também a prevenção
de lesões e estabelecendo a manutenção e progressão para
um CF ideal de alto rendimento. No entanto, a estrutura
101
deve estar baseada em uma equipe interdisciplinar (médico,
fisioterapeuta, educador físico, nutricionista etc.) e recursos
materiais (espaço físico, material esportivo e de avaliação
etc.) que proporcionarão condições para que a prescrição
do recondicionamento físico possa ser realizada e cumprida
com êxito frente a todos os aspectos envolvidos no retorno ao
esporte competitivo. O São Paulo Futebol Clube é um centro
de excelência no que diz respeito à reabilitação e preparação
física de atletas de futebol. Seu departamento médico realiza,
além do diagnóstico e tratamento, avaliações e orientações de
condicionamento físico e aptidão física, que servirão como
parâmetros mensuráveis e objetivos da evolução, estado clínico
e resultados esportivos.
Por se tratar de categorias de base no futebol competitivo,
o condicionamento físico (CF) tem que ser respaldado, além
de avaliações fisiológicas e de aptidão física, de uma boa avaliação maturacional para controle adequado de sobrecarga de
treino, que se resume na averiguação dos seguintes itens:
• idade de espemarca, desenvolvimento dos genitais e pêlos
pubianos;
• análise percentual de maturação das cartilagens de crescimento nas imagens radiológicas de punho e mão;
• análise laboratorial de dosagens plasmáticas dos hormônios
adrenal desidroepiandrosterona que indicado para avaliar
a maturidade dos meninos;
• idade dental.
Os protocolos, que serão apresentados, foram elaborados
pelo preparador físico responsável pelo recondicionamento
físico destes atletas das categorias de base de futebol do São
Paulo Futebol Clube. O objetivo dos protocolos é reintegrar
o atleta ao grupo em condições de suportar as cargas de treino e competição sem ter que trabalhar separado do grupo
e não dividir o foco do preparador físico de cada categoria
com trabalhos paralelos ao trabalho do grupo. Sendo assim,
o trabalho de recondicionamento físico que se inicia após a
alta da fisioterapia irá abordar capacidades físicas latentes ao
bom desempenho do atleta dentro de campo [1,4,3].
Força
Quando o treinamento de força é diminuído ou cessado,
ocorre uma perturbação no estado biológico das células
musculares e órgãos do corpo. Isso resulta em uma diminuição acentuada no bem estar fisiológico e na produção
física do atleta [5]. A falta do treinamento de força diminui
progressivamente a força de contração muscular e, toda vez
isso ocorre, o mesmo acontece com velocidade, potência
e rapidez nas mudanças de direção. Para atletas inativos, a
taxa de perda de força por dia pode ser, grosso modo, de 3 a
4% na primeira semana. Para alguns atletas, especialmente
no futebol onde a força e velocidade dominam, esta pode ser
uma perda substancial [2].
Quando esta interrupção chega a 2 ou 3 semanas, podem
causar um aumento de perturbações psicológicas, como ce-
102
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
faléias, insônia, sensação de exaustão, maior tensão, maiores
oscilações de humor, falta de apetite e depressão psicológica,
podendo qualquer atleta sofrer um desses sintomas ou uma
combinação deles. Todos os sintomas estão relacionados
à queda nos níveis de testosterona e à beta-endorfina, um
composto neuroendócrino que é o principal precursor das
sensações de euforia após os exercícios [6,5,7]. Esses sintomas
não são patológicos e podem ser revertidos com um reinício
rápido do treinamento.
O trabalho de força será orientado apenas para sua manifestação de resistência de força, utilizando os exercícios e
métodos aplicados na sua própria categoria.
da corrida, precisando de estímulos proprioceptivos para
recuperar seu padrão normal de movimento. O estímulo de
velocidade sem sobrecargas adicionais e recuperação completa
é muito importante para a coordenação intramuscular (sincronização das unidades motoras) e intermuscular, pois exige
maiores amplitudes articulares e alta freqüência de execução,
atuando seletivamente sobre as fibras musculares IIb [2,11].
Coordenação
A Coordenação está presente em todas as capacidades
citadas acima, pois todas elas estão intimamente ligadas entre
si (Figura 1).
Resistência
A resistência cardiovascular (VO2) é visivelmente afetada por médias e longas fases de inatividade. Estudos têm
mostrado uma queda de 6% no VO2, após 2-4 semanas de
inatividade, e declínios de 15% após uma interrupção de 3
meses [2].
A manutenção da resistência cardiovascular é mais difícil
quando o treinamento regular é interrompido, em comparação com a força, velocidade e agilidade. Estudos mostram que
o treinamento de resistência cardiovascular deve ser realizado
3 vezes por semana, para que não haja declínio nos valores
de VO2máx [8,9].
O trabalho de resistência poderá ser orientado para a capacidade aeróbia, potência aeróbia e resistência mista aeróbiaanaeróbia, de acordo com a necessidade do atleta e do tempo
em que esteve parado. Propõe-se a corrida contínua com o
objetivo exclusivamente regenerativo nos dias seguintes aos
treinos de força e coordenação. Os métodos de treinamento
intervalado e as corridas com variação de velocidade serão utilizados de acordo com a evolução individual de cada atleta.
Velocidade
A velocidade tende a ser a primeira capacidade a ser afetada pela inatividade, já que o rompimento da proteína e a
degeneração das unidades motoras diminuem as capacidades
de potência da contração muscular. A velocidade requer um
alto nível de adaptação das células nervosas. Sua perda pode,
em princípio, estar relacionada à sensibilidade do Sistema
Nervoso à inatividade [10]. Uma melhora da velocidade está,
igualmente, ligada à da força. O trabalho de velocidade será
orientado para o aspecto coordenativo da corrida de velocidade e salto, com prioridade para a primeira.
Os estímulos de velocidade são os exercícios educativos e
coordenativos de corrida, exercícios de agilidade e mudanças
de direção em espaços pequenos, multisaltos, pliometria com
os dois pés ou um pé só. São empregados tempos de recuperação completa entre os exercícios e séries, enfatizando sempre
a qualidade do movimento. Os atletas que ficam afastados
muito tempo têm uma alteração no padrão da marcha ou
Figura 1 - Interrelação da coordenação com outras qualidades
físicas.
A coordenação é a capacidade de um atleta acionar diferentes grupos musculares para produzir um determinado
movimento específico. Os atletas com capacidades coordenativas bem desenvolvidas otimizam suas capacidades físicas e
obtêm uma melhor performance na sua modalidade esportiva
[12]. São utilizados exercícios de propriocepção e equilíbrio,
exercícios cognitivos e exercícios combinados. Os exercícios e
métodos aplicados serão adotados de acordo com o protocolo
utilizado em cada categoria.
Tempo de recondicionamento físico
Sugere-se para os atletas que disputam competições: a)
1 semana na Fisioterapia = volta direto para a equipe; b)
passando de 1 semana: recondicionamento físico = tempo
de Fisioterapia ÷ 2. A liberação do atleta pode ocorrer antes
ou depois deste prazo, dependendo da resposta individual
de cada um.
As tabelas 1 a 3 apresentam exemplos de atletas que ficaram 8 semanas apenas sendo tratados na fisioterapia. Nota-se
que o prazo máximo que se deveria submeter um atleta ao
recondicionamento físico é de 8 semanas, ou seja, se o atleta
ficar inativo por 20 semanas, ele será submetido a ‘apenas’ 8
semanas de recondicionamento físico. Contudo, frisamos que
nos referimos apenas a diretrizes mais gerais. A sensibilidade
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
do preparador físico é fundamental no acompanhamento e
na prescrição dos exercícios.
Nas Tabelas, o soccer test refere-se a uma medida de
resistência aeróbica contendo 4 níveis de intensidade, cada
um deles com 60 metros. Entre um nível e outro aumentase a velocidade da corrida por estimulo auditivo. Ao final de
cada nível há um intervalo de 10 segundos para se passar para
o próximo nivel. Ao final do 4º nível, caso o atleta consiga
103
alcançá-lo, afere-se a freqüência cardíaca. O treino contínuo
refere-se ao treinamento de resistencia aeróbia, mantendose uma intensidade estável determinada pelo treinador. A
potência aeróbia-treino intervalado (4x2, significa 4 minutos em velocidade baixa e 2 minutos em velocidade alta)
determinando-se a intensidade do treino através do soccer
test e aplicada para aumentar o limiar anaeróbio.
Tabela I - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 15).
2a. Feira
3a. Feira
* Avaliação matura1o. Microciclo
cional
Força (peso corporal /
Resistência contínuo Treinamento funcional
Esteira (20 minutos) 70% / musculação). 70%
FC Soccer Test*
da carga utilizada pelo
Atleta na Categoria
2a. Feira
3a. Feira
* Avaliação matura2o. Microciclo
cional
Força (peso corporal /
Treinamento funcional /
Resistência contínuo musculação) + coorCampo ** (30 minutos)
denação 80% da carga
80% FC Soccer Test
utilizada pelo Atleta na
Categoria
2a. Feira
3a. Feira
* Avaliação matura3o. Microciclo
cional
Força (peso corporal /
treinamento funcional /
Potência aeróbia 4x
musculação) + coor(5x2)*** (28 minutos)
denação 90% da carga
90% FC Soccer Test
utilizada pelo atleta na
categoria
2a. Feira
3a. Feira
* Avaliação Matura4o. Microciclo
cional
Força (peso corporal /
Potência aeróbia 3x (8x2) Treinamento funcional /
musculação) + coorde(30 minutos) 90% FC
Soccer test + flexibilinação 100% da carga
utilizada pelo atleta na
dade
categoria
4a. Feira
5a. Feira
6a. Feira
Resistência contínuo Campo (30 minutos)
70% FC Soccer Test
Coordenação + flexibilidade
Resistência intervalado
- Esteira FartLek 3x1 (20
minutos) 70% x 85% FC
Soccer Test
4a. Feira
5a. Feira
Resistência intervalado
- Esteira FartLek 3x1 (20
minutos) 75% x 85% FC
Soccer Test
Velocidade (sem bola)
4a. Feira
5a. Feira
6a. Feira
* Avaliação maturacional
Força (Peso Corporal /
Treinamento Funcional /
Musculação) + Coordenação 80% da carga
utilizada pelo Atleta
naCategoria
6a. Feira
Coordenação + agilidaResistência contínuocampo (30 minutos) 80% de + velocidade (com
Trabalho técnico
FC Soccer Test
bola)
4a. Feira
5a. Feira
6a. Feira
Resistência contínuocampo (30 minutos)
80% FC Soccer Test +
flexibilidade
Agilidade + coordenação + velocidade com
mudanças de direção
Trabalho técnico
104
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Tabela II - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 17).
2a. Feira
1o. Microciclo
3a. Feira
Força (treinamento
Resistência contínuo funcional / musculação).
esteira (20 minutos) 70%
70% da carga utilizada
FC Soccer Test
pelo atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
2o. Microciclo
Força (treinamento
Resistência contínuo funcional / musculação)
campo (30 minutos) 80% + coordenação 80%
FC Soccer Test
da carga utilizada pelo
Atleta na Categoria
2a. Feira
3a. Feira
3o. Microciclo
Força (Treinamento
Potência aeróbia 4x (5x2) funcional / musculação)
(28 minutos) 85% FC
+ coordenação 90%
da carga utilizada pelo
Soccer Test
atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
4o. Microciclo
Força (treinamento
Potência aeróbia 3x (8x2)
funcional / musculação)
(30 minutos) 90% FC
+ coordenação 100%
Soccer Test + flexibilida carga utilizada pelo
dade
atleta na categoria
4ª. Feira
5a. Feira
Resistência contínuo Campo (30 minutos) .
70% FC Soccer Test
Coordenação + flexibilidade
4ª. Feira
5a. Feira
Resistência intervalado
- esteira FartLek 3x1 (20
minutos) 70% x 85% FC
Soccer Test
Velocidade (sem bola)
4ª. Feira
5a. Feira
6a. Feira
Resistência intervalado
- esteira FartLek 3x1 (20
minutos) 70% x 85% FC
Soccer Test
6a. Feira
Força (treinamento
funcional / musculação)
+ coordenação 80%
da carga utilizada pelo
atleta na categoria
6a. Feira
Força (treinamento
Resistência contínuoCoordenação + agilida- funcional / musculação)
+ coordenação 100%
campo (30 minutos) 70% de + velocidade (com
da carga utilizada pelo
FC Soccer Test
bola)
atleta na categoria
4ª. Feira
5a. Feira
6a. Feira
Resistência contínuocampo (30 minutos)
80% FC Soccer Test +
flexibilidade
Agilidade + coordenação + velocidade com
mudanças de direção
Trabalho técnico
5a. Feira
6a. Feira
Tabela III - Protocolo de recondicionamento físico (Categoria Sub 20).
2a. Feira
1o. Microciclo
3a. Feira
Força (treinamento
Resistência contínuo funcional / musculação)
esteira (30 minutos) 70%
70% da carga utilizada
FC Soccer Test
pelo atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
2o. Microciclo
Força (treinamento
Resistência intervalado
funcional / musculação)
- Esteira FartLek 2x3 (30
+ coordenação 80%
minutos) 70% x 85% FC
da carga utilizada pelo
Soccer Test
atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
3o. Microciclo
Força (Treinamento
Potência Aeróbia 5x (4x1
funcional / musculação)
/ 5x2 / 6x3 / 7x4) (32
+ Coordenação 90%
minutos) 85% FC Soccer
da carga utilizada pelo
Test + flexibilidade
atleta na categoria
2a. Feira
3a. Feira
4o. Microciclo
Potência aeróbia 4x (7x3) Força (treinamento
(35 minutos) 90% FC
funcional / musculação)
Soccer Test + flexibili100% da carga utilizada
dade
pelo atleta na categoria
4ª. Feira
Resistência contínuo Coordenação + flexibicampo (30 minutos) 70%
lidade
FC Soccer Test
4ª. Feira
5a. Feira
Resistência contínuo campo (30 minutos) 80% Velocidade (sem bola)
FC Soccer Test
4ª. Feira
Força (treinamento
funcional / musculação)
+ Coordenação 90%
da carga utilizada pelo
atleta na categoria
4ª. Feira
Resistência intermitente
(30 minutos) 75% a
90% FC Soccer Test +
flexibilidade
5a. Feira
Resistência intermitente
(30 minutos) 75% a
90% FC Soccer Test +
flexibilidade
5a. Feira
Agilidade + coordenação + pliometria +
velocidade com mudanças de direção
Resistência intervalado
- esteira FartLek 3x2 (30
minutos) 70% x 85% FC
Soccer Test
6a. Feira
Força (treinamento
funcional / musculação)
+ coordenação 80%
da carga utilizada pelo
atleta na categoria
6a. Feira
Força (treinamento
funcional / musculação)
+ coordenação 100%
da carga utilizada pelo
atleta na categoria
6a. Feira
Trabalho técnico
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
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la condición física en el fútbol. 3a ed. Barcelona: Paidotribo;
2002. p. 103-104.
5. Manso JMG, Valdivieso MN. Bases teóricas del entrenamiento
deportivo. Barcelona: Gymnos; 1996.
6. Tidow G. Muscular adaptations induced by training and detraining-a rewiew of biopsy studies. New studies in athletics
1995;10(1):29-49.
105
7. Fleck S, Kraemer W. O fenômeno do destreinamento. In:
Fundamentos do treinamento de força muscular.3a ed. Porto
Alegre: Artmed; 2006. p. 249-254.
8. Batista CAS. Exame clínico geral pré-participação. In: Barros
T. O exercício. Preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos.1ª ed. São Paulo.:Atheneu;1999.
p.51-59.
9. Barros TA atividade física moderada desacelera o decréscimo de
VO²max com a idade? Rev Soc Cardiol 2001;11:51.
10. Boileau RA. Desenvolvimento das condições anaeróbicas e
aeróbicas em jovens. Rev Bras Ciência Mov 1990;2:48-54.
11. Holmich P. Effectiveness of active physical training treatment for
long-standing adductor-related goinpainin athletes:randomised
trial. Lancet 1999;353:439-43.
12. American College of Sports. The recommended quantity and
quality of exercise developing and maintaining cardiorespiratory
and muscularfitness, and flexibility in healthy adults position
stand. Med Sci Sports Exerc1998;30:975-91.
106
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
107
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa - 20241-080 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164 - E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 7 Número 2 - maio/agosto 2008
Calendário de eventos
2008
2009
Novembro
Janeiro
9 a 12 de novembro
10 a 14 de janeiro
5 a 8 de dezembro
11 a 14 de fevereiro
V Congresso Brasileiro de História da Educação
Aracajú, SE
Informações: http://www.sbhe.org.br/
Australian and New Zealand Society for Comparative
Physiology and Biochemistry
University of Sydney
http://www.zoo.latrobe.edu.au/anzscpb/
E-mail: [email protected]
24º. Congresso Internacional de Educação Física
Foz de Iguaçu, PR
Informações: www.congressofiep.com
XIII Simpósio Brasileiro de Fisiologia Cardiovascular
Ouro Preto, MG
Informação: www.xiiisbfc.ufop.br
R evi s ta
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
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Fisiologia
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Brazilian Journal of Exercise Physiology
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Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
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Fisiologia
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• Qualidade de vida após revascularização
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