TERAPIA NEURAL, UMA ABORDAGEM EFETIVA EM DORES REUMÁTICAS, ORTOPÉDICAS E NEUROPÁTICAS Dr. Alfredo Toledo e Souza Doenças Reumáticas, Medicina Complementar da Dor, Terapia Neural www.curadivina.webs.com Pouco conhecida no Brasil, a Terapia Neural propõe o tratamento de sintomas usando injeções de uma substância chamada Procaína que, segundo sua teoria, provoca um estímulo no sistema nervoso mediante micro-infiltrações e reorganiza diversas funções do organismo, especialmente em focos de desequilíbrio do impulso nervoso, como nas cicatrizes. A técnica, que surgiu na Alemanha na década de 1930 e é popular em países da Europa e da América Latina como Colômbia e Argentina, tem princípios parecidos com os da acupuntura: considera o corpo como um todo e não se preocupa necessariamente com a cura, mas com o pronto e duradouro alívio das dores do paciente. Diferentemente da acupuntura, que usa a colocação de agulhas secas em pontos específicos, a Terapia Neural, além de estimular os pontos, também injeta neles uma pequena dose diluída do anestésico Procaína, que promove uma maior e mais prolongada estimulação de centros neurológicos próximos ao local das aplicações. Para a Terapia Neural, fatores físicos e emocionais, como um trauma ou uma cirurgia, desequilibram o sistema nervoso. Essas alterações levam a sintomas físicos, entre eles dores crônicas, rigidez, desequilíbrios posturais, insônia ou prisão de ventre. A Terapia Neural é uma estimulação de terminais nervosos que se encontram bloqueados, intoxicados ou estagnados em função da presença de tecidos inflamados, em sofrimento bioquímico por falta de oxigênio e nutrientes, ou mortos (necrose dos tecidos, restos de cicatrizes cirúrgicas, lesões e traumas antigos de tendões e ligamentos). A aplicação da substância seria capaz de restaurar o equilíbrio neurológico, o que contribuiria para o desaparecimento do problema. Na prática, a terapia consiste numa consulta médica seguida de uma sessão de 10 a 15 minutos onde são feitas aplicações mediante micro-infiltrações com Procaína em baixas concentrações em pontos específicos do corpo, utilizando seringas com agulhas finas e bem curtas (semelhantes àquelas utilizadas para a aplicação de insulina). Com a estimulação dos centros neurais próximos às infiltrações, a Procaína impulsiona a fisiologia das estruturas tratadas a encontrarem a sua própria ordem, ou seja, percorrerem o caminho de sua reestruturação com consequente alívio dos sintomas e, em alguns casos, cura completa. Um dos aspectos mais curiosos da Terapia Neural é sua capacidade de estimular memórias celulares e teciduais, inclusive muito distantes dos pontos onde foram feitas as aplicações. Cito um exemplo: Recentemente, apliquei a Terapia Neural numa enorme cicatriz com retração tecidual de uma cirurgia ortopédica realizada 12 anos antes para fixação de uma fratura exposta de tíbia, decorrente de um atropelamento, numa senhora de 43 anos. Pude constatar de imediato como a Procaína atuou como um impulso terapêutico real para locais distantes e inclusive para traumas emocionais. O seu caráter inespecífico permitiu um diálogo respeitoso com o corpo na medida em que o mesmo organismo começou a recordar as feridas passadas da fratura, da cirurgia e do material usado para a fixação da fratura, e viabilizando que seu organismo explorasse novas ordens de reestruturação e de cura, o que fez com que a paciente entrasse em crise de choro convulso por quase 10 minutos, tão logo encerrei a sessão de micro-infiltrações na cicatriz. Logo após o choro, declarou que não estava mais sentindo nenhuma dor em uma bursite com três tendinites crônicas do ombro esquerdo (síndrome de manguito rotador), da qual sofria há quatro anos. Mesmo tendo feito as aplicações apenas na cicatriz da perna, não precisei infiltrar nenhuma estrutura de seu ombro, que era a causa da consulta, pois as dores desapareceram completamente, e ela realizou todos os movimentos ativos do ombro sem qualquer limitação. Retornando após 30 dias, o ombro seguia perfeito. Tal ocorrência seria perfeitamente aceitável e compreensível da parte de um acupunturista, que tem uma visão global do corpo como uma arena cognitiva onde cada célula é um organismo vivo de inteligência própria, com fenômenos energéticos de reestruturação mediados por meridianos e centros de força distantes atuando na velocidade da luz na ordem de mais de um trilhão de reações químicas perfeitamente coordenadas por segundo, mas seria considerado “inconclusivo”, “acidental” ou até “charlatanesco”, no entender de todos os professores que tive na faculdade e nos estágios posteriores do internato médico em ambiente hospitalar. Porém, após milhares de pacientes tratados por mim mediante a Terapia Neural, utilizada sempre como complemento para a medicina baseada em evidência com toda a sua respeitabilidade amparada numa parafernália cada dia mais complexa e dispendiosa de exames físicos, laboratoriais e de imagens que, definitivamente, também são extremamente importantes, porém geralmente insuficientes para o alívio e cura de todo e qualquer paciente portando os mais variados quadros dolorosos, minha experiência própria (a única que conta, no frigir dos ovos...) me convence a seguir aplicando a Terapia Neural por sua simplicidade, o caráter quase indolor das aplicações, e os resultados efetivos e seguros que venho observando diariamente. A Terapia Neural, a exemplo de muitas outras técnicas de medicina complementar (inclusive a homeopatia) tem suas próprias leis, mas funciona muito bem, é bastante segura e relativamente barata, e vem sendo cada vez melhor documentada ao longo dos anos, tanto que cursos de pós-graduação, mestrado e até doutorado começaram a surgir em Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Argentina, Canadá e França, nos últimos cinco anos. Ultimamente, aproveitando meu conhecimento em acupuntura, além de aplicações diretamente em pontos rígidos, dolorosos ou inflamados e cicatrizes antigas (especialmente as cirúrgicas, que promovem complicações não apenas locais, como distantes), passei a aplicar a Terapia Neural também mediante micro-infiltrações em pontos específicos do couro cabeludo (que, assim como as orelhas, também apresenta terminações para todos os meridianos do corpo), em casos de dores ciáticas, neuropatias diabéticas e tremores de extremidades, com resultados satisfatórios. Realizando a Terapia Neural diariamente desde 2007, tive complicações mínimas, tais como reações alérgicas leves e reversíveis nos locais de aplicação, sem repercussão clínica importante. Em alguns casos, pude reverter tendinites, bursites e lombalgias de muitos anos, com completa eliminação da dor e melhora funcional, para minha surpresa, após uma única sessão. Acredito que a Terapia Neural deva ser aplicada somente por médicos com um excelente conhecimento de anatomia articular, muscular e neurológica, além de respeito aos princípios da assepsia.