identificação do projeto - pibic

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC CNPq e PIBIC
UFPA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO
Período : Agosto/_2011_ a Agosto/___2012_
() PARCIAL
(X) FINAL
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Título do Projeto de Pesquisa: “Identificação de Unidades de Paisagens: uma
contribuição ao Plano de Manejo das Reservas Extrativistas de São João da Ponta e Mãe
Grande de Curuçá- Pará”.
Nome do Orientador: Márcia Aparecida da Silva Pimentel
Titulação do Orientador: Profª. Drª Adjunta da Universidade Federal do Pará
Departamento: Faculdade de Geografia e Cartografia
Unidade: IFCH
Laboratório: Laboratório de Análise da Informação Geográfica (LAIG) e Laboratório de
Ensino de Geografia (LABENGEO)
Título do Plano de Trabalho: “Caracterização dos elementos do Meio Biofísico para
identificação de Unidades de Paisagem”
Nome do Bolsista: Geise Corrêa Teles
Tipo de Bolsa :
( ) PIBIC/ CNPq
( ) PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador
(X) PIBIC/UFPA
( ) PIBIC/ INTERIOR
( ) PIBIC/PARD
1
INTRODUÇÃO
O estudo das unidades de paisagem tem sido fundamental para o planejamento
territorial. Essas unidades caracterizam-se por apresentar o princípio da homogeneidade,
entre os componentes internos e heterogeneidade, em relação aos componentes do entorno.
Entre esses componentes estão os elementos naturais e os construídos pela sociedade. Na
delimitação das UPs o pesquisador considera o elemento principal para esta delimitação, de
acordo com às características da área de estudo e ao objetivo da pesquisa. Por exemplo, a
vegetação ou a geomorfologia, podem ser critérios de delimitação, mas sempre estudas na
relação com os outros elementos. O estudo das unidades de paisagem realizado pela
Geoecologia da paisagem fundamenta-se na valorização de ideias multi e interdisciplinares,
rompendo fronteiras padronizadas, dedicando-se as características e aos estudos dos
processos e elementos associados à relação sociedade-natureza, que essencialmente, focam
na questão ambiental, fundamentando-se na avaliação do potencial dos recursos naturais,
pois ela aperfeiçoa estratégias e táticas que viabilizam o manejo adequado, no espaço e no
tempo, das unidades paisagísticas (RODRIGUEZ, 2010 p. 13). A Geoecologia da paisagem
possibilita o planejamento ambiental do território, para programas de desenvolvimento
econômico, social e para a otimização do plano de uso, manejo e gestão de qualquer
unidade territorial.A abordagem geográfica apresentada pela ecologia da paisagem, desde o
início dos seus trabalhos valorizou o levantamento de campo, a utilização da representação
cartográfica e a fotointerpretação para identificar e delinear as unidades que são
ecologicamente homogêneas. As pesquisas mais recentes da ecologia da paisagem, do
ponto de vista geográfico, deixam claro que os limites entre as unidades de paisagens
seguem três caminhos: o ambiente abiótico que corresponde às formas de relevo, tipos de
solos, hidrografia, dinâmica climática; a transformações provocadas pela natureza como
enchentes, tornados, erupções vulcânicas; e as alterações antrópicas. Nesse sentido pode-se
dizer que trabalhamos com a perspectiva geográfica da paisagem, que remete a escala do
olhar do homem, pois esse olhar é o filtro, o direcionamento desta pesquisa. Neste sentido,
compreendendo que o estudo das unidades de paisagem é importante para o planejamento,
este estudo direcionou-se à caracterização dos elementos da paisagem e compreensão de
sua dinâmica, para subsidiar a elaboração do plano de manejo de Unidades de Conservação
2
de Uso Sustentável, especialmente as Reservas Extrativistas Marinhas.O lócus da pesquisa
são as áreas das Reservas Extrativistas Marinhas de São João da Ponta e Mãe Grande, de
Curuçá, localizadas nos municípios de mesmo nome, na região nordeste do Estado do Pará
(Figura 1). Essas Resex são caracterizadas por uma extensa área de manguezal estuarino,
com grande biodiversidade e produtividade, que juntamente com os demais municípios
litorâneos e costeiros do Pará, compõem a costa de manguezais do Salgado Paraense. São
várias as Unidades de Conservação presentes no litoral do estado do Pará, entre APAs e
Reservas Extrativistas Marinhas. Estas protegem uma importante formação de manguezais
do Brasil, fundamental na conservação da vida marinha e estuarina da zona costeira do
Estado e na manutenção dos aspectos socioeconômicos e culturais das populações
tradicionais dessa região. As Resex, especificamente, correspondem a Unidades de
Conservação de Uso Sustentável. Esta categoria de Unidade de Conservação tem por
objetivo a proteção dos meios de vida e a cultura de suas populações extrativistas
tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade, ou seja, as
diversas formas de uso e ocupação que estão intrínsecas as RESEXs. A construção do plano
de manejo, documento importante para a gestão da unidade é interdisciplinar. A Geografia
corrobora com sua construção a partir da análise da paisagem e do planejamento ambiental.
Por isso, é necessário utilizar escalas geográficas e cartográficas adequadas à identificação
de unidades de paisagem que possam mostrar as relações entre as características do meio
biofísico e os diferentes usos que as populações (tradicionais e locais) residentes fazem da
paisagem. Vale ressaltar ainda que a identificação das unidades de paisagem requer
conhecimento da área sob o aspecto do meio biofísico, clima, relevo, solo, vegetação,
hidrografia e do uso e ocupação. A cartografia é uma ferramenta fundamental para
identificar e propor formas de usos adequados à realidade das Reservas Extrativistas
Marinhas de São João da Ponta e Mãe Grande, Curuçá. A sobreposição de elementos, como
solo, vegetação, hidrografia, que integram sua estrutura e Geodiversidade, inerentes aos
processos dinâmicos da paisagem podem revelar condições de uso e ocupação adequadas a
essas áreas.
3
Figura 1- Mapa de localização dos Municípios de São João da Ponta e Curuçá, região
nordeste do Estado do Pará.
JUSTIFICATIVA: Planejar a conservação da paisagem através do uso e ocupação
adequados requer uma análise integrada dos diversos elementos que a compõe, pois, por
exemplo, a proteção de apenas um fragmento de vegetação ou um trecho do rio não é
suficiente se o entorno do fragmento ou as cabeceiras estiverem comprometidas. Nesse
sentido, mais do que uma análise detalhada da paisagem, é necessário entender as
modificações estruturais, e, portanto funcionais, trazidas pelo homem no sistema que
compõe a paisagem, incorporando de forma explícita toda a complexidade das interrelações espaciais de seus componentes, tanto naturais quanto culturais, pois a resposta aos
problemas ambientais, e uso adequado dos recursos naturais, é mais do que nunca urgente.
Pode-se dizer que a discussão sobre a paisagem é pertinente para o planejamento das
unidades de conservação, pois a intersecção dos fatores natural, econômico e sociocultural
está na classificação de unidades de paisagem como objeto de pesquisa para o planejamento
ambiental. Neste caso, contribuição ao plano de manejo das unidades, que possibilitará a
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população local dessas áreas a conhecer e colaborar para a utilização adequada dos recursos
naturais.
OBJETIVOS: O objetivo geral do projeto é “Elaborar o inventário do meio biofísico e a
correlação dos seus elementos objetivando a cartografia ambiental das Reservas
Extrativistas Marinhas de São João da Ponta e Mãe Grande de Curuçá-PA. Para alcançá-lo,
foram traçados objetivos específicos, entre eles podemos destacar: compreender o conceito
de paisagem e de unidade de paisagem para a Geografia e sua utilização no planejamento
de Unidades de Conservação de Uso Sustentável; promover a aproximação entre a pesquisa
acadêmica e o conhecimento da comunidade sobre a paisagem, através de oficinas e
trabalhos de campo; registrar e cartografar os elementos do meio biofísico que compõem
as diferentes unidades de paisagem nas Resex estudadas; contribuir para o plano de manejo
das Resex Marinhas de São João da Ponta e Mãe Grande de Curuçá;
MATERIAIS E MÉTODOS: Os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos nas
seguintes etapas:1ª Etapa: Revisão e atualização de bibliografia referente a unidades de
paisagem (livros, artigos e revistas);2ª Etapa:Trabalho de campo para verificação de
informações cartográficas e coleta de dados;3ª Etapa: Mapeamento dos elementos
biofísicos da paisagem, por meio de fotografias e dados coletados em campo (Utilização de
GPS Garmin Etrex Legend H e mapas produzidos no Software Arcgis, com utilização de
fontes IBGE/IBAMA); 4ª Etapa:Realização de oficinas com a comunidade para aproximar
entre conhecimento científico e o conhecimento tradicional e, planejamento do trabalho de
campo. (Exposições orais e dinâmicas de grupo envolvendo as categorias de análise da
Geografia, tais como paisagem e território- Utilização de materiais como Data show,
máquina fotográfica e filmadora); 5ª Realização trabalho de campo nas diferentes unidades
de paisagens das Resex, para a identificação de elementos do meio biofísico.7ª Elaboração
de mapa de geomorfologia, solo e vegetação dos municípios de São João da Ponta e
Curuçá. (mapas produzidos no Software Arcgis, e base cartográfica das fontes
IBGE/IBAMA);
RESULTADOS: A compreensão do conceito de paisagem e de unidade de paisagem
para a Geografia e sua utilização no planejamento de Unidades de Conservação de
Uso Sustentável.Nas leituras realizadas no campo da ciência da paisagem, os autores
5
discutem o caráter polissêmico deste conceito. A atualização do tema proporcionada nos
trabalhos de BERTRAND (2007) permitiu compreender o tripé Geossistema, Território e
Paisagem, que servirá de embasamento metodológico para a identificação de Unidades de
Paisagem. É interessante salientar também, como expôs RODRIGUEZ (2010) que a
paisagem é inerente a sua estrutura e sua Geodiversidade. A estrutura é a composição dos
elementos físicos da paisagem e a Geodiversidade, o resultado da interação dialética dos
elementos da paisagem, que possui um caráter histórico e genético, responsável pela
constituição dinâmica da paisagem. Entendida como um conjunto único e indissociável de
elementos que mantêm uma relação dialética entre si. Daí a necessidade de ser percebida
como um sistema integrado em constante modificação. Bertrand, na década de 1990 propôs
o modelo GTP, Geossistema, Território e Paisagem, como uma ferramenta para a pesquisa
ambiental, onde Geossistema é a combinação espacializada de elementos abióticos, bióticos
e antrópicos. Território, como compreensão da organização e dos funcionamentos sociais e
econômicos sobre o espaço estudado e, a Paisagem, na sua dimensão cultural, é a marca da
sociedade sobre o território (BERTRAND, 2007). A função deste modelo é, segundo o
autor, relançar a pesquisa ambiental sobre as bases multidimensionais, no tempo e no
espaço, no quadro das disciplinas ou de forma interdisciplinar. Considera-se importante
esta proposta teórico-metodológica porque apresenta a integração de diferentes conceitos
sobre a área de estudo. Sobre planejamento ambiental, Santos (2004) explica que os
princípios do planejamento ambiental se remetem, diretamente, aos conceitos de
sustentabilidade e multidisciplinaridade, os quais, por sua vez exigem uma abordagem
holística de análise para posterior aplicação. Acrescenta que está fundamentado na
integração dos sistemas que compõem o ambiente, pois tem o papel de estabelecer as
relações entre os sistemas ecológicos e os processos da sociedade, das necessidades
socioculturais e atividades e interesses econômicos, a fim de manter a máxima integridade
possível dos seus elementos componentes. Como ferramenta para o planejamento ambiental
a cartografia de unidades de paisagem vem contribuir para a espacialização deste modelo.
A proposta de Martinelli e Pedrotti (2001) é de que ela deve apresentar conjuntos espaciais
com identidade peculiar e marcante, que são agrupamento de lugares caracterizados por
agrupamentos de atributos, individualizados pela pesquisa. A legenda é um elemento
cartográfico fundamental porque veicula os significados dos signos na representação, é a
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interpretação do conteúdo do mapa. A sistematização do trabalho de campo garante a
riqueza de detalhamento das Unidades de paisagem. A aproximação entre a pesquisa
acadêmica e o conhecimento da comunidade sobre os elementos que constituem
paisagem, em escala regional e local. De acordo com Mendes (2001), a costa paraense
apresenta uma morfologia particularizada. Caracteriza-se por um complexo sistema de
estuários em que coexistem ambientes dominados por marés e ondas. O cenário fisiográfico
é denominado de costa de rias, ou seja, de reentrâncias que definem uma configuração de
costa recortada para a sua linha de costa. Para Prost a explicação sobre a formação das rias
é geomorfológica, onde “a costa é formada por vales fluviais, parcialmente submersos em
decorrência do aumento do nível relativo do mar durante o Holoceno” (PROST et al. 2001,
pág 78). Do ponto de vista ecológico, esta costa é formada por um mosaico de ecossistemas
de grande potencial paisagístico e econômico que permite vários usos. Como exemplo do
potencial paisagístico estão os manguezais que de forma significativa recobrem parcela da
costa paraense. Segundo Shaffer-Novelli (1999) o manguezal é um sistema ecológico
costeiro tropical, formado por espécies vegetais típicas, que se associam a outros
componentes da flora e fauna, adaptados a um solo que é constantemente inundado pelas
marés
apresentando ainda grandes
variações
de salinidade.
Na
caracterização
geomorfológica da costa paraense são identificadas quatro unidades: o planalto costeiro, a
planície costeira, a planície estuarina, a planície aluvial. (FRANÇA & SOUZA FILHO,
2003). Os trabalhos de campo foram realizados no sentido de verificar essa característica
regional em escala local, por isso contou com o apoio das comunidades locais, envolvendoas na identificação e compreensão da dinâmica da paisagem. O primeiro trabalho de campo
foi realizado nos dias 26 e 27 de agosto de 2011, para o município de São João da Ponta. O
grupo de pesquisa, coordenado pela orientadora da pesquisa reuniu-se com os
representantes das várias comunidades de São João da Ponta e Curuçá, com os
representantes da Associação dos usuários das duas reservas extrativistas, e com os gestores
do ICMbio, das duas Reservas Extrativistas, para discussão sobre a possibilidade de
parcerias entre os Projetos da Faculdade de Geografia e as Resevas Extrativistas Marinhas
em questão; para a apresentação de atividades do grupo, e planejamento de atividades de
campo. O segundo trabalho de campo foi realizado no dia 01 de outubro de 2011, no
município de Curuçá. Nesta ocasião, foi feito o reconhecimento da área e para escolha das
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comunidades localizadas nas áreas adjacentes ao mangue, tal como comunidade Pinheiro,
Arapiranga e Andirá. Foram tirados os pontos com o GPS, e, posteriormente, foi elaborado
um mapa da área onde estão as comunidades escolhidas. No campo, de forma geral,
observou-se que existem diferentes unidades de paisagens: a primeira constituída pela
planície estuarina, de influência flúvio-marinha, coberta pela vegetação de mangue ainda
preservado. A segunda e a terceira unidades estão no planalto costeiro, sendo uma unidade
com cobertura vegetal florestal fragmentada e restrita às margens de alguns igarapés, e a
outra unidade, que corresponde a um campo antropizado, com vegetação em diferentes
graus de recuperação. Neste campo, foi diagnosticado junto à comunidade, a necessidade
de um local adequado para a destinação final dos resíduos sólidos produzidos nessa
comunidade, a necessidade de proteção das principais nascentes, a recuperação da mata
ciliar, bem como inserção de práticas de educação ambiental. Em função dessa demanda,
no terceiro trabalho de campo, que foi realizado nos dias 11 e 12 de novembro, na Resex
Mãe Grande, em Curuçá foram promovidas oficinas para os moradores das comunidades
escolhidas, juntamente com os representantes da Resex. Nesses dias, além de participar das
oficinas de educação ambiental, foi iniciado o mapeamento das principais nascentes
localizadas nas comunidades citadas, foram marcamos os pontos no GPS das principais
nascentes que compõem a rede hidrográfica local. Por meio desses dados foi feito um mapa
preliminar das principais nascentes do Rio Curuçá, que passa por essas comunidades. Esse
diagnóstico obteve resultado positivo que incidiu na organização da Semana do Meio
Ambiente nos dias 01 e 02 de junho de 2012, promovida pela prefeitura de Curuçá com
apoio do grupo de pesquisa da Faculdade de Geografia. Durante esses dias, a ênfase da
semana esteve no replantio da mata ciliar das áreas de nascentes mais degradadas,
mapeadas no trabalho realizado anteriormente. No ano de 2012, foram realizados vários
trabalhos de campo, correspondendo a uma média de dois trabalhos de campo por mês,
alternados entre os municípios de Curuçá e São João da Ponta. Vale ressaltar que esses
trabalhos de campo são planejados nos finais de semana para não prejudicarem a
participação do discente da graduação nas aulas. A cartografia e a análise dos elementos
do meio biofísico que compõem as diferentes unidades de paisagem: A sistematização e
a análise das informações de campo, foi fundamentada na abordagem teórica apresentada,
nos resultados de pesquisas já produzidas e nas observações e percepções dos moradores
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das comunidades das RESEXs. Na correlação dos resultados procurou-se mostrar a
importância de cada elemento da natureza na manutenção para seu equilíbrio ecológico,
tendo em vista o seu caráter geossistêmico. As unidades de paisagem correspondem a uma
forma de análise singular e pertinente para este estudo, pois como expôs BERTRAND
(1972) ela resulta da combinação local e única de todos esses fatores (sistema de declive,
clima, rocha, manto de decomposição, hidrologia das vertentes) e de uma dinâmica comum
(mesma geomorfogênese, pedogênese idêntica, mesma degradação antrópica da vegetação)
entre os elementos da paisagem. Baseando-se na definição conceitual e taxonômica de
paisagem proposta por Bertrand (1972) classificamos as principais unidades de paisagem
presentes nas áreas analisadas em geossistemas, pois eles situam-se entre a 4ª e a 5ª
grandeza temporo-espacial, e correspondem a uma unidade dimensional compreendida
entre alguns quilômetros quadrados e algumas centenas de quilômetros quadrados. É nesta
escala que se situa a maior parte dos fenômenos de interferência entre os elementos da
paisagem e que evoluem as combinações dialéticas mais interessantes para o geógrafo.
Além disso, a solução mais fácil para designar o geossistema consiste na análise da
vegetação correspondente, que representa muitas vezes a melhor síntese do meio. Como o
nome de uma espécie não é suficiente pode-se reter o da formação vegetal clímax e seu
traço ecológico essencial. Todavia, não se pode fazer disso uma regra geral porque o tapete
vegetal não é sempre o elemento dominante ou característico da combinação. Tendo em
vista esses fatores podemos destacar como principais unidades de paisagem: As Matas
secundárias e savanas antropizadas em baixos platôs; as chamadas florestas de terra firme,
constituídas por uma vegetação secundária de capoeira, pois a sua cobertura vegetal
original, foi removida, em função do plantio de subsistência, agricultura e pecuária
extensiva de corte; Florestas halófitas flúvio-marinhas em planícies de maré lamosas, o
mangue que abriga substratos de vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a
ação diária das marés de água. O mangue é composto por uma vegetação muito típica
denominada halófita, ou seja, resistente ao sal; e apresenta ainda, uma riqueza biológica que
faz com que essa área seja um grande "berçário” natural, representando significativa fonte
de alimentos para as populações humanas (Figura 2)
9
Figura 2- Aspecto da vegetação de Florestas halófitas flúvio-marinhas, em planícies
de maré lamosas, município de São João da Ponta
Fonte: Grupo de Estudo Paisagem e Planejamento Ambiental-FGC-UFPA (Geppam), 2011.
Considerando as características morfoestruturais e a ação dos fatores hidrodinâmicos
ligados ao atual contexto estuarino regional das áreas analisadas. O Planalto Rebaixado da
Amazônia, também chamado de Planalto do Baixo Amazonas é constituído por sedimentos
terciários e quaternários do Grupo Barreiras/Pós-Barreiras. Faz parte do domínio
morfoclimático dos planaltos amazônicos rebaixados ou dissecados, áreas colinosas e
planícies revestidas por floresta densa (Ab’Saber 1977), formados por sedimentos
holocênicos lamosos e arenosos, e corresponde a um relevo plano de suave gradiente,
correspondendo a um domínio morfoclimático das planícies inundáveis recobertas por
campos e por vegetação pioneira de mangues (Ab’Saber 1977). Aí dominam o latossolo
amarelo textura média, também com textura muito argilosa, podzólicos vermelho-amarelo
de textura argilosa, solos aluviais e areias quartzosas. Da correlação entre a geomorfologia,
solo, hidrografia e vegetação, foi possível a identificação de unidades de paisagem como
apresentada na figura 3.
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Figura 3- Mapa de Unidades de Paisagem nas Resex de São João da Ponta e Mãe Grande,
Curuçá
Com base no mapa podemos observar que o litoral paraense é constituído por “rias”, uma
vez que apresenta uma série de ilhas, baías e canais. As diversas alterações dos cursos dos
grandes rios, reencaixamento da rede de drenagem, retomada de erosão nos vales e nos
rebocos erosivos, bem como afloramento do pré-cambriano, indicam movimentação
sucessiva do Nordeste do Pará. Seus relevos são tabulares por efeitos erosivos, apresenta
rios inundados pela transgressão marinha mais recente, e um entulhamento de materiais
finos e várzea, a chamada terra-firme (representada no mapa acima pela cor amarela), se
estende extensivamente pelo chamado vale Amazonas constituído por uma floresta sempre
verde, que foi substituída em função do intenso desmatamento presente na área. Essa
vegetação geralmente formada por estratos pioneiros, decorrentes de deposição maninha ou
aluvial, devido ao alto índice pluviométrico, foi substituída e atualmente é constituída pela
floresta secundária, a chamada capoeira. Pode-se caracterizar o clima da área como tropical
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quente e úmido marcado por chuvas torrenciais na estação seca. A região é caracterizada
por esse contorno que ocupa praticamente toda a faixa litorânea, sendo representada pela
vegetação do mangue (representada no mapa acima pela cor verde) campestre de transição
(representada no mapa acima pela cor rosa) e restingas.
As informações a respeito das
características do meio biofísico da área foram ratificadas com a realização de trilhas no
município de São João da Ponta (Figura 4). Foi possível perceber algumas peculiaridades
da área, como por exemplo, a variação dos tipos de solo que, embora fossem representados
em grande parte pelo latossolo amarelo, apresentava também latossolos vermelho-amarelo,
e mudança na coloração do solo de acordo com a proximidade da drenagem circundante.
Os solos de várzea caracterizam-se por serem solos aluviais e/ou hidromórficos, geralmente
planos e ricos em matéria orgânica, e ordinalmente apresentam uma coloração mais escura
que os solos de terra-firme.
Figura 4- Trajeto realizado em trilha para identificação de unidades
de paisagem no Município de São João da Ponta
Diante da complexidade que envolve a caracterização dos elementos da paisagem na
área de estudo, pode-se dizer de forma substancial que dentro das unidades de paisagem
12
circunscritas no mapa, tem-se não somente diferentes tipos de vegetação, mas também
como foi observado, diferentes tipos de solo, e com isso são estabelecidos diferentes tipos
de usos nessas áreas. As áreas de terra-firme são usadas para a construção de moradias,
plantio e mesmo criação de animais, as áreas de mangue e toda a drenagem circundante,
são utilizadas na coleta de caranguejo, pesca, navegação e lazer, por exemplo. Mas a
interação entre esses elementos, representada pela funcionalidade entre cada um deles, é o
que os torna um conjunto único e indissociável, um verdadeiro sistema. Como exemplo, a
relação entre o solo e a vegetação, a vegetação é muito importante para o solo, pois protege
a parte superficial do solo do impacto direto das gotas de chuva, atua na melhor distribuição
da água pela superfície, não permitindo que as partículas argilosas fechem os poros do solo,
mantendo sua aeração. A presença de húmus, bem como a sombra medida pelas plantas,
mantém a umidade do solo, evitando seu ressecamento e gretamento. Já que um solo
gretado é mais facilmente ravinado pelas chuvas. A cobertura vegetal atua na contenção
mecânica do solo, devido ao extenso sistema radicular das plantas, que une os grãos entre si
e mantém a coesão do solo. A Contribuição da pesquisa para o plano de manejo das
Reservas Extrativistas Marinhas de São João da Ponta e Mãe Grande,Curuçá. A
concepção do planejamento ambiental exige uma visão sistêmica da relação naturezasociedade, baseada na ideia de sistemas ambientais inter-relacionados, originados por
estruturas conexas, variáveis dinamicamente, subordinados a relação causa-efeito, daí a
importância do estudo da paisagem na reconstrução do estilo de desenvolvimento atual.
Como desenvolvimento desta pesquisa, que correspondeu a revisão bibliográfica, sobre
teoria e metodologia de pesquisa em geografia, a experiência de campo, a conhecimento
empírico das comunidades, a utilização da cartografia como ferramenta foi possível
sistematizar e compreender a paisagem como um sistema. Partindo desse pressuposto, as
ações sobre as unidades de paisagem devem ser planejadas de acordo com o potencial de
cada uma delas, no qual deve ser considerado as características do meio biofísico, os usos e
representações das comunidades. Esta pesquisa apresentou resultados que podem
contribuir para este planejamento. Tratando-se de uma Unidade de Conservação de Uso
Sustentável, a análise permitiu perceber que, grande parte das comunidades analisadas, não
se reconhece como morador de uma reserva extrativista marinha, indicando, com isso, que
ele deva ser incluída na gestão da unidade. Por fim, a pesquisa também tem contribuído no
13
envolvimento da população no processo de preservação dos recursos naturais a partir da
leitura da paisagem.
PUBLICAÇÕES: O resultado da pesquisa foi submetido para publicação em artigos para
revistas científicas e anais de eventos acadêmicos:
Artigos em revistas:
França, C. F. ; Silva M. A. Diversidade Paisagística das Margens Oeste e Leste da Baia de
Marajó, Pará, Norte do Brasil. Revista GEONORTE, v. 3, p. 900-910, 2012.
Silva M. A. ; Teles, G. C. ; Pantoja, C. S. . O Estudo da Paisagem na Reserva Extrativista
Marinha Mae Grande de Curuçá-PA. Revista GEONORTE, v. 3, p. 1105-1116, 2012.
Silva, M. A.; Oliveira, I. S. ; Rodrigues, J. C. M. . Dinâmica da Paisagem e Risco
Ambiental na Ilha de Caratateua, Distrito de Belém- PA. Revista GEONORTE, v. 1, p.
624-633, 2012.
Trabalhos publicados em Anais de Eventos
Silva.M.A – Paisagem e Planejamento Ambiental na Resex Marinha de São João da PontaPA- XIV Simpósio Nacional de Geografia Física Aplicada, realizado na Universidade
Federal da Grande Dourados, em julho de 2011. ISSN 2236-5311
Silva M.A- População Tradicional e Meio Ambiente: A Reserva Extrativista Marinha de
São João da Ponta. PA. – I Seminário Internacional Ruralidades, Trabalho e Meio
Ambiente, realizado na Universidade Federal de São Carlos, em maio de 2012. ISSN 22363106.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O planejamento ambiental baseia-se em princípios, que implica
na integração de diferentes categorias de sistemas ambientais, diferentes níveis de escalas,
das dimensões e processos que fundamentam a relação natureza-sociedade. Nesse sentido
pode-se dizer que o embasamento teórico circunscrito no estudo da geoecologia da
paisagem, contribui no sentido de mostrar a importância dos elementos da natureza e da
relação existente entre eles, trazendo e colocando a sociedade para mais próximo da
discussão a respeito da sustentabilidade ambiental. Por isso mais do que um estudo teórico,
procurou-se envolver a população no reconhecimento dos elementos naturais, já que os
conhecimentos tradicionais também fazem parte dessa análise, pois a percepção influencia
nas relações estabelecidas entre sociedade-natureza.Através do que foi exposto podemos
dizer que, como colocou Bertrand (1972) que a paisagem é um mosaico heterogênio,
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formado por unidades múltiplas, que possuem características comuns, por estarem na
mesma área ou região, mas que possuem particularidades que se integram a cargo da sua
funcionalidade no contexto biofísico, pode-se acrescentar ainda dizendo que o homem
aparece nesse sistema, não apenas como um ser antrópico, mas como um ser social e
cultural. Nas palavras de RODRIGUEZ (2010 p. 15) a paisagem como formação antroponatural, que constitui um sistema territorial composto por elementos naturais e
antropotecnogênicos condicionados socialmente, que modificam e transformam as
propriedades das paisagens naturais originais. Vale lembrar que o reconhecimento desses
elementos biofísicos é um trabalho multi e interdisciplinar, que requer a atuação de diversos
profissionais como biólogo, geólogo entre outras áreas de pesquisa. O resultado desse
estudo está na compreensão da dinâmica da paisagem e na delimitação de unidades de
paisagem. Esta é uma contribuição relevante para o planejamento das Unidades de
Conservação de Uso Sustentável para garantir a qualidade ambiental e qualidade de vida
para as populações locais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BERTAND, G. & BERTRAND, C. - Uma Geografia Transversal e de Travessias. O meio
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BERTRAND, Georges. Paisagem e geografia física global: um esboço metodológico. In:
Cadernos de Ciências da Terra, nº 13, São Paulo, 1971, USP/IG.
COSTA S.S et al. Zoneamento ambiental da Reserva Extrativista Chico Mendes, Acre,
Brasil. In.Faces da Polissemia da Paisagem: Ecologia, Planejamento e Percepção.
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1974.
FRANÇA, C.F.; PIMENTEL, M.A.S.; PROST, M.T.R.C. Geomorfologia e paisagem:
contribuições à classificação de unidades de paisagem da região oriental da ilha de
Marajó, norte do Brasil. In: Seminário Latino-Americano de Geografia Física, 6.
15
Seminário Ibero-Americano de Geografia Física, 2., Coimbra. Atas ... Coimbra:
Universidade de Coimbra, 2010 (disponível em www.vislagf.uc.pt).
MARTINELLI, M. & PEDROTTI, F.- A cartografia das Unidades de Paisagem: questões
metodológicas. Revista do Departamento de Geografia da USP. 14, São Paulo. 2001, p3946.
MENDES, A.C., SILVA, M.S, SANTOS, V. F- Análise do meio físico para gestão
ambiental das ilhas de Algodoal e Atalaia (NE do Pará)- In: Ecossistemas Costeiros:
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DIFICULDADES: Apesar da pesquisa de campo ser realizada em municípios que distam
aproximadamente 2:30 horas da capital do Estado do Pará, os trabalhos de campo foram
realizados como previstos, porque a pesquisa foi integrada ao Programa de Extensão
financiado pelo Proext-Mec, que atua nas mesmas áreas. As dificuldade se apresentou na
parte técnica, relacionada a aquisição de imagens de satélite de boa resolução e, na parte da
logística local, no município de Curuçá, onde não houve apoio do gestor da Resex Mãe
Grande, tampouco da prefeitura local para o desenvolvimento da pesquisa.
PARECER DO ORIENTADOR: (Manifestação do orientador sobre o desenvolvimento
das atividades do aluno e justificativa do pedido de renovação,se for o caso).
A graduanda apresentou responsabilidade e capacidade para o desenvolvimento do seu
plano de trabalho. Integrou de forma adequada a pesquisa às outras atividades relacionadas
aos projetos do orientador, como a extensão e o ensino. Desenvolveu e elaborou material
cartográfico que serão importantes para o planejamento das Unidades de Conservação
estudas. Sua aplicação e compromisso com a pesquisa acadêmica e respeito às
comunidades que colaboraram com a pesquisa são qualidades importantes em um discente
que justificam a renovação da bolsa PIBIC.
DATA :
07/agosto/2012
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ASSINATURA DO ORIENTADOR
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ASSINATURA DO ALUNO
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ANEXOS
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