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MÓDULO 1
1.1 O Meio Ambiente
De acordo com a definição contida na
norma NBR ISO 14001:1996, item 3.2, meio
ambiente é a circunvizinhança em que uma
organização opera, incluindo ar, água, solo,
recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações.
Na Política Nacional de Meio Ambiente,
Lei nº 6.938/1981, em seu artigo 3°, “Para os
fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I)
meio ambiente, o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas
formas;
II) degradação da qualidade ambiental, a
alteração adversa das características do
meio ambiente
III) poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o
bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
Curso Básico de Gestão Ambiental
IV) poluidor, a pessoa física ou jurídica, de
direito público ou privado, responsável,
direta ou indiretamente, por atividade
causadora de degradação ambiental; e
V) recursos ambientais: a atmosfera, as
águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o
solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
Já a Constituição Federal diz, em seu
artigo 225, “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Portanto, com base nas definições acima,
pode-se entender tanto a complexidade
quanto a importância do meio ambiente
para a sobrevivência das espécies, inclusive do homem, e do papel que temos na
sua preservação.
É nesse sentido que consideramos a relevância do conceito de Desenvolvimento Sustentável e a significância da implantação de
sistemas de gestão em geral e, em específico, o Sistema de Gestão Ambiental (SGA).
Considera-se um sistema o conjunto de
elementos interdependentes, interrelacionados e interatuantes, coordenados entre si, e
que funcionam como um todo complexo, uma
estrutura organizada. Por isso, nada impede
que se implante um sistema de gestão ambiental mesmo que já existam outros sistemas implantados, seja ele financeiro, de qua-
9
lidade, saúde e segurança, responsabilidade
social ou outro.
Um bom sistema agrega valor aos existentes e pode ainda ser integrado aos demais.
1.2 Evolução Histórica da Gestão
Ambiental no Mundo
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA
GESTÃO AMBIENTAL NO MUNDO
1972: Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano - Estocolmo
1984: Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento: Nosso Futuro Comum (1987)
1984: Programa de Atuação Responsável da Indústria Química
1991: A ISO discute o desenvolvimento de padrões ambientais
1991: 16 Princípios da Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável
1992: Rio 92 - Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
1992: 27 Princípios da Carta da Terra
1994: Normas e esquemas: BS 7750, EMAS, ISO
1996: Norma ISO 14001
2002: Rio Mais 10
Desenvolvimento Sustentável
“Desenvolvimento que atende às
necessidades do presente sem
comprometer a capacidade de as
futuras gerações atenderem suas
próprias necessidades.”
T1M1
1.2.1 Desenvolvimentos
Internacionais desde os anos 70
Na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, e crescendo no mundo todo, a abordagem de controlar ou influenciar os impactos
das atividades industriais na saúde humana
e no meio ambiente sofreu uma transição significante. Inicialmente, nos anos 70 e começo
dos anos 80 na Europa, os esforços concentraram-se no desenvolvimento das estruturas
legislativas e regulamentares, reforçados por
uma estrutura de licenciamento ambiental.
A resposta da indústria foi amplamente reacionária. A indústria investiu em soluções
tecnológicas superficiais para assegurar que
estava de acordo com as regulamentações,
sempre mais restritivas, e com as licenças
de operação relacionadas a condicionantes
ambientais, na busca de atender ao comando-controle da legislação ambiental cada vez
mais rigorosa.
A combinação de negócios com aspectos ambientais em âmbito internacional começou depois da Conferência das Nações
Unidas de 1972 (Conferência de Estocolmo), quando uma comissão independente
10
foi criada: a Comissão Mundial de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Brundtland
Comission). Esta Comissão encarregou-se
da tarefa de reavaliar o meio ambiente no
contexto do desenvolvimento e publicou seu
relatório Nosso Futuro em Comum em 1987,
que hoje é considerado um marco. Esse relatório introduziu o termo Desenvolvimento
Sustentável e incitou as indústrias a desenvolverem sistemas de gestão ambiental
eficientes. O relatório foi assinado por mais
de 50 líderes mundiais, que agendaram uma
conferência geral para discutir a necessidade do estabelecimento de ações a serem
implementadas.
A ONU, conseqüentemente, decidiu organizar a Conferência de Desenvolvimento e
Meio Ambiente das Nações Unidas (Unced),
também conhecida como ECO 92, realizada
no Rio de Janeiro em junho de 1992. Líderes de governos, próceres comerciais, representantes de mais de cinco mil organizações
não-governamentais, jornalistas internacionais e grupos privados de várias partes do
globo se reuniram para discutir como o mundo poderia mudar em direção ao desenvolvimento sustentável.
O resultado da ECO 92 foi a Agenda 21,
um “consenso global e compromisso político
do mais alto nível”, mostrando como os governos, as empresas, as organizações nãogovernamentais e todos os setores da ação
humana podem cooperar para resolver os
problemas ambientais cruciais que ameaçam
a vida no planeta.
O Secretário-Geral da Unced queria assegurar-se de que as corporações comerciais
participariam no processo da discussão e da
decisão final. Ele, então, pediu a um líder industrial suíço para ser seu conselheiro nas
questões comerciais. Esse industrial fez seu
papel, estabelecendo o Conselho Empresarial de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Este Conselho publicou um relatório
importante intitulado Mudança de Rumo, mas
também decidiu aproximar-se da ISO para
discutir o desenvolvimento de padrões ambientais.
Curso Básico de Gestão Ambiental
Paralelamente a esses acontecimentos, a
Câmara do Comércio Internacional (ICC) desenvolveu a Carta Empresarial de Desenvolvimento Sustentável em 1990, que foi lançado no ano seguinte na Segunda Conferência
Mundial de Gestão Ambiental das Indústrias
(Wicem). A Carta Empresarial da ICC contém
16 princípios de gestão ambiental. Esta carta
encontra-se nos anexos deste curso.
Em outra iniciativa, a indústria química,
preocupada com sua imagem pública deteriorada, lançou seu Programa de Atuação
Responsável, começando no Canadá em
1984, cujos critérios condicionam à participação como membro na Associação das Indústrias Químicas. Sua abordagem é firmemente
baseada nos princípios de controle ambiental
e de qualidade total, incluindo avaliação da
saúde potencial e real, segurança e impactos
ambientais das atividades e produtos, e do
fornecimento de informações para as partes
interessadas.
Desde a metade dos anos 80, e mais recentemente nas economias emergentes e
dinâmicas do Oriente e do Ocidente, o segmento empresarial está tomando uma atitude
mais proativa e reconhecendo que a gestão
ambiental, como iniciativa voluntária, pode
intensificar a imagem de corporação, aumentar os lucros e a competitividade, reduzir os
custos e prevenir a necessidade de proposição de emendas legislativas a serem tomadas pelas autoridades.
Uma evidência disso é vista na mudança
para “produtos verdes”, com o aumento da
“avaliação do ciclo de vida” – identificar os
impactos ambientais de um produto do “berço ao berço”. Também têm sido produzidas
inúmeras ferramentas de gestão ambiental,
tais como auditoria ambiental e sistemas de
gestão ambiental. Essas ferramentas, em
sua maioria, começaram como iniciativas voluntárias dentro das companhias, mas agora
afetam as políticas e regulamentações governamentais na União Européia, e põem em
risco as políticas administrativas nacionais e
internacionais de bancos e companhias de
seguro.
Curso Básico de Gestão Ambiental
A implementação de sistemas de gestão
ambiental em empresas permanece voluntária. No entanto, organizações em todo o mundo estão estimando cuidadosamente não só
os benefícios financeiros (identificação e redução de desperdícios, melhora na eficiência
da produção, novo potencial de marketing
etc.) que podem surgir de tais atividades, mas
também os riscos de não empregar soluções
organizacionais e técnicas para problemas
ambientais (acidentes, incapacidade de obter
crédito bancário e investimento privado, perda de mercado e da clientela).
Uma das atividades mais importantes nos
últimos anos talvez seja o desenvolvimento
de padrões no campo ambiental, principalmente daqueles estabelecidos pela ISO. Essas atividades são essenciais se um SGA (e
ações relacionadas) tem que ser aplicado no
contexto de “campo de atuação nivelado”,
como exigido por acordos internacionais de
exportação e importação, incluindo a União
Européia e a Mundial. Padrões desenvolvidos
em nível nacional e europeu também afetam
indústrias no mundo todo, sendo mais reconhecidos a BS 7750, da Grã-Bretanha desde
outubro de 1996, substituída pela ISO 14001,
e o EMAS (Environmental Management and
Auditing Scheme), da União Européia. Dados
de dezembro de 2003 estimam em 61.287
empresas certificadas pela ISO 14001 no
mundo todo.2
1.3 Desenvolvimento Sustentável
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Mudança de paradigma
Diminuir pressão sobre os recursos naturais
Gerar menos impactos nas atividades econômicas
Apostar na continuidade das atividades
Assegurar a qualidade de vida para as gerações futuras
MARKETING
COLETA E
DESTINAÇÃO
O CICLO DE VIDA
DO PRODUTO
PROJETO E
DESENVOLVIMENTO
MATÉRIA-PRIMA
CONSUMO
PROCESSO
PRODUTIVO
TRANSPORTE
EMBALAGEM
T2M1
2
ISO World (Reinhard Peglau). E-mail [email protected]
11
Neste início do século 21, o homem passa a assumir a mea culpa pelo passado de
uso predatório dos recursos naturais. Fala de
desenvolvimento sustentável, como forma de
redimir-se dos danos causados ao meio ambiente em que vive.
Passar do discurso do desenvolvimento
sustentável para a prática das ações ambientais diárias é um caminho que envolve mudanças de comportamento, de procedimentos; demora tempo e custa dinheiro, que nem
sempre está disponível para essa finalidade.
Falar de desenvolvimento sustentável é falar de coisas novas, é rever conceitos. É falar
de biotecnologia, de tecnologias limpas, de
mudanças de padrões de produção e consumo, de reciclagem, de reuso, de reaproveitamento e de outras formas de diminuir a pressão sobre matérias-primas, e ao mesmo tempo
reduzir os impactos causados pelos descartes
de substâncias e objetos no meio ambiente.
É importante ressaltar que cada cidadão
tem o dever de exercitar procedimentos de
gestão ambiental onde quer que exerça suas
atividades: no lar, no trabalho, nas instituições de ensino, nos ambientes de lazer e,
também, nas ruas por onde passa. Dê sua
contribuição de forma coerente e envide esforços para que as crianças sigam rumo certo no caminho da sustentabilidade ambiental,
como condição para a sobrevivência da própria espécie humana no planeta Terra.
Conceito de Desenvolvimento
Sustentável
“É o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades” (Relatório
Brundtland – Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento – ONU).
perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no bojo delas, o agravamento
da pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua
dos ecossistemas de que depende nosso
bem-estar. Não obstante, caso se integrem
as preocupações relativas a meio ambiente
e desenvolvimento e a elas se dedique mais
atenção, será possível satisfazer às necessidades básicas, elevar o nível da vida de
todos, obter ecossistemas mais bem protegidos e gerenciados e construir um futuro mais
próspero e seguro. São metas que nação alguma pode atingir sozinha; juntos, porém,
podemos – numa associação mundial em
prol do desenvolvimento sustentável.3
1.4.1 Objetivos da Agenda 21
brasileira4
A Agenda Global, assinada em 1992 por
179 chefes de Estado e de Governo, representou um caminho universal a ser seguido.
A Agenda 21 Brasileira, demonstrando grande visão de futuro, é produto da participação
de cerca de 40 mil pessoas, representantes
dos mais diversos segmentos da comunidade brasileira. Essa Agenda lança o destino
do Brasil no cenário internacional, como líder
da conservação ambiental no planeta. Traça,
para os próximos dez anos, 21 objetivos que,
se implementados, colocarão a Nação na liderança mundial do desenvolvimento sustentável.
• Objetivo 1 – Produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício.
• Objetivo 2 – Ecoeficiência e responsabilidade social das empresas.
• Objetivo 3 – Retomada do planejamento
estratégico, infra-estrutura e integração
regional.
• Objetivo 4 – A energia renovável e a biomassa.
1.4 Agenda 21 (Global)
A humanidade se encontra em momento
de definição histórica. Defrontamo-nos com a
12
3
4
Agenda 21, Capítulo 1, Preâmbulo, item 1.1
A Questão Ambiental no Distrito Federal, edição Sebrae
DF, Brasília, 2004
Curso Básico de Gestão Ambiental
• Objetivo 5 – Informação e conhecimento
para o desenvolvimento sustentável.
• Objetivo 20 – Cultura cívica e novas identidades na sociedade da comunicação.
• Objetivo 6 – Educação permanente para
o trabalho e a vida.
• Objetivo 21 – Pedagogia da sustentabilidade: ética e solidariedade.
• Objetivo 7 – Promover a saúde e evitar a
doença, democratizando o SUS.
1.5 Carta da Terra5
• Objetivo 8 – Inclusão social e distribuição
de renda.
• Objetivo 9 – Universalizar o saneamento
ambiental protegendo o ambiente e a saúde.
• Objetivo 10 – A gestão do espaço urbano
e a autoridade metropolitana
• Objetivo 11 – Desenvolvimento sustentável do Brasil rural.
• Objetivo 12 – Promoção da agricultura
sustentável.
• Objetivo 13 – Promover a Agenda 21 Local e o desenvolvimento integrado e sustentável.
• Objetivo 14 – Implantar o transporte de
massa e a mobilidade sustentável.
• Objetivo 15 – Preservar a quantidade e
melhorar a qualidade da água nas bacias
hidrográficas.
• Objetivo 16 – Política florestal, controle
do desmatamento e corredores de biodiversidade.
• Objetivo 17 – Descentralização e pacto
federativo: parcerias, consórcios e o poder
local.
• Objetivo 18 – Modernização do Estado:
gestão ambiental e instrumentos econômicos.
• Objetivo 19 – Relações internacionais e
governança global para o desenvolvimento sustentável.
Curso Básico de Gestão Ambiental
O Sebrae acredita que o destino do planeta
Terra é responsabilidade de todos: dos empresários, dos seus colaboradores internos e
externos, dos fornecedores, dos clientes e dos
que, direta ou indiretamente, estão envolvidos
com o sistema produtivo. Divulgar a Carta da
Terra, portanto, é um dever.
“A Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, reunida no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de
1992, reafirmando a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, adotada em Estocolmo em
16 de junho de 1972, e buscando avançar
a partir dela, com o objetivo de estabelecer
uma nova e justa parceria global por meio da
estipulação de novos níveis de cooperação
entre os Estados, os setores-chave da sociedade e os indivíduos, trabalhando com vistas
à conclusão de acordos internacionais que
respeitem os interesses de todos e protejam
a integridade do sistema global do meio ambiente e desenvolvimento, reconhecendo a
natureza interdependente e integral da Terra,
nosso lar, proclama, em seus 27 princípios,
em linhas gerais e, resumidamente:
• Que para haver desenvolvimento sustentável e atendermos as necessidades das
gerações presentes e futuras, temos que
estar em harmonia com a natureza;
• Que os Estados têm o direito soberano de
explorar seus próprios recursos;
• Que devemos lutar para erradicar a pobreza e reduzir as disparidades;
5
A Questão Ambiental no Distrito Federal, edição Sebrae
DF, Brasília, 2004
13
• Que os Estados devem cooperar para a
conservação, proteção e restauração da
saúde e da integridade do ecossistema
terrestre;
• Que os países em desenvolvimento e
aqueles ambientalmente mais vulneráveis
devem receber atenção especial;
• Que os países desenvolvidos reconhecem
a responsabilidade que têm em vista das
pressões exercidas por suas sociedades
sobre o meio ambiente;
• A adoção de legislação ambiental eficaz,
assim como da avaliação de impacto ambiental para atividades que possam vir a
ter impacto negativo no meio ambiente;
• A adoção do princípio da precaução para
proteger o meio ambiente;
• Que as populações indígenas têm um papel fundamental na gestão do meio ambiente em virtude de seus conhecimentos
e práticas tradicionais e,
• Que a guerra é, por definição, contrária ao
desenvolvimento sustentável.
IMPACTOS AMBIENTAIS GLOBAIS QUE
AFETAM A VIDA DE TODOS NO PLANETA
barreiras à importação de produtos resultantes de processos prejudiciais ao meio ambiente.
A atividade industrial, principalmente, é
responsável por expressiva parcela dos problemas globais incidentes no meio ambiente.
Você vai conhecer, a seguir, quais são as
ameaças com que a humanidade se defronta.
Entenda melhor, também, o esforço das
nações e da sociedade em geral para reverter o processo acelerado de degradação dos
recursos naturais no mundo, que também
tem como causas a explosão demográfica
e as precárias condições de vida de grande
parte da população, especialmente as do terceiro mundo.
Existem questões ambientais de suma
importância para a Humanidade, que se caracterizam como impactos ambientais negativos. Algumas dessas questões são descritas
a seguir:
• o aumento da temperatura da Terra;
• a diminuição das quantidades de espécies
vivas (conhecida como perda da biodiversidade);
• a destruição da camada de ozônio;
A destruição da camada de ozônio
O efeito estufa
A perda da biodiversidade
Crescimento populacional
T3M1
1.6 Questões Ambientais Globais
Os grandes problemas ambientais ultrapassam as fronteiras nacionais e são tratados de forma global, pois afetam a vida de
todos no planeta. Isto explica, em parte, por
que os países mais desenvolvidos colocam
14
• a contaminação ou exploração excessiva
dos recursos dos oceanos;
• a escassez, mau uso e poluição das
águas;
• a superpopulação mundial;
• a utilização/desperdício dos recursos naturais não renováveis (petróleo, carvão mineral, minérios);
• o uso e a ocupação inadequados e a degradação dos solos agricultáveis;
• a destinação final dos resíduos (lixo);
Curso Básico de Gestão Ambiental
• a gravidade do aumento das doenças ambientais, produzidas pelo desequilíbrio da
estabilidade planetária; e
• a busca de novos paradigmas de produção e consumo.
1.6.1 A Destruição da Camada de
Ozônio
CAMADA DE OZÔNIO
Estratosfera (15 - 50 Km)
O2 + O = O 3
Absorve parte da radiação
CFCs: (fabricação de espumas e isopor,
refrigeração, solventes para limpeza e aerossóis.)
Destruição do O 3 pelo cloro a 25 km da superfície
Legislação:
– instrumentos legais; e
– protocolos internacionais
T4M1
Na atmosfera terrestre, entre 15 e 50km
acima da superfície (estratosfera), a energia
na forma de luz solar promove a dissociação
do oxigênio molecular (O2) em oxigênio atômico (O).
pela ação da energia solar, liberando átomos
de cloro. Estes átomos reagem quimicamente
com o ozônio, destruindo a molécula e diminuindo sua concentração.
O mais grave é que esta reação química
ocorre em cadeia, ou seja, cada átomo de
cloro pode provocar a destruição de milhares
de moléculas de ozônio, provocando danos
irreversíveis à camada de ozônio, provocando o que se convencionou chamar de “buraco
na Camada de Ozônio”.
Chama-se a atenção para o fato de que,
embora o ozônio encontrado na atmosfera
seja de extrema importância para a preservação da vida no planeta, esse mesmo ozônio,
se presente próximo à superfície, age como
um poluente prejudicial aos seres vivos.
O Brasil tem participado ativamente dos
foros internacionais, sendo signatário do Protocolo de Montreal (1987) e do Protocolo de
Quioto (1997). Tem assumido postura coerente com estes Protocolos, estabelecendo
instrumentos legais apropriados para dar sua
contribuição à manutenção e à melhoria da
qualidade ambiental do planeta.
1.6.2 Efeito Estufa
O oxigênio atômico, na presença da luz
solar e de substâncias químicas, combina-se
com o oxigênio molecular (O2) formando o
ozônio (O3). O ozônio seletivamente absorve parte da radiação solar, impedindo a incidência da maior parte dos raios ultravioleta e
da radiação gama provenientes do Sol, que
poderiam, ao atingir a superfície do planeta,
provocar graves doenças nos seres vivos,
em geral.
Os clorofluorcarbonetos (CFCs) são compostos químicos estáveis, com vida média de
139 anos, são muito usado pelas indústrias na
fabricação de espumas, isopor, nas máquinas
de refrigeração, nos aparelhos de ar-condicionado, como propelentes em aerossóis, como
isolantes em transformadores elétricos e como
solventes para a limpeza de placas de circuitos elétricos. Por se tratar de produtos voláteis
de baixa densidade, com o tempo os CFCs
chegam à estratosfera, onde são degradados
Curso Básico de Gestão Ambiental
EFEITO ESTUFA
Isolamento térmico natural
Gases estufa naturais
– Dióxido de carbono – CO2
– Vapor d´água
Aumento acelerado da temperatura média da Terra.
Até o ano 2100, aumento entre 0,06ºC e 0,8ºC por década
Aumento no nível dos oceanos.
T5M1
O efeito estufa, em condições naturais, é
um fenômeno climático de extrema importância para a vida dos seres existentes, hoje, no
planeta.
A temperatura da Terra manteve-se relativamente constante por centenas de anos,
15
graças a um efeito de isolamento térmico
natural (efeito estufa) que ocorre por meio
do seguinte fenômeno: durante o dia ocorre
elevação da temperatura, com a chegada da
energia solar, e à noite uma diminuição, devida à irradiação de parte da energia absorvida
durante o dia, para o espaço. Nesse balanço
térmico, gases e vapores, como o dióxido de
carbono e o vapor d’água, têm importância
fundamental, pois permitem a passagem de
parte das ondas de calor provenientes do Sol
e retêm parte da energia irradiada pela Terra
em direção ao espaço.
de 1cm a 24cm por década no mesmo período.
Um aumento dos níveis dos oceanos, por
menor e gradual que seja, provoca prejuízos
incalculáveis em todo o mundo, visto que
grande parte da população humana vive ao
longo da linha litorânea. No Brasil, de acordo
com dados do IBGE de 20006, o equivalente
a 23,93% da população vive na zona costeira.
1.6.3 A Perda da Biodiversidade
Não fosse esse processo, a temperatura
da Terra teria uma variação aproximada de
+2.000ºC durante o dia e – 200ºC durante a
noite. Desta forma, o acréscimo excessivo na
quantidade de dióxido de carbono e de outros poluentes da atmosfera poderia provocar
maior retenção do calor, que seria irradiado
para o espaço, causando um aquecimento
gradual e progressivo da atmosfera terrestre,
ocasionando um agravamento do efeito estufa. Este fenômeno pode provocar um aumento da temperatura na superfície da Terra.
O incremento acelerado da temperatura
média da Terra vem ocorrendo desde a Revolução Industrial, devido à maior concentração de gases na atmosfera (principalmente
o CO2 – dióxido de carbono), decorrente das
seguintes atividades:
• combustão de petróleo, gás, carvão mineral e vegetal;
BIODIVERSIDADE
Extinção da flora e fauna
5 a 10 milhões de espécies (1,7 milhões identificadas)
74% a 86% vivem em florestas tropicais úmidas
20% a 50% podem ser extintas em um século
Ameaças à reprodução natural.
T6M1
País
Mamíferos
Aves
Répteis
Anfíbios
Vertebrados, exceto
os peixes
Brasil
África do Sul
Austrália
China
Colômbia
Equador
Estados Unidos
Filipinas
Índia
Indonésia
Madagascar
Malásia
México
Papua N. Guiné
Peru
Rep. Dem. do Congo
Venezuela
b
524 (131)
1.622 (>191)
468 (172)
517 (294)
3.131 (788)
247 (27)
Peixes de
água doce
>3.000
774 (7)
299 (76)
95 (36)
1.415 (146)
282 (210)
751 (355)
755 (616 )
196 (169)
1.984 (1.350 )
499 (77)
1.244 (99)
387 (133)
274 (175)
2.404 (484)
1010
456 (28)
1.815 (>142)
520 (97)
583 (367)
3.374 (634)
>1.500
271 (21)
1.559 (37)
374 (114)
402 (138)
2.606 (310)
>44
261 (90)
428 (101)
183
194 (126)
1.651 (388)
556 (183)
193 (131)
63 (44)
1.013 (474)
350 (44)
1.258 (52)
2.222 (393)
750
1.531 (397)
270 (100)
2.827 (848)
1.400
105 (77)
253 (103)
408 (187 )
511 (150)
300 (274 )
206 (110)
515 (201)
178 (176)
836 (630)
75
286 (27)
738 (11)
268 (68)
158 (57)
1.450 (163)
600
450 (140)
1.050 (125)
717 (368)
284 (169)
2.501 (802)
468
242 (57)
762 (85)
305 (79)
200 (134)
1.509 (355)
282
344 (46)
1.703 (109)
298 (98)
241 (>89)
201 (116)
768 (71)
153
2.586 (342)
790
330
855
415 (28)
1.094 (23)
268 (33)
80 (53)
1.857 (137)
962
288 (11)
1.360 (45)
293 (57)
204 (76)
2.145 (189)
1.250
A perda da biodiversidade é um fato incontestável e que se agrava dia-a-dia. A destruição de ecossistemas e a conseqüente extinção de espécies da flora e da fauna constituise em grave e irreversível problema global.
Segundo estimativas conservadoras, existem
entre 5 a 10 milhões de espécies de organismos no mundo; mas há quem calcule até 30
milhões. Destas, somente 1,7 milhões foram
identificadas pelo homem.
• emissão de gases pelas indústrias;
• desmatamento e queimada da cobertura
vegetal; e
• fermentação de produtos agrícolas.
Existem estudos que demonstram a elevação do nível dos mares em decorrência do
aumento da temperatura global do planeta.
Estima-se que as temperaturas possam variar entre 0,06ºC e 0,8ºC por década até o
ano 2100 e que, em decorrência desse aquecimento, o nível dos mares possa aumentar
16
Estima-se que 74% a 86% das espécies
identificadas vivem em florestas tropicais
úmidas, como a Floresta Amazônica. Alguns
autores acreditam que entre 20% a 50% das
espécies estarão extintas até o final do século 21, vítimas da destruição dos ecossistemas florestais e dos santuários ecológicos
situados nas ilhas.
6
Fontes: Contagem da população 1996. Rio de Janeiro:
IBGE, 1997. 2 v.; Censo demográfico 2000. Características da população e dos domicílios: resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2001
Curso Básico de Gestão Ambiental
Vale chamar a atenção para o fato de que
a diminuição de populações, abaixo de um
mínimo reprodutivo, para cada espécie, é um
fator impeditivo à perpetuação da espécie.
Nesses casos, cabe ao homem utilizar-se da
biotecnologia e ajudar essas espécies a ultrapassarem a barreira do impedimento reprodutivo e a recuperarem seu potencial biótico
natural.
A proteção da diversidade biológica compreende a proteção da variabilidade em diversos níveis, como os ecossistemas e habitats, espécies e comunidades, genomas
e genes. A Convenção sobre Diversidade
Biológica, ratificada pelo Brasil através do
Decreto Legislativo de fevereiro de 1994, determina várias responsabilidades, entre as
quais a identificação e o monitoramento de
ecossistemas e habitats, espécies e comunidades que estejam ameaçadas, genomas e
genes de importância social e econômica. O
Brasil está incluído entre os países dotados
da chamada megadiversidade, doze nações
que abrigam 70% da biodiversidade total do
planeta. À importância, de âmbito global, da
conservação da biodiversidade no Brasil,
soma-se sua relevância para a economia do
país (http://www.ibge.gov.br/home/geografia/
ambientais/ids/ids.pdf – p.101) – (Lista de espécies em extinção, ver Fontes: Ibama. Fauna: lista oficial de fauna ameaçada de extinção. Disponível em: <http://www2.ibama.gov.
br/fauna/extincao.htm>)
A extinção de ecossistemas e suas espécies constituintes provoca desequilíbrio na
natureza, além de impedir o aproveitamento
dos recursos naturais em benefício do homem, na forma de matéria-prima, de alimento
e de fármacos para a cura de suas doenças.
O desenvolvimento sustentável implica a
preservação do meio ambiente em condições
de equilíbrio, que depende, por sua vez, da
conservação dos ecossistemas brasileiros7.
Ao lado de estratégias de proteção, tais como
o controle do impacto das ações humanas, o
7
http://www.ibge.gov.br/home/geografia/ambientais/ids/ids.
pdf (pg. 104)
Curso Básico de Gestão Ambiental
estabelecimento de áreas protegidas visa a
vários objetivos, entre os quais se destaca a
proteção à biodiversidade. São objetivos do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no
Território Nacional e nas águas jurisdicionais;
proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; contribuir
para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; promover
o desenvolvimento sustentável a partir dos
recursos naturais; promover a utilização dos
princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; proteger paisagens naturais e pouco alteradas,
de notável beleza cênica; proteger as características relevantes de natureza geológica,
geomorfológica, espeleológica, arqueológica,
paleontológica e cultural; proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; recuperar
ou restaurar ecossistemas degradados; proporcionar meios e incentivos a atividades de
pesquisa científica, estudos e monitoramento
ambiental; valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; favorecer condições e promover a educação e interpretação
ambiental, a recreação em contato com a
natureza e o turismo ecológico; proteger os
recursos naturais necessários à subsistência
de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente.
De acordo com o Ministério de Meio Ambiente (MMA)8, “o Brasil dispõe, hoje, de um
quadro de unidades de conservação (UC) extenso, sendo 2,61% constituídas de unidades
de proteção integral (de uso indireto) e 5,52%
de unidades de uso sustentável (de uso direto), totalizando 8,13% do território nacional.
Importantes esforços têm sido empreendidos
com a finalidade de ampliar as áreas protegidas. O Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC, abre a possibilidade
de criação de um sistema de unidades de
conservação que integre, sob um só marco
legal, as unidades de conservação das três
8
http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/apconser.html
17
esferas de governo (federal, estadual e municipal).
Pela primeira vez no Brasil, o meio ambiente é visto não como uma restrição ao
desenvolvimento, mas como um mosaico de
oportunidades de negócios sustentáveis que
harmonizam o crescimento econômico, a geração de emprego e renda, e a proteção de
nossos recursos naturais.”
A Floresta Amazônica é um dos principais biomas predominantemente florestais
do território brasileiro9. Em termos mundiais,
é a maior floresta tropical existente, correspondendo a 1/3 das reservas de florestas
tropicais úmidas. Abriga grande número de
espécies vegetais e animais, muitas delas
endêmicas. Estima-se que detém a mais elevada biodiversidade e o maior banco genético do mundo, 1/5 da disponibilidade mundial
de água potável e patrimônio mineral ainda
em parte desconhecido. Quatro milhões de
km2 da Amazônia brasileira estão associados
a uma cobertura com fisionomia florestal primária. A área total desflorestada na Amazônia é da ordem de 15% da superfície total. O
processo de desflorestamento acentuou-se
nas últimas quatro décadas, concentrado nas
bordas sul e leste da Amazônia Legal (Arco
do Desflorestamento). Algumas formações
vegetais características desta região já estão
sob risco de desaparecimento. O desflorestamento é realizado, majoritariamente, para a
formação de pastos e áreas agrícolas, decorrendo também da extração predatória de madeira. Este indicador é útil para a avaliação
do avanço das atividades agrossilvo-pastoris,
e da ocupação antrópica em geral, nas áreas
recobertas por florestas no norte do Brasil.
Já a Mata Atlântica corresponde ao segundo maior conjunto de florestas tropicais úmidas do Brasil, menor apenas que a Floresta
Amazônica. Originalmente, este bioma se
estendia do litoral nordestino ao Rio Grande
Sul, adentrando pelo interior no Centro-Sul
do país. Ao longo de sua área de ocorrên9
18
http://www.ibge.gov.br/home/geografia/ambientais/ids/ids.
pdf
cia, a Mata Atlântica apresenta grande variabilidade fisionômica e florística, possuindo
elevada biodiversidade, com grande número
de espécies endêmicas. A Mata Atlântica foi
quase totalmente derrubada e substituída
por áreas agrícolas, pastoris e urbanas. De
sua área original (mais de 1 milhão de km2),
restam hoje menos de 10% recobertos com
florestas nativas, boa parte delas formações
secundárias, de pequena extensão e restritas
aos locais de relevo mais íngreme. Por conta
disto, a Mata Atlântica é considerada como
um dos biomas mais ameaçados de desaparecimento no mundo. Assim como a Mata
Atlântica, por sua localização, as formações
vegetais costeiras (restingas e manguezais)
foram muito alteradas desde a chegada dos
colonizadores portugueses ao Brasil. Além
de abrigarem muitas espécies exclusivas,
ajudam a fixar os solos das áreas costeiras e
fornecem abrigo e alimentação à fauna estuarina (manguezais).
Outros fatores importantes são aqueles
de que os seres humanos necessitam para
sobreviver dignamente na superfície do planeta, quais sejam água, saneamento básico,
solo para cultivo, moradia, saúde, educação
e lazer.
Mais de um bilhão dos habitantes da Terra
não têm acesso a habitação segura e serviços básicos, embora todo ser humano tenha
direito a uma vida saudável e produtiva, em
harmonia com a natureza. Essas pessoas
desprovidas de quase tudo vivem, particularmente, em países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil.
A falta de saneamento básico, de abastecimento d’água e de coleta do lixo, além de
significarem altos riscos para a saúde humana, são fatores de degradação do meio ambiente. Isto ocorre especialmente nos cinturões de miséria das grandes cidades, onde
se aglomeram multidões de pessoas em espaços mínimos, de precária higiene.
Estudos do Banco Mundial (1993) estimam que o ambiente doméstico inadequado
é responsável por quase 30% da ocorrência
Curso Básico de Gestão Ambiental
de doenças nos países em desenvolvimento.
O Quadro 1 a seguir ilustra a situação.
Visto que apenas 0,6% de água no mundo
são água doce disponível naturalmente, sua
escassez – devido à distribuição geográfica
que favorece algumas regiões e não favorece outras, seu mau uso e a poluição, caso
não sejam combatidos, podem inviabilizar
sociedades e mesmo nações inteiras. A água
em quantidade e qualidade é fator de saúde
pública, capaz de prevenir 80% das doenças
humanas.
da é da ordem de 12 milhões de toneladas
anuais.
1.6.4 Crescimento Populacional
Há muito tempo que os pesquisadores vêm
demonstrando preocupação com o aumento da população no planeta, principalmente
pelo comprometimento de sua estabilidade
ambiental e pela exaustão dos seus recursos
naturais. A Tabela 1 mostra uma projeção do
aumento populacional no mundo, em bilhões
de pessoas.
O solo agricultável é essencial para assegurar o sustento da população mundial.
É preciso conservá-lo e manejar melhor os
insumos (adubos, pesticidas, água de irrigação), de modo a garantir a produção de alimentos no futuro.
Tabela 1. Aumento populacional no mundo
Primeiro
bilhão
2.000.000 de
anos
1830
A produção agrícola deve ser melhorada
com a intensificação do uso das terras já cultivadas, evitando-se sua expansão para as
terras marginais e a invasão de ecossistemas
frágeis. Para isso, é preciso substituir as técnicas atuais de manejo, que têm provocado a
degradação pela acidificação, erosão e salinização dos solos, por práticas não agressivas.
Segundo
bilhão
100 anos
1930
Terceiro
bilhão
30 anos
1960
Quarto
bilhão
15 anos
1975
Quinto
bilhão
11 anos
1986
É preciso ter em mente que um centímetro
de solo agrícola demora mais de 500 anos
para se formar; se manejado inadequadamente, pode acabar em um mês. Estima-se
uma perda mundial de 30 bilhões de toneladas de solos agrícolas, por ano. Somente
em Santa Catarina, a perda anual calcula-
Sexto
bilhão
9 anos
1995
População
Tempo
necessário
Ano em que
atingiu ou atingirá
(projeção)
Fonte: Nações Unidas, por Brown, Lester (1980)
É importante observar que essa projeção,
feita há 24 anos, teve um nível de acerto bastante significativo. A ONU confirmou para o
Quadro 1. Causas principais de algumas doenças
Doenças
Causas
Diarréias
Falta de saneamento, de abastecimento d’água, de higiene
Doenças tropicais
Falta de saneamento, má disposição do lixo, foco de vetores de
doenças nas redondezas
Verminoses
Falta de saneamento, de abastecimento d’água, de higiene
Infecções respiratórias
Poluição do ar em recinto fechado, superlotação
Doenças respiratórias crônicas
Poluição do ar em recinto fechado
Câncer do aparelho respiratório
Poluição do ar em recinto fechado
Curso Básico de Gestão Ambiental
19
mês de outubro de 1999 o nascimento do sexto bilionésimo ser humano no planeta Terra.
1.7 Questões Ambientais Nacionais
Entretanto, desde a publicação do relatório
Limites de Crescimento pelo Clube de Roma
em 1972, a comunidade internacional entendeu ser necessário diminuir as taxas de crescimento populacional. Note-se a variação do
crescimento populacional estimado em 1992,
para o período 1965 – 2025, Tabela 2.
QUESTÕES AMBIENTAIS NACIONAIS
O Brasil apresenta características próprias
Abriga 60% da Floresta Amazônica
PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS
A destruição da camada de ozônio
As alterações climáticas
Os riscos à biodiversidade e à extinção de espécies
A poluição dos mares e ecossistemas
Redução da mata atlântica, cerrado e caatinga
T8M1
DEMONSTRAÇÃO GRÁFICA REAL E PROJETADA
DO AUMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL
O Brasil é um país que apresenta características próprias por ter dimensões continentais, grandes variações em latitude e longitude, um mosaico de classes de solo, relevo
diversificado, climas variando de úmido a
semi-árido, grandes ecossistemas distintos e
um sem-número de formas de uso e ocupação do espaço, vinculadas à heterogeneidade cultural do seu povo.
10
Bilhões de Pessoas
8
6
4
2
0
1930
1960
1975
1999
2025
2040
Anos
T7M1
De acordo com as projeções, seguindo o
padrão histórico do crescimento demográfico, a população mundial poderá passar dos
9 bilhões de habitantes em 2040. Grandes
investimentos são necessários para aumentar a produção agrícola e para compensar a
exaustão dos recursos não-renováveis, como
os combustíveis fósseis (petróleo, gás natural, carvão).
Nosso país tem ocupado posição de destaque nas preocupações ambientais do mundo inteiro, principalmente por abrigar 60%
(sessenta por cento) da Amazônia Internacional, a grande reserva da biodiversidade no
planeta.
Podemos destacar as seguintes preocupações nacionais:
Tabela 2. Variação do crescimento populacional estimado em 1992, para o período 1965 – 2025
População total
estimada
Período
Taxa de
crescimento (%)
Tempo aproximado
para dobrar a
população (anos)*
1965
3.336
1965-70
2,06
34
1975
4.079
1975-80
1,73
40
1985
4.851
1985-90
1,74
40
1990
5.292
1990-95
1,73
40
1995
5.770
1995-2000
1,63
43
2000
6.261
2000-05
1,47
48
2025
8.504
2020-25
0,99
71
Ano
Fonte: El-Badry (1992), acrescentado*
20
Curso Básico de Gestão Ambiental
• a destruição da camada de ozônio;
• as alterações climáticas;
• os riscos à biodiversidade e a extinção das
espécies;
• a poluição dos mares e ecossistemas contíguos à costa brasileira;
• redução da Mata Atlântica, além de outros
dois grandes biomas, o Cerrado e a Caatinga.
Como em qualquer outro país do mundo,
o Brasil também sofre as conseqüências do
chamado efeito estufa, que provoca o aumento da temperatura terrestre. As causas, como
vimos, estão relacionadas ao lançamento de
gases na atmosfera, principalmente o dióxido
de carbono, o metano, os óxidos de nitrogênio e os hidrocarbonetos halogenados.
Nesse tópico, o Brasil deve direcionar suas
preocupações para as seguintes questões:
• Como as mudanças da cobertura vegetal
na Amazônia, em particular o desmatamento, podem alterar o equilíbrio climático
na região e em outras áreas?
• Em que intensidade as emissões de fumaça e gases provocadas pelas queimadas,
pelas indústrias, pelos meios de transporte e produção de energia no Brasil, contribuem para as alterações climáticas globais?
• Como estas mudanças afetariam os ecossistemas naturais e os de produção agropecuária no território brasileiro?
• Que efeitos permaneceriam no ambiente,
mesmo que as emissões de gases e o desmatamento no Brasil fossem controlados?
Não existem ainda respostas definitivas
para tais questões. Sabe-se que a Floresta
Amazônica tem importância para o clima no
mundo, mas não em que proporção. É preciso que o País acompanhe os estudos em anCurso Básico de Gestão Ambiental
damento e utilize a Amazônia em seu benefício, com a consciência da importância que
tem a região em escala mundial.
Os fenômenos El Niño e La Niña, que ocorrem devido ao aquecimento e ao resfriamento, respectivamente, das águas do Oceano
Pacífico, também influenciam nosso clima.
A biodiversidade ou diversidade biológica pode ser compreendida como o conjunto
formado pelos ecossistemas, as populações
com suas espécies componentes e o patrimônio genético que as caracterizam, portanto, engloba todas as plantas, animais e microorganismos, bem como os ecossistemas
do qual fazem parte.
Recentes estudos conduzem à previsão de
que o mundo perderá entre 2% e 7% das espécies nos próximos 25 anos, correspondentes à extinção de 8 mil a 28 mil espécies por
ano, ou seja, de 20 a 75 espécies por dia.
As Américas do Sul e Central abrigam 51%
das plantas tropicais existentes no mundo,
enquanto a África e Madagascar respondem
por 23%, e a Ásia, 26%.
Como exemplo cita-se a região de Cubatão,
que apresentava, na época de seu ritmo mais
intenso de industrialização (1950 a 1960), todos os atrativos para a implantação do pólo
industrial em termos de proximidade do centro consumidor, de porto marítimo de grande
porte, de malha viária, de disponibilidade de
mão-de-obra, água e energia elétrica.
Os aspectos ambientais foram praticamente ignorados nos processos de análises
e nas decisões sobre a instalação de atividades industriais no município, o que provocou
intensa degradação ambiental.
Além disso, os ataques à vegetação da
Serra do Mar, provocados pelas atividades
humanas e, particularmente, pelos efeitos
fitotóxicos das emissões industriais (chuvas
ácidas), tornaram suas encostas instáveis,
criando riscos de deslizamentos sobre o complexo industrial.
21
A partir de 1983, foi desencadeado o Programa para a Recuperação da Qualidade
Ambiental de Cubatão, como resposta às
pressões sociais em curso. Em 1984, o Programa aprovou vários planos individuais para
controle ambiental nas indústrias.
• ineficiente gestão dos recursos hídricos;
• mineração e garimpos predatórios;
• processos industriais poluentes;
• poluição do ar em áreas metropolitanas; e
Cubatão transformou-se, pela gravidade
dos níveis de poluição e riscos para a população, em caso emblemático que atraiu intensa
reação. Em 1986, o Ministério Público do Estado de São Paulo e uma entidade ambiental
não-governamental ajuizaram ações civis públicas contra 24 empresas poluidoras pelos
danos causados à Serra do Mar.
• alteração da Mata Atlântica, da Caatinga
e do Cerrado, queimadas na Amazônia,
ocupação e destruição de mangues em
toda a costa, principalmente próximo aos
limites urbanos.
1.8 Os Grandes Acidentes Ambientais
Hoje, os resultados da aplicação do citado
Programa mostram significativa redução nos
níveis de emissão de poluentes, diminuindo o
número de ocorrências de alerta e emergência na região, cuja incidência chegava anteriormente a 17 vezes por ano.
O caso de Cubatão serve de exemplo de
planejamentos feitos sem considerar as implicações dos aspectos e dos impactos ambientais de um empreendimento dessa natureza.
Outros problemas ambientais que preocupam
as autoridades e toda a população brasileira
estão distribuídos ao longo de todo o território
nacional, a saber:
• saneamento básico inadequado ou inexistente;
• crescimento populacional;
• pobreza;
• urbanização descontrolada;
• consumo e desperdício de energia;
• perda de solo agricultável;
• desertificação no Semi-Árido brasileiro;
• práticas agrícolas inadequadas;
• substâncias tóxicas perigosas;
22
DESASTRES AMBIENTAIS
Impactos na flora e fauna
Perdas sociais e econômicas
Petroleiro Exxon Valdez
T9M1
Os grandes acidentes ambientais que
vêm ocorrendo em todo o mundo, além de
provocar o extermínio local de grandes populações de animais e plantas, têm atingido
diretamente as populações humanas, tanto
pela perda de vidas como pelas grandes perdas sociais e econômicas. Basta relembrar
as tragédias de Minamata, Bhopal, Three
Mile Island, Chernobyl, Exxon Valdez, o derrame de 1.290m3 de óleo combustível na
Baia de Guanabara feito por um oleoduto da
Refinaria Duque de Caxias, o afundamento
do navio petroleiro Prestige, em novembro
de 2002, com 70 mil toneladas de óleo, na
costa da Espanha. Essa quantidade de óleo
é duas vezes maior que a contida no Exxon
Valdez.
O acidente de Bhopal, ocorrido em Madyma Pradejh, na Índia, provocado pelo vazamento de trinta toneladas de metil isocianato
de uma fábrica da Union Carbide, morreram,
Curso Básico de Gestão Ambiental
num primeiro momento, 3.323 pessoas e
cerca de 35 mil tiveram o funcionamento de
seus pulmões afetado em diversos níveis.
Em decorrência desse acidente, a empresa
teve que ressarcir, pelos danos causados às
pessoas e ao meio ambiente, uma soma da
ordem de dez bilhões de dólares.
Há acidentes que ocorrem no dia-a-dia,
como o do césio, em Goiânia. A tragédia de
Caruaru, com a contaminação de pacientes
de hemodiálise, é também um acidente ambiental como tantos outros.
1.8.1 A Poluição dos Mares
A POLUIÇÃO DOS MARES
Águas poluídas escoam para o mar
Declínio das zonas pesqueiras
500.000t/ano de óleo no mar
Entre 1967 e 1983 foram lançados
90.000t de resíduos radioativos
14 bilhõeskg de lixo por ano
T10M1
A poluição do mar causada pelos despejos de rejeitos domésticos e industriais e
materiais assemelhados e o escoamento de
águas poluídas por insumos agrícolas, entre
outros, vem aumentando de forma progressiva, no mundo inteiro. Tudo isso, aliado ao
excesso de pesca, está levando ao declínio
diversas zonas pesqueiras regionais.
Calcula-se em 500 mil toneladas anuais
o derrame de petróleo nos oceanos. Entre
1967 e 1983 foram lançadas 90 mil toneladas de resíduos radioativos no mar pelos países industrializados, o que, oficialmente, não
ocorre mais.
Quase 80% dos poluentes lançados nos
mares concentram-se nas regiões costeiras
que, além de ser altamente habitado, é um
habitat marinho vulnerável10. De acordo com
a Academia Nacional de Ciências dos EUA,
estima-se que 14 bilhões de quilos de lixo
são jogados (sem querer ou intencionalmente) nos oceanos todos os anos.
Outra questão importante que vem sendo objeto de preocupação em todo o mundo
é a água de lastro. Estima-se que, somente
na costa brasileira, são despejadas, anualmente 40 milhões de toneladas de água
de lastro, proveniente de diversas partes do
mundo.
Responsáveis pelo transporte de mais de
80% dos materiais comercializados em todo
o mundo, os navios translocam, anualmente,
mais de 10 bilhões de toneladas de água de
um local para outro, levando nesse volume
cerca de três mil espécies de organismos
vivos. Esses organismos, dispersos por diferentes pontos do bioma marinho e também
fluvial, causam problemas incomensuráveis
em função de suas características adaptativas.
As autoridades buscam estabelecer medidas internacionais de controle, para evitar que espécies exóticas de grande poder
de adaptação se instalem em ecossistemas
frágeis e provoquem desequilíbrios em seu
funcionamento. Além de alterações nos ecossistemas, em geral essas espécies causam
grandes prejuízos econômicos em todo o
mundo.
Exercício 1
Para a fixação do conteúdo abordado no
Módulo 1, propõe-se a realização do exercício apresentado na página 77.
10 http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base
=./agua/salgada/index.html&conteudo=./agua/salgada/
artigos/poluicaomar.html
Curso Básico de Gestão Ambiental
23
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