Carta na Escola - USP (GPECEA-USP)

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Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia | Carta Capital
11 de Abril de 2013
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Escolas empobrecidas: sem História
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demandas surgiram. Os estudantes na escola também são outros, diversos na origem e nos
interesses. Os professores carecem de condições para um trabalho digno. A sociedade alterou
suas expectativas referentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogo de múltiplas
contradições e, para essa complexidade, não cabem respostas e políticas simplistas.
Afinal, para que a escola existe?
Para formar adequadamente as
gerações futuras ou para preparar os
estudantes para avaliações externas
como Enem, Saresp, Prova Brasil,
Pisa etc.?
A que se destinariam os
conhecimentos? Deveriam eles
compor um mosaico para criar
Foto: Celso Júnior/AE
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curiosidades, desejos e perguntas
nos estudantes ou só serviriam para
produzir informações para uso em testes de avaliação?
Nós, pesquisadoras de educação, ficamos mais uma vez perplexas ao nos depararmos com a
nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo. Para bem aprender o
Português e a Matemática, sugere-se excluir os conhecimentos de História, Geografia e
Ciências do 1º ao 3º ano e manter 10% dessas disciplinas no 4º e 5º anos do currículo básico.
Por essa nova proposta, ficou assim decretado: doravante, por meio desse novo currículo
básico, as crianças de escolas públicas estaduais só receberão, até o 3º ano, aulas de
Português e Matemática! Partindo do pressuposto evidentemente errôneo de que um
conhecimento atrapalha o outro, as aulas de História, Geografia e Ciências serão eliminadas
do currículo desses estudantes.
Como consequência dessa política, nas escolas de tempo integral, o aluno terá aulas em um
período e, no outro, oficinas temáticas das diferentes áreas do conhecimento, algumas
obrigatórias e outras eletivas escolhidas de acordo com o projeto pedagógico da escola.
À primeira vista, esse currículo está “rico” e diversificado; no entanto, pelo olhar sério e
comprometido, ele estará fatalmente fragmentado. Primeiramente porque verificamos que as
oficinas obrigatórias também não objetivam, do mesmo modo, um trabalho com História,
Ciências e Geografia; pelo contrário, voltam-se novamente para a Matemática e para o
Português.
Além disso, como trabalhar a oficina optativa, por exemplo, de Saúde e Qualidade de Vida sem
os fundamentos das ciências? Intriga a essa altura saber: por que oficinas e não estudo
contínuo? O que se ganha com isso? Vários equívocos nos saltam aos olhos! O primeiro deles
é considerar que o conhecimento de algumas áreas é acessório, ocupa espaço e ainda
impede o bom aprendizado do Português e da Matemática!
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Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia | Carta Capital
As concepções de escrita e leitura, por exemplo, acabariam por ser responsabilidade exclusiva
de uma única disciplina do currículo. Não seria essa uma visão muito simplista de
aprendizagem, pois parece supor que o estudante não desenvolve processos de escrita e
leitura também em outras disciplinas?
Outro equívoco é a suposição de que para estudantes de escola pública o mínimo basta! Para
que sofisticar com lições da história, da natureza e do lugar do nosso povo? Conhecimento
científico seria enfim útil para quê?
A aprendizagem não ocorre por partes. O aprendizado é todo ele integrado e sistêmico. Um
bom ensino de História expande o pensamento e as referências e o estudante, assim, tem
condições para perceber relações de fatos, tempo e espaço, tão necessárias à aprendizagem
matemática.
A Geografia leva nossos pensamentos para viajar em outros espaços; possibilita compreender
a diversidade das sociedades, conhecer e apreciar a natureza, aprender a observar e a
estabelecer conexões entre lugares e culturas. Mergulhados, assim, nesses novos
referenciais, os estudantes podem compreender melhor a própria realidade e encarar suas
circunstâncias com pleno envolvimento. Isso certamente repercutirá na sua vida e no seu
aprendizado, com consequência, por exemplo, em estudos simbólicos e gráficos.
Como deixar de aproveitar a natural curiosidade das crianças, seu espírito exploratório, suas
perguntas intrigantes acerca dos fenômenos da natureza e, dessa forma, tecer as bases de
um fundamental espírito científico, que por certo ajudará a compreender a Matemática e a
recriar o Português?
Será que a estratégia de oficinas, ao invés do estudo contínuo, dará conta de captar tal
complexidade e também de tornar possível um processo de ensino-aprendizagem que seja
capaz de construir os conhecimentos de Geografia, História e Ciências que ficaram tão
diminuídos no currículo básico?
De nosso ponto de vista entendemos que a questão não é separar para empobrecer. O que
vale é democratizar as possibilidades de ser e de estar melhor no mundo. E para que isso
aconteça precisamos da integração total de saberes e práticas.
As crianças de classe social mais favorecida possuem, antes já de chegar à escola, uma
gama infindável de vivências. As crianças de classe popular, em sua maioria, chegam já à
escola destituídas desse capital cultural. Possuem outras ricas e profícuas experiências que,
nem sempre, são valorizadas e transformadas na escola. No entanto, o importante é trabalhar
pedagogicamente com essas experiências de modo a transformá-las em vivências
socialmente válidas. Pensamos que o fundamental é ampliar as oportunidades ao invés de
restringi-las; para tanto, a experiência com as diferentes áreas do conhecimento é essencial.
Preocupa-nos o risco de a função da escola, para as crianças dos anos iniciais, limitar-se, a
partir da reforma proposta, ao ensino das habilidades mínimas de leitura e escrita e de cálculo,
retirando-se as cores e os sabores das descobertas que se fazem no contínuo do seu
desenvolvimento. Preocupa-nos que esse projeto ganhe força e se concretize em outros níveis
de ensino e em outros Estados. Preocupa-nos que as oficinas contribuam mais para o
esvaziamento dos conteúdos do que para a construção de conhecimentos. O que será da
nossa escola pública, então? Um reducionismo dos conhecimentos, um estreitamento das
concepções de ensino-aprendizagem? O objetivo final será a quantificação em detrimento da
qualidade? E, se atingir índices é o foco dos processos de ensino-aprendizagem, o que isso
realmente significa? Qual é a verdadeira motivação da política educacional implícita nesse
movimento?
As autoras Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Valéria Belletati (Instituto Federal de São
Paulo), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) são doutoras em Educação e Ligia Paula Couto
(Universidade Estadual de Ponta Grossa) é doutoranda em Educação. Todas são
pesquisadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação do Educador (GEPEFE) –
FEUSP.
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Sua opinião
M arielene H. Scarante disse:
2013-04-05 10:58:27
Fui professora primária por 23 anos. O aluno saía do 4º ano sabendo ler e escrever e com a
capacidade de resolver problemas de aritmética básicos. Hoje encontramos professores universitários
escrevendo e falando com erros bárbaros. A maioria dos estudantes ao realizar as redações do vestibular
escrevem como verdadeiros analfabetos. Mostrando que o ensino de base falhou. Como corrigir esta
aberração? Acredito que se nos dois primeiros anos a criança recebesse aulas voltadas para a
alfabetização e aritmética mais intensivamente, e não fossem promovidas a série seguinte sem saber ler e
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interpretar. Os assuntos do livro básico é que teriam que ser enriquecidos. Livros de estórias deveriam ser
mais utilizados. No terceiro ano, já com o idioma sedimentado teriam mais sucesso na aprendizagem de
outras matérias. No caso da matemática, já no terceiro ano seriam capazes de compreender problemas e
resolvê-los; dominando plenamente as operações e dominando (plenamente) as tabuadas, sem usar os
mágicos dedinhos. Posso estar sendo retrógrada, mas deverá haver mais empenho por parte de
professores especializados em primeira e segunda séries (como no Japão, etc).
Tasso disse:
2013-04-03 10:04:37
É Geneval... quer dizer que não existe ideologia de direita? E ela é apenas passada nas aulas de
história e geografia? E os cursos de engenharia (cabeça de concreto) ensinando a construir prédios feios e
caros afetando a todos com especulação imobiliária, acabando com áreas verdes para construir vias largas
com asfalto vagabundo para carros de ricos sem reflexão sobre como afetam a vida da cidade é que vão
nos salvar, né?! ô inocência.... própria de um engenheiro sem instrução!
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Sim . Pyongyang declarou estado de guerra,
expulsou em baixadores e rom peu relações
com Seul. A guerra é questão de tem po
Não. A retórica belicista é apenas um a
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