4/11/13 Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia | Carta Capital 11 de Abril de 2013 Política Home Economia Colunistas Sociedade Eventos Internacional Tecnologia Edições Anteriores Cultura Saúde Edição da Semana Carta na Escola Fórum Carta Fundamental Mais Admiradas Central do Assinante Colunistas Carta na Escola todos os colunistas Blogs tamanho da fonte Carta Capital Delfim Netto Os vendedores de vento Educação João Sicsú Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia Curtir Carta Verde 29 mil Tw eetar 348 15.02.2013 12:52 2.5K A escola vive uma profunda crise de legitimidade*. O mundo mudou, ficou complexo, novas Dilma, a inflação e os neoliberais Luis Nassif A PEC 37, sobre o papel do Ministério Público Mino Carta Paulo Bernardo, II ato Pedro Serrano Não se deve esvaziar o MP Wálter Maierovitch Fux faz Cícero gritar na sepultura demandas surgiram. Os estudantes na escola também são outros, diversos na origem e nos interesses. Os professores carecem de condições para um trabalho digno. A sociedade alterou suas expectativas referentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogo de múltiplas contradições e, para essa complexidade, não cabem respostas e políticas simplistas. Afinal, para que a escola existe? Para formar adequadamente as gerações futuras ou para preparar os estudantes para avaliações externas como Enem, Saresp, Prova Brasil, Pisa etc.? A que se destinariam os conhecimentos? Deveriam eles compor um mosaico para criar Foto: Celso Júnior/AE Eventos ver todos os eventos Diálogos Capitais Nordeste: Como Enfrentar as Dores do Crescimento Confira as fotos do seminário que reuniu empresários, estudiosos e governadores em Recife curiosidades, desejos e perguntas nos estudantes ou só serviriam para produzir informações para uso em testes de avaliação? Nós, pesquisadoras de educação, ficamos mais uma vez perplexas ao nos depararmos com a nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo. Para bem aprender o Português e a Matemática, sugere-se excluir os conhecimentos de História, Geografia e Ciências do 1º ao 3º ano e manter 10% dessas disciplinas no 4º e 5º anos do currículo básico. Por essa nova proposta, ficou assim decretado: doravante, por meio desse novo currículo básico, as crianças de escolas públicas estaduais só receberão, até o 3º ano, aulas de Português e Matemática! Partindo do pressuposto evidentemente errôneo de que um conhecimento atrapalha o outro, as aulas de História, Geografia e Ciências serão eliminadas do currículo desses estudantes. Como consequência dessa política, nas escolas de tempo integral, o aluno terá aulas em um período e, no outro, oficinas temáticas das diferentes áreas do conhecimento, algumas obrigatórias e outras eletivas escolhidas de acordo com o projeto pedagógico da escola. À primeira vista, esse currículo está “rico” e diversificado; no entanto, pelo olhar sério e comprometido, ele estará fatalmente fragmentado. Primeiramente porque verificamos que as oficinas obrigatórias também não objetivam, do mesmo modo, um trabalho com História, Ciências e Geografia; pelo contrário, voltam-se novamente para a Matemática e para o Português. Além disso, como trabalhar a oficina optativa, por exemplo, de Saúde e Qualidade de Vida sem os fundamentos das ciências? Intriga a essa altura saber: por que oficinas e não estudo contínuo? O que se ganha com isso? Vários equívocos nos saltam aos olhos! O primeiro deles é considerar que o conhecimento de algumas áreas é acessório, ocupa espaço e ainda impede o bom aprendizado do Português e da Matemática! www.cartacapital.com.br/sociedade/escolas-empobrecidas-sem-historia-nem-geografia/ 1/3 4/11/13 Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia | Carta Capital As concepções de escrita e leitura, por exemplo, acabariam por ser responsabilidade exclusiva de uma única disciplina do currículo. Não seria essa uma visão muito simplista de aprendizagem, pois parece supor que o estudante não desenvolve processos de escrita e leitura também em outras disciplinas? Outro equívoco é a suposição de que para estudantes de escola pública o mínimo basta! Para que sofisticar com lições da história, da natureza e do lugar do nosso povo? Conhecimento científico seria enfim útil para quê? A aprendizagem não ocorre por partes. O aprendizado é todo ele integrado e sistêmico. Um bom ensino de História expande o pensamento e as referências e o estudante, assim, tem condições para perceber relações de fatos, tempo e espaço, tão necessárias à aprendizagem matemática. A Geografia leva nossos pensamentos para viajar em outros espaços; possibilita compreender a diversidade das sociedades, conhecer e apreciar a natureza, aprender a observar e a estabelecer conexões entre lugares e culturas. Mergulhados, assim, nesses novos referenciais, os estudantes podem compreender melhor a própria realidade e encarar suas circunstâncias com pleno envolvimento. Isso certamente repercutirá na sua vida e no seu aprendizado, com consequência, por exemplo, em estudos simbólicos e gráficos. Como deixar de aproveitar a natural curiosidade das crianças, seu espírito exploratório, suas perguntas intrigantes acerca dos fenômenos da natureza e, dessa forma, tecer as bases de um fundamental espírito científico, que por certo ajudará a compreender a Matemática e a recriar o Português? Será que a estratégia de oficinas, ao invés do estudo contínuo, dará conta de captar tal complexidade e também de tornar possível um processo de ensino-aprendizagem que seja capaz de construir os conhecimentos de Geografia, História e Ciências que ficaram tão diminuídos no currículo básico? De nosso ponto de vista entendemos que a questão não é separar para empobrecer. O que vale é democratizar as possibilidades de ser e de estar melhor no mundo. E para que isso aconteça precisamos da integração total de saberes e práticas. As crianças de classe social mais favorecida possuem, antes já de chegar à escola, uma gama infindável de vivências. As crianças de classe popular, em sua maioria, chegam já à escola destituídas desse capital cultural. Possuem outras ricas e profícuas experiências que, nem sempre, são valorizadas e transformadas na escola. No entanto, o importante é trabalhar pedagogicamente com essas experiências de modo a transformá-las em vivências socialmente válidas. Pensamos que o fundamental é ampliar as oportunidades ao invés de restringi-las; para tanto, a experiência com as diferentes áreas do conhecimento é essencial. Preocupa-nos o risco de a função da escola, para as crianças dos anos iniciais, limitar-se, a partir da reforma proposta, ao ensino das habilidades mínimas de leitura e escrita e de cálculo, retirando-se as cores e os sabores das descobertas que se fazem no contínuo do seu desenvolvimento. Preocupa-nos que esse projeto ganhe força e se concretize em outros níveis de ensino e em outros Estados. Preocupa-nos que as oficinas contribuam mais para o esvaziamento dos conteúdos do que para a construção de conhecimentos. O que será da nossa escola pública, então? Um reducionismo dos conhecimentos, um estreitamento das concepções de ensino-aprendizagem? O objetivo final será a quantificação em detrimento da qualidade? E, se atingir índices é o foco dos processos de ensino-aprendizagem, o que isso realmente significa? Qual é a verdadeira motivação da política educacional implícita nesse movimento? As autoras Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Valéria Belletati (Instituto Federal de São Paulo), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) são doutoras em Educação e Ligia Paula Couto (Universidade Estadual de Ponta Grossa) é doutoranda em Educação. Todas são pesquisadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação do Educador (GEPEFE) – FEUSP. Enviar para um amigo Imprimir: Compartilhar: Mais... Sua opinião M arielene H. Scarante disse: 2013-04-05 10:58:27 Fui professora primária por 23 anos. O aluno saía do 4º ano sabendo ler e escrever e com a capacidade de resolver problemas de aritmética básicos. Hoje encontramos professores universitários escrevendo e falando com erros bárbaros. A maioria dos estudantes ao realizar as redações do vestibular escrevem como verdadeiros analfabetos. Mostrando que o ensino de base falhou. Como corrigir esta aberração? Acredito que se nos dois primeiros anos a criança recebesse aulas voltadas para a alfabetização e aritmética mais intensivamente, e não fossem promovidas a série seguinte sem saber ler e www.cartacapital.com.br/sociedade/escolas-empobrecidas-sem-historia-nem-geografia/ 2/3 4/11/13 Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia | Carta Capital interpretar. Os assuntos do livro básico é que teriam que ser enriquecidos. Livros de estórias deveriam ser mais utilizados. No terceiro ano, já com o idioma sedimentado teriam mais sucesso na aprendizagem de outras matérias. No caso da matemática, já no terceiro ano seriam capazes de compreender problemas e resolvê-los; dominando plenamente as operações e dominando (plenamente) as tabuadas, sem usar os mágicos dedinhos. Posso estar sendo retrógrada, mas deverá haver mais empenho por parte de professores especializados em primeira e segunda séries (como no Japão, etc). Tasso disse: 2013-04-03 10:04:37 É Geneval... quer dizer que não existe ideologia de direita? E ela é apenas passada nas aulas de história e geografia? E os cursos de engenharia (cabeça de concreto) ensinando a construir prédios feios e caros afetando a todos com especulação imobiliária, acabando com áreas verdes para construir vias largas com asfalto vagabundo para carros de ricos sem reflexão sobre como afetam a vida da cidade é que vão nos salvar, né?! ô inocência.... própria de um engenheiro sem instrução! ver todas as opiniões 24 Uma Clarice acessível 16 Entre a escola e a universidade MAR MAR Como a proposta de reservar 50% das vagas no ensino superior público paulista para alunos de escolas públicas criaria uma nova etapa de ensino 14 Alunos tipo exportação 12 O velho modelo disfarçado de novo MAR MAR Enquete Para pesquisadora Olga de Sá, popularidade na internet pode ajudar a trazer jovem leitor para perto da autora de A Hora da Estrela A Coreia do Norte vai de fato bom bardear a Coreia do Sul e os EUA? Sim . Pyongyang declarou estado de guerra, expulsou em baixadores e rom peu relações com Seul. A guerra é questão de tem po Não. A retórica belicista é apenas um a form a do líder Kim Jong-un unir o país em torno de um inim igo com um e se afirm ar no poder Intercambistas exaltam oportunidades fornecidas pelo Ciência sem Fronteiras, mas criticam falta de diálogo entre universidades Especialistas criticam a qualidade das aulas online e o método de ensino do matemático Sobre a CartaCapital Anuncie Conosco Aviso Legal Adital Expediente Agência de Notícias da Aids Central do Assinante Agência Pública Retratos Capitais Altamiro Borges Fale com a Redação www.cartacapital.com.br/sociedade/escolas-empobrecidas-sem-historia-nem-geografia/ 3/3