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Nova arma para combater mosquito
transmissor da dengue
Levantamento Rápido do Índice de Infestação permite identificar locais dos
principais focos do Aedes Aegypti
O verão vem aí e, com ele, chuvas e calor – condições ideais para a
reprodução do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue. Para evitar uma
epidemia, o Ministério da Saúde está implementando um novo método para
detecção dos criatórios do inseto. O Levantamento Rápido do Índice de Infestação
por Aedes aegypti, o LIRAa, permitirá a identificação da localização e dos
principais tipos de focos a serem atacados nos bairros e regiões das cidades mais
expostas. O método promete mais eficácia no combate à doença. O levantamento
acontecerá no fim deste mês, como uma das etapas para a preparação do Dia
Nacional de Mobilização contra a Dengue, em 19 de novembro.
O governo selecionou 170 municípios, entre 680 considerados prioritários,
para intensificar as ações de prevenção contra a dengue. A lista reúne capitais e
suas regiões metropolitanas e municípios com mais de 100 mil habitantes. Neles
se concentram cerca de 70% dos brasileiros sob risco de contaminação. Os
domicílios serão divididos em grupos de 9 mil a 12 mil unidades, seguindo critérios
de homogeneidade, ou seja, áreas contíguas, contínuas e similares quanto ao tipo
de habitação e à forma de abastecimento de água e coleta de lixo. O maior
número de municípios trabalhados pertence aos estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais.
Em uma semana, agentes de saúde visitarão 450 residências, escolhidas
aleatoriamente, exclusivamente para fazer um levantamento detalhado das
situações comuns que favorecem a reprodução do mosquito Aedes aegypti. Eles
verificarão se na área o maior foco de infestação do mosquito está nas caixas
d’água destampadas, nos vasos sem areia e nos pneus com água acumulada.
Dessa forma, haverá possibilidade de mapear, por amostragem, quais as ações
prioritárias para se tomar naquela comunidade, de forma sistemática, direcionada
e concentrada.
O LIRAa já foi aplicado em 2004, mas com abrangência muito menor (em
63 municípios). Apesar disso, demonstrou resultados positivos. O índice de
infestação que se apura com esse método é bastante confiável. Em geral, os
agentes levam 60 dias para fazer a análise da infestação em uma determinada
área. Se um agente começou a mapear um local em agosto, concluirá o trabalho
no fim de setembro, quando as chuvas já começaram e registram-se temperaturas
mais altas, o que favorece a proliferação do mosquito transmissor. É provável,
então, que o índice de infestação real seja maior que o apurado.
“Com o Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti, o
prazo de prospecção é de sete dias. Por isso, esse método corre menor risco de
ser influenciado pela elevação da temperatura ou pelo aumento do índice
pluviométrico”, explica o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da
Saúde, Jarbas Barbosa. “E se podemos detectar o criadouro predominante,
conseguimos programar ações específicas de comunicação com a população,
totalmente voltadas para sua realidade e seu cotidiano”, acrescenta.
O LIRAa também tem como vantagem indicar para os gestores dos
municípios quais locais apresentaram um índice de infestação mais elevado, a
tempo de evitar uma epidemia.
Resultados positivos – A intensificação das ações de controle e a parceria
Ministério da Saúde com estados e municípios têm sido tão importantes que
houve uma redução de 79% no número de casos, entre janeiro e agosto de 2005,
em relação ao mesmo período de 2002. Em um cenário positivo, o maior desafio
do governo federal é manter autoridades e população mobilizadas, para evitar
uma nova epidemia de dengue no país.
Devido aos bons resultados obtidos em 2004, quando aconteceu uma
redução de 67% em relação ao ano anterior (os melhores números em mais de
dez anos), algumas regiões se desmobilizaram e diminuíram o trabalho
preventivo. Houve também a descontinuidade de ações, causada pelas mudanças
que aconteceram nas administrações municipais, a partir das eleições.
O resultado foi um aumento relativo de 70% da incidência da doença em
2005, entre janeiro e agosto, quando comparamos com o mesmo período de 2004.
Contribuiu também para esse cenário a rápida interiorização da dengue tipo 3
(identificada pela primeira vez em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, em 2000)
para estados das regiões Nordeste e Norte. Graças à mobilidade da população, o
tipo 3 do vírus já foi identificado em 25 unidades da federação (só o Rio Grande do
Sul e Santa Catarina ficaram de fora).
Para reforçar a parceria com estados e municípios, o Ministério da Saúde
está realizando reuniões com todas as secretarias estaduais de saúde e com 682
secretarias de municípios considerados prioritários pela Secretaria de Vigilância
em Saúde (SVS). A primeira reunião foi com as secretarias da região Sudeste,
em 22 de setembro, e a próxima será na segunda e terça-feira (10 e 11 de
outubro), com os representantes do Nordeste. Até novembro, todas as regiões
terão sido atendidas.
Os encontros têm como finalidade avaliar as providências tomadas por
estados e municípios no sentido de implantar os dez componentes do Programa
Nacional de Controle de Dengue, avaliar as principais dificuldades e avanços e
discutir de forma conjunta as soluções para os problemas. “Com isso, o Ministério
da Saúde promove a implementação mais abrangente e coesa do programa”,
afirma Jarbas Barbosa.
Ele aponta que outro componente importante é a integração das ações de
prevenção e controle da dengue na atenção básica. Os agentes de saúde devem
incorporar em sua rotina medidas simples de orientação à população e que
ajudam muito a prevenir a infestação pelo Aedes aegypti.
“Às vezes, a própria população não faz o efetivo controle social junto à
secretaria municipal, exigindo a visita do agente de saúde a cada 60 dias, durante
o período interepidêmico (quando não há ocorrências da doença)”, diz o
secretário. “Em geral, as pessoas baixam a guarda nesse período. Temos que
manter as atividades e as medidas de controle durante todo o ano, com a mesma
intensidade. O combate ao mosquito tem que ser uma prática cotidiana”, afirma.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) O que é dengue?
A dengue é uma doença febril aguda. A pessoa pode adoecer quando o vírus
penetra no organismo, pela picada de um mosquito infectado, o Aedes aegypti.
2) Quanto tempo depois da picada aparece a doença?
Se o mosquito estiver infectado, o período de incubação varia de três a 15 dias,
sendo em média de cinco a seis dias.
3) Quais são os sintomas da dengue?
Os sintomas mais comuns são febre, dores no corpo, principalmente nas
articulações, e dor de cabeça. Também podem aparecer manchas vermelhas pelo
corpo e, em alguns casos, sangramento, mais comum nas gengivas.
4) O que se deve fazer se aparecer alguns desses sintomas?
Buscar o serviço de saúde mais próximo.
5) Como é feito o tratamento da dengue?
Não há tratamento específico para o paciente com dengue clássico. O médico
deve tratar os sintomas, como as dores de cabeça e no corpo, com analgésicos e
antitérmicos (paracetamol e dipirona). Devem ser evitados os salicilatos, como o
AAS e a Aspirina, já que seu uso pode favorecer o aparecimento de
manifestações hemorrágicas. É importante também que o paciente repouse e
beba bastante líquido.
Já os pacientes com Febre Hemorrágica do Dengue (FHD) devem ser observados
cuidadosamente para identificação dos primeiros sinais de choque, como a queda
de pressão. O período crítico ocorre durante a transição da fase febril para a sem
febre, geralmente após o terceiro dia da doença. A pessoa deixa de ter febre e
isso leva a uma falsa sensação de melhora, mas em seguida o quadro clínico do
paciente piora. Em casos menos graves, quando os vômitos ameaçarem causar
desidratação, a reidratação pode ser feita em nível ambulatorial. A SVS alerta que
alguns dos sintomas da dengue só podem ser diagnosticados por um médico.
6) A dengue pode levar à morte?
A dengue, mesmo na forma clássica, é uma doença séria. Caso a pessoa seja
portadora de alguma doença crônica, como problemas cardíacos, devem ser
tomados cuidados especiais. No entanto, a dengue é mais grave quando se
apresenta na forma hemorrágica. Nesse caso, se tratada a tempo, a pessoa não
corre risco de morte.
7) Quais os cuidados para não se pegar dengue?
Como é praticamente impossível eliminar o mosquito, deve-se identificar objetos
que possam se transformar em criadouros do inseto transmissor. Por exemplo,
uma bacia no pátio de uma casa é um risco, porque, com o acúmulo da água da
chuva, a fêmea do mosquito poderá depositar os ovos neste local. Então, o único
modo é limpar e retirar tudo que possa acumular água e oferecer risco. Em 90%
dos casos, o foco do mosquito está nas residências.
8) O que devo fazer para evitar o mosquito da dengue?
Para evitar o mosquito da dengue é preciso eliminar os focos do Aedes aegypti. A
SVS preparou uma lista das medidas que as pessoas podem adotar para evitar
que o mosquito se reproduza em sua casa.
9) Depois de termos dengue, podemos pegar novamente?
Sim, podemos, mas nunca do mesmo tipo de vírus. A pessoa fica imune contra o
tipo de vírus que provocou a doença, mas ainda poderá ser contaminada pelas
outras três formas conhecidas do vírus da dengue.
10) Pode-se pegar dengue de uma pessoa doente?
Em hipótese alguma. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de
suas secreções com uma pessoa sadia, nem de fontes de água ou alimento.
11) Quantos tipos de vírus da dengue existem?
São conhecidos quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4, sendo que no Brasil não existe
circulação do tipo 4.
12) Existe vacina contra a dengue?
Ainda não, mas as comunidades científicas internacional e brasileira trabalham
firme neste propósito. Estimativas indicam que deveremos ter um imunizante
contra a dengue em cinco anos. A vacina contra a dengue é mais complexa que
as demais. A dengue, com quatro vírus identificados até o momento, representa
um desafio para os pesquisadores. Será necessário fazer uma combinação de
todos os vírus para que se obtenha um imunizante realmente eficaz contra a
doença.
13) Por que essa doença ocorre no Brasil?
A dengue é um sério problema de saúde pública em todo o mundo, especialmente
nos países tropicais como o nosso, onde as condições do meio ambiente, aliadas
a características urbanas, favorecem o desenvolvimento e a proliferação do
mosquito transmissor, o Aedes aegypti. Mais de 100 países em todos os
continentes, exceto a Europa, registram a presença do mosquito e casos da
doença.
14) O Brasil está com uma epidemia de dengue?
Não. No primeiro semestre do ano de 2004 não se observaram surtos ou
epidemias no país. Durante esse período houve uma redução de cerca de 80%
nos casos notificados de dengue.
15) O inseticida aplicado para matar o mosquito da dengue e a nebulização
(fumacê) funcionam mesmo?
Sim, funcionam. Tanto os larvicidas quanto os inseticidas distribuídos aos estados
e municípios pela SVS têm eficácia comprovada, sendo preconizados por um
grupo de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os larvicidas servem para matar as larvas do Aedes. São aqueles produtos em pó,
ou granulados, que o agente de combate à dengue coloca nos ralos, caixas
d’água. São os locais onde há água parada que não pode ser eliminada.
Já os inseticidas são líquidos espalhados pelas máquinas de nebulização, que
matam os insetos adultos enquanto estão voando, pela manhã e à tarde, porque o
Aedes tem hábitos diurnos. O fumacê não é aplicado indiscriminadamente, sendo
utilizado somente quando existe a transmissão da doença em surtos ou
epidemias. Desse modo, considera-se a nebulização um recurso extremo, porque
é utilizada num momento de alta transmissão, quando as ações preventivas de
combate à dengue falharam ou não foram adotadas.
Algumas vezes, os mosquitos e larvas desenvolvem resistência aos produtos.
Sempre que isso é detectado, substitui-se imediatamente o produto por outro.
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