UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ESPECIALIZAÇÃO EM: Educação Estética: Arte e as Perspectivas Contemporâneas NATHÁLIA NEVES AQUINO O TEATRO MÁGICO: ARTE E CULTURA DE RESISTÊNCIA CRICIUMA, FEVEREIRO DE 2011 NATHÁLIA NEVES AQUINO O TEATRO MÁGICO: ARTE E CULTURA DE RESISTÊNCIA Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para a obtenção do título de especialista em Educação Estética. Orientador: Prof. Dr. Gladir da Silva Cabral CRICIÚMA, FEVEREIRO DE 2011 Dedico este trabalho a meus pais: Minha mãe, pessoa que sempre me incentivou e a quem amo muito. Meu pai, meu amigo, que eu tanto amo e que ajudou a tornar este sonho realidade. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os que de certa forma contribuíram para a realização deste trabalho. Muito obrigada a Deus por nunca me deixar desistir. Aos meus pais Augusto e Ereny, pela extrema paciência e amor dedicado. O meu orientador, Prof. Gladir, pela paciência, e-mails e diálogos. Aos meus amigos, por partilharem comigo os momentos bons, me acolherem nos dias mais difíceis e por me ajudarem sempre que precisei: à Michele pelo companheirismo durante esta e outras caminhadas, ao Tiago pelo incentivo, paciência e positividade, à Belise pelos momentos de descontração, à Cíntia simplesmente por existir e ser uma grande amiga, à Grazi, irmãzinha do coração que sempre me dá os mais certos conselhos, ao Glaucus por me aguentar todos os dias e me incentivar nos momentos mais difíceis, ao Georg por contribuir para a minha bagagem musical ao me apresentar “O Teatro Mágico”, ao Juliano Gordo, por me fazer “cair na real” mesmo nas horas mais irreais, e a todos os outros que aqui não cito, mas que moram no meu coração e que fazem parte dessa grande maravilha que é a minha vida. “O Teatro Mágico é um lugar onde tudo é possível” Fernando Anitelli RESUMO O que uma banda independente como “O Teatro Mágico” quer trazer a seu público? Como esse público se compõe? Quais as linguagens artísticas presentes no trabalho desse grupo? Como se dá a discussão sobre identidades nas canções da trupe? E ainda, qual o lugar que o grupo ocupa na produção artística e cultural da contemporaneidade? Essas e outras questões estiveram presentes neste trabalho que teve como objetivo entender como o grupo “O teatro Mágico” se manifesta na sociedade contemporânea como cultura de resistência, analisando as linguagens artísticas usadas pelo grupo, assim como a forma de divulgação de seu trabalho. Esta pesquisa foi realizada de forma bibliográfica, buscando sempre materiais teóricos que subsidiem as questões aqui expressas. A internet foi uma importante ferramenta de pesquisa e interação para a execução desta pesquisa, principalmente o site oficial d‟O Teatro Mágico, que de forma aberta expõe pensamentos e materiais sobre a trupe. Palavras-chave: O teatro Mágico. Linguagens artísticas. Mídia. Identidade. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7 2. SOBRE “O TEATRO MÁGICO”: PEQUENO HISTÓRICO DO GRUPO ............... 9 3. O TEATRO MÁGICO E AS IDENTIDADES .......................................................... 15 4. O TEATRO MÁGICO E AS MÍDIAS ..................................................................... 23 5. LINGUAGENS ARTÍSTICAS ................................................................................ 29 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 37 7. ANEXOS ............................................................................................................... 39 8. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 41 1. INTRODUÇÃO Na arte, não vemos apenas as obras, mas a nós mesmos e a sociedade em que vivemos. Ela desacomoda as percepções, instiga, incomoda, rejubila. Ela aciona toda sorte de sensações positivas e/ou negativas, mas, sobretudo, faz-nos estranhar o familiar e perceber as coisas de outros ângulos, de outras formas. (Leite e Ostetto, 2004, p. 11). O presente trabalho busca entender e esclarecer como o grupo “O Teatro Mágico” se manifesta na sociedade contemporânea como produtor de cultura e arte de resistência. O grupo o Teatro Mágico age na cena musical nacional como um grupo popular e independente. Eles se colocam contra o mercado da arte ao disponibilizarem suas músicas gratuitamente na internet. Utilizam em suas apresentações musicais diversas outras linguagens da arte, como performances circenses, dança e teatro. Em suas músicas, trazem personagens da nossa cultura, tratam do cotidiano e nos levam a pensar sobre diversos temas sociais discutidos na atualidade, tais como o preconceito linguístico, o modo de vida contemporâneo e a formação das identidades do povo brasileiro. Por sua postura enquanto “grupo musical independente”, faz-nos refletir até mesmo sobre os artistas e suas obras na atualidade globalizada e controlada pela força do mercado. Diante dessas prévias observações sobre o grupo “O teatro Mágico”, sobre o que é a arte e sobre a formação de identidades é que percebo a importância de compreender como um grupo de “cultura de resistência” consegue ganhar voz na cena atual, como a internet colabora para essa globalização cultural e ainda como o sujeito é influenciado e receptivo diante dessa e das tantas formas de comunicação e conhecimentos que constituem, assim, a sua identidade. Pretendo, ainda, entender como uma banda independente “O teatro Mágico” se manifesta e tem seu lugar reconhecido na sociedade contemporânea, como o grupo constrói sua a sua identidade e a dos personagens citados em suas músicas, como eles levam sua arte ao público e qual é esse público e como ele se constitui, buscando entender ainda sobre as linguagens artísticas utilizadas pelo grupo e por que dessas várias linguagens e a relação entre a música, o teatro e o circo nas obras do grupo. 7 Para a realização desta pesquisa, trago Zamboni (2001, p. 43) quando afirma que a “pesquisa é a busca sistemática de soluções, com o fim de descobrir ou estabelecer fatos ou princípios relativos a qualquer área do conhecimento humano”. Sendo assim, procurarei primeiramente textos e materiais teóricos que possam me dar subsídio para esta pesquisa de caráter bibliográfico. O registro escrito é sem dúvida algo indispensável nesta pesquisa. Também levantarei análises sobre algumas obras do grupo “O Teatro Mágico”, assim como sobre textos teóricos que discutam a formação de identidades, de sociedades, sobre a indústria cultural e artística. No primeiro capítulo deste trabalho será apresentado um breve histórico do grupo “O Teatro Mágico”, como eles se constituem, quais são seus ideais como artistas e como se dá a forma de trabalho dessa trupe tão diferenciada dentro da cena artística musical da contemporaneidade. Busco trazer curiosidades e fatos que influenciaram na criação da trupe e sua formação. Num segundo momento, estarei discutindo sobre as produções musicais d‟Teatro Mágico juntamente com a formação da identidade, analisando a formação da trupe, assim como a formação do público que acompanha as suas canções e os personagens nelas citados, buscando referenciais teóricos em Stuart Hall e outros representantes dos Estudos Culturasi. No terceiro capítulo, intitulado “O Teatro Mágico e as Mídias”, busco compreender como se dá a relação do grupo com as diversas mídias de comunicação, principalmente a internet, já que é o principal veículo de divulgação do trabalho da trupe, procurando ainda compreender por que a utilização desse meio, ao invés de meios tradicionais da cultura massiva, ou seja, as gravadoras, tornam o trabalho da trupe ainda mais questionador, contestador e independente dentro da cena atual. No último capítulo deste trabalho, trago O Teatro Mágico e as linguagens artísticas por ele utilizadas, tais como o teatro, o circo, a dança e a música, buscando esclarecer um pouco sobre cada linguagem e sua importância dentro das apresentações da trupe. Concluindo o trabalho, trago breves reflexões e busco sintetizar as discussões. 8 2. SOBRE “O TEATRO MÁGICO”: PEQUENO HISTÓRICO DO GRUPO O grupo “O Teatro Mágico” nasceu com o primeiro projeto de um CD independente, no ano de 2003, idealizado por Fernando Anitelli, como seu primeiro trabalho solo e inspirado na obra literária O Lobo da Estepe, do escritor alemão Hermann Hesse, cuja personagem principal, Harry Haller, assume até certo ponto da obra dois tipos de personalidades e, em determinado momento, percebe-se atraído por diversas outras personalidades que estão no seu interior, ou seja, a pluralidade de personalidades em um único ser, “ele descobre sua pluralidade e descobre que o homem não é só homem ou lobo, ele é uma junção infinita de personagens que vai escolher interpretar em diferentes dias” (Anitelli, 2009). Em outra entrevista, Anitelli comenta sobre as origens do grupo, confirmando a ligação com o escritor alemão: O Lobo da Estepe foi justamente o primeiro momento desse projeto todo. Justamente quando eu estava lendo esse livro me deparei com aquele momento em que o personagem se depara com aquela placa “hoje a noite teatro mágico entrada para raros”. Ele acredita que aquilo não é para ele, ele quer ir embora, quando olha “só para raros, só para loucos”, mas ele entra e ali se descobre plural, o personagem descobre a própria pluralidade. Isso é fabuloso porque a gente é assim. Diariamente nós não somos somente um em um milhão, somos um milhão em um. As maneiras como a gente resolve reagir às coisas do cotidiano são muito distintas, então é buscar esse melhor personagem que vive em nós. E o palhaço traduz isso. Então juntei essa ideia do Lobo da Estepe, essa inspiração – porque a ideia não é traduzir o livro de maneira alguma, ele serviu como inspiração. Eu peguei isso aí e misturei com a ideia do sarau, que é aquela variedade de timbres, de cores, misturei numa coisa só e a gente foi aprendendo a montar, a fazer isso aí esse tempo todo. (apud Vianna, 2010) Pensando nessa pluralidade de personalidades e buscando juntar em um só espetáculo diversas linguagens da arte, como a música, o teatro, a dança e, ainda, linguagens da arte circense, tais como os malabaristas, palhaços e bailarinas, nasceu o primeiro álbum do “O Teatro Mágico” no ano de 2003, intitulado Entrada para Raros. Nele, a trupe, formada por músicos e artistas, já veio com o objetivo de discutir vários temas sociais, como o racismo, a discriminação e até mesmo os personagens ou identidades que temos de assumir diariamente em várias situações do cotidiano, “a trupe estava imersa num paralelo, num lugar onde tudo era possível, falávamos de lutar pelos nossos ideais, pelos sonhos” (Teatro Mágico, 2009). 9 Para Anitelli, “O Teatro Mágico é um lugar onde tudo é possível”. Para o criador da trupe, “essa é a grande brincadeira, ser o que se é, afinal todos somos raros e temos que ter consciência disso” (Teatro Mágico, 2009). E é com roupas e maquiagens de palhaços que os integrantes da trupe nos trazem a ideia de “personagem interno, escondido em cada um de nós” (WIKIPÉDIA, 2011). O primeiro disco inicialmente era para ser apenas com “voz e violão, algumas poesias e a ideia era que a pessoa ouvisse o álbum e sentisse que o que ela estivesse ouvindo poderia acontecer na sala da casa dela” (Anitelli, 2009). Por isso, passou a ter também sons de utensílios domésticos como garfos, facas e panelas, era um verdadeiro sarau de sons, poesias e espetáculos, dando espaço ainda aos instrumentos tradicionais como contrabaixo, bateria e violino. Foi assim que os participantes da produção do álbum subiram rapidamente para a soma de trinta integrantes, e nas apresentações somavam quarenta colaboradores. A trupe conta hoje com um grande elenco: são 16 integrantes, entre eles os músicos Fernando Anitelli (voz, violão e guitarra), Fernando Rosa (contra-baixo), Miguel Assis (bateria), Nene dos Santos (bateria), Willians Marques (percussão e malabares), Galdino Octopus (violino e bandolim), DJ HP (pick-ups e sonoplastia), Silvio Depieri (sax e flauta), Kleber Saraiva (teclado) e os artistas circenses Rober Tosta, Gabriela Veiga, Deinha Lamego, Tum Aguiar, Andrea Baubour, Wallace Alcantara e Ivan Parente (ator e cantor). Além das equipes técnicas e de produção, que também somam um considerável número de colaboradores, a trupe conta ainda com alguns apoios culturais e parcerias com empesas e instituições (O Teatro Mágico, 2009). É defendendo a “bandeira da música livre” e disponibilizando gratuitamente as suas músicas na internet que “O Teatro Mágico passa, cada vez mais, a apresentar um perfil questionador e contestador” (O Teatro Mágico, 2009). Os CDs e DVDs da trupe também são vendidos, mas a preços populares, buscando atingir ainda mais o público em geral (idem). Para a trupe, além de grandes incentivadores, o público é parte de seu espetáculo, pois ele cria tal identificação com as produções musicais do grupo e com as linguagens visuais por eles usadas que algumas pessoas chegam a se caracterizar como os integrantes da trupe, o que realmente garante o alcance do objetivo do grupo em relação à apropriação, por parte do grande público, da sua obra. 10 Em uma de suas entrevistas, Anitelli afirma que o palhaço “é sempre disposto. Ele é gatuno, malandro, mas é inocente, chora. Essa pluralidade de coisas, do próprio bufão, o bobo da corte, sempre foi a lógica do palhaço” (Anitelli,2009), que torna-se elemento essencial nos shows da trupe que assim se caracteriza, pois ele simboliza o “personagem interno” que existe em cada um de nós. Para Anitelli, o palhaço é o personagem que “seria capaz de traduzir essa instabilidade, esse caos interior”. Segundo o site oficial do “Teatro Mágico”, durante os shows é que se dá essa “grande” interação do público com a trupe. E assim, Anitelli vai traçando um paralelo entre o real e o imaginário enquanto o público, aos poucos, vai entrando na mesma freqüência sinestésica marcada pelo ritmo do espetáculo. No final, palco e platéia se fundem e cada um dos presentes vai descobrindo a delícia de se permitir ser um pouco mais de si mesmo. (O Teatro Mágico, 2009). O segundo álbum, intitulado O segundo ato, surge após quatro anos de trabalho, com um número bem considerável de CDs vendidos, a música bem difundida entre o público na internet e com uma valorização do seu trabalho perante as mídias, como jornais e televisão. Nessa etapa do projeto, a trupe se propõe “a entrar mais fundo nos debates que cercam a sociedade desigual e desumana que nos rodeia” (Vianna, 2008). Maíra Vianna, em texto publicado em 25 de julho de 2008, comenta: Nesta nova fase, é como se a trupe chegasse no universo urbano com mais profundidade , como o cotidiano dos moradores de rua citados na canção “Cidadão de Papelão” ou a problemática da mecanização do trabalho, citada no “Mérito e o Monstro” entre várias outras abordagens. Indo mais além, há um debate sutil e, por vias opostas, mordaz, sobre o amontoado de informações que absorvemos, sem perceber, assistindo aos programas de TV. (Vianna, 2008). A trupe que escreveu “seu nome na história da música popular brasileira com o sucesso independente de gravadoras ou mídias de massa” (Teatro Mágico, 2009) abre espaços para seu público, junta-se a ele, que não abrange apenas uma faixa etária, são pessoas de várias idades, classes sociais e culturas. A internet é o principal veículo de comunicação e divulgação do trabalho do grupo, o que também facilita a interação das pessoas com a equipe, que além dos dois álbuns que possui, já está planejando o terceiro álbum pré-intitulado O Terceiro Ato. 11 “A trupe” Fonte: (http://coracao26.blogspot.com/2010/07/o-teatro-magico.html) Defendendo bandeira da música livre e do movimento por eles criado, chamado de MPB (Música para baixar), a atitude da trupe vai contra o modo capitalista de produção cultural e musical que ainda existe nos dias de hoje. Para Anitelli, esse é o objetivo: “A gente resolveu construir esse movimento para poder cada vez mais politizar nosso público e potencializar essa discussão para além do Teatro Mágico” (Anitelli, 2009). Segundo Gustavo Anitelli, citando Hanna Arendt, “a cultura de massa cumpria um papel de responder a uma necessidade biológica do indivíduo, que já não mais possuía tempo livre, e sim um leve descanso ou pausa entre um dia e outro na rotina do trabalho” (O Teatro Mágico, 2009). Logo, a massificação da cultura torna-a capital de grandes empresas que visam ao lucro, difundindo essas produções por todo o mundo, vendendo o seu produto, dando maior visibilidade aos artistas que mais lhes convém, afinal, a gravadora geralmente era a única forma de se produzir um álbum, devido ao grande custo de equipamentos etc. Nos dias de hoje, com o avanço tecnológico e o maior acesso da população a esses meios, os movimentos como a “nova” MPB ganham força. Por meio da internet, conseguimos visualizar essa revolução na cena musical brasileira e internacional. Para Gustavo Anitelli, irmão do criador da trupe: Essa ferramenta que tem revolucionado o mundo foi capaz de recriar a relação não somente do mercado com o artista, mas também do artista com seu público, já que a comunicação livre permite a troca direta de informações, sem a dependência dos atravessadores da indústria que distanciavam esse elo principal. (Aniteli, 2010). 12 Assim, as produções destinadas às massas foram perdendo parte de sua força. Agora existem vários produtores musicais independentes em diversos cantos do mundo, surgiram novos artistas, novas possibilidades de fazer e receber música. A cultura está se democratizando aos poucos, possibilitando o acesso a qualquer pessoa. O Teatro Mágico colabora dessa forma com o público, além de vender seus CDS a preços muito baixos, a trupe se mantém também com a venda de produtos pela internet e com shows, nos quais se preocupa ainda em arrecadar doações de alimentos para algumas entidades que necessitam de ajuda. Anitelli conta que inicialmente vendiam os CDs, gravados na garagem de sua casa, a R$ 10,00, mas que em seguida: Passamos a vendê-lo por 5 reais. Nos lugares mais periféricos, mais humildes, a gente vendia por 1 real, às vezes dávamos. Essa lógica de espalhar a música, de ela se tornar um vírus do bem, distribuída na rede, pelo CD a preço acessível, passou a ser nossa bandeira, nosso carrochefe. (Anitelli, 2009). É com esse perfil questionador e socializador de cultura que o grupo age na cena musical atual, cantando e encantando gerações entre seus fãs. O grupo tem vários espaços na internet, entre eles o site oficial do grupo www.oteatromagico.mus.br, “.mus” e não “.com”, pois “.com” vem de comércio e “.mus”, não, pois o domínio “.mus” provém é especialmente destinado a músicos e artistas em geral. O grupo ocupa também sites de relacionamento como orkut, facebook, twitter e ainda sites de divulgação de música livre para baixar, como o site do Terra com o palco mp3 e outros de exibições de vídeos, com clipes, músicas e entrevistas, como é o caso do Youtube. Divulgando o trabalho da trupe, ainda existe o livro intitulado O Teatro Mágico em Palavras, escrito por Maíra Viana. O livro, assim como os demais materiais de divulgação, é vendido a preço popular pela internet, trata-se de Um conto inspirado em cada canção de Fernando Anitelli contidas no CD "Entrada Para Raros". As histórias ganharam vida nos palcos do Teatro Mágico com interpretações feitas pela trupe e também por atores convidados. São crônicas, contos e fábulas do cotidiano. "O que ela quis dizer com isso: será metáfora ou pé-da-letra? Será que foi isto que ela disse? Ou seriam querubins fugidios soprando coisas nos ouvidos?", questões pertinentes ao prefácio do livro, escrito pelo próprio Fernando Antelli. (O Teatro Mágico, 2009) A trupe comemorou no ano de 2010, sete anos de existência na cena musical brasileira, sempre com uma forte ideologia independente. Mesmo já tendo recebido 13 algumas propostas de gravadoras, não se deixaram corromper pelo sistema massificador de cultura e, quanto a essas propostas, afirmam não aceitá-las, pois para a trupe “nenhuma delas traduzia nossas ideologias e preferimos continuar o caminho, sozinhos” (O Teatro Mágico, 2009), complementando que “sozinhos” não, mas sempre contando com o apoio do seu público. No ano de 2010 também foi o lançamento do segundo livro de Maíra Viana sobre a trupe, desta vez intitulado O Teatro Mágico em Palavras II, onde a autora “se propõe a um diálogo não só musical e literário, mas também visual, pelas mãos talentosas do ilustrador Rodrigo Franco, que mantém a linha regionalista da xilogravura, marca já registrada do projeto” (idem). O grupo já contou também com algumas apresentações em televisões brasileiras, como é o caso da Rede Globo, onde fizeram uma participação especial em uma novela de horário nobre da emissora, assim como participações em programas como o “Altas Horas”, contando ainda com a divulgações no “Jornal Hoje” da mesma emissora. É uma forma de levar a todos, sem discriminações, as suas canções e poesias. A televisão também mostra o que o público quer ver, e o público mostra que se identifica com o trabalho do “Teatro Mágico”, que faz seu trabalho por “amor à música” e pela “vontade de se expressar”, como conta Anitelli em uma entrevista ao apresentador Serginho Groisman, que define a trupe como um “grupo que mistura a música e o circo de maneira espetacular”, e ao seu público no programa “Altas Horas”. Termino, então, este capítulo sobre a história do grupo citando a fala de um de seus fãs no “Jornal Hoje”. Para ele, “O Teatro Mágico é vida, não é revolução, não é política, é vida. É acreditar no ser humano” (http://www.youtube.com/watch?v=GshS8wnRTd8). 14 3. O TEATRO MÁGICO E AS IDENTIDADES Atualmente, a questão da formação de identidade está sendo muito discutida, também fala-se sobre “crise de identidade”, ou seja, como está se dando a mudança dos processos de construção das identidades contemporâneas, o que está alterando a forma como o indivíduo interage com o mundo. Partindo da idéia da formação da identidade cultural no mundo pós-moderno regido pelo sistema capitalista, creio que seja válido ilustrar a questão da analisando as principais características das obras do grupo “O Teatro Mágico”, que age na cena artística musical de forma independente, sem se voltar totalmente para o mercado artístico convencional e, assim, prefere tornar a sua arte acessível para todos por meio da internet. A identidade de cada um forma-se a partir da sua interação com a sociedade e com a cultura em que está inserido, seja em nível étnico, racial, religioso e nacional. Contudo, hoje em dia as identidades estão se formando de forma cada vez mais fragmentada em razão do processo de globalização. À medida que a sociedade sofre transformações em sua estrutura por causa da globalização, as identidades pessoais também se alteram, são muitas ideias e informações que nos formam como sujeitos. Podemos dizer que a identidade também é efêmera, configurando-se, assim, a tal “crise de identidade” citada por Hall (2001). Para Woodward (2005), essa crise de identidade se dá porque a vida moderna “exige que assumamos diferentes identidades, mas essas diferentes identidades podem estar em conflito” (2005, p. 31). Trago um trecho de uma composição d‟O Teatro Mágico mostrando a questão do conflito de identidade. Ela traz o exemplo de uma senhora que tem sua identidade formada culturalmente pelo meio em que viveu e que vem sofrendo transformações em seu modo de pensar e entender o mundo devido à modernidade. Ah eu tenho fé em Deus... né? Tudo que eu peço ele me ouci... né? Aí quando eu to com algum pobrema eu digo: Meu Deus! me ajuda que eu to com esse problema! Aí eu peço muito a Deus... aí eu fecho meus olhos... né? E Deus me ouci na hora que eu peço pra ele, né? Eu desejo ir embora um dia pra Recife Não vou porque tenho medo de avião, de torro...de torroristo Aí eu tenho medo, né? Corra tudo bem... se Deus quiser... se deus quiser... (Teatro Mágico, 2003) 15 Nesse trecho da música “Zazulejo”, composta por Anitelli, a mulher fala da sua fé em Deus, que se contrapõe com os fatos da atualidade. É uma fala extremamente rica, pois mostra a cultura “esquecida” em contraste com a cultura “hoje valorizada”, revelando a formação de identidade de tal personagem. Trata-se de uma mulher pobre, do Nordeste, portanto alguém que encarna e testemunha todo o processo de migração dentro do país, alguém que vem de uma área provavelmente rural para viver (ou sobreviver) no centro caótico da urbanidade. Nota-se também a importância que a experiência religiosa tem para esse personagem. Terminando a música, o autor nos faz pensar a respeito do que é certo ou errado, já que o certo e errado foram criados por nós mesmos, assim como a forma de levarmos a vida. Um dos temas desta canção é, portanto, o do preconceito social, regional e linguístico. A voz do cantor, o eu-lírico comenta: Mas quando alguém te disser tá errado ou errada Que não vai S na cebola e não vai S em feliz Que o X pode ter som de Z e o CH pode ter som de X Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz "E eu sou uma pessoa muito divertida... eles não inventavam nada... eu gostava de inventar as coisa não sei falar direito... inventar uma piada, inventar uma palavra, inventa uma brincadeira... não sei falar me da um golinho... me da um golinho...” (Teatro Mágico, 2003) Vivemos na era chamada pós-moderna, isto é, um período em que o projeto da modernidade passa por sua pior crise, talvez sua crise final. Como sujeitos, constituímos a nossa identidade a partir de todo um processo histórico e social que vivemos. Ora, a identidade é mutável, ela se transforma conforme amadurecemos e interagimos com o mundo, conforme interpretamos e somos interpretados. Criamos diferentes identidades, ou seja, diferentes roupagens para agir coerentemente com os diversos círculos de convivência aos quais temos acesso. Para Woodward, “os indivíduos vivem no interior de um grande numero de diferentes instituições, que constituem aquilo que Pierre Bourdieu chama de „campos sociais‟, tais como as famílias, os grupos de colegas, as instituições educacionais, os grupos de trabalho ou partidos políticos” (Woodward, 2005, p. 30), e assim criamos uma maneira que julgamos adequada para agir conforme o grupo com o qual estamos nos relacionando no momento. Trago aqui uma canção d‟O Teatro Mágico, curiosamente 16 intitulada “(!)”, falando sobre essas diferentes identidades que assumimos diariamente: Quanta mudança alcança O nosso ser posso ser assim daqui a pouco não Quanta mudança alcança O nosso ser posso ser assim daqui a pouco (!). Vivendo em constantes transformações, a sociedade atual segue as principais tendências de cada geração e desconstrói valores culturais que anteriormente tinham caráter transcendental. Sendo assim, os sujeitos da atualidade formam suas identidades de maneira fragmentada, algumas vezes manipuladas, enfim são identidades globalizadas, inseridas no contexto pós-moderno. Essa “pluralização de identidades” é formada ao longo da vida do sujeito inconscientemente por meio de suas vivências, suas experiências e relacionamentos, e ainda por meio da linguagem, que é de grande importância para a comunicação e a formação de idéias, ideologias e identidades. As identidades não são mais formadas somente a partir da cultura local, na modernidade, “os lugares permanecem fixos; é neles que temos „raízes‟. Entretanto, o espaço pode ser “cruzado” num piscar de olhos – por avião a jato, por fax ou por satélite” (Hall, 2005, p. 72-73). A globalização nos permite a interconexão com o mundo, logo tem um papel fundamental na formação de identidades híbridas, já que nos formamos a partir de vários contextos culturais aos quais temos acesso e conhecimento. A partir desse conhecimento, criamos nossas próprias identidades, que já não correspondem somente a tempo, lugar, história e tradições culturais, mas também ao mercado global e à vida social do presente, como afirma Woodward quando diz que “a globalização envolve uma interação entre fatores econômicos e culturais, causando mudanças nos padrões de produção e consumo, as quais por sua vez, produzem identidades novas e globalizadas” (2005, p. 20). As identidades são formadas ao longo da vida, com a interação do outro e ainda sofrendo influência dos meios educacionais e artísticos, como a literatura, a música, enfim, a arte, que pode também ser trada como parte de movimentos históricos e sociais. O grupo “O Teatro Mágico” se utiliza de diversas linguagens artísticas e traz ao seu público provocações para a reflexão sobre a reprodutibilidade massiva dos “produtos artísticos”, sobre o que gostamos ou não e ainda sobre como nos formamos sujeitos críticos perante o que nos é imposto pela mídia. 17 A massificação de “produtos culturais” é um dado inegável dessa sociedade em que os produtos colocados à venda seguem o “gosto do mercado” mais que o “gosto popular”. Na verdade, o povo, transformado em massa, é também o mercado onde serão divulgados e vendidos esses artigos. (Ostetto e Leite, 2004, p. 48). Discutindo a formação de identidade no mundo moderno e capitalista, referindo-me à massificação do mercado, trago Woodward propondo que atualmente acontece uma certa massificação cultural de gostos e identidades, que passam de local, ou seja, a cultura de determinado lugar, a cultura global, influenciada pela mídia e pelo comércio. Para a autora: A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente à comunidade e à cultura local. De forma alternativa, pode levar a uma resistência que pode fortalecer e reafirmar algumas identidades nacionais e locais ou levar ao surgimento de novas posições de identidades. (Woodward, 2005, p. 21) O trabalho d‟O Teatro Mágico se diferencia do da maioria dos artistas e músicos atuais pela utilização da internet e pela disponibilização gratuita de suas canções, fazendo questionar as leis do mercado fonográfico e estimulando seu público a pensar e refletir ainda mais sobre seu trabalho e sobre os temas discutidos neles. Para Luciana Ostetto e Maria Isabel Leite, o gosto por algo está muito ligado à cultura de massa imposta pela indústria, pois “o gosto não é natural, estamos falando de uma sociedade capitalista, uma sociedade massificada, que produz cultura de massa” (Ostetto e Leite, 2004, p. 48). Acredito que a atuação da trupe na cena musical atual surge como um incentivo para pensar a respeito do que nos é imposto, provocando-nos a resistir a essa massificação cultural, ou pelo menos a nos questionarmos como sujeitos em formação, prestando mais atenção a quem somos e quem queremos ser. Walter Benjamin nos traz a questão da reprodução massiva e técnica das obras de arte, aqui em específico a música, fazendo-nos pensar a respeito de como essa reprodutibilidade técnica e massiva desvaloriza de certa maneira a poética da obra, a sua trajetória de existência, a sua vida, e o seu “aqui e agora” (Benjamin, 1994, p. 168). Ele fala do verdadeiro valor da arte e da importância da sua acessibilidade para a formação de bagagens artísticas e culturais dos sujeitos. Entretanto, o mesmo autor reconhece que é por meio da reprodutibilidade que a 18 “obra” chega até o espectador. Logo, essa reprodução permite que o objeto reproduzido se atualize conforme sua inserção na sociedade (p. 168-169). Com a reprodução técnica da arte, ela se tornou mais acessível aos espectadores, que também se tornaram mais números graças à disponibilidade de exemplares disponibilizada na sociedade. Para Hall, essas experiências artísticas também podem ser vistas como formadoras de identidades culturais à medida que trabalham com significado e representação: À medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade descontente e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar ao menos temporariamente. (2001, p. 13) Partindo da ideia de que as identidades são formadas também a partir do contato com diversas culturas, pela arte e pela interação com o outro ser social, a reprodução técnica ganha uma certa autonomia dentro do mundo artístico, pois ela pode “[...] colocar a cópia do original em situações impossíveis para o próprio original. Ela pode principalmente, aproximar o espectador da obra [...]” (Benjamin, 1994, p. 168). Em contraste, a reprodução manual não consegue ganhar tal autonomia, ainda mais hoje em dia, que temos muitos meios de comunicação rápidos e acessíveis para interagirmos com os outros no resto do mundo por meio da internet e da televisão, por exemplo, meios de comunicação que contribuem para nossa bagagem cultural e construção identitária. Na composição “Xanéu nº 5”, a trupe relata tal identificação de nós expectadores com os conteúdos expostos na televisão, que se utiliza muitas vezes, em novelas, por exemplo, de temas comuns à vida de todos: A minha tv não se conteve Atrevida passou a ter vida Olhando pra mim. Assistindo a todos os meus segredos, minhas parcerias, dúvidas, medos, Minha tv não obedece. Mesmo com a influência dos meios de comunicação na formação dos sujeitos atuais, o “outro” como sujeito é imprescindível para as relações sociais e de formação de identidades. Para Bakhtin, “[a] alteridade define o ser humano, pois o outro é imprescindível para a sua concepção: é impossível pensar no homem fora das relações que o ligam ao outro” (Bakhtin apud Barros, 2001, p. 26). Essa 19 interação com o outro também forma nossa identidade, e hoje ela se dá também e de forma ainda mais acessível pela internet e dos meios de comunicação que temos à disposição. A tecnologia revoluciona o mundo e, com o mundo, as identidades se transformam, a forma de linguagem e de comunicação se transforma. Para Bakhtin a “linguagem é fundamental para a comunicação”, e “a interação dos interlocutores funda a linguagem” (apud Barros, 2001, p. 28), mas que essa linguagem só se dá pelo entendimento entre os interlocutores (p. 28). Num mundo tecnológico e globalizado as linguagens escritas, visuais e auditivas fazem parte da forma de se comunicar com o outro, frisando aqui o relacionamento e comunicação na internet. Essa forma de relacionamento tecnológico já faz parte da cultura atual, porém não substitui o contato humano, trago aqui o seguinte trecho da canção “Fé Solúvel”, debatendo também sobre esse modo de viver e se relacionar com o mundo. Como se pode observar, o discurso religioso e a recurso da informática se mesclam numa canção em que a identidade parece frágil, como textos deletados pelo computador, como mentiras bonitas em conversas. Minha fé em pó solúvel É... meu computador Apagou minha memória Meus textos da madrugada Tudo o que eu já salvei E o tanto que eu vou salvar Das conversas sem pressa Das mais bonitas mentiras Segundo Hall, para Kevin Robin, “ao lado da tendência em direção à homogeneização global, há também uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da „alteridade‟” (Hall, 2006 p. 77). Por meio da globalização somos induzidos a aceitar e compartilhar diversas formas de ser e pensar. Somos criados a partir do outro, que não é só mais o outro presente, mas o outro ausente, podendo ele estar a milhas de distância de nós, por meio das tecnologias criadas. Para Hall, a globalização “tem um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, e tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas; menos fixas, unificadas ou trans-históricas” (idem, p. 87). O autor segue sugerindo que no mundo atual “somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha” (idem, p. 75). Para ilustrar essa gama de 20 identidades que formam a nossa identidade, trago um trecho de uma obra d‟O Teatro Mágico, intitulada com o mesmo nome do grupo: O teatro mágico é o teatro do nosso interior A história que contamos todos os dias E ainda não nos demos conta As escolhas que fazemos em busca dos melhores atos, Dos melhores sabores, Das melhores melodias e dos melhores personagens Que nos compõem, As peças que encenamos e aquelas que nos encerram Nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada De viver a vida De sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias, O teatro nosso de cada dia Para o grupo, a identidade também parece se formar de maneira fragmentada, o que somos hoje pode não ser igual ao que seremos amanhã, como afirma Brait ao citar Bakthin e Medvedev, dizendo que “a criação ideológica não existe em nós, mas entre nós” (2001, p. 77). É o que o autor chama de “dialogismo entre sujeitos e sociedades” (idem, p. 78), que o mundo globalizado nos impõe, sugerindo que as fronteiras sejam ultrapassadas, como diz Hall, citando McGrew (1992): A “globalização” se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, interagindo e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado. (MecGrew apud Hall, 2005, p. 67) Logo surge a necessidade de aceitar e pensar no que para nós é diferente. Para Woodward “[a]s identidades são fabricadas por meio da marcação da diferença (...). A identidade, pois, não é o oposto da diferença: a identidade depende da diferença” (2005, p.39-40). Somente através do que é diferente é que aprendemos o novo, classificando assim o que é mais importante para fazer significado à nossa particularidade, construindo nossa identidade e ideologia. Os modos de pensar divergentes são constantes no mundo atual, colocando em diálogo a formação de identidade por meio da cultura local e étnica, assim como por meio da cultura massiva da globalização. Para Woodward o tempo, ou seja, a época e o modo de pensar da sociedade influenciam na formação do homem como sujeito: As identidades são produzidas em momentos particulares no tempo. Na discussão sobre mudanças globais, identidades nacionais e étnicas ressurgentes e renegociadas e sobre os desafios dos “novos movimentos sociais”e das novas definições das identidades pessoais e sexuais, surgeri 21 que as identidades são contingentes, emergindo em momentos históricos e particulares. (Woodward, 2005, p. 38) Pensando nesse dialogismo, nos valores culturais na formação de identidade, trago Barros citando o dialogismo interacional de Bakhtin, dizendo que o “sujeito, que perde o papel de centro ao ser substituído por diferentes vozes sociais que fazem dele um sujeito histórico e ideológico” (2001, p. 28). Aqui é válido ilustrar com este trecho de uma canção da trupe, “A primeira semana”, falando sobre as nossas escolhas e de como nós criamos historicamente as leis sociais vivenciadas hoje. Criou o perdão e o pecado Criou a dor e o prazer Criamos o certo e o errado E o orgulho pra nos esconder Do que prevalece em nós... Encerro este capítulo fazendo refletir sobre quem somos, o que nos influencia e como vivemos e pensamos o mundo. Pensando no que “prevalece em nós”, procurando compreender e reavaliar o que selecionamos para a nossa bagagem cultural de identidade, para nos tornarmos sujeitos cada vez melhores, temos de ser nós mesmos. Ilustro aqui com um último trecho d‟O Teatro Mágico na música “Camarada d‟água‟, o qual acredito ser a melhor forma de pensar em quem realmente sou: Viva a tua maneira Não perca a estribeira Saiba do teu valor 22 4. O TEATRO MÁGICO E AS MÍDIAS Hoje a sociedade pós-moderna vive em um ritmo acelerado, são muitas questões postas à mesa de maneira simultânea. Vivendo numa era globalizada, temos acesso a muitas informações, o que resulta numa luta de valores, identidades e crenças dentro de nós. Para Santaella, a internet ampliou o “poder de referência do termo „mídias‟ que, desde então, passou a se referir a quaisquer tipos de meios de comunicação” (Santaella apud Prado, 2002, p. 45), incluindo os programas que nos auxiliam para tais comunicações. Para a autora, a mídia e a cultura caminham juntas, já fazem parte do nosso modo de viver e aceitar o mundo, para ela “é a cultura como um todo que a cultura das mídias tende a colocar em movimento, acelerando o tráfego entre suas múltiplas formas, níveis, setores, tempos e espaços” (Santaella apud Prado, 2002, p. 49). Falando sobre mídias, trago Neto, lembrando que o Rádio “foi a primeira mídia eletrônica do Brasil” (1998, p. 2) e a internet surgiu apenas na década de 90 no Brasil, mais precisamente em 1995 (1998, p. 89). Para o autor, “com a internet, o mundo se tornou uma comunidade multicultural. A grande verdade é que a web suprimiu a questão das fronteiras e da distância entre os continentes” (Neto, 1998, p. 90), hoje ela torna o mundo globalizado e faz parte do dia a dia da maioria das pessoas. Segundo Santaella citando McLuah, “os meios de comunicação moldam a organização social porque são estruturadores das relações espaço-temporais às quais o pensamento e sensibilidade do ser humano se conformam” (2001, p. 64). A comunicação de tempos atrás, feita somente por telefone e televisão, torna-se hoje interativa por meio da internet. Agora os sujeitos têm a oportunidade de exprimir o que sentem, como pensam, quais são seus ideais, enfim, exprimem o que querem para todo o mundo em apenas alguns segundos. Com o avanço da internet, “[a] vida comum transforma-se em algo espetacular, compartilhada por milhões de olhos potenciais” (Lemos apud Prado, 2002, p. 114). O Teatro Mágico, como grupo ou “trupe” musical atuante contemporaneamente no mundo artístico, se provê da internet como principal veículo de divulgação, além dos demais, como a televisão, por exemplo. E assim, como toda boa arte, também influencia na formação de identidades, como foi 23 discutido no capítulo anterior. Dessa forma, denominam-se como um grupo de MPB (Música Popular Brasileira) e criaram o movimento denominado Nova MPB (Música para Baixar), o que torna o trabalho deles contestador, indo contra as mídias comerciais tradicionais que temos hoje. Para Anitelli, em uma entrevista para a revista (on line) Fórum em novembro de 2009: As mídias comerciais tradicionais vivem querendo criar novos talentos, novos sucessos. Por isso, um monte de gente se tranca em uma casa ou num sítio e sai de lá artista, achando que é uma pessoa representativa. É porra nenhuma! Não traz nada de debate, não contribui com nada. O artista autônomo é outra coisa, ele traz consigo o debate. É militante. Não sou artista, sou militante da música. A gente tem que pensar assim, até porque o artista já começa a ter um significado pejorativo hoje. Defendendo a bandeira da Música Livre, música sem “Jabá” (expressão utilizada para a música comercial paga), Anitelli e sua trupe começaram e continuam a agir de forma independente na cena musical. Para eles, “jabá é crime e que ninguém deve pagar isso, nem a gravadora nem o artista” (Anitelli em entrevista à Revista Fórum, 2009). A internet serve, então, para a divulgação gratuita dos trabalhos da trupe. Essa ferramenta de comunicação existe e é muito forte nos dias de hoje, concorrente forte da televisão, já que disponibiliza também programas de vídeos como o Youtube, no qual é possível assistir a vários conteúdos, aqui especificando a música, a qualquer hora. Aqui no Brasil e no mundo, uma das emissoras de conteúdo musical mais forte é a MTV, que promove intensamente a influência da internet nos telespectadores, tendo de inovar sempre seus programas e quadros para sustentar seu índice no Ibope, e é forte influente também na formação de identidades e gostos musicais das massas, já que transmite o que bem entende e lhe convém. Anitelli, na mesma entrevista à Revista Fórum em 2009 critica um programa da MTV, o VMB, que, segundo ele, “como a festa da música brasileira, podia se chamar a “festa do jabá nacional”. Anitelli continua sua crítica dizendo que não participaria de um programa onde “os melhores artistas do ano” são empresariados pela mesma pessoa, “é uma festa para promover pessoas que não fazem diferença nenhuma na música brasileira”. Anitelli segue destacando que existem também bons artistas que fazem parte desse mercado, mas salienta que “hoje em dia todo o mecanismo de comunicação que você precisa está às mãos. O grande segredo é não parar de produzir” (Anitelli, 2009). 24 O Teatro Mágico continua a produzir as suas músicas assim, de forma livre e socializada. Na internet, contam com vários sites de relacionamentos como o Youtube, o Orkut, o Facebook, o Twitter, entre outros, além do site oficial da trupe e dos sites de músicas para baixar como o palco mp3 do Terra. Sua principal mídia de divulgação é, então, a internet ou o ciberespaço, que segundo Lemos “fez com que qualquer um possa não só ser consumidor, mas também produtor de informação, emissor” (Lemos apud Prado, 2002, p. 114). Com a utilização da internet, vale ressaltar que a socialização de bens culturais e artísticos fica mais acessível a todos. Para Neto, é tão grande essa socialização, que outros meios de comunicação também se fundem a ela. Segundo o autor: O movimento é histórico; o poder de comunicar palavras, imagens, sons, vídeos, já não se limita a quem possui gráficas, emissoras de televisão ou de rádio. Hoje sabemos que o baixo custo e grande alcance da Internet estão levando a televisão, o rádio, o jornal e a revista para a rede. (Neto, 1998, p. 90) Com a globalização, as mídias de difusão cultural e artísticas também se tornam comunicadoras entre si. Para Santaella, “uma mesma informação passa de uma mídia a outra, distribuindo-se em aparições diferenciadas: partindo do rádio e televisão, continua nos jornais, repete-se nas revistas, podendo virar documentário televisivo e até filme ou mesmo livro” (Santaella apud Prado, 2002, p. 49). Esse diálogo entre as mídias favorece de certa maneira bandas independentes como O Teatro Mágico, afinal, se na internet existe uma grande procura por determinado grupo, consequentemente outras mídias como a televisão, por exemplo, tornarão a exibir de outra maneira o produto solicitado, como foi o caso da aparição da trupe em uma novela da Rede Globo em horário nobre. Santaella ainda ressalta que os meios de comunicação trazem a socialização cultural “de modo que o advento de cada novo meio de comunicação traz consigo um ciclo cultural que lhe é próprio” (Santaella apud Prado, 2002, p. 46). Apesar de as mídias favorecerem a socialização cultural, elas também agem de acordo com o sistema capitalista, visando aos índices do Ibope, lucros e vendas, atraindo consumidores, fazendo girar a moeda, podendo-se dizer que hoje esses meios também agem como formadores de opinião e identidades. A televisão, por exemplo, traz em sua linguagem os comerciais, incentivando o telespectador ao consumismo, ou seja, a colaborar com o sistema capitalista dominante na 25 atualidade. Na internet não acontece diferente, são muitos sites de compras e vendas, além das propagandas expostas em todos os sites “gratuitos”. Santaella nos alerta sobre essa característica das mídias e do ciberespaço, assim como Neto também traz sua contribuição para esse alerta: [...] longe de estar emergindo como um reino de algum modo inocente, o ciberespaço e suas experiências virtuais vêm sendo produzidos pelo capitalismo contemporâneo e estão necessariamente impregnados das formas culturais e paradigmas que são próprias do capitalismo global. (Santaella apud Prado, 2002, p. 55) E Neto também comenta: Hoje, já é possível comprar quase de tudo e mais um pouco na rede. As lojas virtuais estão se multiplicando, sinalizando que a web será um excelente canal para promover negócios, efetuar vendas e gerar lucro financeiro.(...) Com a possibilidade de transações comerciais pela Internet, as fronteiras desapareceram, acirrando cada vez mais a competitividade mundial. (Neto, 1998, p. 95) Por outro lado, Santaella nos faz refletir sobre o ciberespaço como um ótimo meio e uma boa maneira de debate e pensamentos críticos ao que nos rodeia, afinal ela: Permitem que uma pletora de vozes sejam ouvidas pelo mundo por um custo mínimo. Isso dá às redes uma constituição comunicativamente revolucionária da qual um número incontável de organizações culturais, artísticas, políticas e sociais está tirando vantagem e sem a qual essas organizações estariam marginalizadas ou silenciadas. (apud Prado p. 55) Se na era global temos a oportunidade de nos expressarmos com mais facilidade por meio de computadores, a televisão também traz seu lado positivo. Para Neto, a televisão como meio de comunicação “possui um grande envolvimento com a sociedade. Tudo o que aparece na televisão tem alto poder de exposição, tornando-a uma „janela do mundo‟, exibindo em sua tela o que está difundido na sociedade” (1998, p. 6). Entretanto, temos de pensar a respeito do que vemos e do perigo a que expomos nossas relações sociais ao tomarmos como exemplo para nossas vidas o que passa nos meios de comunicação em massa, como alerta Santaella quando diz que “quanto mais as transformações tecnológicas aceleram seu rítmo, mais as atividades humanas se reduzem à inércia, substituídas que são pelos aparelhos que levam à perda da sensação da duração, da vida corporal e social” (Santaella, 2001, p. 69). 26 Essa composição de um panorama internacional pluricultural foi intensificado, especialmente nos países centrais, a consciência das alteridades culturais, da existência do outro na sua outridade. Graças a bancos de dados cada vez mais potentes, a memória cultural da humanidade começou a se acumular e se tornar cada vez mais acessível. (...) a cultura do disponível começou a contaminar a cultura de massa com o vírus da personalização comunicativa do qual esta jamais se livraria. (Santaella, 2001, p. 67). Como foi dito anteriormente, a trupe d‟O Teatro Mágico, buscando diferenciar seu trabalho, trazendo à tona a reflexão sobre o modo de se produzir cultura e de se expressar artisticamente, se utiliza da internet como seu principal veículo midiático e de sobrevivência na era global capitalista. Eduardo E.S.Prado em seu site faz uma breve esclarecimento do modo de sobrevivência do grupo: Enquanto músicos e gravadoras do mundo todo reclamam dos prejuízos causados pela troca de arquivos na internet e pela cópia de CDs e DVDs, o Teatro Mágico usa isso a seu favor. É assim que o trabalho deles é divulgado e mais e mais fãs se somam aos já existentes. O grosso do faturamento vem dos shows, sempre sucessos de público, e da venda direta (na lojinha do site ou nas apresentações do grupo) de cds, dvds e artigos como camisetas.(Prado, 2010) É através desse meio que a trupe se comunica com o seu público, tornando mais viável a comunicação entre fãs e artistas. Em uma entrevista a um blog, Fernando Anitelli traz a visão da trupe perante o público que busca alcançar, e ainda qual a responsabilidade, digo aqui como artistas que visam em relação ao mesmo: Poxa, a gente sente o peso dessa responsabilidade, a gente sente a cada dia que passa, a cada momento que aumenta o número de pessoas que nos acompanham no Twitter, nos acompanham nas comunidades, o número de pessoas que começam a aparecer nas apresentações… E eu sempre disse que o artista tem uma responsabilidade social, ele não pode achar que circular de maneira colorida e entreter está de bom tamanho. Isso não nos cabe e não nos serve, a gente não quer isso, a gente quer justamente trazer esse debate, certas colocações, algumas críticas. Tudo o que a gente sempre fez foi junto ao público, o público sempre participou e até hoje é cada vez maior a participação dele de uma maneira colaborativa junto com o Teatro Mágico. É o público que alimenta o site com fotos, vídeos, textos, é o público que nos ajuda a arrumar lugares para a gente tocar. Nas comunidades, a gente vai e pergunta “sabe de algum lugar?”. O público dá ideia, indica. Então essa maneira de se fazer música, de se trabalhar música e se comercializar inclusive… todo nosso conteúdo foi sempre gratuito, você consegue tudo de graça na Internet, na rede, ou por 5 reais no saquinho, 10 reais na caixinha e 15 reais o DVD, todas as possibilidades para a pessoa ter acesso ao nosso material. Então é dentro desse “case”, dessa vivência, dessa experiência que a gente passa para o público essa experimentação, essa vontade de fazer as coisas junto. Tudo o que é feito de uma maneira colaborativa nos surpreende no resultado final. (Vianna, 2010). 27 A partir dos breves esclarecimentos sobre as mídias e sobre a forma de socialização cultural e de bens artísticos, podemos perceber como é feito o trabalho de artistas independente, não deixando de usufruir dos meios de comunicação, já que esses fazem parte da nossa cultura atual, que Santaella chamaria de “cultura midiática” ou ainda, referindo-se a uma sociedade “cibercultural”, na qual a utilização desses elementos torna-se indispensável na nossa formação cultural como sujeitos globalizados. A trupe vem na era da internet, mas se põe contra a indústria cultural, utilizando-se desse meio para expressar sua arte, tornando-a mais acessível a todos, usando a internet de maneira crítica e consciente como um meio de sobrevivência do grupo e de socialização de ideias. 28 5. LINGUAGENS ARTÍSTICAS “Linguagem é a faculdade que temos de representar” Turin Desde a pré-história o homem vem tentando expressar sua vida, seus sentimentos, seu cotidiano por meio de diversas linguagens artísticas e técnicas. Passando por vários períodos e fatos históricos, culturais e sociais, o ser humano, “fazendo arte”, sempre se preocupou em representar de alguma forma seus valores. Para ilustrar essa afirmação, podemos citar o quadro de Manet, “Almoço na Relva” (anexo A), no qual é retratada uma cena cotidiana do século XIX. Podemos ainda fazer um paralelo com a obra de Picasso intitulada “Guernica” (anexo B), onde o artista representa, além do fato histórico, a dor sofrida pelas pessoas que habitavam Guernica, cidade bombardeada. Se compararmos essa obra com a de Manet, acima citada, é possível perceber o quanto nos envolvemos com os sentimentos trazidos pelas imagens com as quais temos contato. Além das imagens, nos dias atuais temos também a música, o teatro e a dança, que também podem nos fazer pensar e sentir. A arte não está somente em museus, galerias e espaços específicos; a arte está nas ruas, na internet, na música, no cinema, enfim, hoje a arte vai muito além do academicismo plástico. Nós sabemos que não precisaríamos entrar em museus para visitar exposições de fotos de guerra, ou folhear os jornais diariamente, para ver retratos da dor, basta olhas para a calçada, seja da janela do nosso carro ou da rápida caminhada pelas calçadas das grandes cidades no mundo, que nos deparamos frequentemente com estas cenas. (Vitelli, 2003, p. 34) Nos dias de hoje, encontramos à nossa volta as mais diversas imagens e produções artísticas que possuem significado, expressam sentimentos, comunicam mensagens, etc. Tais idéias muitas vezes não são devidamente assimiladas por nós, espectadores, afinal vivemos em meio a um bombardeio de informações. Logo, a arte vem nos instigar a refletir sobre essas mesmas cenas cotidianas e ainda sobre as produções artísticas e culturais que se tornam parte de nossa bagagem cultural. A trupe d‟O Teatro Mágico defende a arte independente, a música livre e que deve ser acessada por todos, independentemente da classe social ou da raça, cor etnia, afinal a arte é um bem universal e deveria ser acessível a todos. 29 Ao vermos a apresentação d‟O Teatro Mágico ou os DVDs da trupe, podemos observar que trata-se de um grande sarau, com muito teatro, dança, poesia e música. A trupe se utiliza de diversas linguagens artísticas em suas apresentações. O palhaço é um dos personagens principais, caracterizado por Anitelli e pelos demais artistas. No decorrer das apresentações surge um mundo mágico, com bailarinas, malabaristas e palhaços interpretando canções e poemas em sincronia com a música. O conjunto forma um verdadeiro espetáculo artístico em que público e artistas se fundem em uma só voz. O público interage com o grupo, caracterizando-se como “personagem-palhaço” também, colaborando com a performance e ressignificando o trabalho do grupo. Falando sobre as linguagens artísticas utilizadas pelo grupo, creio que seja válido esclarecer um pouco sobre cada uma delas. Começo, então, pela linguagem do teatro. O teatro nacional começou a se desenvolver de forma tardia, aproximadamente 20 anos após a Semana da Arte Moderna de 1922, quando, segundo Cacciaglia, chegou ao Brasil o diretor polonês Zbigniew Ziembinski e trouxe consigo contribuições de grande importância para o teatro atual brasileiro. O polonês revelou o simbolismo, o expressionismo, os cenários sintéticos, a importância do som e da luz, os ritmos da dança e da mímica, as últimas inovações dos teatros alemão e russo, o teatro totalmente naturalista. (Cacciaglia, 1986, p. 107) Segundo Carlson, “[n]os anos 80, a intensa preocupação da teoria semiótica com o papel da platéia envolveu naturalmente uma atenção maior ao posicionamento social, cultural e político do evento teatral como um todo” (1997, p. 503). Na história do teatro Brasileiro, um dos grandes nomes que acredito ser válido relembrar é o do diretor Nelson Rodrigues, quando “voltou sua atenção também para a triste realidade dos subúrbios cariocas, representada pelos mitos populares alimentados pela imprensa marrom, pelo rádio e pela televisão”. (Cacciaglia, 1986, p. 109), discutindo temas sociais e fazendo as pessoas pensarem a respeito de tudo que as rodeava. Entrando no tema de teatro popular, trago Garcia afirmando que o teatro popular, feito a princípio por trabalhadores, também conhecido como “teatro de rua”, trouxe questionamentos a respeito da arte e suas concepções. A presença de uma “massa” de operários sem acesso à produção artística estimulou a reflexão sobre a arte, em especial o teatro, enquanto meio pelo 30 qual se poderia mobilizar os trabalhadores e fazer avançar a luta revolucionária” (Garcia, 2004, p. 3) Movimentos como o do teatro popular ocorreram antes em países desenvolvidos como a Alemanha, por exemplo. Segundo Garcia, surgiu nesse país um grupo intitulado Agritop, cujo intuito era de fazer oposição e resistência política, e no Brasil ele surgiu como um grupo que pensava politicamente, “contaminada por uma vanguarda militante e inovadora” (Garcia, 2004, p. 207), com pensamentos socialistas, mas trazendo consigo “a marca de uma outra tendência política, de raiz ibérica e italiana, e de um padrão muito mais tradicional de produção artística” (idem, p. 208). Em comparação com essas contribuições à nossa história teatral, analiso o trabalho do Teatro Mágico em um de seus DVDs. Logo no início podemos observar a preocupação da trupe com a arte e alguns aspectos do teatro, com a iluminação do palco e com a performance de entrada dos músicos, atores, dançarinos. Personagens são interpretados, roupas e figurinos, tudo é pensado para o grande espetáculo. Fernando Anitelli, com ironia e entusiasmo, começa o show convidando o público ao espetáculo, como se estivesse em uma arena de circo: “Senhoras e Senhores, respeitável público pagão... bem-vindos ao Teatro Mágico”. Em seguida, ele começa uma canção em que o trecho principal diz: “Por que é que não se junta tudo numa coisa só”. Nesse momento, surgem no palco os mais variados personagens: malabaristas, flautistas, cuspidores de fogo, enfim músicos e outros artistas caracterizados de palhaço, tocando e dançando ao mesmo ritmo com o público, que parece tomado por uma grande emoção, alguns se caracterizando como a trupe, embalados pela harmonia e pela energia que toma conta do lugar. Em outra composição, “O Catador de Papelão”, ocorre uma encenação, em que o personagem tema, o catador de papelão, usa uma máscara neutra e um saco de plástico (de lixo) como objeto cênico. Segundo Costa, no teatro a máscara neutra permite que o ator relacione-se “com o mundo sob a perspectiva de um outro ser, e se opera na fronteira entre o perigo e o aconchego” (Costa, 2005, p. 34). Ele passa a ser um corpo sem rosto que se expressa e tem vida, se identifica ainda mais com as pessoas e se relaciona de forma instantânea com os objetos, que por sua vez ganham um maior destaque na cena. No teatro, com a utilização da máscara, o ator 31 precisa se expressar por meio do seu corpo, buscando um tempo de atuação perfeito, improvisando e lidando com as reações do seu público. O jogo com a máscara requer, antes de tudo a investigação corporal. Ao subtrair o sistema de expressão do rosto, desvela-se o corpo que torna a ferramenta da tessitura gestual no espaço. (Costa, 2005, p. 29) Na mesma canção existem outros personagens, mas foco duas em específico, duas mulheres lendo jornal e olhando a cena do catador de papelão, o que parece sugerir a mensagem de que “o que lemos nos jornais todos os dias está à nossa volta e nem ao menos prestamos atenção”. São tais as linguagens teatrais utilizadas nas apresentações d‟O Teatro Mágico, todas regadas pelas letras das canções e pela melodia, com muita mímica e expressões corporais e circenses. Falando, ainda, sobre o teatro, trago a questão do circo-teatro. O circo, segundo Paulo Ricardo Merisio em seu artigo intitulado “Influências da indústria cultural no universo circense teatral na década de 1970”, explana sobre as mudanças ocorridas na linguagem circense ao longo do século XX (2001). Ele explana que o circo traz elementos tradicionais passados de pai para filho, como os malabaristas, os palhaços e os trapezistas. Entretanto, com as mudanças sociais e culturais, o circo não pode se ater somente a essas heranças tradicionais, mas abriu suas portas às peças teatrais. Segundo Merisio, os “momentos de crise, determinados quase sempre pelo afastamento do público, tendem a gerar mudanças na estrutura de seus espetáculos, que se abrem então para a absorção de novos elementos” (Merisio, 2010). Merisio ainda nos fala sobre como a economia influenciou essas mudanças, citando Duarte: 3 O espetáculo tradicional de circo, assentado nas variedades (acrobatas, palhaços e malabaristas), era apresentado na primeira parte, e, na segunda, podia-se assistir às peças. Essa fórmula permitia às companhias certa economia na estrutura do espetáculo, que excluía números mais dispendiosos, “tais como a apresentação de animais, motivo de gastos enormes para as companhias dados os custos de sua aquisição, alimentação e cuidados especiais”. (Duarte, 1995 apud Merisio, 2010) Além dos fatores acima mencionados, Merisio cita mais dois fatores que alteraram significativamente arte produzida pelo circo-teatro: O primeiro se refere à migração da população rural para as grandes cidades brasileiras (principalmente nas décadas de 1960 e 1970) e traz consigo uma persistente gama de costumes que deveriam manter-se incorporados ao cotidiano citadino. 32 O segundo fator de ordem mais ampla a influenciar fortemente transformações no circo-teatro está ligado à ampliação da rede dos meios de comunicação, que tende a cumprir dominantemente o papel inverso, levando para o interior o universo das grandes cidades. (Merisio, 2001) Maria Lúcia Montes (apud Merisio, 2001) nos traz uma breve reflexão sobre o que é o circo e como ele se constituiu como circo-teatro no decorrer dos tempos, lembrando ainda que hoje em dia alguns circos incluem em seus espetáculos performances e peças musicais: O circo é antes de tudo arte profissional de palhaços, acrobatas e domadores, mas essa arte, em testemunho de seus próprios produtores, se acha em decadência e o desdobramento da segunda parte do espetáculo, a comédia ou o drama, que convivia com a arte do picadeiro, acabou quase que por eliminá-la do espetáculo, dando origem aos circosteatros que se especializam unicamente nesta forma de apresentação. Isto aliado à introdução no circo dos cantores de música sertaneja, muitas vezes eles próprios autores de dramas e comédias, é considerado por alguns artistas circenses como a causa da decadência do circo, enquanto outros vêem aí o único caminho para a salvação. O fato é que a conivência entre a arte tradicional do circo e a cultura dos meios de comunicação de massa é complexa e delicada. Como espetáculo propriamente dito e como forma de entretenimento, o circo se acha mais próximo dos produtos da indústria cultural, mas apresenta uma versão própria destes no chanchar de um texto ou na paródia de um programa de sucesso na tevê. A produção deste espetáculo passa por uma rede que atravessa seletivamente os meios de comunicação de massa e compete com eles por um público acostumado a programas que vão de Zé Betio a cantores de música sertaneja, de Barros de Alencar ao Clube dos Artistas, passando por cantores e comediantes, que depois de firmada a sua reputação no circo podem ir depois para a tevê, nada excluindo que voltem ao circo para apresentações esporádicas. (Montes, 1978 apud Merisio, 2001) Sobre a linguagem da música, trago indagações sobre o seu real valor, citando Swanwick quando diz que “todos nós temos bens a negociar com os outros e somos parte de um sistema de mercado, somos parte da vida” (2004, p. 18). Olhando a música como um bem negociável, o autor nos propõe a possibilidade da ressignificação musical do sujeito que escuta a canção, da troca que existe entre ela e o seu ouvinte. Para o autor, a música pode ser vista como uma antiga forma de discurso, “um meio no qual as idéias acerca de nós mesmos e dos outros são articulados (sic) em formas sonoras” (2004, p. 19). Logo, a música toma um papel muito importante em nossas vidas, ela tem a capacidade de nos fazer refletir e compreender melhor o mundo e nós mesmos. A música faz parte da nossa vida, do nosso sistema cognitivo, “é um caminho de conhecimento, de pensamento, de sentimento” (Swanwick, 2004, p. 23) e, assim como as outras artes, desenvolve e possibilita a imaginação, a socialização de 33 aprendizados, a relação que da música com o mundo, o despertar de nossos sentimentos. É por meio de metáforas que nos relacionamos com a arte, e é nesse processo que temos a possibilidade de ver as coisas e pensá-las de forma diferente, de forma pessoal e de acordo com nossas bagagens culturais e de aprendizados que formamos ao longo da vida e que nos constitui como sujeitos. É a partir desses conhecimentos prévios que reconhecemos formas e as associamos às linguagens. É a partir das semelhanças entre as coisas que aprendemos a formar o pensamento metafórico, “o processo metafórico reside no coração da ação criativa, capacitando-nos a abrir novas fronteiras, tornando possível para nós reconstruir idéias, ver as coisas de forma diferente” (Swanwick, 2004, p. 26), possibilitando ao sujeito tornar-se cada vez mais humano. O processo musical metafórico acontece quando escutamos notas como melodias, e essas nos remetem a alguma emoção ou sentimento. O sujeito assume uma nova relação com a música, ressignificação de acordo com suas experiências e, quando escuta os sons da música, prestando atenção nos sons isoladamente, percebendo “um sentido de peso, espaço, tempo e fluência. Normalmente fazemos isso facilmente, exceto quando a música é muito diferente para nós” (idem, 2004, p. 30). É por esse processo metafórico que o criador de música e o ouvinte percebem o verdadeiro valor da música para si, pois é um valor que se dá de maneira dialógica. O autor também nos remete à questão da diversidade cultural e suas influências nos modos de fazer e ouvir música. Sendo a música um discurso metafórico, ela pode ir além da sua ideia inicial e ser compreendida de diferentes maneiras, conforme cada um que a escuta. A música não somente possui um papel na reprodução cultural e afirmação social, mas também potencial para promover o desenvolvimento individual, a renovação cultural, a evolução social, a mudança. (Swanwick, 2004, p. 40) Para Swanwick, a música “como todas as formas de discurso liga o espaço entre indivíduos e entre diferentes grupos culturais” (2004, p. 42). Muitas pessoas se caracterizam e se formam como sujeitos participativos de grupos sociais por meio da música, mas o importante é que aconteça a troca entre “grupos sonoros”, para que se transcenda a realidade e se recriem novas maneiras de pensar e ver o diferente, para que enfim se crie uma bagagem musical. 34 Nas apresentações d‟O Teatro Mágico, as músicas são compostas com instrumentos tradicionais, tais como violão, violino, flauta, bateria, etc. e com a utilização de instrumentos e efeitos sonoros, como sons de cachorro latindo, buzinas de carros etc., além de sons como o beatbox, expressão em inglês que significa caixa de batida, referindo-se à “percussão vocal do hip-hop” (Wikipédia) e de instrumentos diferentes para a nossa cultura, como é o caso do didgeridoo, “um instrumento de sopro muito antigo dos aborígenes australianos. “Estudos arqueológicos baseados em pinturas rupestres sugerem que o povo aborígine da região de Kakadu já utilizava o didjeridu há cerca de 1.500 anos” (Wikipédia), o que nos remete à discussão sobre identidades e culturas. Ainda é válido citar o músico que toca percussão, ele se veste de palhaço, estilizado, meio africano tribal, e também faz refletir sobre a questão da discussão sobre a identidade cultural. Assim como na canção em que diz “como pode um peixe vivo viver fora d‟água fria”, canção popular brasileira em nova versão, com direito a apresentação teatral e de dança. Anitelli convida o público a cantar junto com ele, quando saem de traz do palco vários bailarinos segurando vários arcos grudados uns nos outros e enfeitados com tiras de pano, como se fosse a água e as pessoas os peixes, mostrando uma bela coreografia de dança com o auxílio desse objeto que traz mais movimento à expressão corporal. Ao ouvirmos uma música, podemos senti-la de diversas formas, com o coração, sentimentalmente, identificando nossa vida com a trilha sonora, com o nosso intelecto, pensando a respeito do que está sendo dito, utilizando os conhecimentos prévios adquiridos, como perceber o som de certos instrumentos, reconhecendo a linguagem técnica da música e ainda com o corpo, sentindo o ritmo, “dançando conforme a música”. Esse ditado popular pode refletir muito sobre o que é a dança. Para Klauss Vianna, “a expressão corporal reflete tudo que sou: minha história, o que penso, como sinto. Vida interior e expressão corporal são coisas inseparáveis” (2005, p. 148). Corpo e mente em movimento, sincronicamente exprimindo sentimentos, revelando o eu-interior de cada um através do movimento corporal. “O homem é uno em sua expressão: não é o espírito que se inquieta nem o corpo que se contrai – é a pessoa inteira que se exprime” (Vianna, 2005, p. 150). A trupe d‟O Teatro Mágico traz em sua essência todas essas linguagens artísticas, trazendo elementos do circo, a poesia, a música, a dança e a performance 35 no palco como um sarau, misturando diversas linguagens que se completam nas suas apresentações. Atuam de maneira similar ao circo, que se situa “a meio caminho entre a indústria cultural e as manifestações espontâneas, mas não é simplesmente um repetidor de uma e outras, pois quando delas se apropria submete-as a um processo de reelaboração, recodificação, produzindo assim um discurso que leva a sua marca” (Magnani, 1984, p. 47). Como sugere a citação de Magnani sobre o circo, acredito que a trupe criou a sua marca com todas essas linguagens, trazendo por meio da arte a mensagem ou a crítica, ou ainda buscando que seu público reflita a respeito da realidade. 36 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS “Debruçar-se sobre uma produção cultural que é dominantemente percebida como popular requer difícil exercício metodológico. É preciso levar em conta as características específicas do universo que está sendo analisado para que se possam perceber em seu interior sistemas definidores de suas estruturas artísticas.” (Paulo Ricardo Merísio) Lembrando as palavras citadas acima de Merísio, concluo esta monografia percebendo que muito ainda há de se pesquisar sobre, por exemplo, as linguagens artísticas, as mídias e a formação de identidades. Busquei aqui esclarecer como se dão esses processos, analisando em específico o trabalho e a forma de fazê-lo da trupe do O Teatro Mágico. Como artistas, eles são formadores de opinião, têm em seu trabalho um perfil de resistência à cultura massiva que nos assedia todos os dias. Trazendo questões sobre como se dá a formação da nossa identidade cultural e ainda sobre a subjetividade de cada cultura, busquei discutir a formação de identidade a partir do próprio grupo, com suas canções e modo de pensar e agir quanto artistas. O Teatro Mágico, banda formada em Osasco (SP) no ano de 2003 e autodenominada independente e adepta do movimento MPB (Música para Baixar), busca com essa atitude socializar a sua arte, que tem características questionadoras e contestadoras ao desenvolverem temas sociais, como o analfabetismo, o capitalismo, o preconceito, etc. Disponibilizando seu trabalho gratuitamente pela internet, o grupo se apresenta como “livre e resistente” à indústria fonográfica, conseguindo formar uma legião de fãs que acompanham seu trabalho pela internet e assistindo aos shows. Alguns buscam até mesmo se caracterizar como os integrantes da trupe, que ainda tem como diferencial o grande número de seus integrantes-artistas, entre eles, músicos, malabaristas, atores, dançarinos, palhaços e trapezistas. É misturando “Tudo numa coisa só‟, como diria uma das canções d‟O teatro Mágico, que se dá a apresentação da trupe, que busca revelar para si e para o outro os inúmeros personagens que assumimos diariamente. Pensando nesses personagens internos é que Fernando Anitelli, resolveu nomear o primeiro disco da trupe como Entrada para Raros, também no ano de 2003, inspirado no livro O Lobo 37 da Estepe, do escritor Hermann Hesse, no qual uma das personagens vive em conflito com suas diversas identidades. Falando sobre personagens internos, trouxe neste trabalho alguns teóricos conceituados, como Stuart Hall, para falar sobre a formação de identidade. Ao longo da nossa vida, assumimos diversas identidades conforme os círculos sociais com os quais nos relacionamos. O “palhaço” surge nas apresentações da trupe como esses personagens internos que descobrimos dentro de nós diariamente. Hoje em dia, com a globalização, a formação de identidade se dá de forma cada vez mais fragmentada e o contato com o outro é modificado pelo advento da internet. As identidades se chocam, afinal são as diversas informações e modelos de identidades herdadas culturalmente e socialmente com as quais temos de lidar para formar a nossa própria forma de agir, pensar e ainda de aceitar o outro que, como sujeito, também carrega suas particularidades, enfim suas identidades. As mídias são importantes veículos de comunicação e têm, perante as grandes massas, um papel fundamental na formação de opinião e na socialização da arte assim como dos pensamentos. A internet fez implementar a globalização, com o livre acesso e trânsito de informações a todos os cantos do mundo. O Teatro Mágico se utiliza da internet para divulgar de forma acessível o seu trabalho, preferindo não se adaptar cegamente à indústria musical, que de certa forma cria artistas que lhe convém, buscando muitas vezes somente o valor comercial, não levando em consideração o verdadeiro valor artístico e crítico da arte. Como arte, o trabalho da trupe vem questionando e buscando mostrar diversas linguagens artísticas, como o teatro, quando em seus shows fazem encenações durante as músicas, a própria música, que é carregada de valores estéticos, trazendo em sua poesia temas a serem refletidos socialmente, sobre o nosso cotidiano moderno e sobre as coisas que acontecem diariamente e às vezes nem percebemos pela correria do dia-a-dia. A dança, carregada de coreografia, misturada a malabares e trapézio, mostra a arte realizada com o próprio corpo, misturando tudo como um grande circo. Assim O Teatro Mágico se expressa e mantem seu lugar garantido na cena musical contemporânea. 38 7. Anexos Anexo A http://assuntosdaana.blogspot.com/ 39 Anexo B http://www.cursodehistoriadaarte.com.br/lopreto/index.php/page/39/ 40 8. REFERÊNCIAS ANITELLI, Fernando. A nova MPB é música pra baixar. Entrevista de Fernando Anitelli a Renato Rovari. Revista Forum, dez. 2009. 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