Profissionalismo - Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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E D I Ç Ã O
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O U T / N O V / D E Z
2 0 1 3
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Profissionalismo
Hospital Alemão Oswaldo Cruz tem novo Superintendente Executivo
Págs. 18 a 21
Personagem
HAOC
Dr. Ricardo Vitor Cohen
é reconhecido por
liderança em pesquisas
pioneiras
Pág. 09
Educação
Instituto de Educação e Ciências em
Saúde amplia suas ações e parcerias
Págs. 12 e 13
Revisão Sistemática
A Farmacogenômica como solução à
variação na resposta aos fármacos
Págs. 24 e 25
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GIRO PELO HOSPITAL
Nova etapa no
relacionamento médico
15
e 16
22
10
e 23
e 11
COMO EU TRATO
Acidente Vascular Cerebral
Isquêmico (AVCI)
EXAMES
Quantificação das
subpopulações linfocitárias
e cultura de linfócitos
Uso da citometria de fluxo na
avaliação da imunidade celular
ENTREVISTA
Terapia nutricional
12
e 13
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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
E CIÊNCIAS EM SAÚDE
IECS amplia gama de ações
TEMPO LIVRE
Bem-estar para corpo e
mente
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e 27
28
e 29
ARTIGO INTERNACIONAL
Exame imuno-histoquímico
na detecção de mutações
BRAFV600E em neoplasias
EVENTOS EM DESTAQUE
I Jornada de
Qualidade e Segurança
Jornada de Prevenção e
Controle de Infecção Hospitalar
31
LIVRARIA
Ascensão, tragédia
e glória na
Renascença Italiana
EDITORIAL
OTIMISMO BASEADO EM RESULTADOS
C
aminhando para a conclusão do ano de 2013 e avaliando os avanços alcançados até o momento, tenho a convicção de que podemos ficar ainda
mais otimistas para o ano que se aproxima.
Depois de evoluir com a entrega de uma série de melhorias relacionadas às demandas apresentadas ao longo dos Fóruns Médicos, criar uma nova Política de
Relacionamento, que começará a vigorar já em janeiro, construir uma nova área
e desenvolver benefícios específicos para os membros do Corpo Clínico, acredito
que lançamos a pedra fundamental para a construção do Hospital que queremos ter.
A participação e o envolvimento de todos permitiu que alcançássemos essas
melhorias que, tenho certeza, serão também fundamentais e decisivas para que
continuemos a avançar nesse sentido.
Parte de um projeto que teve apoio irrestrito do Superintendente Executivo, José
Henrique do Prado Fay e que, da mesma forma, seguirá com o envolvimento de
Paulo Bastian, que assume o cargo em janeiro, teremos ainda um longo caminho
pela frente, mas queremos garantir a todos as condições ideais para percorrê-lo.
Dr. Mauro Medeiros Borges
Superintendente Médico
O CONCEITO DO MÉDICO SOLIDÁRIO
A
aposentadoria, este ano, de nosso grande mestre e professor Emil Sabbaga me fez refletir sobre a carreira médica atual. Sua brilhante e vitoriosa
carreira teve como resultante o sucesso profissional. E este sucesso se
deu por ter sido um médico completo na área assistencial e acadêmica, construindo uma marcante relação médico-paciente e tornando-se uma referência
a seus alunos e colegas. Mas, hoje em dia, como são os médicos que obtêm
sucesso? E como serão daqui a 10 anos?
Acredito que todas essas características são fundamentais e funcionam como
um pré-requisito, mas, atualmente, esta tendência parece que vai dominar os
próximos anos. Os médicos, além disso, necessitarão construir fortes vínculos
com instituições assistenciais renomadas. Estes vínculos irão, certamente, pavimentar o caminho dos médicos até o êxito profissional, associando mecanismos
que irão facilitar e contribuir com sua assistência ao paciente, bem como promover educação médica contínua de fácil acesso. Ou seja, no mesmo ambiente
de trabalho, ele assiste seus pacientes com extrema qualidade e se atualiza e
recicla em sua prática médica.
Para que esses vínculos existam, os médicos terão de ter uma postura solidária
às instituições, à sua história, trajetória e às suas diretrizes atuais, respeitando
e integrando-se aos caminhos adotados por elas. Ao mesmo tempo, estas instituições terão de ser solidárias aos melhores profissionais, apoiando-os, promovendo-os e encaminhando-os até o tão almejado sucesso profissional.
Dr. Marcelo Ferraz Sampaio
Diretor Clínico
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Visão Médica
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GIRO PELO HOSPITAL
Nova etapa no
relacionamento médico
E
m evento realizado no dia 15 de outubro, com
a presença de, aproximadamente, 150 médicos, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz apresentou os avanços alcançados por meio do projeto de
aperfeiçoamento do relacionamento Institucional
com o Corpo Clínico, elaborado a partir dos Fóruns
Médicos. No encontro, que contou com a participação do time Executivo e do Presidente do Conselho
Deliberativo da Instituição, o Superintendente Médico, Dr. Mauro Medeiros Borges, detalhou os resultados do trabalho realizado em conjunto para aperfeiçoar o dia a dia dos profissionais.
“Depois dos fóruns, nos concentramos naquilo que,
em conjunto, entendemos que eram as grandes
prioridades. Os importantes avanços alcançados até
aqui, como o acesso às informações de repasse, a
criação da nova área de Relacionamento Médico, o
Tasy Mobile e, principalmente, a nova política de relacionamento que, com novos critérios de pontuação
e qualificação, baseados nos pilares de Qualidade,
Identidade Institucional, Educação e Pesquisa, começa a vigorar já em janeiro de 2014, representam
os primeiros passos de um projeto de fortalecimento Institucional e evolução”, explica.
Trabalho contínuo
Além de cumprimentar o Corpo Clínico pelo Dia do
Médico, comemorado no dia 18, Marcelo Lacerda
ressaltou o novo momento vivido pelo Hospital e a
importância do envolvimento de todos para a perpetuidade dos avanços. “Hoje, evoluímos em um ritmo
diferente. Isso porque vivemos um contexto diferente
no segmento de saúde e é exatamente este cenário
que precisamos entender. Realizamos os fóruns e
empreendemos, com a participação de vocês, este
primeiro ciclo de melhorias. Agora, iniciamos uma
nova etapa e, para que alcancemos os resultados que
queremos, vamos continuar realizando encontros permanentes com médicos, além das equipes executiva,
assistenciais e associados”, reforçou.
Dr. Mauro Medeiros Borges
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Visão Médica
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GIRO PELO HOSPITAL
Vinte anos de TMO
N
o dia 24 de outubro, em uma celebração especial
que contou que contou com a participação de cerca
de 200 pessoas, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz
comemorou o 20º aniversário do primeiro transplante de
medula óssea (TMO) realizado pela Instituição.
Na ocasião, além de reverenciar o procedimento realizado
em 1993 pelos Drs. Frederico Dulley, Mauricio Ostronoff,
Edmilson Zambon e Celso Massumoto, foram homenageados os membros das equipes multidisciplinares da Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia, Radio e Quimioterapia, que
contribuem para o atendimento aos pacientes, e o Dr. Luis
Fernando Bouzas, lembrado como médico que contribuiu
de forma consistente para a evolução dos transplantes
no Brasil. A senhora Gleice, primeira doadora de medula
óssea para receptor não aparentado, fez questão de participar da celebração e também foi homenageada durante
o evento.
“Aquele primeiro transplante, abriu caminho para a criação
da Unidade de TMO e colaborou para que o Hospital desenvolvesse condições para, hoje, integrar um grupo seleto
de instituições que realizam desde os transplantes autólo-
go e alogênico aparentado,
até aqueles que utilizam o
cordão umbilical e medulas de doadores não aparentados, provenientes de
qualquer lugar do mundo”,
explica Dr. Celso.
De acordo com o médico,
esta condição de excelência
permite ao Hospital participar de um programa de benemerência para a coleta e o transplante de medula óssea
de pessoas cadastradas nos Registros de Doadores e Receptores de Medula Óssea (Redome/Rereme). “Recebemos
a autorização para a realização de 54 coletas em um período de dois anos. Com isto, o Hospital auxilia o programa
Redome/Rereme de uma forma muito importante, já que
poucos centros se dispõem a realizar o procedimento devido a sua complexidade”, explica.
Dr. Celso Massumoto
De acordo com Dr. Celso, hoje, 20 anos depois do seu primeiro
TMO, o Hospital contabiliza 226 pacientes transplantados.
Mais que bem-estar
O
Programa Bem-Estar, desenvolvido pelo
Centro de Atenção ao Colaborador (CASC)
do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, foi reconhecido com o Prêmio Saúde 2013 da Editora Abril,
na categoria Saúde nas Empresas.
Criado em 2010, com base nos conceitos do Health Improvement Program (HIP), da Stanford University School of
Medicine, o programa tem o objetivo de contribuir para
que os colaboradores do Hospital tenham um estilo de
vida mais saudável e equilibrado.
Com melhoras relacionadas à prática de atividades físicas
e alimentação saudável, além da manutenção dos baixos
índices de tabagismo e do consumo de álcool entre os colaboradores, o Programa tem sido muito bem avaliado por
seus participantes. Na última pesquisa de satisfação, por
exemplo, 98% dos beneficiados disseram estar mais motivados depois da adesão ao Programa e 94% afirmaram
estar satisfeitos com a Equipe Assistencial das atividades.
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Para Dr. Rodrigo Bornhausen Demarch, Gerente de
Qualidade de Vida e Saúde
do Hospital, esta avaliação
reforça os bons resultados
alcançados nestes mais
de três anos de trabalho. “Hoje, a academia do
Hospital conta com 600
frequentadores, número
quase cinco vezes maior que o alcançado no início do
Programa. A variação com relação ao índice de falta nas
consultas médicas periódicas também é bem impressionante. As ausências, que eram de 48% em 2009, passaram para 8% em 2010 e diminuíram para 1% em 2011
e 2012. Sem dúvida, estamos muito orgulhosos com esta
conquista, que reflete o trabalho e a dedicação de nossa
equipe multidisciplinar, mas também o benefício e a qualidade de vida oferecido aos colaboradores do Hospital.”
Visão Médica
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GIRO PELO HOSPITAL
Guia para a Memória
A
neuropsicóloga Gislaine Gil, que
atua no Instituto de Geriatria e
Gerontologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, acaba de lançar,
em parceria com o geriatra Alexandre
Busse, o livro ‘Ensinar a Lembrar: Guia
Prático Para Ajudar a Reconhecer e
Melhorar Problemas de Memória’.
“Esquecer o nome de pessoas é algo comum? E repetir várias vezes o mesmo assunto? É normal? É comum que as pessoas
tenham esse tipo de dúvida. Por isso, o guia
tem o objetivo de auxiliar na criação de estratégias cognitivas para contornar ou minimizar problemas, beneficiando tanto aqueles que sofrem de algum tipo de ausência de memória quanto às
pessoas que cuidam ou os auxiliam”, explica a autora.
De acordo com a neuropsicóloga, distinguir lapsos
corriqueiros e fatores representativos de uma doença nem sempre é tarefa fácil. Por isso, além de auxiliar na identificação, por meio de testes rápidos e
eficientes, a obra abrange patologias como a doença
de Alzheimer e o estágio que a precede, caracterizada por um comprometimento cognitivo leve. “O livro
Gislaine Gil e Alexandre Busse
conta com uma abordagem bastante interessante
sobre diagnóstico, tratamento e dúvidas, trazendo
uma visão otimista dos estudos de neuroplasticidade, que é a matéria-prima atual das neurociências,
para a criação de novas estratégias no tratamento
de pessoa com dificuldade de memória”, explica.
Lançado no dia 26 de novembro, em São Paulo, o guia
já está disponível nas principais livrarias do País.
Cirurgião do Hospital recebe
Prêmio Jabuti
E
m cerimônia realizada no dia 13 de novembro, na Sala São Paulo, a Câmara Brasileira
do Livro realizou a entrega de uma das mais
tradicionais premiações literárias do País: o Prêmio
Jabuti. Entre os premiados desta 55ª edição da cerimônia, estava o presidente da Sociedade Brasileira
de Coloproctologia e cirurgião do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz, Dr. Fábio Guilherme Campos, que ficou com a terceira colocação na categoria Livro de
Ciências da Saúde.
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Visão Médica
Editado pelo cirurgião e lançado em 2012 pela editora
Atheneu, o ‘Tratado de Coloproctologia’ é o registro da
experiência de numerosos especialistas no diagnóstico
e tratamento das diversas afecções colorretais. A obra,
que apresenta os principais avanços dos últimos anos
nas áreas de técnica operatória, tratamento farmacológico, biologia molecular, imagenologia, anatomia patológica e outros, pode servir como fonte de referência
para o cirurgião geral e principalmente para o coloproctologista que se dedica à especialidade no dia a dia.
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GIRO PELO HOSPITAL
O Passado Vivo
Foto do corredor do Bloco A.
Dicas do Tasy
No momento da prescrição, no campo ‘Seleção de dietas’, é possível verificar detalhes sobre consistência e composição das preparações?
Sim. Ao posicionar o cursor sobre determinado item, surgirá uma caixa de texto contendo detalhes sobre a preparação, como demonstrado na imagem abaixo:
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Visão Médica
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GIRO PELO HOSPITAL
QUAL É A SUA OPINIÃO?
Cinco Perguntas
Essenciais para 2014
E
laboradas há quase duas décadas pelo austríaco Peter
Drucker, algumas questões são utilizadas por diversas
organizações do setor social para a realização de autoavaliações estratégicas e eficientes. Relevantes e atuais,
os questionamentos podem ser empregados com resultados
muitos positivos a qualquer tipo de organização. No caso de
um consultório ou empresa, por exemplo, estas avaliações
podem ser utilizadas como ponto de partida para planejar o
futuro de maneira adequada.
Qual é a nossa missão?
O objetivo desta pergunta é proporcionar entendimento
pleno sobre o real motivo de existência da organização. Ela
precisa ter um significado maior e é reponsabilidade da liderança garantir o conhecimento, a compreensão e a vivência da missão por todas as partes interessadas. Uma boa
declaração de missão deve sempre retratar oportunidades,
competências e comprometimento.
Quem é o nosso cliente?
É importante que seja identificado o cliente principal para,
com isso, estabelecer foco e priorização de ações para a conquista e manutenção deste público-alvo. Ele está relacionado
diretamente às entregas realizadas pelos processos de negócio da organização.
O que ele valoriza?
A definição de valor por parte do cliente é tão variável quanto o grupo de que ele faz parte, mas é importante ratificar a
necessidade de coleta dessas informações. Com elas, a organização começa a adquirir uma capacidade cada vez maior de
criação de serviços mais atrativos e eficientes.
Quais são os nossos resultados?
É de vital importância uma avaliação sobre os resultados alcançados por uma organização, considerando medidas qualitativas e quantitativas. Trata-se de uma reflexão para verificar
se os resultados obtidos estão coerentes, se as entregas estão
ocorrendo de forma adequada, eficiente e sem desperdícios
de recursos.
Qual é o nosso plano?
O resultado da resposta às quatro perguntas anteriores deve
proporcionar um entendimento avançado sobre a organização
dentro deste processo de autoavaliação e ajudar na definição
de metas corporativas. O processo de planejar deve cobrir a
tradução de metas estratégicas em ações realizáveis e controláveis – sem nunca perder a clareza sobre o motivo pelo qual
tudo está sendo feito: o cliente.
Celso Hideo Fujisawa
[email protected]
(11) 3469-8788 / (11) 99975-1186
Qual é a sua opinião?
Caso relatado por Andréa Vinche Badra Pavani, Thomaz Nader Bassitt, Flávio Ferrarini de Oliveira Pimentel, Serli
Kiyomi Nakao Ueda , Ciro Kirchenchtejn, Gilberto Turcato Jr. e Ruy Rodrigues Galves Jr.
Paciente masculino, 66 anos, ex-tabagista, DPOC, chegou ao Pronto Atendimento de nosso serviço, com sintomas gripais
associados à dispneia há um dia. Ao exame clínico, apresentava regular estado geral, dispneico com utilização de musculatura respiratória acessória, com saturação de 72%. Foi então internado, realizados exames laboratoriais e de imagem,
dentre estes, uma tomografia computadorizada de tórax (imagens abaixo ilustradas).
Resposta na pág. 27
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Visão Médica
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PERSONAGEM HAOC
Talento para
fazer a diferença
E
m 1984, o jovem Ricardo Vitor Cohen concluía o curso de Medicina, no qual ingressara aos
16 anos de idade, com duas certezas. A primeira era a de que tinha feito a escolha certa ao
optar pela profissão. A segunda, a preferência pela cirurgia, área em que, anos mais tarde,
doutorou-se e em que desenvolveu pesquisas que projetaram seu nome internacionalmente.
Às vésperas de completar 30 anos de carreira, 15 como membro do Corpo Clínico do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz, o médico do Centro de Excelência em Cirurgia Bariátrica e Metabólica da
Instituição construiu uma trajetória de sucesso, baseada no talento e no arrojo.
Líder em pesquisas pioneiras, o médico recorda os obstáculos enfrentados no início
do trabalho e garante: valeu a pena. Ao realizar, pela primeira vez no mundo, uma
cirurgia gastrointestinal para tratar diabetes em pacientes que não sofriam de
obesidade grave, médico e Instituição assumiram suas respectivas posições
na vanguarda do tratamento cirúrgico do diabetes tipo 2.
“O filósofo alemão Arthur Schopenhauer dizia que qualquer verdade passa por três estágios. Primeiro, ela é ridicularizada, depois, violentamente
combatida e, por fim, é aceita como óbvia e evidente. Na pesquisa relacionada ao diabetes, ocorreu exatamente a mesma coisa. Apesar da
desconfiança, seguimos em frente e os resultados, como esperávamos,
foram excepcionais. Posso dizer que, todo este esforço contribuiu para
o avanço no tratamento da doença que, ainda hoje, é responsável por
tantas mortes e complicações em todo o mundo”, explica Dr. Cohen.
Reconhecimento mundial
A liderança neste tipo de pesquisa e o êxito na realização dos
procedimentos ultrapassaram fronteiras e garantiram ao Dr.
Cohen reconhecimento mundial. Depois de receber, em 2012,
um troféu pelo trabalho que desenvolveu para controle do diabetes, o cirurgião foi nomeado pela Sociedade Americana de
Cirurgia Metabólica e Bariátrica (ASMBS) como um dos 30 médicos que fizeram a diferença na última década.
“Esta nomeação, que ocorreu no ano do 30º aniversário da
ASMBS, é algo que, sem dúvida, tem um valor muito grande
e que atesta o trabalho desenvolvido nestes quase 30 anos
de carreira. Posso dizer que, no Hospital, já protagonizamos um
momento histórico com a cirurgia para o controle do diabetes,
mas ainda temos novos e importantes desafios pela frente. Hoje
a Instituição já ocupa lugar de destaque como centro de pesquisa para o controle de doenças metabólicas, mas tenho certeza
de que pode se tornar uma referência mundial. No que depender
de mim, será”, conclui.
Dr. Ricardo Vitor Cohen
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Visão Médica
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ENTREVISTA
Terapia Nutricional
representa reforço importante
durante internação
H
á pelo menos 40 anos, a Terapia Nutricional
(TN) apresenta-se como um reforço estratégico que pode ser associado a intervenções
e tratamentos que exigem internações hospitalares.
Entrevistado pela Visão Médica, Dr. Andrea Bottoni,
Médico Nutrólogo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz,
Mestre em Nutrição e Doutor em Ciências pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp),
Coordenador da empresa Funzionali, falou sobre a
importância da interdisciplinaridade, assim como da
ampliação do debate sobre a aplicabilidade da Nutrição Clínica como suporte, tanto no diagnóstico quanto no tratamento de pacientes internados.
Visão Médica: Hoje a TN é defendida como um
recurso estratégico para a redução de complicações hospitalares e mesmo da taxa de mortalidade. A que se deve este tipo de constatação?
Dr. Andrea Bottoni: A terapia nutricional propicia, entre outros benefícios, redução na morbidade,
melhora no tempo de cicatrização, melhora na imunidade celular e a diminuição do tempo de internação. Hoje, quando se comparam pacientes nutridos e
desnutridos em um mesmo estado mórbido, além de
exigir um período de internação maior, com alto custo
hospitalar e social, a morbimortalidade no primeiro
grupo chega a ser duas vezes maior. Alem disso, considerando diferentes estudos e critérios utilizados, a
prevalência da desnutrição hospitalar pode variar de
20% a 50%. Estes dados, acompanhados por evidências científicas que suportam esta afirmação há pelo
menos quatro décadas, demonstram que a TN não é
apenas um recurso estratégico, mas também fundamental quando se trata de condições para o oferecimento de outros serviços e intervenções hospitalares.
Visão Médica: Com tantos benefícios, a TN conseguiu se estabelecer como uma prática comum
nos serviços Hospitalares?
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Visão Médica
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ENTREVISTA
Dr. Andrea Bottoni: Por meio da portaria SVS/MS
272/1998 e da resolução RCD 63/2000, o Ministério
da Saúde exige que todo hospital tenha uma equipe
direcionada para a prática adequada de TN em seus
pacientes, mas, infelizmente, este tipo de trabalho
ainda não alcançou o estágio considerado adequado. De acordo com dados do Inquérito Brasileiro de
Avaliação Nutricional Hospitalar (Ibranutri), obtidos
em um estudo realizado em vários hospitais, de diferentes regiões do país e com cerca de 4 mil pacientes, metade dos indivíduos internados em hospitais
públicos brasileiros encontra-se desnutrida. O levantamento atestou, com isso, uma reduzida consciência das equipes multiprofissionais de saúde quando
o assunto é a pratica da TN. O estudo aponta que
85% dos pacientes não tiveram qualquer referência
sobre seu estado nutricional e 10% receberam nutrição enteral, número considerado baixo pela literatura especializada.
Visão Médica: Mas quais são as atribuições de
uma EMTN?
Dr. Andrea Bottoni: A formação de uma equipe
multiprofissional, como a que temos aqui no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, tem como objetivo melhorar a prática TN. Sua estrutura, claro, pode variar
de acordo com tamanho, as características e o perfil
da instituição, mas deve ser constituída por, no mínimo, um profissional da área de Medicina, Nutrição,
Enfermagem e Farmácia. Nesta atuação multiprofissional, capaz de agregar confiabilidade e segurança com relação à fonte dos produtos utilizados e à
possibilidade de conduzir adequadamente a TN, a
equipe realiza avaliações periódicas (clínicas e laboratoriais) dos pacientes desnutridos, assim como
daqueles sob o risco de desnutrição intra-hospitalar,
cobrindo todas as atribuições e objetivos estabelecidos pela legislação do Ministério da Saúde. Mas
assim como a atuação multiprofissional mostra-se
fundamental no caso das EMTNs, difundir informações sobre a TN para as outras áreas é indispensável. Por isso, temos tentado ampliar o debate e a
participação de um número cada vez maior de áreas
e profissionais. Foi o que aconteceu, por exemplo, no
1º Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea, que reuniu cerca de 180 profissionais
em nosso Hospital.
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Visão Médica
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INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
IECS amplia gama de ações
C
om um conjunto de ações para capacitação e
formação profissional, o Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) do Hospital
Alemão Oswaldo Cruz tem ampliado sua atuação
como um núcleo de aprimoramento educacional.
Além do início das aulas na Escola Técnica de Educação em Saúde (ETES), no mês de setembro, e do
processo seletivo para os novos participantes dos
Programas de Residência Médica em Anestesiologia
e Medicina Intensiva, o IECS fortaleceu sua participação nos projetos educacionais em apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS) e criou novas parcerias
que evidenciam sua vocação como centro de geração e disseminação de conhecimentos em saúde.
Parcerias
Em outubro, o Hospital e a Universidade Presbiteriana Mackenzie firmaram um acordo de cooperação
para o desenvolvimento de atividades.
“Profissionais de ambas as Instituições já iniciaram
os trabalhos de identificação de projetos educacionais e de pesquisa de interesse comum, tendo em
conta os diferenciais que as duas instituições possuem em suas respectivas áreas de atuação. Entre
as áreas em prospecção estão as de nanotecnologia e de imagens médicas. As expectativas são as
melhores possíveis e tenho certeza de que teremos
grandes avanços para compartilhar em breve”, afirma o Superintendente de Educação e Ciências, Dr.
Jefferson Fernandes.
12
Visão Médica
edição
14Nov/
• Janeiro
edição 17
• Out/
Dez • 2013
INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Já em 2014, o Hospital lançará, em parceria com a HSM
Educação, seu novo MBA em Gestão das Organizações
de Saúde. Parte do Programa de Pós-Graduação Lato
Sensu do IECS, o curso busca desenvolver competências essenciais aos gestores e, por isso, conta com
proposta pedagógica que pretende proporcionar uma
experiência de aprendizado global e contemporânea.
Com carga horária de 556 horas e conteúdo composto por atividades educacionais, vídeos e cases
exclusivos desenvolvidos por alguns dos maiores experts do management mundial, além de ambiente
virtual e C-Book (Collaborative Book), o curso dará
aos alunos a oportunidade de participar dos eventos
organizados pela HSM, como o ExpoManagement.
Educação para o
Desenvolvimento do
SUS
Como parte do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento
Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS),
o IECS possui três ações em andamento: Apoio à
Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS), Capacitação em Pesquisa Clínica e
Formação de Preceptores em Residência Médica.
Dentro da iniciativa de apoio à REBRATS, o IECS já
atua na capacitação de sua segunda turma no MBA
em Economia e Avaliação de Tecnologias em Saúde,
realizado em parceria com a Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (FIPE). Outra ação de apoio
à REBRATS e que avança neste sentido é o Curso
Básico de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS)
para Gestores do SUS. Desenvolvido em uma plataforma de Educação a Distância (EaD), o curso tem
abrangência nacional e prioriza a capacitação de
gestores das esferas federal, estadual e municipal
para o entendimento e uso das ATS nos processos
de tomada de decisão com relação às tecnologias
em saúde para usuários do SUS.
Na linha da Capacitação em Pesquisa Clínica, o IECS
criou um módulo básico que, também em EaD, já capacitou mais de 300 profissionais. Com os bons resultados e a grande demanda por parte de profissionais
especializados, foi desenvolvido também um curso de
Pós-Graduação Lato Sensu em Pesquisa Clínica. Ini-
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
ciada em julho de 2013, a primeira turma conta com
36 alunos da Rede Nacional de Pesquisa Clínica.
Com relação ao Programa de Formação de Preceptores em Residência Médica, o projeto surgiu para
contribuir com o aprimoramento dos programas de
residência em todo o País. Também em plataforma
EaD o curso conta, hoje, com 122 alunos de todas as
regiões do Brasil.
“Os projetos buscam oferecer condições para que
estes profissionais sejam ainda mais capazes para
contribuir para uma efetiva melhora da saúde da
população brasileira. A julgar pelos resultados alcançados até o momento, acredito que estamos na
direção certa”, avalia Dr. Jefferson Fernandes.
Visão Médica
13
TEMPO LIVRE
Bem-estar para corpo e mente
Dra. Elizabeth Sartori Crevelari (ao centro) e seus alunos de karatê
É
possível que alguns pacientes e mesmo os colegas da Dra. Elizabeth Sartori Crevelari, especialista em cirurgia cardiovascular e estimulação cardíaca, nem desconfiem, mas o branco de sua
vestimenta e a precisão dos movimentos, fruto da
dedicação e de muita prática, não são atributos que
se restringem ao consultório ou às salas de cirúrgicas. No tatame, quando o quimono e a faixa preta
tomam o lugar do jaleco, Dra. Elizabeth demonstra
conhecimento sobre uma área que, para ela, tem um
laço muito estreito com o da sua carreira: o karatê.
“Carregava esta curiosidade pelas artes marciais
desde a infância, graças às revistas infanto-juvenis
e, depois, com filmes como os do Bruce Lee e do
Chuck Norris. Quando, aos 17 anos, ingressei na Faculdade de Medicina, decidi que, além da graduação,
me dedicaria também às artes marciais. Poderia ter
escolhido o judô, o kung fu, mas acho que pela empatia com o mestre, na época, acabei optando pelo
karatê”, revela.
De acordo com a médica, o karatê é uma atividade
exigente, mas muito recompensadora já que proporciona o equilíbrio entre corpo e mente, algo fundamental para qualquer pessoa.
Filiada às Confederações Paulista e Brasileira de
Karatê e com a experiência de quem já participou
de competições nacionais e internacionais, Dra. Elizabeth explica que, para aprimorar seu desempenho
e condicionamento físico, além de horas de treina-
14
Visão Médica
mentos, dedica tempo à musculação e, graças ao
amor pelo esporte, separa um tempo para transmitir
parte de seus conhecimentos.
“Influenciei tanto o meu marido, o também cardiologista Dr. Jorge Porto, quanto meu filho Gustavo que
se dedicou ao esporte até completar 12 anos de idade. Apesar de nenhum deles seguir praticando, existem lições que eles, com certeza, carregarão para
sempre. E é com isso em mente que hoje, pelo menos duas vezes por semana, ensino Karatê Shotokan,
que é o estilo de que sou adepta, aos colaboradores
do Hospital Alemão Oswaldo Cruz”, revela a médica.
Com aulas que aliam exercício físico e consciência
corporal ao desenvolvimento de atributos como rapidez de raciocínio, equilíbrio emocional e companheirismo, Dra. Elizabeth garante que a atividade
representa um momento de autoconhecimento e
desenvolvimento pessoal.
“As artes marciais geram muitos benefícios, mas
costumo dizer aos alunos que, mais do que dedicar-se à atividade, o importante é separar pelo menos
60 minutos do dia para fazer algo por si mesmo.
Praticar um esporte, cozinhar algo para alguém que
se ama, abraçar um amigo, um filho ou ouvir músicas, por exemplo, pode mudar a rotina de maneira
muito positiva e o indivíduo, independentemente do
colesterol, será muito mais saudável e feliz”, conclui.
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
COMO EU TRATO
COMO EU TRATO:
Acidente
Vascular Cerebral
Isquêmico (AVCI)
Dr. Roberto de M. Carneiro de Oliveira
Introdução
O
s Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) são
doenças que, independentemente da forma
(isquêmico ou hemorrágico), precisam ser
correta e rapidamente diagnosticadas e tratadas.
Todo AVC é uma emergência. O diagnóstico tardio
e o não reconhecimento dos sintomas prejudicam o
tratamento adequado.
Diagnóstico
O AVCI se manifesta por déficit súbito de perda de
força e/ou sensibilidade em um membro ou lado do
corpo, alteração de linguagem (emissão ou compreensão), perda de campo visual, desvio de rima bucal, alteração da deglutição. Os infartos cerebelares
são, muitas vezes, confundidos com labirintopatia,
pelas queixas de perda de equilíbrio, tontura, vômitos, presença de nistagmo. A informação do horário
preciso do início dos sintomas é fundamental para o
tratamento trombolítico.
Dr. Roberto de M. Carneiro de Oliveira
O exame físico inicial deve abranger avaliação do
ABC (vias aéreas, respiração e circulação), oximetria
e temperatura, sinais de TCE ou crise convulsiva,
ausculta carotídea, sinais de ICC, arritmia cardíaca,
sopros por valvulopatia, avaliação de visceromegalia, hepatopatias, sinais de coagulopatia, insuficiência hepática e vasculites. O exame neurológico inicial deve ser dirigido pela escala de AVC do NIH.
O diagnóstico por imagem é essencial na determinação da forma do AVC. A tomografia computadorizada de crânio é suficiente na maior parte dos casos, mostrando sinais precoces de lesão isquêmica,
como apagamento de núcleos da base, perda de
definição da transição córtico-subcortical, hipersinal
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Visão Médica
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COMO EU TRATO
da artéria com trombo agudo. Afastar a possibilidade de hemorragia é fundamental para a segurança
no tratamento.
Havendo suspeita de infarto em tronco cerebral ou
cerebelo, deve-se realizar ressonância magnética de
crânio, pois na tomografia de fossa posterior o osso
temporal produz muito artefatos.
Tratamento
A agilidade no diagnóstico e tratamento é fator
determinante de melhor prognóstico.
Medidas Gerais:
1
Controle da ventilação: desobstruir vias aéreas, retirando restos de alimentos e secreções
sob risco de aspiração. Intubação orotraqueal
para pacientes com rebaixamento do nível de consciência e sinais clínicos de insuficiência respiratória
(pO2<60 mmHg ou pCO2>50 mmHg) e risco de aspiração. Monitorar oximetria.
2
Controle da pressão arterial: na fase aguda
do AVC, 60% dos pacientes apresentam-se hipertensos por estresse, dor, repleção vesical e
hipertensão intracraniana. Muitas vezes, a correção
da condição corrige a pressão arterial. Pacientes
não candidatos à trombólise, que se apresentem hipertensos em níveis elevados (PAS >220 mm Hg ou
PAD >120 mm Hg), podem ter sua pressão arterial
reduzida em 15% nas primeiras 24 horas do AVCI,
medicação EV contínua e monitorização preferencialmente invasiva contínua (na impossibilidade de
monitorização invasiva, monitorar de forma intermitente a cada 5 min).
No paciente candidato à trombólise ou pós-trombólise, a PA deve ser controlada com anti-hipertensivo
EV e mantida < 180/105 mm Hg. Tentar manter PAS
preferencialmente > 160 mm Hg:Se PAS > 220 mm
Hg ou PAD > 140 – nitroprussiato de sódio; se PAS
entre 180 e 220 mm Hg ou PAD entre 110 e 140
mmHg -esmolol ou labetalol IV.
4
Controle da temperatura: a hipertermia é importante preditor de mau prognóstico. A monitoração da temperatura axilar (2/2h) e o agressivo tratamento de temperatura superior a 37,5º são
imprescindíveis.
5
6
Controle da glicemia: manter controle glicêmico próximo de 120-140 mg%.
Trombólise: em primeiro lugar, afastar os critérios de exclusão.
Determinados fatores aumentam o risco da terapia
trombolítica, não sendo, contudo, contraindicação
absoluta de seu uso: NIHSS > 22, idade > 80 anos, e
a combinação de AVC prévio e diabete melitus.
Trombólise endovenosa com alteplase 0,9 mg/kg
(máximo de 90 mg), com 10% da dose aplicada em
bôlus e o restante, continuamente, ao longo de 60
minutos. É imprescindível pesar-se o paciente para
o cálculo exato da dose do medicamento. A alteplase deve ser interrompida caso haja qualquer evidência de anafilaxia ou suspeita de sangramento ativo.
Deve ser feita monitorização da pressão arterial
(medição a cada 15 min por 1 hora, a cada 30 min
por mais 6 horas e a cada 1 hora por 24 horas) e da
NIHSS (a cada 30 min nas primeiras 6 horas, e depois a cada 1 hora até completar 24 horas. Aumento
de 4 pontos pode indicar sangramento). Após a infusão do trombolítico, nas primeiras 24 horas não se
administra antiagregante plaquetário ou anticoagulantes; não se realiza cateterização venosa central
ou punção arterial; não introduzir sonda nasoenteral; e não se introduz sonda vesical até pelo menos
30 minutos do término da infusão do trombolítico.
A administração de antiagregante plaquetário (ou
anticoagulação, nos casos de AVCI cardioembólico) e
estatina auxiliam no tratamento da lesão isquêmica
e são indicadores de qualidade na alta do paciente.
3
Controle da frequência cardíaca: todos os pacientes com AVCI devem ser monitorados para
a frequência cardíaca, procurando detectar arritmias ou alterações miocárdicas isquêmicas.
16
Visão Médica
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COMISSÃO DE
BIOÉTICA
Bioética para as novas gerações
Dra. Janice Caron Nazareth
O
s cursos de ética, como propostos nos modelos antigos, são claramente insuficientes, sob
a luz dos conhecimentos atuais, para atender
à necessária formação humanística dos futuros profissionais da saúde.
Torna-se fundamental, portanto, que, mais do que o
ensino de Medicina Legal e Deontologia, pelo modelo passivo de ensinar-aprender com aulas magistrais, adotem-se lições de Bioética, utilizando o
modelo socrático, com ampla integração docente-discente-realidade social, como propõe o Prof. Dr.
José Eduardo Siqueira, da PUC do Paraná.
Os debates do modelo socrático promoverão duas
consequências importantes.
A primeira trata da percepção das habilidades cognitivas e afetivas dos alunos, que refletirão e se conhecerão melhor, mas também ouvirão e aprenderão a respeitar pontos de vista diferentes dos seus,
podendo assim comunicar sem receio suas mudanças de opinião, ou argumentar, quando isso se fizer
necessário.
A segunda entende que os alunos deverão ter contato com a pluralidade da nossa sociedade, convivendo com pessoas diferentes, do ponto de vista social
e cultural, assim como com as diversas profissões
relacionadas. Isto lhes trará noção de transdiscipinaridade e despertará sentimentos como compaixão, solidariedade, respeito e justiça, levando ao
aprimoramento da sensibilidade, raciocínio, comprometimento e percepção morais.
adequada tomada das decisões clínicas.
Esse deverá ser um exercício constante de tolerância, prudência e acolhimento que, aprendido na escola e bem orientado por mestres capazes, acompanhará os profissionais pela vida, com treinamento
para evitar preconceitos, promovendo a incorporação de valores, como humildade, respeito e grandeza de alma para reconhecer e corrigir os erros que,
certamente, serão cometidos.
Dessa maneira, a Bioética exercerá seu papel de
“ponte para o futuro”, como definida por Van Rensselaer Potter, em 1971, solucionando e instigando
novos problemas, contemplando as interfaces entre
tecnociência e humanidade e o “encontro agapeano
entre gerações”, como propõe o Professor Emérito
William Saad Hossne, da FMUNESP de Botucatu.
Segundo sugestão deste emérito professor, sumidade da Bioética brasileira, parodiando Epícuro, “nunca
é cedo ou tarde demais para ‘bioeticar’”, tornando
mais puro e abrangente o olhar aos nossos pacientes e seus familiares e aos nossos colegas de trabalho.
Treinado durante toda a graduação, esse processo
permitirá aos jovens a compreensão da diversidade,
do respeito e trará melhor entendimento do percurso que leva o ser humano da anomia (falta de objetivos e perda de identidade, provocada pelas intensas
transformações do mundo social) à autonomia (liberdade do indivíduo em gerir livremente sua vida,
efetuando racionalmente as suas próprias escolhas).
Sendo assim, haverá modificação na maneira de utilizar a abundância de novos conhecimentos e recursos técnicos, com a moderação necessária para a
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Visão Médica
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CAPA
Profissionalismo
Hospital Alemão Oswaldo Cruz tem novo Superintendente Executivo
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CAPA
E
m janeiro de 2014, Paulo Vasconcellos Bastian assume a Superintendência Executiva do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que, desde 2006, era
exercida por José Henrique do Prado Fay. Planejada e conduzida por meio
de um processo de sucessão que vem se desenvolvendo há mais de um ano, a
mudança ocorre em função de regras institucionais estabelecidas para a liderança executiva do Hospital.
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CAPA
“Traço de uma cultura
profissional muito forte e a exemplo do que
ocorre no segmento
corporativo, o contrato,
que rege a atuação do
Superintendente Executivo, estabelece um limite
etário para o cargo. Por
isso, desde 2010, iniciamos um processo com
empresa especializada
para eleger o sucessor e
realizar uma transição de
qualidade”, explica Fay.
Com atuação destacada
nas avaliações realizadas, o Conselho Deliberativo
do Hospital escolheu Paulo Bastian para assumir a
função. “Recebi esta nova incumbência com enorme
satisfação, tanto pelo reconhecimento, quanto pelo
desafio. À frente da Superintendência Operacional,
já atuava de forma muito sinérgica com a Superintendência Executiva, suportando a elaboração e
o desenvolvimento da estratégia que fortaleceu a
imagem do Hospital nestes últimos anos. Conseguimos, com isso, estabelecer bases muito consistentes para seguir crescendo, conduzindo as fases
seguintes do projeto de expansão”, explica.
Resultado da dedicação
A profissionalização do Hospital foi um dos desafios
assumidos por Fay em janeiro de 2006. “Fico muito
feliz em perceber que,
com mais de 116 anos
de tradição, o Hospital
segue evoluindo. O trabalho realizado até aqui,
e que seguirá nos projetos do novo Superintendente, permitiu realizações muito importantes
e que, tenho certeza, representam parte de um
ciclo virtuoso na história
da Instituição”, afirma.
De acordo com Fay, estas realizações podem
ser divididas em três
pilares
fundamentais:
Posicionamento Estraté-
20
Visão Médica
gico para atuar em toda
a cadeia da saúde; Sustentabilidade Social; e
Educação e Pesquisa.
“Todo o trabalho de posicionamento foi focado
na saúde. Realizamos
um intenso projeto de
recuperação operacional e aperfeiçoamento
da gestão que, além de
conquistar a acreditação da Joint Commission
International, incluiu o
desenvolvimento de
pessoas e a ampliação
do relacionamento com os médicos do nosso Corpo
Clínico, assim como com o mercado. Precisávamos
desta base para iniciar o projeto de expansão, que
hoje está em curso e que já resultou na ampliação
da área física e no aprimoramento da infraestrutura
tecnológica, no sentido de atender os objetivos estratégicos estabelecidos”, explica.
Já com relação à Sustentabilidade Social, Fay salienta que, além das ações realizadas, o grande destaque fica para o reconhecimento do Hospital como
Instituição de excelência, por parte do Ministério da
Saúde, qualificando-o a atuar no Programa de Apoio
ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único
de Saúde (PROADI-SUS). reitera os resultados do
empenho e oferece a oportunidade de contribuir, por
meio da capacitação e da disseminação de parâmetros relacionados à qualidade e segurança.
Por fim, quanto ao pilar
da Educação e Pesquisa, o Superintendente
reforça a atuação diferenciada do Instituto
de Educação e Ciências
em Saúde (IECS). “Hoje,
além de toda a infraestrutura, criamos um
verdadeiro núcleo de
inteligência para a capacitação e a geração
de conhecimento. Este
ano, além das inúmeras
atividades relacionadas
à educação e à pesquisa,
criamos a Escola Técnica de Educação em Saú-
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CAPA
de (ETES) e, em breve, iniciaremos as atividade da
Faculdade de Ciências em Saúde do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz”, revela Fay.
tian atribui a consistência do processo ao momento vivido pelo Hospital, teoria ratificada pelo Presidente do
Conselho Deliberativo do Hospital, Marcelo Lacerda.
No caminho certo
“Madura, a Instituição produziu um processo de sucessão profissional, focado nos pontos fundamentais para a manutenção do desenvolvimento e nas
melhores práticas do mercado. A sucessão foi planejada, preparada e conduzida de forma positiva e
harmônica. Bastian se habilitou a assumir a Superintendência Executiva pela competência que demonstrou tanto nas avaliações realizadas ao longo
do processo, quanto nos anos de trabalho dedicados
ao Hospital”, conclui Marcelo.
Com a experiência adquirida em seus quase oito
anos atuando no Hospital e o apoio de José Henrique
do Prado Fay, que seguirá auxiliando no processo de
transição até o mês de março, Paulo Bastian garante que 2014 não será um ano de mudanças, mas sim
de fortalecimento.
Com foco na expansão, o futuro Superintendente Executivo revela que as ações de aproximação e relacionamento com os médicos, a implantação das melhorias
do Centro Cirúrgico e da Unidade de Terapia Intensiva,
assim como o desenvolvimento dos Centros de Especialidades, continuarão aceleradas.
“O Hospital tem um projeto muito bem definido e que
visa o crescimento. A função do Superintendente Executivo, assim como de todo o time, é a de trabalhar
para que este projeto avance e alcance resultados
estabelecidos. Seguirei nesta linha, agora com outras
atribuições e responsabilidades”, explica.
Protagonista em uma transição bem elaborada, Bas-
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Visão Médica
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EXAMES
LABORATORIAIS
Quantificação das
subpopulações linfocitárias
e cultura de linfócitos
Uso da citometria de fluxo na
avaliação da imunidade celular
Assessoria Médica - Grupo Fleury: Dr. Sandro Felix Perazzio, Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade, Dr. Alex Freire
Sandes e Dr. Edgar Gil Rizzatti
O
s linfócitos T desempenham papel essencial
no sistema imunológico. A principal característica dos pacientes com defeitos na imunidade celular é uma maior suscetibilidade a infecções graves, ocasionadas por vários agentes, como
vírus, fungos e bactérias intracelulares. As células T
CD4+ constituem uma população heterogênea, com
distintas funções, tais como auxílio para a produção
e troca de classe de imunoglobulinas pelos linfócitos B (Th1 e Th2), bem como supressão de linfócitos
efetores (Treg) e atividade efetora direta (Th17). Já
as células T CD8+ são predominantemente efetoras, desempenhando papel-chave na erradicação
de microrganismos intracelulares. A investigação e
o seguimento das imunodeficiências combinadas e
celulares, congênitas ou adquiridas, compreendem,
entre outros estudos, a determinação do número de
linfócitos totais e suas subpopulações, assim como
a análise funcional in vitro dos linfócitos.
quantificação de subpopulações linfocitárias por citometria de fluxo. Até recentemente, o número de
linfócitos T era derivado de medidas determinadas
por plataforma dupla, ou seja, por um analisador hematológico que contava leucócitos e linfócitos, bem
como por um citômetro que fornecia o percentual de
linfócitos T CD4+. O resultado da quantificação vinha do produto entre essas duas medidas distintas,
o que a tornava suscetível a um maior
Quantificação das subpopulações linfocitárias
Com a aquisição de novos citômetros de fluxo, equipados com mais de quatro cores, e a adoção de
microesferas fluorescentes, o Fleury introduziu,em
2013, a tecnologia de plataforma simples para a
22
Visão Médica
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EXAMES
LABORATORIAIS
Quantificação das células T no contexto de HIV/
AIDS
A obtenção de medidas precisas do número de linfócitos T CD4+ é essencial para avaliar o sistema imunológico e realizar o acompanhamento de pacientes com o vírus HIV. A patogênese da AIDS está relacionada
com a diminuição do número de linfócitos T CD4+, razão pela qual a depleção progressiva dessas células
associa-se com prognóstico desfavorável e com aumento da probabilidade de infecção grave. Dessa forma,
o Ministério da Saúde preconiza a quantificação de tais marcadores com uma periodicidade de 3-6 meses
em indivíduos infectados com o HIV. Essa estratégia tem sido utilizada com o propósito de estabelecer
pontos de decisão para fazer a profilaxia de infecções oportunistas, como a pneumonia por Pneumocystisjirovecii, e igualmente para iniciar e monitorar a terapia antirretroviral.
número de resultados imprecisos e a uma maior
variação interlaboratorial. A metodologia de plataforma simples, ao contrário, permite a contagem
absoluta e percentual de linfócitos T (CD4+ e CD8+)
somente com a utilização de medidas derivadas do
citômetro de fluxo.O método, recomendado pelo
Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC),
dos Estados Unidos, para quantificação de linfócitos
T CD4+, não só apenas apresenta maior acurácia
e reprodutibilidade que a plataforma dupla, como
também consegue resolver resultados discrepantes
e ainda diminuir o número de casos que necessitam
de reanálise e nova coleta.
Análise funcional dos
linfócitos
bém emprega a citometria de fluxo, tem alta sensibilidade e permite determinar o número de células
respondedoras dentre a população originalmente
exposta aos mitógenos. Por se tratar de uma reação que envolve o cultivo dos linfócitos extraídos do
sangue e, portanto, sujeita a fatores extrínsecos que
interferem na viabilidade e na função dessas células,
cada exame é feito paralelamente a uma amostra
controle, coletada de um indivíduo saudável. Uma
resposta proliferativa igual ou superior a 50% da obtida com o controle indica resultado normal. Em geral,
os pacientes com defeito na imunidade celular apresentam resposta proliferativa diminuída aos estímulos utilizados. Contudo, o resultado anormalde uma
determinação isolada, sem quadro clínico compatível,
deve ser confirmado em uma segunda amostra.
A cultura de linfócitos representa um dos melhores
métodos disponíveis para analisar a capacidade
proliferativa dos linfócitos T, uma vez que avalia a
resposta dessas células após estímulo com ativadores policlonais (mitógenos), como a fitohemaglutinina (PHA) e o pokeweed. Recentemente, o Fleury
implantou uma nova e moderna metodologia para
a realização desse exame, baseada na redução da
fluorescência emitida pelo composto CFSE pelos
linfócitos que sofrem proliferação. O ensaio tam-
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Visão Médica
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REVISÃO SISTEMÁTICA
A Farmacogenômica como
solução à variação na resposta aos
fármacos
Dr. Vladimir Bernik
Coordenador da Equipe de Psiquiatria do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz
Dra. Livia Chaves Pereira
PhD - Geneticista, Ab-Biotics
A
Farmacogenômica é uma disciplina na qual se encontram Genética e Farmacologia, e que estuda
como as variações interindividuais no DNA (polimorfismos genéticos) afetam a resposta de um individuo
aos medicamentos. A Farmacogenômica é uma ciência
com mais de 50 anos de existência, mas que, nos últimos
dez, graças a todos os estudos realizados, começou a ter
uma utilidade clínica, já que permite ao médico selecionar
com segurança o tratamento que melhor se adapta às
características de cada paciente [1-4].
Organizações como a US Food and Drug Administration (FDA)
e a European Medicine Agency (EMA) são conscientes do impacto que a Farmacogenômica pode ter na Medicina.
Farmacogenômica em
Neuropsiquiatria
Parte importante do tratamento de enfermidades neuropsiquiátricas baseia-se no uso de fármacos. Não obstante,
a resposta não parece ser suficientemente completa em
muitos pacientes. Por exemplo, na depressão, cerca de
60% dos pacientes não responde de forma completa aos
fármacos antidepressivos, enquanto os outros 40% não
obtém nenhuma resposta [7,8]. Ademais, efeitos adversos dos tratamentos antidepressivos são frequentes (40
a 90%) e não é possível prever seu aparecimento [9]. De
forma similar, ainda que os antipsicóticos tenham conseguido revolucionar o tratamento da esquizofrenia, a taxa
de remissão situa-se em torno de 35 a 40% [10]. Além
deste fato, nos pacientes com tratamento de longo prazo,
aproximadamente 25% apresenta discinesia tardia, um
24
Visão Médica
efeito adverso potencialmente irreversível [11]. O perfil
genético altera a farmacocinética de muitos fármacos,
afetando a resposta terapêutica e facilitando o aparecimento de efeitos adversos. Estima-se que fatores genéticos sejam responsáveis por 50% da variação na resposta aos antidepressivos [8]. Também tem sido descrita a
existência de importantes diferenças interindividuais na
resposta clínica e nos efeitos adversos dos fármacos antipsicóticos [12]. Neste sentido, o Clinical Pharmacogenetics
Implementation Consortium (CPIC) recomenda o ajuste de
doses, ou mesmo a mudança de fármaco em função do
genótipo do paciente para antidepressivos tricíclicos [13],
a FDA [5] normatizou recomendações de doses concretas
com base no genótipo do paciente, para medicamentos
como Aripiprazol, Atomoxetina, Citalopram, Clobazam ou
Pimozida, assim como recomenda o uso com precaução
ou contraindicação em função do genótipo para Clozapina, Fluvoxamina, Iloperidona e Tioridazida [5]. Igualmente, a Royal Dutch Pharmacist’s Association (KNMP) [10]
estabeleceu diretrizes para Paroxetina e Venlafaxina [16].
A partir de todas estas informações disponíveis, a AB-Biotics desenvolveu o Neurofarmagen, um teste que permite realizar uma análise farmacogenômica dos medicamentos frequentemente utilizados em Neuropsiquiatria e
para os quais existe informação genética. O teste analisa
polimorfismos relacionados com a resposta a fármacos,
a dose mais adequada e a probabilidade de aparecimento de efeitos adversos associados ao tratamento.
Podemos encontrar exemplos práticos como estes quanto à aplicação da informação proporcionada pela Farmacogenômica em Psiquiatria:
1 - Metabolizadores Lentos de Zuclopentixol [14,23]
Problema: uma porcentagem da população pode ser
de metabolizadores lentos para alguns fármacos, já que
apresentam uma variante não funcional do citocromo
P450 2D6 (CYP2D6). Em populações de origem africana
(alguns alelos como: 5, 10 e 17) esta frequência alélica
pode ser superior a 4%, já em populações de origem euro-
edição
14Nov/
• Janeiro
edição 17
• Out/
Dez • 2013
REVISÃO SISTEMÁTICA
peia esta frequência alélica pode ser superior a 2%.
Consequência: degradação e eliminação, mais lenta do
fármaco no sangue. Aumento do risco de efeitos adversos.
Benefícios da Farmacogenômica: identificação dos
metabolizadores lentos. Ajuste da dose de Zuclopentixol
antes de iniciar o tratamento. Possibilidade de reduzir os
efeitos adversos.
Imagem 1 - exemplo de visualização do relatório de resultados do teste farmacogênomico Neurofarmagen.
existe o risco de incremento dos níveis de Citalopram, aumentando o risco de prolongamento do intervalo QTc. Em
metabolizadores rápidos devido a uma maior degradação e eliminação do fármaco poderia provocar a falha do
tratamento por falta de resposta terapêutica.
Benefícios da Farmacogenômica: identificando o tipo
de metabolizador e com as devidas correções de dose na
pauta de tratamento pode-se aumentar a probabilidade
de sucesso do tratamento e diminuir riscos para o paciente.
Farmacogenômica em
outras áreas
A Farmacogenômica está muito avançada em outras áreas da Medicina, como a Oncologia, a Cardiologia e a Imunologia, por exemplo. Existem pesquisas e estudos em
curso para entender como a informação genética pode
ser utilizada para desenvolver tratamentos e estratégias
mais personalizadas, assim como mais benéficas no uso
de medicamentos.
Consequentemente, este feito derivaria em importantes
resultados positivos até mesmo na redução de gastos
fármaco-econômicos por diminuição no numero de hospitalizações dos pacientes.
Bibliografia
2 - Transporte de Citalopram, Paroxetina, Desvenlafaxina ao
sistema nervoso central [15]
Problema: variações genéticas na glicoproteína P afetam o transporte de Citalopram, Paroxetina ou Desvenlafaxina, através da barreira hematoencefálica.
Consequência: doses no sistema nervoso central superiores ou inferiores às desejadas. Redução da probabilidade de sucesso no tratamento.
Benefícios da Farmacogenômica: identificação das
variantes genéticas relevantes antes de iniciar o tratamento. Ajuste da dose de Citalopram, Paroxetina ou Desvenlafaxina do paciente. Maior probabilidade de sucesso
do tratamento.
3 - Metabolização de Citalopram através do citocromo P450
2C19 (CYP2C19) [24-25]
Problema: algumas variações genéticas no citocromo
P450 2C19 (CYP2C19) podem alterar a metabolização
de Citalopram.
Consequência: em pacientes com metabolização lenta,
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
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Visão Médica
25
ARTIGO INTERNACIONAL
Exame imuno-histoquímico
na detecção de mutações
BRAFV600E em neoplasias
Abordagem promissora na seleção
de terapia-alvo
Juliano Bertollo Dettoni (1) e Venancio Avancini Ferreira Alves (2)
1. Médico-Patologista, CICAP – Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Preceptor, Div. Anatomia Patológica, HC-FMUSP
2. Diretor-Técnico, CICAP – Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Professor Titular, Dep. Patologia, FMUSP
A
caracterização molecular de tumores, impulsionada pelo sequenciamento gênico, identificou grande
concentração de eventos essenciais para a carcinogênese em cerca de 140 genes. O número de mutações
varia muito entre os diferentes tumores, sendo suficientes
apenas por volta de nove mutações em neoplasias hereditárias ou incidindo na infância, contrastando com a necessidade de centenas de eventos para o desenvolvimento de neoplasias decorrentes de agentes mutagênicos,
como luz ultravioleta e o cigarro, ou associadas a defeitos
em genes de reparo do DNA (1,2). Em 95% dos casos dos
tumores sólidos mais comuns, tais mutações ocorrem são
do tipo “point mutation”, correspondendo a substituições
de uma única base e o restante por deleções ou inserções
de poucas bases (1).
Essas mutações promotoras levam à instabilidade do
genoma, favorecendo uma série de novas mutações e
características adaptativas nas células tumorais que, em
determinado ponto, adquirem a capacidade de proliferação sustentada, escape do controle de supressores do
crescimento celular, resistência à morte celular, imortalização, indução da angiogênese, capacidade de invasão e
de se metastatizarem (3). Nesse contexto, surgiram novas
possibilidades terapêuticas que inibem o crescimento tumoral ao atuarem em alvos específicos relacionados dire-
26
Visão Médica
ta ou indiretamente às vias de funcionamento das células
ativadas ou bloqueadas por tais mutações.
Para a presente edição da revista Visão Médica, dentre as
mutações cuja identificação já tem guiado a ministração
de terapia-alvo, destacamos a mutação ativadora BRAF
V600E, que confere potencial transformação e imortalização celular (1,4) e pode ser detectada em aproximadamente 7% de todas as neoplasias, incluindo 60 - 70%
dos melanomas, 29 - 83% dos carcinomas papilíferos da
tireoide, 4 - 16% dos adenocarcinomascolorretais e em
menor frequência em outros tumores como os de ovário
e de pulmão (4). Atualmente, tais alterações são diagnosticadas por sequenciamento gênico do produto de PCR
realizada no DNA extraído de células tumorais em amostras congeladas ou fixadas em formol e incluídas em blocos de parafina. A grande novidade que aqui relatamos
são os estudos que demonstram de modo promissor a
detecção imuno-histoquímica da proteína especificamente resultante da mutação BRAF V600E mediante o novo
anticorpo clone VE1.
Analisando adenocarcinomas de pulmão, Ilie et al demonstraram sensibilidade de 90,5% e especificidade de
100% na detecção de tal mutação por imuno-histoquímica em comparação com o sequenciamento gênico (5).
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
ARTIGO INTERNACIONAL/
QUAL É A SUA OPINIÃO?
Em adenocarcinomascolorretais com instabilidade microsatélite, a presença da mutação BRAFV600E virtualmente exclui a síndrome de Lynch e prediz um mau
prognóstico (6). Como conclusão desse estudo, Toon et al
sugerem indicação do rastreamento de tal mutação por
método imuno-histoquímico, que se demonstrou eficaz
quando comparado à análise por PCR (6).
Em melanomas metastáticos, já foi aprovado pelo FDA-USA o uso de Verumafenib (Roche, Suíça) para tumores
com mutações desse tipo e o estudo imuno-histoquímico
nesses tumores pode auxiliar a identificação de pacientes
com maior probabilidade de resposta favorável (7).
Em síntese, os diversos trabalhos recém-publicados apontam para várias situações em que uma abordagem integrada combinando imuno-histoquímica anti-BRAFV600E
e análise genética molecular pode ser de grande valia na
seleção de portadores de diversos tipos de neoplasia que
tenham maior probabilidade de resposta clínica favorável
com inibidores da via de sinalização celular alterada pela
mutação BRAFV600E.
1. Vogelstein B, Papadopoulos N, Velculescu VEetal. Cancergenomelandscapes.
Science. 2013 ;339:1546-58.
2. Govindan R, Ding L, Griffith M et al. Genomic landscape of non-small cell lung
cancer in smokers and never-smokers. Cell.2012 150:1121-34.
3. Hanahan D, Weinberg RA. Hallmarks of cancer: the next generation.
Cell.2011;144:646-74.
4. James J, Ruggeri B, Armstrong RC et al. CEP-32496: a novel orally active BRAF
(V600E) inhibitor with selective cellular and in vivo antitumor activity. Mol Cancer
Ther 2012; 11: 930–941
5. IlieM, Long E,. Hofman V et al. Diagnostic value of immunohistochemistry for the
detection of the BRAFV600E mutation in primary lung adenocarcinoma Caucasian
patients. Annals of Oncology 2013; 24: 742–748
6. Toon CW, Walsh MD, Chou A et al. BRAFV600E Immunohistochemistry Facilitates Universal Screening of Colorectal Cancers for Lynch Syndrome. Am J SurgPathol2013 in press.
7. Bollag G, Tsai J, Zhang J et al. Vemurafenib: the first drug approved for BRAF-mutant cancer. Nat Rev Drug Discov.2012; 11:873-86.
Resposta: Qual é a sua opinião?
TC de Tórax sem contraste demonstra extenso enfisema
pulmonar e nódulo sólido de contornos discretamente espiculados, medindo 1 cm, localizado no segmento superior
do lobo inferior direito. A principal hipótese diagnóstica é
de neoplasia pulmonar primária.
Realizada biópsia do nódulo guiada por TC e encaminhado
material à patologia.
Resultado da biópsia: aspecto morfológico consistente
com aspergilose pulmonar (não invasiva) aparentemente
no interior da cavidade necrótica.
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
O diagnóstico considerado foi de aspergilose pulmonar necrotizante crônica (APNC) ou semi-invasiva, que se caracteriza
pela destruição lentamente progressiva do pulmão em pacientes com doença pulmonar crônica e leve grau de imunossupressão, como no uso prolongado de corticosteroide sistêmico. Não há invasão vascular. A galactomanana é negativa.
Trata-se de uma infecção subaguda, indolente e que leva a
um processo destrutivo do pulmão. Dentre as causas de redução da imunocompetência local encontram-se as doenças
intersticiais pulmonares, ressecções pulmonares, sequelas de
TB pulmonar, fibrose cística, pneumoconioses e DPOC. As causas de redução da imunocompetência sistêmica são o uso de
corticoterapia mesmo em baixas doses, quimioterapia, radioterapia, etilismo, desnutrição e diabetes mellitus.
A APNC acomete indivíduos de meia-idade e idosos. A grande
maioria dos pacientes apresenta sintomas pulmonares ou sistêmicos precocemente, e esta sintomatologia tem duração de
um a seis meses. As queixas são tosse, expectoração, dor torácica, febre e emagrecimento, hemoptise e dispneia, apesar de
raros, podem ser relatados. O quadro radiológico mais comum
é consolidações segmentares uni ou bilaterais, com ou sem
presença de escavação ou espessamento pleural adjacente.
As lesões acometem preferencialmente os lobos superiores ou
os segmentos superiores dos lobos inferiores. Micetomas são
observados em metade dos casos.
Visão Médica
27
EVENTOS
EM DESTAQUE
I Jornada de
Qualidade e Segurança
Dra. Fabiane Cardia Salman
Gerente de Relacionamento Médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
C
om a proposta de ampliar
o debate sobre a importância
da melhoria contínua, criando bases
e ferramentas para
o
desenvolvimento
de projetos cada vez
mais consistentes e
que beneficiem instituições,
médicos,
colaboradores e, sobretudo,
pacientes,
o Hospital Alemão
Oswaldo Cruz realizou, no último dia 9 de novembro, sua I Jornada de
Qualidade e Segurança.
De abordagem plural, as palestras e mesas redondas
cobriram os principais desafios da atualidade, como a
gestão da qualidade hospitalar, importância da atuação
multiprofissional e capacitação profissional, mas sempre
com foco no aperfeiçoamento e na geração de condições
para o oferecimento dos melhores serviços de saúde.
Como um dos destaques do evento, Dr. Antonio
Quinto Neto, médico e especialista na avaliação
desistemas e serviços de saúde, convidou os participantes a uma reflexão sobre como a equipe médica pode influenciar nos processos de qualidade das
instituições hospitalares. Diretamente atrelado ao
movimento de transformação vivido pelo Hospital,
o tema foi desenvolvido a partir da constatação do
papel fundamental do Corpo Clínico para a obtenção e a manutenção de elevados padrões de qualidade e segurança.
principais demandas apontadas pelo Corpo Clínico
gerou um primeiro ciclo de melhorias, voltado especificamente ao aperfeiçoamento do dia a dia dos
médicos no Hospital.
Hoje, depois da criação da Gerência de Relacionamento Médico, que atua como um facilitador na operacionalização da rotina do médico dentro do Hospital, oferecendo suporte e acesso a informações que
vão do agendamento cirúrgico aos repasses financeiros, a Instituição criou também uma via de mão
dupla, por meio da qual o médico pode contribuir
com o constante aperfeiçoamento do Hospital, já
que, além do apoio oferecido aos membros do Corpo
Clínico, estes, por sua vez, terão a oportunidade de
propor soluções para que eventuais gargalos sejam
solucionados e para que os padrões de qualidade e
segurança, que fazem do Hospital uma referência no
mercado da saúde, sejam mantidos.
Se questionado sobre alguma inconsistência relacionada a uma prescrição, por exemplo, o médico
indicar dificuldades relacionadas a um campo de
preenchimento ou algum problema com o nosso sistema, iremos pensar juntos numa solução. Por isso,
hoje, a Gerência de Relacionamento está empenhada no cadastramento, assim como na atualização
dos dados do Corpo Clínico do Hospital, buscando
estreitar e melhorar o nosso canal de comunicação.
Queremos oferecer serviços cada vez mais personalizados e completos aos nossos médicos. A construção desta nova etapa, marcada pela parceria e a
sinergia, ampliará a qualidade e a segurança para
Instituição, médicos e pacientes
Em um ano de significativos avanços, obtidos a partir da realização dos Fóruns Médicos e do aperfeiçoamento nas relações entre médicos e a Instituição,
a discussão corroborou o trabalho que, baseado nas
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Visão Médica
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
EVENTOS
EM DESTAQUE
Jornada de Prevenção e Controle
de Infecção Hospitalar
Dr. Ícaro Boszczowski
Médico Infectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH)
do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
N
o dia 26 de outubro, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz sediou sua primeira Jornada de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar 2013.
Com a participação de médicos infectologistas, enfermeiros e microbiologistas com destacada atuação em grandes hospitais públicos e privados, além
de acadêmicos de referência na área, tanto do Brasil
como internacionais, o evento promoveu um importante debate multiprofissional sobre as questões
mais atuais ligadas à prevenção e ao controle das
infecções relacionadas à assistência à saúde – IRAS.
Os mais de 100 profissionais presentes puderam
acompanhar 16 apresentações, 3 conferências e 4
mesas redondas em um dia de intenso trabalho e
que, fundamentalmente, discutiu estratégias de sucesso, assim como as que não tiveram este mesmo
resultado e as perspectivas de pesquisa na área de
prevenção e controle da resistência bacteriana.
Como um fórum multiprofissional e que uniu pontos de vista das áreas de Enfermagem, Infectologia e Controle de Infecção, além da Microbiologia,
discutindo a prevenção e controle de bactérias multirresistentes, o evento apresentou resultados extremamente positivos e, além de muito bem avaliado
pelos participantes, redundou numa carta de intenções para o desenvolvimento de pesquisas numa
parceria entre o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a
Universidade de Maryland.
Para a segunda edição da Jornada de Prevenção e
Controle de Infecção Hospitalar, prevista para o segundo semestre de 2014, as expectativas não poderiam ser melhores.
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
Visão Médica
29
RESPONSABILIDADE
JURÍDICA
Responsabilidade
dos Auditores
Sergio Pittelli
[email protected]
A
responsabilidade do auditor pode ser analisada
com referência ao paciente e ao médico atendente.
Com respeito ao paciente, há dois modos pelos
quais pode interferir no tratamento: 1. negar cobertura com base em cláusula contratual; 2. negar
autorização para uso de determinado material (frequentemente prótese) por haver similar mais barato.
Com relação ao primeiro, a tendência jurisprudencial
é favorável a ampliar as coberturas para além do
que reza o contrato. Não obstante, desconhecemos
casos de ação contra a pessoa do auditor uma vez
tendo ele atuado nos termos contratuais.
Com relação ao segundo item, dá-se situação semelhante, mesmo levando-se em conta que o auditor,
aqui, se encontra fundamentado apenas em princípios de racionalidade administrativa e eventualmente dispositivo legal, nos casos em que a prótese é de
fabricação estrangeira sem registro nacional.
Desconhecemos, aqui também, casos de responsabilização do auditor mesmo em caso de decisão
judicial favorável ao contribuinte. Entendemos, portanto, que os problemas que podem advir decorrem
de sua atuação em face do médico e dizem respeito às normas deontológicas da profissão: Res. CFM
1614/01, Capítulo XI e artigos 50 e 52, do Capítulo
VII do CEM.
As mais frequentes violações ocorrem também em
situações de negativa de autorização, nas quais o
auditor interfere na conduta do médico ou baseia-se
em determinada afirmação que o obrigaria a denunciá-lo ao CRM, o que não faz, infringindo os art. 50
do CEM e 6º, § 4º da Res. 1614. O caso mais comum
é o de alegação de tratamento experimental, vedado por lei. Quando nega cobertura com base nesse
argumento, parece estar agindo dentro do contrato,
mas aqui entram as normas deontológicas apontadas: o tratamento experimental, se não realizado
nos termos da Resolução 196/96, é considerado antiético (art. 100 e 101 do CEM) e impõe-se que o
auditor denuncie o médico ao CRM o que nunca faz ,
incorrendo em falta ética.
Outra situação é aquela em que o auditor alega que
o tratamento não é adequado. A simples negativa
aqui também é ilícita, devendo o auditor pautar-se
pelo art. 8º da Res. 1614 e art. 52, 94 e 97 do CEM,
conforme o caso. Situação semelhante é a de negativa de uso de determinados materiais intraoperatórios, de consumo, alegando desnecessidade.
O auditor deve observar o respeito à conduta do
médico atendente, não podendo interferir em suas
decisões. Não pode fazer anotações no prontuário,
não pode fazer cópias, a não ser as estritamente necessárias para a instrução da auditoria. Pode
examinar pacientes e acompanhar exames, desde
que autorizado por eles. Sempre que for atuar deve
apresentar-se ao Diretor Clínico. É evidente que se
o auditor causar danos ao paciente, estará sujeito
à responsabilização civil e até criminal. Reiteramos,
entretanto, que desconhecemos exemplos.
Nunca o faz porque, na verdade, não se trata de tratamentos experimentais, alegação que é usada apenas como fundamento
para a negativa, que se dá por outros motivos, geralmente econômicos.
1
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Visão Médica
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
LIVRARIA
Ascensão, tragédia e glória na
Renascença Italiana
Dr. Stefan Cunha Ujvari
O
romance histórico Cardano, ascensão, tragédia e glória na Renascença Italiana, de Raul
Emerich, descreve a biografia do médico Girolamo Cardano, que vivenciou um período revolucionário e que influenciou o mundo moderno como o
conhecemos: o Renascimento.
Troca de embaixadores, nascimento do livro, busca
do realismo, surgimento da ciência como fruto da
observação e repetição, ruptura religiosa e o primeiro passo à globalização. Os grandes nomes surgem
neste período porque há um contexto que propicia
isso: competição e influência.
O próprio Leonardo da Vinci, um dos exemplos máximos do período, frequentou a casa de Cardano
para discutir detalhes de ótica com seu pai, Fazio
Cardano. Fa a veder messer Fazio – lê-se em um dos
escritos de Da Vinci.
Cardano foi um gênio injustamente esquecido. No
século seguinte à sua morte, circularam notícias de
que ele era louco, endemoniado, ou herético. De um
dos autores mais lidos na Europa, Cardano passou
ao ostracismo. Em parte, devido a uma introdução
póstuma às obras completas em que o médico de
Milão foi retratado de forma bastante negativa.
A história fascinante desse médico, astrólogo e matemático da Renascença Italiana, perseguido pela
Inquisição, justifica a leitura do livro que ainda conta com algumas curiosidades que tocam nosso cotidiano. Um exemplo: a inspiração em desenhos de
Cardano resultou, séculos após, a invenção do eixo
cardã, fundamental nos veículos 4x4.
Apesar de todas essas áreas de interesse, Cardano
foi acima de tudo um médico. Em várias passagens
do livro, há discussões sobre a sabedoria de Rhazes,
o pai da Pediatria, assim como doenças que começavam a ser descritas naquela época. Alguns consideram que o próprio Cardano teria sido o primeiro a
edição
Nov/
Dez • 2013
edição17
14••Out/
Janeiro
• 2013
Cardano, ascensão,
tragédia e glória na
Renascença Italiana
Raul Emerich
Record – 2013
504 páginas
R$ 51,00
descrever os sintomas da febre tifoide. Além disso, é
curioso compreender como funcionava uma Medicina com muitas ideias e poucas opções de tratamentos realmente eficientes.
Cardano não gostava de viajar. Suas viagens tinham
objetivos definidos, como terminar a faculdade de
Medicina em Pádua ou tratar a asma de um escocês. Quando aceitou o convite do paciente abastado
que sofria de “bronquite”, no entanto, deixou claro
que não passaria de Lyon, na França. A Escócia era
muito longe (e bárbara!). Surpreendentemente, suas
orientações não farmacológicas não diferiam muito
das utilizadas por um médico atual.
Cardano uniu a arte escrita à sua experiência médica. Seu primeiro livro publicado, De malo medendi
usu, apesar de pequeno, foi bastante provocador,
pois falava da má prática dos médicos que se importavam mais com roupas, pompa e carruagens do
que ouvir o paciente. O astrólogo Cardano enxergou
o destino de muitos, mas o próprio futuro não conseguiu prever. A ascensão e desgraça desse incompreendido gênio da Renascença estão estampadas
nas páginas do livro.
Visão Médica
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REUNIÕES
CIENTÍFICAS
V Curso Internacional de
Cirurgia Minimamente
Invasiva e Robótica
do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Dr. Cláudio Bresciani
N
os dias 6 e 7 de dezembro, foi realizado o V Curso
Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva
e Robótica, organizado pelo Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz. Nesta 5ª edição, o evento, que já se tornou
tradicional na cidade de São Paulo, foi dividido em duas
partes fundamentais: treinamento prático e exposições
teóricas sobre o tema.
A parte prática ocorreu no Medical Innovation Institute,
um centro de treinamento mantido pela empresa Johnson & Johnson. No local, os alunos tiveram a oportunidade de treinar cirurgia minimamente invasiva de forma
intensiva e com o acompanhamento de cirurgiões-monitores experientes em procedimentos laparoscópicos. O
treinamento possuía caráter progressivo e, por isso, teve
inicio com simuladores computadorizados que, além do
adestramento motor, permite que as várias intervenções
da cirurgia digestiva possam ser simuladas na tela e executadas pelo aluno. O passo seguinte foi a prática em
“caixa preta” com peças de animais, como estômago, vesícula e fígado, por exemplo, para que pontos, nós, suturas, grampeamentos e ressecções de órgãos pudessem
ser realizados. A última etapa, que foi também a mais
longa, destinou-se à realização de intervenções cirúrgicas em animais de experimentação. Sob a supervisão
de veterinários e técnicos, os alunos puderam realizar
intervenções complexas como colectomia esquerda com
anastomose intracavitária e gastrectomia vertical para o
tratamento da obesidade mórbida.
A parte teórica ocorreu no Anfiteatro localizado no 14º
andar do Bloco B do Hospital. Além dos mais de 100 médicos inscritos, o evento, que contou com a participação
32
Visão Médica
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
REUNIÕES
CIENTÍFICAS
de 30 professores brasileiros, representantes de importantes universidades paulistas, e de três especialistas
internacionais, discutiu temas relacionados às bases da
cirurgia minimamente invasiva, assim como técnicas e
indicações para o procedimento.
Os professores italianos Giusto Pignata e Umberto
Bracale apresentaram as palestras “Single Access Laparoscopic Surgery: Feasible and Safe?” e “Laparoscopic
Gastrectomy: technical aspects and current evidences”, respectivamente. Já o professor norte-americano Michael
Marohn, do Johns Hopkins Hospital, realizou duas apre-
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
sentações “NOTES update 2013: Is NOTES dead?” e “Foregut surgery 2013 - Lessons learned in 25 years”.
O público presente pode ver e discutir temas do dia a dia
do cirurgião, mas também os temas de fronteira da cirurgia minimamente invasiva. Avaliado pelos participantes
e professores convidados como um curso de alto nível
científico, graças ao conteúdo e à presença de palestrantes nacionais e internacionais reconhecidamente experientes nesta modalidade de cirurgia, o evento corrobora o progressivo destaque internacional alcançado pelo
Hospital em cirurgia minimamente invasiva e robótica.
Visão Médica
33
Conheça os nossos centros de
EXPEDIENTE
Especialidades
• Centro de AVC
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•Centro de Cirurgia Robótica
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Bariátrica e Metabólica
´Centro de Nefrologia e Diálise
• Centro de Nutrição
• Centro de Oncologia
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- CIAMA (Cuidado com a saúde da mama)
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• Instituto de Medicina Cardiovascular
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- Centro Diagnóstico de Cardiologia Não Invasiva
- Centro de Hipertensão Arterial
- Centro de Intervenção Cardiovascular
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• Instituto da Próstata e Doenças Urinárias
• Centro de Procedimentos Minimamente
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A revista “Visão Médica” é uma publicação trimestral direcionada ao Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Comitê Editorial: Dr. Jefferson Gomes Fernandes (Editor-Chefe), Dr. Andrea Bottoni, Dr. Claudio José C. Bresciani, Dr. Luis Fernando Alves
Mileo, Dr. Marcelo Ferraz Sampaio, Dr. Mauro Medeiros Borges, Dr. Stefan Cunha Ujvari, Dra. Valéria Cardoso de Souza e Dr. Vladimir Bernik.
Projeto Gráfico: Diego Bieliauskas Ferreira | Edição de Arte: Diego Bieliauskas Ferreira
Coordenação Editorial: Aline Shiromaru
Jornalista responsável: Wagner Pinho - MTb 39525
Fotos: Banco de imagens do Hospital e Shutterstock
Tiragem: 2.500 exemplares
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Visão Médica
edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013
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Diretor Clínico - Hospital Alemão Oswaldo Cruz: Dr. Marcelo Ferraz Sampaio - CRM 58952
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O Instituto de Medicina Cardiovascular reúne as áreas de Cardiologia Clínica, Diagnóstica e Intervencionista.
Nele é possível realizar desde consultas e exames, até tratamentos de alta complexidade
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do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
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