| E D I Ç Ã O 1 7 | O U T / N O V / D E Z 2 0 1 3 | Profissionalismo Hospital Alemão Oswaldo Cruz tem novo Superintendente Executivo Págs. 18 a 21 Personagem HAOC Dr. Ricardo Vitor Cohen é reconhecido por liderança em pesquisas pioneiras Pág. 09 Educação Instituto de Educação e Ciências em Saúde amplia suas ações e parcerias Págs. 12 e 13 Revisão Sistemática A Farmacogenômica como solução à variação na resposta aos fármacos Págs. 24 e 25 04 GIRO PELO HOSPITAL Nova etapa no relacionamento médico 15 e 16 22 10 e 23 e 11 COMO EU TRATO Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI) EXAMES Quantificação das subpopulações linfocitárias e cultura de linfócitos Uso da citometria de fluxo na avaliação da imunidade celular ENTREVISTA Terapia nutricional 12 e 13 14 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS EM SAÚDE IECS amplia gama de ações TEMPO LIVRE Bem-estar para corpo e mente 26 e 27 28 e 29 ARTIGO INTERNACIONAL Exame imuno-histoquímico na detecção de mutações BRAFV600E em neoplasias EVENTOS EM DESTAQUE I Jornada de Qualidade e Segurança Jornada de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar 31 LIVRARIA Ascensão, tragédia e glória na Renascença Italiana EDITORIAL OTIMISMO BASEADO EM RESULTADOS C aminhando para a conclusão do ano de 2013 e avaliando os avanços alcançados até o momento, tenho a convicção de que podemos ficar ainda mais otimistas para o ano que se aproxima. Depois de evoluir com a entrega de uma série de melhorias relacionadas às demandas apresentadas ao longo dos Fóruns Médicos, criar uma nova Política de Relacionamento, que começará a vigorar já em janeiro, construir uma nova área e desenvolver benefícios específicos para os membros do Corpo Clínico, acredito que lançamos a pedra fundamental para a construção do Hospital que queremos ter. A participação e o envolvimento de todos permitiu que alcançássemos essas melhorias que, tenho certeza, serão também fundamentais e decisivas para que continuemos a avançar nesse sentido. Parte de um projeto que teve apoio irrestrito do Superintendente Executivo, José Henrique do Prado Fay e que, da mesma forma, seguirá com o envolvimento de Paulo Bastian, que assume o cargo em janeiro, teremos ainda um longo caminho pela frente, mas queremos garantir a todos as condições ideais para percorrê-lo. Dr. Mauro Medeiros Borges Superintendente Médico O CONCEITO DO MÉDICO SOLIDÁRIO A aposentadoria, este ano, de nosso grande mestre e professor Emil Sabbaga me fez refletir sobre a carreira médica atual. Sua brilhante e vitoriosa carreira teve como resultante o sucesso profissional. E este sucesso se deu por ter sido um médico completo na área assistencial e acadêmica, construindo uma marcante relação médico-paciente e tornando-se uma referência a seus alunos e colegas. Mas, hoje em dia, como são os médicos que obtêm sucesso? E como serão daqui a 10 anos? Acredito que todas essas características são fundamentais e funcionam como um pré-requisito, mas, atualmente, esta tendência parece que vai dominar os próximos anos. Os médicos, além disso, necessitarão construir fortes vínculos com instituições assistenciais renomadas. Estes vínculos irão, certamente, pavimentar o caminho dos médicos até o êxito profissional, associando mecanismos que irão facilitar e contribuir com sua assistência ao paciente, bem como promover educação médica contínua de fácil acesso. Ou seja, no mesmo ambiente de trabalho, ele assiste seus pacientes com extrema qualidade e se atualiza e recicla em sua prática médica. Para que esses vínculos existam, os médicos terão de ter uma postura solidária às instituições, à sua história, trajetória e às suas diretrizes atuais, respeitando e integrando-se aos caminhos adotados por elas. Ao mesmo tempo, estas instituições terão de ser solidárias aos melhores profissionais, apoiando-os, promovendo-os e encaminhando-os até o tão almejado sucesso profissional. Dr. Marcelo Ferraz Sampaio Diretor Clínico edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 3 GIRO PELO HOSPITAL Nova etapa no relacionamento médico E m evento realizado no dia 15 de outubro, com a presença de, aproximadamente, 150 médicos, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz apresentou os avanços alcançados por meio do projeto de aperfeiçoamento do relacionamento Institucional com o Corpo Clínico, elaborado a partir dos Fóruns Médicos. No encontro, que contou com a participação do time Executivo e do Presidente do Conselho Deliberativo da Instituição, o Superintendente Médico, Dr. Mauro Medeiros Borges, detalhou os resultados do trabalho realizado em conjunto para aperfeiçoar o dia a dia dos profissionais. “Depois dos fóruns, nos concentramos naquilo que, em conjunto, entendemos que eram as grandes prioridades. Os importantes avanços alcançados até aqui, como o acesso às informações de repasse, a criação da nova área de Relacionamento Médico, o Tasy Mobile e, principalmente, a nova política de relacionamento que, com novos critérios de pontuação e qualificação, baseados nos pilares de Qualidade, Identidade Institucional, Educação e Pesquisa, começa a vigorar já em janeiro de 2014, representam os primeiros passos de um projeto de fortalecimento Institucional e evolução”, explica. Trabalho contínuo Além de cumprimentar o Corpo Clínico pelo Dia do Médico, comemorado no dia 18, Marcelo Lacerda ressaltou o novo momento vivido pelo Hospital e a importância do envolvimento de todos para a perpetuidade dos avanços. “Hoje, evoluímos em um ritmo diferente. Isso porque vivemos um contexto diferente no segmento de saúde e é exatamente este cenário que precisamos entender. Realizamos os fóruns e empreendemos, com a participação de vocês, este primeiro ciclo de melhorias. Agora, iniciamos uma nova etapa e, para que alcancemos os resultados que queremos, vamos continuar realizando encontros permanentes com médicos, além das equipes executiva, assistenciais e associados”, reforçou. Dr. Mauro Medeiros Borges 4 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 GIRO PELO HOSPITAL Vinte anos de TMO N o dia 24 de outubro, em uma celebração especial que contou que contou com a participação de cerca de 200 pessoas, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz comemorou o 20º aniversário do primeiro transplante de medula óssea (TMO) realizado pela Instituição. Na ocasião, além de reverenciar o procedimento realizado em 1993 pelos Drs. Frederico Dulley, Mauricio Ostronoff, Edmilson Zambon e Celso Massumoto, foram homenageados os membros das equipes multidisciplinares da Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia, Radio e Quimioterapia, que contribuem para o atendimento aos pacientes, e o Dr. Luis Fernando Bouzas, lembrado como médico que contribuiu de forma consistente para a evolução dos transplantes no Brasil. A senhora Gleice, primeira doadora de medula óssea para receptor não aparentado, fez questão de participar da celebração e também foi homenageada durante o evento. “Aquele primeiro transplante, abriu caminho para a criação da Unidade de TMO e colaborou para que o Hospital desenvolvesse condições para, hoje, integrar um grupo seleto de instituições que realizam desde os transplantes autólo- go e alogênico aparentado, até aqueles que utilizam o cordão umbilical e medulas de doadores não aparentados, provenientes de qualquer lugar do mundo”, explica Dr. Celso. De acordo com o médico, esta condição de excelência permite ao Hospital participar de um programa de benemerência para a coleta e o transplante de medula óssea de pessoas cadastradas nos Registros de Doadores e Receptores de Medula Óssea (Redome/Rereme). “Recebemos a autorização para a realização de 54 coletas em um período de dois anos. Com isto, o Hospital auxilia o programa Redome/Rereme de uma forma muito importante, já que poucos centros se dispõem a realizar o procedimento devido a sua complexidade”, explica. Dr. Celso Massumoto De acordo com Dr. Celso, hoje, 20 anos depois do seu primeiro TMO, o Hospital contabiliza 226 pacientes transplantados. Mais que bem-estar O Programa Bem-Estar, desenvolvido pelo Centro de Atenção ao Colaborador (CASC) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, foi reconhecido com o Prêmio Saúde 2013 da Editora Abril, na categoria Saúde nas Empresas. Criado em 2010, com base nos conceitos do Health Improvement Program (HIP), da Stanford University School of Medicine, o programa tem o objetivo de contribuir para que os colaboradores do Hospital tenham um estilo de vida mais saudável e equilibrado. Com melhoras relacionadas à prática de atividades físicas e alimentação saudável, além da manutenção dos baixos índices de tabagismo e do consumo de álcool entre os colaboradores, o Programa tem sido muito bem avaliado por seus participantes. Na última pesquisa de satisfação, por exemplo, 98% dos beneficiados disseram estar mais motivados depois da adesão ao Programa e 94% afirmaram estar satisfeitos com a Equipe Assistencial das atividades. edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Para Dr. Rodrigo Bornhausen Demarch, Gerente de Qualidade de Vida e Saúde do Hospital, esta avaliação reforça os bons resultados alcançados nestes mais de três anos de trabalho. “Hoje, a academia do Hospital conta com 600 frequentadores, número quase cinco vezes maior que o alcançado no início do Programa. A variação com relação ao índice de falta nas consultas médicas periódicas também é bem impressionante. As ausências, que eram de 48% em 2009, passaram para 8% em 2010 e diminuíram para 1% em 2011 e 2012. Sem dúvida, estamos muito orgulhosos com esta conquista, que reflete o trabalho e a dedicação de nossa equipe multidisciplinar, mas também o benefício e a qualidade de vida oferecido aos colaboradores do Hospital.” Visão Médica 5 GIRO PELO HOSPITAL Guia para a Memória A neuropsicóloga Gislaine Gil, que atua no Instituto de Geriatria e Gerontologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, acaba de lançar, em parceria com o geriatra Alexandre Busse, o livro ‘Ensinar a Lembrar: Guia Prático Para Ajudar a Reconhecer e Melhorar Problemas de Memória’. “Esquecer o nome de pessoas é algo comum? E repetir várias vezes o mesmo assunto? É normal? É comum que as pessoas tenham esse tipo de dúvida. Por isso, o guia tem o objetivo de auxiliar na criação de estratégias cognitivas para contornar ou minimizar problemas, beneficiando tanto aqueles que sofrem de algum tipo de ausência de memória quanto às pessoas que cuidam ou os auxiliam”, explica a autora. De acordo com a neuropsicóloga, distinguir lapsos corriqueiros e fatores representativos de uma doença nem sempre é tarefa fácil. Por isso, além de auxiliar na identificação, por meio de testes rápidos e eficientes, a obra abrange patologias como a doença de Alzheimer e o estágio que a precede, caracterizada por um comprometimento cognitivo leve. “O livro Gislaine Gil e Alexandre Busse conta com uma abordagem bastante interessante sobre diagnóstico, tratamento e dúvidas, trazendo uma visão otimista dos estudos de neuroplasticidade, que é a matéria-prima atual das neurociências, para a criação de novas estratégias no tratamento de pessoa com dificuldade de memória”, explica. Lançado no dia 26 de novembro, em São Paulo, o guia já está disponível nas principais livrarias do País. Cirurgião do Hospital recebe Prêmio Jabuti E m cerimônia realizada no dia 13 de novembro, na Sala São Paulo, a Câmara Brasileira do Livro realizou a entrega de uma das mais tradicionais premiações literárias do País: o Prêmio Jabuti. Entre os premiados desta 55ª edição da cerimônia, estava o presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e cirurgião do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Fábio Guilherme Campos, que ficou com a terceira colocação na categoria Livro de Ciências da Saúde. 6 Visão Médica Editado pelo cirurgião e lançado em 2012 pela editora Atheneu, o ‘Tratado de Coloproctologia’ é o registro da experiência de numerosos especialistas no diagnóstico e tratamento das diversas afecções colorretais. A obra, que apresenta os principais avanços dos últimos anos nas áreas de técnica operatória, tratamento farmacológico, biologia molecular, imagenologia, anatomia patológica e outros, pode servir como fonte de referência para o cirurgião geral e principalmente para o coloproctologista que se dedica à especialidade no dia a dia. edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 GIRO PELO HOSPITAL O Passado Vivo Foto do corredor do Bloco A. Dicas do Tasy No momento da prescrição, no campo ‘Seleção de dietas’, é possível verificar detalhes sobre consistência e composição das preparações? Sim. Ao posicionar o cursor sobre determinado item, surgirá uma caixa de texto contendo detalhes sobre a preparação, como demonstrado na imagem abaixo: edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 7 GIRO PELO HOSPITAL QUAL É A SUA OPINIÃO? Cinco Perguntas Essenciais para 2014 E laboradas há quase duas décadas pelo austríaco Peter Drucker, algumas questões são utilizadas por diversas organizações do setor social para a realização de autoavaliações estratégicas e eficientes. Relevantes e atuais, os questionamentos podem ser empregados com resultados muitos positivos a qualquer tipo de organização. No caso de um consultório ou empresa, por exemplo, estas avaliações podem ser utilizadas como ponto de partida para planejar o futuro de maneira adequada. Qual é a nossa missão? O objetivo desta pergunta é proporcionar entendimento pleno sobre o real motivo de existência da organização. Ela precisa ter um significado maior e é reponsabilidade da liderança garantir o conhecimento, a compreensão e a vivência da missão por todas as partes interessadas. Uma boa declaração de missão deve sempre retratar oportunidades, competências e comprometimento. Quem é o nosso cliente? É importante que seja identificado o cliente principal para, com isso, estabelecer foco e priorização de ações para a conquista e manutenção deste público-alvo. Ele está relacionado diretamente às entregas realizadas pelos processos de negócio da organização. O que ele valoriza? A definição de valor por parte do cliente é tão variável quanto o grupo de que ele faz parte, mas é importante ratificar a necessidade de coleta dessas informações. Com elas, a organização começa a adquirir uma capacidade cada vez maior de criação de serviços mais atrativos e eficientes. Quais são os nossos resultados? É de vital importância uma avaliação sobre os resultados alcançados por uma organização, considerando medidas qualitativas e quantitativas. Trata-se de uma reflexão para verificar se os resultados obtidos estão coerentes, se as entregas estão ocorrendo de forma adequada, eficiente e sem desperdícios de recursos. Qual é o nosso plano? O resultado da resposta às quatro perguntas anteriores deve proporcionar um entendimento avançado sobre a organização dentro deste processo de autoavaliação e ajudar na definição de metas corporativas. O processo de planejar deve cobrir a tradução de metas estratégicas em ações realizáveis e controláveis – sem nunca perder a clareza sobre o motivo pelo qual tudo está sendo feito: o cliente. Celso Hideo Fujisawa [email protected] (11) 3469-8788 / (11) 99975-1186 Qual é a sua opinião? Caso relatado por Andréa Vinche Badra Pavani, Thomaz Nader Bassitt, Flávio Ferrarini de Oliveira Pimentel, Serli Kiyomi Nakao Ueda , Ciro Kirchenchtejn, Gilberto Turcato Jr. e Ruy Rodrigues Galves Jr. Paciente masculino, 66 anos, ex-tabagista, DPOC, chegou ao Pronto Atendimento de nosso serviço, com sintomas gripais associados à dispneia há um dia. Ao exame clínico, apresentava regular estado geral, dispneico com utilização de musculatura respiratória acessória, com saturação de 72%. Foi então internado, realizados exames laboratoriais e de imagem, dentre estes, uma tomografia computadorizada de tórax (imagens abaixo ilustradas). Resposta na pág. 27 8 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 PERSONAGEM HAOC Talento para fazer a diferença E m 1984, o jovem Ricardo Vitor Cohen concluía o curso de Medicina, no qual ingressara aos 16 anos de idade, com duas certezas. A primeira era a de que tinha feito a escolha certa ao optar pela profissão. A segunda, a preferência pela cirurgia, área em que, anos mais tarde, doutorou-se e em que desenvolveu pesquisas que projetaram seu nome internacionalmente. Às vésperas de completar 30 anos de carreira, 15 como membro do Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o médico do Centro de Excelência em Cirurgia Bariátrica e Metabólica da Instituição construiu uma trajetória de sucesso, baseada no talento e no arrojo. Líder em pesquisas pioneiras, o médico recorda os obstáculos enfrentados no início do trabalho e garante: valeu a pena. Ao realizar, pela primeira vez no mundo, uma cirurgia gastrointestinal para tratar diabetes em pacientes que não sofriam de obesidade grave, médico e Instituição assumiram suas respectivas posições na vanguarda do tratamento cirúrgico do diabetes tipo 2. “O filósofo alemão Arthur Schopenhauer dizia que qualquer verdade passa por três estágios. Primeiro, ela é ridicularizada, depois, violentamente combatida e, por fim, é aceita como óbvia e evidente. Na pesquisa relacionada ao diabetes, ocorreu exatamente a mesma coisa. Apesar da desconfiança, seguimos em frente e os resultados, como esperávamos, foram excepcionais. Posso dizer que, todo este esforço contribuiu para o avanço no tratamento da doença que, ainda hoje, é responsável por tantas mortes e complicações em todo o mundo”, explica Dr. Cohen. Reconhecimento mundial A liderança neste tipo de pesquisa e o êxito na realização dos procedimentos ultrapassaram fronteiras e garantiram ao Dr. Cohen reconhecimento mundial. Depois de receber, em 2012, um troféu pelo trabalho que desenvolveu para controle do diabetes, o cirurgião foi nomeado pela Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica e Bariátrica (ASMBS) como um dos 30 médicos que fizeram a diferença na última década. “Esta nomeação, que ocorreu no ano do 30º aniversário da ASMBS, é algo que, sem dúvida, tem um valor muito grande e que atesta o trabalho desenvolvido nestes quase 30 anos de carreira. Posso dizer que, no Hospital, já protagonizamos um momento histórico com a cirurgia para o controle do diabetes, mas ainda temos novos e importantes desafios pela frente. Hoje a Instituição já ocupa lugar de destaque como centro de pesquisa para o controle de doenças metabólicas, mas tenho certeza de que pode se tornar uma referência mundial. No que depender de mim, será”, conclui. Dr. Ricardo Vitor Cohen edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 9 ENTREVISTA Terapia Nutricional representa reforço importante durante internação H á pelo menos 40 anos, a Terapia Nutricional (TN) apresenta-se como um reforço estratégico que pode ser associado a intervenções e tratamentos que exigem internações hospitalares. Entrevistado pela Visão Médica, Dr. Andrea Bottoni, Médico Nutrólogo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Mestre em Nutrição e Doutor em Ciências pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), Coordenador da empresa Funzionali, falou sobre a importância da interdisciplinaridade, assim como da ampliação do debate sobre a aplicabilidade da Nutrição Clínica como suporte, tanto no diagnóstico quanto no tratamento de pacientes internados. Visão Médica: Hoje a TN é defendida como um recurso estratégico para a redução de complicações hospitalares e mesmo da taxa de mortalidade. A que se deve este tipo de constatação? Dr. Andrea Bottoni: A terapia nutricional propicia, entre outros benefícios, redução na morbidade, melhora no tempo de cicatrização, melhora na imunidade celular e a diminuição do tempo de internação. Hoje, quando se comparam pacientes nutridos e desnutridos em um mesmo estado mórbido, além de exigir um período de internação maior, com alto custo hospitalar e social, a morbimortalidade no primeiro grupo chega a ser duas vezes maior. Alem disso, considerando diferentes estudos e critérios utilizados, a prevalência da desnutrição hospitalar pode variar de 20% a 50%. Estes dados, acompanhados por evidências científicas que suportam esta afirmação há pelo menos quatro décadas, demonstram que a TN não é apenas um recurso estratégico, mas também fundamental quando se trata de condições para o oferecimento de outros serviços e intervenções hospitalares. Visão Médica: Com tantos benefícios, a TN conseguiu se estabelecer como uma prática comum nos serviços Hospitalares? 10 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 ENTREVISTA Dr. Andrea Bottoni: Por meio da portaria SVS/MS 272/1998 e da resolução RCD 63/2000, o Ministério da Saúde exige que todo hospital tenha uma equipe direcionada para a prática adequada de TN em seus pacientes, mas, infelizmente, este tipo de trabalho ainda não alcançou o estágio considerado adequado. De acordo com dados do Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (Ibranutri), obtidos em um estudo realizado em vários hospitais, de diferentes regiões do país e com cerca de 4 mil pacientes, metade dos indivíduos internados em hospitais públicos brasileiros encontra-se desnutrida. O levantamento atestou, com isso, uma reduzida consciência das equipes multiprofissionais de saúde quando o assunto é a pratica da TN. O estudo aponta que 85% dos pacientes não tiveram qualquer referência sobre seu estado nutricional e 10% receberam nutrição enteral, número considerado baixo pela literatura especializada. Visão Médica: Mas quais são as atribuições de uma EMTN? Dr. Andrea Bottoni: A formação de uma equipe multiprofissional, como a que temos aqui no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, tem como objetivo melhorar a prática TN. Sua estrutura, claro, pode variar de acordo com tamanho, as características e o perfil da instituição, mas deve ser constituída por, no mínimo, um profissional da área de Medicina, Nutrição, Enfermagem e Farmácia. Nesta atuação multiprofissional, capaz de agregar confiabilidade e segurança com relação à fonte dos produtos utilizados e à possibilidade de conduzir adequadamente a TN, a equipe realiza avaliações periódicas (clínicas e laboratoriais) dos pacientes desnutridos, assim como daqueles sob o risco de desnutrição intra-hospitalar, cobrindo todas as atribuições e objetivos estabelecidos pela legislação do Ministério da Saúde. Mas assim como a atuação multiprofissional mostra-se fundamental no caso das EMTNs, difundir informações sobre a TN para as outras áreas é indispensável. Por isso, temos tentado ampliar o debate e a participação de um número cada vez maior de áreas e profissionais. Foi o que aconteceu, por exemplo, no 1º Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea, que reuniu cerca de 180 profissionais em nosso Hospital. edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 11 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS IECS amplia gama de ações C om um conjunto de ações para capacitação e formação profissional, o Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz tem ampliado sua atuação como um núcleo de aprimoramento educacional. Além do início das aulas na Escola Técnica de Educação em Saúde (ETES), no mês de setembro, e do processo seletivo para os novos participantes dos Programas de Residência Médica em Anestesiologia e Medicina Intensiva, o IECS fortaleceu sua participação nos projetos educacionais em apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS) e criou novas parcerias que evidenciam sua vocação como centro de geração e disseminação de conhecimentos em saúde. Parcerias Em outubro, o Hospital e a Universidade Presbiteriana Mackenzie firmaram um acordo de cooperação para o desenvolvimento de atividades. “Profissionais de ambas as Instituições já iniciaram os trabalhos de identificação de projetos educacionais e de pesquisa de interesse comum, tendo em conta os diferenciais que as duas instituições possuem em suas respectivas áreas de atuação. Entre as áreas em prospecção estão as de nanotecnologia e de imagens médicas. As expectativas são as melhores possíveis e tenho certeza de que teremos grandes avanços para compartilhar em breve”, afirma o Superintendente de Educação e Ciências, Dr. Jefferson Fernandes. 12 Visão Médica edição 14Nov/ • Janeiro edição 17 • Out/ Dez • 2013 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS Já em 2014, o Hospital lançará, em parceria com a HSM Educação, seu novo MBA em Gestão das Organizações de Saúde. Parte do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu do IECS, o curso busca desenvolver competências essenciais aos gestores e, por isso, conta com proposta pedagógica que pretende proporcionar uma experiência de aprendizado global e contemporânea. Com carga horária de 556 horas e conteúdo composto por atividades educacionais, vídeos e cases exclusivos desenvolvidos por alguns dos maiores experts do management mundial, além de ambiente virtual e C-Book (Collaborative Book), o curso dará aos alunos a oportunidade de participar dos eventos organizados pela HSM, como o ExpoManagement. Educação para o Desenvolvimento do SUS Como parte do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), o IECS possui três ações em andamento: Apoio à Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS), Capacitação em Pesquisa Clínica e Formação de Preceptores em Residência Médica. Dentro da iniciativa de apoio à REBRATS, o IECS já atua na capacitação de sua segunda turma no MBA em Economia e Avaliação de Tecnologias em Saúde, realizado em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Outra ação de apoio à REBRATS e que avança neste sentido é o Curso Básico de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) para Gestores do SUS. Desenvolvido em uma plataforma de Educação a Distância (EaD), o curso tem abrangência nacional e prioriza a capacitação de gestores das esferas federal, estadual e municipal para o entendimento e uso das ATS nos processos de tomada de decisão com relação às tecnologias em saúde para usuários do SUS. Na linha da Capacitação em Pesquisa Clínica, o IECS criou um módulo básico que, também em EaD, já capacitou mais de 300 profissionais. Com os bons resultados e a grande demanda por parte de profissionais especializados, foi desenvolvido também um curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Pesquisa Clínica. Ini- edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 ciada em julho de 2013, a primeira turma conta com 36 alunos da Rede Nacional de Pesquisa Clínica. Com relação ao Programa de Formação de Preceptores em Residência Médica, o projeto surgiu para contribuir com o aprimoramento dos programas de residência em todo o País. Também em plataforma EaD o curso conta, hoje, com 122 alunos de todas as regiões do Brasil. “Os projetos buscam oferecer condições para que estes profissionais sejam ainda mais capazes para contribuir para uma efetiva melhora da saúde da população brasileira. A julgar pelos resultados alcançados até o momento, acredito que estamos na direção certa”, avalia Dr. Jefferson Fernandes. Visão Médica 13 TEMPO LIVRE Bem-estar para corpo e mente Dra. Elizabeth Sartori Crevelari (ao centro) e seus alunos de karatê É possível que alguns pacientes e mesmo os colegas da Dra. Elizabeth Sartori Crevelari, especialista em cirurgia cardiovascular e estimulação cardíaca, nem desconfiem, mas o branco de sua vestimenta e a precisão dos movimentos, fruto da dedicação e de muita prática, não são atributos que se restringem ao consultório ou às salas de cirúrgicas. No tatame, quando o quimono e a faixa preta tomam o lugar do jaleco, Dra. Elizabeth demonstra conhecimento sobre uma área que, para ela, tem um laço muito estreito com o da sua carreira: o karatê. “Carregava esta curiosidade pelas artes marciais desde a infância, graças às revistas infanto-juvenis e, depois, com filmes como os do Bruce Lee e do Chuck Norris. Quando, aos 17 anos, ingressei na Faculdade de Medicina, decidi que, além da graduação, me dedicaria também às artes marciais. Poderia ter escolhido o judô, o kung fu, mas acho que pela empatia com o mestre, na época, acabei optando pelo karatê”, revela. De acordo com a médica, o karatê é uma atividade exigente, mas muito recompensadora já que proporciona o equilíbrio entre corpo e mente, algo fundamental para qualquer pessoa. Filiada às Confederações Paulista e Brasileira de Karatê e com a experiência de quem já participou de competições nacionais e internacionais, Dra. Elizabeth explica que, para aprimorar seu desempenho e condicionamento físico, além de horas de treina- 14 Visão Médica mentos, dedica tempo à musculação e, graças ao amor pelo esporte, separa um tempo para transmitir parte de seus conhecimentos. “Influenciei tanto o meu marido, o também cardiologista Dr. Jorge Porto, quanto meu filho Gustavo que se dedicou ao esporte até completar 12 anos de idade. Apesar de nenhum deles seguir praticando, existem lições que eles, com certeza, carregarão para sempre. E é com isso em mente que hoje, pelo menos duas vezes por semana, ensino Karatê Shotokan, que é o estilo de que sou adepta, aos colaboradores do Hospital Alemão Oswaldo Cruz”, revela a médica. Com aulas que aliam exercício físico e consciência corporal ao desenvolvimento de atributos como rapidez de raciocínio, equilíbrio emocional e companheirismo, Dra. Elizabeth garante que a atividade representa um momento de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. “As artes marciais geram muitos benefícios, mas costumo dizer aos alunos que, mais do que dedicar-se à atividade, o importante é separar pelo menos 60 minutos do dia para fazer algo por si mesmo. Praticar um esporte, cozinhar algo para alguém que se ama, abraçar um amigo, um filho ou ouvir músicas, por exemplo, pode mudar a rotina de maneira muito positiva e o indivíduo, independentemente do colesterol, será muito mais saudável e feliz”, conclui. edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 COMO EU TRATO COMO EU TRATO: Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI) Dr. Roberto de M. Carneiro de Oliveira Introdução O s Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) são doenças que, independentemente da forma (isquêmico ou hemorrágico), precisam ser correta e rapidamente diagnosticadas e tratadas. Todo AVC é uma emergência. O diagnóstico tardio e o não reconhecimento dos sintomas prejudicam o tratamento adequado. Diagnóstico O AVCI se manifesta por déficit súbito de perda de força e/ou sensibilidade em um membro ou lado do corpo, alteração de linguagem (emissão ou compreensão), perda de campo visual, desvio de rima bucal, alteração da deglutição. Os infartos cerebelares são, muitas vezes, confundidos com labirintopatia, pelas queixas de perda de equilíbrio, tontura, vômitos, presença de nistagmo. A informação do horário preciso do início dos sintomas é fundamental para o tratamento trombolítico. Dr. Roberto de M. Carneiro de Oliveira O exame físico inicial deve abranger avaliação do ABC (vias aéreas, respiração e circulação), oximetria e temperatura, sinais de TCE ou crise convulsiva, ausculta carotídea, sinais de ICC, arritmia cardíaca, sopros por valvulopatia, avaliação de visceromegalia, hepatopatias, sinais de coagulopatia, insuficiência hepática e vasculites. O exame neurológico inicial deve ser dirigido pela escala de AVC do NIH. O diagnóstico por imagem é essencial na determinação da forma do AVC. A tomografia computadorizada de crânio é suficiente na maior parte dos casos, mostrando sinais precoces de lesão isquêmica, como apagamento de núcleos da base, perda de definição da transição córtico-subcortical, hipersinal edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 15 COMO EU TRATO da artéria com trombo agudo. Afastar a possibilidade de hemorragia é fundamental para a segurança no tratamento. Havendo suspeita de infarto em tronco cerebral ou cerebelo, deve-se realizar ressonância magnética de crânio, pois na tomografia de fossa posterior o osso temporal produz muito artefatos. Tratamento A agilidade no diagnóstico e tratamento é fator determinante de melhor prognóstico. Medidas Gerais: 1 Controle da ventilação: desobstruir vias aéreas, retirando restos de alimentos e secreções sob risco de aspiração. Intubação orotraqueal para pacientes com rebaixamento do nível de consciência e sinais clínicos de insuficiência respiratória (pO2<60 mmHg ou pCO2>50 mmHg) e risco de aspiração. Monitorar oximetria. 2 Controle da pressão arterial: na fase aguda do AVC, 60% dos pacientes apresentam-se hipertensos por estresse, dor, repleção vesical e hipertensão intracraniana. Muitas vezes, a correção da condição corrige a pressão arterial. Pacientes não candidatos à trombólise, que se apresentem hipertensos em níveis elevados (PAS >220 mm Hg ou PAD >120 mm Hg), podem ter sua pressão arterial reduzida em 15% nas primeiras 24 horas do AVCI, medicação EV contínua e monitorização preferencialmente invasiva contínua (na impossibilidade de monitorização invasiva, monitorar de forma intermitente a cada 5 min). No paciente candidato à trombólise ou pós-trombólise, a PA deve ser controlada com anti-hipertensivo EV e mantida < 180/105 mm Hg. Tentar manter PAS preferencialmente > 160 mm Hg:Se PAS > 220 mm Hg ou PAD > 140 – nitroprussiato de sódio; se PAS entre 180 e 220 mm Hg ou PAD entre 110 e 140 mmHg -esmolol ou labetalol IV. 4 Controle da temperatura: a hipertermia é importante preditor de mau prognóstico. A monitoração da temperatura axilar (2/2h) e o agressivo tratamento de temperatura superior a 37,5º são imprescindíveis. 5 6 Controle da glicemia: manter controle glicêmico próximo de 120-140 mg%. Trombólise: em primeiro lugar, afastar os critérios de exclusão. Determinados fatores aumentam o risco da terapia trombolítica, não sendo, contudo, contraindicação absoluta de seu uso: NIHSS > 22, idade > 80 anos, e a combinação de AVC prévio e diabete melitus. Trombólise endovenosa com alteplase 0,9 mg/kg (máximo de 90 mg), com 10% da dose aplicada em bôlus e o restante, continuamente, ao longo de 60 minutos. É imprescindível pesar-se o paciente para o cálculo exato da dose do medicamento. A alteplase deve ser interrompida caso haja qualquer evidência de anafilaxia ou suspeita de sangramento ativo. Deve ser feita monitorização da pressão arterial (medição a cada 15 min por 1 hora, a cada 30 min por mais 6 horas e a cada 1 hora por 24 horas) e da NIHSS (a cada 30 min nas primeiras 6 horas, e depois a cada 1 hora até completar 24 horas. Aumento de 4 pontos pode indicar sangramento). Após a infusão do trombolítico, nas primeiras 24 horas não se administra antiagregante plaquetário ou anticoagulantes; não se realiza cateterização venosa central ou punção arterial; não introduzir sonda nasoenteral; e não se introduz sonda vesical até pelo menos 30 minutos do término da infusão do trombolítico. A administração de antiagregante plaquetário (ou anticoagulação, nos casos de AVCI cardioembólico) e estatina auxiliam no tratamento da lesão isquêmica e são indicadores de qualidade na alta do paciente. 3 Controle da frequência cardíaca: todos os pacientes com AVCI devem ser monitorados para a frequência cardíaca, procurando detectar arritmias ou alterações miocárdicas isquêmicas. 16 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 COMISSÃO DE BIOÉTICA Bioética para as novas gerações Dra. Janice Caron Nazareth O s cursos de ética, como propostos nos modelos antigos, são claramente insuficientes, sob a luz dos conhecimentos atuais, para atender à necessária formação humanística dos futuros profissionais da saúde. Torna-se fundamental, portanto, que, mais do que o ensino de Medicina Legal e Deontologia, pelo modelo passivo de ensinar-aprender com aulas magistrais, adotem-se lições de Bioética, utilizando o modelo socrático, com ampla integração docente-discente-realidade social, como propõe o Prof. Dr. José Eduardo Siqueira, da PUC do Paraná. Os debates do modelo socrático promoverão duas consequências importantes. A primeira trata da percepção das habilidades cognitivas e afetivas dos alunos, que refletirão e se conhecerão melhor, mas também ouvirão e aprenderão a respeitar pontos de vista diferentes dos seus, podendo assim comunicar sem receio suas mudanças de opinião, ou argumentar, quando isso se fizer necessário. A segunda entende que os alunos deverão ter contato com a pluralidade da nossa sociedade, convivendo com pessoas diferentes, do ponto de vista social e cultural, assim como com as diversas profissões relacionadas. Isto lhes trará noção de transdiscipinaridade e despertará sentimentos como compaixão, solidariedade, respeito e justiça, levando ao aprimoramento da sensibilidade, raciocínio, comprometimento e percepção morais. adequada tomada das decisões clínicas. Esse deverá ser um exercício constante de tolerância, prudência e acolhimento que, aprendido na escola e bem orientado por mestres capazes, acompanhará os profissionais pela vida, com treinamento para evitar preconceitos, promovendo a incorporação de valores, como humildade, respeito e grandeza de alma para reconhecer e corrigir os erros que, certamente, serão cometidos. Dessa maneira, a Bioética exercerá seu papel de “ponte para o futuro”, como definida por Van Rensselaer Potter, em 1971, solucionando e instigando novos problemas, contemplando as interfaces entre tecnociência e humanidade e o “encontro agapeano entre gerações”, como propõe o Professor Emérito William Saad Hossne, da FMUNESP de Botucatu. Segundo sugestão deste emérito professor, sumidade da Bioética brasileira, parodiando Epícuro, “nunca é cedo ou tarde demais para ‘bioeticar’”, tornando mais puro e abrangente o olhar aos nossos pacientes e seus familiares e aos nossos colegas de trabalho. Treinado durante toda a graduação, esse processo permitirá aos jovens a compreensão da diversidade, do respeito e trará melhor entendimento do percurso que leva o ser humano da anomia (falta de objetivos e perda de identidade, provocada pelas intensas transformações do mundo social) à autonomia (liberdade do indivíduo em gerir livremente sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas). Sendo assim, haverá modificação na maneira de utilizar a abundância de novos conhecimentos e recursos técnicos, com a moderação necessária para a edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 17 CAPA Profissionalismo Hospital Alemão Oswaldo Cruz tem novo Superintendente Executivo 18 Visão Médica edição edição17 17••Out/ Out Nov/ Dez • 2013 CAPA E m janeiro de 2014, Paulo Vasconcellos Bastian assume a Superintendência Executiva do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que, desde 2006, era exercida por José Henrique do Prado Fay. Planejada e conduzida por meio de um processo de sucessão que vem se desenvolvendo há mais de um ano, a mudança ocorre em função de regras institucionais estabelecidas para a liderança executiva do Hospital. edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 19 CAPA “Traço de uma cultura profissional muito forte e a exemplo do que ocorre no segmento corporativo, o contrato, que rege a atuação do Superintendente Executivo, estabelece um limite etário para o cargo. Por isso, desde 2010, iniciamos um processo com empresa especializada para eleger o sucessor e realizar uma transição de qualidade”, explica Fay. Com atuação destacada nas avaliações realizadas, o Conselho Deliberativo do Hospital escolheu Paulo Bastian para assumir a função. “Recebi esta nova incumbência com enorme satisfação, tanto pelo reconhecimento, quanto pelo desafio. À frente da Superintendência Operacional, já atuava de forma muito sinérgica com a Superintendência Executiva, suportando a elaboração e o desenvolvimento da estratégia que fortaleceu a imagem do Hospital nestes últimos anos. Conseguimos, com isso, estabelecer bases muito consistentes para seguir crescendo, conduzindo as fases seguintes do projeto de expansão”, explica. Resultado da dedicação A profissionalização do Hospital foi um dos desafios assumidos por Fay em janeiro de 2006. “Fico muito feliz em perceber que, com mais de 116 anos de tradição, o Hospital segue evoluindo. O trabalho realizado até aqui, e que seguirá nos projetos do novo Superintendente, permitiu realizações muito importantes e que, tenho certeza, representam parte de um ciclo virtuoso na história da Instituição”, afirma. De acordo com Fay, estas realizações podem ser divididas em três pilares fundamentais: Posicionamento Estraté- 20 Visão Médica gico para atuar em toda a cadeia da saúde; Sustentabilidade Social; e Educação e Pesquisa. “Todo o trabalho de posicionamento foi focado na saúde. Realizamos um intenso projeto de recuperação operacional e aperfeiçoamento da gestão que, além de conquistar a acreditação da Joint Commission International, incluiu o desenvolvimento de pessoas e a ampliação do relacionamento com os médicos do nosso Corpo Clínico, assim como com o mercado. Precisávamos desta base para iniciar o projeto de expansão, que hoje está em curso e que já resultou na ampliação da área física e no aprimoramento da infraestrutura tecnológica, no sentido de atender os objetivos estratégicos estabelecidos”, explica. Já com relação à Sustentabilidade Social, Fay salienta que, além das ações realizadas, o grande destaque fica para o reconhecimento do Hospital como Instituição de excelência, por parte do Ministério da Saúde, qualificando-o a atuar no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). reitera os resultados do empenho e oferece a oportunidade de contribuir, por meio da capacitação e da disseminação de parâmetros relacionados à qualidade e segurança. Por fim, quanto ao pilar da Educação e Pesquisa, o Superintendente reforça a atuação diferenciada do Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS). “Hoje, além de toda a infraestrutura, criamos um verdadeiro núcleo de inteligência para a capacitação e a geração de conhecimento. Este ano, além das inúmeras atividades relacionadas à educação e à pesquisa, criamos a Escola Técnica de Educação em Saú- edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 CAPA de (ETES) e, em breve, iniciaremos as atividade da Faculdade de Ciências em Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz”, revela Fay. tian atribui a consistência do processo ao momento vivido pelo Hospital, teoria ratificada pelo Presidente do Conselho Deliberativo do Hospital, Marcelo Lacerda. No caminho certo “Madura, a Instituição produziu um processo de sucessão profissional, focado nos pontos fundamentais para a manutenção do desenvolvimento e nas melhores práticas do mercado. A sucessão foi planejada, preparada e conduzida de forma positiva e harmônica. Bastian se habilitou a assumir a Superintendência Executiva pela competência que demonstrou tanto nas avaliações realizadas ao longo do processo, quanto nos anos de trabalho dedicados ao Hospital”, conclui Marcelo. Com a experiência adquirida em seus quase oito anos atuando no Hospital e o apoio de José Henrique do Prado Fay, que seguirá auxiliando no processo de transição até o mês de março, Paulo Bastian garante que 2014 não será um ano de mudanças, mas sim de fortalecimento. Com foco na expansão, o futuro Superintendente Executivo revela que as ações de aproximação e relacionamento com os médicos, a implantação das melhorias do Centro Cirúrgico e da Unidade de Terapia Intensiva, assim como o desenvolvimento dos Centros de Especialidades, continuarão aceleradas. “O Hospital tem um projeto muito bem definido e que visa o crescimento. A função do Superintendente Executivo, assim como de todo o time, é a de trabalhar para que este projeto avance e alcance resultados estabelecidos. Seguirei nesta linha, agora com outras atribuições e responsabilidades”, explica. Protagonista em uma transição bem elaborada, Bas- edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 21 EXAMES LABORATORIAIS Quantificação das subpopulações linfocitárias e cultura de linfócitos Uso da citometria de fluxo na avaliação da imunidade celular Assessoria Médica - Grupo Fleury: Dr. Sandro Felix Perazzio, Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade, Dr. Alex Freire Sandes e Dr. Edgar Gil Rizzatti O s linfócitos T desempenham papel essencial no sistema imunológico. A principal característica dos pacientes com defeitos na imunidade celular é uma maior suscetibilidade a infecções graves, ocasionadas por vários agentes, como vírus, fungos e bactérias intracelulares. As células T CD4+ constituem uma população heterogênea, com distintas funções, tais como auxílio para a produção e troca de classe de imunoglobulinas pelos linfócitos B (Th1 e Th2), bem como supressão de linfócitos efetores (Treg) e atividade efetora direta (Th17). Já as células T CD8+ são predominantemente efetoras, desempenhando papel-chave na erradicação de microrganismos intracelulares. A investigação e o seguimento das imunodeficiências combinadas e celulares, congênitas ou adquiridas, compreendem, entre outros estudos, a determinação do número de linfócitos totais e suas subpopulações, assim como a análise funcional in vitro dos linfócitos. quantificação de subpopulações linfocitárias por citometria de fluxo. Até recentemente, o número de linfócitos T era derivado de medidas determinadas por plataforma dupla, ou seja, por um analisador hematológico que contava leucócitos e linfócitos, bem como por um citômetro que fornecia o percentual de linfócitos T CD4+. O resultado da quantificação vinha do produto entre essas duas medidas distintas, o que a tornava suscetível a um maior Quantificação das subpopulações linfocitárias Com a aquisição de novos citômetros de fluxo, equipados com mais de quatro cores, e a adoção de microesferas fluorescentes, o Fleury introduziu,em 2013, a tecnologia de plataforma simples para a 22 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 EXAMES LABORATORIAIS Quantificação das células T no contexto de HIV/ AIDS A obtenção de medidas precisas do número de linfócitos T CD4+ é essencial para avaliar o sistema imunológico e realizar o acompanhamento de pacientes com o vírus HIV. A patogênese da AIDS está relacionada com a diminuição do número de linfócitos T CD4+, razão pela qual a depleção progressiva dessas células associa-se com prognóstico desfavorável e com aumento da probabilidade de infecção grave. Dessa forma, o Ministério da Saúde preconiza a quantificação de tais marcadores com uma periodicidade de 3-6 meses em indivíduos infectados com o HIV. Essa estratégia tem sido utilizada com o propósito de estabelecer pontos de decisão para fazer a profilaxia de infecções oportunistas, como a pneumonia por Pneumocystisjirovecii, e igualmente para iniciar e monitorar a terapia antirretroviral. número de resultados imprecisos e a uma maior variação interlaboratorial. A metodologia de plataforma simples, ao contrário, permite a contagem absoluta e percentual de linfócitos T (CD4+ e CD8+) somente com a utilização de medidas derivadas do citômetro de fluxo.O método, recomendado pelo Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, para quantificação de linfócitos T CD4+, não só apenas apresenta maior acurácia e reprodutibilidade que a plataforma dupla, como também consegue resolver resultados discrepantes e ainda diminuir o número de casos que necessitam de reanálise e nova coleta. Análise funcional dos linfócitos bém emprega a citometria de fluxo, tem alta sensibilidade e permite determinar o número de células respondedoras dentre a população originalmente exposta aos mitógenos. Por se tratar de uma reação que envolve o cultivo dos linfócitos extraídos do sangue e, portanto, sujeita a fatores extrínsecos que interferem na viabilidade e na função dessas células, cada exame é feito paralelamente a uma amostra controle, coletada de um indivíduo saudável. Uma resposta proliferativa igual ou superior a 50% da obtida com o controle indica resultado normal. Em geral, os pacientes com defeito na imunidade celular apresentam resposta proliferativa diminuída aos estímulos utilizados. Contudo, o resultado anormalde uma determinação isolada, sem quadro clínico compatível, deve ser confirmado em uma segunda amostra. A cultura de linfócitos representa um dos melhores métodos disponíveis para analisar a capacidade proliferativa dos linfócitos T, uma vez que avalia a resposta dessas células após estímulo com ativadores policlonais (mitógenos), como a fitohemaglutinina (PHA) e o pokeweed. Recentemente, o Fleury implantou uma nova e moderna metodologia para a realização desse exame, baseada na redução da fluorescência emitida pelo composto CFSE pelos linfócitos que sofrem proliferação. O ensaio tam- edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 23 REVISÃO SISTEMÁTICA A Farmacogenômica como solução à variação na resposta aos fármacos Dr. Vladimir Bernik Coordenador da Equipe de Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Dra. Livia Chaves Pereira PhD - Geneticista, Ab-Biotics A Farmacogenômica é uma disciplina na qual se encontram Genética e Farmacologia, e que estuda como as variações interindividuais no DNA (polimorfismos genéticos) afetam a resposta de um individuo aos medicamentos. A Farmacogenômica é uma ciência com mais de 50 anos de existência, mas que, nos últimos dez, graças a todos os estudos realizados, começou a ter uma utilidade clínica, já que permite ao médico selecionar com segurança o tratamento que melhor se adapta às características de cada paciente [1-4]. Organizações como a US Food and Drug Administration (FDA) e a European Medicine Agency (EMA) são conscientes do impacto que a Farmacogenômica pode ter na Medicina. Farmacogenômica em Neuropsiquiatria Parte importante do tratamento de enfermidades neuropsiquiátricas baseia-se no uso de fármacos. Não obstante, a resposta não parece ser suficientemente completa em muitos pacientes. Por exemplo, na depressão, cerca de 60% dos pacientes não responde de forma completa aos fármacos antidepressivos, enquanto os outros 40% não obtém nenhuma resposta [7,8]. Ademais, efeitos adversos dos tratamentos antidepressivos são frequentes (40 a 90%) e não é possível prever seu aparecimento [9]. De forma similar, ainda que os antipsicóticos tenham conseguido revolucionar o tratamento da esquizofrenia, a taxa de remissão situa-se em torno de 35 a 40% [10]. Além deste fato, nos pacientes com tratamento de longo prazo, aproximadamente 25% apresenta discinesia tardia, um 24 Visão Médica efeito adverso potencialmente irreversível [11]. O perfil genético altera a farmacocinética de muitos fármacos, afetando a resposta terapêutica e facilitando o aparecimento de efeitos adversos. Estima-se que fatores genéticos sejam responsáveis por 50% da variação na resposta aos antidepressivos [8]. Também tem sido descrita a existência de importantes diferenças interindividuais na resposta clínica e nos efeitos adversos dos fármacos antipsicóticos [12]. Neste sentido, o Clinical Pharmacogenetics Implementation Consortium (CPIC) recomenda o ajuste de doses, ou mesmo a mudança de fármaco em função do genótipo do paciente para antidepressivos tricíclicos [13], a FDA [5] normatizou recomendações de doses concretas com base no genótipo do paciente, para medicamentos como Aripiprazol, Atomoxetina, Citalopram, Clobazam ou Pimozida, assim como recomenda o uso com precaução ou contraindicação em função do genótipo para Clozapina, Fluvoxamina, Iloperidona e Tioridazida [5]. Igualmente, a Royal Dutch Pharmacist’s Association (KNMP) [10] estabeleceu diretrizes para Paroxetina e Venlafaxina [16]. A partir de todas estas informações disponíveis, a AB-Biotics desenvolveu o Neurofarmagen, um teste que permite realizar uma análise farmacogenômica dos medicamentos frequentemente utilizados em Neuropsiquiatria e para os quais existe informação genética. O teste analisa polimorfismos relacionados com a resposta a fármacos, a dose mais adequada e a probabilidade de aparecimento de efeitos adversos associados ao tratamento. Podemos encontrar exemplos práticos como estes quanto à aplicação da informação proporcionada pela Farmacogenômica em Psiquiatria: 1 - Metabolizadores Lentos de Zuclopentixol [14,23] Problema: uma porcentagem da população pode ser de metabolizadores lentos para alguns fármacos, já que apresentam uma variante não funcional do citocromo P450 2D6 (CYP2D6). Em populações de origem africana (alguns alelos como: 5, 10 e 17) esta frequência alélica pode ser superior a 4%, já em populações de origem euro- edição 14Nov/ • Janeiro edição 17 • Out/ Dez • 2013 REVISÃO SISTEMÁTICA peia esta frequência alélica pode ser superior a 2%. Consequência: degradação e eliminação, mais lenta do fármaco no sangue. Aumento do risco de efeitos adversos. Benefícios da Farmacogenômica: identificação dos metabolizadores lentos. Ajuste da dose de Zuclopentixol antes de iniciar o tratamento. Possibilidade de reduzir os efeitos adversos. Imagem 1 - exemplo de visualização do relatório de resultados do teste farmacogênomico Neurofarmagen. existe o risco de incremento dos níveis de Citalopram, aumentando o risco de prolongamento do intervalo QTc. Em metabolizadores rápidos devido a uma maior degradação e eliminação do fármaco poderia provocar a falha do tratamento por falta de resposta terapêutica. Benefícios da Farmacogenômica: identificando o tipo de metabolizador e com as devidas correções de dose na pauta de tratamento pode-se aumentar a probabilidade de sucesso do tratamento e diminuir riscos para o paciente. Farmacogenômica em outras áreas A Farmacogenômica está muito avançada em outras áreas da Medicina, como a Oncologia, a Cardiologia e a Imunologia, por exemplo. Existem pesquisas e estudos em curso para entender como a informação genética pode ser utilizada para desenvolver tratamentos e estratégias mais personalizadas, assim como mais benéficas no uso de medicamentos. Consequentemente, este feito derivaria em importantes resultados positivos até mesmo na redução de gastos fármaco-econômicos por diminuição no numero de hospitalizações dos pacientes. Bibliografia 2 - Transporte de Citalopram, Paroxetina, Desvenlafaxina ao sistema nervoso central [15] Problema: variações genéticas na glicoproteína P afetam o transporte de Citalopram, Paroxetina ou Desvenlafaxina, através da barreira hematoencefálica. Consequência: doses no sistema nervoso central superiores ou inferiores às desejadas. Redução da probabilidade de sucesso no tratamento. Benefícios da Farmacogenômica: identificação das variantes genéticas relevantes antes de iniciar o tratamento. Ajuste da dose de Citalopram, Paroxetina ou Desvenlafaxina do paciente. Maior probabilidade de sucesso do tratamento. 3 - Metabolização de Citalopram através do citocromo P450 2C19 (CYP2C19) [24-25] Problema: algumas variações genéticas no citocromo P450 2C19 (CYP2C19) podem alterar a metabolização de Citalopram. Consequência: em pacientes com metabolização lenta, edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 1. Stingl, J.C., J. Brockmoller, and R. Viviani, Genetic variability of drug-metabolizing enzymes: the dual impact on psychiatric therapy and regulation of brain function. Mol Psychiatry, 2013. 18(3): p. 273-87. 2. Epstein, R.S., et al., Warfarin Genotyping Reduces Hospitalization Rates: Results From the MM-WES (Medco-Mayo Warfarin Effectiveness Study). Journal of the American College of Cardiology, 2010. 55(25): p. 2804-2812. 3. Mallal, S., et al., HLA-B*5701 Screening for Hypersensitivity to Abacavir. New England Journal of Medicine, 2008. 358(6): p. 568-579. 4. Olgiati, P., et al., Should pharmacogenetics be incorporated in major depression treatment? Economic evaluation in high- and middle-income European countries. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, 2012. 36(1): p. 147-154. 5. U.S Food and Drug Administration. Table of Pharmacogenomic Biomarkers in Drug Labels. Jun 2013 [cited 2013 Oct]; Available from: http://www.fda.gov/Drugs/ ScienceResearch/ResearchAreas/Pharmacogenetics/ucm083378.htm. 6. Swen, J.J., et al., Pharmacogenetics: from bench to byte--an update of guidelines. Clin Pharmacol Ther, 2011. 89(5): p. 662-73. 7. Spear, B.B., M. Heath-Chiozzi, and J. Huff, Clinical application of pharmacogenetics. Trends in molecular medicine, 2001. 7(5): p. 201-204. 8. Crisafulli, C., et al., Pharmacogenetics of antidepressants. Frontiers in Pharmacology, 2011. 2. 9. Seeringer, A. and J. Kirchheiner, Pharmacogenetics-Guided Dose Modifications of Antidepressants. Clin Lab Med, 2008. 28(4): p. 619-626. 10. AlAqeel, B. and H.C. Margolese, Remission in schizophrenia: critical and systematic review. Harv Rev Psychiatry., 2012. 20(6): p. 281-97. 11. Meltzer, H.Y., Update on Typical and Atypical Antipsychotic Drugs. Annual Review of Medicine, 2013. 64(1): p. 393-406. 12. Zhang, J.-P. and A.K. Malhotra, Pharmacogenetics and antipsychotics: therapeutic efficacy and side effects prediction. Expert Opinion on Drug Metabolism & Toxicology, 2011. 7(1): p. 9-37 13. Hicks, J.K., et al., Clinical Pharmacogenetics Implementation Consortium guideline for CYP2D6 and CYP2C19 genotypes and dosing of tricyclic antidepressants. Clin Pharmacol Ther, 2013. 93(5): p. 402-8. 14. Ingelman-Sundberg M, et al. Influence of cytochrome P450 polymorphisms on drug therapies: pharmacogenetic, pharmacoepigenetic and clinical aspects. Pharmacol Ther. 2007 Dec; 116(3):496-526. Visão Médica 25 ARTIGO INTERNACIONAL Exame imuno-histoquímico na detecção de mutações BRAFV600E em neoplasias Abordagem promissora na seleção de terapia-alvo Juliano Bertollo Dettoni (1) e Venancio Avancini Ferreira Alves (2) 1. Médico-Patologista, CICAP – Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Preceptor, Div. Anatomia Patológica, HC-FMUSP 2. Diretor-Técnico, CICAP – Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Professor Titular, Dep. Patologia, FMUSP A caracterização molecular de tumores, impulsionada pelo sequenciamento gênico, identificou grande concentração de eventos essenciais para a carcinogênese em cerca de 140 genes. O número de mutações varia muito entre os diferentes tumores, sendo suficientes apenas por volta de nove mutações em neoplasias hereditárias ou incidindo na infância, contrastando com a necessidade de centenas de eventos para o desenvolvimento de neoplasias decorrentes de agentes mutagênicos, como luz ultravioleta e o cigarro, ou associadas a defeitos em genes de reparo do DNA (1,2). Em 95% dos casos dos tumores sólidos mais comuns, tais mutações ocorrem são do tipo “point mutation”, correspondendo a substituições de uma única base e o restante por deleções ou inserções de poucas bases (1). Essas mutações promotoras levam à instabilidade do genoma, favorecendo uma série de novas mutações e características adaptativas nas células tumorais que, em determinado ponto, adquirem a capacidade de proliferação sustentada, escape do controle de supressores do crescimento celular, resistência à morte celular, imortalização, indução da angiogênese, capacidade de invasão e de se metastatizarem (3). Nesse contexto, surgiram novas possibilidades terapêuticas que inibem o crescimento tumoral ao atuarem em alvos específicos relacionados dire- 26 Visão Médica ta ou indiretamente às vias de funcionamento das células ativadas ou bloqueadas por tais mutações. Para a presente edição da revista Visão Médica, dentre as mutações cuja identificação já tem guiado a ministração de terapia-alvo, destacamos a mutação ativadora BRAF V600E, que confere potencial transformação e imortalização celular (1,4) e pode ser detectada em aproximadamente 7% de todas as neoplasias, incluindo 60 - 70% dos melanomas, 29 - 83% dos carcinomas papilíferos da tireoide, 4 - 16% dos adenocarcinomascolorretais e em menor frequência em outros tumores como os de ovário e de pulmão (4). Atualmente, tais alterações são diagnosticadas por sequenciamento gênico do produto de PCR realizada no DNA extraído de células tumorais em amostras congeladas ou fixadas em formol e incluídas em blocos de parafina. A grande novidade que aqui relatamos são os estudos que demonstram de modo promissor a detecção imuno-histoquímica da proteína especificamente resultante da mutação BRAF V600E mediante o novo anticorpo clone VE1. Analisando adenocarcinomas de pulmão, Ilie et al demonstraram sensibilidade de 90,5% e especificidade de 100% na detecção de tal mutação por imuno-histoquímica em comparação com o sequenciamento gênico (5). edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 ARTIGO INTERNACIONAL/ QUAL É A SUA OPINIÃO? Em adenocarcinomascolorretais com instabilidade microsatélite, a presença da mutação BRAFV600E virtualmente exclui a síndrome de Lynch e prediz um mau prognóstico (6). Como conclusão desse estudo, Toon et al sugerem indicação do rastreamento de tal mutação por método imuno-histoquímico, que se demonstrou eficaz quando comparado à análise por PCR (6). Em melanomas metastáticos, já foi aprovado pelo FDA-USA o uso de Verumafenib (Roche, Suíça) para tumores com mutações desse tipo e o estudo imuno-histoquímico nesses tumores pode auxiliar a identificação de pacientes com maior probabilidade de resposta favorável (7). Em síntese, os diversos trabalhos recém-publicados apontam para várias situações em que uma abordagem integrada combinando imuno-histoquímica anti-BRAFV600E e análise genética molecular pode ser de grande valia na seleção de portadores de diversos tipos de neoplasia que tenham maior probabilidade de resposta clínica favorável com inibidores da via de sinalização celular alterada pela mutação BRAFV600E. 1. Vogelstein B, Papadopoulos N, Velculescu VEetal. Cancergenomelandscapes. Science. 2013 ;339:1546-58. 2. Govindan R, Ding L, Griffith M et al. Genomic landscape of non-small cell lung cancer in smokers and never-smokers. Cell.2012 150:1121-34. 3. Hanahan D, Weinberg RA. Hallmarks of cancer: the next generation. Cell.2011;144:646-74. 4. James J, Ruggeri B, Armstrong RC et al. CEP-32496: a novel orally active BRAF (V600E) inhibitor with selective cellular and in vivo antitumor activity. Mol Cancer Ther 2012; 11: 930–941 5. IlieM, Long E,. Hofman V et al. Diagnostic value of immunohistochemistry for the detection of the BRAFV600E mutation in primary lung adenocarcinoma Caucasian patients. Annals of Oncology 2013; 24: 742–748 6. Toon CW, Walsh MD, Chou A et al. BRAFV600E Immunohistochemistry Facilitates Universal Screening of Colorectal Cancers for Lynch Syndrome. Am J SurgPathol2013 in press. 7. Bollag G, Tsai J, Zhang J et al. Vemurafenib: the first drug approved for BRAF-mutant cancer. Nat Rev Drug Discov.2012; 11:873-86. Resposta: Qual é a sua opinião? TC de Tórax sem contraste demonstra extenso enfisema pulmonar e nódulo sólido de contornos discretamente espiculados, medindo 1 cm, localizado no segmento superior do lobo inferior direito. A principal hipótese diagnóstica é de neoplasia pulmonar primária. Realizada biópsia do nódulo guiada por TC e encaminhado material à patologia. Resultado da biópsia: aspecto morfológico consistente com aspergilose pulmonar (não invasiva) aparentemente no interior da cavidade necrótica. edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 O diagnóstico considerado foi de aspergilose pulmonar necrotizante crônica (APNC) ou semi-invasiva, que se caracteriza pela destruição lentamente progressiva do pulmão em pacientes com doença pulmonar crônica e leve grau de imunossupressão, como no uso prolongado de corticosteroide sistêmico. Não há invasão vascular. A galactomanana é negativa. Trata-se de uma infecção subaguda, indolente e que leva a um processo destrutivo do pulmão. Dentre as causas de redução da imunocompetência local encontram-se as doenças intersticiais pulmonares, ressecções pulmonares, sequelas de TB pulmonar, fibrose cística, pneumoconioses e DPOC. As causas de redução da imunocompetência sistêmica são o uso de corticoterapia mesmo em baixas doses, quimioterapia, radioterapia, etilismo, desnutrição e diabetes mellitus. A APNC acomete indivíduos de meia-idade e idosos. A grande maioria dos pacientes apresenta sintomas pulmonares ou sistêmicos precocemente, e esta sintomatologia tem duração de um a seis meses. As queixas são tosse, expectoração, dor torácica, febre e emagrecimento, hemoptise e dispneia, apesar de raros, podem ser relatados. O quadro radiológico mais comum é consolidações segmentares uni ou bilaterais, com ou sem presença de escavação ou espessamento pleural adjacente. As lesões acometem preferencialmente os lobos superiores ou os segmentos superiores dos lobos inferiores. Micetomas são observados em metade dos casos. Visão Médica 27 EVENTOS EM DESTAQUE I Jornada de Qualidade e Segurança Dra. Fabiane Cardia Salman Gerente de Relacionamento Médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz C om a proposta de ampliar o debate sobre a importância da melhoria contínua, criando bases e ferramentas para o desenvolvimento de projetos cada vez mais consistentes e que beneficiem instituições, médicos, colaboradores e, sobretudo, pacientes, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz realizou, no último dia 9 de novembro, sua I Jornada de Qualidade e Segurança. De abordagem plural, as palestras e mesas redondas cobriram os principais desafios da atualidade, como a gestão da qualidade hospitalar, importância da atuação multiprofissional e capacitação profissional, mas sempre com foco no aperfeiçoamento e na geração de condições para o oferecimento dos melhores serviços de saúde. Como um dos destaques do evento, Dr. Antonio Quinto Neto, médico e especialista na avaliação desistemas e serviços de saúde, convidou os participantes a uma reflexão sobre como a equipe médica pode influenciar nos processos de qualidade das instituições hospitalares. Diretamente atrelado ao movimento de transformação vivido pelo Hospital, o tema foi desenvolvido a partir da constatação do papel fundamental do Corpo Clínico para a obtenção e a manutenção de elevados padrões de qualidade e segurança. principais demandas apontadas pelo Corpo Clínico gerou um primeiro ciclo de melhorias, voltado especificamente ao aperfeiçoamento do dia a dia dos médicos no Hospital. Hoje, depois da criação da Gerência de Relacionamento Médico, que atua como um facilitador na operacionalização da rotina do médico dentro do Hospital, oferecendo suporte e acesso a informações que vão do agendamento cirúrgico aos repasses financeiros, a Instituição criou também uma via de mão dupla, por meio da qual o médico pode contribuir com o constante aperfeiçoamento do Hospital, já que, além do apoio oferecido aos membros do Corpo Clínico, estes, por sua vez, terão a oportunidade de propor soluções para que eventuais gargalos sejam solucionados e para que os padrões de qualidade e segurança, que fazem do Hospital uma referência no mercado da saúde, sejam mantidos. Se questionado sobre alguma inconsistência relacionada a uma prescrição, por exemplo, o médico indicar dificuldades relacionadas a um campo de preenchimento ou algum problema com o nosso sistema, iremos pensar juntos numa solução. Por isso, hoje, a Gerência de Relacionamento está empenhada no cadastramento, assim como na atualização dos dados do Corpo Clínico do Hospital, buscando estreitar e melhorar o nosso canal de comunicação. Queremos oferecer serviços cada vez mais personalizados e completos aos nossos médicos. A construção desta nova etapa, marcada pela parceria e a sinergia, ampliará a qualidade e a segurança para Instituição, médicos e pacientes Em um ano de significativos avanços, obtidos a partir da realização dos Fóruns Médicos e do aperfeiçoamento nas relações entre médicos e a Instituição, a discussão corroborou o trabalho que, baseado nas 28 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 EVENTOS EM DESTAQUE Jornada de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar Dr. Ícaro Boszczowski Médico Infectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz N o dia 26 de outubro, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz sediou sua primeira Jornada de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar 2013. Com a participação de médicos infectologistas, enfermeiros e microbiologistas com destacada atuação em grandes hospitais públicos e privados, além de acadêmicos de referência na área, tanto do Brasil como internacionais, o evento promoveu um importante debate multiprofissional sobre as questões mais atuais ligadas à prevenção e ao controle das infecções relacionadas à assistência à saúde – IRAS. Os mais de 100 profissionais presentes puderam acompanhar 16 apresentações, 3 conferências e 4 mesas redondas em um dia de intenso trabalho e que, fundamentalmente, discutiu estratégias de sucesso, assim como as que não tiveram este mesmo resultado e as perspectivas de pesquisa na área de prevenção e controle da resistência bacteriana. Como um fórum multiprofissional e que uniu pontos de vista das áreas de Enfermagem, Infectologia e Controle de Infecção, além da Microbiologia, discutindo a prevenção e controle de bactérias multirresistentes, o evento apresentou resultados extremamente positivos e, além de muito bem avaliado pelos participantes, redundou numa carta de intenções para o desenvolvimento de pesquisas numa parceria entre o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a Universidade de Maryland. Para a segunda edição da Jornada de Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar, prevista para o segundo semestre de 2014, as expectativas não poderiam ser melhores. edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Visão Médica 29 RESPONSABILIDADE JURÍDICA Responsabilidade dos Auditores Sergio Pittelli [email protected] A responsabilidade do auditor pode ser analisada com referência ao paciente e ao médico atendente. Com respeito ao paciente, há dois modos pelos quais pode interferir no tratamento: 1. negar cobertura com base em cláusula contratual; 2. negar autorização para uso de determinado material (frequentemente prótese) por haver similar mais barato. Com relação ao primeiro, a tendência jurisprudencial é favorável a ampliar as coberturas para além do que reza o contrato. Não obstante, desconhecemos casos de ação contra a pessoa do auditor uma vez tendo ele atuado nos termos contratuais. Com relação ao segundo item, dá-se situação semelhante, mesmo levando-se em conta que o auditor, aqui, se encontra fundamentado apenas em princípios de racionalidade administrativa e eventualmente dispositivo legal, nos casos em que a prótese é de fabricação estrangeira sem registro nacional. Desconhecemos, aqui também, casos de responsabilização do auditor mesmo em caso de decisão judicial favorável ao contribuinte. Entendemos, portanto, que os problemas que podem advir decorrem de sua atuação em face do médico e dizem respeito às normas deontológicas da profissão: Res. CFM 1614/01, Capítulo XI e artigos 50 e 52, do Capítulo VII do CEM. As mais frequentes violações ocorrem também em situações de negativa de autorização, nas quais o auditor interfere na conduta do médico ou baseia-se em determinada afirmação que o obrigaria a denunciá-lo ao CRM, o que não faz, infringindo os art. 50 do CEM e 6º, § 4º da Res. 1614. O caso mais comum é o de alegação de tratamento experimental, vedado por lei. Quando nega cobertura com base nesse argumento, parece estar agindo dentro do contrato, mas aqui entram as normas deontológicas apontadas: o tratamento experimental, se não realizado nos termos da Resolução 196/96, é considerado antiético (art. 100 e 101 do CEM) e impõe-se que o auditor denuncie o médico ao CRM o que nunca faz , incorrendo em falta ética. Outra situação é aquela em que o auditor alega que o tratamento não é adequado. A simples negativa aqui também é ilícita, devendo o auditor pautar-se pelo art. 8º da Res. 1614 e art. 52, 94 e 97 do CEM, conforme o caso. Situação semelhante é a de negativa de uso de determinados materiais intraoperatórios, de consumo, alegando desnecessidade. O auditor deve observar o respeito à conduta do médico atendente, não podendo interferir em suas decisões. Não pode fazer anotações no prontuário, não pode fazer cópias, a não ser as estritamente necessárias para a instrução da auditoria. Pode examinar pacientes e acompanhar exames, desde que autorizado por eles. Sempre que for atuar deve apresentar-se ao Diretor Clínico. É evidente que se o auditor causar danos ao paciente, estará sujeito à responsabilização civil e até criminal. Reiteramos, entretanto, que desconhecemos exemplos. Nunca o faz porque, na verdade, não se trata de tratamentos experimentais, alegação que é usada apenas como fundamento para a negativa, que se dá por outros motivos, geralmente econômicos. 1 30 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 LIVRARIA Ascensão, tragédia e glória na Renascença Italiana Dr. Stefan Cunha Ujvari O romance histórico Cardano, ascensão, tragédia e glória na Renascença Italiana, de Raul Emerich, descreve a biografia do médico Girolamo Cardano, que vivenciou um período revolucionário e que influenciou o mundo moderno como o conhecemos: o Renascimento. Troca de embaixadores, nascimento do livro, busca do realismo, surgimento da ciência como fruto da observação e repetição, ruptura religiosa e o primeiro passo à globalização. Os grandes nomes surgem neste período porque há um contexto que propicia isso: competição e influência. O próprio Leonardo da Vinci, um dos exemplos máximos do período, frequentou a casa de Cardano para discutir detalhes de ótica com seu pai, Fazio Cardano. Fa a veder messer Fazio – lê-se em um dos escritos de Da Vinci. Cardano foi um gênio injustamente esquecido. No século seguinte à sua morte, circularam notícias de que ele era louco, endemoniado, ou herético. De um dos autores mais lidos na Europa, Cardano passou ao ostracismo. Em parte, devido a uma introdução póstuma às obras completas em que o médico de Milão foi retratado de forma bastante negativa. A história fascinante desse médico, astrólogo e matemático da Renascença Italiana, perseguido pela Inquisição, justifica a leitura do livro que ainda conta com algumas curiosidades que tocam nosso cotidiano. Um exemplo: a inspiração em desenhos de Cardano resultou, séculos após, a invenção do eixo cardã, fundamental nos veículos 4x4. Apesar de todas essas áreas de interesse, Cardano foi acima de tudo um médico. Em várias passagens do livro, há discussões sobre a sabedoria de Rhazes, o pai da Pediatria, assim como doenças que começavam a ser descritas naquela época. Alguns consideram que o próprio Cardano teria sido o primeiro a edição Nov/ Dez • 2013 edição17 14••Out/ Janeiro • 2013 Cardano, ascensão, tragédia e glória na Renascença Italiana Raul Emerich Record – 2013 504 páginas R$ 51,00 descrever os sintomas da febre tifoide. Além disso, é curioso compreender como funcionava uma Medicina com muitas ideias e poucas opções de tratamentos realmente eficientes. Cardano não gostava de viajar. Suas viagens tinham objetivos definidos, como terminar a faculdade de Medicina em Pádua ou tratar a asma de um escocês. Quando aceitou o convite do paciente abastado que sofria de “bronquite”, no entanto, deixou claro que não passaria de Lyon, na França. A Escócia era muito longe (e bárbara!). Surpreendentemente, suas orientações não farmacológicas não diferiam muito das utilizadas por um médico atual. Cardano uniu a arte escrita à sua experiência médica. Seu primeiro livro publicado, De malo medendi usu, apesar de pequeno, foi bastante provocador, pois falava da má prática dos médicos que se importavam mais com roupas, pompa e carruagens do que ouvir o paciente. O astrólogo Cardano enxergou o destino de muitos, mas o próprio futuro não conseguiu prever. A ascensão e desgraça desse incompreendido gênio da Renascença estão estampadas nas páginas do livro. Visão Médica 31 REUNIÕES CIENTÍFICAS V Curso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Dr. Cláudio Bresciani N os dias 6 e 7 de dezembro, foi realizado o V Curso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica, organizado pelo Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Nesta 5ª edição, o evento, que já se tornou tradicional na cidade de São Paulo, foi dividido em duas partes fundamentais: treinamento prático e exposições teóricas sobre o tema. A parte prática ocorreu no Medical Innovation Institute, um centro de treinamento mantido pela empresa Johnson & Johnson. No local, os alunos tiveram a oportunidade de treinar cirurgia minimamente invasiva de forma intensiva e com o acompanhamento de cirurgiões-monitores experientes em procedimentos laparoscópicos. O treinamento possuía caráter progressivo e, por isso, teve inicio com simuladores computadorizados que, além do adestramento motor, permite que as várias intervenções da cirurgia digestiva possam ser simuladas na tela e executadas pelo aluno. O passo seguinte foi a prática em “caixa preta” com peças de animais, como estômago, vesícula e fígado, por exemplo, para que pontos, nós, suturas, grampeamentos e ressecções de órgãos pudessem ser realizados. A última etapa, que foi também a mais longa, destinou-se à realização de intervenções cirúrgicas em animais de experimentação. Sob a supervisão de veterinários e técnicos, os alunos puderam realizar intervenções complexas como colectomia esquerda com anastomose intracavitária e gastrectomia vertical para o tratamento da obesidade mórbida. A parte teórica ocorreu no Anfiteatro localizado no 14º andar do Bloco B do Hospital. Além dos mais de 100 médicos inscritos, o evento, que contou com a participação 32 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 REUNIÕES CIENTÍFICAS de 30 professores brasileiros, representantes de importantes universidades paulistas, e de três especialistas internacionais, discutiu temas relacionados às bases da cirurgia minimamente invasiva, assim como técnicas e indicações para o procedimento. Os professores italianos Giusto Pignata e Umberto Bracale apresentaram as palestras “Single Access Laparoscopic Surgery: Feasible and Safe?” e “Laparoscopic Gastrectomy: technical aspects and current evidences”, respectivamente. Já o professor norte-americano Michael Marohn, do Johns Hopkins Hospital, realizou duas apre- edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 sentações “NOTES update 2013: Is NOTES dead?” e “Foregut surgery 2013 - Lessons learned in 25 years”. O público presente pode ver e discutir temas do dia a dia do cirurgião, mas também os temas de fronteira da cirurgia minimamente invasiva. Avaliado pelos participantes e professores convidados como um curso de alto nível científico, graças ao conteúdo e à presença de palestrantes nacionais e internacionais reconhecidamente experientes nesta modalidade de cirurgia, o evento corrobora o progressivo destaque internacional alcançado pelo Hospital em cirurgia minimamente invasiva e robótica. Visão Médica 33 Conheça os nossos centros de EXPEDIENTE Especialidades • Centro de AVC • Centro de Tratamento ao Tabagismo • Centro de Check-up • Clínica Médica •Centro de Cirurgia Robótica • Instituto da Mulher •Centro de Diabetes • Centro de Endoscopia • Centro de Excelência em Cirurgia Bariátrica e Metabólica ´Centro de Nefrologia e Diálise • Centro de Nutrição • Centro de Oncologia •Centro de Ortopedia - CIAMA (Cuidado com a saúde da mama) - Centro de Ginecologia • Centro de Geriatria e Gerontologia • Instituto de Medicina Cardiovascular - centro de Arritmologia - centro clínico de Cardiologia Geral - Centro Diagnóstico de Cardiologia Não Invasiva - Centro de Hipertensão Arterial - Centro de Intervenção Cardiovascular - Centro de Marca-Passo • Instituto da Próstata e Doenças Urinárias • Centro de Procedimentos Minimamente Invasivos de Coluna EXPEDIENTE A revista “Visão Médica” é uma publicação trimestral direcionada ao Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Comitê Editorial: Dr. Jefferson Gomes Fernandes (Editor-Chefe), Dr. Andrea Bottoni, Dr. Claudio José C. Bresciani, Dr. Luis Fernando Alves Mileo, Dr. Marcelo Ferraz Sampaio, Dr. Mauro Medeiros Borges, Dr. Stefan Cunha Ujvari, Dra. Valéria Cardoso de Souza e Dr. Vladimir Bernik. Projeto Gráfico: Diego Bieliauskas Ferreira | Edição de Arte: Diego Bieliauskas Ferreira Coordenação Editorial: Aline Shiromaru Jornalista responsável: Wagner Pinho - MTb 39525 Fotos: Banco de imagens do Hospital e Shutterstock Tiragem: 2.500 exemplares 34 Visão Médica edição 17 • Out/ Nov/ Dez • 2013 Coracão Diretor Clínico - Hospital Alemão Oswaldo Cruz: Dr. Marcelo Ferraz Sampaio - CRM 58952 Instituto de Medicina Cardiovascular Uma grande estrutura para você exercer sua principal vocação, cuidar. O Instituto de Medicina Cardiovascular reúne as áreas de Cardiologia Clínica, Diagnóstica e Intervencionista. Nele é possível realizar desde consultas e exames, até tratamentos de alta complexidade e intervenções cardiovasculares percutâneas e cirúrgicas. O Instituto se ramifica em diversos Centros, trabalhando de forma integrada à UTI Cardiológica, ao Centro Cirúrgico e ao Pronto Atendimento. • Centro Diagnóstico de Cardiologia Não Invasiva • Centro de Intervenção Cardiovascular • Centro Clínico de Cardiologia Geral • Centro de Arritmologia • Centro de Hipertensão Arterial • Centro de Marca-Passo Uma das principais funções do Instituto é oferecer toda sua estrutura e suporte ao médico usuário do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. INSTITUTO DE MEDICINA CARDIOVASCULAR