DESENVOLVIMENTO DE ILUSTRAÇÕES DEDICADAS COMO INTRUMENTOS DE APOIO À EXPOSIÇÃO E DISCUSSÃO DE CONTEÚDOS NO ENSINO DE QUÍMICA. MARTIN, C. S.; SHINOHARA, G. M. M.; NOBRE, M. A. L.; LANFREDI, S. [email protected] Departamento de Física, Química e Biologia – DFQB Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT Universidade Estadual Paulista – UNESP R. Roberto Simonsen, 305, Presidente Prudente – SP, 19060-900 Resumo O programa Isis Draw® trata-se de um instrumento de trabalho flexível contendo ferramentas gráficas e amplo banco de dados, o qual pode ser utilizado para o desenvolvimento de ilustrações específicas voltadas para a compreensão e memorização de conceitos de Química, em materiais didáticos ou para-didáticos. De fato, o programa permite a construção de diagramas, organogramas, esquemas, figuras e fórmulas relacionadas com a Química, bem como outros temas. Tal recurso atende às necessidades de inovação e/ou adaptação de conteúdos a uma clientela específica, de forma a auxiliar o entendimento dos conceitos, em particular na área de química, observado do ponto de vista do cotidiano. Palavras-Chave: Isis Draw®, Aplicações práticas em química, Ensino de química. Introdução O programa freeware Isis Draw® [1] é uma ferramenta que proporciona operações computacionais simples e de fácil manuseio, o qual ajuda na construção de esquemas, figuras e equações para diversas áreas da Química. O programa possui um banco de dados com esquemas de laboratórios, reações e estruturas químicas que ajudam na montagem das aulas. De forma geral, a qualidade gráfica é superior ao programa Paint-brush (Windows). As figuras geradas podem ser coladas em documento tipo Word e Power-Point, sendo corrigidas de forma fácil, clicando sobre a figura, para que a mesma seja aberta de forma automática e editada no programa Isis Draw®. Destaca-se também, a facilidade com que as ligações entre os átomos, diagramas e figuras podem ser criadas e representadas dentro do programa. Para a área de Química, o programa favorece a montagem de aulas baseadas nos conceitos teóricos da Química e aplicações práticas no cotidiano. Os diagramas, esquemas e figuras criados ajudam no entendimento do conceito abordado, proporcionando uma melhor fixação do assunto a interação entre o professor e o aluno. Procedimento Experimental Diagramas, esquemas e figuras foram desenvolvidos através do programa freeware Isis Draw®, e utilizados para a explicação de conceitos físico-químicos. O material desenvolvido está disponível na forma de apostila impressa (hardcopy), em slides (PowerPoint) e em CD-ROM, onde os arquivos se encontram na forma de PDF. Resultados e Discussão A Tabela I mostra as possibilidades de ilustrações na área de Físico-química que podem ser geradas através do programa Isis Draw®, tais tópicos estão presentes em livros de graduação em Química [3-7]. Tabela I – Exemplos de eventos do cotidiano, os quais podem ser abordados através dos conceitos de Físico-Química. Tópicos Termoquímica Aplicações no cotidiano Calor de reação em lançamento de foguetes, compressas instantâneas frias e quentes e explosivos. Cinética química Colisões entre moléculas, energia de ativação, funcionamento de catalisadores para automóveis e biocombustíveis. Reações químicas Tratamento de água via ozônio, catalisadores e radiação ultravioleta, neutralização. Equilíbrio químico Chuva ácida, indicadores naturais de ácido-base, respiração aeróbica. Eletroquímica Funcionamento de sensores para combustível, processo de oxidação de metais, galvanização e pilhas do tipo Daniell. Reações Geração de energia elétrica através das usinas nucleares e nucleares determinação da idade de fósseis, através da técnica de datação do Carbono-14. O programa Isis Draw® é um sistema integrado de ferramentas gráficas e de informação científica, contendo um grande número de banco de dados projetados para agilizar a preparação e tratamento de conceitos, reações, fórmulas e estruturas químicas necessárias na Química. O programa permite a geração de estruturas químicas, diagramas e figuras coloridas e disponibilizando recursos para o manuseio e a habilidade de girar estruturas moleculares em três dimensões, facilitando o entendimento de estereoquímica e isomeria, por exemplo. O programa poderá beneficiar escolas da rede pública que contenha sala ambiente de informática, como também auxiliar professores no desenvolvimento de material didático próprio e inédito: ilustrações em avaliações, listas de exercícios, apostilas contendo teoria e aplicações práticas da área de Química. Baseando nos assuntos citados na Tabela I foi desenvolvido um material de suporte pedagógico com conceitos e ilustrações. Eletroquímica: Pilha de Daniell A pilha de Daniell é constituída por um eletrodo de zinco (Zn) e o outro de cobre (Cu), unidos através de um fio metálico, com solução de sulfato de zinco (ZnSO4) e sulfato de cobre (CuSO4). O reação no sistema ocorre entre o zinco e o cobre, como mostra a equação 1 ou 2. Zn(s) + CuSO4(aq) → ZnSO4(aq) + Cu0(s) (1) Zn0(s) + Cu2+(aq) → Zn2+(aq) + Cu0(s) (2) Ao introduzir uma barra de zinco em uma solução de CuSO4, os íons Cu2+ reagem diretamente com a barra de Zn, sendo impossível obter uma corrente elétrica útil. Para que a reação possa ser utilizada como fonte de energia elétrica deve ocorrer uma transferência indireta de elétrons liberados pelos átomos Zn, que percorrem o circuito inteiro antes de reduzirem os íons Cu2+ a átomos de Cu0. O redutor entrega os elétrons ao oxidante, através de um circuito externo e são separados em compartimentos diferentes, como mostrado na Figura 1. Pilha de Daniell A lâmpada acende Se retirarmos a ponte de salina, a lâmpada se apaga Fio metálico e- e- Zn(S) Cu(S) Ponte de salina A placa de zinco vai sofrendo corrosão: desaparecendo + KCl (aq) (25 ºC) Zn2+(aq) Zn2+(aq) Cl- K+ SO42-(aq) SO42-(aq) A placa de cobre vai tendo a sua massa aumentada A solução vai perdendo a sua coloração azul Cu2+(aq) ZnSO4 (aq) (incolor) CuSO4 (aq) (azul) Figura 1 – Diagrama esquemático de uma Pilha de Daniel e o mecanismo de condução de corrente elétrica. Esta separação é feita pela ponte salina, que permite a passem dos íons de uma solução para outra, mas impede o contato direto entre os átomos de Zinco e os íons cobre. O eletrodo de zinco sofre oxidação por ser mais reativo que o de cobre, conforme a equação 3. O eletrodo de zinco é denominado ânodo (pólo negativo), pois libera os elétrons. A barra de zinco sofre corrosão por causa da oxidação (perda de elétrons). Zn 0 (s) → Zn 2+ (aq) + 2 e − (3) O eletrodo de cobre sofre redução por ser menos reativo que o zinco, conforme equação 4. O eletrodo de cobre é denominado cátodo (pólo positivo), pois recebe os elétrons que vieram do ânodo através do circuito externo. A barra de cobre sofre um aumento de massa, pois após a redução do íon cobre há uma deposição de cobre metálico no eletrodo. Cu 2+ + 2 e − → Cu 0 (4) O sentido do fluxo de elétrons é do mais reativo para o menos reativo, ou, do ânodo para o cátodo, como mostra a Figura 2. Sentido dos elétrons no circuito e _ + Zn Cu Ânodo Cátodo Figura 2 - Sentido do fluxo de elétrons (e-). Reações Químicas: Tratamento de água através da radiação ultravioleta A radiação ultravioleta (UV) é gerada por descarga elétrica através de lâmpadas de vapor de mercúrio. Esta radiação natural, que compõe parte do espectro não visível dos raios solares, penetra nos microorganismos, alterando seu código genético e impossibilitando a reprodução. Para o tratamento de água, o comprimento de onda ideal de radiação para inativação do DNA/RNA (material genético) dos microorganismos, situa-se entre 250 - 270 nm, (o mercúrio da lâmpada produz radiação eletromagnética com comprimento de onda de 254 nm); a água circula pelo reator ou vaso de esterilização que, em contato com a luz, destrói os microorganismos. A instalação desse equipamento para tratamento em piscina pode ser observada na Figura 3. Bomba d`água Filtro de Areia Piscina Recipiente de esterilização (UV) Figura 3: Esquematização de instalação de tratamento de águas provenientes de piscina com radiação ultravioleta (UV). Reações nucleares: Radiações Alfa, Beta e Gama Existem três tipos de emissões denominadas alfa (α), beta (β) e gama (γ), duas das quais (α, β) podem ser afetadas por um campo elétrico ou magnético. A Figura 4 mostra a emissão dessas radiações. Tela Fluorescente Manchas luminosas γ α β + + + - Placas eletricamente carregadas Bloco de chumbo (isolante da radiação) Amostra radioativa Figura 4 – Ilustração das emissões alfa, beta e gama. As partículas alfa (α) são partículas de cargas positivas e constituídas por dois prótons e dois nêutrons, sendo semelhante ao núcleo de um átomo de hélio (2He4), como ilustrado na Figura 5. Portanto, a partícula alfa possui carga +2 e massa 4, sendo simbolizadas por 4α2. + 2 elétrons Partícula Alfa Átomo de hélio (He) Figura 5 - Transformação da partícula alfa em átomo de hélio (He). Quando um radionuclídeo emite uma partícula alfa, seu número de massa diminui de 4 unidades e seu número atômico em 2 unidades, como mostra a equação 5. A Z X → 42 α + A −4 Z−2 Y (5) As partículas betas (β) possuem carga negativa cujos elétrons são emitidos pelo núcleo de um átomo instável. A Figura 6 ilustra a emissão de partícula beta a partir de um núcleo instável, formando assim um núcleo mais estável. Uma partícula beta é um elétron, possuído de carga –1 e massa 0, sendo representadas por -1β0. Partícula β emitida Transformação Núcleo instável Núcleo mais estável Figura 6 – Processo de emissão de uma partícula beta, a partir de um núcleo instável. Uma partícula beta (β) emitida por um radionuclídeo, permanece com seu número de massa constante e seu número atômico aumenta em uma unidade, como mostra a Figura 7. Diminuição de 1 neutron + + + + + Nuclídeo inicial Figura 7 – Emissão da partícula beta. Aumento de 1 próton + + + + + + Nuclídeo final + + Partícula β (elétron) Antineutrino Como não se admite que o núcleo contenha elétrons, a partícula beta deve se formar pela desintegração de um nêutron. A radiação gama (γ) ou raios gama é formada por ondas eletromagnéticas emitidas por núcleos instáveis, em geral ocorrem junto com a emissão de partículas alfa e beta. Por serem ondas eletromagnéticas, não apresentam carga e massa, sendo representada por 0γ0. A radiação gama possui o maior poder de penetração na matéria, comparada com as demais radiações geradas na Terra. Em conjunto, as figuras apresentadas ilustram a amplitude do programa. Os esquemas apresentados ajudam na explicação do professor, como também no entendimento do aluno sobre o assunto abordado. Conclusões O programa em conjunto com o manual desenvolvido permite a construção de diagramas, esquemas, figuras e equações relacionadas com os conceitos teóricos e práticos da Química. Um variado grau de detalhamento e edição gráfica é possível, proporcionando uma melhor interação entre professor e aluno, através da adequação conteúdo-clientela. Em adição, possibilita ao professor uma nova ferramenta de auxílio no exercício da docência e produção de experiência pedagógica. Agradecimentos: PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO DA UNESP - PROGRAD. Referências [1] Revista E-Learning: Programas educacionais - Química. n. 12, Digerati Comunicação e Tecnologia: São Paulo, 2005. [2] Manual de Introdução ao editor de Equações Químicas Isis Draw 2.4®. Disponível em <http://www2.prudente.unesp.br/isisdraw>. [3] Atkins, P.W.; Físico-Química, 7 ed., Livros Técnicos e Científicos: Rio de Janeiro, 2003. [4] Brady, J.E.: Humiston, G.E.; Química Geral, 2. ed., Livros Técnicos e Científicos: Rio de Janeiro, 1994. [5] Garritz, A.: Chamizo, J.A.; Química, Addison-Wesley: Wilmington, 1994. [6] Mahan, B.H.: Myers, R.J.; Química – um curso universitário, 4. ed., Edgard Blücher: São Paulo, 2003. [7] Russel, J.B.; Química Geral, 2.ed., Pearson Makron Books: São Paulo, 1994.