O GÊNERO TEXTUAL CHARGE COMO INSTRUMENTO FACILITADOR NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Natália Andrade do Nascimento1 RESUMO Esse trabalho discute o gênero textual charge como instrumento facilitador nas aulas de Língua Portuguesa. Diante disso, a abordagem bibliográfica foi a ferramenta utilizada para contribuir na análise dos fatores facilitadores do gênero textual charge. Irandé Antunes (2009), Ingedore Kock (2006) e Antoni Zabala (1998) foram alguns dos estudiosos utilizados que serviram de embasamento teórico dessa pesquisa. As principais fontes utilizadas nesse estudo foram artigos científicos e livros. O artigo aborda os gêneros textuais e a charge nas aulas de Língua Portuguesa numa visão de relevância no processo ensino - aprendizagem do aluno. Portanto, esses aspectos relacionados à escola e à sociedade ajudam na formação de alunos mais capacitados, não só intelectualmente como também profissionalmente para enfrentar as dificuldades que aparecem diante deles. PALAVRAS-CHAVE: charge. professor. aluno ABSTRACT This work discusses the textual genre cartoon as a facilitator tool in Portuguese Language classrooms. Therefore, the bibliographical approach was the tool used to contribute to the analysis of the facilitator factors of the textual genre cartoon. Irandé Antunes (2009), Ingedore Kock (2006) and Antoni Zabala (1998) were some of the authors whose texts were used as theoretical basis to this research. The main sources used in this study were scientific articles and books about the topic. The article mentions the textual genres and the cartoon in Portuguese Language classrooms as relevant tools in the teaching and learning process. So, the aspects related to school and society help in the education of more capable students, not only intellectually, but also professionally to face the difficulties that they may face. KEYWORDS: cartoon. teacher. student 1 Graduada em Letras com habilitação em português e Inglês pela Faculdade Sete de Setembro – FASETE. Artigo apresentado à Faculdade Atlântico como um dos pré-requisitos para a obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa: leitura e produção de textos, sob orientação da Profa. M.Sc. Simone Silveira Amorim. Email: [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO A charge, diante das várias características atribuídas a ela, apresenta-se como um texto acessível à sociedade, que expõe de forma crítica, humorística e sarcástica os mais diversos assuntos, desde a política até os avanços tecnológicos. Os textos que circulam diariamente nas mídias abordam assuntos atuais ocorridos em nosso país. Da mesma maneira é o que acontece com o gênero textual charge, analisado neste trabalho, com o pressuposto de compreender o funcionamento desse gênero nas aulas de Língua Portuguesa co-relacionando o seu uso como ferramenta que pode contribuir de maneira positiva com o processo ensino - aprendizagem do aluno. Para esse fim, alguns dos estudiosos utilizados para o embasamento desse trabalho foram Irandé Antunes (2009), Ingedore Kock (2006) e Antoni Zabala (1998). Assim, a pesquisa aborda o gênero textual charge como um instrumento que facilita a leitura, compreensão e produção textual nas aulas de Língua Portuguesa, numa visão de relevância no processo ensino - aprendizagem do aluno, a fim de destacar as possibilidades estratégicas que poderemos alcançar ao utilizarmos esse recurso didático, muitas vezes esquecido por alguns educadores. Os gêneros textuais apresentam-se de varias formas, é excelente ferramenta para trabalhar os diversos tipos de textos que existem como: o e-mail, a carta, a receita, a charge, dentre outros. Identificar suas estruturas, conceitos, mostrar na prática essa diversidade de gênero, é umas das abordagens deste artigo. Outro tema em destaque é o livro didático, o tradicionalismo que ainda insiste em aparecer nos livros adotados para os alunos. A falta de ilustrações, de textos criativos, que chamem a atenção dos alunos, é uma das conseqüências pelas quais os livros didáticos são esquecidos pelos professores que aderem aos métodos dinâmicos no momento da prática pedagógica, pois não se consegue trabalhar com materiais didáticos inadequados quando o assunto é a compreensão e desenvolvimento cognitivo do aluno. A pesquisa é uma das formas de estímulos para a leitura e escrita do aluno, o professor precisa incentivar e orientar o seu aluno a descobrir, buscar, aprender os conceitos 3 daquilo pesquisado. Mas também necessitamos do uso dos livros didáticos, não podemos trabalhar apenas com pesquisas, com revistas, com recortes, precisamos de instrumentos seqüenciais para as aulas de Língua Portuguesa, e a maioria desses materiais não nos oferece essa segurança. Entende-se, nesta pesquisa, que o livro é [..] um objeto material, geralmente confeccionado em papel, sobre o qual aderem letras e outras figuras desenhadas a tinta, segundo uma técnica denominada impressão, cuja invenção data do século XV; esse objeto produz-se segundo um processo de trabalho bem definido e aparece primordialmente como mercadoria, mesmo que as intenções de seus artífices sejam de outra ordem que não a mercantil (MUNAKATA, 1997, p. 84). Assim, esse trabalho objetiva contribuir na análise do gênero textual charge nas aulas de Língua Portuguesa, uma vez que a necessidade de aulas criativas e dinâmicas tem sido uma constante, e esse gênero textual compõe uma referência crítica, cômica e interpretativa essenciais para desenvolver no aluno, além da criticidade, suas competências e habilidades. Entretanto, alunos e professores necessitam de motivação, dessa forma os professores poderão melhorar suas práticas pedagógicas e alcançarem resultados satisfatórios no momento de avaliação dos alunos, pois todo aluno merece aulas criativas, divertidas e prazerosas. Todos os aspectos mencionados anteriormente irão ser retratados de forma clara e objetiva no trabalho a seguir. 2 OS GÊNEROS TEXTUAIS “Os gêneros são formados por seqüências diferenciadas denominadas tipos textuais. Portanto, devemos ter em vista que a noção de gênero não se confunde com a noção de tipo.” (KOCH & ELIAS, 2006, p. 119). Nesse aspecto os gêneros textuais são tipos de textos que se encontram em nosso cotidiano com modelos sócio-comunicativos que abordam características de acordo com a sua estrutura, enunciado e objetivos diretamente envolvidos em questões sociais, políticas e tecnológicas. 4 Afirmar que os gêneros são produzidos de determinada forma não implica dizer que não sofrem variações ou que elegemos a forma como o aspecto definidor do gênero textual em detrimento de sua função. Apenas chamamos a atenção para o fato de que todo gênero, em sua composição, possui uma forma, além de conteúdo e estilo. (KOCH & ELIAS, 2006, p. 106) Nesse contexto, os gêneros expõem diferentes formas orais / escritas, conteúdos e estilos, que se apresentam interligados nas cartas, bilhetes, sermões, resenha, reportagem, aula expositivas, e-mail etc. “É evidente que a escolha desses diferentes gêneros de textos deverá acontecer, gradativamente, na dependência do grau de desenvolvimento que os alunos vão demonstrando [...].” (ANTUNES, 2009, p. 115) As variações existentes nos gêneros textuais são de grande relevância, pois abrangem os diferentes tipos de interpretações, além dos textos escolares, textos que relatem a realidade, o dia a dia dos alunos. A charge, por mostrar determinados assuntos por meio da crítica e do cômico, traz no lúdico essa abordagem social e realista. Então, instigar o uso da língua é uma atividade crítica- reflexiva capaz de interagir em busca de um mundo com melhores cidadãos. As pessoas quando inseridas em uma sociedade individualista como a nossa, acabam se transformando de acordo com o meio em que vivem. Partindo desse pressuposto os professores devem estar atentos para as necessidades culturais, psicológicas e interacionista apresentadas pelos alunos. Nesse aspecto a escola entra devagar através de diálogos, dinâmica e principalmente confiança, que juntamente com os pais formam uma ponte de acompanhamento no caráter desse aluno. [...] para Vygotsky, o desenvolvimento do sujeito se dá a partir das constantes interações com o meio social em que vive, já que as formas psicológicas mais sofisticadas emergem da vida social. Assim, o desenvolvimento do psiquismo humano é sempre mediado pelo outro (outras pessoas do grupo cultural), que indica, delimita e atribui significados à realidade (REGO, 1997, p. 60-61). Nesse aspecto a leitura e os textos auxiliam como uma base na inter-relação tanto dos professores quanto dos pais para com os alunos. Os gêneros textuais quando praticado de forma criativa e abrangente desenvolve no aluno a criticidade, responsável pelo desenvolvimento social diante da sociedade. 5 Assim, cada pessoa singular está realmente presa; está presa por viver em permanente dependência funcional de outras; ela é um elo nas cadeias que são elos nas cadeias que as prendem. Essas cadeias não são visíveis e tangíveis, como grilhões de ferro. São mais elásticas, mais variáveis, mais mutáveis, porém não menos fortes. E é a essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação a outras, a ela e nada mais, que chamamos “sociedade” (ELIAS, 1994, p. 23). Diante de inúmeras abordagens as quais podemos trabalhar com os gêneros textuais, precisamos destacar também os aspectos culturais inseridos nesse contexto. A cultura nos proporciona um mundo de conhecimentos, de variedades lingüísticas, comportamentais e religiosas. [...] é por intermédio da cultura que podemos nos conhecer, conhecer o outro e interpretar o mundo no qual vivemos. Podemos dizer que a cultura é onipresente nas ações humanas. Ela se reflete na linguagem, nos símbolos, no pensamento das pessoas, regionalizando-as, marcando suas identidades e, como todos os processos interativos, alterando essas marcas (TAVARES, 2002, p. 17-18). Ela é a responsável pela nossa maneira de viver, de nos relacionarmos, de adaptação em um determinado lugar, etc. Nesse conceito incluímos os gêneros textuais como um dos métodos de trabalharmos essa diversidade cultural através de variados tipos de textos, já que a sala de aula é um ambiente culturalmente diversificado. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental (1998), apresentam os gêneros textuais como essenciais no momento da construção de um texto estabelecido pelas relações sociais. Segundo os PCN‟s “todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam”. (BRASIL, 1998, p. 21). Os PCN‟s (1998) mencionam ainda os gêneros textuais das mais variadas formas, desde as práticas de leituras até a produção textual, intensificando o processo de ensino e aprendizagem aos quais os alunos entram em contato diretamente com relações interacionistas entre os diferentes grupos sociais. Assim, no momento de interpretação e confecção do texto o aluno já estará familiarizado com a realidade do que pretende produzir. Dessa forma, é destacado que “o uso 6 de uma ou outra forma de expressão depende, sobretudo, de fatores geográficos, socioeconômicos, de faixa etária, de gênero (sexo), da relação estabelecida entre os falantes e o contexto de fala” (BRASIL, 1998, p. 29). A ideia apresentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) vão ao encontro com a percepção de reflexão, interação e realidade social, aspectos relevantes no momento da prática pedagógica entre professor e aluno, uma vez que quando interiorizada essa percepção realista, a capacidade de leitura e produção textual se amplia. Assim, é apontado que: no processo de ensino e aprendizagem dos diferentes ciclos do ensino fundamental espera-se que o aluno amplie o domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicativas, sobretudo nas instancias públicas de uso da linguagem, de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita ampliando suas possibilidades de participação social no exercício da cidadania. (BRASIL, 1998, p. 32) Para alcançarmos esse objetivo, a escola necessita investir em metodologias lúdicas, organizar atividades em que o aluno seja estimulado para a reflexão, aguçando a criticidade. Contextualizar e dinamizar as aulas são ações positivas que devem ser utilizadas sempre pelos professores, pois além de motivar os alunos, ajudam a amenizar o sistema tradicional que pouco os estimulam. Segundo Sneyders (1996, p. 36) “educar é ir em direção à alegria”. O mundo lúdico proporciona essa alegria, uma melhor fixação do conteúdo explorado, o aluno se prende em um ambiente irreverente, de novidades e dinamismo, sem a preocupação de copiar, ler e produzir obrigatoriamente, o que causa o grande déficit de aprendizagem e o tradicionalismo aos poucos perde o seu lugar. Dessa forma percebemos que os gêneros textuais apresentam um vasto caminho de estratégias pedagógicas co-relacionadas com o processo de abrangência intelectual do aluno, desde aspectos sociais até culturais, os quais podem encontrar diante de textos dos mais diversos gêneros. É nesse sentido que se insere a importância de se analisar o gênero textual charge e a influência do mesmo nas aulas de Língua Portuguesa. 7 3 A CHARGE NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA E O LIVRO DIDÁTICO Na era da tecnologia, a valorização da internet teve um aumento significativo, um meio de comunicação que, utilizada devidamente, é um ótimo recurso de informação. Mas não podemos esquecer os outros meios de comunicação imprescindíveis para a expansão do nosso conhecimento como: as revistas, os livros e jornais. Esse conjunto de possibilidades de interação quando trabalhados dentro das necessidades dos alunos em sala de aula, se tornam excelentes métodos criativos nas aulas de Língua Portuguesa, eficazes no processo ensino-aprendizagem. As aulas de Língua Portuguesa necessitam de motivação. Ensinar a gramática juntamente com leituras e produções textuais através de métodos tradicionalistas, já não alcança resultados eficientes. Por esse motivo, os professores precisam de capacitações constantes, pois isso se faz essencial para renovar e adquirir novos conhecimentos nas suas práticas pedagógicas. Provavelmente a melhoria da nossa atividade profissional, como todas as demais, passa pela análise do que fazemos, de nossa prática e do contraste com outras práticas. Mas certamente a comparação com outros colegas não será suficiente. Assim, pois, frente a duas ou três posições antagônicas, ou simplesmente diferentes, necessitamos de critérios que nos permitam realizar uma avaliação racional e fundamentada. (ZABALA, 1998, p. 13) Melhorar o planejamento pedagógico com o objetivo de alcançarmos resultados positivos na aprendizagem dos alunos tem sido a grande preocupação dos professores, apesar das cobranças por um ensino melhor nas escolas. Amorim & Magalhães (1998, p. 17) afirmam que “[...] professor algum está eximido de preparar muito bem as suas aulas e tentar „mexer‟ com o aluno através de atividades lúdicas, diversificadas e estimulantes [...]”. Dessa forma, alguns educadores procuram dinamizar suas aulas com brincadeiras, bingos, gincanas, além de leituras diversificadas com abordagens nos gêneros textuais e, dentre eles, a charge, elemento em destaque nesse trabalho. 8 Diante dos diversos acontecimentos nos países de ordem social, política e histórica, a charge foi uma forma que a imprensa adotou para anunciar, de maneira crítica e sarcástica, mas ao mesmo tempo com humor, todas as polêmicas no país. Charge: crítica humorística de um fato ou acontecimento específico. É a reprodução gráfica de uma notícia já conhecida do público, segundo a percepção do desenhista. Apresenta-se tanto através de imagens quanto combinando imagem e texto. A charge absorve a caricatura em seu ambiente ilustrativo. (MOUCO, 2007, p. 05) 2 As charges são pequenos textos humorísticos e críticos que, diante dos vários assuntos abordados, destaca principalmente a política. Assim, podem aparecer nas revistas, na internet, nos livros didáticos e, freqüentemente, nos jornais. Em cada charge pode ocorrer interpretações diferentes, a depender do leitor, do tema ou assunto abordado, dessa forma o gênero textual charge quando trabalhado devidamente na sala de aula, abrange o debate entre os alunos, explora o senso interpretativo, além de despertar os alunos para o prazer da leitura. De acordo com os conceitos atuais para o ensino de Língua Portuguesa, que é propiciar aos educandos o maior número de gêneros textuais possíveis, a inclusão do texto chargístico, possibilitará aos mesmos ler além das aparências evidentes nos textos e perceber os sentidos implícitos, através da análise minuciosa deste tipo de discurso. (MOUCO, 2007, p. 06) Na sala de aula existem inúmeras facetas que podem ser desenvolvidas pelo professor para uma aula excelente, dentre elas, a charge pode oferecer uma aula criativa, dinâmica e produtiva. Nesse sentido, cabe ao educador ter o domínio do assunto e da metodologia a ser aplicada. Observem-se as ilustrações: Fonte: (Benett, em Gazeta do Povo. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/charges/index. phtml? foffset=37&offset=&ch=Benett) 2 Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1104-4.pdf 9 Na ilustração acima observamos uma crítica relacionada aos avanços tecnológicos que invadem diariamente a sociedade, um assunto instigante que através de mediações e perguntas, podemos trabalhar com os alunos aspectos como interação, conhecimento de mundo, criticidade e estimulá-los para a leitura e escrita na produção de textos. É a partir da leitura que o leitor começa a ter uma noção daquilo que se pretende investigar, por isso é importante uma mediação eficiente no momento de análise daquilo que se vai trabalhar, para alcançar os objetivos propostos nos PCN‟s: a leitura é o processo pelo qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem, etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. È o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas. (BRASIL, 1998, p. 69-70) Segundo Prestes (2001, p. 16), “a produção de textos pelo aluno, na maioria das vezes, visa apenas a cumprir exigências do professor. Com isso esse aluno provavelmente vai se sentir desmotivado a escrever ou deixará de ter seu estilo próprio [...]”. Assim os professores necessitam estimular os alunos em suas aulas de Língua Portuguesa e o gênero textual charge facilita na interpretação, leitura e principalmente em relação à produção textual, de uma maneira irreverente e divertida. Trabalhar com dinâmicas é um tema bastante abordado nas capacitações, a idéia de “aprender brincando”, ocupa espaço na maioria dos planos de aula. Mas não basta apenas aplicar a brincadeira, tudo que implantamos na prática pedagógica precisa de um objetivo, e em busca de alcançarmos esse objetivo aplicamos à dinâmica, pois os jogos, gincanas, adivinhações, charges, histórias em quadrinhos, etc., quando interligados a um determinado conteúdo, bem mediado, analisado e trabalhado pelo professor, facilita satisfatoriamente a aprendizagem no aluno. Outra forma diferente de trabalharmos a charge é através de análises feitas pelos próprios alunos, destacando apenas alguns pontos relevantes para investigarem o que a ilustração quer transmitir e assim dar início a um debate em sala de aula. Observe a charge: 10 Fonte: (Benett em Gazeta do Povo. Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/charges/index.phtml?foffset=1&offset=&ch=Benett) A charge acima retrata um tema muito debatido atualmente, o desarmamento. O professor ao aplicar uma charge como essa, se depara com as diversas opiniões dentro da sala de aula, importante lembrar que o professor precisa deixar os alunos analisar aos poucos as figuras e só interferir na análise se essa estiver totalmente fora do contexto, é uma atividade excelente que podemos visualizar na prática todas as vantagens inseridas nas charges como: interação, criatividade, criticidade etc., já mencionados acima. O tema aborda exatamente a questão da proibição do uso das armas em nosso país. Recentemente houve uma chacina dentro de uma escola pública no Rio de Janeiro com a morte de 12 (doze) crianças dentro da sala de aula. A partir dessa linha de raciocínio o professor abre o caminho para os alunos desenvolverem debates, peças, jornal falado etc., além de no final exporem suas opiniões criticas individuais em uma produção de texto ou até mesmo em um seminário destacando os pontos mais relevantes que ele encontrou no assunto abordado. O objetivo proposto pelo professor com essa atividade poderia ser: sensibilizar os alunos a não utilizarem armas, e contextualizar o conteúdo. De acordo com Oliveira (2001, p. 265) “os textos de charge ganham mais quando a sociedade enfrenta momentos de crise, pois é a partir de fatos e acontecimentos reais que o artista tece sua critica num texto aparentemente despretensioso”. Apesar de todos esses benefícios inerentes na charge, não podemos ignorar algumas dificuldades ao trabalharmos com a ela. Na sala de aula convivemos com personalidades e culturas diferentes, a atenção do professor para esses vários perfis é fundamental na aplicação de qualquer atividade, e com a charge não seria diferente. 11 O professor ao aplicar essa atividade com os alunos necessita de experiência para garantir que todos os alunos entendam o assunto. Existem turmas mais espertas que o trabalho se desenvolve com maior facilidade, mas já existem outras turmas que o raciocínio é mais lento, daí o professor precisa de paciência e dedicação para tentar explicar de forma mais detalhada a proposta da atividade e principalmente alcançar o objetivo proposto. Isso implica o momento de interação do professor com o aluno, pois abrange várias culturas na sala de aula. Nesse pensamento conclui-se que ao inserir os gêneros textuais nas aulas de língua portuguesa poderemos explorar os variados tipos de textos, associando-os com a cultura diversificada existente entre os alunos. [...] os textos chargísticos constituem, por isso, uma vasta memória social, sem a qual não poderia haver História, que só se constitui pelo discurso. E ainda: “o que merece destaque, porém, é a imprescindível relação do fato histórico com o texto chargístico, este, por recuperar aquele, torna-o memorável. (OLIVEIRA, 2001, p. 265) O gênero textual charge como vimos, trás grandes relevâncias para o ensino aprendizagem dos alunos. Mas não é fácil encontrarmos a charge nos livros didáticos escolares, somente alguns apresentam esse gênero. Por isso não é muito conhecido e nem trabalhado em salas de aula. A maioria dos materiais pedagógicos não corresponde às expectativas dos professores e alunos, que são obrigados a buscar quase sempre conteúdos obrigatórios dos livros escolares em outras fontes. Segundo Munakata o livro didático: [...] não é para ser lido como se lê um tratado científico – postura adotada por muitos críticos de conteúdo dos livros didáticos. Livro didático é para usar: ser carregado à escola; ser aberto; ser rabiscado [...] ser dobrado; ser lido em voz alta em alguns trechos e em outros, em silêncio; ser copiado [...]; ser transportado de volta a casa; ser aberto de novo; ser “estudado” (MUNAKATA, 1997, p. 204). A pesquisa é importante no âmbito escolar, mais o que acontece é que os livros didáticos deixam a desejar no momento de estudar para uma prova, de produzir um texto, e assim o professor recorre a cópias no quadro branco a fim de completar e melhorar a compreensão do conteúdo. De acordo com Amorim (2008, p.12) “o livro didático é objeto constante de uso, análise e crítica por parte desse profissional da educação, sendo também 12 uma ferramenta importante para sua prática diária”, o que não acontece na maioria das escolas. Os PCN‟s do Ensino Médio de Língua Portuguesa, defendem a questão comunicativa e reflexiva do aluno quando afirma que é preciso “confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes manifestações da linguagem verbal” (BRASIL, 2000, p. 21) em sala de aula. O aluno precisa ter um espaço para confrontar, interagir, mostrar que também tem opinião, e se tornar independente de suas ideias. Hoje o mais cobrado nas escolas é essa possibilidade de interação entre professor, aluno e sociedade, mas devemos também observar se os profissionais da educação proporcionam esse momento reflexivo para o aluno, assim a liberdade de opinião facilitaria a exposição de pensamento do alunado, como aborda os PCN‟s do Ensino Médio: A opção do aluno por um ponto de vista coerente, em situação determinada, faz parte de uma reflexão consciente e assumida, mesmo que provisória. A importância de liberar a expressão da opinião do aluno, mesmo que não seja a nossa, permite que ele crie um sentido para a comunicação do seu pensamento. Deixar falar/escrever de todas as formas, tendo como meta a organização de textos. (BRASIL, 2000, p. 21-22) Todas essas abordagens contidas nos PCN‟s tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, condizem com as contribuições que a charge proporciona nas práticas pedagógicas na sala de aula. Assim, as escolas deveriam trabalhar mais e de forma variada esse gênero textual tão enriquecedor. O ENEM- Exame Nacional de Ensino Médio é uma avaliação de reconhecimento em todo país com o objetivo de selecionar alunos aptos para inserir o mundo acadêmico. O exame sempre trás em suas provas a charge como uma das vastas situações de comunicação, insistindo na questão do desenvolvimento das capacidades de ironizar e de criticar do aluno, anteriormente abordadas, como aspectos relevantes nas charges. Observe a charge a seguir: 13 Fonte: (Prova Enem 2010. Disponível em http://www.enemdicas.com/prova/baixar-provas-do-enem.html) 3 A princípio, abordaria-se a questão relacionada à linguagem oral relacionando-a com os empregos gramaticais presentes nas frases. Mas se fossemos analisá-la criticamente, a charge revela a questão do desmatamento no futuro do ano 2059. A partir desse pressuposto, abre-se o caminho para os mais diversos aspectos controversos sobre o assunto, o que mostra a função da charge não somente como um instrumento lúdico, mas também facilitador do processo de aprendizagem. Dessa forma, o gênero textual analisado é um dos subsídios pedagógicos positivos para o crescimento educacional e profissional do aluno, despertando reflexos independentes na maneira de se expressar, criticar e se relacionar com a sociedade. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a elaboração deste trabalho, da análise do gênero textual charge e do conteúdo dos teóricos abordados nesta pesquisa, observou-se que a charge pode ser um ótimo instrumento facilitador no processo ensino aprendizagem do aluno nas aulas de Língua Portuguesa. 3 Enem dicas. Questão nº 96 da prova amarela do segundo dia do ENEM de 2010. Disponível em http://www.enemdicas.com/prova/baixar-provas-do-enem.html. 14 Os gêneros textuais foram de suma relevância por relatarem textos do nosso cotidiano e, assim, contribuir para uma perspectiva realista, pois se identificam com a realidade dos alunos, e se refletem no momento da compreensão e produção de textos. A leitura e a escrita melhor se concretizam diante de positivas orientações metodológicas, baseadas em mediações construtivas, comparativas, onde o aluno identifique o que realmente pretende expor criticamente no seu texto. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (1998) enfatizaram o texto como base essencial para o desenvolvimento cognitivo do aluno, com diversas competências e habilidades alcançadas com a escrita. Já os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2000) apresentaram o complemento, atentando para a questão reflexiva do aluno, da interação, da socialização do conteúdo apresentado com o objetivo de formar alunos críticos – cidadãos. Os professores de Língua Portuguesa precisam trabalhar com ânimo, dinamizar as aulas, incentivar os alunos sempre que se percebam desmotivados. Como vimos nesse estudo, através da ilustração, a charge consegue provocar o leitor, traz motivação e um entendimento dinâmico dentro dos mais diversos assuntos. Portanto, através de todas essas abordagens espera-se ter demonstrado que a escola é um ambiente repleto de conhecimentos, que podemos desenvolver além da leitura e interpretação da charge jornalística, várias competências e habilidades, explorando o nosso lado crítico reflexivo, de modo que possa no futuro influenciar na formação de alunos mais preparados e dispostos para enfrentarem o mundo lá fora. REFERÊNCIAS AMORIM. Simone Silveira. 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