AS INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA EM FAVORECIMENTO À ELABORAÇÃO DOS LUTOS VIVENCIADOS PELO PACIENTE ONCOLÓGICO ASSISTANCE OF PSYCHOLOGY IN THE PREPARATION FAVORING GRIEF EXPERIENCED BY CANCER PATIENTS Bruna Mereu Angotti – [email protected] Lara Cristina Queiroz Ferreira – [email protected] Natalia Areco Molina Bettez – [email protected] Graduandos do UNISALESIANO Prof. Me. Rodrigo Feliciano Caputo – UNISALESIANO – [email protected] RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar as reações psíquicas e sociais de pessoas com o diagnóstico de câncer, expondo principalmente as vivências de seus lutos. A importância do tema de ponto de vista geral é a não generalização do desenvolvimento do estado psíquico da pessoa portadora de câncer, ou seja, no senso comum são vistas como extremamente dependentes, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Todo o processo contribuiu para aprimorar o conhecimento clínico, sem deixar de investigar a abordagem psicoterápica breve/focal como propulsora da possibilidade de elaborações de lutos vivenciados na relação, indivíduo – doença. Foram desenvolvidas dez sessões psicoterápicas, com enfoque qualitativo, em uma Instituição de Combate ao Câncer, localizada no município de Promissão. Resultados como dificuldades de enfrentamento do prognóstico, e de uma construção de vivência aos moldes do diagnóstico puderam ser observados. Através dos resultados, percebeu-se que a psicoterapia breve/focal foi à propulsora para as minimizações de sofrimento frente ao diagnóstico e prognóstico de câncer, ou seja, proporcionou uma ressignificação sobre a reflexão da experiência variada da vivência, mas não as elaborações referentes aos lutos vivenciados. Palavras-chave: Psicologia. Oncologia. Lutos. ABSTRACT This study aims to analyse the social and psychological reactions of people diagnosed with cancer, mainly exposing the experiences of their grief. The importance of the theme of general viewpoint is not widespread development of the mental state of the person with cancer, or the common sense are seen as highly dependent, both physically and emotionally. The whole process helped to enhance clinical knowledge, while investing the brief psychotherapeutic approach / focus as propelling the possibility of elaborations of grief experienced in the relationship, individual – disease. Ten sessions were developed psychotherapy with qualitative approach in an institution to Fight Cancer, located in the municipality of Promissao. Results as difficulties coping prognosis, and a building experience to mold diagnosis could be observed. Through the results, it was found that brief psychotherapy / focal was the catalyst for the minimization of suffering facing the diagnosis and prognosis of cancer, provided a redefinition of reflection on the varied experience of living, but not related to the elaborations bereavements experienced. Keywords: Psychology. Oncology. Bereavements. INTRODUÇÃO O tema abordado no projeto de pesquisa traz para a atualidade sua relevância, tanto social quanto específica para profissionais da área da saúde. Sendo que as representações de morte pesquisadas não se remetem apenas ao processo e sim a todas as formas de perdas decorrentes do diagnóstico e prognóstico da pessoa acometida pelo câncer, a pessoa passa por várias elaborações de luto, não somente o luto relacionado ao seu processo de morte, mas traremos na intervenção o luto ligado à perda dos cabelos, dependência física, desemprego, prognóstico (medicações), retirada de uma mama (mastectomia), etc. São várias as perdas pelas quais este indivíduo irá vivenciar, desta forma, a elaboração de luto em destaque pode ter obstáculos para se desenvolver e se concretizar, solicitando assim a intervenção do psicólogo, o que terá relevância no presente estudo de pesquisa. Não teria como focar a intervenção apenas ao processo de morte do indivíduo, pois todas as questões descritas anteriormente envolvem seus relatos. A importância do tema de ponto de vista geral é a não generalização do desenvolvimento do estado psíquico da pessoa portadora de câncer e suas necessidades. No senso comum estas pessoas são vistas pela maioria como extremamente dependes tanto fisicamente quanto emocionalmente. A intervenção se dará com dois indivíduos que se inserem em uma Instituição de Combate ao câncer, localizada no município de Promissão, foram realizadas psicoterapias breve/focais em dois dias da semana, conforme a disponibilidade dos mesmos. O tema refere-se principalmente ao favorecimento das elaborações dos lutos vivenciadas pela pessoa acometida por câncer, com processo de intervenção psicoterápico breve/focal semanalmente. Foi utilizada a teoria de Elisabeth KublerRoss (2000), sobre os estágios equivalentes ao processo de morte; negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, para a verificação e fortalecimento das discussões e questionamentos levantados pela pesquisa. 1. A PSICOLOGIA E O CÂNCER O psicólogo atuante na área de psicologia oncológica visa manter o bem-estar psicológico do paciente, identificando e compreendendo os fatores emocionais que intervêm na sua saúde. Outros objetivos do trabalho desse profissional são prevenir e reduzir os sintomas emocionais e físicos causados pelo câncer e seus tratamentos, levar o paciente a compreender o significado da experiência do adoecer, possibilitando assim re-significações desse processo. Entende-se por doença a desarmonia orgânica ou psíquica, que, através de sua manifestação, quebra a dinâmica de desenvolvimento do indivíduo como um ser global, gerando desarmonização da pessoa; compreende-se esse desequilíbrio como um abalo estrutural na condição de ser dentro de sua estrutura sociocultural. (ANGERAMI-CAMON, 2003, p. 150). Os objetivos do trabalho do psicólogo oncológico serão alcançados na medida em que esse profissional vai compreendendo o que está envolvido na queixa do paciente, buscando sempre uma visão ampla do que está se passando naquele momento não escolhido da vida dele. Conforme Angerami-Camon (2003) deve-se compreender o homem integralmente, ou seja, a partir de três esferas essenciais englobando-o biopsicossocialmente para poder compreender seu comportamento frente à doença, visando melhor recuperação do paciente. Neste contexto, da visão psicológica da pessoa acometida, o objetivo a ser atingido pelas possibilidades de intervenções do psicólogo é observar a dinâmica de enfrentamento do indivíduo frente seu diagnóstico e desta forma introduzir uma das principais abordagens teóricas; e com este contexto, junto ao paciente caminhar dentro de uma das modalidades de atendimento. Segundo Ferreira (1997), os temas que mais preocupam os pacientes com câncer e que devem ser focos das intervenções psicoterápicas são: sensação de falta de controle sobre a própria existência, temor da solidão e da própria morte, sentimento de impotência e fracasso e temor dos efeitos adversos do tratamento oncológico. É importante mencionar que o psicólogo oncológico trabalha numa rede de contatos, ou seja, não trabalha sozinho e sim com a equipe de saúde. A interação entre todos os profissionais envolvidos no tratamento do câncer é fundamental para a conquista de um bom resultado, já que a atuação passa a ser global, envolvendo todos os aspectos implicados no adoecimento. Torna-se essencial para o psicólogo saber distinguir sintomas emocionais dos sintomas decorrentes das questões orgânicas provenientes dos prognósticos médicos. O conhecimento básico das questões médicas referentes ao câncer, como, por exemplo, os estágios da doença e prognósticos associados a esses, contribui para que o psicólogo possa definir a abordagem que irá utilizar com o paciente. 2. OS LUTOS VIVENCIADOS PELA PESSOA ACOMETIDA POR CÂNCER O luto não se caracteriza essencialmente pala presença da morte de um ente, de um objeto existencial e sim de diversas formas. Segundo Kovács (1996), descreve que o luto, de uma forma ou de outra, está na vida de todos e nos atinge em aspectos pessoais e relacionais, esta vivência seria a expressão genérica à separação. [...] presença da morte na vida. Principalmente sobre experiências que nos fazem pensar na morte, que embora não tinha ocorrido, concretamente, trazem muitos atributos que são comumente a ela associados como dor, ruptura, interrupção, desconhecido, tristeza.[...] (KOVÁCS, 1996, p. 12). A palavra “luto” entende-se não somente a reação vivenciada diante da morte ou perda de um ser amado, mas também as manifestações ocorridas em outras perdas, como separações familiares, conjugais, de amigos, a perda do corpo infantil para assumir o de adolescente, mudança de casa e/ou pais e cidade, entre outros. É um processo que surge da perda de uma pessoa, objeto ou evento significativo, é uma reação pela que todos os humanos atravessam várias vezes; quando o vínculo afetivo se quebra, surge a dor e outros sentimentos associados. (KOVÁCS, 1996). O luto se caracteriza por um sentimento que expressa a figura que vivenciamos um vínculo, toma-se como exemplo os pacientes acometidos por um câncer que ao longo de sua “doença” e/ou tratamento passam por várias vezes por este processo, como cita Heidegger (2005): [...] Morremos várias vezes, mas não definitivamente e continuamos a viver com estes significados adquiridos”. (p. 31) Entende-se que a pessoa acometida por um diagnóstico que traz consigo um estigma de sentença de morte, como o câncer, acarreta várias ideias de “mortes”, como seu próprio diagnóstico, sequelas, limitações, mudanças de rotinas, adaptações, incapacitações graves, hospitalizações, entre outros. Dentre todas estas expressões do vivido referente à perdas e separações que acarreta ao que chamamos de luto, se identificam as possibilidades de fases presentes na elaboração dos mesmos. No livro Sobre a morte e o morrer da autora Kübler Ross (2000), os processos e as fases na elaboração do luto se classificam por: a) NEGAÇÃO: é como um mecanismo de defesa, porém não significa que o paciente não queira conversar sobre a sua morte, é preciso aguardar o momento de acordo com os sinais demonstrados pelo próprio paciente. b) RAIVA: o sentimento de raiva aparece quando já não é mais possível manter firme o primeiro estágio de negação, e ele é substituído por sentimento de raiva, revolta, inveja e de ressentimento. c) BARGANHA: é o momento em que o paciente começa a ter algumas reações com esperança de receber o que quer de Deus, uma possibilidade de cura. d) DEPRESSÃO: é quando o paciente não pode mais negar sua doença ocorrendo diversos procedimentos como cirurgias, hospitalizações, sentindo sintomas diferentes e estar mais debilitado, ele não pode mais esconder sua doença. e) ACEITAÇÃO: aceitação da doença sem depressões decorrentes ao seu estado de saúde. Embora nem todos os indivíduos passem por estes estágios até atingirem o último que se designa por aceitação, também não se inserem na mesma ordem exposta, estas fases podem coexistir em algumas vivências. 3. MÉTODO INVESTIGATIVO Para desenvolvimento da pesquisa foi utilizado o método de estudo de caso, em uma instituição de combate ao câncer analisando as vivências psicoterápicas, ou seja, a relação entre terapeuta-paciente. A postura fenomenológica proposta visa minimizar os sofrimentos vividos pelo indivíduo e proporcionar momentos de maior integração e consciência de si mesmo. O foco não se restringe somente ao paciente, se amplia às relações entre todos os elementos envolvidos no que se pode denominar sistema terapêutico, ou seja, os conflitos, medos, fantasia e suas vivências frente ao diagnóstico de câncer. Em um primeiro momento foi executado uma pesquisa de tipo exploratório, onde se pode conhecer e compreender o espaço da instituição que os sujeitos da pesquisa faziam parte, O acesso à instituição concedente se deu duas vezes na semana com duração de duas horas, devido à vulnerabilidade do quadro clínico de um dos indivíduos pesquisados, o local de pesquisa se deu em sua residência com autorização e sempre objetivando a questão do sigilo. Iniciou-se com propósito de números mínimos e máximos de sessões segundo a finalidade da psicoterapia breve/focal, que se estabelecem entre nove e doze sessões com duração de cinquenta minutos, onde a localidade prevalecia na construção de um setting terapêutico. Dentre essas sessões se apropriou da escuta fenomenológica como uma escuta cuidadosa, instigante, esclarecedora e descontaminada por parte do terapeuta, a partir da qual se estabelecerá a relação dialógica fundamental para o desenvolvimento do processo de compreensão e aceitação do adoecimento pela pessoa. Contudo, o mais importante, talvez, seja deixá-lo perceber que estamos prontos e dispostos a partilhar algumas de suas preocupações. (KOVACS, 1996) O método interventivo da descrição é utilizado na abordagem fenomenológica existencial, o método fenomenológico de Husserl propõe-se estabelecer uma base segura, liberta de pressuposições, para todas as ciências e, de modo especial, para a filosofia. A suprema fonte legítima de todas as afirmações racionais é a visão, ou também, como ele se exprime a consciência doadora originária. Que tipo de pesquisa é fenomenologia? É basicamente de natureza social. Ela pretende dar conta do que acontece, pelo clareamento do fenômeno. Não pretende verificar, mas construir uma compreensão de algo. (BRUNS e HOLANDA, 2005, p. 17) O emprego desse método visou não apenas descrever as vivências mórbidas do sujeito e os encadeamentos psíquicos ou naturais que levaram a seu surgimento, mas antes, de apreender as condições particulares da existência dos indivíduos pesquisados na sua singularidade. O artifício utilizado para colher dados sobre o fenômeno que se pretende compreender, dado o caminho que se pretende seguir é, basicamente, a descrição da experiência e a entrevista semi-estruturada. Na verdade, a entrevista é talvez o instrumento mais utilizado pelos vários métodos qualitativos, tais como a Etnografia, o Estudo de Caso, etc. No caso da utilização deste instrumento na pesquisa fenomenológica, ele tem características específicas. Trata-se de uma entrevista semi-estruturada, pautada em uma pergunta norteadora, ou “disparadora” (AMATUZZI, 1993). As entrevistas tradicionalmente são transcritas para posterior análise, através de relatórios de acervo pessoal dos pesquisadores. Transcreve-se o conteúdo em sua totalidade, o que consistirá no texto nativo. Foi realizado um relatório a cada sessão descrevendo o conjunto de informações relacional de cada sessão e como segunda etapa do mesmo, continha uma expressão do que foi vivenciado. Para o encerramento da psicoterapia foi elaborado uma análise, ou seja, um parecer para a pessoa, onde se voltará para a construção de experiências vividas por todo sistema terapêutico estabelecido, ou seja, as relações. Este parecer psicológico obtém por finalidade expor ao indivíduo o que ele trouxe para a relação terapêutica e qual seu modo de ser-no-mundo, mais especificamente suas relações frente ao diagnóstico de câncer. 4. ESTUDO DE CASO O trabalho se desenvolveu em uma Instituição de Combate ao Câncer nos meses de agosto a setembro de 2012, com supervisão semanal embasada em abordagem fenomenológica. Os atendimentos foram realizados duas vezes por semana, com duração de 50 minutos, tendo como pacientes portadores de câncer, os quais serão identificados como Joana D’arc e Virgínia Woolf. Joana D’arc trazia nos primeiros momentos seu diagnóstico e pouco relatava seu posicionamento, suas emoções envolta desta sua vivência, possui uma vinculação com o prognóstico à mais de seis anos e meio. Frente ao diagnóstico mostrou-se que se sentiu incomodada pelo fato de sua cunhada e os médicos, no momento de sua primeira cirurgia, ter lhe escondido o resultado da biópsia de sua neoplasia localizada na virilha. Quando ocorreu o momento de lhe revelar o diagnóstico, a paciente relata ter se isolado em seu quarto, pois já se encontrava em sua residência, e se colocou a chorar durante uma tarde toda e que pedia a Deus que não à levasse ainda, devido a questão de possuir um filho de doze anos e que em sua visão não estava preparado para sua perda. Percebe-se que neste momento emerge em sua vivência, ou seja, em sua primeira relação frente a seu diagnóstico a terceira fase da elaboração do luto: a barganha. [...] Se, no primeiro estágio, não conseguimos enfrentar os tristes acontecimentos e nos revoltamos contra Deus e as pessoas, talvez possamos ser bem-sucedidos na segunda fase, entrando em algum tipo de acordo que adie o desfecho inevitável: “Se Deus decidiu levar-me deste mundo e não atendeu a meus apelos cheios de ira, talvez seja mais condescendente, se eu apelar com calma.[...] (KUBLER-ROSS, 2000, p. 95) As primeiras reações, após este momento, foram fazer exames, saber detalhes sobre seu prognóstico através de seu médico e consequentemente “lutar por cada dia de sua vida”, como acentua a mesma frente ao início de seu tratamento. Diz ter consciência de que seu câncer é de caráter maligno e que não possui uma cura, mas recursos paliativos e afirma que enquanto houver estas possibilidades através da medicina sobre seu caso que irá buscá-los. Conforme se progredia as sessões, trazia conteúdos ligados a sensações e/ou mal-estar que passava, que poderiam não ter ligação com seu diagnóstico, mas que a fazia ir ao médico e pedir exames, sempre procurando relacionar com a doença. Segundo Husserl (apud BELLO, 2006), o indivíduo se depara com a possibilidade de morte ao mesmo momento emerge sua potencialidade, ou seja, traz a prepotência de se opor a esta finitude que é ontológico ao ser. Pode-se afirmar que a paciente traz a sua luta como forma de enfrentamento diante de um diagnóstico sem possibilidade de cura e que mostra consequentemente a primeira fase da elaboração de luto, que se designa na negação. Em relação a seu prognóstico diz que adere à tudo que seu médico lhe recomenda, desde uma dieta específica até momentos de descanso após sessão de quimioterapia via oral. Neste momento traz ao setting terapêutico que aprendeu a conviver com sua doença, que possuí uma relação com a mesma; questionou-a sobre este sua relação, de que forma se coloca frente a seu diagnóstico desde o momento da descoberta. Conta que a doença agora faz parte de seu cotidiano, e que teve que aprender a conviver com a mesma, porque a todo o momento se faz presente, como: no dia a dia através de medicamentos; o dia em que precisa descansar porque esta debilitada; exames de rotina; viagens para o hospital do câncer; dieta alimentar; entre outros. Pode-se citar que a paciente trouxe para este momento que relata sua aceitação frente ao diagnóstico, principalmente pelo fato de incluir a doença como parte de sua vida e vê-la sem estranhamento ou comportamentos que a levam á ter raiva e/ou medo. Segundo Kubler- Ross (2000) apontaria este momento como a fase de aceitação, onde a mesma enfrenta a doença de forma passiva, ou seja, aprende a conviver com a mesma sem transtornos existenciais. Como complemento, Angerami-Camon (2003), traz que esta forma de vivência apresentada seria a melhor exposta, devido a um desequilíbrio biopsicossocial causado por alguma doença no indivíduo, e que no momento que o mesmo se envolve sem depressões decorrentes a seu diagnóstico, promove desta forma uma melhor recuperação biopsicossocial. Sobre a relação de vivências entre paciente-terapeuta, observaram-se os momentos emergentes da segunda fase exposta por Kubler-Ross (2000), a raiva que coexiste com a depressão, principalmente frente ao prognóstico, onde surgem sentimentos de ira, revolta e ressentimentos. Apresentou-se pouco os momentos em que sua família interagia com sua doença, quando questionada fala que preferiu se isolar deste ambiente familiar. Nesta vivência percebe-se que a mesma moldou seus familiares referente a sua doença que se mostra terminal, a paciente confirma esta percepção que obteve-se diante da devolutiva final. Compreende-se, então, que a paciente elabora os lutos seu próprio luto referente aos seus familiares frente a sua perda afastando-os e ao mesmo tempo emerge a fase da negação coexistindo com o isolamento. (KUBLER-ROSS, 2000). Na última sessão teve por finalidade executar uma atividade a qual as pacientes deveriam escrever em uma folha em branco, da maneira que quisesse, ou seja, através da escrita ou recorte e colagens sobre sua trajetória de vivências ligada ao diagnóstico de câncer. Através desta carta percebeu-se que a trajetória de vivências da paciente frente a seu diagnóstico se destina primordialmente a permitir viver cada dia de sua existência, buscando sempre o progresso da medicina e principalmente apaziguar os abalos emocionais de seus familiares quando se refere à mesma. Observou-se também que sua vaidade que antes era essencial, hoje se torna despercebida á sua nova condição de ser, também dentre outras coisas que o prognóstico lhe ocasionou, como a perda dos cabelos e o uso de máscara. Dentre o que foi descrito compreende-se que a paciente sobre suas vivências demonstra as fases referentes ao luto citados por Kubler-Ross (2000), mas de formas coexistentes, não possuem uma sequência, como a autora mesmo confirma quando relata que essas fases não ocorrem necessariamente como descritas em sua bibliografia. Virgínia Woolf, relata nos primeiros encontros somente sobre seu diagnóstico, ou seja, apresenta como os fatos ocorreram até a descoberta do mesmo. Conta que após uma cirurgia de redução de seios (mamoplastia), depois de dezenove anos percebeu um pequeno ponto cirúrgico em sua mama esquerda, depois de exames clínicos recebeu o diagnóstico de câncer localizado no seio direito. Nesta primeira etapa, relata que sentiu muita raiva e revolta, estes sentimentos emergiram devido ao episódio em que recebe a notícia de sua médica, diz que a mesma deu a notícia bruscamente e que também sente raiva dela. Segundo Kubler-Ross (2000), esta fase do luto é a inicial, demonstrasse com grande ira, e dizia se perguntar a todo o momento se o que lhe aconteceu seria um castigo ou uma provação de Deus. A paciente traz sua veneração a Deus e a sua religião durante todas as sessões, se refere a Ele como a autoridade de suas vivências, pois é quem lhe trouxe este tipo de provação, que pra ela se designa por um castigo e quem lhe deu a chance de viver, de estar se recuperando. Percebeu-se que os momentos que a religião se faz presente, são caracterizados por barganhas, a paciente informa que a cada dia pede a Deus por sua saúde e vida. Sob a perspectiva de Angerami – Camon (2003) cita que o “ser” é composto por três vértices de equilíbrio, a vertente biológica, psíquica e social, quando uma dessas se encontra em desordem, há o desequilíbrio do “ser”. Constata-se a evidência deste desequilíbrio na paciente proporcionado pela doença, tendo sua evidência não só biológica, mas também psíquica e social. Observou-se este desequilíbrio inicialmente em seu relato frente ao diagnóstico, mas a proporção do mesmo ocorreu devido às etapas referentes ao prognóstico/tratamento clínico. Contou que os processos pelos quais teve que passar para sua cura foram os piores momentos de sua vivência, pois obteve principalmente muita resistência para aceitar sua doença e as mudanças corporais. Descreveu que as mudanças corporais lhe tiraram a autonomia quanto mulher, que a retirada de um seio e a queda de seus cabelos a diminuíram e desta forma procurou velar estes acontecimentos através da colocação de uma prótese mamária e capilar. Hoje não faz mais sessões de quimioterapias, mas rotineiramente executa exames em outro município especializado nesta enfermidade. Referente a exames clínicos, menciona a coexistência de fases referentes a elaboração de lutos descritas por Kubler-Ross (2000), a depressão, a raiva, a negação e a barganha, sendo estes evidentes constantemente em seus relatos. A negação pode ser uma defesa temporária ou, em alguns casos, pode sustentar-se até o fim. [...] A raiva é a fase na qual surgem sentimentos de ira, revolta e ressentimento: “porquê eu?” [...] Já na barganha o doente faz promessas por um prolongamento da vida ou por alguns dias sem dor ou males físicos. [...] A depressão pode evidenciar seu alheamento ou estoicismo, com um sentimento de grande perda. [...] (SUSAKI, SILVA e POSSARI, 2006, p. 145) Finalizaram-se as sessões através de uma carta descrita pela paciente, onde se priorizou a comunicação não verbal potencializando a transmissão da mensagem e diminuindo as dificuldades de verbalização comuns nos processos referentes à morte e lutos, que frente a sociedade se declara como um tabu. Foi proporcionada a presente atividade devido a fuga da paciente em se posicionar frente a seu diagnóstico e desta forma poderia emergir questões existenciais. Frente a descrição de uma carta, a paciente relatou que sua irmã presenciou seu choro frente a execução da atividade, e que pediu para não relembrar os momentos ruins de sua doença. Em sua carta relata as vivências exacerbadas de fases depressivas, principalmente sobre seu prognóstico e as modificações corporais, percebe-se também a ligação que faz de seu diagnóstico com provação divina, e que só superou estes momentos devido a uma segunda chance proporcionada por Deus, o qual no começo lhe deu um castigo. Compreendeu-se que pouco demonstra a relação familiar neste momento de sua vivência, porque ficou evidente a relação que faz de sua doença com Deus, a qual classifica por “problema”, castigo e provação. Desta forma, sua relação com o diagnóstico de câncer se pauta na negação, podendo ser esta uma forma de defesa, a qual se potencializa. Percebeu-se que ambas produziram uma vivência relacional com o diagnóstico de câncer, promovendo uma modificação psicossocial que lhes trouxeram uma adaptação e/ou modo de enfrentamento. Conforme Angerami – Camon (2003) atrelado com a teoria das fases de elaboração dos lutos de Kubler - Ross (2000), quando o indivíduo se encontra em desequilíbrio, busca de alguma forma a sua restituição biopsicossocial. Desta forma, faz-se uma referência ao paciente terminal ou que são portadores de genes predispostos a algumas afecções, estes trazem nesta busca de estabilidade possibilidade de enfrentamento ou de relação com seu diagnóstico. Os nomes, que se caracterizam por fictícios tiveram seus dignificados atrelados com as vivências de ambas as pacientes. Joana D’arc, assim como a guerreira, se fortalece lutando pelos mecanismos paliativos referentes a seu diagnóstico e prognóstico de câncer, frente a uma neoplasia de origem maligna e que se encontra em metástase; já Virgínia Woolf, era uma escritora que se suicidou quando se encontrei frente a uma iminente loucura, e nossa segunda paciente traz a negação como sua potencialidade de enfrentamento referente a seu diagnóstico, e a possibilidade de se deparar com sua doença poderia lhe ocasionar algo paralelo, a doença se iguala a uma iminente loucura. CONCLUSÃO Através da análise de estudo de caso, observamos que ambas as pacientes possuem vivências que convergem e divergem. Dentre as que convergem podemos citar a modificação de relacionamentos psicossociais frente ao diagnóstico, ou seja, antes da doença possuíam atitudes que não se igualam as quais demonstraram. Joana D’arc que era vaidosa e tinha uma vida agregada à festas, hoje prefere o isolamento familiar e a vaidade se tornou secundária; já Virgínia Woolf moldou seu cotidiano como se não tivesse obtido um diagnóstico de câncer, fazendo com que relembre do mesmo apenas quando tem que fazer exames médicos. As vivências que divergem trazem o relacionamento de ambas com o diagnóstico e a possibilidade de enfrentamento. Joana D’arc possui uma relação de convivência pautada na aceitação com seu diagnóstico e sua possibilidade de enfrentamento vem das demonstrações para outras pessoas de sua luta; Virgínia Woolf não quer estabelecer relação com seu diagnóstico, principalmente por ter se demonstrado como castigo, e seu fortalecimento de enfrentamento é a postura de negação. Com este trabalho concluímos que, através dos atendimentos que tinham por objetivos a psicoterapia breve/focal pautado na abordagem fenomenológica proporcionou suporte para a minimização de sofrimentos, percebemos que o número de sessões apenas emergiu questões vivenciais trazendo a subjetividade frente ao diagnóstico. REFERÊNCIAS AMATUZZI, M. Etapas do processo terapêutico: Um estudo exploratório. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 9, 1-21; 1993. ANGERAMI-CAMON, V. A. et al. e a Psicologia entrou no Hospital... São Paulo: Pioneira Thmson Learning; 2003. BELLO, A. A. Introdução à fenomenologia. Bauru, SP: Edusc, 2006. BRUNS, M. A. de T., HOLANDA, A. F.; Psicologia e pesquisa fenomenológica: reflexões e perspectivas. São Paulo: Ômega Editora, 2 ed. 2005. FERREIRA, P. E. Alguns pacientes especiais no hospital geral: o paciente oncológico. Cad IPUB 1997; 6:143-54. HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. 14 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. KOVÁCS, M. J. Vida e Morte: Laços da existência. 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