COMENTÁRIO GERAL DOS PROFESSORES DO CURSO POSITIVO VESTIBULAR PUCPR 2010/2011 PROVA DE LITERATURA A PUCPR elaborou uma prova, no geral, de bom nível, embora tenha apresentado algumas falhas de revisão e problemas pontuais de elaboração. Nota-se à primeira vista que, pela primeira vez em 25 anos, a prova de verão da PUCPR não apresentou uma questão sobre Simbolismo, o que era até previsível, em virtude da mudança do programa de Literatura estabelecido. Houve, em nosso entender, uma sensível melhora em relação às edições dos anos anteriores, principalmente pela excelente mistura entre Teoria literária, História da literatura brasileira e Obras indicadas como leitura obrigatória, o que nos deixa otimistas em relação aos futuros exames de seleção. Houve problemas, conforme listaremos a seguir, mas eles poderão ser facilmente contornados em exames vindouros. Sugeriríamos a elaboração de maior número de questões que exigissem a leitura integral da obra e não apenas o conhecimento superficial das mesmas, além de uma atenção maior na confecção dos enunciados. Isso feito, premiar-se-iam os alunos mais esforçados e mais bem preparados e se evitaria a indução em erro de alguns candidatos mais tensos. Professores Braz e Fábio 1 LITERATURA Conhecimentos Exigidos • Leitura da obra Inocência (Visconde de Taunay) • Romantismo • Realismo / Naturalismo • Teoria literária COMENTÁRIO Questão de ótimo nível, cobrando noções do Romantismo, bem como os seus desdobramentos e implicações na obra Inocência. Resolução a) Correto. Inocência representa a excelência do regionalismo romântico brasileiro, embora seja também considerada uma obra de transição para o Realismo. Há uma forte dose de realismo na descrição da paisagem e dos costumes, pelo fato de o autor ter convivido com a realidade da região (ambiente, tipos humanos, doenças) durante a Guerra do Paraguai. Além, claro, da idealização tipicamente romântica dos sentimentos, do par amoroso e da beleza dos cenários. 2 LITERATURA b) Correto. Na epígrafe em questão, retoma-se, de certo modo, o mito do bom selvagem estabelecido pelo filósofo francês. No entanto, a questão poderia ter destacado também um aspecto, até mais evidente na epígrafe, que é a sensação de solidão do personagem diante da imensidão dos ambientes pouco habitados. c) Incorreto. Conforme visto em aula, Inocência é uma obra que se enquadra no Romantismo literário brasileiro (1836 – 1881), embora já apresente algumas características do Realismo nascente, pois: 1) foi publicada em 1872, final do período romântico; 2) apresenta protagonistas idealizados e sem maior profundidade psicológica; 3) expõe a supervalorização do amor; 4) possui um final trágico, a exemplo de tantas outras obras enquadradas em tal estética. d) Correto. Apesar de ter estudado Farmácia em Ouro Preto (sem concluir o curso), Cirino era o que chamaríamos hoje, um farsante, um charlatão, no sentido de alguém que se fazia passar por médico e tratava as doenças com medicamentos manipulados fitoterápicos, baseado apenas em conhecimentos práticos e autodidáticos. O que pesa a favor do personagem é sua integridade moral e a falta de médicos formados, naquelas paragens. e) Correto. Esta é uma leitura possível da obra e do Romantismo. O amor que atesta a primazia da subjetividade, quando depara dificuldades culturais e sociais intransponíveis, realiza-se num outro plano, o eterno, como forma de não se sujeitar às mesquinharias deste mundo. Daí a obra ter sido já considerada um “Romeu e Julieta” à brasileira, sertanejo. 3 LITERATURA Conhecimentos Exigidos • Leitura da obra Inocência (Visconde de Taunay) • Compreensão e interpretação de texto literário Comentário Questão fácil, exigindo conhecimento panorâmico do enredo e da temática da obra. Resolução I. Incorreta. Pereira demonstra não só o cuidado que tinha pela filha, mas também o preconceito machista, por considerar a mulher um ser submisso e inferior, sem capacidade de autocontrolar-se e autodeterminar-se. Inocência morre sem ter se casado. II. Incorreta. Cirino, apaixonado por Inocência vive o desespero de um amor impossível, pois Pereira queria que a filha se casasse com o vaqueiro valentão e rude, Manecão. III. Correta. Esta é a interpretação correta do texto e da obra. Mostra os efeitos do autoritarismo paterno nas restrições impostas à protagonista, por conta dos preconceitos e costumes machistas. Conhecimentos Exigidos • Leitura da obra Contos de Belazarte (Mário de Andrade) • Modernismo e Vanguardas • Produção literária de Mário de Andrade 4 LITERATURA COMENTÁRIO Questão sobre as tendências literárias da época. A leitura integral da obra proporcionaria aos candidatos maior segurança na análise do estilo empregado pelo autor, embora a leitura de uma boa sinopse com análise crítica, como a proporcionada aos nossos alunos, poderia também resolver a questão. Resolução I. Incorreta. Contos de Belazarte foi realmente o segundo livro de contos do autor, sendo antecedido por Primeiro andar (1926); entretanto, nesta obra, o autor não recusa as manifestações de vanguarda, pois faz uso de algumas técnicas bem inovadoras para a época. Conhecimentos Exigidos • Leitura da obra O pagador de promessas (Dias Gomes) II. Correta. Este item corrige o item anterior e apresenta em essência as características de estilo e a temática dos contos da obra. • Teatro brasileiro moderno III. Correta. Esta alternativa complementa a anterior exigindo do candidato, não apenas a memorização de cenas dos enredos, mas uma compreensão mais abrangente sobre os temas universais abordados na obra. • Teatro de Dias Gomes Comentário Excelente questão sobre uma das peças teatrais mais consagradas da dramaturgia universal. Resolução I. Correta. A afirmação resume os temas centrais da peça. São pontos sobre a realidade brasileira colocados em pauta para a discussão por parte dos espectadores e/ou leitores. II. Incorreta. Dias Gomes até escreveu produções mais cômicas, como O bem-amado e Vamos soltar os demônios, mas seu teatro é essencialmente sério, que promove a reflexão sobre a realidade brasileira. O pagador de promessas, tragédia escrita e encenada pela primeira vez em 1960, antes, portanto, do Golpe Militar de 1964, não pode ser uma referência direta e específica a tal acontecimento. III. Incorreta. A peça se estrutura nos moldes da tragédia clássica grega, e não do teatro medieval, sem intenções moralizantes. A religiosidade de alguns personagens serve para colocar em discussão o sincretismo religioso e a intolerância religiosa. 5 LITERATURA Conhecimentos Exigidos • Leitura da obra Muitas vozes (Ferreira Gullar) • Teoria literária: noções de versificação • Concretismo e poesia contemporânea brasileira • Compreensão e interpretação de texto literário Comentário Excelente questão, cobrando de forma harmônica obra, contexto estético, autor e teoria literária. Resolução a) Incorreta. O poema foi composto em redondilhas maiores (versos de 7 sílabas métricas). Ferreira Gullar nem sempre demonstrou inclinação ao Concretismo, tanto é que rompeu com o movimento em 1957, tendo fundado posteriormente o Neoconcretismo (com o qual também acabou rompendo). Há no texto um forte tom autobiográfico e sentimental. As análises apresentadas nas alternativas B, C, D e E são perfeitas e pertinentes sobre o poema. 6 LITERATURA II. Verdadeira. Ao longo da narrativa, temos um narrador que visivelmente quer condenar a sua ex-esposa Capitu, por acreditar que ela o havia traído covardemente com Escobar. Bentinho nos mostra uma Capitu astuta, dissimulada e manipuladora, mas se mostra como alguém obsessivo e ciumento em alguns momentos. Logo, restam as seguintes dúvidas aos leitores: será que Capitu de fato traiu Bentinho? Será que tudo não foi mera desconfiança de um marido ciumento e obsessivo? Ou será que não tínhamos as duas coisas simultaneamente: um marido ciumento e uma mulher adúltera de fato? São perguntas para as quais não temos plenas respostas. III. Verdadeira. A rigor, a obra foi publicada pela primeira vez em 1899, mas a edição só chegou às mãos do público leitor em 1900, um detalhe. De fato, a temática do adultério era comum à época, não só na literatura brasileira, como também na literatura mundial. IV. Falsa. Outra obviedade: qualquer vestibulando minimamente preparado sabe que a obra Dom Casmurro é narrada em 1ª pessoa. Conhecimentos Exigidos • Leitura da obra Dom Casmurro (Machado de Assis) V. Verdadeira. A obra machadiana trabalha magistralmente as ambiguidades da condição humana e da vida em sociedade. • Obra machadiana • Realismo Comentário Há duas respostas para a questão, uma vez que as alternativas D e E são idênticas. Questão simples sobre a mais famosa obra da literatura machadiana. Resolução I. Verdadeira. Questionamento básico sobre a produção literária de Machado de Assis. 7 LITERATURA Comentário Ops!, dois probleminhas: 1º) O capítulo do qual o texto foi transcrito é o III (três) e não o II (dois); 2º) Não se respeitaram os parágrafos feitos por Machado a transcrição uniu períodos de forma inadequada. Questão muito fácil sobre o enredo de Dom Casmurro. Uma lista de enganos a serem evitados. Resolução I. Falsa. O texto não deixa clara a situação de Escobar na narrativa. Além disso, durante a obra, em alguns momentos ele chega a ajudar o casal. II. Falsa. Nem o texto nem a obra permitem sustentar tal afirmação. III. Falsa. Bentinho tentou evitar sua ida ao seminário, mas não obteve êxito. Além disso, sua ida não foi tão imediata assim, conforme se insinua nesta assertiva. IV. Falsa. Tio Cosme demonstra um certo desinteresse pelas pessoas e coisas ao seu redor, conforme fica evidente no texto e na obra. V. Falsa. A ideia da ida ao Seminário era fruto de uma promessa pela mãe de Bentinho, D. Glória. Conhecimentos Exigidos • Leitura da obra Dom Casmurro (Machado de Assis) • Compreensão e interpretação de texto literário • Realismo 8 LITERATURA Conhecimentos Exigidos • Leitura da obra S. Bernardo (Graciliano Ramos) • Romance Regionalista Modernista) de 30 (2ª Geração • Obra e linguagem de Graciliano Ramos Comentário Questão razoável Resolução I. Verdadeira. Trata-se de uma das melhores obras do Regionalismo brasileiro da década de 1930. II. Verdadeira. Paulo Honório nos relata as suas origens, sua ascensão e sua decadência. III. Verdadeira. Este é Paulo Honório, um sujeito que reconhece o quanto foi responsável pelo suicídio de Madalena, mas que no fundo atribui sua culpa à vida agreste, que lhe deu uma alma agreste. IV. Falsa. Paulo Honório não tinha a menor condição acadêmica ou intelectual de escrever uma obra rebuscada. Mesmo porque o estilo de Graciliano Ramos, que é quem realmente escreve o livro, é sóbrio e econômico. V. Verdadeira. S. Bernardo foi publicado após Caetés, a primeira obra do autor. Praticamente toda a obra deste autor alagoano se caracteriza pelo tipo de linguagem descrito nesta afirmação. 9 LITERATURA