Caracterização do Perfil Audiológico em

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CARACTERIZALÇÃO
DO PERFIL AUDIOLÓGICO
EM TRABALHADORES
EXPOSTOS A RUÍDOS
OCUPACIONAIS*
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
JÉSSICA BARBOSA DA COSTA, SIMONE ALMEIDA
BARBOSA ROSA, LEONARDO LUIZ BORGES, MARILIA
RABELO HOLANDA CAMARANO
Resumo: Introdução: A deficiência auditiva pode ser consequência de
exposições a ruídos. Objetivo: Caracterizar o perfil audiológico de trabalhadores gráficos, marceneiros e serralheiros, expostos ao ruído ocupacional.
Método: Estudo analítico transversal em trabalhadores expostos ao ruído
que passaram por avaliação audiológica básica e emissões otoacústicas por
produto de distorção (EOAPD). Foram analisados dados clínicos e ocupacionais de 25 trabalhadores em atividade no período de agosto a novembro
de 2014. Resultados: Os resultados da audiometria indicaram que os sujeitos
da pesquisa não apresentaram perdas auditivas nas frequências de 0.5, 1 e
2kHz, as perdas ocorreram entre 3 e 8kHz. A análise de correlação entre a
audiometria e as emissões não demonstrou diferença estatisticamente significante entre os grupos, porém, nota-se que há um número de falhas nas
EOAPD acentuado, 70% da amostra. Conclusão: A análise dos resultados
mostrou limiares audiométricos com queda nas freqüências agudas e ausência de respostas nas EOAPD, reafirmando a sensibilidade das emissões em
função da audiometria tonal para detecção precoce de danos ocasionados
pelo ruído ocupacional.
Palavras-chave: Saúde do trabalhador. Ruído ocupacional. Perda auditiva.
O
ruído é um tipo de som que provoca efeitos nocivos ao ser humano,
sendo uma sensação auditiva desagradável que interfere na percepção sonora desejada. Após a jornada ruidosa de trabalho, pode aparecer fadiga auditiva manifestada por uma redução temporária da capacidade
auditiva e/ou permanente. A essa alteração permanente dá-se o nome de perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR). A PAIR, uma patologia cumulativa
273
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estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
e insidiosa, que aumenta ao longo dos anos de exposição ao ruído no ambiente de
trabalho, embora seja uma doença de caráter irreversível e de evolução progressiva é
passível de prevenção (ARAUJO, 2002).
Os indivíduos expostos a ruídos intensos podem apresentar além da perda auditiva e do zumbido, dificuldade para o entendimento da fala, plenitude auricular, assim
como sintomas vestibulares, digestivos, comportamentais e hormonais (COSTA;
CRUZ;OLIVEIRA, 2007).
O ambiente com ruído em excesso, acima de 85 dB nível de pressão sonora (NPS),
sem medidas de segurança adequadas como o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) para estes trabalhadores expostos, pode gerar lesão das vias auditivas até
o sistema nervoso central. No órgão de Corti, localizado na orelha interna, ocorrem às
principais alterações responsáveis pela PAIR, pois há lesão das células ciliadas externas
que são estruturas sensíveis a intensidades fortes e prolongadas, seguidas de lesão nas
células ciliadas internas e de sustentação.
A PAIR é influenciada por três aspectos fundamentais, natureza e características
físicas do ruído e a suscetibilidade individual.
No que se refere à natureza do ruído, pode este ser (RUSSO, 1993):
a. Contínuo: ruído com pequenas variações dos níveis (até ± 3 dB) durante o período
de observação, que não deve ser inferior a 15 minutos;
b. Contínuo flutuante ou intermitente: ruído cujo nível varia continuamente de um
valor apreciável durante um período de observação (superior a ± 3 dB);
c. Impacto ou impulsivo: ruído que se apresenta em picos de energia acústica, de duração inferior a um segundo e com, entre picos, inferiores a 1 segundo.
Quanto às características físicas a intensidade pode ser definida como a quantidade
de energia vibratória que se propaga nas áreas próximas À fonte emissora, podendo ser
expressa em termos de energia (watt/m2) ou em termos de pressão (N/m2 ou Pascal).
A frequência é representada pelo número de vibrações completas em um segundo, sendo
sua unidade de medida expressa em Hertz (Hz).
Outro aspecto a ser considerado é a suscetibilidade individual, influenciada pelo
tempo de exposição, duração do ruído e outros danos à saúde.
Segundo a Norma Regulamentadora 15 (NR 15), as intensidades a partir de 85
dB(NPS) podem causar uma lesão irreversível, e quanto mais forte o ruído, maior será
a extensão da lesão. Quanto à frequência, qualquer área do espectro sonoro é capaz de
desencadear problemas cocleares.
A PAIR, sendo uma doença ocupacional de grande prevalência, ocasionando sérios
prejuízos ao sistema auditivo, tem sido alvo de ações pelo poder público, por meio de
medidas fiscalizadoras e de legislação específica, como as Normas Regulamentadoras
(NRs), Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Portaria nº 19/98 do Ministério do
Trabalho e Protocolo de Complexidade Diferenciada da Saúde do Trabalhador Ministério da Saúde (2006). Esse compilado de leis garante:
• Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho
(SESMT); que tem como finalidade promover a saúde e proteger a integridade do
trabalhador no local de trabalho;
• Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)- tem caráter de
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados
ao trabalho, inclusive de natureza subclínica, além da constatação da existência
de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores;
• Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)- visa à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio da antecipação, reconhecimento,
avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou
que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção
do meio ambiente e dos recursos naturais.
• Programa de Prevenção de Perdas Auditivas (PPPA)- é um conjunto de medidas técnicas simplificadas ou administrativas, distribuídas e mantidas ao longo
do tempo, que agindo de forma integrada e complementar entre si, pode servir de
substituto temporário a modernização tecnológica e melhoria das condições de
trabalho como um todo.
• Protocolo de Complexidade Diferenciada da Saúde do Trabalhador Ministério da
Saúde- tem como objetivo auxiliar os profissionais da rede do Sistema Único de
Saúde (SUS) a identificar e notificar os casos de PAIR, bem como dar subsídios
aos órgãos de vigilância para intervenções nos ambientes de trabalho.
Todo esse conjunto de leis tem a finalidade de promover a saúde do trabalhador por
meio de medidas preventivas como a realização dos exames audiométricos de referência e sequenciais, diminuição do ruído na fonte e orientação e treinamento quanto às
formas de proteção e medidas adotadas pelo PPPA. Ainda de acordo com a legislação,
todos os trabalhadores expostos a Níveis de Pressão Sonora (NPS) que ultrapassem os
limites de tolerância estabelecidos NR 15 da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho, independentemente do uso de protetor auditivo, devem ser acompanhados nos
exames periódicos.
A audiometria tonal liminar, exame preconizado pela NR7, é um procedimento que
utiliza tons puros e estabelece os limites mínimos de percepção sonora de um indivíduo.
Estes limites mínimos são obtidos por meio das respostas dadas pelo individuo, devendo
este indicar a presença ou ausência de sensação auditiva. Considera-se audição normal,
limiares menores ou iguais a 25 dB(NA), perda auditiva leve entre 26 e 40dB(NA),
perda auditiva moderada entre 41 e 55 dB(NA), perda auditiva moderadamente severa
de 56 a 70 dB(NA), perda auditiva severa de 71 a 90 dB(NA) e perda auditiva profunda
>91dB(NA)(LLOYD; KAPLAN,1978). Os tipos de perda auditiva são classificados como
condutiva (lesão na orelha média), mista (lesão da orelha média e/ou orelha interna) e
sensorioneural (lesão da orelha interna), esta última manifestada na PAIR (SILMAN;
SILVERMAN, 1997).
É importante ressaltar que além da audiometria, outras ferramentas de diagnóstico
podem ser utilizadas como meio para detecção de alterações auditivas provocadas pela
exposição aos Níveis de Pressão Sonoros (NPS) elevados, dentre elas estão As Emissões Otoacústicas-Produto de Distorção (EOAPD) que têm sido aplicadas, por revelar
alterações auditivas precoces provocadas pela exposição ao ruído, podendo auxiliar
no diagnóstico de PAIR, bem como estabelecer medidas de proteção mais eficazes
(MARQUES; COSTA, 2006).
275
Descritas no ano de 1978, por David Kemp, as Emissões Otoacústicas-Produto
de Distorção (EOAPD), são respostas geradas pela cóclea, evocadas por dois tons
puros (f1 e f2), apresentados simultaneamente com frequências sonoras muito
próximas (f2/f1=1,22). O produto de distorção surge da incapacidade da cóclea
em amplificar de forma linear dois estímulos diferentes, ocorrendo uma intermodulação que resulta nesta modificação sonora distorcida (2f1-f2). A resposta
é chamada distorcida por que se origina na cóclea e representa um sinal detom
puro primário de menor frequência F1 e um tom puro de maior frequência F2
(AZEVEDO, 2003).
O teste EOAPD caracteriza-se por ser um exame objetivo, rápido e de fácil aplicação.
Assim, alterações cocleares decorrentes de exposição a níveis elevados de pressão sonora
podem provocar precocemente mudanças nas respostas cocleares, especificamente nas
células ciliadas externas e essas mudanças registradas pelo aparelho, foram percebidas
precocemente em casos de PAIR. Coelho et al. (2010), com o objetivo de avaliar a
efetividade das EOAPD no diagnóstico diferencial precoce da PAIR, verificaram que
estas destacam-se mais eficazes, pelo fato de captarem as respostas nas frequências
mais altas, enquanto que a audiometria tonal revela a PAIR quando esta já se instalou
permanentemente.
Sendo assim o presente estudo teve como objetivo analisar as respostas da avaliação audiológica em trabalhadores expostos ao ruído, por meio da audiometria tonal;
logoaudiometria; imitanciometria e emissões otoacústicas por produto de distorção,
bem como identificar a idade, tempo de exposição ao ruído no ambiente de trabalho e
o uso do EPI.
Foi realizado um estudo analítico transversal, no período de 25 de junho a 22 de
novembro de 2014, avaliando 25 trabalhadores do setor de serviços gerais distribuídos
em setores gráfico, serralheria e marcenaria da Pontifícia Universidade Católica de
Goiás (PUC/ GO).Dentre estes serão excluídos os que apresentarem cerume no conduto
auditivo externo ou infecções otológicas.
Foram realizados os seguintes procedimentos:
276
• Anamnese clínico-ocupacional (instrumento utilizado no Laboratório de Audiologia – PUC-Goiás) contendo as seguintes variáveis: idade, função, tempo de trabalho
em ambiente ruidoso, uso de EPI e queixas auditivas. (Anexo A)
• Inspeção do meato acústico externo, por meio da meatoscopia, com o uso do instrumento Otoscópio Pocket Junior 22840- Welch Allyn.
• Exame audiométrico realizado nas frequências de 0,25 a 8 kHz, para a obtenção
dos limiares auditivos por via aérea e de 0,5 a 4 kHz na via óssea, com o uso do
equipamento DiagnosticAudiometer AD28- Interacoustics.
• Imitanciometria, com a utilização do imitanciômetroImpedanceAudiometer AZ7Interacoustics. Foi considerada, na análise da imitância acústica a integridade
funcional do conjunto tímpano-ossicular e presença de reflexo acústico, além de
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
MÉTODOS
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
critério para exclusão os resultados com perda auditiva condutiva ou perda auditiva mista.
• Para o teste das EOAPD, foi utilizado o aparelho Vivosonic Integrity, tendo como
objetivo relacionar F1 e F2 com registro de duas varreduras nas frequências de 0,25
a 8 kHz, analisando o nível de resposta e estimulo/ ruído, determinando assim a
presença (passa) ou ausência(falha) de respostas cocleares.
Todos os exames e a anamnese foram realizados no Laboratório de Audiologia
da Clínica Escola de Fonoaudiologia da PUC/GO. Os audiogramas foram classificados segundo a NR7, que estabelece as diretrizes e parâmetros mínimos para a
avaliação e acompanhamento da audição em trabalhadores expostos a NPS elevados.
São considerados sugestivos de perda auditiva induzida pelo ruído os casos cujos
audiogramas, nas frequências de 3, 4 e 6 kHz, apresentam limiares auditivos acima
de 25 dB(NA) e mais elevados do que nas outras frequências testadas, estando estas
comprometidas ou não, tanto no teste da via aérea quanto da via óssea, em um ou
em ambos os lados, e por fim, considera-se não sugestivos de perda auditiva induzida por NPS elevados os casos cujos audiogramas não se enquadram nas condições
anteriores (BRASIL, 1994).
Quanto às emissões otoacústicas, estas foram utilizadas para possível detecção
precoce de alterações cocleares advindas da exposição ao ruído, não identificadas
inicialmente pela audiometria tonal. Para o mesmo usou-se como critério de passa/
falha o registro de respostas em pelo menos três frequências, com amplitude das
emissões medidas em dB NPS de, pelo menos, 6 dB acima do ruído de fundo em
cada frequência estudada.
Ressaltamos que os exames propostos foram realizados com 25 participantes, com
exceção do teste EOAPD realizado em 15 dos participantes, ou seja, 30 orelhas, devido
a problemas técnicos no equipamento, impossibilitando a continuidade da pesquisa nos
demais trabalhadores.
As informações foram armazenadas em banco de dados Microsoft e Excel (2010),
para caracterização dos efeitos auditivos, realizou-se um estudo quantitativo por meio
da média dos eventos ocorridos. Para a relação entre as variáveis foi aplicado o software
Statistical Package for the Social Sciences, versão 2.0 (SPSS, Chicago, IL).
Esse estudo foi submetido ao Comitê de Ética em pesquisa da PUC/GO (número
666.905), tendo sido aprovado por este. E todos os participantes assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE) (Apêndice A).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados neste estudo 25 trabalhadores, sendo 14 do setor gráfico e 11 do
setor de marcenaria e serralheria, com idades entre 26 e 60 anos, e média de 45 anos
com tempo médio de exposição ao ruído de 19,4 anos. Analisando as características
gerais de amostra observou-se predominância de trabalhadores na faixa etária ampliada
de 51-60 anos (Tabela 1) e tempo de exposição ocupacional ao ruído variando de 11 a
20 anos (Tabela 2).
277
Tabela 1: Distribuição de trabalhadores, segundo a faixa etária
Faixa Etária
Trabalhadores
N
%
21-30
3
12
31-40
6
24
41-50
6
24
51-60
10
40
Total
25
100
Tabela 2: Distribuição dos trabalhadores, segundo o tempo de exposição ocupacional
ao ruído
278
Trabalhadores
N
%
<1 ano
0
0
1-10anos
5
20
11-20anos
8
32
21-30anos
7
28
>30anos
5
20
Total
25
100
O tempo de exposição ao ruído pode ser um fator preponderante de risco para a
perda auditiva tendo em vista que a exposição exacerbada a este agente, é cumulativa e
progressiva, afetando inicialmente as frequências altas de 3, 4, 6 e 8 kHz e posteriormente
as de 500, 1000, 2000 Hz. Vale ressaltar que este agravo deve ser monitorado e prevenido
no momento que o Nível de Pressão Sonora (NPS) exceder 85 dB(NPS), segundo a NR
15. De acordo com Faria e Suzuki (2008) está provado que os funcionários submetidos
em níveis de ruído superiores a 85 dB (NA) podem apresentar pro­blemas de audição,
irritação, falta de atenção, insônia e estresse. As alterações fisiopatológicas causadas
na audi­re pelo ruído podem estar relacionadas à diminuição de oxigênio intracelular
das células do órgão de Corti e perda dos esteriocílios, o que explica o motivo de sua
irreversibilidade.
Neste estudo percebeu-se o uso do EPI (Figura 1) como única medida preventiva
utilizada pelos trabalhadores. Entretanto, segundo Azevedo et al. (2010), mesmo os
funcionários fazendo uso do EPI, podem apresentar a PAIR principalmente nas frequências de 3 a 6 kHz , o que pode estar relacionado ao uso incorreto do EPI.
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
Tempo de exposição ao ruído
Figura 1: Distribuição dos trabalhadores que se referem ao uso de EPI
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
Com base no questionário aplicado a principal queixa auditiva aludida, foi o zumbido, referido por cerca de 20% dos indivíduos pesquisados. Este dado é corroborado
pelos achados de Andersson, Vretblad e Larsen (2001) que constaram que cerca de
25% dos indivíduos expostos a ruído relatam zumbido como queixa mais frequência.
O zumbido presente pode ser também indicativo de perda auditiva, mesmo que esta não
seja revelada na audiometria.
Após a observação do questionário passou-se a análise dos exames imitanciométricos, os quais apontam para a presença de curvas timpanométricas do tipo A e presença
de reflexo acústico em toda a amostra estudada.
Apesar de que parte dos trabalhadores faz uso do EPI (52%), os achados audiológicos apontaram para situações diferentes, visto que 44% da amostra apresentou uma
tendência de queda nas frequências altas (limiares até 25 dBNA) se comparadas com as
frequências baixas. As quedas propriamente ditas (acima de 25 dBNA) nas frequências
de 3, 4 e 6 kHz,resultaram em 38% da amostra como pode ser verificado na Figura 2.
Figura 2: Distribuição das 50 orelhas segundo os limiares audiométricos
279
Figura 3: Distribuição das 30 orelhas conforme o teste de EOPAD nas diferentes freqüências
280
Elucidando essa disparidade entre a audiometria e o teste de emissões otoacústicas,
este último possui uma sensibilidade maior para detecção precoce de perdas auditivas,
mesmo antes destas se revelarem, conforme os achados na Figura 2 e 3. Ainda nesta
discussão Marques e Costa (2006) utilizaram o registro das EOAPD como método de
detecção de alterações fisiopatológicas precoces provocadas por exposição ao ruído
ocupacional, mostrando-se como promissor instrumento auxiliar no diagnóstico da
PAIR. Em outro estudo realizado para descrever a vantagem das EOAPD na detecção
precoce de casos de PAIR, obteve-se o mesmo resultado, ou seja, o teste de emissões
mostrou-se mais eficaz (COELHO et al., 2010).
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
Tais resultados indicaram que os sujeitos da pesquisa não apresentaram perdas
auditivas nas freqüências de 0,5, 1 e 2kHz, porém foram constatadas alterações dos
limiares auditivos entre 3 e 8kHz. A freqüência que, isoladamente, apareceu em um
maior número de vezes e com uma severidade de perda maior foi a de 6kHz. Foram
observados que os maiores limiares audiométricos ocorreram em 6kHz, mesmo nos intervalos iniciais de tempo de exposição a ruído ocupacional, dado este confirmado pelos
estudos de Harger e Barbosa-Branco (2004), Boger, Barbosa-Branco e Ottoni (2009).
Esses estudos apontaram que 6kHz tem sido a primeira freqüência a ser atingida em
decorrência da exposição ao ruído ocupacional seguida de 4, 3 e 8kHz ou seja, o dano
auditivo acomete principalmente freqüências altas, como confirmado no presente estudo.
A Figura 3 confirma os dados obtidos na figura anterior, pois as falhas encontradas
nas emissões se concentraram nas freqüências de 3, 4, 6 e 8kHz. Foram analisadas 30
orelhas (relacionadas aos 15 indivíduos que se submeteram ao teste de EOAPD), com
intenção de obter respostas passa/falha confirmando ou não a integridade das células
ciliadas externas. Desta forma percebeu-se que 75% dos participantes, obtiveram respostas ausentes, dado relevante, se confrontado com os resultados audiométricos que
mostrou limiares auditivos dentro do padrão de normalidade para as freqüências graves
e médias e discreta queda auditiva nas freqüências agudas.
Nas Tabelas 3 e 4 foram realizadas as correlações das 30 orelhas direita/esquerda,
com a média dos limiares audiométricos e as respostas da EOAPD, para frequências de
3, 4 e 6kHz, em que a predominância dos resultados consistiu em 87%casos de ausências
de respostas em todas as freqüências, com exceção de 6kHz na orelha direita (93%).Tais
dados sugerem uma alteração leve no funcionamento coclear dos sujeitos investigados,
uma vez que todos apresentavam audição dentro dos padrões de normalidade.
Tabela 3: Correlação das respostas do teste de EOAPD para as 15 orelhas, segundo a
média dos limiares audiométricos nas freqüências 3, 4 e 6kHz na orelha direita
EOAPD Presentes
N
%
EOAPD Ausentes
N
%
Frequência kHz
Média dos limiares
audiométricos Db (NA)
3
10
2
13
13
87
4
10
2
13
13
87
6
15
1
7
14
93
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
Tabela 4: Correlação das respostas do teste de EOAPD para as 15 orelhas, segundo a
média dos limiares audiométricos nas freqüências 3, 4 e 6kHz na orelha esquerda
Frequência kHz
Média dos limiares
audiométricos Db (NA)
3
EOAPD Presentes
EOAPD Ausentes
N
%
N
%
10
2
13
13
87
4
10
2
13
13
87
6
15
2
13
13
87
O que chama atenção em ambas as tabelas são as médias dos limiares audiométricos
normais e a quantidade de falhas nas emissões otoacústicas, mesmo essa correlação não
apresentando significância estatística. Vale lembrar que a falta de significância pode ser
atribuída à pequena amostra da população estudada, ressaltando que estes dados não devem extrapolar para o restante da população exposta ao ruído (menor representatividade).
No entanto, este estudo evidencia a necessidade em dar continuidade à investigação
desta disparidade, inclusive em outros setores ocupacionais.
CONCLUSÃO
A avaliação audiológica em trabalhadores expostos ao ruído, revelou resultados
audiómetricos normais para as médias das freqüências da fala e queda nos limiares para
as freqüências agudas, sobretudo em 6000Hz, logoaudiometria e imitanciometria compatíveis com os limiares audiométricos. Nas emissões otoacústicas mais da metade dos
trabalhadores apresentaram ausência de resposta, mostrando ser um teste mais sensível
281
ao registro de alterações cocleares por exposição a ruído intenso se comparado com a
audiometria tonal. O tempo de exposição ao ruído (11 a 20 anos) é prolongado e pode
ser considerado fator de risco para a perda auditiva, agravado pelo fato de uma grande
parte dos indivíduos (48%) não usarem nenhum tipo de equipamento de proteção.
CHARACTERISTICS OF WORKERS IN PROFILE AUDIOLOGICAL EXPOSED
TO OCCUPATIONAL NOISE
Abstract: Introduction: Hearing loss may result from exposure to noise.Objective:To
characterize the audiological profile graphs workers, carpenters and locksmiths, exposed to occupational noise.Method:Cross-sectional analytical study carried out with
the general service sector workers PUC/GO, located in Goiânia, Brazil. Clinical and
occupational data of 25 workers in activity were analyzed from August to November
2014.Results:audiometry results have indicated that the subjects did not show hearing
loss in the frequencies of 0.5, 1 and 2 kHz, the losses occurred between 3 and 8kHz.
Correlation analysis between audiometry and DPOAEs, showed no statistically significant difference between the groups, however, it is noted that there are more failures in
DPOAE.Conclusion:The results of DPOAE was more effective than pure tone audiometry
for recording cochlear changes after exposure to loud noise.
Keywords: Worker of health. Ocupacional noise. Hearingloss.
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HARGER, Marilia Rabelo; BARBOSA-BRANCO, Anadergh. Efeitos Auditivos Decorrentes da Exposição Ocupacional ao Ruído em Trabalhadores de Marmorarias no
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RUSSO, Iêda Costa Pacheco. Acústica de PsicoacústicaAplicadas a Fonoaudiologia.
São Paulo, Editora Lovise, 1993.
SILMAN, S; SILVERMAN, CA. Auditory diagnosis: principles and applications. San
Diego: Singular Publishing Group; 1997. P. 44-52
283
JÉSSICA BARBOSA DA COSTA
Graduanda em Fonoaudiologia na PUC Goiás
SIMONE ALMEIDA BARBOSA ROSA
Graduanda em Fonoaudiologia na PUC Goiás
LEONARDO LUIZ BORGES
Doutor em Ciências Farmacêuticas pela UnB. Mestre em Ciências Farmacêuticas pela
UFG. Graduado em Farmácia pela UFG. Farmacêutico. E-mail: leonardoquimica@
gmail.com
284
MARILIA RABELO HOLANDA CAMARANO
Mestre em Ciências da Saúde pela UnB. Graduada em Fonoaudiologia pela PUC
Goiás. Fonoaudióloga. E-mail: [email protected]
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
Recebido em: 22.03.2015. Aprovado em: 12.04.2015.
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
ANEXO A
285
APÊNDICE A
286
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), do Projeto de
Pesquisa sob o título (CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL AUDIOLÓGICO EM
TRABALHADORES EXPOSTOS A RUÍDOS). Nossos nomes são Jéssica Barbosa
da Costa e Simone Almeida Barbosa Rosa, somos as pesquisadoras responsáveis graduandas do curso de Fonoaudiologia. Após receber os esclarecimentos e as informações
a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, este documento deverá ser assinado
em duas vias, sendo a primeira de guarda e confidencialidade das Pesquisadoras Jéssica
Barbosa da Costa e Simone Almeida Barbosa Rosa, a segunda ficará sob sua responsabilidade para quaisquer fins. Em caso de recusa, você não será penalizado (a) de forma
alguma. Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com as
pesquisadoras responsáveis Jéssica Barbosa da Costa e Simone Almeida Barbosa Rosa
ou com a orientadora da pesquisa Professora Marília Holanda Rabelo, nos telefones: (62)
81697020/ (62) 92555485, ou através do e-mail: [email protected]. Em caso de dúvida
sobre a ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética
em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, telefone: (62) 3946-1512.
O objetivo desta pesquisa é verificar os benefícios do exame periódicos,
para prevenção de perda auditiva nos trabalhadores que estão expostos ao ruído na
Instituição.
A pesquisa ocorrerá na Clínica Escola de Fonoaudiologia da PUC-GOIÁS,
será utilizada a sala de audiometria tonal, acusticamente tratada, em posições habituais
as avaliações citadas.
Toda pesquisa oferece riscos, nesta pesquisa entende-se que estes estão
caracterizados como de baixo risco. O (a) senhor (a) poderá se beneficiar por meio
desta pesquisa, pois a mesma poderá possibilitar a prevenção de doenças, melhorar
a qualidade de vida no trabalho e estimular cuidados com a saúde. É importante
esclarecer que não é preciso ser portador de plano de saúde, pois, os exames serão
custeados totalmente pela Clinica Escola de Fonoaudiologia. Para dar seguimento a esta pesquisa, será necessário que o (a) senhor (a), siga
orientações determinadas pelos pesquisadores. Sendo então que o (a) senhor (a) devera
estar de repouso auditivo, ou seja, longe de ruídos por um período de 14 horas. Na
data combinada para realização do exame, o (a) senhor (a) será submetido a uma serie
de testes que tem como objetivo avaliar suas funções auditivas. Inicialmente, o (a)
senhor (a) será submetido a um questionário no qual serão anotadas as suas queixas,
relacionadas a dificuldades auditivas e outras que julgam importantes. Em seguida
o (a) será submetido a um exame audiométrico. Este exame é administrado, com
equipamentos calibrados, em cabine audiométrica e em um ambiente sem ruído, para
que não ocorra interferência nas respostas. A bateria de testes consiste de audiometria
tonal (pesquisar em qual intensidade o individuo está ouvindo), logoaudiometria
(confirmação da intensidade), imitanciometria (Avaliar o funcionamento da orelha
média a membrana timpânica, ossículos, etc.), reflexos estapedianos (O reflexo do
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
estapédio é desencadeado por um estímulo sonoro intenso e consiste de uma contração
bilateral do músculo do estribo (estapédio) e emissões otoacústicas por produto de
distorção (através de um minúsculo fone inserido na orelha, iremos identificar como o
som está indo para a cóclea). Todos esses exames são indolor e não são invasivo.
Sua participação é voluntaria. O (a) senhor (a) poderá retirar sua participação
a qualquer momento que julgar necessário, sem prejuizos éticos, morais, sociais,
financeiros ou quaisquer outros. O (a) senhor (a) não recebera nenhuma recompensa
financeira por sua participação nesta pesquisa. Caso sinta-se prejudicado por sua
participação nesta pesquisa, o senhor poderá pleitear seus direitos, cabendo ao
pesquisador acatar a sentença determinada. Toda pesquisa que envolve participação
humana deve ser encaminhada para analise a um Comitê de Ética em Pesquisa. A
resolução nacional de N° 466/12 exige situações a serem cumpridas pelo pesquisador.
Eu, pesquisadora principal, garanto que todos os itens da resolução serão seguidos e
cumpridos com legitimidade.
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu ____________________________________, RG ______________, concordo
a participar da pesquisa Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo,
os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de
confidencialidade de esclarecimentos permanentes. Fica claro também que minha
participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento audiológico
na Clínica Escola de Fonoaudiologia da PUC-GOIÁS quando necessário. Concordo
voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a
qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda
de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.
estudos, Goiânia, v. 42, n. 3, p. 273-287, maio/jun. 2015.
Goiânia, ___, de _____________, de 201_.
___________________________ ___/ ___/_____
Assinatura do participante Data
___________________________ ___/ ___/_____
Assinatura da testemunha Data
___________________________ ___/ ___/___
Assinatura do responsável pelo estudo Data
287
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