QU deslocado e QU in situ em PB_ aspectos da

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AUGUSTO, M.R.A. QU deslocado e QU in situ em PB: aspectos da derivação lingüística e
questões para a aquisição da linguagem In Anais do IV Congresso Internacional da ABRALIN,
p.535-546, 2005, Disponível on-line: http://www.abralin.org/publicacao/abralin2005.pdf
QU deslocado e QU in situ em PB: aspectos da derivação lingüística e questões para a
aquisição da linguagem∗
Marina R.A. Augusto
PUC-Rio/LAPAL-CNPq
Abstract: Analyses for interrogative constructions in Brazilian Portuguese (BP), which allows both dislocated-WH
and WH-in situ, are evaluated in relation to production and comprehension data of normal and impaired language
acquisition. It is argued that a theory of language acquisition should encompass a parsing model so that distinctions
from production and comprehension tasks may be well-defined and adequately incorporated, clarifying the kind of
relationship to be traced between linguistic knowledge and the capacity to use/implement such knowledge.
Key-words: Minimalism; Acquisition of Interrogatives; WH-in situ.
Resumo: Análises distintas propostas para as construções interrogativas no português brasileiro (PB), que admite
tanto QU-deslocado quanto QU-in situ, são avaliadas em relação a dados de produção e de compreensão de
interrogativas no PB na aquisição normal e desviante. Argumenta-se que uma teoria da aquisição da linguagem deve
considerar um modelo de processamento a fim de que distinções entre tarefas de produção e de compreensão possam
ser definidas com clareza, alcançando-se uma maior explicitude entre conhecimento lingüístico e capacidade para
usar esse conhecimento.
Palavras-chave: Minimalismo; Aquisição de Interrogativas; QU-in situ.
1
Introdução
Este artigo toma como foco as construções interrogativas no português brasileiro
(doravante PB), analisadas à luz do Programa Minimalista (Chomsky, 1998; 1999). O PB
apresenta tanto interrogativas com elemento-QU movido assim como interrogativas com QU-in
situ e análises distintas têm sido oferecidas para tratar esse fenômeno (Kato, 2004; Hornstein,
Nunes & Grohmann, 2005; dentre outros). Confrontamos as previsões que essas análises fazem
em relação à aquisição com dados de produção e de compreensão de interrogativas no PB, tanto
na aquisição normal (Lopes-Rossi, 1994; Sikansi, 1999; Corrêa, 2000) quanto na aquisição
desviante (Haeusler, 2005), particularmente no que se refere ao DEL. 1 Aponta-se a relevância de
uma teoria da aquisição da linguagem considerar um modelo de processamento lingüístico (em
tempo real) (ver Corrêa, 2002). Nesse sentido, vale salientar que o Programa Minimalista tem
∗
Este artigo se originou de uma comunicação com mesmo título apresentada na Sessão de Comunicações
Coordenadas: Processamento lingüístico e derivação minimalista: compatibilidade ou identidade?, coordenada por
Letícia Sicuro Corrêa, como parte das atividades do IV Congresso Internacional da ABRALIN. Agradeço à
audiência presente, assim como ao Grupo de Pesquisa do LAPAL (Laboratório de Psicolingüística e Aquisição da
Linguagem) por comentários e sugestões. Desnecessário dizer que os erros remanescentes são de minha inteira
responsabilidade. A autora é bolsista Recém-Doutor pelo CNPq – Processo 303611/03-0.
1
Déficit que atinge cerca de 7% das crianças em idade escolar (Leonard 1988), o DEL/SLI – Déficit Específico da
Linguagem (Specific Language Impairment) - recebe diagnóstico por exclusão, uma vez que as crianças afetadas não
apresentam deficiências externas ao domínio lingüístico, isto é, não há evidências de distúrbios neurológicos,
deficiências auditivas, articulatórias ou privação social. O DEL tem sido objeto de estudo do Grupo de Pesquisa do
LAPAL, coordenado por Letícia Sicuro Corrêa, com financiamento obtido junto à FAPERJ.
incorporado certos procedimentos para a atuação do sistema computacional que se mostram
compatíveis com noções assumidas em modelos de processamento (Corrêa, 2002; neste volume).
Neste artigo, essa compatibilidade é especificamente tratada no que se refere aos mecanismos sob
atuação na derivação de construções interrogativas no PB.
O artigo organiza-se da seguinte maneira: na Seção 2, apresentam-se os principais
aspectos a serem abordados em relação às construções interrogativas. A Seção 3 trata da
aquisição de interrogativas-QU no português a partir de dados de produção e a seção seguinte,
apresenta resultados de compreensão. A Seção 5 apresenta análises minimalistas oferecidas para
as construções-QU no PB. A última seção discute os dados frente às análises, aponta a relevância
de uma teoria da aquisição considerar um modelo de processamento e focaliza a compatibilidade
que se pode traçar entre algumas noções que as análises minimalistas têm incorporado e
procedimentos adotados em modelos de processamento.
2
Interrogativas-QU
A aquisição de interrogativas tem se constituído como um fenômeno de interesse da teoria
gerativista ao longo do tempo, tanto pelo fato de prover evidências para a atuação de movimento
sintático e para a disponibilidade de categorias funcionais – o domínio CP, como também pela
possibilidade de se observar o processo de fixação de parâmetros de variação entre as línguas.
No Programa Minimalista, língua-I é concebida como a atuação do sistema
computacional, responsável pela derivação das expressões lingüísticas, sobre um léxico,
adquirido pela criança na exposição a uma determinada língua. O léxico é um conjunto de traços
legitimados pelas condições de interface. A seleção de itens lexicais e de seus respectivos traços
para formar a Numeração determina a atuação das operações do sistema computacional – Merge,
Agree/Move. Nesse sentido, no que diz respeito às construções interrogativas, deve-se postular a
presença de um traço que as diferencie das afirmativas. A pertinência desse traço implica a sua
seleção não só para a derivação de uma expressão lingüística característica, assim como na
própria definição do conjunto de traços relevantes para a especificação de uma dada língua. Em
outros termos, parametrização é concebida, nesse modelo, como decorrente do conjunto de traços
selecionados pelas gramáticas particulares e a maneira como esses traços se associam a itens
lexicais/funcionais. 2 Fazer a identificação dos traços que caracterizam a língua e incorporá-los ao
léxico equivale a fixar os parâmetros da língua em questão. O Programa Minimalista toma,
portanto, a variação paramétrica como estando restrita a características do léxico, mais
especificamente às propriedades morfológicas (Chomsky, 1999; 2001).3
Nesse arcabouço, assume-se, em relação às construções interrogativas, que a criança tem
diante de si tanto a tarefa de adquirir os itens lexicais específicos relacionados à interrogação
(partículas interrogativas e pronomes interrogativos ou sintagmas-QU), quanto a de incorporar as
particularidades estruturais relativas às construções interrogativas, como movimento de
constituintes, entonação característica, etc.
Que tipo de informação está envolvido na formulação/interpretação de interrogativas? As
interrogativas sim/não solicitam a avaliação de uma proposição. As interrogativas-QU solicitam
2
Ver Augusto (no prelo), para uma discussão acerca das noções de princípios e parâmetros no Minimalismo.
Deve-se, também, tomar, conforme argumenta Corrêa (no prelo), certo tipo de movimento sintático - aquele
responsável por derivar a ordem linear básica da língua - como expressão da fixação de parâmetros, considerando-se
Kayne (1994).
3
que um certo estado de coisas seja acomodado/pressuposto e que um esclarecimento acerca de
um aspecto desse estado de coisas seja fornecido. Para tanto, as palavras de tipo-QU precisam ser
conhecidas, uma vez que delimitam um conjunto/categorizam sub-conjuntos (de pessoas, de
coisas, de lugares...), definindo o tipo de informação solicitada. No entanto, nem sempre as
palavras-QU sinalizam solicitações de informação (veja (1b) e (2b)). Essa tarefa é desempenhada
pelo conjunto estabelecido pela presença dessas palavras e determinadas construções sintáticas:
(1)
(2)
a.
a.
O que Pedro comprou?
Quando Pedro viajou?
b.
b.
Pedro sabe o que a Maria comprou para ele.
Pedro riu quando a Maria caiu.
Adicionalmente, as palavras-QU aparecem em posições distintas daquelas em que são
interpretadas semanticamente. Ou seja, elas precisam ser relacionadas à sua função na estrutura
argumental da sentença. Na teoria gerativa, essa relação tem se traduzido na noção de
movimento, isto é, assume-se que a expressão-QU é gerada na posição temática em que foi
requerida, se argumento, ou em posições de adjunção relevantes, e é movida para uma posição na
periferia esquerda da sentença. As expressões-QU são, portanto, interpretadas como operadores
que implicam a solicitação de atribuição de um valor para as variáveis a eles ligadas:
(3)
a.
b.
O que Pedro comprou?
Pedro comprou um anel.
a’.
b’.
Existe um x, tal que Pedro comprou x.
O x tal que Pedro comprou x é um anel.
O movimento de elementos-QU para a periferia esquerda não é, no entanto, atestado em
todas as línguas. Há línguas que apresentam obrigatoriamente o movimento de elementos-QU em
interrogativas (como o inglês) (veja (4)); há línguas em que não se atesta movimento algum
(como o chinês), as chamadas línguas de QU-in situ (veja (5)). Há, ainda, línguas em que há
instâncias de movimento parcial (como o alemão), isto é, o elemento-QU se move até a periferia
esquerda da sentença encaixada, mas não chega à periferia esquerda da sentença matriz (veja (6)).
Por fim, há línguas em que o movimento não é obrigatório, caso do francês e também do
português, que apresentam além da possibilidade de movimento para a periferia esquerda (veja
(7a)), estruturas interrogativas com elemento-QU in situ (cf. (7b)):
(4)
(5)
(6)
(7)
What did Bill buy?
O que Bill comprou?
Bill mai-le sheme ne?
Bill comprou o quê?
Was denkst du wen sie mag?
O que você acha quem ela gosta?
a.
O que o Pedro comprou?
b.
Pedro comprou o quê?
No arcabouço gerativista, tem-se observado a aquisição das construções interrogativas em
várias línguas, levando-se em conta os aspectos apontados acima. A próxima seção apresenta
algumas dessas observações.
3
Aquisição de interrogativas-QU
Em relação ao inglês, de Villiers & Roeper (2003), retomando a literatura sobre o tópico,
reafirmam que as crianças adquirem os elementos-QU em uma ordem bastante similar:
what/where/who antes de how/when e why, sendo ainda posteriores os sintagmas do tipo which e
whose. Outro aspecto comumente reportado em relação à formação de interrogativas no inglês
aponta para a possível ausência de movimento efetivo para o domínio CP, assumindo-se que as
primeiras emissões das crianças trazem, na verdade, elementos-QU adjungidos às sentenças, o
que é argumentado dada a ausência de inversão auxiliar/verbo, e do auxiliar do. Diante disso,
assume-se que o movimento seria custoso para a criança (de Villiers & Roeper, 1991).
3.1
Aquisição de interrogativas-QU no português
Em relação ao português, a questão de se definir se o movimento do elemento-QU para
CP se deu efetivamente também pode lançar mão da questão da inversão sujeito/verbo, mas
apenas no português europeu (doravante PE). Soares (2003), no entanto, argumenta que em PE,
pode-se defender que o domínio CP está ativo na gramática das crianças, uma vez que o
movimento de elementos-QU pode se dar para esse domínio, embora não se ateste, por outro
lado, o movimento de núcleos – movimento de verbo – para C (veja (8)). 4 A principal estratégia
utilizada pelas crianças para a formação de interrogativas é o uso de estruturas focalizadas do tipo
é que, como em (9):
(8)
(9)
O que tu tens aqui na mala?
O que é que a minha mãe descobriu?
(Sandra 2;6.3)
(Carlota 3;6.30)
Em PB, por outro lado, a formação de interrogativas não mais demanda a inversão
sujeito/verbo, 5 isto é, (8) seria uma sentença perfeitamente gramatical nessa variedade. A
construção em (9) também é possível. Tem-se, ainda, uma outra possibilidade em PB, que não é
admitida em PE: a presença exclusiva do complementizador sem a cópula, como em (10):
(10)
Onde que ela foi?
(R. 2;05,05)
Lopes-Rossi (1994) apresenta o seguinte esquema-resumo das principais observações
provenientes dos dados de uma criança adquirindo o PB: 6
IDADE
ESTRUTURAS SINTÁTICAS
1;9,25
Respostas adequadas a interrogativas-QU, compreensão dos elementos
interrogativos;
INFL adquirido;
Produção apenas de interrogativas sim/não e com “cadê”.
1;11,12
Início da produção de interrogativa-Qu com “quem” sujeito;
2;00,05
Produção de interrogativas-Qu com outros elementos interrogativos incidindo
sobre sujeito e adjuntos, perguntas do tipo “Qu que ...?” e “Qu é que...?”.
4
Trata-se de um erro em PE, que demanda a inversão sujeito/verbo em sentenças interrogativas. As crianças evitam
esse tipo de construção, preferindo as construções do tipo em (9).
5
Ver Duarte (1992) e Rossi (1996) acerca da perda de movimento V-to-C nas interrogativas-QU.
6
Os dados analisados são do sujeito (R), da idade de 1;8,0 a 3;5,25, gravados em 23 sessões. A autora salienta que
esses dados pertencem ao Banco de Dados de Aquisição de Linguagem Infantil do IEL – Unicamp e foram cedidos
pela equipe da Profa. Dra. Cláudia T. Lemos.
2;04,11
2;06,00
Produção de “cleft sentences” e sentenças exclamativas com “que”.
Produção de uma estrutura com CP subcategorizado pelo V.
Produção de interrogativa-Qu incidindo sobre argumento temático do V;
Produção de interrogativa indireta.
Figura 1: Principais constatações relacionadas à aquisição de interrogativas-Qu (Lopes-Rossi, 1994:45)
Salienta-se o fato de que as interrogativas de sujeito emergem antes das interrogativas de
objeto – idade de 1;11,12 contra 2;06 e que as sentenças encaixadas são mais tardias no corpus.
Outro aspecto relevante em relação às interrogativas-QU em português é a nãoobrigatoriedade de movimento. Construções com o elemento-QU in situ são admitidas (cf. (7)).
No que diz respeito à aquisição, tem-se apontado que essa estratégia de formação de
interrogativas é tardia. 7 A Figura 2 abaixo atesta a baixa freqüência de QU-in situ na aquisição
do PB, a partir de dados disponibilizados em Sikansi (1999) – crianças G., R. e A. - e Grolla
(2005) – criança N.:
SUJEITO
Q-in situ
Q-deslocado
TOTAL
Com - é que
Com - que
Sem - (é) que
G. (2;4 – 3;10)
3 - 2,5%
121 - 97,5
124
R. (1;10 – 3;4)
2 -3,5%
9 - 15,5%
17 - 29,3%
30 - 51,7%
58
A. (2;4 – 3;0)
8 - 29,7%
9 - 33,3%
10 - 37%
27
N. (2;0 – 4;0)
8 - 1,7%
15 - 2,9%
153 - 29,4%
344 - 66%
520
Figura 2: Distribuição de interrogativas-QU
Em suma, os dados de aquisição do português atestam a emergência de interrogativas
simples antes das interrogativas de encaixadas; emergência de interrogativas de sujeito antes das
interrogativas de objeto; ausência de inversão sujeito/verbo no PE e surgimento tardio da
estratégia in situ.
3.2
Dados de aquisição desviante - o DEL/SLI
Os portadores de DEL/SLI costumam apresentar dificuldades com algumas construções
que apresentam movimento, como passivas, relativas e interrogativas-QU. Para o inglês, van der
Lely & Battell (2003) reportam dificuldades com a formação de interrogativas-QU, em um grupo
de 15 crianças e adolescentes – idades de 11;5 a 18;2, tanto em relação ao movimento do
elemento-QU, quanto no que diz respeito ao movimento do auxiliar/inserção de do (veja (11)).
Por vezes, as emissões apresentam um argumento extra na posição da lacuna, como em (12):
(11)
Who Mrs. Brown see?
(12)
What did Mrs. Peacock like jewelry?
As autoras salientam que há maior dificuldade com as interrogativas de objeto. Não
dispomos, ainda, de dados de produção de interrogativas no PB para o DEL.
4
7
Dados de compreensão
Soares (2003:166) menciona, em relação ao PE, que: “instances of wh-in situ are not frequent”.
Os dados de produção na gramática infantil têm sido tomados, no arcabouço gerativista,
como fonte de evidência inequívoca da atuação do sistema computacional na criança em
condições idênticas (ou não) às do adulto. Os dados de percepção/compreensão não têm merecido
atenção especial por parte desses estudiosos. A literatura em psicolingüística, no entanto, tem
enfatizado o papel que dados de percepção/compreensão desempenham no sentido de apontar
para capacidades demonstradas por crianças de tenra idade, ainda antes de efetivamente
produzirem emissões lingüísticas. 8
Ainda que não haja estudos psicolingüísticos específicos voltados para a compreensão de
interrogativas-Qu no PB, alguns estudos fazem referência à compreensão. Lopes-Rossi (veja
Figura 1 acima) aponta que já na idade de 1;9,25, a criança sob observação apresenta “respostas
adequadas a interrogativas-QU e compreensão dos elementos interrogativos”. Sikansi (1995)
observa o comportamento de uma criança na interação mãe/criança, com especial enfoque para as
interrogativas-QU. Constata que já aos 2;00.05 – início do período de observação – a criança
parece responder adequadamente à maioria das perguntas dirigidas a ela, com exceção de
algumas ocorrências, majoritariamente na presença do elemento-QU por que. Além das
observações apontadas nos trabalhos mencionados que lidam com dados longitudinais, passamos
a apresentar resultados obtidos a partir da aplicação de experimentos psicolingüísticos.
4.1
Compreensão de interrogativas em crianças normais
Em relação à averiguação da compreensão de estruturas interrogativas por crianças,
apresentam-se os resultados coletados a partir da aplicação do MABILIN, conjunto de testes para
averiguação do desempenho de crianças frente a tarefas de compreensão e de produção de
estruturas específicas, que têm sido apontadas como problemáticas para as crianças com
DEL/SLI, desenvolvido no LAPAL (Corrêa, 2000). O MABILIN tem sido aplicado a crianças
normais visando prover uma curva do desenvolvimento normal a ser contrastada com os
resultados obtidos por crianças com queixas de linguagem. A compreensão de interrogativas é
avaliada no Bloco 5 do MABILIN 1. A seguir, apresentam-se resultados de crianças de 3 e 5 anos
em tarefa de compreensão de interrogativas, contrastando-se interrogativa de sujeito e de objeto
em sentenças simples e opondo-se movimento de elemento-QU e estratégia in situ:
100
90
80
70
60
3 anos
50
5 anos
40
30
20
10
0
sujeito
objeto deslocado
objeto in situ
Gráfico 1: Compreensão de interrogativas
8
Shady (1996) fornece evidências empíricas de que crianças de 10 meses e meio são sensíveis às propriedades
fônicas e distribucionais dos itens funcionais em geral. Höhle & Weissenborn (2000) e Höhle, Blen & Seidl (2002)
constatam a sensibilidade a determinantes e o uso desses elementos na delimitação de itens lexicais em alemão com
crianças entre 10 e 12 meses. A sensibilidade a determinantes foi também constatada, no português, em experimento
conduzido no LAPAL com crianças com idade média de 14 meses (Name, 2002).
4.2
Compreensão de interrogativas em crianças com suspeita de DEL/SLI
A seguir, apresentam-se resultados obtidos com crianças com suspeita de DEL, idade
média – 5,5 anos, contrastados com as crianças normais (adaptado de Haeusler, 2005):
100
90
80
70
60
3 anos
50
5 anos
40
DEL
30
20
10
0
sujeito
objeto deslocado
objeto in situ
Gráfico 2: Compreensão de interrogativas – crianças DEL
Os dados das crianças com DEL suportam a hipótese, corrente na literatura, de que esse
déficit se caracteriza por um atraso no desempenho lingüístico. É interessante notar, no entanto,
que, no caso específico da interpretação de interrogativas, a estratégia in situ parece facilitar
ainda mais o desempenho dessas crianças nessa tarefa.
Em termos gerais, é importante salientar as similaridades e as diferenças encontradas em
relação à produção de interrogativas. Na produção, averiguou-se a emergência de interrogativas
de sujeito anterior à de objetos. Na compreensão, também se observa uma maior facilidade para a
interpretação de interrogativas de sujeito do que de objeto. No entanto, diferentemente da
produção, em que se observa que o uso da estratégia in situ é postergado, verificou-se uma
facilitação da tarefa de compreensão na presença de QU in situ.
Passemos, agora, à efetiva derivação dessas estruturas no Programa Minimalista a fim de
verificar o quanto essas análises podem ser explicativas do comportamento observado.
5
Análises minimalistas para o PB
Uma vez que o PB pode apresentar o elemento-QU na periferia esquerda da sentença,
assume-se que esse elemento se desloca de sua posição de base até o [Spec, CP]. A informação
acerca do caráter interrogativo da sentença é expressa pelo complementizador que apresenta um
traço-Q [não-interpretável] e o movimento do pronome interrogativo para o especificador é
resultado da presença de um traço EPP 9 (Chomsky, 1998; Hornstein, Nunes & Grohmann,
2005).10
9
Reinterpretação minimalista do Critério-WH (Rizzi, 1991) que diz que:
Um operador-QU deve estar em uma relação spec-núcleo com um núcleo [+QU]
10
A interpretabilidade do traço-QU formal do pronome interrogativo é diferentemente avaliada a depender do
modelo adotado. Em Chomsky (1995), assume-se que o traço-QU é [+ interpretável] e o traço Q em COMP pode ser
forte (com movimento do elemento-QU) ou fraco (QU-in-situ). Chomsky (1998:44) assume que o sintagma-QU
apresenta um traço QU [- interpretável] e um traço Q [+ interpretável], que deverá checar o traço Q [- interpretável]
do complementizador. Um traço EPP em v0 ou C0 intermediários garante a ciclicidade. Hornstein, Nunes &
Grohmann (2005) elaboram sobre essa proposta, assumindo que o elemento-QU apresenta um traço-A’ [+
interpretável] e um traço F [- interpretável]. O traço Q em COMP pode ser A’-completo ou A’-deficitário, estando a
ele associado um traço EPP ou não.
Em relação aos pronomes interrogativos associados à posição de sujeito na sentença,
deve-se, portanto, assumir que vários movimentos estão envolvidos. Primeiramente, todo e
qualquer sujeito, seja um sintagma pleno ou um elemento-QU, sendo gerado em [Spec, vP],11 é
alçado para a posição de [Spec, IP]. Daí o elemento-QU se move para [Spec,CP].
(13)
[CP quem [C’ Q [IP quem comprou [vP quem comprou [VP comprou o livro]]]]]
No que diz respeito aos pronomes interrogativos associados à posição de objeto na
sentença, deve-se ter em mente, primeiramente, o papel que a noção de fase desempenha nesse
modelo e suas implicações na derivação desse tipo de estrutura. Chomsky (1998, 1999) assume
que vP e CP são fases e que os elementos-QU se movem ciclicamente. No caso da extração de
objeto, portanto, se faz necessária a projeção de um [Spec, vP] extra, instaurado pela presença de
um traço EPP adicional, para o qual o elemento-QU se move. Dessa posição, o movimento segue
até o [Spec,CP].
(14)
[CP quem [C’ Q [IP Pedro encontrou [vP quem [vP Pedro encontrou [VP encontrou
quem ]]]]]]
A atribuição de traços EPP adicionais também se fará notar em configurações em que a
extração se dá a partir de sentenças complexas, derivando o movimento sucessivo cíclico pelos
CPs intermediários, assim como por especificadores extras de vPs, até a posição final, no [Spec,
CP] da sentença matriz.
(15)
(16)
[CP quem [C’ Q [IP Pedro disse [vP quem [vP Pedro disse [VP disse [CP quem [C’ que
[IP quem comprou [vP quem comprou [VP comprou o livro]]]]]]]]]]]
[CP quem [C’ Q [IP Pedro disse [vP quem [vP Pedro disse [VP disse [CP quem [C’ que
[IP Maria encontrou [vP quem [vP Maria encontrou [VP encontrou quem ]]]]]]]]]]]]
Já foi mencionado, no entanto, que o movimento-QU é opcional em português, sendo
obrigatório somente se a sentença matriz apresenta um complementizador interrogativo que. Para
Hornstein, Nunes & Grohmann (2005) (doravante HNG), o complementizador foneticamente
realizado em sentença matriz é necessariamente A’-completo e exige movimento, isto é, tem o
traço EPP associado a ele. 12 No caso de elementos in-situ em PB, esses autores admitem que os
traços [- interpretáveis] do elemento-QU possam ser valorados por meio de Agree à distância
com o complementizador nulo da matriz. Em suma, a análise desses autores assume três
complementizadores interrogativos distintos em PB: um que foneticamente realizado, que sempre
apresenta o traço EPP, exigindo movimento do sintagma-QU e dois complementizadores
foneticamente nulos, um que traz o traço EPP, e outro que não exige movimento.
11
Chomsky (1995) assume a proposta de Hale & Keyser (1993) que traz conseqüências importantes em relação à
hipótese do sujeito interno ao VP. Considerando a possibilidade de um verbo apresentar vários argumentos internos,
Chomsky admite que uma estrutura do tipo concha larsoniana (Larson, 1988) se faz necessária. Sendo assim, a
posição do argumento externo deve ser [Spec, vP]. A mesma configuração é estendida às construções com verbos
transitivos e, mesmo, os intransitivos (ao considerar-se, seguindo Hale & Keyser, que estes são na verdade
transitivos com argumentos internos incorporados), restando apenas aos inacusativos uma estrutura desprovida de vP.
12
HNG (2005) falam de traço forte e fraco e não especificamente de EPP, mas essa rotulação não afeta a essência da
análise desses autores.
Kato (2004) acredita ser um problema o fato de haver, na análise de HNG, uma escolha
lexical que se baseia em duas formas fonologicamente idênticas com valores opostos. Ela propõe
duas possíveis alternativas de análise. A primeira mantém a análise de HNG, sem postular o
complementizador nulo com traço forte. Para ela, haveria apenas duas escolhas lexicais: o
complementizador lexicalizado com traço forte, resultando em movimento, e o nulo com traço
fraco, a forma in-situ. A variante com movimento e sem a presença do que lexicalizado seria o
resultado de um apagamento estilístico em PF. Outra possibilidade de análise leva em conta que
CP não seja a única posição para a checagem de traços-QU. Para o aparente QU-in-situ, a autora
propõe que uma projeção intermediária acima de vP - FP (Belletti 1998) - seria o local de
checagem do traço-QU. Na forma QU-in-situ, o complementizador nulo apresenta um traço +QU
em F 13 (exemplo (20) no original):
(17)
[CP∅+? [IP Você conheceu [FP quemq [∅+wh [vP ti tv [VP tv tq]]]]]] (falling intonation)
Em suma, Kato assume que o PB apresenta dois núcleos QU: que+wh e ∅+wh. Se a
numeração contém o primeiro, FP (ou seja, CP com traço-QU) é projetado na periferia esquerda.
Se o segundo está presente, FP é projetado acima de vP.
Uma outra análise para o QU-in situ em português é proposta por Pollock (2001).
Segundo esse autor, nas construções de QU-in situ, o elemento-QU se move para CP, mas há
ainda um movimento adicional do IP para a posição AssertiveP, uma projeção na periferia
esquerda relacionada a informações pressupostas. 14
(18)
a.
b.
XP [AssertiveP [Assertive’ [XP [WhP quemi [Wh´[FocusP ti [Focus´
[XP [IP o Pedro encontrou ti ]]]]]]]]]
XP [AssertiveP [O Pedro encontrou ti]k [Assertive’ [XP [WhP quemi
[Wh´[FocusP ti [Focus´ [XP [IP tk ]]]]]]]]]
As análises sugeridas por Kato (2004) e Pollock (2001), em contraste com a sugestão para
as construções QU-in situ como atuação de Agree a distância (Chomsky, 1998; HNG, 2005),
permitem remeter à noção de complexidade computacional, sugerida por Jakubowicz (2002),
relacionada ao processo de aquisição. Para essa autora, construções que demandam distinções
semânticas que implicam projeções funcionais adicionais, não canônicas, isto é, não presentes na
derivação de construções básicas da língua, envolvem maior complexidade computacional,
demandando maior tempo de aquisição. Isso preveria, segundo as análises de Kato (2004) ou
Pollock (2001), que QU-in situ fosse adquirido mais tardiamente, já que é mais complexo que
QU-deslocado.
Por outro lado, se adotarmos uma noção de complexidade derivacional, no sentido de
número de operações necessárias para a derivação de uma estrutura, e a análise sugerida por
Chomsky (1998) ou HNG (2005), para o português, deve-se prever que a construção in situ seja
13
Mioto (2003), no entanto, argumenta que a posição de foco – FP - de Belletti (1998) não está associada a uma
verdadeira quantificação.
14
Segundo Âmbar et alli (1998), essas construções, por apresentarem um caráter nitidamente pressuposicional,
restringem as possíveis respostas (Cheng & Rooryck (2000) fazem a mesma observação em relação ao francês):
(i)
a.
O que o Pedro comprou?
b.
Nada.
(ii)
a.
Pedro comprou o quê?
b.
*Nada.
menos complexa do que a que apresenta movimento, uma vez que não há ativação da operação
Move.
Em suma, se por um lado, os dados de produção parecem reforçar análises do tipo da de
Kato (2004) ou Pollock (2001), por outro lado, os dados de compreensão apontam para uma
menor complexidade associada à estrutura in situ. 15
6
Discussão e conclusão
As questões apontadas neste artigo demandam uma discussão bem mais ampla do que nos
permite este espaço. Nos concentraremos, portanto, no objetivo assumido de se verificar, em
relação às interrogativas, o quanto análises minimalistas têm apresentado aspectos que se
mostram compatíveis com procedimentos assumidos em modelos de processamento. Um dos
aspectos que vale salientar diz respeito à incorporação da noção de fase no Programa
Minimalista, que parece capturar uma preocupação com memória, fator extremamente relevante
para o desempenho lingüístico. A distinção de comportamento nas interrogativas de sujeito e de
objeto, que sugere que manter um elemento na memória é custoso, pode ser capturada pela
necessidade, nas interrogativas de objeto, da projeção adicional de um especificador para o
movimento cíclico do elemento-QU. 16 Nesse sentido, pode-se afirmar que os passos da derivação
estrutural têm incorporado aspectos que se mostram relevantes para o processamento lingüístico.
No que diz respeito ao desempenho frente às construções com elemento-QU movido ou in
situ, vale salientar que a produção de enunciados lingüísticos é cognitivamente mais custosa do
que a compreensão, isto é, a execução de uma tarefa de compreensão pode se dar de modo
estratégico (como pelo reconhecimento da necessidade de um argumento a partir da
transitividade do verbo) (Corrêa, no prelo). No que diz respeito ao QU-in situ, parece plausível
assumir que alguns dos traços disponíveis (o próprio traço-QU) sejam suficientes para a
implementação do parsing na análise do material lingüístico, mas não para a produção da fala de
forma semelhante a da língua-alvo (Augusto, 2003), no sentido de que diferenças interpretativas
sutis (de natureza pragmático/discursiva) devem ser mapeadas em distinções morfológicosintáticas particulares a cada língua (Hyams, 2001), o que demanda incorporação de traços a
serem acionados via intenções de fala específicas.
Nesse sentido, é relevante que uma teoria da aquisição da linguagem considere um
modelo de processamento, que incorpora distinções entre tarefas de produção e de percepção/
compreensão, a fim de se definir com maior clareza possíveis interferências na execução de
tarefas lingüísticas e uma maior explicitude entre conhecimento lingüístico e capacidade para
usar esse conhecimento.
Referências bibliográficas
15
Grolla (2005) trata do fato de a construção QU-in situ ser tardia na aquisição do PB, assumindo uma análise em
que há opcionalidade de movimento para CP. A proposta, no entanto, assenta-se sobre particularidades do PB, não
podendo ser estendida para o PE, em que também se atesta o aparecimento tardio da estratégia in situ (Soares 2003).
16
Observe-se (cf. (13) e (14), (15) e (16)) que o número de movimentos é o mesmo na derivação que envolve
extração de sujeito ou de objeto. Portanto, equacionar complexidade ao número de acionamentos da operação de
Move não seria adequado, a menos que uma distinção entre movimentos seja assumida, nos moldes do proposto por
Corrêa (2002, neste volume) e Corrêa & Augusto (2005, em preparação).
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