40 DIAS NO DESERTO Proposta de Quaresma 2017 Agradecimentos: Ao Afonso Virtuoso, ao António Brandão de Vasconcelos, ao Joaquim Goes, à Mana Montanha Rebelo, à Marta Cardoso, à Miana Duarte, ao Miguel Castelo Branco, ao Tomás Virtuoso, ao Diogo Leão, ao Gonçalo Ludovice, à Maria Ana Sacadura Botte, à Maria Ramalho, ao Pedro Beltrão e ao Pedro Fragoso, ao Pedro Barahona e à Mariana Megre que escreveram, reviram e montaram esta proposta! INTRODUÇÃO Querido equipista, Começou a Quaresma! Durante 40 dias, vais preparar o teu coração para a Páscoa de Jesus. Preparar aquele dia que é o motivo da nossa alegria, o dia em que Deus entregou a vida por ti, para te livrar das culpas do teu pecado! “Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome”. Nos 40 dias que Jesus passou no Deserto encontramos a imagem perfeita daquilo que somos chamados a viver durante a Quaresma! Nestes dias, desaceleramos o passo da nossa vida, que costuma ser uma correria. Através do jejum, da oração e da esmola, “que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros”, identificamo-nos com Cristo, com o seu caminho para o calvário – “se com ele morremos, com ele ressuscitaremos”. Para vivermos este tempo de um modo especial, impomonos renúncias quaresmais por nós escolhidas. Ao privarmo-nos de alguns confortos ou facilidades a que estamos habituados, somos transportados para o deserto onde Cristo se preparou para a sua paixão. Entramos nesse deserto e nele permanecemos junto a Cristo durante quarenta dias! Estas penitências só ganham sentido à luz da cruz de Cristo: não são sofrimentos que escolhemos por masoquismo, mas porque queremos entregar estas pequenas dores a Jesus, unilas à cruz Dele – morrer com Ele! Importante também é entender que estas pequenas (grandes) renúncias que nos impomos, quando vividas com fidelidade, são um treino da vontade! Treinam-nos no autodomínio, para que não sejamos escravos dos apetites de cada momento, mas que nos possuamos, porque só podemos dar aquilo que possuímos. Assim, treinamos o nosso coração a largar, durante este tempo, estas coisas que não são más, para que ele possa ser livre 3 no momento da provação das coisas que são. E assim, ao longo destes 40 dias, desapegamos o nosso coração de algumas consolações a que estamos habituados para nos identificarmos com Cristo que “jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome”, provar com a nossa vida que “nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. A oração torna-se fundamental em todo este caminho pelo deserto. Sem ela, todos estes sacrifícios caem em saco roto. Não servem já para nos identificar com Cristo, mas apenas para nos glorificarmos a nós mesmos, a olharmos para as renuncias que fazemos como méritos nossos, e não como a graça de Cristo a agir em nós! Crescemos na soberba em vez de nos identificarmos com a humildade encarnada! A renúncia, no limite, volta-nos para fora de nós, porque une o nosso coração ao de Cristo e, pelo Dele, ao de todos aqueles que nos rodeiam. Assim, na Quaresma como no resto do ano, não podemos viver jejum sem oração, oração sem esmola nem esmola sem jejum, todos como causa e consequência dos restantes. Os propósitos que escolhemos devem ser, para além de concretos, possíveis de concretizar, para que não caiamos em desânimo perante uma tarefa impossível. No entanto, não devemos cair no erro de nivelar por baixo. É suposto custar! É suposto dar-nos a volta à rotina e ao conforto estabelecido, para que nos obriguemos a relembrar permanentemente ao longo do dia que estamos num tempo especial! Por vezes podemos pensar “mais vale escolher uma coisa mais fácil, mas que tenha a certeza que cumpro, do que algo mais puxado que posso não conseguir cumprir”. Que ideia! A quaresma não é um tempo de perfeição aparente, mas de aperfeiçoamento interior! Se falharmos, arrependemo-nos e voltamos à luta, mas não vamos ficar na margem quando tão belo é o mar por descobrir. Sejamos realistas, mas ambiciosos na hora de nos comprometermos com os propósitos de Quaresma, na certeza de que quanto mais estivermos dispostos a entregar, mais Nosso Senhor nos suporta nessa entrega! Neste caderno, encontras uma proposta diária para seguir até 4 à Páscoa. Em cada dia, irás ler e meditar acerca das leituras desse dia (são as leituras que ouvirás se fores à missa nesse dia), e receber 3 propostas diárias: uma de grupo, uma de família e uma individual. Para a primeira, podes juntar um grupo pequeno de amigos com quem vais cumprindo esta proposta, fazendo este caminho juntos, reforçando a vossa amizade em Cristo! Quanto à segunda, exige de ti uma presença mais assídua em casa, tempo em família – a quaresma também é um tempo de maior recolhimento! Por último, a proposta individual é um pequeno propósito que te apresentamos para cumprires interiormente a cada dia: em silêncio e com um sorriso na cara, por muito que esteja a custar. Este propósito é um segredo entre ti e Deus, e só Ele tem de saber o que lhe estás a entregar nesse dia! Esperamos que encontres, nestas páginas, uma ajuda neste caminho no deserto! Rezemos uns pelos outros neste caminho! 5 1 DE MARÇO QUARTA-FEIRA DE CINZAS Evangelho segundo S. Mateus 6,1-6.16-18 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tende cuidado em não praticar as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Aliás, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está nos Céus. (...) Quando jejuardes, não tomeis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto, para mostrarem aos homens que jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não percebam que jejuas, mas apenas o teu Pai, que está presente no que é oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa». Reflexão A Quarta-feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma, ou seja, dos 40 dias nos quais a Igreja chama os fiéis a converter-se e a preparar-se verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo durante a Semana Santa. A tradição de impor as cinzas vem da Igreja primitiva. Naquela época, as pessoas colocavam as cinzas na cabeça e apresentavam-se diante da comunidade com um “hábito penitencial” para receber o Sacramento da Reconciliação na Quinta-feira Santa. A Quaresma adquiriu um sentido penitencial para todos os cristãos a partir do séc.V, e a partir do século XI começou a impor-se as cinzas no início desse tempo litúrgico. A cinza, como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra” (Gn 2, 7); “até que voltes à terra de onde foste tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás” (Gn 3, 19). A imposição acontece durante a Missa, depois da homilia. As cinzas são impostas na testa, em forma de cruz, enquanto o ministro pronuncia as palavras bíblicas: “lembra-te que és pó e ao pó hás-de voltar” ou “converte-te e acredita no Evangelho”. 6 Propostas Proposta de grupo Ir à Missa com os amigos para começar bem a Quaresma! Proposta familiar A seguir ao jantar ler em família o Evangelho de hoje (o que está em cima) e cada um fazer um comentário. Proposta individual O jejum e a abstinência são necessários? O jejum e abstinência são obrigatórios durante a Quarta-feira de Cinzas, como também na Sexta-feira Santa, para as pessoas maiores de 18 e menores de 60 anos, sendo que fora desses limites é opcional. Nesse dia, os fiéis podem apenas tomar uma refeição “principal”. A abstinência (não comer carne) é obrigatória a partir dos 14 anos. Todas as SextasFeiras da Quaresma também são de abstinência obrigatória. As outras Sextas-Feiras do ano também, embora a Conferência Episcopal do respectivo País possa substituir essa penitência anual por outro tipo de mortificação ou oferecimento como a oração do terço. Escolho os meus propósitos de Quaresma, aquilo que quero oferecer a Nosso Senhor para me preparar para a Páscoa! 7 2 DE MARÇO QUINTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS Evangelho segundo S. Lucas 9,22-25. Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia». Depois, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou arruinar-se a si próprio?». Reflexão São Francisco Xavier (1506-1552), um grande missionário disposto a perder a vida, escreveu uma carta a 10 de Maio de 1546 aos seus companheiros da Europa, estando ele numa ilha da Indonésia. A carta dizia o seguinte: “Este país [...] é muito perigoso, porque os seus habitantes, cheios de traição, misturam muitas vezes veneno na comida e na bebida. É por isso que não há ninguém disposto a ir para lá cuidar dos cristãos. Mas estes têm necessidade de ensinamentos espirituais e de alguém que os baptize para lhes salvar a alma; é por isso que eu sinto a obrigação de perder a minha vida corporal para ir socorrer a vida espiritual do próximo. [...] Coloco a minha esperança e a minha confiança em Deus Nosso Senhor, com o desejo de me conformar, segundo os meus pobres meios, à palavra de Cristo, nosso Redentor e Senhor: «Quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; quem a perder por minha causa há-de salvá-la». [...] !” Quão bom seria se todos nós estivéssemos dispostos a perder a nossa vida aqui na Terra para socorrer os nossos próximos nas suas necessidades, sobretudo as necessidades espirituais, que a cultura moderna põe de lado. Para o fazer, não temos de ser missionários num arquipélago distante, podemos começar por quem está ao pé de nós, a nossa família e os nossos amigos. Missionar começa em casa! 8 Propostas Proposta de grupo Ligar a um amigo com quem já não estou há algum tempo e combinar um programa ou simplesmente ter uma boa conversa ao telemóvel, querer saber se está tudo bem com ele. Proposta familiar Fazer o propósito de ter uma conversa os meus pais, se possível em separado, e perguntar a cada um deles como é que está, se é feliz, se no trabalho está tudo bem e sobretudo se há alguma coisa em casa na qual eu possa ajudar mais. Proposta individual Quantas vezes pergunto aos meus pais se está tudo bem com eles? Mas não superficialmente, à espera de ouvir um sim rápido e um suspiro, mas sim com a intenção de ouvir o coração deles. E aos meus irmãos? E aos meus amigos? 9 3 DE MARÇO SEXTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS Evangelho segundo S. Mateus 9,14-15. Naquele tempo, os discípulos de João Baptista foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Por que motivo nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?». Jesus respondeu-lhes: «Podem os companheiros do esposo ficar de luto, enquanto o esposo estiver com eles? Dias virão em que o esposo lhes será tirado: nesses dias jejuarão. Reflexão “Entre as práticas penitenciais que a Igreja nos propõe, sobretudo neste tempo de Quaresma, encontra-se o jejum. Consiste fundamentalmente numa sobriedade especial em relação ao alimento, salvaguardando as necessidades do nosso organismo. Trata-se de uma forma tradicional de penitência que não perdeu em nada o seu significado e que, talvez, devamos mesmo redescobrir, especialmente nesta parte do mundo e nestes meios em que não só o alimento abunda mas onde se encontram, por vezes, doenças devidas à sobrealimentação. O jejum penitencial é evidentemente muito diferente dos regimes alimentares terapêuticos. Mas, à sua maneira, pode ver-se nele como que uma terapia da alma. Com efeito, praticado em sinal de conversão, facilita o esforço interior para nos pormos à escuta de Deus. Pelo jejum, cada um reafirma a si mesmo aquilo que Jesus replicou a Satanás que o tentava após quarenta dias de jejum no deserto: “Não só de pão vive o Homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Hoje, especialmente nas sociedades de bem-estar, torna-se difícil compreender o sentido desta palavra evangélica. A sociedade de consumo, em vez de solucionar as nossas necessidades, cria sempre novas, gerando mesmo um activismo desmesurado... Entre outras significações, o jejum penitencial tem precisamente por objectivo ajudar-nos a reencontrar a interioridade perdida. O esforço de moderação no alimento estende-se também a outras coisas que não são necessárias e traz um grande auxílio 10 à vida do espírito. Sobriedade, recolhimento e oração caminham lado a lado. Pode fazer-se uma oportuna aplicação deste princípio no que toca ao uso dos meios de comunicação de massa. Eles têm uma utilidade indiscutível mas não devem tornar-se os “senhores” da nossa vida. Em quantas famílias a televisão parece substituir, mais do que facilitar, o diálogo entre as pessoas! Um certo “jejum”, neste domínio também, pode ser salutar, quer para consagrar mais tempo à reflexão e à oração, quer para cultivar as relações humanas.” Comentário ao Evangelho do dia feito por : João Paulo II Angelus de 10 de Março de 1996 Propostas Proposta de grupo Propor ao nosso grupo de amigos íntimos fazer um propósito de jejum adequado a cada um e ajudarem-se uns aos outros a cumprilo. Proposta familiar Ter um serão em família, sem televisão, compudadores, ipads, ipods… E assim, dizer a nós próprios: nem só disto vive homem, redescobrir a alegria da vida em família! Proposta individual Fazer jejum de alimentos é óptimo! Vivemos numa cultura dominada pelo materialismo e por um consumismo extremo. O jejum ajuda-nos a não nos deixarmos reduzir a simples «consumidores»; ajuda-nos a adquirir o precioso «fruto do Espírito», que é «o domínio de si», predispõe-nos ao encontro com Deus que é espírito, e nos faz mais atentos às necessidades dos pobres. Mas não devemos esquecer que existem formas alternativas ao jejum e à abstinência de alimentos. Podemos praticar o jejum do tabaco, do álcool e bebidas alcoólicas (o que não só a alma, também beneficia o corpo), um jejum das imagens violentas e sexuais que televisão, espectáculos, revistas e internet nos lançam diariamente. Igualmente, estas espécies de «demónios» modernos não se vencem senão «com o jejum e a oração». 11 4 DE MARÇO SÁBADO DEPOIS DAS CINZAS Evangelho segundo S. Lucas 5,27-32. Naquele tempo, Jesus viu um publicano chamado Levi, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-Me». Ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu Jesus. Levi ofereceu-lhe um grande banquete em sua casa. Havia grande número de publicanos e de outras pessoas com eles à mesa. Os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo aos discípulos: «Porque comeis e bebeis com os publicanos e os pecadores?» Então Jesus, tomando a palavra, disse-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar os justos, vim chamar os pecadores, para que se arrependam». Reflexão São Francisco de Assis diz-nos sobre o Perdão: “Eis como saberei que amas o Senhor, e que me amas a mim, Seu e teu servo: se qualquer irmão, após ter pecado tanto quanto é possível pecar, pode encontrar o teu olhar, pedir o teu perdão, e partir perdoado. Se não te pedir perdão, pergunta-lhe tu se quer ser perdoado. E se, mesmo depois disso, voltar a pecar mil vezes contra ti, ama-o mais ainda do que me amas a mim, para o conduzir ao Senhor. Tem sempre piedade desses infelizes.” O perdão não consiste numa indiferença perante o erro do outro, mas é precisamente a atitude contrária relativamente ao mesmo! “Não é uma negação do erro mas uma participação na cura e no amor transformador de Deus que reconcilia e restaura”, disse o Papa Bento XVI. Pelo perdão, tomamos parte nesta transformação, e somos como o instrumento deste Médico, as mãos que Deus precisa para fazer chegar a sua misericórdia ao mundo. Propostas Proposta de grupo Saber ceder nas discussões com os amigos, lembrar que o mais 12 importante é chegar à verdade e não saber qual das partes defende melhor o seu ponto. Para isso é importante cultivar um espírito de humildade e paciência sabendo calar quando mais nos custa. Proposta familiar Pedir aos pais e irmãos uma desculpa sincera pelas coisas más que lhes fizemos nestes últimos tempos. É importante que este desafio não seja feito “só para cumprir”, pedindo desculpa com leviendade pela primeira coisa que me vem à cabeça, mas sim com total seriedade após um bom exame de consciência Proposta individual Durante a Quaresma é essencial confessarmo-nos pelo menos uma vez, mas quantas mais melhor! Para que a confissão seja eficiente e dê muitos frutos é fundamental fazer um bom exame de consciência. Para que a confissão seja válida é necessário que não omitas voluntariamente algum pecado grave (e se possível o número de vezes que caíste nele), estejas arrependido do pecado cometido, houver em ti um firme propósito de emenda de vidae estiveres disposto a cumprir a penitência imposta. 13 5 DE MARÇO DOMINGO I DA QUARESMA Evangelho segundo S. Mateus 4,1-11. Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães.» Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.» Então, o diabo conduziu o à cidade santa e, colocando o sobre o pináculo do templo, disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se firam nalguma pedra.» Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!» Em seguida, o diabo conduziu-o a um monte muito alto e, mostrando-lhe todos os reinos do mundo com a sua glória, disse-lhe: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.» Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» Então, o diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no. Reflexão O nosso querido Papa Francisco deixou-nos esta homilia sobre a tentação: “É tão difícil cortar com uma situação pecaminosa. É difícil! Mesmo numa tentação, é difícil! Mas a voz de Deus diz-nos esta palavra: “Foge! Tu não podes lutar, porque o fogo, o enxofre, hãode matar-te. Foge!” Santa Teresinha do Menino Jesus ensinou-nos que, às vezes, nalgumas tentações, a única solução é fugir e não ter vergonha de fugir, reconhecer que somos fracos e temos de fugir. E o nosso povo em sua sabedoria simples, diz um pouco ironicamente: ‘soldado que foge, serve para outra guerra’. Fugir para avançar na estrada de Jesus. Ante o pecado, fugir sem nostalgia. A curiosidade não ajuda, faz mal! “Mas, neste mundo tão pecador, como se faz? Como será este pecado? Gostava de saber... “. Não, deixa! A curiosidade vai-te 14 fazer mal! Fugir e não olhar para trás! Nós somos fracos, todos, e devemos defender-nos. A terceira situação é na barca: é o medo. Quando se dá uma grande agitação no mar, a barca é coberta pelas ondas. “Salva-nos, Senhor, estamos perdidos!” Dizem eles. Medo! Também isso é uma tentação do diabo: ter medo de avançar na estrada do Senhor. Olhar para o Senhor, contemplar o Senhor. Isso dá-nos este deslumbramento, tão belo, de um novo encontro com o Senhor. ‘Senhor, eu tenho esta tentação: quero ficar nesta situação de pecado; Senhor, eu tenho a curiosidade de conhecer como é que são estas coisas; Senhor, eu tenho medo.’ E eles olharam para o Senhor: ‘Salva-nos, Senhor, estamos perdidos’. E veio o deslumbramento de um novo encontro com Jesus. Não somos ingénuos nem cristãos tíbios, somos valentes, corajosos. Somos fracos, mas temos de ser corajosos na nossa fraqueza. E a nossa coragem, muitas vezes deve manifestar-se numa fuga sem olhar para trás, para não cair na má nostalgia. Não ter medo.” Propostas Proposta de grupo Qual a maior tentação que me surge quando estou no meu grupo de amigos? (Dizer mal dos outros, mentir, ser ordinário e etc) Falar com um dos meus amigos sobre essas tentações para que me ajude a não ceder… se calhar também são as dele. Proposta familiar Fazer o propósito de, pelo menos na Quaresma, não adiar nada do que os meus pais me pedem para fazer e fazer tudo o mais rápido possível, sem demoras. Tantas vezes nos custa fazer as coisas quando os outros nos pedem e não quando nos apetece. Tentar não ceder aos nossos caprichos egoístas e servir mais em casa. Proposta individual Quais são as minhas maiores tentações? Quais as minhas batalhas mais frequentes? O que é que me custa mais no meu diaa-dia? O que faço para lhes resistir? Se já sei que não resisto, sei ser inteligente e fujo delas? 15 6 DE MARÇO SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA I Evangelho segundo S. Mateus 25,31-46. “(…) Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. (…) ” Reflexão O que terá Santa Teresa de Calcutá para nos dizer sobre a caridade? “Digo sempre que o amor começa em casa. Primeiro está a família, depois a cidade. É fácil fingir amar as pessoas que estão longe; mas é muito menos fácil amar aqueles que vivem connosco ou que estão muito perto de nós. Desconfio dos grandes projectos impessoais, porque o importante são as pessoas. Para se amar alguém, é preciso estar perto dessa pessoa. Toda a gente precisa de amor. Todos nós precisamos de saber que temos importância para os outros e que temos um valor inestimável aos olhos de Deus. Cristo disse: «Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.» E disse também: «Aquilo que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos, a Mim o fazeis» (Mt 25,40). É a Ele que amamos em cada pobre, e todos os seres humanos são pobres de alguma coisa. Disse Ele também: «Tive fome e destes-Me de comer, estava nu e vestistes-Me» (Mt 25,35). Recordo sempre às minhas irmãs e aos nossos irmãos que o nosso dia consiste em passar as vinte e quatro horas com Jesus.” 16 Propostas Proposta de grupo Propor ao meu grupo de amigos acolher melhor o X, ou parar de ser tão gozão com o Y e mais do que tudo, ir ter com o Z que está sempre sozinho. Proposta familiar Dar um presente a um membro da minha família só porque sim, algo simples mas que seja uma expressão do meu amor. Tento dá-lo àquele que está mais triste ou desanimado. Proposta individual Hoje quero rezar por todos os que não costumam ser o centro das atenções. Por aqueles que não parecem ser muito interessantes, pelos que não falam tanto, pelos que não dão tanto “nas vistas”. Pelos que muitas vezes estão sozinhos, porque outros têm “imensos” amigos, e parece que não têm lugar para mais um. Pelos que estão tristes porque quem os devia acolher está fechado apenas a quem conhece e não tem vontade de falar com um desconhecido. Quero rezar pelos que estão tão sozinhos como Jesus ficou quando os discípulos fugiram com medo, e também pelos que não reconhecem o Senhor naquele desconhecido que está à sua frente. 17 7 DE MARÇO TERÇA-FEIRA DA SEMANA I Evangelho segundo S. Mateus 6,7-15. Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando orardes, não digais muitas palavras, como os pagãos, porque pensam que serão atendidos por falarem muito. Não sejais como eles, porque o vosso Pai bem sabe do que precisais, antes de vós Lho pedirdes. Orai assim: ‘Pai nosso, que estais nos Céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoainos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal’. Porque se perdoardes aos homens as suas faltas, também o vosso Pai celeste vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas faltas». Reflexão Como rezar melhor? A melhor coisa que podes fazer é decidir fazer um horário de oração para pores em prática com fidelidade todos os dias. Aqui ficam as dicas sem nenhuma ordem especial: 1. Encontra um lugar em casa para rezar. Escolhe um espaço onde saibas que terás silêncio e recolhimento. 2. Encontra um tempo no dia para rezar. Os profetas e os santos normalmente levantavam-se mais cedo para rezar. E se experimentares pôr o alarme para mais cedo (e ir mais cedo para a cama…) e acordar para estar com Cristo de manhã? 3. Cria para o teu dia uma rotina que inclua a oração! São muitas as maneiras de fazê-lo, como o terço, a oração mental, a leitura e meditação de passagens da Bíblia... A Bíblia é como Deus normalmente fala convosco. “Deus nunca me fala,” dizem às vezes as pessoas. A minha resposta é, “Já tentaste ouvi-lo onde ele falou com maior clareza para a tua vida?” - Deus fala connosco na Escritura. 18 4. Se te ajudar, usa o cronómetro do telefone. Podes começar com 5 minutos e procurar ir aumentando! 5. A oração mental consiste dialogar interiormente com Deus, de coração aberto. Conta-Lhe tudo, mesmo que Ele já saiba! Contar a Deus as nossas alegrias é uma ação de graças. Contar-Lhe as nossas preocupações é um pedido de iluminação do caminho. Contar-Lhe arrependidos as nossas falhas é um pedido de perdão. Contar-Lhe as nossas inseguranças é um pedido de força e de graças. Contar-Lhe as nossas dúvidas é um pedido de Fé! Deus já sabe tudo isto, mas quando lho contamos, abrimos o nosso coração para que Ele actue nele! Não tenhas medo de fazer pedidos completamente malucos! 6. Mantém o Novo Testamento ou um livro de leitura espiritual por perto. Se a tua mente perde o caminho e começa a vaguear, usa-o para ler algumas frases, meditares sobre o que elas dizem à tua vida e focares, assim, novamente o teu rumo em Cristo! 7. Usa este teu tempo diário para te encheres de positivismo e da alegria de seres Cristão! Olhemos para os santos! Aqueles que mais tempo “perdem” para o Senhor são aqueles que mais intensamente vivem a vida! Porquê? Porque “gastam” tempo com Deus e aprendem que todas as coisas são possíveis através de Cristo. A fé e a oração criam em nós a confiança de que necessitamos para enfrentar os desafios da vida, dar-lhes significado e vivê-los com sentido de missão, sem pessimismos, totalmente entregues à Sua vontade! 8. Torna a oração diária a tua identidade! Repete para ti: “Eu sou uma pessoa que fala com Deus Pai, Filho e Espírito Santo todos os dias, e assim me torno quem verdadeiramente sou. Sem Ele, sou aquilo que o mundo fizer de mim, com Ele, faço no mundo que Ele quiser!” Propostas Proposta de grupo Participar com os meus amigos no primeiro Sábado das Equipas, no Terço ou na Noite de Oração. Propostas não faltam! Se estou a gostar desta proposta de oração das Equipas para a 19 Quaresma, posso e devo recomendá-la aos meus amigos! Proposta familiar Hoje proponho à minha família rezarmos um terço juntos! Se tal for muito, muito difícil, meço até onde posso ir: uma dezena, abençoar uma refeição, um Pai Nosso ou uma Avé Maria… o que seja, mas vou rezar! Família que reza junta permanece junta! Proposta individual Se já estou a fazer o esforço diário de rezar esta proposta das Equipas, a proposta para hoje é rezar os frutos destes primeiros 7 dias de Quaresma. Estou a crescer espiritualmente? Tenho tentado cumprir as propostas e sou exigente comigo próprio? 20 8 DE MARÇO QUARTA-FEIRA DA SEMANA I Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 11, 29-32 Como as multidões afluíssem em massa, começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas. Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração. A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! Os ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.» Reflexão Esta passagem do Evangelho não é fácil de perceber se não soubermos quem eram Jonas e a Rainha do Sul (Rainha de Sabá, uma região no Sul da península arábica). As duas passagens do Antigo Testamento que falam destas personagens contam-nos a história de dois povos que seguiram “a mensagem de Deus”, sendo que essa “mensagem” tinha sido transmitida pelos próprios Jonas e Rainha do Sul. Voltando ao evangelho: os fariseus e doutores da lei pediram um sinal a Jesus, e Jesus respondeu-lhes duramente, dizendo que se nem eles, que conviviam com o Filho de Homem, eram capazes de reconhecer a Deus, que sinal poderia mudar a sua desconfiança? Que sinal maior seria necessário para depois de Deus ter vindo, Ele próprio, à Terra? A pergunta que nos fica é então se não faremos nós isto também? Será que não somos nós também muito “desconfiados” quando a mensagem vem de Deus? Somos capazes de O reconhecer? De estar abertos o suficiente para O vermos e ouvirmos, ou passamos a vida a pedir sinais? 21 Propostas Proposta de grupo Partilho com um membro da minha equipa o que é, para mim, na prática e com exemplos concretos, o “ter confiança em Deus”. Proposta familiar A quaresma começou exactamente há uma semana. Tento fazer um balanço com a família (ou com algum pai/irmão pelo menos) sobre a forma como temos, ou não, deixado Cristo entrar em nossa casa, nas nossas vidas, e transformá-las, conformá-las a Si. Proposta individual Hoje é tempo de avaliar como estão os propósitos que escolhi para a Quaresma. Estou a conseguir cumpri-los? Custam-me ou na verdade não estão a puxar assim tanto por mim? Não tem mal (e é aliás muito bom) perceber que somos capazes de mais, quer isso nos leve a comprometer-nos mais a fundo nos propósitos que já temos, quer nos leve mesmo a criar novos propósitos! 22 9 DE MARÇO QUINTA-FEIRA DA SEMANA I Evangelho segundo São Mateus 7, 7-12 «Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis, batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede recebe, quem procura encontra e a quem bate à porta abrir-se-á. Qual de vós dará uma pedra a um filho que lhe pede pão, ou uma serpente se lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos Céus as dará àqueles que Lhas pedem! Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam fazei-o também a eles, pois nisto consiste a Lei e os Profetas.» Reflexão É impressionante a clareza e simplicidade com que Jesus fala sobre esta confiança que deve existir na nossa relação com Deus. É impressionante termos noção (que provavelmente não temos) do quão ilógico é aos olhos do mundo que Deus nos diga “pede-me que eu faço”. Deus eterno, omnipotente, omnisciente, omnipresente, vira-se para nós e diz-nos “bate à porta que eu abro”. Ilógico? Sim e muito. Mas não. Tem uma outra lógica por trás: a lógica do Amor. Pensemos numa relação de um pai ou uma mãe com um filho de 4 ou 6 anos. Vemos que a enorme maioria das coisas que o pai faz é para o bem da criança, mesmo quando a criança não o percebe, certo? Não é bom comer 4 gelados seguidos, não é bom brincar num sitio perigoso, etc…Para nós agora é óbvio mas quando tínhamos 6 anos não percebíamos. Assim é com o plano de amor que Deus desenha para a nossa vida, com uma diferença fundamental: Deus é infinitamente bom! Propostas Proposta de grupo Partilho com um amigo uma experiência recente em que tenha sentido uma presença de Deus muito forte, mas também uma 23 em que embora não o sentisse, embora fosse difícil de ver o seu plano de amor no momento que passava, sei agora que esteve ao meu lado, a guiar-me na adversidade. A fé não é um sentimento bonito, é uma nova vida a viver dentro de mim! Proposta familiar Em família, à hora do jantar, agradeço as coisas boas que cada pai/irmão me dá. Porque é que nos custa tanto agradecer? Olho com atenção especialmente para os meus pais e reconheço tudo o que fazem por mim. Agradeço até a ordem mais chata da mãe, ou o maufeitio do pai… Proposta individual Faço um exercício muito simples. Paro para pensar sobre aquilo de que preciso. Será que me fata paciência? Falta-me humildade? Caridade? Misericórdia? Fé? Penso em três virtudes que queira melhorar e ponho-nos diante de Nosso Senhor, em oração, dizendo, sem medos ou vergonhas, “Jesus, ajuda-me a ser mais paciente”. Para passar das palavras aos actos, amanhã tento reparar em 3 situações em que ponha estas 3 virtudes em prática. 24 10 DE MARÇO SEXTA-FEIRA DA SEMANA I Evangelho segundo São Mateus 5, 20-26 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta ao altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo». Reflexão O gesto da Paz que fazemos na missa recorda-nos, entre outras coisas, esta passagem…e que exigente que esta passagem é! Como poderemos estar nós em comunhão com Deus se não estamos em comunhão com o nosso irmão? Jesus alerta-nos e diz-nos para não nos ficarmos pela regras que os escribas e fariseus defendiam, esses que se limitavam a cumprir a regra e o preceito, pensando que era nos seus méritos que residia a sua salvação. Mas Jesus pede-nos que sejamos mais exigentes ainda. Se “a regra” diz para não matarmos o nosso irmão, então façamo-lo. Não matemos a sua dignidade, não matemos a sua integridade, não matemos a sua honra, não matemos a sua paciência. Reparamos ainda o quão duro é Jesus: este cuidado com o próximo é um ponto-chave da Sua mensagem. “Se o fizeste a um pequenino a mim o fizeste”; “se alguém te pedir para caminhar uma milha a teu lado, caminha com ele duas”; “vai e faz o mesmo”; etc… Será que temos verdadeira noção do fundamental e central que o “cuidado com o próximo” deve ter nas nossas vidas? Identificamos na nossa relação com Deus essa empurrão para nos pormos ao 25 serviço? Vemos como a nossa oração nos impulsiona? Propostas Proposta de grupo Hoje peço perdão a alguém que tenha razão de queixa de mim. Não peço desculpa “só para cumprir” a proposta, mas com a verdadeira humildade de saber que magoei o outro com algo que podia ter evitado. Só assim me poderei oferecer diante do atar, em paz com os meus irmãos. Proposta familiar Hoje é sexta-feira de quaresma, por isso não devo comer carne. Ao jantar, converso com a minha família sobre o jejum, oração e esmola, as três características fundamentais do tempo que vivemos! Proposta individual A partir de hoje, sempre que der uma moeda a um pedinte, dou-lhe a moeda tocando na mão, não “atirando” a moeda. Dou-lhe um passou bem. Pergunto-lhe o nome. Devolvo-lhe a dignidade que lhe é devida pelo simples facto de ser filho de Deus, meu irmão. Como reagiria eu se visse um irmão meu a pedir nas ruas? Esse mesmo amor devemos ter por cada um daqueles que se atravessam no nosso caminho! 26 11 DE MARÇO SÁBADO DA SEMANA I Evangelho segundo São Mateus 5, 43-47 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Reflexão Este Evangelho é dos que conhecemos tão bem, que nos esquecemos de ler as palavras com atenção. Repetimos vezes sem conta que temos que amar os inimigos, bendizer os que nos maldizem, fazer bem aos que nos odeiam, orar pelos que nos maltratam e perseguem. Mas, na verdade, alguma vez o fazemos? Quando alguém me insulta, quantas vezes me, de facto, rezo por ele? Quando alguém me odeia, quantas vezes não o odeio-o de volta? Quando alguém diz mal de mim, quanto demoro a retribuir na mesma moeda? E aos inimigos, sou capaz de amá-los? O amor de Deus não vive só no que é fácil e óbvio (não que Ele não esteja nesse amor mais suave e tranquilo que nos enche o coração). O amor de Deus também se estende àqueles a quem é difícil amar. Àqueles a quem amar me consome, parecendo mesmo, por vezes, consumir-me interiormente, fazer-me questionar mil e uma vezes porque razão tenho que amar. Só amando também estes me poderei aproximar de Deus. Propostas Proposta de grupo Hoje, com os meus amigos, avalio a nossa dinâmica e tento perceber onde falhamos no cumprimento deste Evangelho. Odiamos 27 juntos? Maldizemos juntos? Maltratamos juntos? Pensamos em gestos concretos para, juntos, passar a amar os que, juntos, desprezamos. Proposta familiar Em família, fomento o amor fácil, que me é dado tão gratuitamente. Hoje, faço um esforço por saborear este amor tão autêntico, e tento ser fonte dele. Se, no entanto, as coisas não são tão fáceis, rezo por isso, para que eu possa resolver esta discórdia ou, não conseguindo, que eu saiba amar a minha família apesar disso. Proposta individual Hoje rezo por alguém de quem não gosto. A oração abre os corações e torna-os dispostos a receber Jesus. Hoje rezo uma relação mais complicada, ou um ódio de estimação que não consigo resolver; acreditando que a oração será um primeiro passo para aprender a amar esta pessoa. 28 12 DE MARÇO DOMINGO II DA QUARESMA Evangelho segundo São Mateus 17, 1-9 Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, montemos três tendas, uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias. E estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E eis que uma voz da nuvem disse: Este é o meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha complacência; escutai-o. E os discípulos, ouvindo isso, caíram sobre seu rosto, e tiveram grande medo. E Jesus, aproximando-se, tocou-os, e disse: Levantai-vos, e não tenhais medo.». Reflexão Jesus, é bom para nós estarmos aqui. Quantas vezes nos esquecemos desta simples verdade que encerra em si uma mensagem tão importante. É bom para nós estarmos aqui. É bom para nós estarmos aqui a ler estas palavras e a rezar a Ti, Senhor. É bom para nós estarmos aqui, neste Domingo de Quaresma. É bom para nós estarmos aqui, no mundo – e isto é algo de que nos esquecemos tantas vezes, perdidos nas nossas queixas, infelicidades, preocupações, lamentações. É bom para nós viver e é bom para nós entregar-Te o bom e o mau. Ajuda-nos a viver como pediste – ajudanos a levantarmo-nos e a não ter medo, a encarar a vida cheios da coragem que vem da certeza do Teu amor. Jesus, é bom para nós estarmos aqui, e não nos deixes esquecer isso, esta Quaresma. Propostas Proposta de grupo É bom para nós estarmos aqui, com os nossos amigos. E que bom é saber estar. Hoje vou estar onde estiver, sem que a minha cabeça se perca em mil pensamentos e que a minha atenção se divida em mil tarefas mais ou menos virtuais. Hoje vou estar, sem telemóveis, sem conversas paralelas, sem pensar no trabalho que ficou por fazer ou no outro programa em que podia estar. Hoje vou 29 estar verdadeiramente onde estiver e com quem estiver. Proposta familiar É bom para nós estarmos aqui, em família. Hoje, que é Domingo, Teu dia e dia de família, vou saber estar com a minha, sem fugir embrenhado em tantas realidades que esta desconhece. É verdade que os meus pais não percebem a importância daquele trabalho para a faculdade, e que os meus irmãos não vibram comigo com aquele jogo, mas são a minha família e hoje vou saber estar com eles, sem distracções nem fugas. E, se conseguir, vou estar com eles e conTigo – vamos juntos à missa, porque é tão bom para a nossa família que tu estejas connosco, Senhor. Proposta individual É bom para mim estar aqui, comigo mesmo. E ainda é melhor porque nunca estou sozinho, porque Tu estás sempre comigo, Senhor. É bom para mim estar em exigência comigo próprio – por isso, faço um exame de consciência, olhando com seriedade para a forma como estou a viver a Quaresma (a exigência é boa porque nos permite perceber, ao certo, o que precisamos de mudar) e proponhome a trabalhar certos aspectos, muito concretos, da minha vida. 30 13 DE MARÇO SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA II Evangelho segundo São Lucas 6, 36-38 Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo. Reflexão Esta segunda-feira começa com uma palavra essencial, não só na Quaresma como na vida de qualquer cristão – a misericórdia. Essa palavra que é só de Deus, porque expressa um amor e compaixão tão grandes, tão Seus. Essa palavra que é a do coração tão cheio de amor, que transborda e se estende a todos os outros corações. É importante perceber que Cristo não nos diz “Sede misericordiosos mais ou menos como o vosso Pai é misericordioso.” Não! Cristo revela-nos que somos capazes de ser misericordiosos COMO o Pai, com as nossas falhas e quedas, mas focados nesse objectivo pelo qual, com a graça de Deus, podemos viver. É a misericórdia que dá razão a toda a Quaresma –é por ela que Jesus morre na Cruz, por todos nós. E é porque fomos amados com esse amor, que passamos estes 40 dias no deserto, porque queremos ser, também nós, fonte de misericórdia. Fazemo-lo com as três grandes propostas da Quaresma – oração, jejum e esmola. Recebemos de graça aquilo que somos chamados a dar. E damo-lo com alegria, porque acreditamos que assim seremos misericordiosos, como o Pai é misericordioso. Propostas Proposta de grupo Hoje, com os meus amigos ou em grupo, não vou dizer mal. É tão fácil fazer um comentário, olhar de lado, julgar o que é diferente. 31 Hoje vou usar a medida que gostava que usassem comigo – a do amor. E a medida do amor é amar sem medida, como nos ensinou São Francisco de Sales, por isso hoje vou amar. E se não conseguir amar, pelo menos farei jejum de palavras que nada trazem de bom e direi apenas as que forem úteis, boas e verdadeiras. Proposta familiar Hoje, procuro ser espelho da misericórdia de Deus, com a minha família. Não refilo porque o jantar foi tarde, não me queixo porque o meu pai está mal disposto, não recuso ajudar. Antes, procuro ser espelho de misericórdia em todos os gestos – pergunto e oiço com atenção porque é que o dia da minha mãe se atrasou, tento facilitar a convivência com o meu pai, ofereço ajuda em tudo o que for preciso. Proposta individual Hoje rezo e medito a seguinte oração: “Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da Misericórdia. Dá a cada um de nós a capacidade de acolher apenas, sem juízos prévios, nem cálculos. Dá-nos a arte de acolher o trémulo, o ofegante, o frágil modo com que a vida se expressa. Torna-nos atentos ao desenho silencioso e áspero dos dias: à dor profunda e, porém, quase anónima a nosso lado; ao grito sem voz; às mãos que se estendem para nós sem as vermos; à necessidade que nem encontra palavras. Ensinanos que fomos feitos para a Misericórdia e que ela é a Sabedoria que Tu, Senhor, mais amas.” Pe. José Tolentino de Mendonça, Um Deus que dança 32 14 DE MARÇO TERÇA-FEIRA DA SEMANA II Evangelho segundo São Mateus 23, 1-12 «Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado.» Reflexão O Evangelho de hoje convida-me a olhar-me e a olhar Deus através de uma mesma perspectiva – uma que reconhece a Sua infinita grandeza e bondade e, a partir dela, a minha infinita pequenez. Primeiro, o Evangelho faz com que me coloque perante Deus e reconheça que Ele é o único Senhor que tenho. Que mais nada nem ninguém merece a minha devoção e adoração, porque só Ele é o Pai e eu sou só um filho. Percebo que Deus é tão grande, que esta grandeza me convida a sair de mim, para me ver de fora e perceber o pequeno que sou. Vendo-me assim, tão pequeno e fraco, não me exalto mas, por outro lado, reconheço as minhas limitações. Ainda assim, estas palavras de Jesus parecem duras – percebo que não me devo exaltar, mas porquê humilhar-me? Porquê sujeitar-me à humilhação, um sentimento tão duro, tão indesejado, que tanto tento evitar. O segredo está aí – a humilhação não vale pela dor e sofrimento da humilhação em si, mas pelo despojamento de mim próprio, por perceber que a exaltação na terra nada importa quando comparada com o amor de Deus. Num exemplo prático, de que me valem centenas de likes numa fotografia, ou uma plateia a aplaudir, quando comparados com a noção de que fiz o que Deus me pede? E o que importa se se rirem de mim, se me chamarem beato, se eu sei que estou a seguir o Seu plano de amor? Então, que eu não me esqueça de exaltar apenas a Deus, e de deixar que me humilhem, se necessário, porque também nessa humilhação experimentarei a misericórdia de Deus. 33 Propostas Proposta de grupo Hoje, saímos de nós. Deixamos de lado os nossos ídolos, desejos e sonhos e reconhecemos que só Deus merece a nossa adoração. Hoje, reconhecemos que somos amigos porque Deus nos deu a sorte de nos encontrarmos neste caminho. Hoje, rezamos juntos para que possamos reconhecer a nossa pequenez e a Sua imensidão. Proposta familiar Hoje, saio de mim. Deixo o meu orgulho e calo-me, naquela discussão em que sei que tenho razão, mas que não está a ser boa para ninguém. Deixo que me humilhem, porque quero ser manso, como Jesus. Não preciso que me dêem razão, preciso de agir como Jesus agiria. Proposta individual Hoje, saio de mim. Desligo as redes sociais e desligo-me das exaltações mundanas. Hoje só me interessa perceber se fiz o que Deus queria. 34 15 DE MARÇO QUARTA-FEIRA DA SEMANA II Evangelho segundo São Mateus 20, 17-28 Ao subir a Jerusalém, pelo caminho, chamou à parte os Doze e disse-lhes: «Vamos subir a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, que o vão condenar à morte. Hão-de entregá-lo aos pagãos, que o vão escarnecer, açoitar e crucificar. Mas Ele ressuscitará ao terceiro dia.» Aproximou-se então de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos, e prostrou-se diante dele para lhe fazer um pedido. «Que queres?» - perguntou-lhe Ele. Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino.» Jesus retorquiu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?» Eles responderam: «Podemos.» Jesus replicou-lhes: «Na verdade, bebereis o meu cálice; mas, o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem reservado.» Ouvindo isto, os outros dez ficaram indignados com os dois irmãos. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.» Reflexão Jesus, Filho de Deus, vem para servir dando a sua vida “como resgate em favor de muitos” e não para ser servido. Já tinha parado para pensar no amor que Deus tem por toda a humanidade para que venha até nós para nos servir? A mensagem de Jesus é muito clara: quem quiser ser o primeiro, faça-se servo. O reino de Deus não é deste mundo, a maior riqueza aos olhos de Jesus é a humildade e o amor ao próximo. De facto, a proposta de vida que Jesus nos traz é radical e muito diferente da mentalidade que o mundo nos apresenta, e quase exige! Quem segue o exemplo de Jesus até às últimas consequências 35 por amor sofrerá perseguições, mas na certeza que está a cumprir a vontade do Pai e alcançará, certamente, a felicidade eterna que o Pai tem preparada para nós. Propostas Proposta de grupo Hoje procuro olhar especialmente para aqueles que normalmente são invisíveis na minha vida: o motorista do autocarro, o segurança da faculdade, a senhora da biblioteca. Não me caberá a mim ser imagem de Jesus também para eles? Proposta familiar Hoje vou procurar servir os outros como Jesus que veio para nos servir. Vou servir em casa pondo-me ao dispor de quem costuma preparar o jantar e arrumar tudo. Proposta individual Já parei para pensar o que realmente significa Jesus ter morrido por mim? Aquele que é Deus, Rei, torna-se escravo de amor, e vai livremente para Jerusalém sabendo que lá será “entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, que o vão condenar à morte. Hão-de entregá-lo aos pagãos, que o vão escarnecer, açoitar e crucificar. Mas Ele ressuscitará ao terceiro dia”. Que impacto é que isso tem na minha vida? Em que medida é que a Sua vinda me salva? Tiro meia hora do meu dia para rezar sobre estas perguntas. 36 16 DE MARÇO QUINTA-FEIRA DA SEMANA II Evangelho segundo São Lucas 16, 19-31 «Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas. Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio. Então, ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós.’ O rico insistiu: ‘Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.’ Disse-lhe Abraão: ‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ Replicou-lhe ele: ‘Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.» Reflexão No Evangelho de hoje é nos apresentada uma história que nos fala da relação entre a nossa vida terrena e a vida eterna junto do Pai. O rico, que sempre ignorara aqueles que lhe pediam auxilio veio a acabar na “morada dos mortos” enquanto que o pobre Lázaro, que levara uma vida de humildade e sofrimento, se juntou a Abraão junto do Pai. Muitas vezes na nossa vida ignoramos a vida que virá depois desta passagem na Terra. Vivemos sem pensar que aquilo 37 que fazemos aos outros é ao próprio Jesus que fazemos. Não foi a consolação terrena que condenou o homem rico, mas a sua dureza de coração! Vivia sem pensar nos outros e sem qualquer compaixão, pelo que tendo recusado o amor toda a vida, não O reconheceu na morte! Não pensemos que a fé só por si salva, a fé traduz-se em obras concretas! Propostas Proposta de grupo Hoje vou com um amigo levar alegria e amor aos que mais precisam: um mendigo como Lázaro ou mesmo alguém que se encontre mais sozinho dentro do nosso grupo de amigos. Proposta familiar Durante a refeição em família vou procurar perceber se há alguém na família mais alargada que precisa de companhia ou que está a passar por um momento menos bom, tentar discutir se há alguma coisa que possamos fazer em família para aliviar o seu sofrimento e, sobretudo, rezar por ela! Proposta individual O que mais me afasta do reino de Deus? O que me endurece o coração e me impede de olhar os outros com a misericórdia que Deus quer fazer chegar às suas vidas? Penso em pontos concretos, propósitos firmes para trabalhar especialmente neste tempo de Quaresma. 38 17 DE MARÇO SEXTA-FEIRA DA SEMANA II Evangelho segundo São Mateus 16, 33-43; 45-46 «Um chefe de família plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, construiu uma torre, arrendou-a a uns vinhateiros e ausentou-se para longe. Quando chegou a época das vindimas, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os frutos que lhe pertenciam. Os vinhateiros, porém, apoderaramse dos servos, bateram num, mataram outro e apedrejaram o terceiro. Tornou a mandar outros servos, mais numerosos do que os primeiros, e trataram-nos da mesma forma. Finalmente, envioulhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Hão-de respeitar o meu filho.’ Mas os vinhateiros, vendo o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Matemo-lo e ficaremos com a sua herança.’ E, agarrando-o, lançaramno fora da vinha e mataram-no. Ora bem, quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?» Eles responderam-lhe: «Dará morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida.» Jesus disse-lhes: «Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos? Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus frutos.» Reflexão Este discurso duro e direto foi dirigido por Jesus a todos os sumos sacerdotes e fariseus que o queriam condenar e que rejeitavam os seus ensinamentos. Deus deu-nos tudo, chegando ao cúmulo de amor de nos enviar o Seu Filho e mesmo assim foi rejeitado, tal como o chefe da vinha que enviou até o seu próprio filho ao encontro dos vinhateiros. De facto, o Filho de Deus veio para nos salvar e nós não o reconhecemos, rejeitando-o. Podemos achar estamos livres desta culpa de ter levado Jesus à cruz, no entanto, quantas vezes não o rejeitamos, o condenamos também nas nossas vidas? Tal como Jesus foi condenado à morte na cruz, cada vez que pecamos e rejeitamos 39 a mensagem de Amor e misericórdia do Pai, a morte de Jesus na cruz por nós torna-se mais em vão - mas não devemos desanimar, a misericórdia do Pai é maior que qualquer dos nossos pecados. Propostas Proposta de grupo Procuro falar com um amigo sobre a Cruz de Jesus. Podia Jesus ter-nos salvo sem sofrer a cruz primeiro? Pode o alimento dar vida sem primeiro se sujeitar à morte? Proposta familiar Hoje, sexta feira da quaresma, procuro não comer carne. É importante que a minha vontade se sobreponha aos desejos do meu corpo. O corpo obedece á mente. Faço um esforço para que as refeições em casa não tenham carne, perdendo tempo a explicar o porquê deste jejum se alguém mo perguntar. Deus deu o Seu próprio filho por mim, e Eu nem sequer sou capaz de abdicar de carne numa refeição? Proposta individual Hoje rezo o terço pela conversão dos pecadores começando por mim mesmo ,por todos os momentos em que ofendo Jesus Cristo e Sua Mãe, em que o rejeito como meu Senhor e o condeno à Cruz que recebeu! 40 18 DE MARÇO SÁBADO DA SEMANA II Evangelho segundo São Lucas 15, 4-10 «Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; E chegando à casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e não varre a casa, e não busca com diligência até a achar? E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende». Reflexão Quantos de nós já não se sentiram como uma destas ovelhas perdidas, que se afasta do rebanho para tão longe que quando dá por si não é, já, capaz de encontrar por si o caminho de volta? Jesus conhece-nos muito bem e sabe exactamente aquilo de que somos feitos. Sabe que a nossa tendência é para ser como esta pequena ovelha que se perde e que precisa do seu pastor para voltar ao rebanho. Não há excepção, todos somos essa ovelha. A Quaresma é um tempo de reconciliação e aproximação, através da oração, do jejum e da esmola, assim nos sugere a Igreja. É tempo de todas as ovelhas serem encontradas e voltarem para o seu pastor - realidades essas que deviam ser vividas todos os dias claro, mas que na Quaresma se intensifica pois vivemos especialmente uma preparação interior para aquela que vai ser a maior prova de Amor de todos os tempos. Somos convidados, então, nestes 40 dias a meditar sobre este Amor, a viver este Amor e a deixar que Ele viva em nós. Para isso a Igreja nos guia e ajuda, para que possamos melhor encontrar-nos, e deixar-nos ser encontrados, por Aquele pastor que não desiste de nos procurar. 41 “Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo”, disse o papa Papa Bento XVI. Propostas Proposta de grupo Desafio algum amigo ou amiga que saiba que está mais afastado da Igreja a ir à missa connosco. Jesus pede-nos também para que sejamos instrumentos e o ajudemos a ir em busca das Suas ovelhinhas perdidas. Proposta familiar A seguir ao jantar, proponho à minha família ler da parábola do filho pródigo todos juntos(Lc, 15, 11-32). Depois da leitura, podemos conversar sobre a parábola e partilhar em como identificamos as figuras do Pai, do filho mais velho e do filho mais novo na nossa vida pessoal e familiar. Proposta individual Faço um exame de consciência por escrito antes de dormir. Identifico as vezes em que fui o filho mais velho e as vezes em que virei mesmo as costas como fez o filho mais novo. Num outro papel, escrevo uma lista de coisas que quero agradecer do meu dia. Reconheço nestes que estes exercícios, embora pequenos e simples, quando repetidos com fidelidade, trabalham no meu coração uma sensibilidade muito mais apurada e me torna mais agradecido? 42 19 DE MARÇO DOMINGO III DA QUARESMA Evangelho segundo São João 4, 5-15, 31-34 Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar. (...) Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. (...) Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-me de beber». Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: «Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?» (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos). Jesus respondeu, e disse-lhe: «Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva». Disse-lhe a mulher: «Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? (...) Jesus respondeu, e disse-lhe: «Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.» Disselhe a mulher: «Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la». (...) E entretanto os seus discípulos lhe rogaram: «Rabi, come». Ele, porém, lhes disse: «Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis». (...) Jesus disse-lhes: «A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra». Reflexão Com esta passagem vemos como Jesus fala à Samaritana e aos Seus discípulos sobre o verdadeiro alimento, o alimento espiritual. Jesus, quando é tentado no deserto, após 40 dias sem comer nem beber, responde à provocação de transformar as pedras em pães com palavras que falam intensamente às nossas vidas: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Como homens, temos necessidades humanas, que muitas vezes deixamos sobrepor-se às necessidades espirituais. Devemos alimentar a nossa alma tanto como alimentamos o nosso corpo, embora muitas vezes isso prove ser uma tarefa difícil, porque olhamos aquilo que temos numa óptica dos direitos que nos cabem, como se tudo nos fosse devido, esquecendo que, na verdade, tudo 43 nos é dado! Esquecemo-nos de olhar para o que temos numa ótica de dom! Queremos controlar tudo e entramos num ciclo difícil de sair, o ciclo do consumismo egoísta, e por isso quando nos falam em Jejum mostramos um ar sombrio. Mas Jesus diz-nos: “Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o rosto. Pois, assim, não parecerá aos outros que jejuas; e, sim, ao teu Pai em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mt 6, 17-18) “O jejum assume um grande valor na vida dos cristãos, é uma exigência do espírito para se relacionar melhor com Deus”, disse São João Paulo II. Propostas Proposta de grupo Com amigos, vou ajudar à sopa dos pobres com as ejNs ou com outras instituições que ajudam os sem abrigos com refeições quentes todos os dias, como por exemplo a Refood e a Comunidade Vida e Paz. Ouçamos nas vozes de cada uma das pessoas que encontrarmos nessas instituições as palavras de Jesus à samaritana: “Dá-me de beber”. Proposta familiar Agradeço antes e a seguir às refeições o alimento que nos é tão bondosamente oferecido. Com uma oração simples inicial como «Abençoai Senhor estes alimentos que recebemos das Vossas mãos para melhor Vos servir e amar. Amen » e uma no final «Damo-Vos graças, meu Deus, por todos os Vossos benefícios. Glória ao Pai ... Amen» e, assim, dar graças por mais uma refeição que passamos em família, agradecer quem a preparou e pedir pelos que não têm, relembrando sempre que o verdadeiro alimento é o que comemos e bebemos da fonte santa. Proposta individual Antes da missa, vou 15 minutos para diante do sacrário. Se for possível, procuro uma igreja onde haja Adoração ao Santíssimo para fazer esse tempo de oração. 44 20 DE MARÇO SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA III Evangelho segundo São Mateus 1, 18-24 S. José, esposo da Virgem Santa Maria – SOLENIDADE Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente. Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. Reflexão José é o pai da humildade e da santa obediência. Como São José, somos impelidos a ter este profundo Amor a Deus que nos permite abrir o coração a tudo o que Ele nos pede. Mesmo sem perceber, São José aceita ser pai de Jesus sem fazer perguntas ou duvidar das suas capacidades. Pelo contrário, enchendo-se de grande confiança na vocação que lhe é apresentada, aceita-a fielmente, num sim que se perpetua por toda a sua vida. Somos também chamados a olhar para a nossa vida como esta vocação à obediência, sabendo que só na intimidade Jesus poderemos perceber o que nos pede todos os dias. Não é tarefa fácil, mas com uma contínua vida de oração, com um coração simples e humilde, vamos apurando o nosso coração para melhor recebermos as Graças de Deus. Com São José aprendemos também sobre a dimensão do amor ao próximo, vendo como este doa totalmente a sua vida a Cristo. 45 “Os gestos de caridade que somos convidados a fazer particularmente neste tempo penitencial, não constituem, porventura, uma resposta à gratuidade da graça divina? Se recebemos gratuitamente, é gratuitamente que devemos dar”, São João Paulo II Propostas Proposta de grupo Se vivo em Lisboa, vou à Noite de Oração das ejNs organizada pelo sector. Será uma Noite de Oração onde se falará sobre o que é o sofrimento e a penitência, de uma importância tão particular neste tempo de Quaresma. Se não, procuro, com os meus amigos, rezar este mesmo assunto e esclarecer as nossas dúvidas - é importante percebermos a relevância do sacrifício na Quaresma. Proposta familiar Crio em casa um pequeno santuário, um espaço em casa para podermos rezar em família todos os dias. Terá o mesmo significado que o presépio na espera do natal, podendo ter uma a figura da Sagrada Família e uma Cruz. Também poderá ser um espaço onde guardamos orações, onde se encontram livros relacionados com a fé e até um potezinho de intenções. Proposta individual Tento conhecer um bocadinho mais sobre esta figura que tantas vezes passa desprecebido pela sua grande humildade e simplicidade. Para ficar a conhecer melhor quem é São José e qual o seu papel e missão na história da vida de Cristo e da Igreja, leio a Exortação Apostólica de São João Paulo II, Redemptoris Custus. Lêse muito muito rápido! 46 21 DE MARÇO TERÇA-FEIRA DA SEMANA III Leitura da Profecia de Daniel Naqueles dias: Azarias, parou e, de pé, começou a rezar; abrindo a boca no meio do fogo, disse: Oh! não nos desampares nunca, nós te pedimos, por teu nome, não desfaças tua aliança nem retires de nós tua benevolência, por Abraão, teu amigo, por Isaac, teu servo, e por Israel, teu Santo, aos quais prometeste multiplicar a descendência como estrelas do céu e como areia que está na beira do mar; Senhor, estamos hoje reduzidos ao menor de todos os povos, somos hoje o mais humilde em toda a terra, por causa de nossos pecados; neste tempo estamos sem chefes, sem profetas, sem guia, não há holocausto nem sacrifício, não há oblação nem incenso, não há um lugar para oferecermos em tua presença as primícias, e encontrarmos benevolência; mas, de alma contrita e em espírito de humildade, sejamos acolhidos, e como nos holocaustos de carneiros e touros e como nos sacrifícios de milhares de cordeiros gordos, assim se efectue hoje nosso sacrifício em tua presença, e tu faças que nós te sigamos até ao fim; não se sentirá frustrado quem põe em ti sua confiança. De agora em diante, queremos, de todo o coração, seguir-te, temer-te, buscar tua face; não nos deixes confundidos, mas trata-nos segundo a tua clemência e segundo a tua imensa misericórdia; liberta-nos com o poder de tuas maravilhas e torna teu nome glorificado, Senhor'. Reflexão A primeira leitura do dia de hoje convida-nos a meditar sobre as dicotomias mais prementes das nossas vidas – escravidão e libertação; pecado e misericórdia. Azarias descreve o enorme deserto em que vive o seu povo: “estamos sem chefes sem profetas sem guia não há holocausto nem sacrifício (…)”, atribuindo a culpa ao pecado: “Somos o mais humilde em toda a terra, por causa de nossos pecados.’’ Há, no entanto, um caminho muito concreto para nos libertarmos da escravidão do pecado – o de mergulhar na abundante 47 graça de Deus, que tudo perdoa e deseja ardentemente eliminar em nós qualquer vestígio de pecado. Azarias reconhece na confiança em Deus Nosso Senhor a única capaz de preencher os maiores vazios o nosso coração - “ Não se sentirá frustrado quem põe em Ti a sua confiança”. São Paulo diz-nos¸ sobre a vida cristã: ‘’estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro nem as potestades nem a altura nem o abismo nem qualquer outra criatura poderá separar nos do amor de Deus, que esta em Nosso Senhor Jesus Cristo’’. Só em Cristo encontramos o método eficaz para enfrentar as atrocidades da vida terrena. A resposta ao drama do pecado é expressa de forma evidente no fim da leitura: “liberta-nos com o poder de tuas maravilhas e torna teu nome glorificado, Senhor.” Propostas Proposta de grupo Desafiar um amigo a cumprir a proposta de quaresma de hoje. Proposta familiar Leio o evangelho do dia de hoje em família. Rezamos juntos com estas palavras de Azarias, “não nos desampares nunca, nós te pedimos, por teu nome, não desfaças tua aliança nem retires de nós tua benevolência”, reconhecendo que só em Cristo ganha verdadeiro sentido o amor na famíla! Proposta individual Entrar neste período litúrgico da Quaresma significa colocarse do lado de Cristo contra o pecado. A Cruz de Cristo e a Quaresma devem-se ao pecado, raiz de todo o mal. O pecado difere do simples sentimento de culpa porque é uma negação da vontade de Deus na nossa vida. Quando se tira Deus da equação não se pode falar de pecado, e por isso, o Papa Bento VXI, ensina-nos que o sentido do pecado é adquirido redescobrindo o sentido de Deus. Hoje faço um exame de consciência sério e procuro o sacramento da reconciliação, dizendo como Azarias, “De agora em diante, queremos, de todo 48 o coração, seguir-te, temer-te, buscar tua face; não nos deixes confundidos, mas trata-nos segundo a tua clemência e segundo a tua imensa misericórdia; liberta-nos com o poder de tuas maravilhas e torna teu nome glorificado, Senhor.” 49 22 DE MARÇO QUARTA-FEIRA DA SEMANA III Evangelho segundo São Mateus 5, 17-19 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para darlhes pleno cumprimento. Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus. Reflexão O evangelho de hoje apresenta-nos a lei como expressão do Reino dos Céus na Terra. Pela lei, Deus não restringe a nossa liberdade, ao contrário do que possamos pensar. Pelo Seu amor por nós, Deus revela-nos um caminho da libertação da escravidão do pecado! Uma proposta capaz de preencher todas as exigências do nosso coração insatisfeito. A lei de Deus é exigente, mas assim é o amor! Muitas vezes tendemos a associar erradamente o amor e a misericórdia de Deus com permissividade, uma “licença para pecar”. Caímos no erro de tudo relativizar porque, afinal, Deus nos ama com as nossas fraquezas, independentemente das nossas falhas e para cair num conformismo desenfreado. O papa Bento XVI alerta-nos para este perigo: “O relativismo difundido, segundo o qual tudo equivale e não existe verdade alguma, nem qualquer ponto de referência absoluto, não gera a verdadeira liberdade, mas instabilidade, desorientação, conformismo às modas do momento. Vós jovens tendes direito de receber das gerações que vos precedem pontos firmes para fazer as vossas opções e construir a vossa vida, do mesmo modo como uma jovem planta precisa de um sólido apoio para que as raízes cresçam, para se tornar depois uma árvore robusta, capaz de dar fruto.” 50 Propostas Proposta de Grupo Atentar nas leituras é uma maneira de conhecer a lei de Deus. Desafio o meu grupo de amigos a vir comigo à missa hoje. Proposta familiar Na sequência desta temática da lei recordamos este sentido de obediência à palavra de Cristo e de Nossa Senhora, sua Mãe. Devemos obediência a Nossa Senhora que é um caminho curto, simples e eficaz para alcançar o seu Filho Jesus. Hoje vou rezar o teço em família, rezando pela conversão dos pecadores. Proposta individual Muitas vezes, sendo católicos, não conhecemos alguns aspetos mais básicos da vivencia cristã. Hoje vou ler e decorar os 10 mandamentos. Reservo ainda um tempo do meu dia para refletir: sou, através das minhas ações, testemunho da lei de Deus? Respeito a Sua vontade, ou sou o Deus da minha vida, ditando a minha própria lei? 51 23 DE MARÇO QUINTA-FEIRA DA SEMANA III Evangelho segundo São Lucas 11, 14-23 Naquele tempo, Jesus estava a expulsar um demónio que era mudo. Quando o demónio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. Mas alguns disseram: 'É por Belzebu, o príncipe dos demónios, que ele expulsa os demónios.' Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: 'Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demónios. Se é por meio de Belzebu que eu expulso demónios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. Mas, se é pêlo dedo de Deus que eu expulso os demónios, então chegou para vós o Reino de Deus. Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa. Reflexão Hoje conhecemos, através das leituras, a oposição entre o reino do mal e o Reino dos céus. Cristo confirma a existência do espirito maligno e do seu reino que se deixa guiar por uma logica própria. Ligar Jesus com os demónios era a forma mais fácil de desacreditar a Sua palavra, por isso, para testar Jesus, os fariseus afirmam que fora em nome do príncipe dos demónios que Ele expulsara os espíritos malignos. Jesus responde de forma lógica: se não seria viável que Satanás atuasse contra o próprio programa, não podendo expulsar outros espíritos, então seria Deus a fazê-lo e, se assim era, “se eu expulso os demónios pelo dedo de Deus então quer dizer que o reino de Deus chegou ate vos’’. Esta era a verdadeira mensagem que Jesus queria fazer chegar ao coração dos presentes. A propósito da oposição entre o Reino de Deus e o Mal diz-nos o Papa Francisco: ‘’A controvérsia sobre o reino de Deus terminou 52 na Sexta-Feira Santa. No Domingo da ressurreição é confirmada a verdade das palavras de Cristo, a verdade de ter chegado a nós o reino de Deus- a verdade de toda a sua missão Messiânica. A luta entre o reino do mal, do espírito maligno, e o reino de Deus não cessou todavia, não esta acabada. Entrou só num período novo-melhor, no período definitivo. Neste período a luta e dura nas gerações sempre novas da história humana.’’ Esta luta para além de durar nos nossos tempos perdura também em cada um de nós. Hoje, também o reino do espirito maligno não está dividido, mas por diversos caminhos procura uma unidade de ação no mundo. O período da Quaresma impele-nos a penetrar no reino de Deus em busca da unidade que Ele procura construir em nós, que só alcançamos pela unidade com Cristo: ‘’Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo dispersa’’. Propostas Proposta de grupo Desafio o meu círculo de amigos mais próximo a de amigos a agarrar o propósito por mim definido na proposta individual de hoje. Proposta familiar Hoje jantamos à mesa em família e passamos o serão juntos. Proposta individual É neste recolher com Cristo que asseguramos o rumo para a Santidade. Devemos aproximar-nos de tudo o que nos introduz à comunhão com Cristo e distanciar-nos de tudo o que, por oposição, nos predispõe ao pecado. Dedico 20 minutos do eu dia à oração. Identifico as ocasiões que proporcionam este “recolher” com Cristo (ocasiões de conversão) e as que me levam a dispersar (ocasiões de pecado). Penso num propósito que ajude a distanciar-me das ocasiões de pecado. 53 24 DE MARÇO SEXTA-FEIRA DA SEMANA III Evangelho segundo São Marcos 12, 28b-34 Aproximou-se dele um escriba que os tinha ouvido discutir e, vendo que Jesus lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» Jesus respondeu: «O primeiro é: Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor, amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.» O escriba disse-lhe: «Muito bem, Mestre, com razão disseste que Ele é o único e não existe outro além dele e amá-lo com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo vale mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios.» Vendo que ele respondera com sabedoria, Jesus disse: «Não estás longe do Reino de Deus.» E ninguém mais ousava interrogá-lo. Reflexão Em Mateus 5, 17-18, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Ao contrário do que nos pode parecer à primeira vista, os dois mais importantes mandamentos que Jesus refere na conversa que manteve com o escriba não vêm de facto revogar ou romper com aquilo que eram as leis divinamente reveladas no passado. Estes dois mandamentos são os primeiros e mais importantes porque neles e através deles se resumem todos os outros. A minha relação com Deus que se reflecte necessariamente na minha relação com os outros cobre na totalidade os desafios do meu caminho de Santidade. O homem realiza-se completamente quando entende e percebe o outro como elemento fundamental na sua relação com Deus e ao mesmo tempo, e como consequência disso, o trata como fim e nunca como meio. Só amando o outro, a quem vejo, posso amar sem hipocrisias 54 a Deus, que não vejo, pois se Deus é amor e a minha relação com Ele é verdadeira isso pressupõe amarmos o nosso próximo. E apesar das nossas fraquezas é um amor tão grande, tão infinito que nos permite voltarmos sempre a tentar, a recomeçar. É um amor que não se cansa de perdoar e que nos aceita como somos, pecadores que reconhecem a sua condição mas não desistem! “Quem ama a Deus, recusa toda a forma de idolatria, não aceitando ser subjugado por nenhum outro Absoluto fora dele. Quem ama o próximo, põe freios ao seu egoísmo, de modo a jamais desejarlhe o mal, ou a fazer algo que possa prejudicá-lo.” (Canção Nova) Olhar para estes dois mandamentos como leis mais estruturantes da nossa vida ajuda-nos, “mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios”, a reconhecer Jesus como o “Caminho, a Verdade e a Vida” e a sua mensagem como forma de santificação do nosso quotidiano. Propostas Proposta de grupo “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Quantas vezes sou capaz de abdicar de pequenos prazeres ou descansos em prole do outro? Hoje amo o próximo em coisas invisíveis: levantando-lhe o prato, cedendo-lhe o lugar, ouvindo-o com atenção, corrigindo-o com caridade… Proposta familiar Agradecer em família no fim do dia a graça de todos juntos podermos partilhar uma vida em família e pedir para que Deus possa ser cada vez mais o centro desta relação. Proposta individual Procuro não ir dormir sem ter uma conversa franca com Deus sobre aquilo que tenho de mudar. Faço um exame de consciência revendo o meu dia, e procuro que este momento se torne um hábito. 55 25 DE MARÇO SÁBADO DA SEMANA III Evangelho segundo São Lucas 1, 26-38 Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbouse e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua prima Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela. Reflexão A meio deste caminho pelo deserto, a Igreja propõe-nos olhar para Maria, para a Sua confiança, fonte da nossa confiança! Deus chama-me! Pede-me que o siga e fica claro que, se o quero seguir, tenho de aceitar a missão que Ele me dá como minha – querer o que Ele quer! Pede-me que seja e viva com a mesma confiança do missionário que sabe que Jesus «caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária» (Exort. Ap. Evangelii gaudium, 266). Ora, e qual maior exemplo de confiança, de verdadeira Fé no plano de Deus para mim do que aquele que nos é dado por Nossa Senhora? Muitas 56 vezes caímos no erro de achar este um testemunho “batido”, mas a verdade é que não podia ser mais apropriado e actual. Como é que uma jovem de 15 anos entrega toda uma vida, todo um futuro nas mãos de Deus? Como? Só uma enorme fé justifica tão grande coragem. Mais nada justifica que entregue tudo o que tenho, tudo o que sou a algo que não conheço na totalidade. Maria é exemplo para toda a Humanidade desta vontade de deixar Deus ser Deus! De permitir que, apesar dos nossos medos e inquietações (perfeitamente naturais), Ele se possa servir de nós para chegar cada vez mais perto de todos aqueles que O procuram de coração sincero. Maria ensinanos que a Fé é um dom precioso de Deus, dom esse que não podemos guardar para nós, mas que temos de partilhar com aqueles que dele mais precisam. Hoje aproveitamos para perceber quais as coisas que Deus nos pede, e que “saltos” de confiança implicam. Propostas Proposta de grupo Rezo o Angelus ao meio dia com os amigos com quem estiver. Se tiver em aulas ou trabalho não faz mal se precisar de atrasar um pouco a oração, o importante é não me esquecer de a fazer. Marco um alarme para não me esquecer e procuro na internet a oração. Proposta familiar Aproveito o dia de hoje para em família rezar o terço e pedir, especialmente, a Nossa Senhora que nos ilumine e nos dê a Graça de podermos aceitar para as nossas famílias de bom grado aquela que for a Vontade de Deus, e de podermos seguir, em família, esse exemplo de total confiança em Deus. Proposta individual Hoje digo, confiadamente “Eis o/a servo/a do senhor”. Tenho consciência do que isso implica na minha vida? 57 26 DE MARÇO DOMINGO IV DA QUARESMA Leitura de São Paulo aos Efésios 5, 8-14 «É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz pois o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade procurando discernir o que é agradável ao Senhor. E não tomeis parte nas obras infrutíferas das trevas pelo contrário, denunciai-as. Porque o que por eles é feito às escondidas, até dizê-lo é vergonhoso. Mas tudo isso, se denunciado, é posto às claras pela luz pois tudo o que é posto às claras é luz. Por isso se diz: «Desperta, tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo brilhará sobre ti». Reflexão O nosso mergulho na água no nosso Baptismo “simboliza a sepultura do catecúmeno na morte de Cristo, de onde sai ressuscitado com Ele como «nova criatura»”. No fundo, nascemos definitivamente para uma vida nova, prontos para cumprir a vontade de Deus. Nesse momento deixamos as trevas e abraçamos a luz que nos é dada pelo encontro com o Pai, tal como nos diz o Catecismo da Igreja Católica: “Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este ensinamento (catequético) ficam com o espírito iluminado... Tendo recebido no Baptismo o Verbo, «luz verdadeira que ilumina todo o homem» o baptizado, «depois de ter sido iluminado, tornou-se «filho de luz» e ele próprio «luz»”. A partir do momento do nosso Baptismo não podemos deixar de perceber que este Dom que nos é oferecido exige de nós um esforço de conversão diária, onde devemos procurar combater os nossos vícios e paixões, aquilo que faz com que esta luz não seja irradiada o mais longe possível, aquilo que nos afasta de Deus… O que há a fazer é “discernir o que é agradável ao Senhor”. No entanto, não basta este esforço de conversão pessoal, porque se pelo nosso baptismo nos tornamos parte da Igreja, unidos como irmãos, temos a obrigação de denunciar as “obras infrutíferas das trevas”, as obras, acções e decisões nas quais existe um afastamento de Deus, e portanto, da Verdade. Tendo recebido nas nossas vidas a graça de ser iluminados pela verdade que Ele 58 representa, somos chamados a, humildemente, denunciar aquilo que é pouco claro e que cria dúvida. Esquivarmo-nos a este nosso dever é esquivarmo-nos à defesa da própria Verdade. O desafio que nos é lançado é procurarmos permanente e perseverantemente essa luz para podermos, por si transformados, ser luz do mundo, pois é na “bondade, justiça e verdade” que “Cristo brilhará”. Propostas Proposta de grupo Rezo uma dezena com 2 ou 3 amigos por todos aqueles a quem ainda não acolheram a graça do baptismo. Proposta familiar Procuro saber o dia de Baptismo de cada pessoa da minha família e marco na minha agenda ou telemóvel, para que quando esse dia chegar possa passar a lembrar-me dessa pessoa e rezar por ela! Proposta individual Faço uma lista de pelo menos 3 “obras infrutíferas” como é dito na leitura que me afastem do caminho de santidade que me é proposto e comprometo-me a deixar de as praticar. 59 27 DE MARÇO SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA IV Evangelho segundo São João 4, 46-53 Ora havia em Cafarnaúm um funcionário real que tinha o filho doente. Quando ouviu dizer que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-Lhe que descesse até lá para lhe curar o filho, que estava a morrer. Então Jesus disse-lhe: «Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais.» Respondeu-Lhe o funcionário real: «Senhor, desce até lá, antes que o meu filho morra.» Disse-lhe Jesus: «Vai, que o teu filho está salvo.» O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe disse e pôs-se a caminho. Enquanto ia descendo, os criados vieram ao seu encontro, dizendo: «O teu filho está salvo.» (…)” Reflexão Tudo começa com um encontro: “…, foi ter com Ele e pediuLhe…”. É desta relação pessoal com Cristo, nas circunstâncias concretas da vida de cada um, que partem todas as histórias de fé. Como lembrava o Papa Bento XVI, “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.” De facto, depois de tocados por este olhar de Cristo para as nossas interrogações mais profundas, para as nossas alegrias e angústias, somos chamados a acolher com verdade a resposta que Ele traz às nossas vidas – “Vai, que o teu filho está salvo.” E então, mesmo não podendo “ver para crer”, mesmo que não nos seja possível compreender e conhecer tudo, devemos pôr-nos a caminho com confiança, na certeza de que o Pai não nos abandona e de que conhece e guarda cada um dos nossos passos. Neste Evangelho, somos também chamados ao desafio da simplicidade na relação com Deus: “Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais.” É um Jesus directo e incisivo que nos relembra que enquanto andamos à procura dos grandes sinais que tudo clarifiquem, perdemos a capacidade de descobrir nas pequenas coisas a presença real de Deus. Aquele que tudo pode, cria e sabe, fezSe infinitamente humilde para nos mostrar que é nas coisas simples 60 da vida que Ele mais Se manifesta. Portanto, não podemos deixar de viver com autenticidade e intensidade todas os pequenos e grandes momentos da nossa vida, porque de nenhum deles Ele está ausente. Propostas Proposta de grupo Proponho a um ou dois amigos sermos fonte de esperança para um dos “funcionários reais de Cafarnaúm” do nosso dia-a-dia. Quantas pessoas, mais ou menos próximas, com quem nos cruzamos todos os dias, precisam tanto de alguém com quem possam aliviar os fardos da sua vida e de quem possam ouvir palavras de conforto e confiança de que nosso Senhor não esquece nenhum dos Seus filhos? Desafiemo-nos e a esses tais amigos a ser uma imagem visível e concreta de um Deus que traz uma nova força para enfrentar as dificuldades da vida. Proposta familiar Rezo em família esta oração: “Senhor, fica nas nossas famílias, ilumina-as nas suas dúvidas, ampara-as nas suas dificuldades, conforta-as nos seus sofrimentos e na fadiga quotidiana, quando à sua volta se adensam sombras que ameaçam a sua unidade e a sua natureza. Tu, que és a Vida, permanece nos nossos lares, para que continuem a ser berços onde nasce a vida humana abundante e generosamente, onde se acolhe, se ama, se respeita a vida desde a sua concepção até ao seu fim natural.” Papa Bento XVI Proposta individual Faço um esforço sério, durante o dia de hoje, por ser um pequenino e discreto sinal da presença de Deus para com quem está à minha volta, sobretudo junto daquelas pessoas com quem mais me custa ser testemunho da Sua presença. Acima de tudo, estar presente sem protagonismos que nos descentrem daquilo que realmente importa. 61 28 DE MARÇO TERÇA-FEIRA DA SEMANA IV Evangelho segundo São João 5, 1-3a-5-16 Estava ali um homem que padecia da sua doença há trinta e oito anos. Jesus, ao vê-lo prostrado e sabendo que já levava muito tempo assim, disse-lhe: «Queres ficar são?» Respondeu-lhe o doente: «Senhor, não tenho ninguém que me meta na piscina quando se agita a água, pois, enquanto eu vou, algum outro desce antes de mim». Disse-lhe Jesus: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda.» E, no mesmo instante, aquele homem ficou são, agarrou na enxerga e começou a andar. (…) Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: «Vê lá: ficaste curado. Não peques mais, para que não te suceda coisa ainda pior.» Reflexão “Queres ficar são?” – É assim a história de Deus com cada um de nós. Um Deus que não Se impõe, mas que dá espaço para que possamos livremente decidir deixá-Lo entrar na nossa vida. Um Deus que Se faz pequeno connosco, que conhece de perto as nossas “doenças”, as nossas tristezas, os nossos fracassos. Mas, ao mesmo tempo, um Deus que, vendo-nos caídos, nos impele a que nos levantemos, peguemos nas nossas cruzes e nos façamos ao caminho. Um Deus que, dando um novo sentido à nossa vida, eleva os nossos horizontes, mas que jamais nos esmaga com o peso das Suas leis. “Vê lá: ficaste curado. Não peques mais, para que não te suceda coisa ainda pior.” Facilmente podemos retirar uma leitura errada desta frase de Jesus. Facilmente podemos achar que esta não diz nada às nossas vidas, que não entendemos muito bem o que Jesus quis dizer. Mas quantas vezes, depois de curados por Cristo, nos deixamos outra vez afastar, passinho a passinho e, sem dar por isso, estamos já mais longe, mais embrenhados no pecado do que no passado? Saber que Deus nos perdoa sempre (mesmo que por vezes nem nós próprios nos consigamos perdoar), não pode ser motivo para nos deixarmos levar por um laxismo perigoso, onde, cheios de pena das nossas fraquezas, deixemos de querer ser melhores. Se podemos viver na certeza do Amor de Deus, temos também de 62 querer corresponder à medida alta desse Seu Amor. Por isso, há que procurar sermos exigentes connosco mesmos, certos de que, como humanos que somos, continuaremos sempre a falhar, mas no desejo de querer ir falhando cada vez menos e melhor. Propostas Proposta de grupo Procuro confessar-me e convencer dois amigos meus que estejam mais afastados desse sacramento a fazê-lo também. Tento dar-lhes testemunho de como a experiência de confessionário pode ser tão libertadora e reconfortante. Proposta familiar O perdão sincero e a oração são o cimento de uma família que permanece unida. Assim, rezo em família pedindo a graça de Deus para aquelas relações familiares que estejam menos sólidas. Proposta individual Faço silêncio durante 10/15 minutos e tento reconstruir a memória do meu caminho de pecador. Procuro relembrar os altos e baixos que a vida já me trouxe. Valorizo aquilo que já percorri até aqui, confiando que toda a história do meu passado é essencial, para que, no caminho diário para a santidade, nunca me esqueça de onde parti. 63 29 DE MARÇO QUARTA-FEIRA DA SEMANA IV Leitura do Livro do Profeta Isaías 49, 8-15 “(…) Ao longo dos caminhos encontrarão que comer, e em todas as dunas arranjarão alimento. 10Não padecerão fome nem sede, e não os molestará o vento quente nem o sol, porque o que tem compaixão deles os guiará, e os conduzirá em direcção às fontes. (…) Na verdade, o Senhor consola o seu povo e se compadece dos desamparados. (…) 14Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o meu dono esqueceu-se de mim.» 15Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria. “ Reflexão Uma Quaresma levada a sério pode, algumas vezes, ser uma verdadeira experiência de deserto. Preparar o nosso coração para a Páscoa da Ressurreição obriga-nos a olhar realmente para a nossa vida e a fazer exigentes propósitos de mudança. E a verdade é que nem sempre temos a capacidade de nos alegrarmos com o novo sentido que a nossa vida pode ter durante esta experiência de crescimento e maturação pessoal. Podemos mesmo sentir um silêncio e um vazio que nos podiam querer levar a desistir e a achar que nunca seríamos capazes de uma tal coerência que justificasse empenharmos tudo o que temos e somos no caminho da santidade. Nesses momentos, seja este “Eu nunca te esqueceria” de um Deus e Senhor a razão da nossa esperança, um autêntico combustível para os cansaços e os esforços que uma Quaresma bem vivida sempre pede. Viver na confiança de que Ele caminha sempre ao nosso lado, mesmo quando as suas pegadas parecem ter desaparecido. Viver na segurança de que Ele também nos fala nesses aparentes silêncios e ausências. Viver na certeza de que Ele nos conhece e nos ama profundamente e de que jamais colocará desafios na nossa vida que não sejamos capazes de ultrapassar. 64 Propostas Proposta de grupo Junto dois ou três amigos que também queiram levar esta Quaresma a sério e procuro partilhar aquilo que me tem acontecido, o que tenho sentido, o que tenho rezado. Muita razão tem a sabedoria popular quando diz: “se queres ir rápido vai sozinho, se queres ir longe vai acompanhado”. Proposta familiar Convido a minha família a fazer um exercício de relembrar alguma pessoa/família de quem estejamos mais distantes enquanto família e a procurar voltar a aproximarmo-nos sobretudo daqueles que mais precisam que lhes digamos: “Nós nunca nos esqueceremos de ti”. Só viveremos com autenticidade esta Quaresma em família se soubermos ser testemunho vivo de um Pai que ama e acompanha cada um dos seus filhos e suas famílias. Proposta individual Procuro, no dia de hoje, estar, ainda mais especialmente, algum tempo de joelhos em frente a um sacrário. Ponho-me de coração humilde e sincero frente a Deus e deixo que ele me diga: “Eu nunca me esquecerei de ti”. Deixo que estas palavras me transformem, façam crescer em mim o desejo de corresponder a este tão grande amor. Que frágeis somos nós… Nunca esquecidos por ele, mas tantas vezes esquecidos dele! 65 30 DE MARÇO QUINTA-FEIRA DA SEMANA IV Evangelho segundo São João 5, 39-44 «Investigai as Escrituras, dado que julgais ter nelas a vida eterna: são elas que dão testemunho a meu favor. Vós, porém, não quereis vir a mim, para terdes a vida! Eu não ando à procura de receber glória dos homens; a vós já vos conheço, e sei que não há em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis. Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único?». Reflexão “Insensato é quem põe sua esperança nos homens ou nas criaturas. Não te envergonhes de servir a outrem por Jesus Cristo, e ser tido como pobre neste mundo. Não confies em ti mesmo, mas põe em Deus tua esperança. Faz da tua parte o que puderes, e Deus ajudará tua boa vontade”, Imitação de Cristo São de uma força enorme estas palavras de Cristo, que nos diz: “Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis”. Quem são os nossos ídolos, aqueles que admiramos, pelos quais guiamos a nossa vida? Aqueles em quem, no limite, pomos a nossa esperança? Queremos nesta Quaresma, e em toda a nossa vida, despojarnos de nós mesmos e fugir deste pecado tão fácil que é a nossa própria exaltação. Só assim, na nossa pequenez, poderemos ver a Deus e conhecer a sua vontade. “Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu.” (Mt 18, 3-4) Propostas Proposta de grupo Ir a uma exposição do Santíssimo simplesmente para estar com Nosso Senhor. Muitas vezes achamos que a adoração ao 66 Santíssimo só faz sentido quando há toda uma organização por trás, como numa noite de oração, mas será que sim? Será que para estar com um amigo é preciso que arranjem e combinem tudo por mim ou, por outro lado, posso eu ir ter com Ele, sendo que sei sempre onde encontra-lo? “Não sabíeis que deveria estar em casa do Meu Pai?”. Nada como estar diante do Santíssimo exposto para reconhecermos o quão frágeis e pequenos somos Proposta familiar Procuro na internet a lista de humildade da Madre Teresa e ponho no frigorifico, ou em algum lugar visível. Proposta individual “Faz da tua parte o que puderes, e Deus ajudará tua boa vontade”. Sei confiar as dificuldades que se atravessam na minha vida à vontade de Deus? Já alguma vez pus verdadeiramente Nele toda a minha esperança, e me abandonei totalmente, ou, por outro lado, houve sempre algo que guardei para mim, onde nunca larguei o comando? Penso e escrevo sobre estas perguntas. 67 31 DE MARÇO SEXTA-FEIRA DA SEMANA IV Leitura do Livro da Sabedoria Dizem entre si os ímpios, em seus falsos raciocínios: “Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda: ele se opõe ao nosso modo de agir, repreende em nós as transgressões da lei e nos reprova as faltas contra a nossa disciplina. Ele declara possuir o conhecimento de Deus e chama-se ‘filho de Deus’. Tornou-se uma censura aos nossos pensamentos e só o vêlo nos é insuportável; sua vida é muito diferente da dos outros, e seus caminhos são imutáveis. Somos comparados por ele à moeda falsa e foge de nossos caminhos como de impurezas; proclama feliz a sorte final dos justos e gloria-se de ter a Deus por pai. Vejamos, pois, se é verdade o que ele diz, e comprovaremos o que vai acontecer com ele. Se, de fato, o justo é ‘filho de Deus’, Deus o defenderá e o livrará das mãos dos seus inimigos. Vamos pô-lo à prova com ofensas e torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua paciência; vamos condená-lo à morte vergonhosa, porque, de acordo com suas palavras, virá alguém em seu socorro”. Tais são os pensamentos dos ímpios, mas enganam-se; pois a malícia os torna cegos, não conhecem os segredos de Deus, não esperam recompensa para a santidade e não dão valor ao prêmio reservado às vidas puras. Reflexão Nestas linhas, lemos a descrição sublime de como o mundo olha para Jesus. Na verdade, a Boa Nova é verdadeiramente incómoda ao mundo, e tantas vezes parece ao Homem pedir-lhe algo contrário à sua natureza. Não sabe o homem, senão por Cristo, que só Ele, e só o caminho que Ele nos exige, torna o Homem verdadeiramente Homem. Mas a exigência deste caminho leva o homem muitas vezes a rejeitá-lo, a “pô-lo à prova com ofensas e torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua paciência”. Na verdade, se formos verdadeiramente luz de Cristo no mundo, poderemos esperar tal perseguição. Mais ainda, iremos 68 alegrar-nos com ela, porque nos identifica com Cristo. Não é o erro do outro que nos alegra, muito menos a sua dureza de coração. A perseguição não deve ser procurada, muito menos provocada! A caridade que somos chamados a viver exige de nós que usemos todos os meios que estão ao nosso alcance para que o outro receba no seu coração a Verdade, e nunca devemos procurar apresentá-La como escândalo, procurando glorificar-nos com a perseguição que sofremos (e que na verdade provocámos). Muitas vezes não somos também aqueles que perseguem quem vive a verdade até às últimas consequências do que pode exigir dele/a? Todos aqueles rostos de Jesus que no dia-a-dia nos forçam a olhar-nos por dentro, a enfrentar as nossas próprias trevas. Talvez não queiramos “condená-los à morte vergonhosa”, mas perseguimolos com pequenos actos que nos parecem inofensivos, mas que na verdade revelam o quanto nos incomoda a sua unidade de vida. Propostas Proposta de grupo Penso em alguém que é para mim rosto de Jesus. Alguém que está disposto a defender a Verdade por muito que isso lhe possa custar perseguições e gozos. Hoje confirmo-o na sua missão, talvez enviando-lhe uma mensagem a agradecer-lhe o seu testemunho. Proposta familiar Faço em casa um quadro de agradecimentos a cada um para completar durante a quaresma. Proposta individual Aquele amigo que puxa mais por ti, que é um rosto vivo de Jesus, reza por ele hoje e agradece-lhe por isso. 69 1 DE ABRIL SÁBADO DA SEMANA IV Evangelho segundo São João 7, 40-53 Então, entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.» Diziam outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?! Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?». Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa. (...) Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus e que era um deles, disse-lhes: «Porventura permite a nossa Lei julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?» Reflexão Conhecemos Jesus? Ouvimos e vemos as suas obras? Facilmente cairemos no erro da multidão se não mantivermos esta procura diária da presença de Jesus. É preciso estarmos atentos e “treinados” para o reconhecer. Este treino reside na oração, na nossa vida íntima com Cristo – se não o conhecermos, não o reconheceremos. “Grande arte é saber conversar com Jesus, e grande prudência conservá-lo consigo. Sê humilde e pacífico, e contigo estará Jesus; sê devoto e sossegado, e Jesus permanecerá contigo”, Imitação de Cristo. Propostas Proposta de grupo Proponho a um grupo de amigos ver a série ‘Biblia’, uma boa maneira de conhecer a vida de Jesus de uma forma muito visual. Proposta familiar Se, muitas vezes, nos é bastante imediato reconhecer a presença de Jesus em algumas pessoas que são para nós um 70 testemunho enorme da vida de Cristo, muitas vezes essa tarefa tornase difícil dentro de casa. As relações estão, muitas vezes como que desgastadas por uma fricção permanente, que vai anestesiando os nossos olhos, diminuindo a capacidade de nos olhar com admiração. Hoje, olho para cada uma das pessoas em minha casa e (re)descubro neles um traço de Jesus. Proposta individual Para conhecer Jesus, torna-se indispensável saber sobre Jesus! Assim, não podemos deixar de procurar conhecer o que a Igreja, o Seu corpo místico, diz sobre Ele! Muitos são os meios de o fazer, mas hoje leio o capítulo Segundo, Artigo 2 da segunda secção da primeira parte do Catecismo da Igreja Católica, “e em Jesus cristo, seu único Filho, Nosso Senhor”. Está disponível na internet, no site do Vaticano! 71 2 DE ABRIL DOMINGO V DA QUARESMA Evangelho segundo São João 11, 1-45 (…) Marta disse a Jesus: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?». Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo». Jesus comoveu-Se profundamente e perturbou-Se. (…) Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo. Disse Jesus: «Tirai a pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias». Disse Jesus: «Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?». Tiraram então a pedra. Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste». Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora». O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. (…) Reflexão Este evangelho de Domingo, não só nos mostra o poder da confiança na oração, como nos leva a penetrar no segredo do sofrimento de Deus. Se Ele chora diante da morte física de seu amigo, sofre muito mais com a morte das almas que se afastam d’Ele pelo pecado, tornando-se de facto inimigas de Deus. O Seu choro secreto é algo que nos deve fazer tomar a firme decisão de consolar o Seu coração, ferido pelas nossas culpas. A oração de Jesus resume a bondade de Deus em revelar-se por meio de milagres concretos e visíveis nas nossas vidas, “por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste”. Na verdade, Lázaro vivia já em Cristo mas, para que Marta visse a visse a Glória de Deus, Cristo demonstra-Lha, trazendo nova vida ao corpo 72 do defunto, mostrando só nele há a vida verdadeira. «Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?» Neste Evangelho, Jesus convida-nos a vir para fora, sair do pecado para corresponder ao Seu amor e consolar o Seu coração, parar de ofendê-Lo por causa da lágrima secreta que Ele derrama a cada pecado que cometemos. Quantas vezes Jesus não chorou sobre o túmulo de nossa alma morta pelo pecado! Propostas Proposta de grupo Rezar uma dezena com um grupo de amigos para consolar o coração ferido de Jesus por todas as nossas falhas, por todas as vezes em que morremos para a vida verdadeira e nos deixamos escravizar pelo pecado. Proposta familiar “Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá.” Tenho algum familiar que se encontra a passar por algum sofrimento? Hoje ligo-lhe para saber como está e, sobretudo, rezo em família 3 Ave-Marias por ele, pedindo que Nosso Senhor conforme alegremente o seu coração à Sua vontade, seja ela qual for. Proposta individual Hoje rezo o terço, pedindo como jaculatória: “Aumenta em mim Senhor, todas as virtudes, em especial a Fé, Esperança e Caridade”. 73 3 DE ABRIL SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA V Evangelho segundo São João 8, 1-11 Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?» Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra. Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles. Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Reflexão A liturgia de hoje proclama o grande milagre da misericórdia de Deus, que dá o perdão a uma mulher surpreendida em flagrante adultério. Colocado à prova pelos fariseus e mestres da Lei, Nosso Senhor mostra, ao mesmo tempo, a Sua mansidão e a Sua justiça: Ele não se coaduna com o pecado, mas, ao mesmo tempo, quer salvar o pecador. No encontro com Jesus somos convidados a mudar de vida, a passar do pecado à Graça, tal como aconteceu com a mulher adúltera e com Zaqueu (cf. Lc 19, 5-10). Quando me encontro com Jesus, seja na Missa, na Confissão, etc., vivo a força deste encontro? Consigo ouvir as palavras de Jesus que me dizem «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»? Procuro meios/propósitos para não voltar a ofendê-Lo? 74 Propostas Proposta de grupo Dos amigos com que te vais cruzar esta semana, quem é que não se confessa há muito tempo? Propomos-te que lhe mandes uma mensagem, incentivando-o a irem os dois confessar-se, para melhor se preparem para a Páscoa. Dás-te conta como podes ser o instrumento de Deus, dando tu o exemplo? Proposta familiar Tantas vezes somos os primeiros a atirar pedras perante as falhas dos outros… É-nos difícil este exercício de olhar com misericórdia aqueles que nos rodeiam, e às vezes é ainda mais difícil nas pequenas coisas do dia-a-dia, nas pequenas irritações, do que nas grandes traições. Deixemos o perdão entrar em nossa casa, não atirando pedras às faltas do outro, mas perdoando porque, também nós nos sabemos “pecadores a quem Deus olhou com misericórdia”. Proposta individual Ao longo do dia, vou repetindo nas pequenas tarefas repetitivas estas jaculatórias. «Jesus, como é grande o teu Amor»; «Jesus, dáme o amor com que queres que eu te ame»; «Senhor, tende piedade de nós»; «Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso»; faço-o no carro, na fila do almoço… 75 4 DE ABRIL TERÇA-FEIRA DA SEMANA V Evangelho segundo São João 8, 21-29 Uma outra vez, Jesus disse-lhes: «Eu vou-me embora: vós haveis de procurar-me, mas morrereis no vosso pecado. Vós não podereis ir para onde Eu vou.» (…) Mas Ele acrescentou: «Vós sois cá de baixo; Eu sou lá de cima! Vós sois deste mundo; Eu não sou deste mundo. Já vos disse que morrereis nos vossos pecados. De facto, se não crerdes que Eu sou o que sou, morrereis nos vossos pecados.» Perguntaram-lhe, então: «Quem és Tu, afinal?» Disse-lhes Jesus: «Absolutamente aquilo que já vos estou a dizer! Tenho muitas coisas que dizer e que julgar a vosso respeito; mas do que falo ao mundo é do que ouvi àquele que me enviou, e que é verdadeiro.» Eles não perceberam que lhes falava do Pai. Disse-lhes, pois, Jesus: «Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só, porque faço sempre aquilo que lhe agrada.» Quando expunha estas coisas, muitos creram n’Ele. Reflexão Como dizia S. Paulo “Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores”. (…) Todos os homens são, por isso mesmo, afetados pela primeira prevaricação e, privados da graça e santidade originais, nascem com uma natureza decaída, isto é, corrompida pelas consequências da falta de nossos primeiros pais: “lesada em suas próprias forças naturais, submetida à ignorância, ao sofrimento e ao império da morte, e inclinada ao pecado". Deus, porém, não nos abandonou ao poder da morte e da corrupção. Na sua infinita misericórdia, quis o Senhor dar-nos bens muito melhores "do que aqueles que a inveja do Demônio nos havia roubado". Por isso, a fim de fazer o bem triunfar sobre o mal e superabundar a graça onde avultou o pecado enviou-nos "nestes últimos dias" o seu Filho bem-amado, Jesus Cristo, "cheio de graça e de verdade". Nele, encontramos o médico de nossa alma; por Ele, recebemos do Céu o remédio para as nossas culpas; com Ele, 76 tornamo-nos co-herdeiros do Reino e da glorificação que nos foi prometida. Daí, pois, a urgência com que a Igreja sempre se esforçou por levar a todas as gentes a fé no Salvador do gênero humano; daí, antes de mais, a necessidade de crermos n’Aquele que, esvaziando-se a si mesmo (cf. Fil 2, 7). Que Deus, "que quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2, 4), faça de nós espíritos missionários, sempre atentos à advertência que o Senhor fez brotar dos lábios do discípulo amado: "Quem possui o Filho possui a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1Jo 5, 12). Propostas Proposta de grupo Seria a Igreja o que é se, ao longo dos séculos, os Cristãos não tivessem partilhado a sua oração e conhecimento de geração em geração? Hoje procuro na internet a oração de São Miguel Arcanjo “Oração renova Senhor a minha fé”. Imprimo-a e partilho com amigos, para rezarmos juntos. Proposta familiar Para seguir a Cristo, é preciso conhecê-lo. Em família, abro o Catecismo da Igreja Católica, e que procuro esclarecer algum tema que não estejamos muito convictos acerca da posição da igreja. Encontra-se disponível no site do vaticano! Proposta individual Releio a passagem. Sou deste mundo, mas quero viver neste mundo e nele santificar-me, sem ser mundano. Penso e escrevo o que é que, em mim, é ainda do mundo. O que é que me prende aqui, me escraviza, me impede de ser totalmente livre para a vontade de Deus. Sou muito apegado àquilo que possuo? À imagem que quero que os outros tenham de mim? A uma relação que sei reconhecer pouco saudável? Aos programas que me colocam em ocasião de pecado? 77 5 DE ABRIL QUARTA-FEIRA DA SEMANA V Leitura do Profeta Daniel 3, 14-20; 91-92; 95 Disse-lhes Nabucodonosor: «Chadrac, Mechac e AbedNego, é verdade que rejeitais o culto aos meus deuses e a adoração à estátua de ouro erigida por mim? Pois bem! Estais dispostos, no momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de qualquer outro instrumento musical, a prostrar-vos em adoração diante da estátua que eu fiz? Se não o fizerdes, sereis logo lançados dentro da fornalha ardente. E qual o deus que poderá libertar-vos da minha mão?» Chadrac, Mechac e Abed-Nego responderam ao rei Nabucodonosor: «Não vale a pena responder-te a propósito disto. Se isso assim é, o Deus que nós servimos pode livrar-nos da fornalha incandescente, e até mesmo, ó rei, da tua mão. E ainda que o não faça, fica sabendo, ó rei, que não prestamos culto aos teus deuses e que não adoramos a estátua de ouro que tu levantaste.» Então explodiu a fúria de Nabu¬codonosor contra Chadrac, Mechac e Abed-Nego; a expressão do seu rosto mudou e levantou a voz para mandar que se aquecesse a fornalha sete vezes mais que de costume. Em seguida, ordenou aos soldados mais vigorosos do seu exército que amarrassem Chadrac, Mechac e Abed-Nego, a fim de os lançar na fornalha incandescente. Então o rei Nabucodonosor, estupefacto, levantou-se repentinamente, dizendo para os seus conselheiros: «Não foram três homens, atados de pés e mãos, que lançámos ao fogo?» Responderam eles ao rei: «Com certeza.» «Pois bem – replicou o rei – vejo quatro homens soltos, que passeiam no meio do fogo, sem este lhes causar mal; o quarto tem o aspecto de um filho de Deus.» Nabucodonosor, tomando a palavra, disse: «Bendito seja o Deus de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego! Ele enviou o seu anjo para libertar os seus servos que, confiando nele, expuseram a vida, transgredindo as ordens do rei, antes que prostrarem-se em adoração diante de um outro deus que não fosse o Deus deles. 78 Reflexão Na leitura de hoje, da profecia de Daniel, conta-nos este episódio de Sidrac, Misac, e Abdênago, que se dispuseram ao martírio no momento em que recusaram adorar outro Deus senão o Deus verdadeiro. Esta leitura faz-nos pensar como poderemos ser mártires neste tempo, e amar a Deus como estes três também amaram, confirmando-o com as suas próprias vidas. Vivemos, pela graça de Deus, num tempo em que podemos viver a nossa fé em liberdade… Mas Deus desafia-nos com outros tipos de martírio! Sim martírio! Não propriamente como este ou como os que aconteciam antigamente como vimos bem no filme ‘’Silêncio’’, mas pequenas provações diárias, na nossa vida quotidiana. Em que podemos ‘’dar a vida’’ por amor a Deus nessas mesmas situações! Seja no estudo, em casa com a obediência, nas amizades… S. José Maria Escrivá diz-nos que às vezes um sorriso é mais difícil do que horas de chicotadas. Deus vai-nos ‘‘polindo’’ , aperfeiçoando-nos com essas situações. Como uma obra de arte que antes de o ser, era uma simples pedra. O santo de hoje, São Leopoldo Mandic tinha a saúde muito fragilizada, mas aceitou confiante a cruz da sua doença e foi um herói dos confessionários e, deixando-se polir, ofereceu a Deus tudo o que fazia por amor. Hoje celebramos o dia por ter vivido essa cruz diária. Propostas Proposta de grupo Com um grupo de amigos converso sobre a actualidade do tema do martírio, e como fala diretamente às nossas vidas. Proposta familiar Ao serão, vemos um filme biográfico sobre algum santo mártir e conversamos sobre o mesmo. Proposta individual Escolho um pequeno martírio para viver ao longo do dia. Algo que exija de mim dar a vida, entregar esse pequeno sacrifício a Nossa Senhora fiel e repetidamente ao longo do dia! 79 5 DE ABRIL QUARTA-FEIRA DA SEMANA V Leitura do Profeta Daniel 3, 14-20; 91-92; 95 Disse-lhes Nabucodonosor: «Chadrac, Mechac e AbedNego, é verdade que rejeitais o culto aos meus deuses e a adoração à estátua de ouro erigida por mim? Pois bem! Estais dispostos, no momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de qualquer outro instrumento musical, a prostrar-vos em adoração diante da estátua que eu fiz? Se não o fizerdes, sereis logo lançados dentro da fornalha ardente. E qual o deus que poderá libertar-vos da minha mão?» Chadrac, Mechac e Abed-Nego responderam ao rei Nabucodonosor: «Não vale a pena responder-te a propósito disto. Se isso assim é, o Deus que nós servimos pode livrar-nos da fornalha incandescente, e até mesmo, ó rei, da tua mão. E ainda que o não faça, fica sabendo, ó rei, que não prestamos culto aos teus deuses e que não adoramos a estátua de ouro que tu levantaste.» Então explodiu a fúria de Nabucodonosor contra Chadrac, Mechac e Abed-Nego; a expressão do seu rosto mudou e levantou a voz para mandar que se aquecesse a fornalha sete vezes mais que de costume. Em seguida, ordenou aos soldados mais vigorosos do seu exército que amarrassem Chadrac, Mechac e Abed-Nego, a fim de os lançar na fornalha incandescente. Então o rei Nabucodonosor, estupefacto, levantou-se repentinamente, dizendo para os seus conselheiros: «Não foram três homens, atados de pés e mãos, que lançámos ao fogo?» Responderam eles ao rei: «Com certeza.» «Pois bem – replicou o rei – vejo quatro homens soltos, que passeiam no meio do fogo, sem este lhes causar mal; o quarto tem o aspecto de um filho de Deus.» Nabucodonosor, tomando a palavra, disse: «Bendito seja o Deus de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego! Ele enviou o seu anjo para libertar os seus servos que, confiando nele, expuseram a vida, transgredindo as ordens do rei, antes que prostrarem-se em adoração diante de um outro deus que não fosse o Deus deles. 80 Reflexão Na leitura de hoje, da profecia de Daniel, conta-nos este episódio de Sidrac, Misac, e Abdênago, que se dispuseram ao martírio no momento em que recusaram adorar outro Deus senão o Deus verdadeiro. Esta leitura faz-nos pensar como poderemos ser mártires neste tempo, e amar a Deus como estes três também amaram, confirmando-o com as suas próprias vidas. Vivemos, pela graça de Deus, num tempo em que podemos viver a nossa fé em liberdade… Mas Deus desafia-nos com outros tipos de martírio! Sim martírio! Não propriamente como este ou como os que aconteciam antigamente como vimos bem no filme ‘’Silêncio’’, mas pequenas provações diárias, na nossa vida quotidiana. Em que podemos ‘’dar a vida’’ por amor a Deus nessas mesmas situações! Seja no estudo, em casa com a obediência, nas amizades… S. José Maria Escrivá diz-nos que às vezes um sorriso é mais difícil do que horas de chicotadas. Deus vai-nos ‘‘polindo’’ , aperfeiçoando-nos com essas situações. Como uma obra de arte que antes de o ser, era uma simples pedra. O santo de hoje, São Leopoldo Mandic tinha a saúde muito fragilizada, mas aceitou confiante a cruz da sua doença e foi um herói dos confessionários e, deixando-se polir, ofereceu a Deus tudo o que fazia por amor. Hoje celebramos o dia por ter vivido essa cruz diária. Propostas Proposta de grupo Com um grupo de amigos converso sobre a actualidade do tema do martírio, e como fala diretamente às nossas vidas. Proposta familiar Ao serão, vemos um filme biográfico sobre algum santo mártir e conversamos sobre o mesmo. Proposta individual Escolho um pequeno martírio para viver ao longo do dia. Algo que exija de mim dar a vida, entregar esse pequeno sacrifício a Nossa Senhora fiel e repetidamente ao longo do dia! 81 6 DE ABRIL QUINTA-FEIRA DA SEMANA V Evangelho segundo São João 8, 51-59 “ (…) Jesus respondeu: «Se Eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória nada valerá. Quem me glorifica é o meu Pai, de quem dizeis: ‘É o nosso Deus’; e, no entanto, não o conheceis. Eu é que o conheço; se dissesse que não o conhecia, seria como vós: um mentiroso. Mas Eu conheço-o e observo a sua palavra. Abraão, vosso pai, exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz.» (…) ” Reflexão No evangelho de hoje Jesus responde aos judeus a frase acima. Neste dia debrucemo-nos sobre o privilégio que é acreditar num Deus que nos ama, e num Deus a quem podemos amar! Deus pede-nos que o façamos com humildade, na consciência de que nada fizemos por merecer a fé que recebemos, mas antes que ela nos foi dada gratuitamente (o que nos responsabiliza também a levá-la a quem não a recebeu ainda na sua vida –“Recebestes de graça, dai de graça.”)! Jesus chama-nos, portanto, a vivê-lo com humildade ‘’ (...) Se Eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória nada valerá. Quem me glorifica é o meu Pai (…) ’’. Tudo o que façamos que seja “entre mim e Deus”! Não o façamos à esquina à vista de todos para que todos vejam o bom que sou! E isto aplica-se à fé! Se acreditamos, temos de estar ao lado de todos com um espírito humilde, porque não somos mais do que os outros! Deus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Jesus não disse de si que era “um” caminho, “uma” verdade, “uma” vida possível, mas o único verdadeiro caminho que devemos seguir, a verdade que devemos acreditar e a vida que devemos ansiar! Dizer isto, proclamar Cristo como uma verdade única não se trata de uma soberba, de uma falta de humildade perante as crenças dos outros, mas antes de uma humildade maior, de saber que tudo me foi dado, não sou superior por acreditar, mas que me cabe a mim levar a verdade a quem não a conhece! Façamo-lo como mendigos de mão estendida, que entram em casa de um rico, trazendo apenas agradecimento e humildade! 82 Propostas Proposta de grupo Sem ser impositivo, procuro perceber se há alguém de entre os meus amigos que não acredite, mas cujo coração esteja aberto a ouvir falar de Deus! Procuro mostrar-lhe qual o motivo da minha alegria, “se necessário por palavras”. Proposta familiar Rezo em família por algum familiar ou amigo que não acredite em Deus, rezando ainda pela conversão de todos os pecadores, a começar por nós! Proposta individual Exercito a minha pequenez, a minha humildade. Penso num tema sobre o qual não tenha uma posição muito firme, tendo dificuldade em aceitar totalmente aquilo que a Igreja diz sobre o mesmo. Depois, procuro na internet alguma encíclica ou texto de algum Papa sobre esse tema e leio-o de coração aberto, na humildade de saber que não fui eu que, nos meus X anos de vida, e sem ter pensado e lido a fundo sobre esse tema que descobri aquilo que a igreja, após 2017 anos, ainda há de descobrir. 83 7 DE ABRIL SEXTA-FEIRA DA SEMANA V Evangelho segundo São João 10, 31-42 “ (…) Então, os judeus voltaram a pegar em pedras para o apedrejarem. Jesus replicou-lhes: «Mostrei-vos muitas obras boas da parte do Pai; por qual dessas obras me quereis apedrejar?» Responderam-lhe os judeus: «Não te queremos apedrejar por qualquer obra boa, mas por uma blasfémia: é que Tu, sendo um homem, a ti próprio te fazes Deus.» Jesus respondeu-lhes: «Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses? Se ela chamou deuses àqueles a quem se dirigiu a palavra de Deus - e a Escritura não se pode pôr em dúvida - a mim, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: ‘Tu blasfemas’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de Deus’? Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim; mas se as faço, embora não queirais acreditar em mim, acreditai nas obras, e assim vireis a saber e ficareis a compreender que o Pai está em mim e Eu no Pai.» (…) ” Reflexão Quando olhamos para o comportamento dos Judeus que pretendiam apedrejar Jesus por se dizer Filho de Deus, que mesmo com as suas obras, milagres, com a sua humanidade divina, não acreditaram, vemos em perspectiva a mossa vida, o principal entrave a vivermos inteiramente de amor: o aceitarmos humildemente pertencemos a Deus, que só Nele encontramos a verdadeira felicidade – deixar Deus ser Deus! Esta soberba, este orgulho é um sentimento caracterizado pela pretensão de superioridade. A soberba dos judeus foi tal que os levou à arrogância e depois ao ódio. De tal modo que apedrejaram Deus feito homem, tal era a sua cegueira. Esta tentação parece constante nas nossas vidas e, na verdade não depende de nós que ela desapareça. A nossa reacção à mesma é que deve ser dominada, porque depende só de nós. Nós sentimos, mas não devemos consentir! É algo que serve para nos santificar. Por exemplo, o Pedro toca muita bem viola, e isso irrita-me profundamente porque nunca soube e queria aprender. Para além disso nunca fui com a cara dele e comecei a criar um ódio interior, por 84 puro orgulho. Sem o conhecer verdadeiramente, não gostava dele, nem muito menos o amava. Ora Jesus Cristo diz-nos expressamente: que vantagem temos em gostar dos que já nos amam, dos que têm a ver connosco, dos que estão na nossa zona de conforto? Deus chama-nos a amar com mais fervor pessoas como o Pedro! Amar sim! Vencer esta parede de orgulho, porque é algo nos impede de amar, que nos tira liberdade para amar! Não precisamos de gostar, são coisas diferentes, mas amar. Amar é querer o céu do Pedro! Propostas Proposta de grupo Penso em algum amigo com uma característica que me provoque alguma inveja ou irritação. Vou elogiá-lo precisamente por essa característica. Muitas vezes achamos que se os outros estiverem menos confiantes de si, eu estarei mais confiante de mim por oposição... hoje provo que acontece precisamente ao contrário! Proposta familiar Converso com alguém em casa sobre algum traço da sua personalidade que me irrite mais. Não necessariamente com o propósito de o corrigir, mas antes de partilhar com ele a minha dificuldade em amá-lo por inteiro. Juntos, procuramos trabalhar na nossa relação! Proposta individual Rezo por todos aqueles que me irritam, que me causam desconforto. Nome a nome, um por um! 85 8 DE ABRIL SÁBADO DA SEMANA V Leitura do Livro de Ezequiel 37, 21-27 Assim fala o Senhor Deus: Eis que Eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações, por onde se dispersaram; vou reuni-los de toda a parte e reconduzi-los ao seu país. Farei deles uma só nação na minha terra, nas montanhas de Israel, e apenas um rei reinará sobre todos eles; nunca mais serão duas nações, nem serão divididos em dois reinos. Não se mancharão mais com os seus ídolos e nunca mais cometerão infames abominações. Eu os salvarei das suas rebeldias, pelas quais pecaram, e os purificarei; eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus. Caminharão segundo os meus preceitos, observarão os meus mandamentos e os porão em prática. (...) Farei com eles uma aliança de paz; será uma aliança eterna; Eu os estabelecerei e os multiplicarei; e colocarei o meu santuário no meio deles estará sempre. A minha morada será no meio deles. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.» Reflexão Desde o início de toda a Criação que Deus vai estabelecendo alianças com o Seu povo para o conduzir nos Seus caminhos e leválo até Si. Pela boca do profeta Ezequiel, o Senhor diz ao povo de Israel: «Eu os salvarei das suas rebeldias, pelas quais pecaram, e os purificarei; eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus.» É a promessa que o Senhor hoje nos dirige a cada um de nós. O Senhor é o nosso Deus, e nós o Seu povo. «Caminharão segundo os meus preceitos, observarão os meus mandamentos e os porão em prática». Esta aliança pressupõe um compromisso da nossa parte, observar os mandamentos do Senhor e pô-los em prática. Nesta aliança que temos com Deus, Ele responde à nossa infidelidade com a constância da Sua fidelidade. Assim, viver de amor não é outra coisa senão responder ao amor de Deus. Apesar da exigência do desafio que nos é proposto, conforta-nos uma alegria imensa: a de nos sabermos de Deus, que nos guia nos Seus caminhos, nos guarda e purifica. 86 Propostas Proposta de grupo Hoje rezo com a Igreja o salmo 91: Deus é o meu amparo Deus é o meu amparo O que habita sob a protecção do altíssimo e mora à sombra do omnipotente, pode exclamar ao Senhor: Vós sois o meu refugio e a minha cidadela, o meu Deus em quem confio Ele há-de me livrar da armadilha do caçador, como peste maligna. Com as suas penas há-de me proteger, debaixo das suas asas encontrarei refúgio; a sua fidelidade é um escudo e uma couraça. Não temerei o terror da noite, nem a seta que voa durante o dia. Nem a peste que alastra nas trevas, ou flagelo que tudo destrói ao meio dia. Podem cair mil à minha esquerda e dez mil a minha direita; que eu não serei atingido basta que abra os olhos logo verei a recompensa dos ímpios. O Senhor é o meu único refugio, o Altíssimo o meu único auxilio. Nenhum mal me acontecerá a epidemia não tocará a minha tenda. É que ele deu ordens aos seus anjos para me protegerem em todos ao caminhos. Tomar-me-ão nas palmas das mãos, não aconteça ferir, nas pedras os meus pés. Poderei caminhar por cima de serpentes e víboras, calcar aos pés leões e dragões. Porque que acredito nele salvar-me-ei, Defender-me-á porque conheço o seu nome. Quando o evocar há-de me responder, 87 aquando da angustia estará ao meu lado, para me salvar e para me honrar. Há-de me saciar com dias longos, há-de me mostrar a minha salvação. Ámen Proposta familiar Proporciono um momento de oração todos juntos em que lemos a leitura de hoje e a reflexão, seguida de uma dezena em família. Proposta individual Hoje é o dia de renovar esta aliança com o Senhor. Ele quer ser o meu Deus e quer que eu seja o Seu povo. Para isso, preciso deixar que Ele me conduza, segundo os Seus preceitos, de observar os Seus mandamentos e pedir a Sua misericórdia perante a minha fraqueza. Procuro conhecer as 14 obras de misericórdia e realizar um exame de consciência confrontando-as com o que tem sido a minha vida. Tenho sido rosto desta misericórdia que recebi? 88 89