4 | PORTO ALEGRE, DOMINGO , 20/06/2004 REPORTAGEM ESPECIAL ZERO HORA Graças ao avanço da medicina, eles controlaram o vírus que carregam desde o nascimento. Agora travam outra luta: contra Os HERDEIROS DA AIDS chegam FOTOS PAULO FRANKEN/ZH LETÍCIA DUARTE – Já foi difícil morrer de Aids. Hoje, o mais difícil é viver com Aids. O preconceito Eles não se sentem diferentes dos cole- é muito grande – diz a pediatra Carmem gas, mas têm consciência de que a norma- Lúcia Oliveira da Silva, especialista no tralidade se mantém às custas de um segre- tamento de crianças com HIV e responsável do. Nem amigos nem namorados sabem pelo primeiro diagnóstico de transmissão por que tomam até nove comprimidos ao vertical do HIV no Estado, em 1986. Protegida sob o manto do sigilo e com a dia desde a infância. Dizem não temer a carga viral controlada, essa geração pode morte, mas têm dificuldade de fazer plapassar despercebida. Como todo adolesnos de futuro, como escolher profissão. cente, os soropositivos estudam, namoais do que adolescentes soropositivos, ram, praticam esportes. Mas experieles são sobreviventes. A primeira mentam angústias particulares, em geração que nasceu com a herança da Aids meio a um período de crises e transfore resistiu. Herdeiros que converteram a en- mações naturalmente complicadas. Em tão sentença de morte em desafio de vida. vez de deixar o cabelo crescer ou pintá-lo Há pouco mais de uma década, todos os de verde, por exemplo, um dos sinais de bebês que adquiriam o HIV durante a ges- rebeldia observados entre esses jovens é tação morriam antes de ultrapassar a infân- deixar de tomar os medicamentos. cia. Esta reportagem revela vidas salvas pe- Embora tenham consciência do uso lo avanço da medicina mas ainda não liber- do preservativo, não costumam retas do estigma do vírus, acompanhante in- velar aos parceiros sua condição. Um comportamento que alimendesejado dos dilemas da adolescência. São histórias como a de Luciana, Felipe, ta o pacto de segredo. – Até pouVanessa, Aline, Carlos, co tempo, incluídos entre os pionem se proneiros dessa geração. À família do paciente nunciava a Adolescentes de 13, palavra futu16, 18 anos, que nasce- ● Nunca omita o diagnóstico, o silêncio ram em uma época em dentro da familiar prejudica o tratamento e o ro. É um processo a ser que os tratamentos en- enfrentamento do problema construído – anagatinhavam. Todos são ● Não alimente um ciclo de culpa, o vírus órfãos da Aids e só en- não se restringe a um grupo social particular lisa o pediatra Edmundo Cardoso, do frentaram o vírus após Serviço Especializado o nascimento. Não ti- ● O ideal é falar sobre Aids com a criança do Hospital Criança veram a chance da pre- desde a infância, em uma linguagem que Conceição. venção a partir de um ela entenda. A fantasia sobre o Ao mesmo tempo em exame pré-natal, mas desconhecido é sempre pior do que o que acelera o amadurehoje desfrutam avan- enfrentamento de um problema concreto ços da medicina para ● Se há o temor de que a criança espalhe o cimento, a condição de soropositivo implica priconter o inimigo ínti- diagnóstico em ambientes inadequados, vações. A começar pelo mo. uma estratégia é exercitar a manutenção de Eles ainda não estão segredos entre a família. Comece contando próprio corpo. Pesquidiscriminados nas esta- pequenos segredos, como atos ou histórias sas indicam que as crianças com Aids crestísticas, ficando diluí- de algum familiar, e peça para a criança cem menos, ficando até dos entre os 5.597 guardar oito centímetros abaixo adolescentes brasileido que poderiam alcanros de 13 a 19 anos ● Converse sobre a importância da autoçar em condições norque têm o HIV, por di- estima e dos projetos de futuro ferentes tipos de trans- Fontes: enfermeira Neiva Wachholz, mestre em epidemiologia, e mais. Paralelamente, há psicóloga Lisiane Winkler, do serviço de Assistência uma tentativa das famímissão, como transfuEspecializada em DST/Aids da prefeitura de Porto Alegre lias de retardar a sexuasão e relação sexual. lidade desses adolescenA única certeza é de que essa geração vem se multiplicando. O tes, tratando-os como crianças. O psicólogo marco da virada na luta contra a doença Claudio Picazio, consultor do Programa Naocorreu a partir de 1996, quando a rede pú- cional de DST/Aids do Ministério da Saúde, blica de saúde começou a oferecer o coque- adverte que o cenário exige a revisão de tel contra o HIV e tratamento para as ges- conceitos pela sociedade. – Há muita tensão sobre a sexualidade. tantes soropositivas. Enquanto, de 1988 a 1992, 73,5% dos brasileiros nascidos com o Essas crianças estão crescendo, e agora? A dificuldade em lidar com o tema é tanvírus iam a óbito antes dos cinco anos, no final da década de 90 essa taxa caiu para ta que são comuns casos de famílias que es35,8%. Somente nos quatro principais am- condem o diagnóstico do paciente. Exibulatórios de adolescentes com HIV na Ca- gem que tomem medicação, mas nunpital, nos hospitais de Clínicas, Santa Casa, ca falam abertamente do problema. Conceição e Serviço de Assistência Espe- Tentando preservar o adolescente, cializada em DST/Aids da prefeitura, apro- negam a ele um espaço para parximadamente 160 pacientes acima de 12 tilhar de seus dramas. Com suas identidades preservadas por noanos hoje são acompanhados. A popularização dos tratamentos vem mes fictícios, nas páginas a sepermitindo que esses adolescentes tenham guir jovens soropositivos revequalidade de vida e já não tenham limitado- lam o que escondem de todos. – Se alguém souber que eu teres em sua longevidade. Diante do avanço científico, o que mais assusta não é a mor- nho Aids, minha vida acaba – afirte. É a discriminação. O avanço da enfermi- ma Luciana, 18 anos. dade pode ser controlado com medicamentos. Para o preconceito, não há remédio. [email protected] M Recuperação: aos seis, Felipe morreria em “questão de horas”, segundo médicos Coquetel revoga sentença de morte A baixa quantidade de vírus no organismo é mantida pela combinação de nove comprimidos diários, tomados entre as 7h da manhã e as 24h. Uma rotina regrada, sagrada. Para não despertar suspeita entre os amigos, Felipe costuma tirar o rótulo dos remédios. Quando perguntado sobre o porquê de tantos medicamentos, desconversa, alegando outros males. Mesmo com a reapropriação da saúde, Felipe não faz planos. Não revela sonhos, não pensa em profissão. Marcas do histórico de lutas, em que cada dia é uma vitória. A proximidade da morte trouxe ao adolescente um amadurecimento prematuro, mas não lhe roubou prazeres naturais da idade. Como todo adolescente, intercala estudos com paqueras, música, jogos de bola. Só não pode passar mais de sete horas sem ingerir um comprimido. Às vezes esquece, e aí surge a dor de cabeça, lembrando o que ele gostaria de esquecer. “ Felipe, 13 anos “ Vítima de crises agudas de pneumonia, sarampo, catapora, aos seis anos Felipe recebeu diagnóstico de morte eminente. Tinha apenas duas CD4, células responsáveis pelo sistema de defesa do organismo. Precisaria ter pelo menos 500. Os médicos disseram que seria uma questão de horas. O menino sobreviveu. No mesmo ano, assistiu à morte da mãe, que contraíra o HIV antes de seu nascimento, em um estupro. Mas essa não é uma história de sofrimento. É uma trajetória de superação. Graças ao tratamento contra o vírus iniciado naquela época, o adolescente que hoje tem 13 anos recuperou sua imunidade. O tratamento com o coquetel de remédios reduziu a quantidade de vírus em seu organismo a tal ponto que, se Felipe fizer um exame de HIV hoje, a amostra será negativa. Tem menos de 50 cópias do vírus por mililitro de sangue, quantidade indetectável. Não gosto muito de pensar nisso. Quando falam em Aids, sempre fico quieto, para ninguém me notar, mas noto o preconceito. PORTO ALEGRE, DOMINGO , 20/06/2004 |5 os dilemas da juventude agravados pelo estigma da doença à adolescência Às escolas ● O diagnóstico só deve ser revelado a outros estudantes ou pais se houver interesse da família da criança ● Professores não devem omitir juízo de valor sobre a doença ou formas de transmissão. O importante é reforçar atitudes de prevenção sobre a doença ● Antes de tomar posição ou transmitir informações sobre o vírus, educadores devem se atualizar sobre Aids ● O aluno deve ser tratado como portador de uma doença crônica, semelhante a diabetes e câncer ● Em geral, crianças e adolescentes que têm o vírus da Aids não têm restrições para qualquer atividade escolar, podendo praticar esportes e conviver normalmente ● Quando alguém se machucar, a pessoa que atender deve utilizar luvas descartáveis. Qualquer um pode ter uma doença transmissível pelo sangue Fontes: psicólogo Cláudio Morais, especialista em sexualidade, adolescentes e HIV e consultor do Ministério da Saúde, pediatra Carmem Lúcia Oliveira da Silva, especialista em tratamento de Aids em crianças do Hospital de Clínicas, e pediatra Edmundo Cardoso, do Hospital Criança Conceição Ao chegar ao Hospital da Criança Conceição, Vanessa, 12 anos, se dirige à marcação de consultas de exames, para a análise do comportamento do vírus em seu organismo. Repara que todos na sala de espera a observam. O que mais dói são as palavras de uma desconhecida que ouve sua conversa com a atendente. – Tão novinha e já está contaminada? – questiona, em tom de reprovação pela suposta conduta sexual da menina. Intimidada, constrangida, Vanessa baixa a cabeça e se cala. Sente que a sociedade não está preparada para lidar com a sua geração. – Quando chego ao hospital, fica todo mundo me olhando, vejo que as pessoas têm nojo de mim, parece que sou um animal – lamenta. Antes mesmo de saber que tinha o HIV, aos 10 anos, Vanessa se sentia diferente das outras crianças. Testemunhou todo o calvário da mãe, que morreu com menos de 20 quilos. Lembra dela pedindo socorro, sem poder comer sólidos, desejando o próprio fim. Vanessa sabe do que a Aids é capaz. Do sofrimento do passado, extrai a convicção de que não repetirá o mesmo drama. – Me sinto bem, acho que até eu querer casar e ter filhos vão descobrir remédios para curar isso. Só fico sem jeito porque todo mundo pensa que eu já transei, e nem penso nisso – diz. O que incomoda Vanessa também preocupa os especialistas. Há consenso de que nem a própria rede de saúde está capacitada para lidar com os novos caminhos da Aids, tratando-a como uma doença crônica. – A gente também está tendo de aprender, a travessia desses adolescentes é também a travessia do sistema de saúde. Também estamos cheios de dúvidas – diz o pediatra Edmundo Cardoso, do Hospital Criança Conceição. Um dos desafios é criar um vínculo maior com os adolescentes, para evitar o abandono do tratamento. – A adolescência é uma fase de quebrar regras, testar limites, e para esses adolescentes um dos testes é parar com os remédios. Temos de criar estratégias para evitar isso– avalia a psicóloga Lisiane Winkler, do Serviço de Assistência Especializado da prefeitura de Porto Alegre. “ Carlos, 16 anos “ Rede de saúde não está adaptada É ruim ter de estar sempre escondendo as coisas. Gosto da minha vida. Mas, se não tivesse o vírus, seria bem melhor. Recomeço: expulso da escola por causa da doença, Carlos refez sua rotina, sem rancor Desinformação freqüenta a sala de aula deixam a pessoa com problemas na cabeça. – Quando ouvi aquilo da professora, tive vontade de sumir do mundo – relata Aline, 13 anos. Longe de ser exceção, as duas situações evidenciam o despreparo de educadores para lidar com o tema. Para combater o problema, o Ministério da Saúde planeja lançar, no segundo semestre, um manual com orientações a profissionais. Com o mesmo objetivo, a Secretaria Estadual de Saúde prepara um programa de capacitação para as redes de educação e saúde. – As escolas precisam repensar seu papel. A Aids não deve ser vista como anormalidade – diz a coordenadora do departamento de DST/Aids do Estado, Geralda Rigotti. As medidas chegam tarde para Carlos, mas devem frear o preconceito impregnado em práticas e currículos escolares. O adolescente não cultiva rancores, só quer ter uma rotina normal. Toma cinco comprimidos diariamente e nunca desenvolveu sintomas. Enquadrado no perfil de sua geração, tem porte físico pequeno, 1m55cm. Perdeu o pai e a mãe aos três anos, vítimas da Aids. Apesar das agruras, não se sente em desvantagem. Só lamenta ter duas vidas, uma pública e outra em segredo. – É ruim ter de estar sempre escondendo as coisas. Gosto da minha vida. Mas, se não tivesse o vírus, seria bem melhor. Aline ainda sofre no mesmo colégio, temendo novas abordagens equivocadas, mas tem a favor de si a experiência pessoal, mais forte que o preconceito. Começou o tratamento aos quatro anos e, desde então, resgatou a qualidade de vida. – A gente vive falando em futuro, aí vem a escola e estraga tudo. Parece que vivem num conto de fadas, pensando: na escola Aline: quando ouviu da professora que a morte era certa, teve vontade de “sumir no mundo” não tem isso – critica uma tia de Aline. Quando foram fazer a rematrícula na escola particular onde o estudante havia concluído a 7ª série, Carlos e sua avó levaram um choque. A diretora da instituição religiosa disse que não havia mais vaga. Sem meias palavras, explicou o motivo : – Ela disse na minha frente que eu não poderia mais estudar lá por causa do meu problema, que poderia prejudicar outros alunos – recorda o garoto, aos 16 anos. A família imagina que a escola descobriu o vírus a partir da conferência de atestados médicos apresentados pelo aluno a cada três meses, como comprovação de ausências para realização de exames de controle do HIV. Revoltada, registrou na delegacia queixa contra discriminação, mas os trâmites burocráticos os distanciaram de um processo judicial. Hoje Carlos cursa o 1º ano em um colégio público, que ignora sua condição. Outra escola, outro bairro, outra série. Uma professora fala sobre Aids para estudantes da 6ª série de um colégio estadual: – HIV é morte na certa. Esse coquetel é só para prolongar um pouco a vida, mas não evita nada e têm efeitos colaterais que SEGUE REPORTAGEM ESPECIAL 6 | PORTO ALEGRE, DOMINGO, 20/06/2004 ZERO HORA O índice de mortalidade decorrente da epidemia no Rio Grande do Sul, que em 1986 era de 88,89%, caiu para 10,99% A Aids virou doença CRÔNICA “ A 1 Transportado por sangue, sêmen, secreções vaginais e leite materno, o HIV atinge o sistema imunológico do organismo, responsável pela proteção contra infecções 2 O HIV ataca um tipo de glóbulo branco (célula de defesa) chamado CD4 3 O vírus HIV aloja seu genes no DNA da célula CD4 atingida e passa a utilizá-la para se multiplicar. Quando essa célula começa a se reproduzir, partes do vírus também são reproduzidas 4 As partes do vírus se unem perto da parede celular, originando um novo vírus HIV Durante o processo, as células CD4 acabam morrendo. Com a redução, o organismo começa a perder a capacidade de combater doenças Material genético do vírus Núcleo da célula 4 2 3 DNA do vírus 1 Genes do vírus acopla-se ao DNA da célula Novo vírus 7 À rede de saúde CD4 Fonte: Ministério da Saúde “ mudança de perspectiva é men- Carmem Lúcia surada em nú- Oliveira da Silva, meros. No Estado, a taxa de pediatra mortalidade peCom os lo vírus encontra-se no nível tratamentos que mais baixo da existem hoje, a História, com índice de gente imagina 10,99%. Em que essa geração 1986, a taxa chegava a que nasceu com 88,89%. Das o HIV poderá 7,2 mil crianças nascidas com o envelhecer, HIV entre 1983 casar, ter filhos e 2000 no país, o percentual de mortes caiu de 90,5%, em 1985, para 15,8%, em 2001. Desde o primeiro diagnóstico de Aids no país, em 1980, até o ano passado, 310 mil brasileiros contraíram o HIV. Desses, 48,8% morreram, num contingente de 8.862 gaúchos. Desde 1999, porém, a taxa nacional de mortalidade se mantém estável. A média está em 6,3 óbitos por 100 mil habitantes, depois de ter alcançado seu pico mais alto em 1995, com taxa de 9,7 óbitos por 100 mil habitantes. Conseqüência da política de prevenção e tratamento universal do Ministério da Saúde, a partir de 1996, a redução na mortalidade se traduz em esperança para crianças e adultos. – Com os tratamentos que existem hoje, a gente imagina que essa geração que nasceu com o HIV poderá envelhecer, casar, ter filhos. A sociedade vai ter de se acostumar com essa nova realidade, porque será cada vez maior o número de soropositivos no convívio social – afirma a pediatra Carmem Lúcia Oliveira da Silva, especialista no tratamento de crianças com HIV e consultora do Ministério da Saúde. Escudo: coquetel dá aos infectados a expectativa de viverem décadas, e com qualidade Um hóspede devastador PAULO FRANKEN/ZH O desenvolvimento da primeira geração de adolescentes a crescer com o HIV evidencia o novo perfil da doença. Abandonando o estigma da morte, hoje a Aids é considerada uma enfermidade crônica, como diabetes e câncer. Sim, é possível viver com o vírus. Por décadas. E com saúde. O vírus HIV Como os remédios enfrentam o vírus À medida que o vírus progride, o número de células CD4 cai. Um sistema imunológico saudável tem de 500 a 1,2 mil células CD4 por ml de sangue. O paciente tem Aids quando o número se torna inferior a 200 O coquetel de medicamentos desacelera a produção das células CD4, reagindo à doença. É possível reduzir a carga viral no organismo, mas ainda não eliminar o vírus no organismo No Rio Grande do Sul, seguindo tendência no país, diminuiu a proporção de morte entre os infectados: 1983 1985 94 1997 452 939 2.753 2.029 1.381 até 1995 2.312 Total (1983-2003) 25.275 1990 1993 1995 1997 2000 Óbitos 3.839 2003 Total (1983-2003) 948 770 821 1996 1997 ● Criar serviços de escuta ativa para adolescentes, com uma equipe interdisciplinar ● Oferecer suporte para a família/cuidador com relação ao processo saúde/doença, crescimento e desenvolvimento ● Reforçar o enfoque positivo e educativo das campanhas. O que é impulsionado pelo medo não surte efeito. Iniciativas que deram certo: Inversão de escalada Contágios 15 3 ● Capacitar a equipe de saúde para o aconselhamento e a revelação do diagnóstico a crianças e adolescentes com HIV 727 1998 1999 663 2000 409 431 2001 2002 8.862 254 2003 ● No Hospital da Criança Conceição, uma das estratégias criadas para reforçar a adesão ao tratamento foi a criação do chamado Clube da Criança. Desde o início do ano, o grupo reúne soropositivos e familiares da mesma idade aos sábados, uma vez por mês, para atividades de lazer com finalidades educativas. ● No Hospital de Clínicas, foi montado um grupo de adolescentes que convivem com o HIV. Mensalmente, os pacientes se encontram com médicos para discutir questões como sexualidade e desenvolvimento do corpo Fontes: psicólogo Cláudio Morais, consultor do Ministério da Saúde, médica de adolescentes Lilian Day Hagel, da Clínica para Adolescentes do Serviço de Pediatria do Hospital de Clínicas e coordenadora da Unidade de Atenção ao Adolescente do Hospital Conceição, e pediatra Edmundo Cardoso, do Hospital Criança Conceição Tire suas dúvidas ● Qual o risco de uma criança nascida de uma mãe infectada por HIV ser contaminada pelo vírus? Depende dos cuidados que a mãe tiver consigo e com o bebê. Ela precisa fazer o acompanhamento pré-natal e tomar a medicação prescrita pelo seu médico. Com o tratamento, é possível fazer que a carga viral se reduza a ponto de ficar indetectável, e assim o risco de transmissão para o bebê fica em torno de 1%. ● Há diferença na manifestação de sintomas em crianças e adultos? Sim. A criança se infecta no útero ou no pós-parto (por leite materno), quando seu sistema imunológico ainda está imaturo. A infecção pelo HIV impede que desenvolva a chamada memória imunológica, que é a capacidade de reconhecer um microorganismo a partir do primeiro contato com ele. Assim, cada vez que entrar em contato com uma determinada bactéria que causa diarréia, por exemplo, vai ter um quadro de gastroenterite. Por isso as crianças costumam ter infecções de repetição. Quem se infecta quando adulto tem seu sistema imunológico pronto, por isso as manifestações mais comuns são as infecções oportunistas. ● Por que os soropositivos crescem menos? O crescimento depende de fatores, como bom sono (pois o o hormônio atua à noite), boa alimentação, ausência de doenças paralelas e atividade fisica. Em geral, as pessoas nascem com uma carga genética, que varia oito centímetros para mais ou para menos na altura final. Como o uso de medicação interfere no metabolismo, e essas crianças nem sempre têm qualidade de vida adequada, tendem terem reduzida sua curva do crescimento para baixo. ● Qualquer paciente soropositivo pode conter o avanço de sua carga viral se seguir o tratamento? Cada caso tem sua particularidade, mas com os medicamentos é possível reduzir a quantidade de vírus Disque-Aids no organismo a menos de 50 cópias por mililitro, valor indetectável, que nem chega (informações sobre DST/Aids) a aparecer nos exames. Se a pessoa deixar de tomar os Informações remédios ou tomar diferente do prescrito (em horários irregulares, por exemplo), a quantidade de vírus volta a aumentar. 0800-5410197 www.aids.gov.br www.adolesite.aids.gov.br ● Qual a expectativa de vida do bebê que nasce com HIV? Atualmente, com o uso de esquemas combinados de terapêutica anti-retroviral, as crianças têm boas chances de vida longa, traçando planos para o futuro. O diálogo aberto na família, sem mentiras e segredos, é um dos fatores mais importantes para isso, pois assim o adolescente pode discutir com a equipe médica riscos e cuidados necessários. ● Homens e mulheres têm diferentes formas de contágio? Sim. Pela natureza da relação, a quantidade de secreção masculina que fica na mulher após o ato sexual é muito maior do que a quantidade de secreção feminina que fica no homem. Esse é um dos motivos por que a mulher corre mais riscos ao ter uma relação sem preservativo. ● Se uma mulher que não tenha o vírus engravidar de um soropositivo, o filho terá o vírus? O vírus passa para a criança durante a gestação, parto ou pós-parto (pelo leite materno). Esse vírus vem da mãe. O fato de ela engravidar de um soropositivo não significa que necessariamente está contaminada. Se ela não está infectada, não há como infectar o filho. Fontes: pediatra Carmem Lúcia Oliveira da Silva, especialista no tratamento de crianças com HIV e consultora do Ministério da Saúde e médica para adolescentes Lilian Day Hagel, coordenadora da Clínica para Adolescentes do Serviço de Pediatria do Hospital de Clínicas | GERAL ZERO HORA PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 21/06/2004 | 33 PAULO FRANKEN/ZH OS HERDEIROS DA AIDS Ver doença como tabu afeta crianças soropositivas 49% das famílias não seguem o tratamento contra o HIV Pesquisa inédita sobre adesão ao tratamento entre as crianças soropositivas, realizada em Porto Alegre, chegou a uma conclusão alarmante: 49% das 194 famílias entrevistadas não seguem o tratamento prescrito. O índice preocupa porque a única maneira de combater o avanço dos malefícios provocados pelo vírus da Aids é uma rígida adesão aos medicamentos. Um atraso de uma hora nos horários recomendados é suficiente para pôr em xeque os esforços na luta contra o HIV. estudo foi realizado pela enfermeira Neiva Wachholz, mestre em Epidemiologia, nos principais serviços de atendimento a crianças soropositivas da Capital. Entre crianças cuidadas por pais biológicos, o percentual de nãoadesão alcançou 58,7%, enquanto nas crianças que vivem em instituições 22,2% não tomavam os remédios. Segundo Neiva, que integra o serviço de Assistência Especializada em DST/Aids da prefeitura de Porto Alegre, diversos fatores contribuem para o índice, como a dificuldade em incluir o conjunto de medicamentos na rotina e os efeitos colaterais provocados pelos remédios, como dor de cabeça e náuseas. Um dos agravantes é o silêncio na própria família sobre a doença. O – Muitas vezes, circula na família um sentimento de culpa pela criança ter a doença, então não se toca no assunto nem revela o diagnóstico. Aí fica difícil convencer as crianças a tomarem os remédios se elas acham que não estão doentes – analisa. O estudo mostra que o patamar de crianças que seguem fielmente o tratamento, de 51%, é bastante inferior à média nacional global. Pesquisa encomendada pelo Programa Nacional de DST/Aids, divulgada na semana passada, mostrou um patamar de 73% dos 1.972 entrevistados, de todas as idades, tomavam 95% ou mais do total de comprimidos que deveriam ser ingeridos nos três dias que antecederam a entrevista. A pesquisadora gaúcha acredita que essa diferença se explique pela particularidade do HIV entre crianças, que dependem de intermediários para o controle da ingestão dos remédios. O índice é visto como um desafio para a rede de saúde. – Foi assustador o índice que encontramos, e ele sugere que existe uma falha. Aderir ao tratamento não é só usar medicamento, tem de representar um comprometimento na forma de encarar a doença. Os profissionais precisam criar estratégia de reforçar os vínculos para assegurar os medicamentos – analisa Neiva. A pediatra Carmem Lúcia Oliveira da Silva, responsável pelo ambulatório de atendimento a crianças soropositivas do Hospital de Clínicas e consultora do Ministério da Saúde, concorda. E orienta as famílias a supervisionarem o uso da medicação, mesmo entre os adolescentes. – Isso não pode ser um processo independente, eles precisam ser lembrados e cobrados. Não adianta ter os remédios e tomar em horários irregulares, porque esses horários não são ao acaso, consideram os tempos que os remédios deixam de fazer efeito – alerta. [email protected] “ LETÍCIA DUARTE “ O que diz o psicólogo Claudio Picazio: Se a gente acredita no sexo seguro, na camisinha, é preciso confiar. O mundo cobra que esses adolescentes contem a verdade. Mas, se eles contam, são rejeitados. ZERO HORA ■ REDAÇÃO Av. Ipiranga, 1075, Porto Alegre Fone: (51) 3218-4300. Fax: (51) 3218-4799. ■ COMERCIAL Av. 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O medo de transmitir o vírus a aflige. Sabe que não seria perdoada. Namorando há um ano e meio, não teve coragem de contar para o parceiro que é soropositiva. Tem dúvidas se ele a aceitaria. O preservativo é sua segurança. – Me sinto mal porque eu não tenho nenhuma culpa de ter pego, mas sei que, se eu transmitisse, a pessoa teria raiva de mim pelo resto da vida. Queria contar tudo, mas o preconceito é muito grande. O importante é se cuidar. Especialistas como a pediatra Carmem Lúcia de Oliveira da Silva, do Hospital de Clínicas, e o psicólogo Claudio Picazio, concordam que o fundamental é o autocuidado e a prevenção. Entre qualquer casal. – Se a gente acredita no sexo seguro, na camisinha, é preciso confiar. O mundo cobra que es- ses adolescentes contem a verdade. Mas, se eles contam, são rejeitados – analisa Claudio. Aos 18 anos, Luciana se confronta com os desafios do mundo adulto. Cursa o 3º ano do Ensino Médio, está em busca de emprego e se prepara para o vestibular. Tenta levar uma vida normal, não pensar na doença. – Se eu ficar achando que não posso fazer nada porque vou ficar doente, aí fico mesmo. Não sou uma bonequinha de porcelana – diz. Ela pretende escolher uma carreira na área de ciências humanas, quer ajudar os outros. Enquanto isso, pretende trabalhar em uma loja, algum escritório. Desde março dedica as tardes para deixar currículos em empresas. Repetindo uma trajetória comum a jovens brasileiros, até agora não conseguiu nada. Não se acha uma vítima, sabe que a situação é difícil para todos. Assembléia Geral dos médicos de Alvorada e Cachoeirinha O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul convoca os médicos do Hospital de Alvorada e do Hospital Padre Jeremias, de Cachoeirinha, para a Assembléia a realizar-se hoje, segunda-feira, no anfiteatro do SIMERS, na rua Cel. Corte Real, 975, 3º andar, às 19h em primeira convocação, e às 19h30 em segunda e última chamada, a fim de discutir e deliberar os seguintes assuntos: 1º Avaliação da proposta patronal. 2º Definição do encaminhamento da greve. 3º Assuntos gerais. Porto Alegre, 21 de junho de 2004. Dr. Paulo de Argollo Mendes Presidente do SIMERS Dr. Nauro José Aguiar da Silva Diretor do SIMERS