Coquetel revoga sentença de morte

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4 | PORTO ALEGRE, DOMINGO , 20/06/2004
REPORTAGEM
ESPECIAL
ZERO HORA
Graças ao avanço da medicina, eles controlaram o vírus que carregam desde o nascimento. Agora travam outra luta: contra
Os HERDEIROS DA AIDS chegam
FOTOS PAULO FRANKEN/ZH
LETÍCIA DUARTE
– Já foi difícil morrer de Aids. Hoje, o
mais difícil é viver com Aids. O preconceito
Eles não se sentem diferentes dos cole- é muito grande – diz a pediatra Carmem
gas, mas têm consciência de que a norma- Lúcia Oliveira da Silva, especialista no tralidade se mantém às custas de um segre- tamento de crianças com HIV e responsável
do. Nem amigos nem namorados sabem pelo primeiro diagnóstico de transmissão
por que tomam até nove comprimidos ao vertical do HIV no Estado, em 1986.
Protegida sob o manto do sigilo e com a
dia desde a infância. Dizem não temer a
carga
viral controlada, essa geração pode
morte, mas têm dificuldade de fazer plapassar
despercebida. Como todo adolesnos de futuro, como escolher profissão.
cente, os soropositivos estudam, namoais do que adolescentes soropositivos, ram, praticam esportes. Mas experieles são sobreviventes. A primeira mentam angústias particulares, em
geração que nasceu com a herança da Aids meio a um período de crises e transfore resistiu. Herdeiros que converteram a en- mações naturalmente complicadas. Em
tão sentença de morte em desafio de vida. vez de deixar o cabelo crescer ou pintá-lo
Há pouco mais de uma década, todos os de verde, por exemplo, um dos sinais de
bebês que adquiriam o HIV durante a ges- rebeldia observados entre esses jovens é
tação morriam antes de ultrapassar a infân- deixar de tomar os medicamentos.
cia. Esta reportagem revela vidas salvas pe- Embora tenham consciência do uso
lo avanço da medicina mas ainda não liber- do preservativo, não costumam retas do estigma do vírus, acompanhante in- velar aos parceiros sua condição.
Um comportamento que alimendesejado dos dilemas da adolescência.
São histórias como a de Luciana, Felipe, ta o pacto de segredo.
– Até pouVanessa, Aline, Carlos,
co tempo,
incluídos entre os pionem se proneiros dessa geração.
À família do paciente
nunciava a
Adolescentes de 13,
palavra futu16, 18 anos, que nasce- ● Nunca omita o diagnóstico, o silêncio
ram em uma época em dentro da familiar prejudica o tratamento e o ro. É um processo a ser
que os tratamentos en- enfrentamento do problema
construído – anagatinhavam. Todos são ● Não alimente um ciclo de culpa, o vírus
órfãos da Aids e só en- não se restringe a um grupo social particular lisa o pediatra Edmundo Cardoso, do
frentaram o vírus após
Serviço Especializado
o nascimento. Não ti- ● O ideal é falar sobre Aids com a criança
do Hospital Criança
veram a chance da pre- desde a infância, em uma linguagem que
Conceição.
venção a partir de um ela entenda. A fantasia sobre o
Ao mesmo tempo em
exame pré-natal, mas desconhecido é sempre pior do que o
que acelera o amadurehoje desfrutam avan- enfrentamento de um problema concreto
ços da medicina para ● Se há o temor de que a criança espalhe o cimento, a condição de
soropositivo implica priconter o inimigo ínti- diagnóstico em ambientes inadequados,
vações. A começar pelo
mo.
uma estratégia é exercitar a manutenção de
Eles ainda não estão segredos entre a família. Comece contando próprio corpo. Pesquidiscriminados nas esta- pequenos segredos, como atos ou histórias sas indicam que as
crianças com Aids crestísticas, ficando diluí- de algum familiar, e peça para a criança
cem menos, ficando até
dos entre os 5.597 guardar
oito centímetros abaixo
adolescentes brasileido que poderiam alcanros de 13 a 19 anos ● Converse sobre a importância da autoçar em condições norque têm o HIV, por di- estima e dos projetos de futuro
ferentes tipos de trans- Fontes: enfermeira Neiva Wachholz, mestre em epidemiologia, e mais. Paralelamente, há
psicóloga Lisiane Winkler, do serviço de Assistência
uma tentativa das famímissão, como transfuEspecializada em DST/Aids da prefeitura de Porto Alegre
lias de retardar a sexuasão e relação sexual.
lidade desses adolescenA única certeza é de
que essa geração vem se multiplicando. O tes, tratando-os como crianças. O psicólogo
marco da virada na luta contra a doença Claudio Picazio, consultor do Programa Naocorreu a partir de 1996, quando a rede pú- cional de DST/Aids do Ministério da Saúde,
blica de saúde começou a oferecer o coque- adverte que o cenário exige a revisão de
tel contra o HIV e tratamento para as ges- conceitos pela sociedade.
– Há muita tensão sobre a sexualidade.
tantes soropositivas. Enquanto, de 1988 a
1992, 73,5% dos brasileiros nascidos com o Essas crianças estão crescendo, e agora?
A dificuldade em lidar com o tema é tanvírus iam a óbito antes dos cinco anos, no
final da década de 90 essa taxa caiu para ta que são comuns casos de famílias que es35,8%. Somente nos quatro principais am- condem o diagnóstico do paciente. Exibulatórios de adolescentes com HIV na Ca- gem que tomem medicação, mas nunpital, nos hospitais de Clínicas, Santa Casa, ca falam abertamente do problema.
Conceição e Serviço de Assistência Espe- Tentando preservar o adolescente,
cializada em DST/Aids da prefeitura, apro- negam a ele um espaço para parximadamente 160 pacientes acima de 12 tilhar de seus dramas. Com suas
identidades preservadas por noanos hoje são acompanhados.
A popularização dos tratamentos vem mes fictícios, nas páginas a sepermitindo que esses adolescentes tenham guir jovens soropositivos revequalidade de vida e já não tenham limitado- lam o que escondem de todos.
– Se alguém souber que eu teres em sua longevidade. Diante do avanço
científico, o que mais assusta não é a mor- nho Aids, minha vida acaba – afirte. É a discriminação. O avanço da enfermi- ma Luciana, 18 anos.
dade pode ser controlado com medicamentos. Para o preconceito, não há remédio.
[email protected]
M
Recuperação: aos seis, Felipe morreria em “questão de horas”, segundo médicos
Coquetel revoga sentença de morte
A baixa quantidade de vírus no organismo é mantida pela combinação de nove
comprimidos diários, tomados entre as 7h
da manhã e as 24h. Uma rotina regrada, sagrada. Para não despertar suspeita entre os
amigos, Felipe costuma tirar o rótulo dos
remédios. Quando perguntado sobre o porquê de tantos medicamentos, desconversa,
alegando outros males.
Mesmo com a reapropriação da saúde,
Felipe não faz planos. Não revela sonhos,
não pensa em profissão. Marcas do histórico de lutas, em que cada dia é uma vitória.
A proximidade da morte trouxe ao adolescente um amadurecimento prematuro,
mas não lhe roubou prazeres naturais da
idade. Como todo adolescente, intercala estudos com paqueras, música, jogos de bola.
Só não pode passar mais de sete horas sem
ingerir um comprimido. Às vezes esquece,
e aí surge a dor de cabeça, lembrando o que
ele gostaria de esquecer.
“
Felipe, 13 anos
“
Vítima de crises agudas de pneumonia,
sarampo, catapora, aos seis anos Felipe recebeu diagnóstico de morte eminente. Tinha apenas duas CD4, células responsáveis
pelo sistema de defesa do organismo. Precisaria ter pelo menos 500. Os médicos disseram que seria uma questão de horas. O menino sobreviveu. No mesmo ano, assistiu à
morte da mãe, que contraíra o HIV antes de
seu nascimento, em um estupro.
Mas essa não é uma história de sofrimento. É uma trajetória de superação. Graças
ao tratamento contra o vírus iniciado naquela época, o adolescente que hoje tem 13
anos recuperou sua imunidade. O tratamento com o coquetel de remédios reduziu a
quantidade de vírus em seu organismo a tal
ponto que, se Felipe fizer um exame de
HIV hoje, a amostra será negativa. Tem
menos de 50 cópias do vírus por mililitro
de sangue, quantidade
indetectável.
Não gosto muito de pensar
nisso. Quando falam em
Aids, sempre fico quieto,
para ninguém me notar,
mas noto o preconceito.
PORTO ALEGRE, DOMINGO , 20/06/2004
|5
os dilemas da juventude agravados pelo estigma da doença
à adolescência
Às escolas
● O diagnóstico só deve ser revelado a outros estudantes
ou pais se houver interesse da família da criança
● Professores não devem omitir juízo de valor sobre a
doença ou formas de transmissão. O importante é
reforçar atitudes de prevenção sobre a doença
● Antes de tomar posição ou transmitir informações
sobre o vírus, educadores devem se atualizar sobre Aids
● O aluno deve ser tratado como portador de uma doença
crônica, semelhante a diabetes e câncer
● Em geral, crianças e adolescentes que têm o vírus da
Aids não têm restrições para qualquer atividade escolar,
podendo praticar esportes e conviver normalmente
● Quando alguém se machucar, a pessoa que atender
deve utilizar luvas descartáveis. Qualquer um pode ter uma
doença transmissível pelo sangue
Fontes: psicólogo Cláudio Morais, especialista em sexualidade, adolescentes e HIV e consultor do Ministério da Saúde, pediatra Carmem Lúcia Oliveira da Silva, especialista
em tratamento de Aids em crianças do Hospital de Clínicas, e pediatra Edmundo Cardoso, do Hospital Criança Conceição
Ao chegar ao Hospital da Criança Conceição, Vanessa, 12 anos, se dirige à marcação
de consultas de exames, para a análise do
comportamento do vírus em seu organismo.
Repara que todos na sala de espera a observam. O que mais dói são as palavras de uma
desconhecida que ouve sua conversa com a
atendente.
– Tão novinha e já está contaminada? –
questiona, em tom de reprovação pela suposta
conduta sexual da menina.
Intimidada, constrangida, Vanessa baixa a
cabeça e se cala. Sente que a sociedade não
está preparada para lidar com a sua geração.
– Quando chego ao hospital, fica todo
mundo me olhando, vejo que as pessoas têm
nojo de mim, parece que sou um animal – lamenta.
Antes mesmo de saber que tinha o HIV, aos
10 anos, Vanessa se sentia diferente das outras crianças. Testemunhou todo o calvário da
mãe, que morreu com menos de 20 quilos.
Lembra dela pedindo socorro, sem poder comer sólidos, desejando o próprio fim. Vanessa sabe do que a Aids é capaz. Do sofrimento
do passado, extrai a convicção de que não repetirá o mesmo drama.
– Me sinto bem, acho que até eu
querer casar e ter filhos vão descobrir remédios para curar isso. Só fico
sem jeito porque todo mundo pensa
que eu já transei, e nem penso nisso
– diz.
O que incomoda Vanessa também
preocupa os especialistas. Há consenso de que nem a própria rede de
saúde está capacitada para lidar com
os novos caminhos da Aids, tratando-a como uma doença crônica.
– A gente também está tendo de
aprender, a travessia desses adolescentes é também a travessia do sistema de saúde. Também estamos
cheios de dúvidas – diz o pediatra
Edmundo Cardoso, do Hospital
Criança Conceição.
Um dos desafios é criar um vínculo maior com os adolescentes, para
evitar o abandono do tratamento.
– A adolescência é uma fase de
quebrar regras, testar limites, e para
esses adolescentes um dos testes é
parar com os remédios. Temos de
criar estratégias para evitar isso– avalia a psicóloga Lisiane Winkler, do
Serviço de Assistência Especializado
da prefeitura de Porto Alegre.
“
Carlos, 16 anos
“
Rede de saúde
não está adaptada
É ruim ter de estar sempre
escondendo as coisas.
Gosto da minha vida.
Mas, se não tivesse o vírus,
seria bem melhor.
Recomeço: expulso
da escola por causa
da doença,
Carlos
refez sua
rotina, sem rancor
Desinformação freqüenta a sala de aula
deixam a pessoa com problemas na cabeça.
– Quando ouvi aquilo da professora, tive
vontade de sumir do mundo – relata Aline,
13 anos.
Longe de ser exceção, as duas situações
evidenciam o despreparo de educadores para lidar com o tema. Para combater o problema, o Ministério da Saúde planeja lançar, no segundo semestre, um manual com
orientações a profissionais. Com o mesmo
objetivo, a Secretaria Estadual de Saúde
prepara um programa de capacitação para
as redes de educação e saúde.
– As escolas precisam repensar seu papel.
A Aids não deve ser vista como anormalidade – diz a coordenadora do departamento
de DST/Aids do Estado, Geralda Rigotti.
As medidas chegam tarde para Carlos,
mas devem frear o preconceito impregnado
em práticas e currículos escolares. O adolescente não cultiva rancores, só quer ter
uma rotina normal. Toma cinco comprimidos diariamente e nunca desenvolveu sintomas. Enquadrado no perfil de sua geração, tem porte físico pequeno, 1m55cm.
Perdeu o pai e a mãe aos três anos, vítimas
da Aids. Apesar das agruras, não se sente
em desvantagem. Só lamenta ter duas vidas, uma pública e outra em segredo.
– É ruim ter de estar sempre escondendo
as coisas. Gosto da minha vida. Mas, se
não tivesse o vírus, seria bem melhor.
Aline ainda sofre no mesmo colégio, temendo novas abordagens equivocadas, mas
tem a favor de si a experiência pessoal,
mais forte que o preconceito. Começou o
tratamento aos quatro anos e, desde então,
resgatou a qualidade de vida.
– A gente vive falando em futuro, aí vem
a escola e estraga tudo. Parece que vivem
num conto de fadas, pensando: na escola
Aline: quando ouviu da professora que a morte era certa, teve vontade de “sumir no mundo” não tem isso – critica uma tia de Aline.
Quando foram fazer a rematrícula na escola particular onde o estudante havia concluído a 7ª série, Carlos e sua avó levaram
um choque. A diretora da instituição religiosa disse que não havia mais vaga. Sem
meias palavras, explicou o motivo :
– Ela disse na minha frente que eu não
poderia mais estudar lá por causa do meu
problema, que poderia prejudicar outros
alunos – recorda o garoto, aos 16 anos.
A família imagina que a escola descobriu
o vírus a partir da conferência de atestados
médicos apresentados pelo aluno a cada três
meses, como comprovação de ausências para realização de exames de controle do HIV.
Revoltada, registrou na delegacia queixa
contra discriminação, mas os trâmites burocráticos os distanciaram de um processo judicial. Hoje Carlos cursa o 1º ano em um
colégio público, que ignora sua condição.
Outra escola, outro bairro, outra série.
Uma professora fala sobre Aids para estudantes da 6ª série de um colégio estadual:
– HIV é morte na certa. Esse coquetel é
só para prolongar um pouco a vida, mas
não evita nada e têm efeitos colaterais que
SEGUE
REPORTAGEM
ESPECIAL
6 | PORTO ALEGRE, DOMINGO, 20/06/2004
ZERO HORA
O índice de mortalidade decorrente da epidemia no Rio Grande do Sul, que em 1986 era de 88,89%, caiu para 10,99%
A Aids virou doença CRÔNICA
“
A
1 Transportado por sangue, sêmen, secreções vaginais e leite materno, o HIV
atinge o sistema imunológico do organismo, responsável pela proteção contra
infecções
2 O HIV ataca um tipo de glóbulo branco (célula de defesa) chamado CD4
3 O vírus HIV aloja seu genes no DNA da célula CD4 atingida e passa a utilizá-la
para se multiplicar. Quando essa célula começa a se reproduzir, partes do vírus
também são reproduzidas
4 As partes do vírus se unem perto da parede celular, originando um
novo vírus HIV
Durante o processo, as células CD4 acabam morrendo. Com a redução, o
organismo começa a perder a capacidade de combater doenças
Material
genético
do vírus
Núcleo
da célula
4
2
3
DNA
do vírus
1
Genes
do vírus
acopla-se
ao DNA
da célula
Novo
vírus
7
À rede de saúde
CD4
Fonte: Ministério da Saúde
“
mudança
de perspectiva é men- Carmem Lúcia
surada em nú- Oliveira da Silva,
meros. No Estado, a taxa de pediatra
mortalidade peCom os
lo vírus encontra-se no nível
tratamentos que
mais baixo da
existem hoje, a
História, com
índice
de
gente imagina
10,99%. Em
que essa geração
1986, a taxa
chegava
a
que nasceu com
88,89%. Das
o HIV poderá
7,2 mil crianças
nascidas com o
envelhecer,
HIV entre 1983
casar, ter filhos
e 2000 no país,
o percentual de
mortes caiu de
90,5%, em 1985, para 15,8%, em 2001.
Desde o primeiro diagnóstico de Aids no país, em
1980, até o ano passado, 310 mil brasileiros contraíram o HIV. Desses, 48,8% morreram, num contingente de 8.862 gaúchos. Desde 1999, porém, a taxa
nacional de mortalidade se mantém estável. A média está em 6,3 óbitos por 100 mil habitantes, depois
de ter alcançado seu pico mais alto em 1995, com
taxa de 9,7 óbitos por 100 mil habitantes.
Conseqüência da política de prevenção e tratamento universal do Ministério da Saúde, a partir de
1996, a redução na mortalidade se traduz em esperança para crianças e adultos.
– Com os tratamentos que existem hoje, a gente
imagina que essa geração que nasceu com o HIV
poderá envelhecer, casar, ter filhos. A sociedade
vai ter de se acostumar com essa nova realidade,
porque será cada vez maior o número de soropositivos no convívio social – afirma a pediatra Carmem Lúcia Oliveira da Silva, especialista no tratamento de crianças com HIV e consultora do Ministério da Saúde.
Escudo: coquetel
dá aos infectados
a expectativa de
viverem décadas,
e com qualidade
Um hóspede devastador
PAULO FRANKEN/ZH
O desenvolvimento da primeira geração de
adolescentes a crescer com o HIV evidencia o
novo perfil da doença. Abandonando o estigma
da morte, hoje a Aids é considerada uma enfermidade crônica, como diabetes e câncer. Sim, é
possível viver com o vírus. Por décadas. E com
saúde.
O vírus
HIV
Como os remédios enfrentam o vírus
À medida que o vírus progride, o número
de células CD4 cai. Um sistema imunológico
saudável tem de 500 a 1,2 mil células CD4
por ml de sangue. O paciente tem Aids
quando o número se torna inferior a 200
O coquetel de medicamentos
desacelera a produção das células CD4,
reagindo à doença. É possível reduzir
a carga viral no organismo, mas ainda
não eliminar o vírus no organismo
No Rio Grande do Sul, seguindo tendência no país,
diminuiu a proporção de morte entre os infectados:
1983
1985
94
1997
452
939
2.753
2.029
1.381
até 1995
2.312
Total
(1983-2003)
25.275
1990
1993
1995
1997
2000
Óbitos
3.839
2003
Total
(1983-2003)
948
770 821
1996
1997
● Criar serviços de escuta ativa para adolescentes, com
uma equipe interdisciplinar
● Oferecer suporte para a família/cuidador com relação ao
processo saúde/doença, crescimento e desenvolvimento
● Reforçar o enfoque positivo e educativo das campanhas.
O que é impulsionado pelo medo não surte efeito.
Iniciativas que deram certo:
Inversão de escalada
Contágios
15
3
● Capacitar a equipe de saúde para o aconselhamento e a
revelação do diagnóstico a crianças e adolescentes com
HIV
727
1998
1999
663
2000
409
431
2001
2002
8.862
254
2003
● No Hospital da Criança Conceição, uma das estratégias
criadas para reforçar a adesão ao tratamento foi a criação
do chamado Clube da Criança. Desde o início do ano, o
grupo reúne soropositivos e familiares da mesma idade aos
sábados, uma vez por mês, para atividades de lazer com
finalidades educativas.
● No Hospital de Clínicas, foi montado um grupo de
adolescentes que convivem com o HIV. Mensalmente, os
pacientes se encontram com médicos para discutir
questões como sexualidade e desenvolvimento do corpo
Fontes: psicólogo Cláudio Morais, consultor do Ministério da Saúde, médica de adolescentes Lilian Day Hagel, da Clínica para Adolescentes do Serviço de Pediatria do Hospital de Clínicas e coordenadora da Unidade de Atenção ao Adolescente do Hospital
Conceição, e pediatra Edmundo Cardoso, do Hospital Criança Conceição
Tire suas dúvidas
● Qual o risco de uma criança nascida de uma
mãe infectada por HIV ser contaminada pelo
vírus?
Depende dos cuidados que a mãe tiver consigo e
com o bebê. Ela precisa fazer o acompanhamento
pré-natal e tomar a medicação prescrita pelo seu
médico. Com o tratamento, é possível fazer que a
carga viral se reduza a ponto de ficar indetectável, e
assim o risco de transmissão para o bebê fica em
torno de 1%.
● Há diferença na manifestação de sintomas em
crianças e adultos?
Sim. A criança se infecta no útero ou no pós-parto
(por leite materno), quando seu sistema
imunológico ainda está imaturo. A infecção pelo HIV
impede que desenvolva a chamada memória
imunológica, que é a capacidade de reconhecer um
microorganismo a partir do primeiro contato com
ele. Assim, cada vez que entrar em contato com
uma determinada bactéria que causa diarréia, por
exemplo, vai ter um quadro de gastroenterite. Por
isso as crianças costumam ter infecções de
repetição. Quem se infecta quando adulto tem seu
sistema imunológico pronto, por isso as
manifestações mais comuns são as infecções
oportunistas.
● Por que os soropositivos crescem menos?
O crescimento depende de fatores, como bom sono
(pois o o hormônio atua à noite), boa alimentação,
ausência de doenças paralelas e atividade fisica.
Em geral, as pessoas nascem com uma carga
genética, que varia oito centímetros para mais ou
para menos na altura final. Como o uso de
medicação interfere no metabolismo, e essas
crianças nem sempre têm qualidade de vida
adequada, tendem terem reduzida sua curva do
crescimento para baixo.
● Qualquer paciente soropositivo pode conter o
avanço de sua carga viral se seguir o
tratamento?
Cada caso tem sua particularidade, mas com os
medicamentos é possível
reduzir a quantidade de vírus
Disque-Aids
no organismo a menos de 50
cópias por mililitro, valor
indetectável, que nem chega
(informações sobre DST/Aids)
a aparecer nos exames. Se a
pessoa deixar de tomar os
Informações
remédios ou tomar diferente
do prescrito (em horários
irregulares, por exemplo), a
quantidade de vírus volta a
aumentar.
0800-5410197
www.aids.gov.br
www.adolesite.aids.gov.br
● Qual a expectativa de
vida do bebê que nasce
com HIV?
Atualmente, com o uso de
esquemas combinados de
terapêutica anti-retroviral, as
crianças têm boas chances
de vida longa, traçando
planos para o futuro. O
diálogo aberto na família, sem
mentiras e segredos, é um dos fatores mais
importantes para isso, pois assim o adolescente
pode discutir com a equipe médica riscos e
cuidados necessários.
● Homens e mulheres têm diferentes formas de
contágio?
Sim. Pela natureza da relação, a quantidade de
secreção masculina que fica na mulher após o ato
sexual é muito maior do que a quantidade de
secreção feminina que fica no homem. Esse é um
dos motivos por que a mulher corre mais riscos ao
ter uma relação sem preservativo.
● Se uma mulher que não tenha o vírus
engravidar de um soropositivo, o filho terá o vírus?
O vírus passa para a criança durante a gestação,
parto ou pós-parto (pelo leite materno). Esse vírus
vem da mãe. O fato de ela engravidar de um
soropositivo não significa que necessariamente está
contaminada. Se ela não está infectada, não há
como infectar o filho.
Fontes: pediatra Carmem Lúcia Oliveira da Silva, especialista no tratamento de crianças com HIV e consultora do Ministério da Saúde e médica para adolescentes Lilian Day Hagel, coordenadora da Clínica para Adolescentes do Serviço de Pediatria do Hospital de Clínicas
| GERAL
ZERO HORA
PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 21/06/2004
| 33
PAULO FRANKEN/ZH
OS HERDEIROS DA AIDS Ver doença como tabu afeta crianças soropositivas
49% das famílias não seguem
o tratamento contra o HIV
Pesquisa inédita sobre adesão
ao tratamento entre as crianças
soropositivas, realizada em Porto
Alegre, chegou a uma conclusão
alarmante: 49% das 194 famílias
entrevistadas não seguem o tratamento prescrito.
O índice preocupa porque a
única maneira de combater o
avanço dos malefícios provocados pelo vírus da Aids é uma rígida adesão aos medicamentos.
Um atraso de uma hora nos horários recomendados é suficiente
para pôr em xeque os esforços na
luta contra o HIV.
estudo foi realizado pela enfermeira Neiva Wachholz,
mestre em Epidemiologia, nos
principais serviços de atendimento
a crianças soropositivas da Capital.
Entre crianças cuidadas por pais
biológicos, o percentual de nãoadesão alcançou 58,7%, enquanto
nas crianças que vivem em instituições 22,2% não tomavam os remédios.
Segundo Neiva, que integra o
serviço de Assistência Especializada em DST/Aids da prefeitura
de Porto Alegre, diversos fatores
contribuem para o índice, como a
dificuldade em incluir o conjunto
de medicamentos na rotina e os
efeitos colaterais provocados pelos
remédios, como dor de cabeça e
náuseas. Um dos agravantes é o silêncio na própria família sobre a
doença.
O
– Muitas vezes, circula na família um sentimento de culpa pela
criança ter a doença, então não se
toca no assunto nem revela o diagnóstico. Aí fica difícil convencer
as crianças a tomarem os remédios
se elas acham que não estão doentes – analisa.
O estudo mostra que o patamar
de crianças que seguem fielmente
o tratamento, de 51%, é bastante
inferior à média nacional global.
Pesquisa encomendada pelo Programa Nacional de DST/Aids, divulgada na semana passada, mostrou um patamar de 73% dos
1.972 entrevistados, de todas as
idades, tomavam 95% ou mais do
total de comprimidos que deveriam ser ingeridos nos três dias
que antecederam a entrevista.
A pesquisadora gaúcha acredita
que essa diferença se explique pela particularidade do HIV entre
crianças, que dependem de intermediários para o controle da ingestão dos remédios. O índice é
visto como um desafio para a rede
de saúde.
– Foi assustador o índice que encontramos, e ele sugere que existe
uma falha. Aderir ao tratamento
não é só usar medicamento, tem
de representar um comprometimento na forma de encarar a
doença. Os profissionais precisam
criar estratégia de reforçar os vínculos para assegurar os medicamentos – analisa Neiva.
A pediatra Carmem Lúcia Oliveira da Silva, responsável pelo
ambulatório de atendimento a
crianças soropositivas do Hospital
de Clínicas e consultora do Ministério da Saúde, concorda. E orienta as famílias a supervisionarem o
uso da medicação, mesmo entre os
adolescentes.
– Isso não pode ser um processo
independente, eles precisam ser
lembrados e cobrados. Não adianta ter os remédios e tomar em horários irregulares, porque esses horários não são ao acaso, consideram os tempos que os remédios
deixam de fazer efeito – alerta.
[email protected]
“
LETÍCIA DUARTE
“
O que diz o psicólogo Claudio Picazio:
Se a gente acredita no sexo seguro,
na camisinha, é preciso confiar.
O mundo cobra que esses
adolescentes contem a verdade.
Mas, se eles contam, são rejeitados.
ZERO HORA
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Paraguassú, 2501.loja 03. Fone/fax (51) 625-7183 e
(51) 625.6873 - CEP- 95.555-000
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Príncipe - CEP: 96.425-250 fone/fax: (53) 242-4488
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1724, sala 2. Cep 93410-007. Fone 582-4444.
Redação: Rua Bento Gonçalves, 1731, sala 91. Fone
582-4444.
PASSO FUNDO: Rua Princesa Isabel, s/nº - Bairro
Petrópolis - CEP: 99.050-010 fone (54) 3045-8300
PELOTAS: Rua Hipolito José da Costa, 155 - Bairro Areal CEP: 96.080-580, fone/fax (53) 284-7100 e (53) 284-7103.
SANTA CRUZ DO SUL: Rua Assis Brasil, 793, Centro. Cep: 96810-160. Fone: (51) 3715-7300.
SANTA MARIA: Av. Mauricio Sirotsky Sobrinho , 25
Bairro Patronato fone, Geral (55) 220-1700 e
220-1831(Comercial).
MISSÕES (SANTO ÂNGELO): Av. 15 de Novembro,
1868, SALA 01 - fone/fax (55) 3312-1800 - 3313 34 22
CRUZ ALTA: (55) 3322.5795
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RIO GRANDE: (53) 231.31.00
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Precaução: Luciana monitora a sua saúde e usa sempre o preservativo
Medo de contar para o namorado
Luciana, 18 anos, não teve a
opção de se precaver, pois porta
o HIV desde o nascimento. O
medo de transmitir o vírus a aflige. Sabe que não seria perdoada.
Namorando há um ano e meio,
não teve coragem de contar para
o parceiro que é soropositiva.
Tem dúvidas se ele a aceitaria. O
preservativo é sua segurança.
– Me sinto mal porque eu não
tenho nenhuma culpa de ter pego, mas sei que, se eu transmitisse, a pessoa teria raiva de mim
pelo resto da vida. Queria contar
tudo, mas o preconceito é muito
grande. O importante é se cuidar.
Especialistas como a pediatra
Carmem Lúcia de Oliveira da
Silva, do Hospital de Clínicas, e
o psicólogo Claudio Picazio,
concordam que o fundamental é
o autocuidado e a prevenção. Entre qualquer casal.
– Se a gente acredita no sexo
seguro, na camisinha, é preciso
confiar. O mundo cobra que es-
ses adolescentes contem a verdade. Mas, se eles contam, são rejeitados – analisa Claudio.
Aos 18 anos, Luciana se confronta com os desafios do mundo
adulto. Cursa o 3º ano do Ensino
Médio, está em busca de emprego e se prepara para o vestibular.
Tenta levar uma vida normal, não
pensar na doença.
– Se eu ficar achando que não
posso fazer nada porque vou ficar doente, aí fico mesmo. Não
sou uma bonequinha de porcelana – diz.
Ela pretende escolher uma carreira na área de ciências humanas, quer ajudar os outros. Enquanto isso, pretende trabalhar
em uma loja, algum escritório.
Desde março dedica as tardes para deixar currículos em empresas. Repetindo uma trajetória comum a jovens brasileiros, até
agora não conseguiu nada. Não
se acha uma vítima, sabe que a
situação é difícil para todos.
Assembléia Geral dos médicos de
Alvorada e Cachoeirinha
O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul convoca os médicos do Hospital de Alvorada e do Hospital
Padre Jeremias, de Cachoeirinha, para a Assembléia
a realizar-se hoje, segunda-feira, no anfiteatro do
SIMERS, na rua Cel. Corte Real, 975, 3º andar, às
19h em primeira convocação, e às 19h30 em segunda e última chamada, a fim de discutir e deliberar os
seguintes assuntos:
1º Avaliação da proposta patronal.
2º Definição do encaminhamento da greve.
3º Assuntos gerais.
Porto Alegre, 21 de junho de 2004.
Dr. Paulo de Argollo Mendes
Presidente do SIMERS
Dr. Nauro José Aguiar da Silva
Diretor do SIMERS
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