A prática oral no ensino de espanhol Lígia Paula Couto (Universidade Estadual de Ponta Grossa) [email protected] Daniela Terezinha Esteche Maciel (Universidade Estadual de Ponta Grossa) [email protected] Resumo Este artigo tem como objetivo principal apontar a importância da oralidade e prática oral no ensino de espanhol, tanto na formação de nível básico como superior. As discussões apresentadas aqui são fruto de um minicurso ministrado para professores da rede pública de ensino do núcleo de Ponta Grossa e acadêmicos da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no qual se procurou desenvolver estratégias de práticas da oralidade para as aulas de língua estrangeira (LE) espanhol, considerando principalmente a abordagem comunicativa e a teoria dos gêneros textuais. Como metodologia, utilizou-se o minicurso como estratégia formativa (inicial e continuada) de professores. Os resultados das discussões do minicurso revelam que a oralidade e a prática oral devem estar presentes no dia a dia do professor de LE, um professor que não fala em espanhol dificilmente poderá exigir que seus alunos falem o idioma; além disso, a oralidade precisa ser ensinada, assim como as outras habilidades e, portanto, é necessário desenvolver estratégias de ensino para tal. Desse modo, esperase que através do minicurso, os professores possam receber formação pedagógica para lidar com a possibilidade de uma aula de espanhol em espanhol, na qual seus alunos falam na LE e fazem uso da língua para a comunicação como sujeitos críticos e atuantes na sociedade. Palavras chave: Ensino de espanhol, Prática oral, Formação de professores. Oral practice in Spanish teaching Abstract This article aims at discussing the importance of oral practice in the Spanish teaching for elementary school, high school and universities. All the topics presented in this article refer to a minicourse organized to public school Spanish teachers of Ponta Grossa and graduate students of Spanish language at Universidade Estadual de Ponta Grossa; in this minicourse, strategies to develop oral practice in Spanish language teaching were presented, considering especially the communicative approach and the textual genres theory. The methodology is based on the minicourse as a formative strategy for teachers and future teachers. The results of the minicourse show that oral practice must be part of Spanish teachers’ everyday life, because a teacher who does not speak Spanish will probably have problems to make students speak this foreign language; besides, the oral ability must be taught, so it is necessary for the teacher to develop strategies to work with this ability in his/her classes. To conclude, we expect that the minicourse allows teachers to receive pedagogical knowledge to deal with the possibility of a Spanish class taught in Spanish, in which the students speak the language to communicate and to act in society. Key-words: Spanish teaching, Oral practice, Teaching education. 1 Introdução Para a aprendizagem de uma aula de língua estrangeira (LE), espera-se que o aluno desenvolva as quatro habilidades: oralidade, audição, escrita e leitura. Não é possível afirmar que se deva focar o ensino nesta ou naquela habilidade, mas propõe-se que todas sejam trabalhadas em sala de aula seguindo a perspectiva adotada pela Secretaria de Educação, estabelecimento de ensino e pelo professor. Mas um grande número de aprendizes, e até mesmo os professores de línguas, em específico a língua espanhola, admitem que a maior dificuldade no processo de ensino/aprendizagem desta LE, encontra-se na habilidade da oralidade. Diversos fatores são apontados como causa desta dificuldade: vergonha e medo de se expor oralmente, insegurança para falar em público, falta de domínio do idioma, entre outros. Portanto, partindo do princípio que o ensino de espanhol pode ocorrer em língua espanhola e que os alunos, aprendizes dessa LE, precisam falar em espanhol nas aulas para dominarem também essa habilidade, há a necessidade de se verificar os motivos principais destas dificuldades e apontar estratégias que venham a contribuir para o desenvolvimento da oralidade e prática oral nas aulas de espanhol tanto no ensino básico, que compreende ensino fundamental, médio e CELEM (Centro de Línguas Estrangeiras Modernas) e ensino superior, nos cursos de graduação em Letras Espanhol. Neste ano de 2012, em parceria com o Núcleo Regional de Educação de Ponta Grossa e com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) no Programa de Extensão “Laboratório de Estudos do Texto” (LET), está sendo desenvolvido o curso de extensão “Formação continuada de professores de espanhol: Uma parceria UEPG e o NRE-PG”, no qual se organizam minicursos de formação continuada para professores e futuros professores de espanhol. Os minicursos ofertados são: ensino de espanhol na perspectiva dos gêneros textuais descritas nas DCE-PR; ensino de espanhol na perspectiva da pedagogia crítica descrita na DCE-PR; ensino de espanhol e as africanidades; e, por fim, oralidade e prática oral no ensino de espanhol. Todos os professores inscritos têm a oportunidade de participar dos quatro minucursos, dois já realizados no mês de maio e os outros dois que acontecerão no mês de outubro. Com o término da primeira etapa, foi possível constatar a receptividade dos participantes em todas as temáticas, de acordo com os professores ministrantes de cada minicurso. Tratando-se do minicurso da oralidade, foi imediatamente perceptível a carência de formação na temática, ou melhor, há que se falar em espanhol, desenvolver estratégias de ensino e prática de oralidade para se poder exigir a prática oral dos alunos. Desta forma, neste artigo, procura-se elucidar a importância da oralidade e da prática oral nas aulas de espanhol, entendendo as diferentes teorias e desenvolvendo estratégias para que o professor venha a intervir de forma positiva no processo de aquisição da LE, bem como o aprimoramento do idioma através da utilização da língua em situações reais e contextualizadas. 2 As principais dificuldades no desenvolvimento da habilidade da oralidade Ao referir-se às dificuldades encontradas para falar em espanhol, seja por parte de professores ou alunos de línguas, a maioria dos participantes do minicurso relatou que se sentem inseguros com relação ao idioma quando estão diante de outros professores de espanhol. Já em suas salas de aula, o ambiente é mais favorável para a prática oral, o que não ocorre para os alunos, os quais, na maioria das vezes, demonstram timidez, vergonha dos colegas e medo de falar errado; todos esses fatores os levam a optar por falar na língua materna, não falar ou falar somento quando há a exigência que se fale em espanhol. Com relação aos professores, um dos motivos citados durante o minicurso, para esta insegurança perante um grupo que tem o domínio da língua espanhola, pode ocorrer pela falta de prática na língua; ou seja, nos cursos de graduação, não se tem uma matriz curricular ampla que possibilite uma carga horária que dê conta de aulas de conversação e também não há muitos cursos de formação continuada com temáticas específicas que exijam a prática da oralidade em língua espanhola. Retomando que a formação, em nível de gradução, em língua espanhola deva valorizar o desenvolvimento das quatro habilidades, entre elas a oralidade, levantamos a hipótese de que, em alguns cursos, se prime mais por esta ou aquela habilidade no processo de ensino/aprendizagem da LE. Isso não significa que as quatro não sejam trabalhadas e/ou exigidas em algum momento do curso, mas que, geralmente, a oralidade é menos privilegiada no encaminhamento das atividades. Além disso, defendemos que o professor em formação necessita de um constante aperfeiçoamento, inclusive na prática da oralidade, e isto se dará de diferentes formas: seja nas conversas informais com amigos, professores, colegas, seja na busca por um curso, grupos de estudos, entre outros. E essa formação não pode parar, deve seguir, após a conclusão da graduação, com cursos de formação continuada. O professor de línguas estrangeiras, quando ensina uma língua a um aluno, toca o ser humano na sua essência – tanto pela ação do verbo ensinar, que significa provocar uma mudança, estabelecendo, portanto uma relação com a capacidade de evoluir, como pelo objeto do verbo, que é a própria língua, estabelecendo aí uma relação com a fala. Mas, se lidar com a essência do ser humano é o aspecto mais fascinante da profissão há, no entanto, um preço a se pagar por essa prerrogativa, que é o longo e pesado investimento que precisa ser feito para formar um professor de línguas estrangeiras. Sem esse investimento não se obtém um profissional dentro do perfil que se deseja: reflexivo, crítico e comprometido com a educação (LEFFA, 2006, p. 333). Desta forma, não se pode negar as adversidades encontradas no processo de formação, inicial ou continuada, e até mesmo as dificuldades pessoais com relação ao domínio e aperfeiçoamento da língua espanhola, no que se refere à habilidade da oralidade. Assim, com relação aos professores de espanhol, as principais dificuldades apontadas, segundo os participantes do minicurso, referem-se à falta de oportunidade de praticar o idioma que não seja a sala de aula, ou seja, não se “conversa” em espanhol a não ser no espaço de sua atuação na escola. Já com relação aos alunos de espanhol, e aqui também professores em condição de aluno, admite-se o medo, a vergonha, a insegurança, a timidez, a falta de domínio do idioma, entre outros. Tudo isso, faz com que se restrinja a prática da oralidade ao mínimo nas salas de aula das universidades, como, por exemplo, utilizar o espanhol somente para as saudações na entrada e saída da aula; agradecimentos, etc. Ainda, deve-se considerar como ocorre o ensino da habilidade oral e, posteriormente, atividades de prática de oralidade de acordo com os métodos de ensino ao longo dos anos. Isto tem uma grande influência no processo de ensino/aprendizagem, portanto, os métodos de ensino precisam ser considerados ao tratarmos a oralidade no ensino de línguas. As pessoas procuram aprender línguas por conta das mais variadas necessidades, marcadas pela realidade e pelo cotidiano. Estes conflitos, entre as finalidades e necessidades reais e de ensino, refletem e refratam propostas curriculares, de seleção de métodos, conteúdos, materiais didáticos e procedimentos de ensino e agem principalmente sobre o cotidiano da sala de aula (PICANÇO, 2003, p. 186). Portanto, faz-se necessário perceber os objetivos do ensino para a seleção do método e as estratégias que venham a resultar na aprendizagem da língua e não no uso simplesmente do código linguístico sem um enunciado significativo. A seguir, discutiremos a prática da oralidade em sua relação com os métodos de ensino. 3 A prática oral e os métodos/abordagens de ensino De acordo com as necessidades advindas da sociedade para aprender e dominar uma LE, os métodos de ensino foram inovando-se a fim de contribuir para a eficácia do processo educativo no momento em que se concretizaram como notoriamente fundamentais para o ensino de línguas. Cada método de ensino possui concepções de linguagem, língua e processos de aprendizagem que são norteadoras para o ensino e, dessas concepções, derivam as estratégias que resultam em atividades em sala de aulas. No método gramática tradução, não se visualizava a prática da oralidade, pois a aula era ministrada em língua materna e o principal objetivo era que o aluno aprendesse as regras gramaticais através de orações descontextualizadas. O foco se voltava para a habilidade da leitura, uma vez que se visava, essencialmente, a compreensão e tradução de textos literários clássicos. Somente no final do século XIX é que se inicia o ensino em LE propriamente dito, com o chamado Método Direto. Nesse método, as aulas deveriam ser ministradas na língua alvo, diminuindo a importância dada à gramática e dando ênfase ao oral. Nesse sentido, privilegiava-se os professores nativos da língua, por se acreditar que eles dominavam o idioma, mas nas aulas somente os professores falavam e os alunos eram passivos, o que provavelmente os levava a desenvolver mais a habilidade auditiva do que a oral. La repercusión del método directo fue enorme. Hasta mediados del siglo XX obtuvo gran difusión y aceptación, entre otras razones, porque recogía lo que, históricamente y de modo opuesto al método tradicional, había constituido la opción de aprendizaje natural de las lenguas (CESTEROS, 2006, p.140). Depois do método direto, os que mais se destacam são os métodos audiovisual e audiolingual, nos quais se admitia a participação dos alunos, mas através da repetição de estruturas, ou seja, o aprendiz escutava uma frase e a repetia, olhava uma imagem e repetia a palavra visualizada. A oralidade, nessa perspectiva, era compreendida como a memorização de estruturas e vocabulário, ou seja, se estudante memorizava tais elementos, ele seria capaz de se comunicar oralmente na LE. O método utiliza basicamente exercícios orais de repetição, transposições, transformações, substituições, escuta de diálogos, memorização de diálogos, exercícios de aprefeiçoamento da pronúncia e da sintaxe. Os exercícios seguem a seguinte ordem: escuta, fala, leitura e escrita. As atividades em grupo são praticamente inexistentes (CALLEGARI, 2010, p. 113). Através desta citação, pode-se verificar que, na verdade, a prática oral no método audiolingual se limitava a uma constante repetição de estruturas e o aluno não tinha oportunidade para falar e expor suas ideias. Na década de 1970, o surgimento da abordagem comunicativa representa um avanço significativo no ensino de LE, pois a participação dos alunos passa a ser considerada fundamental no processo de ensino/aprendizagem. Além disso, o foco do ensino de línguas se volta para a competência comunicativa, ou seja, faz parte do aprendizado a utilização da língua de forma contextualizada. Para a oralidade, prevê-se atividades nas quais os alunos possam imaginar-se em situações reais e simular ações para tais situações. Mas, ao valorizar o ensino de LE com direcionamento para o aluno como partícipe do processo de ensino/aprendizagem, não se poderia admitir unicamente a comunicação sem um posicionamento crítico por parte do estudante enquanto cidadão que vive, age e interage na sociedade. Desta forma, a pedagogia crítica, referencial teórico das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE-PR), oferece o respaldo para que o professor proponha atividades de intervenção crítica dos alunos enquanto sujeitos sociais. Ou seja, nas mesmas situações reais, os alunos além de simularem as ações, também deixam marcas de seu posicionamento perante as situações. A perspectiva da pedagogia crítica, base teórica da DCE-PR (2008), pode parecer, ora difícil, ora fácil de se estabelecer na prática. Difícil quando não se relaciona os conteúdos de LE com o contexto vivido pelos alunos. Fácil quando se restringe o ensino de LE a uma temática específica do cotidiano. Juntamente com a pedagogia críticia, a teoria dos gêneros textuais deve fundamentar o ensino de línguas no Paraná, esse arcabouço teórico proporcionará o trabalho com diferentes textos que circulam na sociedade, sendo que o aluno poderá perceber, compreender e utilizar a língua, relacionando os conteúdos aprendidos com a realidade vivenciada e assumindo-se como sujeito na sociedade. O trabalho com a Língua Estrangeira Moderna fundamenta-se na diversidade de gêneros textuais e busca alargar a compreensão dos diversos usos da linguagem, bem como a ativação de procedimentos interpretativos alternativos no processo de construção de significados possíveis pelo leitor (DCE-PR, 2008, p. 58). Este alargar os diversos usos da linguagem pode ser entendido como referência ao desenvolvimento das habilidades escrita e oral, onde ambas sejam praticadas através da infinidade de gêneros textuais escritos e orais que circulam na sociedade. Além dessas considerações a respeito da pedagogia crítica e da teoria dos gêneros textuais, tratando-se da oralidade, as estratégias para que tanto professores quanto alunos realizem a prática da oralidade, estão voltadas para a adequação de diferentes contextos vivenciados; ou seja, estratégias para a prática oral vão variar pois dependerão da faixa etária dos sujeitos envolvidos, nível de aprendizado, tipos de interesses, entre outros. 4 A prática oral e os documentos oficiais O ensino de LE no Brasil é norteado por alguns documentos que foram elaborados ao longo dos anos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (1998) e para o Ensino Médio (2000); as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006), este documento contém um capítulo específico para o espanhol; e as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Estrangeira Moderna (2006), documento específico do Estado do Paraná, com segunda edição impressa em 2008, são os principais documentos oficiais que embasam o ensino de LE, sendo que a DCE-PR (2008) é o que mais ganha destaque no contexto da escola paranaense. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) propõem um ensino contextualizado, no qual ao utilizar a língua, o aluno também possa agir enquanto cidadão. Torna-se, pois, fundamental, conferir ao ensino escolar de Línguas Estrangeiras, um caráter que, além de capacitar o aluno a compreender e a produzir enunciados corretos no novo idioma, propicie ao aprendiz a possibilidade de atingir um nível de competência lingüística capaz de permitir-lhe acesso a informações de vários tipos, ao mesmo tempo em que contribua para a sua formação geral enquanto cidadão (BRASIL, 2000, p. 26). Para tanto, acredita-se que amparado na teoria dos gêneros textuais e na pedagogia crítica, o professor poderá interagir com seus alunos para que a aprendizagem da LE aconteça de forma a garantir não somente a apreensão do código linguístico, mas que a língua espanhola possa ser usada em situações reais vivenciadas pelos alunos. Neste sentido, as DCE-PR consideram: Nestas diretrizes, propõe-se uma reorientação na política curricular com o objetivo de construir uma sociedade justa, onde as oportunidades sejam iguais para todos. Assumir um currículo disciplinar significa dar ênfase à escola como lugar de socialização do conhecimento, pois essa função da instituição escolar é especialmente importante para os estudantes das classes menos favorecidas, que têm nela uma oportunidade, algumas vezes a única, de acesso ao mundo letrado, do conhecimento científico, da reflexão filosófica e do contato com a arte (DCE-PR, 2008, p. 14). Ainda, nas aulas de LE, espera-se que haja a reciprocidade entre professor-aluno e aluno-aluno para que, através do referencial teórico da pedagogia crítica e com aulas que utilizem os mais variados gêneros textuais, se possa chegar a um aprendizado eficaz da língua, no caso, da língua espanhola. E esse aprendizado se qualifica na seguinte perspectiva: Um dos objetivos da disciplina de Língua Estrangeira Moderna é que os envolvidos no processo pedagógico façam uso da língua que estão aprendendo em situações significativas, relevantes, isto é, que não se limitem ao exercício de uma mera prática de formas linguísticas descontextualizadas. Trata-se da inclusão social do aluno numa sociedade reconhecidamente diversa e complexa através do comprometimento mútuo (DCE-PR, 2008, p. 57). Assim, será possível desenvolver a prática oral, através de atividades que sejam perceptíveis à realidade dos alunos, onde eles se vejam como sujeitos atuantes das ações desenvolvidas e não como meros atores, que saem de cena ao final da peça e não vêm objetivo algum para o que foi realizado. As estratégias específicas da oralidade têm como objetivo expor os alunos a textos orais, pertencentes aos diferentes discursos, lembrando que na abordagem discursiva a oralidade é muito mais que o uso funcional da língua, é aprender a expressar ideias em Língua Estrangeira mesmo que com limitações. Vale explicitar que, mesmo oralmente, há uma diversidade de gêneros que qualquer uso da linguagem implica e existe a necessidade de adequação da variedade linguística para as diferentes situações, tal como ocorre na escrita e em Língua Materna. Também é importante que o aluno se familiarize com os sons específicos da língua que está aprendendo (DCE, 2008, p. 66). As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCM) também propõem que a produção e compreensão oral sejam valorizadas na sala de aula garantindo uma formação ampla do aluno na LE. O desenvolvimento da compreensão oral como uma forma de aproximação ao outro, que permita ir além do acústico e do superficial e leve à interpretação tanto daquilo que é dito (frases, textos) quanto daquilo que é omitido (pausas, silêncio, interrupções) ou do que é insinuado (entonação, ritmo, ironia...) e de como, quando, por quê, para quê, por quem e para quem é dito; O desenvolvimento da produção oral, também de forma a permitir que o aprendiz se situe no discurso do outro, assuma o turno e se posicione como falante da nova língua, considerando, igualmente, as condições de produção e as situações de enunciado do seu discurso (BRASIL, 2006, p. 151). E para que seja possível uma aula de LE espanhol com um resultado satisfatório, considerando a amplitude do espanhol, com toda sua variação linguística, mais uma vez o papel do professor é de fundamental importância para que possa orientar corretamente as tomadas de decisões dos alunos. [...] o papel de professores passa a ser quase o de articuladores de muitas vozes. O que não pode é transformar essa amostragem num simples conjunto de “curiosidades”, dar-lhe essa característica de “almanaque”, desconsiderando a construção histórica que é a língua, resultado de muitas falas datadas e localizadas (BRASIL, 2006, p. 136). Desta forma, pode-se perceber a oralidade e a prática da oralidade democrática nas aulas de espanhol, ou seja, os professores identificam as diferentes variedades da língua espanhola, apresentam aos seus alunos e estes ficam à vontade para escolher a que desejarem seguir, sabendo e reconhecendo a amplitude da língua espanhola; ou seja, não se pode exigir esta ou aquela variante por ser estandar, ou ainda, impor certo ou errado em termos de qual variante do espanhol falar (da Argentina, da Bolívia, da Colômbia, do Equador, da Guiné Equatorial, do Paraguai, do Uruguai, etc.). 5 A prática oral e estratégias para a sala de aula Considerando tudo o que foi apresentado e as experiências com alunas/os (de graduação) e professoras/es a partir de um minicurso que tratou da habilidade da oralidade no ensino da língua espanhola, buscamos exemplificar as atividades de prática oral de acordo com o nível de ensino das turmas, aplicando algumas estratégias específicas. Assim, escolhemos a seguinte divisão para as atividades de prática oral: a) Atividades de repetição b) Atividades de comunicação c) Atividades de postura crítica As atividades de repetição se referem a todas as estratégias utilizadas que permitam com que o aluno utilize a língua em alguma situação comunicativa, mas já com uma estrutura organizada. São mais indicadas para os níveis iniciais, onde ainda não há a absorção de uma grande quantidade de vocabulário. Um exemplo seria o professor entregar um diálogo para os alunos, dividir os personagens, dar um tempo para ensaiar e, na sequência, os alunos fariam a apresentação. O importante é que, mesmo sendo uma atividade de repetição, não é a leitura do diálogo e, nos exercícios de repetição, são trabalhados além da pronúncia, o sotaque, as variações linguísticas, e as marcas de oralidade próprias de cada aluno, como alguns “erros” que cometem por não saber como se pronuncia corretamente. Assim, o professor terá a oportunidade para identificar, registrar e fazer as considerações necessárias para o desenvolvimento da habilidade da oralidade. As atividades comunicativas se referem a todas as atividades nas quais se exija a participação oral dos alunos, com a gradação dos acontecimentos de uma situação do dia a dia, mas que não se percebe necessariamente a valoração crítica ou o juízo de valor. Um exemplo seria a simulação de uma conversa em um restaurante para fazer o pedido de uma refeição. Nos exercícios de comunicação, podem ser trabalhadas muitas marcas da oralidade que serão próprias de cada aluno, uma vez que eles terão a oportunidade de falar espanhol mais livremente e criar. Já as atividades de postura crítica se referem justamente a todas as atividades onde se exige dos alunos a participação crítica; então, será possível estabelecer juízos de valor e contribuir para a formação crítica destes alunos como cidadãos. Acredita-se que toda atividade comunicativa pode se tornar uma atividade de postura crítica. A seguir, colocamos um quadro com alguns exemplos de atividades. Atividades de Repetição 1 Atividade de Comunicação Atividades de Postura Crítica Jogos (bingo, frutas, forca, Mímicas (os alunos devem comentar Debates (o tema deve ser de dominó) a cena realizada pelo colega). interesse e que a turma conheça). 2 Diálogos (diálogos já Simulações (cada dupla ou equipe Palestras (toda e qualquer estruturados pelo professor, os simula uma situação cotidiana que conversa realizada em sala que alunos estudam e apresentam). deve ser elaborada pelo grupo) gere um posicionamento crítico). 3 Teatros (pequenas peças com Desenhos animados (podem imitar Jornais (os alunos serão as falas já estruturadas, os uma cena de um desenho animado, apresentadores, comentaristas, alunos têm um tempo para criando as falas dos personagens). repórteres). estudar e apresentar). Tabela 1 – Exemplo de estratégias para praticar oralidade O importante é que, no desenvolvimento de qualquer estratégia, o professor seja o mediador, pois o aluno jamais participará efetivamente de uma atividade seguindo uma temática que ele não tenha conhecimento ou interesse. Seja nas atividades de repetição, comunicação ou postura crítica, há a necessidade de preparar o ambiente, ou melhor, os alunos para que desenvolvam a ação proposta. Preparar no sentido de despertar o gosto pela língua, pela atividade e, assim, pela prática oral. E para isso, não há passos delimitados a seguir; cada professor segue suas estratégias de experiências pessoais, outras advindas de cursos de formação, adaptando-as, mudando-as de acordo com a demanda de seus alunos. 6 Considerações Finais A prática oral de espanhol é uma das habilidades da LE que merece destaque igualmente as outras três (escrita, leitura e audição) em um curso de línguas. Mas, partindo das falas e experiências de professores e alunos participantes de um minicurso sobre a temática da oralidade, essa habilidade foi considerada uma das que traz maiores dificuldades no aprender a língua espanhola. Acreditamos que, criar espaços para que os professores de espanhol possam falar em espanhol, é um caminho a se seguir e isto se dá através de formação continuada, num diálogo entre universidade e escola. Além disso, perceber que geralmente os entraves são comuns à maioria dos professores, sejam eles pessoais ou com relação aos alunos, de certa forma conforta e faz com que se tenham expectativas e propostas de mudanças, de estratégias de uso comum. Apresentar estratégias de prática de oralidade, ao mesmo tempo em que colocar-se como aluno para desenvolver as atividades, é de fundamental importância, pois o ver-se sujeito partícipe faz com que se analise, reflita e reavalie as práticas ou posicionamentos muitas vezes já condicionados. El objetivo principal de la enseñanza de una lengua debe ser conseguir que el aprendiz pueda comunicar y comunicarse correctamente y de forma apropiada, y la forma más natural, habitual y espontánea de uso de la lengua, es decir, de comunicación interactiva humana, es la conversación. Así, el fin que tienen que perseguir los profesionales en la enseñanza de lenguas extranjeras ha de ser, prioritariamente, favorecer la adquisición de la competencia conversacional ( MANCERA CESTERO, 2005, p. 11). Mas a prática da oralidade somente ocorrerá efetivamente, seja formalmente (nas salas de aula, cursos de formação) ou informalmente (entre os falantes do idioma) se todos se colocarem em uma situação de opção pela formação em LE, no caso espanhol, e nos referimos a uma formação que não se restringe à formação inicial ou a este ou aquele curso de formação continuada, mas à formação do professor reflexivo, da identidade de professor que se constrói dia a dia de sua profissão, e que se concebe na escrita, na leitura, na audição e na fala. Desta forma, esperamos que a prática da oralidade não se fundamente em formas estereotipadas de ensino da língua, mas faça parte de uma perspectiva de ensino de LE que prima pela qualidade, pelo aluno-sujeito que constrói o saber juntamente com o professor. Referências BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 1999. 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