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Quarta-feira, 13 de julho de 2005
Programas de ensino do País são
referência para América Latina
Iniciativas envolvem empresas, ONGs e secretarias de educação e vão
compor banco de boas práticas
Andrea Vialli
Três programas brasileiros para a melhoria da qualidade do ensino em escolas públicas foram
escolhidos para compor um banco de práticas e uma publicação que deverão embasar o
investimento social de empresas de toda a América Latina.
A iniciativa, do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal) e do Instituto Latino-Americano
de Comunicação Educativa (Ilce), ligado à Unesco, quer disseminar bons projetos em educação
para que empresas e ONGs se inspirem e
possam trabalhar em conjunto.
Os projetos escolhidos entre os brasileiros são o Educa Rede, programa da Fundação Telefônica
para melhorar o ensino por meio do uso pedagógico da internet; o Sistema de Gestão Integrado
(SGI),da Fundação Pitágoras, que trabalha a gestão escolar como objetivo de elevar os níveis de
aprendizagem; e o Além das Letras, uma rede virtual de capacitação de professores em
alfabetização, implementado por um pool de ONGs e empresas, como os Institutos Razão Social e
Avisa Lá, Grupo Gerdau e IBM.
Em comum, os projetos têm o foco na educação básica pública e o fato de serem parcerias entre
empresas e secretarias municipais de educação.
“Percebemos que o setor privado de grande porte tem a motivação para investir em programas
focados em educação, mas muitas vezes falta articulação com o ente público e as ONGs ”, explica
Alberto Pfeifer, diretor-executivo do Ceal no Brasil. Ele afirma que, salvo especificidades regionais,
o ensino público nos países da América Latina partilha problemas como a baixa qualificação e
remuneração dos professores, a má gestão escolar e o uso ainda incipiente da tecnologia. “Nosso
banco de práticas trará exemplos de projetos que dão certo, testados e aferidos
tecnicamente”,explica Pfeifer. Os projetos poderão ser vistos,a partir de setembro, no endereço
eletrônico www.ceal-int.org. A idéia de usar sua expertise como empresa de telecomunicações
levou a Telefônica, por meio de sua fundação, a formatar o projeto Educa Rede, em 2002. O
programa tem como principal vertente o portal www.educarede.org.br, por meio do qual
educadores e alunos trocam experiências com colegas de todo o País. Os alunos podem também
trabalhar em atividades propostas pelos professores, que ganham visibilidade no site. O programa
opera ainda uma rede de capacitação de docentes, que já beneficiou 10 mil professores.
Na Escola Municipal Pracinhas da FEB, na região sul de São Paulo, que utiliza os conteúdos do
portal, o uso pedagógico da internet trouxe mais motivação para a sala de aula. Essa é a avaliação
da professora Paloma Fernandes, que coordena os trabalhos com informática na escola. Os seis
primeiros computadores com acesso a Internet vieram em 2002, bancados pelo programa. Hoje
são 20. Antes, o ensino de informática se restringia aos programas básicos de confecção de
planilhas e editoração de textos. “O uso da internet nas aulas expandiu nossa visão sobre novas
tecnologias. Até o professor é instigado a saber mais”,diz Paloma.
Segundo Sergio Mindlin, presidente da Fundação Telefônica, o principal diferencial do Educa Rede
é ter sido pensado como um portal voltado à escola pública, totalmente gratuito. “O professor
interage com o aluno por meio do portal. Isso traz
atratividade para as aulas ”,diz.
O custo anual do projeto é de R$1,5 milhão anuais.
Levar para escolas municipais um sistema eficiente de gestão e avaliação, semelhante ao utilizado
na rede particular, rendeu para a Fundação Pitágoras, ligada ao Grupo Pitágoras de ensino, lugar
de destaque na publicação do Ceal. O programa, chamado de Sistema de Gestão Integrado(SGI),
tem como objetivo transformar as escolas em sistemas com altos índices de aprendizagem. O SGI
é implementado a partir de parcerias com as secretarias de educação dos municípios, e a
Fundação Pitágoras se encarrega de transferir a tecnologia. Como em uma empresa, todos os
envolvidos – secretários, diretores, professores, alunos e seus pais – passam a ter um plano de
metas a cumprir, que é periodicamente avaliado. “Cada aluno passa a ter seu portfólio de
aprendizagem, com metas pessoais e monitoração de resultados. Tudo isso é feito de modo
sistemático”, explica Evando Neiva, presidente da Fundação Pitágoras. O programa já atende 100
mil escolas e 120 mil estudantes, e tem parceiros como Belgo Mineira, Embraer e Maxion. O custo
de implementação é baixo, de acordo com Neiva –cerca de R$900 mensais por escola.
AÇÃO
iNOVAÇÃO - Para Paloma, o uso da internet instiga professores a buscar mais conhecimento
Projetos têm foco em
educação fundamental
e usama internet
comoferramenta
SERGIO CASTRO/AE
Educadores dizem que há otimismo a longo prazo
O educador Evando Neiva, sócio-fundador do Grupo Pitágoras, afirma que, apesar das grandes
carências da educação pública no Brasil, existem fatores que já permitem um certo otimismo a
longo prazo. Um deles é o engajamento da iniciativa privada no movimento de responsabilidade
social corporativa e o direcionamento de recursos para áreas como educação. “Temos cada vez
mais empresas conscientes da necessidade de se envolver na melhoria do ensino, mesmo porque
uma educação precária restringe seus planos estratégicos”,avalia. “Elas vêm com recursos para
investir, e isso é um fato recente e bem-vindo”,diz Neiva.
As políticas públicas, na última década, levaram a uma evolução na universalização das
matrículas, entre crianças e jovens de 7 a 14 anos. Segundo Neiva, há dez anos o cenário era de
25% das crianças e jovens nessa faixa etária matriculados no ensino regular. Hoje o porcentual é
da ordem de 90%. No entanto, as avaliações de aprendizagem efetuadas pelo próprio Ministério da
Educação (MEC) continuam apontando para índices muito baixos de aproveitamento escolar, da
ordem de 5%. Na prática, a criança está na escola, mas seu rendimento continua muito aquém do
potencial. “Escola de qualidade para todos se tornou o grande desafio do País”, afirma Neiva. Sua
opinião é compartilhada por Silvia Carvalho, coordenadora executiva do Instituto Avisa Lá, que
promove a capacitação de professores. “O desafio é combater esse analfabetismo funcional, pois
55%das crianças até a quarta série não conseguem ler e escrever com precisão”,diz.
Neiva aponta que o terceiro fator que permite vislumbrar um melhor horizonte para a educação
pública brasileira é a cultura da avaliação do desempenho educacional, que também é muito
recente no Brasil. Sistemas como o Saeb (ensino básico), Enem (médio) e Sinaes (superior) têm o
mérito de promover uma radiografia da educação brasileira.
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