I FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ MESTRADO INTERINSTITUCIONAL EM SAÚDE PÚBLICA SUBÁREA: Epidemiologia. “CÂNCER E EXPOSIÇÕES OCUPACIONAIS NO SETOR MADEIREIRO, NA REGIÃO NORTE DO BRASIL”. MESTRANDA: Silvia Helena Arias Bahia. ORIENTADORA: Profª. Inês Echenique Mattos. COORIENTADOR: Prof. Sérgio Koifman. Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública. Novembro - 2001 II Bahia, Silvia Helena Arias Câncer e Exposições Ocupacionais no Setor Madeireiro, na Região Norte do Brasil. 97 p. Dissertação (Mestrado Interinstitucional em Saúde Pública). FIOCRUZ/Escola Nacional de Saúde Pública. Universidade Federal do Pará, 2001. 1.Câncer. 2. Exposição Ocupacional. 3. Trabalho com Madeira. 4.Tendência de Mortalidade. 5. Laringe. I. Título. III Ao meu marido W. R. Moura, amor e companheiro, transformador dos meus sonhos em realidade. IV “Vivemos e trabalhamos na sociedade do futuro, mas continuamos a usar os instrumentos do passado” Domenico de Masi. V AGRADECIMENTOS À Deus, e aos meus pais Joelzio e Conceição Bahia, pela vida, e por toda a força e carinho durante este trajeto. Aos mestres do passado e do presente, que contribuíram nesta caminhada, e, em especial aos meus orientadores, Drs. Profs. Inês Echenique Mattos e Sérgio Koifman que caminharam juntos. A Eluiza, muito mais que tia, amiga querida e exemplo de força e determinação. A Wal e Mile, colegas, cuja convivência, permitiu mostrar grandes amigas e companheiras. A Edilene e Ilse, amigas que sempre me incentivaram no passado, no presente, e certamente no futuro. Ao Vítor, por sua enorme contribuição, na superação das dificuldades encontradas. Ao Edson Vidal, por sua inestimável colaboração em disponibilizar informações fundamentais para a realização deste trabalho. Ao Instituto Ofir Loyola, que possibilitou a execução deste trabalho, e em especial a pessoa do Dr. Antenor Madeira. Ao grupo do Registro Hospitalar de Câncer do Instituto Ofir Loyola, Neves, Joana e Cinara por toda a presteza e colaboração. Aos coordenadores deste mestrado, Drª Helena dos Santos, Drª Maria Helena Machado e Dr. Sérgio Koifman, que acreditaram neste desafio. Aos colegas do mestrado, em especial ao amigo Cláudio Galeno, com certeza grandes vencedores. VI À todos os familiares, em especial meus irmãos e sobrinhos, amigos e colaboradores, que incentivaram e contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. RESUMO O trato aéreo-digestivo superior é uma das principais vias de entrada de agentes de risco para o desenvolvimento do câncer entre trabalhadores. O setor madeireiro ocupa lugar de destaque no Pará, onde atuam cerca de 90% das empresas com esse tipo de atividade no mercado amazônico. A ocorrência de neoplasias, entre elas o câncer nasal e de fossas nasais e os tumores de laringe, têm sido associada à exposição ao pó da madeira. No Pará, o câncer de laringe tem grande relevância no sexo masculino. Esta dissertação está estruturada sob a forma de dois estudos descritivos. O primeiro, consistindo em uma análise das relações entre a exposição ocupacional ao pó de madeira e o desenvolvimento de câncer, através da Razão Proporcional de Incidência de Câncer (PCIR), e da Razão de Chances de Mortalidade por Câncer (CMOR), e o segundo, descrevendo a tendência da mortalidade por câncer de laringe na população do estado do Pará, segundo sexo, faixa etária e local de residência, no período 1980-1997. A análise da incidência de câncer em madeireiros mostrou PCIRs elevadas e estatisticamente significativas para tumores de pulmão ((1,78 (1,05 – 2,81)), cavidade oral/faringe ((2,44 (1,44 – 3,85)), estômago ((3,57 (2,41 – 5,10)) e doença de Hodgkin ((5,30 (1,09 – 15,47)), em relação à população de Goiânia, e para os neoplasmas de cavidade oral/faringe ((1,97 (1,17 – 3,12)), estômago ((3,12 (2,11 – 4,47)) e pênis ((6,54 (1,78 – 16,75)) em relação à de Porto Alegre. A análise da mortalidade por câncer entre esses trabalhadores mostrou uma CMOR de 8,86 (5,26 – 14,83) para câncer de fígado. Para as neoplasias de pleura, pênis, pele, laringe e reto e para os linfomas foram observadas CMORs maiores do que a unidade, porém estatisticamente não significativas. Belém apresentou taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe entre 3,9 e 2,0/100.000 e o Pará entre 1,4 e 0,8/100.000, sendo observada uma tendência de declínio dessas taxas, no período analisado. A magnitude das taxas padronizadas foi maior no sexo masculino, com uma razão de sexos entre 8 e 7,0. As taxas de mortalidade mais elevadas foram observadas nas faixas etárias de 6069 anos (8,3 e 3,8/100.000) e de 70 anos e mais (12,7 e 6,4/100.000). As taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe apresentam importantes diferenças de magnitude entre a capital e o interior do estado. Palavras-chave: Câncer, exposição ocupacional, trabalho com madeira, tendência de mortalidade, laringe. VII ABSTRACT The upper respiratory/digestive tract is one of the major entryways for carcinogenic agents in the workplace. The wood related industry occupies an important place in the state of Pará, where are located 90% of the companies with this kind of activity on the Amazon market. The development of neoplasms, particularly those of nasal/nasal cavity and larynx, has been associated with exposure to wood dust. In Pará, larynx is an important site of cancer in men. This work comprehends two descriptive studies. The first is an analysis of the relationship between occupational exposure to wood dust and cancer through the Proportional Cancer Incidence Ratio (PCIR) and the Cancer Mortality Odds Ratio (CMOR). The describes patterns of mortality for cancer of the larynx by sex, age and place of residence in the state of Pará, from 1980 to 1997. Analysis of cancer occurrence in woodworkers has showed high and statistically significant PCIRs for lung tumors (1,78 (1,05 – 2,81)), oral cavity /pharynx (2,44 (1,44 – 3,85)), stomach (3,57 (2,41 – 5,10)) and Hodgkin’s disease (5,30 (1,09 – 15,47)), when compared to the population of Goiânia and for neoplasms of oral cavity/pharynx (1,97 (1,17 – 3,12)), stomach (3,12 (2,11 – 4,47) and penis (6,54 (1,78 – 16,75)) when compared to the population of Porto Alegre. Analysis of cancer mortality in this work group has showed a CMOR of 8,86 (5,26 – 14,83) for liver cancer. CMORs higher than one, but not statistically significant were observed for pleura, penis, skin, larynx and rectum neoplasms and for linfomas. Belém had standardized mortality rates of larynx cancer between 3,9 and 2,0/100.000. In Pará, those rates varied between 1,4 and 0,8/100.000. In Belém as well as in Pará a decline of these rates was noted in the study period. Standardized mortality rates were higher in men, the sex ratio being 8,0 in 1980-1982 and 7,0 in 1995-1997. The highest mortality rates were observed for the 60-69 (8,3 and 3,8/100.000) and 70 years or more (12,7 and 6,4/100.000) age groups. Important differences in the magnitude of the standardized mortality rates for larynx cancer were observed when comparing Belém to other parts of Pará state. Key words: Cancer, occupational exposure, woodworkers, mortality trends, larynx. VIII SUMÁRIO INTRODUÇÃO...............................................................................................................12 1. Setor madeireiro na Amazônia e no estado do Pará............................................13 2. Câncer e exposições ocupacionais no setor madeireiro.......................................20 3. Câncer de laringe..................................................................................................26 JUSTIFICATIVA.............................................................................................................40 OBJETIVOS..................................................................................................................41 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................42 ESTUDO 1 Resumo......................................................................................................................45 Abstract......................................................................................................................46 Introdução...................................................................................................................47 Material e Métodos.....................................................................................................48 Resultados..................................................................................................................50 Discussão......................................................................... .........................................52 Referências Bibliográficas..........................................................................................56 Anexos do estudo 1....................................................................................................65 ESTUDO 2 Resumo......................................................................................................................70 Abstract......................................................................................................................71 Introdução..................................................................................................................72 Material e Métodos.....................................................................................................73 Resultados..................................................................................................................75 Discussão...................................................................................................................78 Referências Bibliográficas..........................................................................................80 CONCLUSÕES..............................................................................................................89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................90 IX LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Volume de toras exploradas na Amazônia em 1997............................. 16 Quadro 2 – Exportação – Janeiro / Dezembro – em US$ mil fob e Variação %...... 17 Quadro 3 – Exportações do Pará – 1995 a 2000 – ano / valor (US$ mil fob) e Variação %............................................................................................ 18 Quadro 4 – Distribuição dos produtos da extração vegetal, segundo mesoregiões Do Pará................................................................................................. 18 Quadro 5 – Estimativas de taxas de incidência e mortalidade para as 25 localizações mais comuns de câncer no mundo para o ano de 1990... 31 Quadro 6 – Estimativas de taxas de incidência e mortalidade para as 25 localizações mais comuns de câncer no Brasil para o ano de 1990..... 32 Quadro 7 – Estimativas de taxas de incidência e mortalidade de câncer de laringe nas regiões mundiais para o ano de 1990............................................ 33 Quadro 8 – Produção de madeira em tora............................................................... 42 X LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Distribuição dos casos de câncer em trabalhadores do setor madeireiro, segundo a procedência do caso – IOL – 1991 a 1999.......................... 59 Gráfico 2 – Distribuição dos casos de câncer em trabalhadores do setor madeireiro, segundo a localização anatômica – IOL – 1991 a 1999........................ 60 Gráfico 3 – Distribuição dos casos de câncer em trabalhadores do setor madeireiro, segundo a faixa etária – IOL – 1991 a 1999...................... 69 Gráfico 4 – Taxas de Mortalidade por câncer de laringe – Pará, Belém e Interior – 1980 a 1997........................................................................................... 82 Gráfico 5 – Taxas de Mortalidade por câncer de laringe, segundo sexo – Pará e Belém – 1980 a 1997......................................................................... 83 Gráfico 6 – Taxas de Mortalidade por câncer de laringe, segundo faixa etária – Pará – 1980 a 1997............................................................................... 84 Gráfico 7 – Taxas de Mortalidade por câncer de laringe – Mesoregiões / Pará – 1980 a 1997........................................................................................... 85 Gráfico 8 – Taxas de Mortalidade por câncer de laringe – Regiões / Brasil – 1980 a 1997........................................................................................... 86 Gráfico 9 – Taxas de Mortalidade por câncer de laringe – Capitais / Brasil – 1980 a 1997........................................................................................... 87 Gráfico 10 – Taxas de Mortalidade por câncer de laringe – Estados / Brasil – 1980 a 1997........................................................................................... 88 XI LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Razão de Incidência Proporcional por Câncer (PCIR) ajustada por idade, População de referência / Belém – amostra de madeireiros – 1991 a 1999........................................................................................................ 61 Tabela 2 – Razão de Incidência Proporcional por Câncer (PCIR) ajustada por idade, População de referência / Goiânia – amostra de madeireiros – 1991 a 1999........................................................................................................ 62 Tabela 3 – Razão de Incidência Proporcional por Câncer (PCIR) ajustada por idade, População de referência / Porto Alegre – amostra de madeireiros – 1991 a 1999..................................................................................................... 63 Tabela 4 – Cancer Mortality Odds Ratio (CMOR) – casos de madeireiros do estado do Pará – 1980 a 1995............................................................... 64 XII 16 Quadro 1 VOLUME DE TORAS EXPLORADAS NA AMAZÔNIA EM 1997 ESTADOS VOLUME (m3) DE TORAS EM MILHÕES % DO TOTAL PARÁ 13,5 45,8 MATO GROSSO 9,8 33,2 RONDÔNIA 3,9 13,2 MARANHÃO 0,7 2,4 AMAZONAS 0,7 2,4 TOCANTINS 0,1 0,3 ACRE 0,4 1,4 AMAPÁ 0,3 1,0 RORAIMA 0,1 0,3 TOTAL (AMAZÔNIA) 29,5 100,0 Fonte: Barreto, Veríssimo e Hirakui, 1998 O estado do Pará (1.248.042 Km²), localizado na Amazônia Oriental, é amplamente coberto por florestas (81%), das quais 70% com significativo valor comercial (IBGE,1990). Este potencial florestal, faz com que, o setor madeireiro ocupe lugar de destaque no estado. Segundo dados do IBGE (1996) sobre a produção da extração vegetal e da silvicultura, que agrega a produção de carvão vegetal, lenha e madeira em tora, o estado aparece como maior produtor destes produtos na região Norte, com a produção de 119.339 (T) de carvão vegetal, 6.992.711 m³ de lenha e 37.788.555 m³ de madeira em tora. Se compararmos esses dados com os dos demais estados da Federação, observamos que o Pará (37.788.555 m³) concentra quase que a totalidade da produção de madeira em tora da região Norte (39.195.555 m³) e do país (49.855.821 m³) (IBGE, 1996). A grande maioria da madeira processada na Amazônia (95%) é destinada ao mercado nacional, sendo os maiores consumidores do produto, em ordem decrescente, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Bahia e Goiás. O volume exportado (5%) é crescente, em termos de valor, saltando de US$ 100 milhões em 1985, para US$ 465,4 milhões em 1997. As exportações corresponderam a cerca de 38% do valor total de madeira exportada pelo Brasil, em 1997 (Veríssimo & Lima, 1998 apud Barreto et al., 1998). No ranking nacional das exportações de 2000, o Pará pulou do terceiro para o segundo lugar. Até 1973, 60% das exportações ocorriam na forma de madeira em tora, em 1989 com a proibição 17 definitiva das exportações de madeira nessa modalidade, o Pará aumentou a produção e exportação de produtos de madeira serrados e beneficiados (Carvalho, 2001) (Quadro 2). Apesar do grande potencial desta atividade na região e particularmente no estado, o Pará pouco investiu na manufatura de móveis nas últimas décadas (Guia Empresarial do Pará, 2001). Quadro 2 EXPORTAÇÃO – JANEIRO / DEZEMBRO - EM US$ MIL FOB E VARIAÇÃO %. DISCRIMINAÇÃO 1996 1997 % 1998 % 1999 % 2000 % SERRADOS 174.930 199.282 13,92 165.166 (-)17,12 166.459 0,78 171.128 2,8 COMPENSADOS 76.233 77.767 2,01 47.349 (-)39,11 64.288 35,77 67.843 5,53 LAMINADOS 26.145 26.825 2,60 14.356 (-)46,48 8.950 (-)37,66 8.122 (-)9,25 BENEFICIADOS* 6.683 8.389 25,53 10.672 27,21 21.133 98,02 46.361 119,37 OUTROS 16.869 18.277 8,35 17.400 (-)4,80 16.800 (-)3,45 15.576 (-)7,28 309.030 11,31 TOTAL 300.860 330.540 9,87 254.943 (-)22,87 277.630 8,90 (*) Pisos e revestimentos variados, decking, componentes para portas e janelas, etc. Fonte: SECEX/DECEX – Elaboração e cálculo AIMEX. Com relação ao setor industrial, 72% das indústrias do estado trabalham com minerais não-metálicos, madeira, e alimentação (Quadro 3). Em termos de ICMS, 67,6% da arrecadação deste setor estão concentrados em três microregiões: Belém (42,8%), Parauapebas (19,1%) e Paragominas (5,7%). Na microregião de Parauapebas, quase todo o ICMS arrecadado é gerado pela extração mineral. Já na microregião de Paragominas, mais de 92% do que é arrecadado vem da atividade madeireira (SEICOM, 2000). 18 Quadro 3 EXPORTAÇÕES DO PARÁ – 1995 A 2000 - ANO/VALOR (US$ MIL FOB) E VARIAÇÃO %. PRODUTOS 1996 1997 % 1998 % 1999 % 2000 % MINÉRIOS 1.589.113 1.760.828 10,76 1.715.526 (-)5,72 1.616.389 (-)5,72 1.854.736 14,73 MADEIRA PASTA QUÍMICA DE MADEIRA 300.860 330.540 9,87 254943 (-)22,87 277630 8,90 309.030 11,31 91.903 43.320 (-)52,86 83.590 92,96 98.224 17,51 141.955 44,52 PIMENTA 49.196 49.217 0,04 73.741 49,83 76.912 4,30 60.118 (-)21,83 13.879 19.930 43,60 15.465 (-)22,40 7.621 (-)50,72 21.419 181,05 26.682 18.264 (-)31,55 23.725 29,90 24.223 2,10 20.797 (-)14,14 15.085 15.294 1,38 15.664 2,42 8.518 (-)45,62 8.182 (-)3,94 PALMITO 14.240 12.118 (-)14,90 11.105 (-)8,36 7.487 (-)32,58 6.048 (-)19,22 PEIXES MÓVEIS E ART. MADEIRA COUROS E PELES SUCO DE FRUTAS 2.326 1.263 (-)45,70 1.802 42,68 3.507 94,62 4.526 29,06 2.956 3.525 19,25 3.385 (-)3,97 3.626 7,12 4.335 19,55 363 1.975 444 1.068 (-)45,92 784 (-)26,59 1.207 53,95 3.287 1.295 (-)60,60 352 (-)72,82 5.017 1325,28 1.141 (-)77,26 OUTROS 10.607 6.280 (-)40,79 9.648 53,63 8.420 (-)12,73 7.687 (-)8,70 TOTAL 2.117.178 2.263.849 6,89 2.209.014 (-)2,39 2.135.947 (-)3,35 2.441.181 14,30 CASTANHA DO PARÁ CAMARÃO CONGELADO ÓLEO DE DENDÊ Fonte: SECEX/DECEX – Elaboração e cálculo AIMEX. Com relação à distribuição da produção de madeira por mesoregião (Quadro 4), destacam-se o Sudeste (que agrega as microregiões de Tucuruí, Paragominas, São Félix do Xingu, Parauapebas, Marabá, Redenção e Conceição do Araguaia) e o Nordeste paraense (que agrega as microregiões do Salgado, Bragantina, Cametá, Tomé-açu e Guamá) (IBGE, 1996). Quadro 4 DISTRIBUIÇÃO DOS PRODUTOS DA EXTRAÇÃO VEGETAL, SEGUNDO MESOREGIÕES DO PARÁ MESOREGIÕES CARVÃO (T) LENHA (m3) MADEIRA EM TORA(m3) BAIXO AMAZONAS MARAJÓ METROPOLITANA NORDESTE SUDOESTE SUDESTE Fonte: IBGE,1996 1.250 178 1.311 21.668 264 946.668 1.188.429 279.702 241.648 2.294.748 150.180 2.838.004 1.018.822 1.694.929 165.149 8.692.898 170.985 26.045.772 19 Barreto (1998), estimou que a exploração e o processamento de madeira geraram cerca de 137 mil empregos diretos em 1996. Destes, cerca de 56 mil, ou 40%, foram gerados na extração (tempo médio de duração de 6 a 7 meses por ano) e 80,6 mil ou 60%, no processamento da madeira. Para cada emprego direto, foram gerados 3,2 outros, totalizando cerca de 438,6 mil empregos indiretos na região. O total de empregos direto e indiretos ficou em torno de 576 mil em 1996, correspondendo a cerca de 4,5 % da população economicamente ativa da região. A extração da madeira é feita por grupos de cinco a seis pessoas. Um operador de trator abre estradas e arrasta toras para fora da floresta; um assistente amarra o tronco derrubado ao trator, com um cabo de aço; um operador de motoserra, geralmente com um auxiliar, ajuda a localizar as árvores desejadas e limpa o local antes de fazer o corte; um ajudante de cozinha, providencia água e remove a casca da parte central do tronco cortado para facilitar a medição do diâmetro da tora. Depois, todas as árvores são arrastadas da floresta e uma carregadeira leva os troncos até o caminhão madeireiro, para transporte e posterior processamento nas serrarias (Uhl & Vieira, 1991). O processamento e a transformação das toras em tábuas são realizados com a ajuda de uma serra de fita. Após o corte, as tábuas passam por um banho químico contendo substâncias fungicidas e inseticidas, basicamente compostas por organoclorados, organobromados, organofosforados, bórax e piretróides, alguns solúveis em água, ou em solventes orgânicos. O processo de tratamento é denominado imersão-difusão, quando as tábuas ficam alguns segundos imersas no banho e, posteriormente, são colocadas umas sobre as outras. Após a etapa de imunização (tratamento) da madeira, as tábuas seguem para o processo de secagem, que pode ser feito em estufa, a céu aberto, ou em local coberto, exposto a ação do ar. O beneficiamento é feito nas serrarias, carpintarias, marcenarias e outros ramos, onde passam pelas etapas de corte, lixamento, acabamento e montagem . As tábuas imunizadas abastecem o mercado nacional e de exportação (IPT, 1986). No setor madeireiro, a qualidade dos empregos, geralmente, é muito baixa. O valor médio do salário oferecido, que gira em torno de 2 a 4 salários mínimos por mês, as péssimas condições de trabalho, a falta de segurança, responsável por inúmeros acidentes de trabalho, o desrespeito aos direitos trabalhistas e, por fim, as 20 características intrínsecas da atividade, são fatores que contribuem para um quadro depreciativo da relação homem X trabalho nessa atividade na região Amazônica (Veríssimo et al., 1997). 1. Câncer e Exposições Ocupacionais no Setor Madeireiro. As árvores caracterizam-se botanicamente em gymnospermas (geralmente referidas como madeiras leves), e angiospermas (geralmente referidas como madeiras duras). As espécies processadas nas indústrias relacionadas com madeira variam por região e por tipo de produto final. Geralmente, madeireiras, serrarias, indústrias de compensados e manufaturas de aglomerados utilizam árvores do próprio local de origem. Aproximadamente 2/3 da madeira utilizada comercialmente no mundo são madeiras leves; porém, ambas (madeira dura e leve) são largamente usadas na manufatura de móveis (IARC, 1995). O pó da madeira consiste de pequenas partículas, resultantes de várias formas do processamento desse material. Tipicamente, as partículas são mais longas do que largas, variando muito em tamanho de acordo com o processo realizado. A poeira produzida por madeiras duras tende a ser composta por partículas menores do que aquela proveniente de madeiras leves. Partículas com dimensões menores que 10 µm ocorrem raramente no pó de madeira produzido em outras operações que não o lixamento. Mesmo em poeira produzida por madeiras duras, durante o lixamento por máquina, comparativamente poucas partículas têm dimensões menores que 2 µm. Cerca de 25% das partículas esféricas com esse diâmetro são retidas nos alvéolos pulmonares após inalação; mais de 90% das partículas esféricas com diâmetro de 50 µm ou mais são depositadas no nariz (Wills, 1982). O pó da madeira é entendido como um complexo de substâncias, cujo teor varia de acordo com a espécie da árvore e sua localização geográfica. É formado, principalmente, por celulose (polioses) e lignina e pode conter uma variedade de extratos orgânicos, divididos, de acordo com sua estrutura química, em não polares (ácidos graxos, resinas ácidas, cêras, álcools, terpenos, esteróis, ésteres e glicerol) e polares (taninos, flavonóides, quinonas e ligninas), assim como extratos solúveis em água (carboidratos, alcalóides, proteínas e material inorgânico). Diversos 21 produtos químicos, como clorofenóis, fenóis, inseticidas e fungicidas, são utilizados no tratamento da madeira, visando proporcionar-lhe dureza, longa vida e resistência a pragas, umidade e outras fontes de deterioração (Huff, 2001). Muito embora os dados epidemiológicos não distingam claramente entre os diferentes tipos de madeira a que os trabalhadores estão expostos, avaliações técnicas realizadas não mostram diferenças no risco de carcinogênese associado com madeira leve ou dura, ou para tipos específicos de madeiras. Uma alta exposição ao pó da madeira tem sido relacionada com a fabricação de móveis, especialmente durante a fase de lixamento, ou processo similar. Concentrações acima de 1 mg-m3, têm sido medidas ao término de processos de fabricação de compensados e aglomerados, onde a madeira é serrada e lixada (IARC, 1995). As primeiras evidências epidemiológicas de associação entre câncer nasal e pó de madeira surgiram entre trabalhadores de indústrias de móveis da Inglaterra, em 1960, onde foi observado que diagnósticos de câncer nasal eram mais freqüentes em trabalhadores que residiam em áreas próximas a um centro de manufatura de móveis e cadeiras (Macbeth, 1965). Investigações epidemiológicas subsequentes indicaram a ocorrência de um excesso de adenocarcinomas nasais entre os trabalhadores que sempre trabalharam naquelas indústrias (Viren & Imbus, 1989). Mohtashamipur e co-autores (1989) realizaram um estudo de revisão sobre a ocorrência de câncer em trabalhadores das indústrias de móveis e de lojas de carpintaria em 17 países, no período de 1965 a 1989. De 5.785 casos de câncer de seio nasal, cerca de 23% ocorreram em trabalhadores de ocupações relacionadas com madeira. O tipo histológico que ocorreu com maior freqüência foi o carcinoma de células escamosas, seguido pelo adenocarcinoma. Segundo a revisão desses autores, os trabalhadores que desenvolveram adenocarcinoma nasal estavam mais envolvidos na manufatura de móveis, como carpinteiros, marceneiros, serralheiros, torneiros e fiadores. Com relação ao período de latência, na avaliação de nove estudos realizados em cinco países europeus, foi observada uma duração média de aproximadamente 49 anos, com limites de 7-69 anos, para um conjunto de 197 casos. Flechsig e Nedo (1990), em outro estudo de revisão, encontraram um período de latência entre 40-45 anos, com grandes variações; nesse trabalho, o tempo médio de exposição variou entre 28 e 40 anos. 22 Uma série de aproximadamente 14.000 pacientes admitidos no Roswell Park Memorial Institute for Cancer Research (RPMI) em Búfalo, Nova Iorque, entre 1956 e 1965, foram investigados para analisar 50 ocupações relacionadas com um aumento de risco para câncer. O risco relativo, ajustado por idade, foi calculado para 22 localizações anatômicas de neoplasias. Para as ocupações relacionadas com atividades madeireiras (exceto a manufatura de móveis) foi observado um risco relativo (RR) maior ou igual a 2, estatisticamente significativo, apenas para câncer de esôfago. Para os tumores de testículo e rim e para mieloma, o RR foi maior ou igual a 2, porém sem significância estatística. Entre os carpinteiros foi observada uma associação de igual valor, e também não significante, para câncer de estômago (Bross et al, 1978) Roush e colaboradores (1980) avaliaram, através de um estudo casocontrole, a relação entre câncer de seio nasal e certos grupos ocupacionais. Casos e controles foram identificados através do Registro de Tumores de Connecticut e da Divisão de Estatística de Saúde do mesmo estado, respectivamente. Os casos foram limitados aos indivíduos do sexo masculino, residentes em Connecticut, que haviam falecido no período 1935-1975, com 35 ou mais anos de idade e diagnóstico de neoplasia de seios nasais. Os controles constituíam uma amostra aleatória de todos os homens residentes no estado, que haviam falecido no mesmo período, com a mesma faixa de idade. Foi observada uma associação positiva entre ocupações relacionadas a exposição a óleos lubrificantes OR 2,8 (IC 95% 1,4 – 5,7) e ao pó da madeira OR 4,0 (IC 95% 1,5 – 10,8). Hayes e colaboradores (1986) realizaram um estudo caso-controle, em cooperação com o maior centro de tratamento de câncer da Holanda, com o objetivo de analisar a associação entre ocupações relacionadas com madeira e os diferentes tipos histológicos de câncer nasal. Foram identificados 116 homens, residentes na Holanda, com 35 a 70 anos de idade, diagnosticados com câncer da cavidade nasal e seios acessórios, no período de 1978-1981, nos registros das seis maiores instituições para tratamento cirúrgico e/ou radioterapia de tumores da cabeça e pescoço. O grupo controle consistiu de uma amostra randomizada, estratificada por idade, de homens vivos e falecidos (todas as causas), residentes na Holanda em 1982, e em 1980, respectivamente. Um total de 223 controles vivos foram selecionados dos registros residenciais municipais e 36 controles falecidos foram 23 selecionados dos registros do Central Bureau of Genealogy. Dos 116 casos e 259 controles elegíveis, foram entrevistados 91 casos e 195 controles. Os indivíduos do estudo foram categorizados em grupos, segundo o relato de trabalho em ocupações relacionadas à madeira: moveleiros, marceneiros e carpinteiros em fábricas de marcenarias, carpinteiros da indústria de construção civil e outros. Na categoria “outros”, incluem-se maquinistas e zeladores de indústrias de madeira, trabalhadores da indústria de papel, trabalhadores de serrarias e sapateiros. Para cada tipo de ocupação, o local de trabalho foi analisado, buscando identificar as diferentes tarefas realizadas e identificando-se a forma como a mesma é realizada. A probabilidade de exposição ao pó da madeira foi classificada em níveis: 0 (nenhum), 1 para 2 (baixo), 3 para 4 (médio) e 5 para 9 (elevado). Quando todos os tipos histológicos foram analisados em conjunto, foi observada uma elevação da estimativa de risco relativo apenas para trabalho nas indústrias de papel e madeira, devido, exclusivamente à forte associação com adenocarcinoma (OR 11,3, ajustada por idade). Na análise das ocupações específicas, constatou-se estimativas de risco de adenocarcinoma elevadas em moveleiros (OR 139,8; IC 90% 31,6 – 999,4) e em marceneiros e carpinteiros (OR 16,3; IC 90% 2,8 – 85,3). Foi observada uma forte associação entre altos níveis de exposição (níveis 5-9) ao pó de madeira e adenocarcinoma (OR 26,3 ;IC 90% 9,3 – 85,5) e uma associação moderada com carcinoma de células escamosas (OR 2,5; IC 90% 1,1 – 5,2), para os baixos níveis de exposição (níveis 1 e 2). Não foi observada associação entre essa exposição e o desenvolvimento de outros tipos histológicos de câncer nasal. Em 1987, o IARC elaborou uma monografia sobre indústrias e ocupações relacionadas com a exposição ao pó da madeira. Concluiu-se que, em face as evidências disponíveis até então, as exposições nas indústrias madeireira e do papel e em serrarias não podiam ainda ser classificadas quanto a sua carcinogenicidade para seres humanos (Grupo 3). Entretanto, as exposições em movelarias foram classificadas como carcinogênicas para seres humanos (Grupo 1) e aquelas decorrentes do trabalho em carpintaria ou marcenaria foram consideradas como possivelmente carcinogênicas para os seres humanos (Grupo 2). Vaughan e Davis (1991) revisaram os resultados de dois estudos casocontrole, com o objetivo de investigar a associação entre carcinoma de células escamosas do seio nasal e exposição ao pó da madeira, avaliando também a 24 possibilidade de um aumento de risco de câncer em outras localizações do trato respiratório superior. Em ambos os estudos, os casos haviam sido identificados através do Sistema de Vigilância de Câncer do Centro de Pesquisa de Câncer Fred Hutchinson, no estado de Washington, no período de 1979-1987. Os controles, em ambos os estudos, foram selecionados de forma aleatória por discagem telefônica e pareados por sexo e idade. Foi observada uma forte associação entre câncer nasal e ocupações relacionadas com o trabalho com madeira para trabalhadores com 15 ou mais anos de exposição até o diagnóstico (OR 7,3; IC 95% 1,4 – 34,2). Uma estimativa de risco elevada, porém não significativa, foi observada para tumores de nasofaringe (OR 4,2; IC 95% 0,4 – 26,6), de orofaringe (OR 1,5; IC 95% 0,4 – 5,5) e de laringe (OR 2,5; IC 95% 0,6 – 10,3). Deitmer (1995), num estudo de revisão com o objetivo de avaliar a possível associação entre câncer de laringe e pó de madeira, encontrou evidências sugestivas de relação causal em dez estudos caso-controle. Contudo, em outros cinco estudos caso-controle e em seis estudos de coorte não foi observada associação. O autor concluiu que essa possível associação necessita ser mais estudada, não recomendando que essa neoplasia seja classificada como doença ocupacional causada pela exposição ao pó da madeira. O IARC (1995), com base em diversos estudos epidemiológicos que demonstraram um excesso de ocorrência de câncer na cavidade nasal e seios paranasais, em diferentes períodos de tempo, em grupos ocupacionais expostos ao pó da madeira, considerou essa substância como carcinogênica para os seres humanos. Todavia, para outras localizações anatômicas, como é o caso do câncer de nasofaringe e dos tumores de laringe, as evidências disponíveis não foram consideradas consistentes. Demers e co-autores (1995) analisaram cinco estudos de coortes sobre a associação entre câncer e exposição ao pó da madeira, compreendendo um total de 28.704 indivíduos que trabalhavam com madeira na Inglaterra e nos Estados Unidos, entre os quais ocorreram 7.665 óbitos. A análise foi conduzida de três formas: para todas as coortes combinadas, para as coortes de trabalhadores de indústrias de móveis combinadas e para as coortes de trabalhadores com compensados combinadas. Na análise do conjunto de todas as coortes, foi observado um excesso de óbitos por tumores de seio nasal (SMR 3,1; IC 95% 1,6 - 25 5,6) e de nasofaringe (SMR 2,4; IC 95% 1,1 - 4,5). A análise das coortes de trabalhadores da indústrias de móveis também mostrou um excesso de óbitos por neoplasias de seio nasal (SMR 2,9; IC 95% 1,2 - 5,9) e de nasofaringe (SMR 4,3; IC 95% 2,2 - 7,8). Não foi observada associação entre qualquer localização anatômica de câncer e o trabalho na indústria de compensados. Steelman e colaboradores (1998) realizaram um estudo de coorte para investigar a associação entre exposição ao pó da madeira e câncer. A coorte foi constituída por homens participantes do Estudo de Prevenção II da Associação Americana de Câncer, realizado em 1982, em 50 estados americanos, no distrito federal e em Porto Rico, que foram seguidos por um período de seis anos. As ocupações e as exposições ocupacionais dos indivíduos participantes foram determinadas de maneira independente. A ocupação foi determinada através de uma combinação de três perguntas: ocupação atual, última ocupação quando aposentado, e ocupação mantida pelo maior período de tempo. A exposição foi determinada através de uma listagem composta por 12 fatores de risco distintos. Deste grupo, 45.399 (12.5%) relataram ocupações relacionadas com madeira ou exposição ao pó da madeira, ou ambos. A razão de densidade de incidência foi utilizada para estimar o risco relativo (RR) e, dentre os indivíduos que relataram ocupação relacionada com madeira, foi encontrado um pequeno excesso de risco para todas as causas de morte combinadas (RR 1,17; IC 95% 1,11 – 1,24), para o conjunto das neoplasias (RR 1,17; IC 95% 1,05 – 1,30), para câncer de próstata (RR 1,49; IC 95% 1,14 – 1,95) e para tumores do cérebro (RR 2,02; IC 95% 1,25 – 3,27). Outras localizações anatômicas que apresentaram risco elevado, mas sem significância estatística, foram: nasofaringe (RR 1,44), reto (RR 1,47), laringe (RR 1,19), pleura (RR 2,51), sarcoma de tecidos moles (RR 2,45) e bexiga (RR 1,41). Entre os homens que mencionaram exposição ao pó de madeira, foi observado risco elevado para todas as causas de morte combinadas (RR 1,07; IC 95% 1,03 – 1,11), para o conjunto das neoplasias (RR 1,08; IC 95% 1,01 – 1,15) e para câncer de pulmão (RR 1,17; IC 95% 1,04 – 1,31), com um efeito doseresposta a medida em que aumentava o tempo de exposição; outras localizações que apresentaram risco elevado, mas não significativo, foram: esôfago (RR 1,31), estômago (RR 1,34), reto (RR 1,31), laringe (RR 1,60), pleura (RR 1,43) e próstata (RR 1,23). Não foi observado um aumento do risco para câncer de seio nasal, porém, o número de casos encontrados foi pequeno. 26 Innos e colaboradores (2000), em um estudo de coorte retrospectivo, com 3.723 homens e 3.063 mulheres que trabalhavam na indústria de móveis, no período de 1968 e 1995, compararam a incidência de câncer nesse grupo de trabalhadores com aquela da população geral da Estônia. A Razão Padronizada de Incidência (SIR) para o conjunto das localizações anatômicas de câncer foi de 1,03 (IC 95% 0,95 - 1,11). O risco para tumor de seio nasal foi elevado, porém sem significância estatística para ambos os sexos (SIR 1,87; IC 95% 0,39 - 5,46). Foi observado um aumento do risco de câncer de cólon (SIR 1,65; IC 95 % 1,22 – 2,17) e trato digestivo (SIR 1,21; IC 95% 1,05 – 1,37), para ambos os sexos. Outras localizações que apresentaram risco elevado para o sexo masculino, não significantes estatisticamente foram: cavidade bucal (SIR 1,22), faringe (SIR 1,82), peritôneo (SIR 2,08), seio nasal (SIR 1,86), pleura (SIR 2,20), ossos (SIR 2,13), melanoma (SIR 1,54), pênis (SIR 1,16), bexiga (SIR 1,51), rim (SIR 1,28), cérebro (SIR 1,60), glândula tireóide (SIR 1,14) e doença de Hodgkin (SIR 1,54). Ao analisar a duração da exposição no trabalho, considerando um período de latência de 20 anos, foi observado que os indivíduos de ambos os sexos empregados por mais de 10 anos, apresentaram um risco ainda maior de câncer de cólon (SIR 2,29; IC 95% 1,28 – 3,77) e câncer de reto (SIR 2,10; IC 95% 1,05 – 3,76). Em relação ao câncer de laringe, foi observado um aumento de risco, porém sem significância estatística, somente em mulheres (SIR 1,69; IC 95% 0,04 - 9,44). 3. CÂNCER DE LARINGE O câncer de laringe é um dos tipos mais comuns que atinge a região da cabeça e pescoço, representando cerca de 25% dos tumores malignos que acometem esta área e 2% de todas as doenças malignas (INCA, 2000). No Brasil, a maior parte desses tumores são transglóticos, no momento do diagnóstico, seguindo-se, em ordem decrescente, os glóticos, supraglóticos e subglóticos; aproximadamente 2/3 desses tumores surgem na corda vocal verdadeira e 1/3 acomete a laringe supraglótica (Kowalski, 1996; INCA, 2000). Com relação à sintomatologia, na história do paciente, o primeiro sintoma é o indicativo da localização da lesão. Assim tumores glóticos causam rouquidão persistente, subglóticos levam à dispnéia, e a manifestação inicial de um tumor supraglótico, geralmente, é odinofagia. Ao contrário dos tumores glóticos em que a 27 rouquidão se estabelece precocemente e, algumas vezes, já na fase de lesão cancerizável, a evolução de um tumor supraglótico geralmente é silenciosa, ou oligossintomática, por um considerável período de tempo e, normalmente, é acompanhado de outros sinais e sintomas, como a alteração na qualidade da voz, disfagia leve e sensação de um “caroço” na garganta. Outros sinais e sintomas associados a tumores mais avançados são disfagia, tosse, otalgia reflexa, hemoptise e linfonodo metastático (Kowalski, 1996; Moreno, 1999; INCA, 2000). O estadiamento do tumor de laringe é o fator mais importante para o prognóstico dos pacientes com essa neoplasia, pois estabelece a extensão do comprometimento, orientando a melhor conduta terapêutica para cada caso. Para classificação de tumores malignos, no Brasil, utiliza-se o sistema T.N.M (T= extensão do tumor primário; N= ausência ou presença e a extensão das metástases em linfonodos regionais; e M= ausência ou presença de metástases à distância). Esse sistema utiliza as regras de classificação e grupamento por estádios, cujos critérios são padronizados pelo American Joint Committe on Cancer (AJCC) e pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) (Kowalski, 1996; Moreno, 1999). Quando o diagnóstico é feito, o tratamento dos carcinomas da laringe depende basicamente do local da lesão, estadiamento, presença de linfonodos, preferências e necessidades do paciente, resultados de estudos de sobrevida e possibilidade da preservação da voz; quanto mais precoce for o diagnóstico, maior é a possibilidade de o tratamento evitar deformidades físicas e problemas psicosociais. Assim, a radioterapia é o tratamento de escolha para tumores glóticos T1 e pequenas lesões ulceradas superficiais ou úlcero-vegetantes confinadas à epiglote supra-hióidea. Em todas as demais situações, prefere-se o tratamento cirúrgico que, em casos selecionados, pode ser associado à radioterapia pós-operatória (Kowalski, 1996). Sob o ponto de vista epidemiológico, o câncer de laringe é considerado uma neoplasia rara (Noronha & Dias, 1997). Na América do Norte, o câncer de laringe ocorre com frequência 14 vezes menor que o de pulmão, 15 vezes menor que o de mama, 16 vezes menor que o de próstata e nove vezes menor que o de cólon (Sessions et al., 1997). No Brasil, o câncer de laringe ocorre com frequência 12 vezes menor que o de pulmão, 10 vezes menor que o de mama, 9 vezes menor que o de próstata e 8 vezes menor que o de cólon (INCA, 2000). 28 Rothman e co-autores (1980) realizaram um estudo sobre a epidemiologia do câncer de laringe nos Estados Unidos, com base no Terceiro Inquérito Nacional de Câncer, realizado entre 1969-1971, em sete áreas metropolitanas e dois estados americanos. Foi verificado que essa neoplasia era mais freqüente em homens, tendo sua maior incidência em torno dos 70 anos (3,8/100.000). As taxas de incidência foram mais baixas no sexo feminino, sendo o pico de incidência antes dos 60 anos de idade. Os autores sugerem que o declínio da taxa de incidência no sexo masculino, após os 70 anos, possa ser resultante de efeito da coorte de nascimento, pois homens que nasceram antes de 1900 fumavam menos do que os nascidos depois dessa data; já para o sexo feminino, o declínio das taxas após os 60 anos de idade, certamente reflete esse efeito de coorte, na medida em que fumar, não era um hábito popular nas mulheres nascidas antes da primeira guerra mundial. Comparando as taxas de incidência padronizadas por idade de câncer de laringe observadas nesse levantamento com aquelas obtidas em um levantamento anterior, verificaram que essa taxa, em homens brancos, aumentou de 6,5/100.000 para 8,2/100.000 entre 1947 e 1969-1971, correspondendo a um crescimento de mais de 25%. Com relação às taxas padronizadas de mortalidade para esse mesmo grupo populacional, foi observado um pequeno aumento de 2,4/100.000, em 1950, para 2,6/100.000, em 1974. Keane apud Moreno (1999) mostra que, no Canadá, no período de 1983 a 1987, a taxa de incidência global do câncer de laringe para 100.000 habitantes foi de 7,0 para os homens e de 1,2 para as mulheres. O pico de incidência deste tumor ocorreu, em ambos os sexos, na faixa etária de 70 a 75 anos, embora houvesse uma alta incidência de casos aos 55 anos. O autor considera que estas taxas são muito similares às encontradas nos Estados Unidos, para homens e mulheres da raça branca. As taxas de mortalidade por câncer de laringe para o sexo masculino, padronizadas por idade pela população mundial, correspondiam entre 1978-1979 a 2,05/100.000 nos Estados Unidos. No mesmo período, a França apresentava uma taxa de 11,24/100.000 e a Itália de 6,51/100.00, enquanto o Japão, a Noruega e a Suécia apresentavam taxas menores, respectivamente 1,24/100.000; 0,88/100.000 e 0,92/100.000 (Austin & Reynolds, 1996) 29 Decarli e co-autores (1992) analisaram a tendência da mortalidade por câncer do aparelho respiratório, em ambos os sexos, em áreas ao norte, centro e sul da Itália no período de 1969 –1987. A partir da metade da década de 70, as taxas de mortalidade por câncer de laringe, para a faixa etária de 35-64 anos se mantiveram constantes, ou decresceram, em todas as áreas geográficas estudadas. A tendência de decréscimo era mais marcada para o sexo masculino. O efeito da coorte de nascimento nesse sexo foi mais acentuado para as coortes que nasceram em torno de 1900, decrescendo para as demais. La Vecchia e colaboradores (1992) analisaram a tendência da mortalidade por câncer de laringe no sexo masculino em países da Europa, no período de 19551989. No início do período, a França apresentava a maior taxa de mortalidade no sexo masculino (8,9/100.000), chegando a atingir, no final da década de 70, uma taxa de 11,8/100.000, quando então, passou a apresentar uma tendência de declínio. Espanha, Bélgica, Itália e Grécia, que também apresentavam taxas relativamente elevadas na década de 50, mantiveram, entretanto, valores praticamente estáveis ao longo do período analisado. Nos países do leste europeu, como Hungria, Polônia e Iugoslávia, as taxas de mortalidade por câncer de laringe que apresentavam valores relativamente baixos no período inicial do estudo, mostraram uma tendência de aumento, particularmente nas últimas décadas, atingindo valores bastante elevados no período 1985-1989. Nos países que apresentaram tendências de aumento das taxas de mortalidade por essa neoplasia, os autores observaram que esse acréscimo tendia a ser maior entre os adultos jovens e de meia-idade. Em 1993, La Vecchia e colaboradores analisaram as tendências da mortalidade por câncer de laringe em países da América no período de 1955-1989. Segundo os autores, as taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe para o sexo masculino, no período variaram entre 2,0 e 3,0/100.000 na maioria dos países das Américas Central e do Sul, valores um pouco acima dos observados para o Canadá e os Estados Unidos. As taxas mais elevadas foram observadas no Uruguai (7,0/100.000), em Cuba e na Argentina (ao redor de 5,0/100.000). Segundo os autores, em relação ao sexo feminino, não foi possível identificar nenhum padrão claro de ocorrência, por se tratar de um tumor extremamente raro nesse grupo populacional. 30 Em São Paulo, em 1978, a taxa de incidência de câncer de laringe, ajustada por idade pela população mundial, para o sexo masculino, era de 17,8/100.000, situando-se entre uma das maiores do mundo, enquanto para o sexo feminino era de 1,3/100.000 (Kowalski, 1996). No Brasil, dados dos Registros de Câncer de Base Populacional (INCA, 1995) mostram maiores taxas de mortalidade para o sexo masculino: no ano de 1991, Porto Alegre apresentava taxas de 7,05/100.000 para homens e de 0,78/100.000 para as mulheres; em Goiânia, no mesmo ano, essas taxas eram 3,06/100.000 e 0,49/100.000 respectivamente; em Belém, no ano de 1989, os valores observados foram 5,59/100.000, para o sexo masculino e 0,21/100.000 para o sexo feminino. Pinto e Curi (1991), em um estudo sobre a tendência da mortalidade por 13 localizações anatômicas de neoplasias, nos 26 Estados brasileiros, nos períodos 1980/1983 e 1985, observaram uma tendência de crescimento das taxas de mortalidade por câncer de laringe (6,36%). Estimativas de incidência e mortalidade para 25 localizações anatômicas de câncer, em 1990, no mundo e no Brasil, são apresentadas nos quadros 5 e 6, respectivamente. De modo geral, as taxas de incidência e mortalidade por câncer de laringe, são bem mais elevadas no sexo masculino, tanto no mundo, quanto em nosso país. No Brasil, essa neoplasia ocupava o 8º lugar em termos de incidência e 10º lugar em mortalidade, no sexo masculino, superando inclusive as taxas mundiais. Uma análise comparativa dessas taxas em diferentes regiões do mundo, para o mesmo ano, pode ser feita com base no quadro 7, revelando que as estimativas de taxas para câncer laríngeo no Brasil, situam-se entre as maiores do mundo, para ambos os sexos. Essas estimativas, para a população feminina brasileira, superam aquelas da população masculina de várias regiões do mundo, alcançando o 5º lugar em termos de incidência e o 2º lugar em mortalidade. 31 Quadro 5 ESTIMATIVAS DE TAXAS* DE INCIDÊNCIA E MORTALIDADE PELAS 25 LOCALIZAÇÕES ANATÔMICAS MAIS COMUNS DE CÂNCER NO MUNDO PARA O ANO DE 1990 LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA DE CÂNCER Incidência Masculino Feminino Mortalidade Masculino Feminino CAVIDADE ORAL (C00-C10) 6,63 2,89 3,14 1,42 NASOFARINGE (C11) 1,77 0,72 1,11 0,44 FARINGE (C14) 3,64 0,72 2,39 0,48 ESÔFAGO (C15) 10,17 4,24 9,28 3,80 ESTÔMAGO (C16) 24,49 11,55 19,14 9,21 CÓLON / RETO (C19) 19,37 15,27 10,75 8,56 FÍGADO (C22) 14,67 4,92 14,23 4,93 PÂNCREAS (C25) 4,44 3,14 4,38 3,09 LARINGE (C32) 5,69 0,72 3,12 0,37 PULMÃO (C34) 37,46 10,76 33,73 9,23 MELANOMA DE PELE (C43) 2,25 2,23 0,80 0,63 MAMA (C50) ---- 32,97 ---- 12,95 COLO DO ÚTERO (C53) ---- 15,38 ---- 7,96 CORPO UTERINO (C54) ---- 5,94 ---- 1,69 OVÁRIO (C56) ---- 6,83 ---- 4,18 PRÓSTATA (C61) 19,78 ---- 8,25 ---- TESTÍCULOS (C62) 1,33 ---- 0,32 ---- RIM (C64) 4,34 2,37 2,33 1,19 BEXIGA (C67) 9,89 2,31 4,25 1,11 CÉREBRO, SIST. NERVOSO (C71-C72) 2,96 2,32 2,30 1,74 TIREÓIDE (C73) 0,96 2,63 0,30 0,57 DOENÇA DE HODGKIN (C81) 1,47 0,84 0,69 0,37 LINFOMA NÃO-HODGKIN (C85) 5,61 3,76 3,25 2,16 MIELOMA MÚLTIPLO (C90) 1,42 1,11 1,12 0,87 TODOS OS CÂNCERES 203,20 154,30 140,86 90,16 Fonte: OMS/IARC – International Agency for Research on Cancer (2000).(http://www-dep.iarc/fr) * Taxas padronizadas por 100.000, segundo à população mundial. 32 Quadro 6 ESTIMATIVA DE TAXAS* DE INCIDÊNCIA E MORTALIDADE PARA AS 25 LOCALIZAÇÕES ANATÔMICAS MAIS COMUNS DE CÂNCER NO BRASIL PARA O ANO DE 1990. LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA DE CÂNCER Incidência Masculino Feminino Mortalidade Masculino Feminino CAVIDADE ORAL (C00-C10) 10,83 3,49 6,42 2,05 NASOFARINGE (C11) 0,78 0,13 0,52 0,07 FARINGE (C14) 4,79 0,53 3,59 0,39 ESÔFAGO (C15) 9,34 1,94 8,18 1,71 ESTÔMAGO (C16) 31,30 13,67 26,96 11,77 CÓLON / RETO (C19) 17,48 15,55 11,38 10,09 FÍGADO (C22) 3,09 1,79 2,93 1,69 PÂNCREAS (C25) 4,94 3,72 4,73 3,56 LARINGE (C32) 7,79 1,06 4,76 0,65 PULMÃO (C34) 28,24 6,84 26,07 6,28 MELANOMA DE PELE (C43) 3,55 3,16 1,82 1,59 MAMA (C50) ---- 45,23 ---- 20,65 COLO DO ÚTERO (C53) ---- 30,55 ---- 16,36 CORPO UTERINO (C54) ---- 9,04 ---- 3,10 OVÁRIO (C56) ---- 6,23 ---- 3,86 PRÓSTATA (C61) 29,74 ---- 17,87 ---- TESTÍCULOS (C62) 1,37 ---- 0,64 ---- RIM (C64) 4,76 2,58 3,48 1,79 BEXIGA (C67) 11,90 2,78 6,95 1,60 5,52 2,66 4,26 2,02 TIREÓIDE (C73) 1,31 3,18 0,46 1,04 DOENÇA DE HODGKIN (C81) 2,04 1,10 1,17 0,64 LINFOMA NÃO-HODGKIN (C85) 7,56 5,08 5,58 3,78 MIELOMA MÚLTIPLO (C90) 1,49 1,23 1,25 1,01 LEUCEMIA (C95) 6,27 4,65 5,35 3,96 TODOS OS CÂNCERES 214,95 187,61 156,96 112,64 CÉREBRO, SIST. NERVOSO (C71-C72) Fonte: OMS/IARC – International Agency for Research on Cancer (2000).(http://www-dep.iarc/fr) * Taxas padronizadas por 100.000, segundo à população mundial. 33 Quadro 7 ESTIMATIVA DE TAXAS* DE INCIDÊNCIA E MORTALIDADE DE CÂNCER DE LARINGE NAS REGIÕES MUNDIAIS E BRASIL PARA O ANO DE 1990 REGIÃO Incidência Masculino Feminino Mortalidade Masculino Feminino ÁFRICA CENTRAL 2,37 0,21 1,43 0,13 ÁFRICA DO NORTE 5,56 0,78 3,41 0,47 ÁFRICA DO SUL 6,88 0,92 4,19 0,55 ÁFRICA OCIDENTAL 2,63 0,35 1,60 0,22 ÁFRICA ORIENTAL 2,55 0,38 1,45 0,21 AMÉRICA CENTRAL 5,13 0,94 2,99 0,54 AMÉRICA DO NORTE 6,80 1,44 2,04 0,41 AMÉRICA DO SUL 6,96 1,07 4,11 0,57 ÁSIA CENTRAL SUL 6,80 1,00 4,22 0,62 ÁSIA OCIDENTAL 8,45 1,00 5,05 0,62 ÁSIA ORIENTAL 2,06 0,40 0,88 0,20 ÁSIA ORIENTAL SUL 3,81 0,71 2,34 0,43 AUSTRÁLIA / NOVA ZELÂNDIA 5,17 0,52 1,98 0,22 CARIBE 7,38 1,32 4,44 0,87 EUROPA DO NORTE 4,81 0,75 1,92 0,30 EUROPA DO SUL 11,29 0,44 6,20 0,24 EUROPA OCIDENTAL 8,87 0,53 4,46 0,26 EUROPA ORIENTAL 11;99 0,63 7,43 0,30 MELANÉSIA 3,56 0,88 2,00 0,54 MICRONÉSIA 7,62 0,52 2,76 0,13 POLINÉSIA 6,21 1,08 0,27 0,00 BRASIL 7,79 1,06 4,76 0,65 REGIÕES MAIS DESENVOLVIDAS 8,48 0,72 4,19 0,28 REGIÕES MENOS DESENVOLVIDAS 4,40 0,73 2,61 0,42 TODOS OS CONTINENTES 5,69 0,72 3,12 0,37 Fonte: OMS/IARC – International Agency for Research on Cancer (2000).(http://www-dep.iarc/fr) * Taxas padronizadas por 100.000, segundo à população mundial. Cattaruzza e co-autores (1996), em uma revisão de uma série de artigos sobre câncer de laringe, evidenciaram que esta neoplasia, é o segundo tumor do aparelho respiratório, em termos de ocorrência, sendo superado apenas pela neoplasia de pulmão, e que sua incidência tem crescido, através do tempo, em muitos países do mundo, principalmente em função das mudanças ocorridas nos hábitos de consumo de tabaco e álcool. 34 Com relação aos fatores etiológicos, vários estudos têm demonstrado que o uso de fumo de cigarro é o maior fator de risco associado com o câncer de laringe, e que a intensidade e a duração desta exposição estão relacionadas com o aumento do risco para esta neoplasia. O consumo de álcool também tem sido vinculado com o aumento do risco para o câncer laríngeo, e a associação entre ingestão de álcool e uso de fumo aumenta pelo menos 11 vezes mais o risco para o seu desenvolvimento (Choi & Kahyo,1991). Um estudo caso-controle foi realizado por Hinds e colaboradores (1979), em três condados do estado de Washington, no período de 1976 e 1977, para avaliar os efeitos do tabagismo, do consumo de álcool e da exposição ao asbesto, arsênico, níquel, urânio, cromo, cobalto e outros produtos químicos e a Raio X na região da cabeça e pescoço sobre o risco para câncer de laringe. Foram identificados 47 casos do Sistema de Vigilância de Câncer de um centro de pesquisa em Seattle. Cada caso foi pareado com um controle, selecionado da vizinhança, por sexo, raça e idade. Todos os casos foram classificados de acordo com o local de origem do tumor. O consumo de álcool e o uso de fumo foram relacionados, independentemente, com um aumento do risco de câncer de laringe, com uma clara relação dose-resposta demonstrada. Nenhuma das exposições ocupacionais analisadas pode ser relacionada com aumento no risco do câncer de laringe. Os pesquisadores analisaram também a associação entre exposição a Raio X dentário e essa neoplasia, entre o grupo de indivíduos que fumava mais de 21 cigarros/dia. Entre aqueles expostos 10 ou mais vezes, foi observada uma OR de 7,5, enquanto que os expostos entre 5 e 9 vezes esse valor correspondeu a 4,7, tendo como referência os indivíduos expostos menos de 5 vezes ao Raio X ou não expostos. Brownson e Chang (1987) conduziram um estudo a partir do Registro de Câncer de Missouri, Estados Unidos, entre 1984 e 1985, onde foi demonstrado que o risco de desenvolver tumor de laringe aumenta, com o uso concomitante de fumo e álcool. Utilizando como categoria de referência os não usuários de bebida alcoólica e não fumantes, por exemplo, indivíduos não usuários de bebida alcoólica e fumantes apresentaram uma OR de 3,44; na situação inversa, indivíduos não fumantes, mas usuários de bebida alcoólica apresentaram OR igual a 2,37. Indivíduos fumantes e usuários de bebidas alcoólicas apresentaram OR de 7,73. 35 Zatonski e co-autores (1991) conduziram um estudo de base populacional com 249 casos e 965 controles, menores de 65 anos, no Sudeste da Polônia, entre 1986 e 1987, verificando um risco relativo (RR) estimado de 59,7 (IC 95% 13,0 274,0) para fumantes de mais de 30 cigarros/dia, e de 10,4 (IC 95% 4,0 - 27,2) para a ingestão regular de vodca por mais de 30 anos. Franceschi e colaboradores (1990) realizaram, na Itália, um estudo casocontrole de base hospitalar, no período entre 1986 e 1989, para obter informações sobre os efeitos do uso de fumo e de álcool no risco de câncer do trato aérodigestivo superior, em homens. Foram identificados 741 casos de câncer, sendo 162 de laringe, 157 de cavidade oral, 134 de faringe e 288 de esôfago; e 1272 controles. Para câncer de laringe, foi observada uma odds ratio (OR) de 2,2 (IC 95% 1,0 – 5,2) para indivíduos que fumavam até 14 cigarros/dia; de 4,8 (IC 95% 2,3 – 10,4) para consumo de 15 a 24 cigarros/dia, e de 7,1 (IC 95% 3,3 – 15,4) quando o consumo excedia 25 cigarros/dia, em comparação com os indivíduos não fumantes. Em relação à duração do hábito de fumar, foram observadas ORs de 1,9 (IC 95% 0,8 – 4,4), 5,2 (IC 95% 2,4 – 11,5) e 7,2 (IC 95% 3,3 – 15,6), respectivamente, para os períodos de 1-29 anos, de 30-39 anos e mais de 40 anos, em comparação aos não fumantes. Quanto ao consumo de álcool, foi observado um aumento significativo no risco para câncer de laringe, quando o consumo de álcool era maior que 60 drinques/semana (OR 2,1; IC 95% 1,2 – 3,8), tendo como categoria de referência a ingestão total de ≤ 19 drinques/semana. Um estudo caso-controle de base hospitalar, com 194 casos e 184 controles, pareados por idade, foi realizado entre 1985 e 1990, nos Estados Unidos, para avaliar os efeitos do tabaco, do álcool e de algumas exposições ocupacionais sobre o risco de câncer de laringe em homens brancos. A estimativa de risco, ajustada por idade, escolaridade, consumo de álcool e índice de Quetelet, foi de 10,3 (IC 95% 3,6 – 29,4) para indivíduos que consumiam 1-20 cigarros/dia e de 38,5 (IC 95% 12,1 – 122), para aqueles que consumiam 21-40 cigarros/dia, em comparação com não fumantes, evidenciando um efeito dose-resposta. Para ex-fumantes, que haviam deixado de fumar por 1-10 anos, a estimativa de risco foi de 8,5 (IC 95% 2,8 – 25,4), e para aqueles que não fumavam há mais de 10 anos, de 3,8 (IC 95% 1,3 – 10,8), em comparação com fumantes atuais. Para os fumantes de charuto e/ou cachimbo foi observada OR de 4,3 (IC 95% 1,7 – 16,4). Em relação ao consumo de álcool, foi 36 também evidenciado um efeito dose-resposta: os indivíduos que consumiam 29,7 – 88,9 ml/dia apresentaram uma OR de 1,1 (IC 95% 0,6 – 2,3) ajustada por idade, escolaridade, fumo e índice de Quetelet, enquanto que aqueles que consumiam 89 – 206 ml/dia, apresentaram OR de 2,8 (IC 95% 1,5 – 5,2) e os que consumiam ≥ 207 ml/dia, OR de 4,8 (IC 95% 2,5 – 9,4), tendo como categoria de referência um consumo < 29,6 ml/dia. Em relação a fatores ocupacionais, foi observada uma OR baixa e não significativa entre exposição ao asbesto e câncer glótico 1,3 (IC 95% 0,7 – 2,7), e nenhuma associação com o câncer supraglótico. Indivíduos ocupacionalmente expostos a gases de óleo diesel apresentaram uma estimativa de risco para câncer de laringe de 5,2 (IC 95% 1,1 – 24,0), enquanto os expostos à borracha, apresentaram uma OR de 6,4 (IC 95% 0,7 – 59,4) (Muscat & Wynder, 1992). Em estudo, realizado em Montevidéu, Uruguai, entre 1988 e 1990, envolvendo 205 pacientes com câncer de boca, faringe ou laringe e 273 controles, De Stefani e colaboradores (1992) evidenciaram uma estimativa de risco mais elevada de câncer de laringe (OR 2,5; IC 95% 1,2 - 5,2) para fumantes de cigarros feitos a mão, quando comparados a fumantes de cigarros comerciais. López-Abente e co-autores (1992) realizaram um estudo entre 1982 e 1985, em Madri, Espanha, utilizando 50 casos e 103 controles masculinos pareados por idade. Foi observado um efeito dose-resposta para tabagismo, com odds ratio de 4,33 (IC 95% 1,22 - 15,41) para fumantes de 30 ou mais cigarros/dia quando comparados com fumantes de menos de dez cigarros/dia. Em relação à ingestão de álcool, foi observada uma elevação do risco em face do aumento da intensidade do consumo semanal e do tempo global de consumo durante a vida para a ingestão pesada: OR 3,55 (IC 95% 0,92 - 13,69) para um consumo médio acima de 600 g de álcool/semana. Dosemeci e colaboradores (1997), em um estudo com 832 casos de câncer de laringe e 829 controles, realizado em um hospital de Istambul, Turquia, entre 1979 e 1984, corroboram a hipótese de que o uso de álcool e de fumo estão associados com o risco de desenvolvimento de câncer de laringe, observando uma estimativa de risco relativo de 12,2, para fumantes e bebedores com alta ingestão. 37 Alguns hábitos alimentares parecem estar, também, associados ao desenvolvimento de câncer de laringe. No estudo de Zatonski e colaboradores (1991) realizado na Polônia, a má nutrição foi identificada como um forte fator de risco: o baixo consumo de frutas e vegetais apresentou uma OR de 2,94 (IC 95% 1,57 - 5,53) e o baixo consumo de proteínas uma OR de 16,21 (IC 95% 6,10 43,05). Zheng e co-autores (1992) realizaram um estudo caso-controle de base populacional em Shangai, China, entre 1988 e 1990, para avaliar os efeitos da dieta e de outros fatores de risco no desenvolvimento do câncer de laringe. Foram identificados 201 casos (177 homens e 24 mulheres) no Registro de Câncer de Base Populacional de Shangai e 414 controles (269 homens e 145 mulheres), selecionados aleatoriamente a partir do Registro Residencial de uma área urbana de Shangai. Os autores observaram uma OR de 8,7 (IC 95% 3,8 - 19,6), ajustada por idade e escolaridade para fumantes, comparados a não fumantes. A OR para consumo de álcool, tendo como referência a categoria de nenhum consumo, foi de 0,8 (IC 95% 0,6 - 1,4), ajustada por idade, educação e fumo. Entre os homens, foi observado um aumento de risco associado à exposição ocupacional ao pó de carvão (OR 2,6; IC 95% 1,4 – 4 ,8) e ao asbesto (OR 2,0; IC 95% 1,0 - 4,3), ambas após ajustamento por fumo. Outras categorias ocupacionais que apresentaram um maior risco, porém sem significância estatística foram: trabalhadores do comércio, trabalhadores da indústria têxtil, motoristas e trabalhadores de transportes. Com relação à dieta, a análise multivariada mostrou um efeito protetor desses alimentos relacionada à alta ingestão de frutas, particularmente laranjas e tangerinas (OR 0,4), à ingestão de certos vegetais amarelos (OR 0,6) e verde-escuros (OR 0,8) e de alho (OR 0,5). Foi observado um aumento do risco de câncer de laringe relacionado à ingestão mensal de alimentos preservados com sal: vegetais em conserva consumidos mensalmente (OR 2,9; IC 95% 1,2 - 6,8), para ingesta semanal de ovos conservados com sal (OR 1,8 IC 95% 1,1 – 3 ,1) e de carnes e peixes salgados (OR 4,3; IC 95% 2,0 - 9,2), todas ajustadas por idade, escolaridade e fumo. Flanders e Rothman (1982), em um estudo caso-controle, avaliaram, através dos dados de entrevistas da Terceira Pesquisa Nacional de Câncer coletados no período de 1969-1971, os efeitos de diferentes ocupações sobre o risco de câncer de laringe. A população de estudo constituiu-se de 90 casos de câncer de laringe e 38 933 controles com câncer de outras localizações anatômicas. As informações utilizadas na análise foram sexo, idade, raça, história de uso de tabaco e consumo de álcool, categoria ocupacional e tipo de indústria. A razão de risco estimada, comparando fumantes pesados de cigarro com fumantes leves ou não fumantes foi de 6,8 (IC 90% 3,1 - 14,1), ajustada por consumo de álcool, raça e idade. Para consumo de álcool, a razão de risco estimada, comparando usuários e não usuários foi 2,5 (IC 90% 1,6 - 4,0), ajustada por idade, raça e fumo. Com relação às categorias industriais, foi observada uma razão de risco estimada igual ou maior que 2,0 para transportadoras de equipamentos (RR 2,0; IC 90% 0,9 - 4,7), indústria de construção (RR 2,1; IC 90% 0,9 - 4,9), indústria de madeira serrada e produtos de madeira (RR 3,5; IC 90% 0,8 - 14,2) e ferrovias (RR 3,2; IC 90% 1,0 - 9,6). Quanto às categorias ocupacionais, foi verificada uma razão de risco estimada maior que 4,0 para mecânicos de automóveis (RR 4,6; IC 90% 1,1 - 20,5), operadores de máquinas (RR 4,5; IC 90% 1,2 - 17,1), mecânicos e reparadores (RR 6,8; IC 90% 1,0 - 99) e laminadores de metal (RR 8,5; IC 90% 1,0 - 139). Flanders e co-autores (1984) conduziram um estudo caso-controle para avaliar fatores de risco associados com câncer de laringe. Foram identificados todos os casos de carcinoma de células escamosas de laringe, residentes em Richmond, Georgia, ou em um dos seis municípios contíguos, tratados em um dos dez hospitais desta área, entre 1974 e 1979. Os controles foram selecionados nos registros médicos hospitalares, sendo pareados por sexo, idade, área de residência, história de tabagismo e de consumo de álcool. Foram entrevistados 42 casos e 85 controles. Na análise, foram calculadas estimativas para dois grupos de trabalhadores: aqueles que tinham permanecido pelo menos seis meses e aqueles que tinham permanecido pelo menos cinco anos em cada ocupação, utilizando como grupo de referência indivíduos que nunca haviam trabalhado naquela ocupação. Uma estimativa de risco significativamente elevada foi verificada para ocupações relacionadas com manutenção (RR 4,6; IC 90% 1,6 - 13,6), para um período de exposição de até seis meses. Ocupações relacionadas a separação, filtragem e lavagem de produtos têxteis apresentaram OR de 3,2 (IC 90% 1,3 - 8,0) para um período de exposição de seis meses e de 5,6 (IC 90% 1,4 - 29,1), para um período de 5 anos; ocupações relacionadas à agricultura apresentaram OR de 3,7 (IC 90% 1,3 - 10), para 6 meses e, para cinco anos, OR de 4,9 (IC 90% 1,3 - 17,8), todas ajustadas por sexo, idade, consumo de álcool e uso de tabaco. 39 Para determinar exposições ocupacionais relacionadas ao câncer de laringe, Wortley e co-autores (1992) realizaram um estudo caso-controle de base populacional, em Washington, Estados Unidos, no período 1983 e 1987, onde avaliaram a história ocupacional de 235 casos dessa neoplasia identificados no sistema de vigilância de um centro de pesquisa em câncer, e de 547 controles selecionados aleatoriamente por discagem telefônica, pareados por sexo e idade., Estimativas de risco significativamente elevadas foram observadas para supervisores e trabalhadores em mecânica (OR 2,3; IC 95% 1,1 - 4,8), pintores (OR 2,8; IC 95% 1,1 - 6,9), trabalhadores da construção civil (OR 3,4; IC 95% 1,4 - 8,1), trabalhadores da indústria de metal e operadores de máquinas de confecção de plásticos (OR 2,6; IC 95% 1,3 – 4 ,9) e trabalhadores de equipamentos de limpeza (OR 1,5; IC 95% 1,0 - 2,2), ajustadas por ingestão de álcool, tabagismo, idade e escolaridade. Outros trabalhadores que apresentaram aumento no risco, para exposição acima de 10 anos foram os preparadores de alimentos (OR 3,1; IC 95% 1,2 - 8,2), os mecânicos de automóveis (OR 3,2; IC 95% 1,2 - 8,2), os carpinteiros (OR 4,2; IC 95% 1,1 - 16,9) e os trabalhadores da construção civil (OR 5,7; IC 95% 1,3 - 26,3). Moreno (1999) refere um estudo caso-controle realizado entre homens residentes em Madri, Espanha, no período 1982-1985, analisando fatores de risco ocupacionais para câncer de laringe. O estudo constou de 50 casos de câncer de laringe, confirmados histologicamente e 89 controles (43 hospitalares e 46 da população). Através de entrevista, foram obtidos a história ocupacional e padrões de consumo de fumo e álcool durante a vida. Estimativas de risco, ajustadas para consumo de álcool e fumo, foram encontradas utilizando-se regressão logística nãocondicional. Foi observada uma odds ratio elevada, estatisticamente significativa, para marceneiros, após 20 anos de atividade (OR 5,63; IC 95% 1,15 – 26,64). Motoristas de transportadoras, e pedreiros e/ou quebradores de pedras apresentaram ORs elevadas, porém não significativas, respectivamente, 3,31 (IC 95% 0,98 – 11,22) e 2,31 (IC 95% 0,85 – 6,33). Alguns outros fatores vem sendo associados, na literatura, ao câncer de laringe, como uso abusivo da voz, laringite crônica, gastrite crônica de refluxo, exposição a radiações ionizantes, ao gás mostarda e ao nitrogênio; entretanto, os resultados dos estudos não fornecem ainda evidências conclusivas (Sessions et al., 1997; Noronha & Dias, 1997). 40 JUSTIFICATIVA O trato aéreo digestivo superior é uma das principais vias de entrada de agentes de risco para o desenvolvimento do câncer entre trabalhadores. Estudos epidemiológicos têm demonstrado um maior risco de desenvolvimento de neoplasias deste trato, associado a fatores ocupacionais, como à exposição ao níquel, cromo, pó de madeira, processos muito ácidos e outros. Dentre esses agentes de risco, evidencia-se o pó da madeira, cuja exposição assume grande importância, devido o potencial econômico da atividade madeireira no estado do Pará e na região Norte do país. A Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), considera que o pó da madeira é carcinogênico para seres humanos, originando câncer na cavidade nasal e seios paranasais. Estudos epidemiológicos têm evidenciado também um maior risco de desenvolvimento de neoplasias de nasofaringe, laringe e pulmão, além da doença de Hodgkin, associado ao trabalho com madeira (IARC, 1995). Das localizações topográficas (cavidade nasal, seios paranasais, nasofaringe, orofaringe, hipofaringe, laringe, lábio, língua e boca) que compreendem o trato aéreo digestivo superior, o câncer de laringe para o sexo masculino, é o de maior relevância a nível local. Em Belém, o Registro de Câncer de Base Populacional, evidenciou que em 1988 este câncer ocupou a 5º posição dentre as principais localizações topográficas (MS, 1995). Apesar do aprimoramento e disseminação dos registros de câncer a nível nacional, poucos estudos sobre esta neoplasia têm sido realizados na região Norte. Do ponto de vista da saúde pública, é relevante considerar que os determinantes ocupacionais do câncer, uma vez identificados, poderiam ser removidos ou controlados mais facilmente do que fatores causais relacionados com hábitos pessoais sob influências culturais (Wünsch Filho,1995). Desta forma, pensar a relação entre ocupação na indústria madeireira e câncer, evidenciando as atividades que apresentam maior risco e estimando o número de trabalhadores que ainda virão a ser acometidos por esta neoplasia no estado, traria uma importante contribuição para que medidas efetivas de promoção, prevenção e controle possam ser pensadas e implementadas a nível de serviços de saúde, para a população de trabalhadores expostos na região. 41 OBJETIVOS Objetivos Gerais: • Estimar o padrão da distribuição do câncer, segundo localização anatômica em amostra de trabalhadores do setor madeireiro, no período de 1991 – 1999. • Descrever as tendências da mortalidade por câncer de laringe do estado do Pará, no período de 1980 a 1997. Objetivos Específicos: • Descrever a distribuição dos casos de câncer, segundo faixa etária, localização específica e procedência, em trabalhadores do sexo masculino, com antecedentes ocupacionais no setor madeireiro, diagnosticados no Instituto Ofir Loyola (IOL/Belém), no período de 1991 – 1999. • Determinar a Razão Proporcional de Incidência de Câncer (PCIR), segundo localização específica, entre os casos de câncer em trabalhadores do setor madeireiro do sexo masculino, atendidos no Instituto Ofir Loyola no período de 1991 – 1999. • Determinar a Razão de Chances de Mortalidade por Câncer (CMOR) entre as ocupações relacionadas com atividades no setor madeireiro no estado do Pará. • Determinar as taxas de mortalidade por câncer de laringe, segundo sexo e faixa etária no município de Belém, nas mesoregiões do Estado e no estado do Pará, durante o período de 1980-1997. • Comparar a distribuição das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe no município de Belém e no estado do Pará, com as demais regiões do Brasil, estados e respectivas capitais durante o período de 1980-1997. 42 MATERIAL E MÉTODOS O estado do Pará, localizado na região Norte, é o segundo maior do país, fazendo fronteira com os estados do Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Roraima, e Tocantins; e, com a Guiana e o Suriname. O estado é dividido em 6 mesoregiões (Metropolitana de Belém, Baixo Amazonas, Marajó, Nordeste, Sudoeste e Sudeste Paraenses), com diferentes características geográficas, demográficas e sócio-econômicas. Este estado, com 6.188.685 habitantes, segundo o Censo 2001, é o mais populoso da região Norte, correspondendo a cerca de 48% da população dessa região, e o 9o mais populoso do Brasil. Aproximadamente 1.279.861 pessoas residem na sua capital, a cidade de Belém. Situado na Amazônia Oriental, conta com uma superfície de 1.248.042 km2, da qual, 81% é recoberta por florestas, sendo 70% delas de significativo valor comercial. O setor madeireiro ocupa um lugar de destaque na economia do Pará, nele se concentrando quase que a totalidade da produção de madeira em tora da região Norte (Quadro 8). Estima-se que a exploração e o processamento de madeira geraram cerca de 137.000 empregos diretos em 1996. Com relação à distribuição da produção de madeira no estado, as mesoregiões Sudeste e Nordeste são as que mais se destacam. Quadro 8 PRODUÇÃO DE MADEIRA EM TORA . LOCAL PRODUÇÃO (m³) Pará 37.788.555 Região Norte 39.195.555 Brasil 49.855.821 Fonte: IBGE (1996). Dados Populacionais Para as informações relativas à população do Pará, suas mesoregiões e Belém, assim como das demais capitais e regiões brasileiras, foram utilizados dados 43 dos Censos Demográficos dos anos de 1980 e 1991, recontagem de 1996 e estimativas populacionais para os anos intercensitários disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados de Mortalidade Os estudos de mortalidade, no Brasil, utilizam, com freqüência, as informações processadas a partir das Declarações de Óbito (DOs). A Declaração de Óbito é um instrumento legal, obrigatório em todo o território brasileiro, sendo utilizado um modelo padrão normatizado pelo Ministério da Saúde (MS). Sempre que ocorre um óbito, essa Declaração deve ser preenchida pelo médico, em duas vias, entregues aos familiares do falecido para registro em Cartório do Registro Civil. Uma das vias da Declaração é encaminhada pelos Cartórios às Secretárias Municipais de Saúde, onde é efetuada a codificação da causa básica do óbito dos indivíduos residentes no município, com base em metodologia proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esses dados são, então, processados, submetidos à crítica e, passam a fazer parte do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. As informações relativas aos óbitos de residentes no estado do Pará, suas mesoregiões, Belém e demais capitais e regiões do Brasil foram obtidas através do SIM. Dados de Morbidade Os casos de câncer em madeireiros, ocorridos no período 1991-1999, foram obtidos através do Registro Hospitalar de Câncer do Instituto Ofir Loyola, referência para essa patologia no estado do Pará. Para fins desse trabalho, as seguintes ocupações foram consideradas como relacionadas à exposição ao pó de madeira: marceneiro, carpinteiro, madeireiro ou outras relacionadas com a atividade madeireira. 44 Estrutura da dissertação Essa dissertação está estruturada sob a forma de dois estudos descritivos. O 1° estudo consiste em uma análise das relações entre a exposição ocupacional ao pó de madeira e o desenvolvimento de câncer, através da Razão Proporcional de Incidência de Câncer (PCIR) para indivíduos internados no hospital de referência para câncer do estado do Pará, no período 1991-1999, cuja atividade ocupacional envolvia essa exposição, e da Razão de Chances de Mortalidade por Câncer (CMOR) para o conjunto de madeireiros residentes nesse estado, falecidos entre 1980-1995. O 2° estudo descreve a tendência da mortalidade por câncer de laringe na população do estado do Pará, segundo sexo, faixa etária e local de residência, no período 1980-1997. 45 ESTUDO 1. TÍTULO: Câncer e exposições ocupacionais no setor madeireiro na região Norte do Brasil. RESUMO INTRODUÇÃO: A ocorrência de neoplasias, principalmente, do câncer nasal e das fossas nasais, têm sido associada à exposição ao pó da madeira. O setor madeireiro ocupa lugar de destaque no estado do Pará, onde atuam cerca de 90% das empresas com esse tipo de atividade no mercado amazônico. OBJETIVO: Realizar um estudo exploratório sobre a ocorrência de câncer em madeireiros do estado do Pará. METODOLOGIA: A Razão Proporcional de Incidência de Câncer (PCIR) foi calculada para um grupo de 138 madeireiros, do sexo masculino, com 20 ou mais anos de idade, atendidos no Instituto Ofir Loyola (IOL/Belém), entre 1991 e 1999, com diagnóstico histopatológico de neoplasia. Foi também calculada a Razão de Chances de Mortalidade por Câncer (CMOR), comparando os óbitos por câncer ocorridos em indivíduos do sexo masculino, com 20 anos ou mais, residentes no Pará, cuja ocupação se relacionava com atividade madeireira, com aqueles ocorridos em indivíduos com outras ocupações. RESULTADOS: PCIRs elevadas e estatisticamente significativas foram observadas para tumores de pulmão (1,78 (1,05 – 2,81)), cavidade oral/faringe (2,44 (1,44 – 3,85)), estômago (3,57(2,41 – 5,10)) e doença de Hodgkin (5,30 (1,09 – 15,47)), em relação à população de Goiânia, e para os neoplasmas de cavidade oral/faringe (1,97(1,17 – 3,12)), estômago (3,12 (2,11 – 4,47)) e pênis (6,54 (1,78 – 16,75)) em relação à de Porto Alegre. Uma CMOR de 8,86 (5,26 – 14,83) foi observada para câncer de fígado. Para as neoplasias de pleura, pênis, pele, laringe e reto e para os linfomas foram observadas CMORs maiores do que a unidade, porém estatisticamente não significativas. CONCLUSÃO: Os resultados observados indicam um maior risco de câncer entre os madeireiros e são consistente com a literatura, apontando para a necessidade de novos estudos que avaliem essa exposição ocupacional no estado do Pará. Palavras-chave: Câncer, exposição ocupacional, trabalho com madeira. 46 ABSTRACT INTRODUCTION: The occurrence of neoplasia, particularly of nasal and nasal cavity tumors, has been associated with exposure to wood dust. The wood related industry occupies an important place in the state of Pará, where are locates 90% of the companies with this kind of activity on the Amazon market. OBJECTIVE: To make an exploratory study about cancer occurrence in woodworkers in Pará. METHODS: The Proportional Cancer Incidence Ratio (PCIR) was calculated for a group the 138 male woodworkers, 20 or more years of age, who attended Ofir Loyola Institute in Belém, from 1991 to 1999, with histological diagnosis of neoplasia. The Cancer Mortality Odds Ratio (CMOR) was also calculated in order to compare cancer mortality among men, 20 or more years of age and residents of Pará, whose occupations were related to wood exposure with that of men of the same age and place of residence with different occupations. RESULTS: High and statistically significant PCIRs were observed for lung tumors (1,78 (1,05 – 2,81)), oral cavity /pharynx (2,44 (1,44 – 3,85)), stomach (3,57 (2,41 – 5,10)) and Hodgkin’s disease (5,30 (1,09 – 15,47)), in comparison to the population of Goiânia and for neoplasms of oral cavity/pharynx (1,97 (1,17 – 3,12)), stomach (3,12 (2,11 – 4,47) and penis (6,54 (1,78 – 16,75)) in comparison to the population of Porto Alegre. A CMOR of 8,86 (5,26 – 14,83) was observed for liver cancer. CMORs higher than one, but not statistically significant were observed for pleura, penis, skin, larynx and rectum neoplasms and for linfomas. CONCLUSION: Woodworkers in Pará experience a high cancer risk, in accordance to other epidemiologic studies of this occupational group. These results enhance the need of other studies in order to better evaluate this occupational exposure in the state of Pará. Key words: Cancer, occupational exposure, woodworkers. 47 Introdução Os trabalhadores do setor madeireiro estão expostos, rotineiramente, a uma variedade de fatores de risco ocupacionais, entre eles o pó da madeira e produtos químicos sintéticos utilizados para conferir à mesma, resistência e durabilidade (IPT, 1986). A Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), considera que o pó da madeira é carcinogênico para os seres humanos, originando câncer na cavidade nasal e seios paranasais, sendo que, as primeiras evidências desta associação surgiram na Inglaterra, em 1960 (Macbeth, 1965). Estudos epidemiológicos têm evidenciado também um maior risco de desenvolvimento de neoplasias de nasofaringe, laringe e pulmão, além da doença de Hodgkin, associado ao trabalho com madeira; contudo, estes resultados ainda são considerados inconsistentes (IARC, 1995; Demers et al.,1995; Wünsch Filho, 1995; Armstrong et al., 2000). Dentre as diferentes ocupações relacionadas ao trabalho com madeira, a manufatura de móveis é aquela que, até o momento, se considera apresentar um maior risco para os trabalhadores (Rang & Acheson, 1981; Vaughan & Davis, 1991; Nylander & Dement, 1993; Demers et al., 1995), sendo seguida pelas atividades de carpintaria e marcenaria. Para o trabalho em serrarias, madeireiras e indústrias de papel, os estudos existentes são ainda insuficientes para permitir sua classificação quanto à carcinogenicidade para seres humanos (Nylander & Dement, 1993). O setor madeireiro ocupa lugar de destaque no estado do Pará. Estimativas de produção, mostram cerca de 2.300 empresas com esse tipo de atividade atuantes no mercado amazônico, sendo que, aproximadamente 90% delas se localizam no Pará. Até 1973, 60% das exportações de madeira do estado ocorriam sob forma de toras, mas, a partir de 1989, o Pará vem aumentando a produção e exportação de produtos serrados e manufaturados de madeira (Carvalho, 2001). 48 Barreto (1998) estimou que a exploração e o processamento da madeira nessa região geraram cerca de 137.000 empregos diretos em 1996. Apesar da importância da atividade madeireira e da existência de um Registro de Câncer de Base Populacional e de um Registro Hospitalar no hospital de referência para essa patologia, ambos em Belém, até onde vai nosso conhecimento, não foram realizados estudos epidemiológicos analisando a relação entre trabalho com madeira e o desenvolvimento de neoplasias no Pará. Material e Métodos Foi realizado um estudo descritivo exploratório sobre a ocorrência de câncer em madeireiros do estado do Pará. Na primeira parte deste trabalho, a Razão Proporcional de Incidência de Câncer (PCIR) foi determinada para uma amostra de trabalhadores do setor madeireiro do estado do Pará, atendidos no Instituto Ofir Loyola, no período de 1991 a 1999. Para obtenção dos casos de câncer em madeireiros, foi levantado o universo de casos de neoplasia registrados no livro de registro do hospital, no período de 1991 a 1995, sendo selecionados todos os casos ocorridos em pessoas de ambos os sexos, de 20 ou mais anos de idade, que apresentavam as seguintes ocupações: marceneiro, carpinteiro, madeireiro ou outras relacionadas com a atividade madeireira. Para o período de 1996 a 1999, os casos em madeireiros foram obtidos no banco informatizado do Registro de Câncer Hospitalar (RCH) do I.O.L, cujo modelo de coleta é a Ficha de Registro de Tumor (anexo 1), que obedece à classificação das ocupações do IBGE (1994), codificando com o código 713 “Trabalhador de fabricação de artefatos de madeira” todas as atividades relacionadas com madeira (anexo 2). A amostra inicial obtida nos registros do I.O.L consistia de 157 casos de câncer, sendo 154 no sexo masculino e 3 no sexo feminino. A seguir, foi feita uma 49 revisão dos prontuários dos casos selecionados, visando confirmar os dados de identificação, de exames histopatológicos e de ocupação. Essa revisão permitiu confirmar 151 casos em homens e apenas 1 caso em mulheres, o que levou a opção de excluí-lo desta análise. Os demais casos excluídos, correspondiam a profissões diferentes das estabelecidas nos critérios de seleção. Dos 151 indivíduos cuja ocupação foi confirmada, 13 foram ainda excluídos da análise, por apresentarem localização tumoral mal definida. A população de estudo ficou constituída, então, por 138 casos de neoplasia com confirmação histopatológica, ocorridos em indivíduos do sexo masculino, com 20 anos ou mais de idade, com ocupação relacionada ao trabalho com madeira. A PCIR ajustada por idade, foi calculada para cada uma das localizações anatômicas de câncer, observadas entre os madeireiros, de acordo com a metodologia descrita por Hennekens e Buring (1987). Para cada resultado, foi estabelecido o intervalo de confiança a 95%, conforme a distribuição de Poisson (Lilienfeld & Lilienfeld, 1980). A PCIR foi obtida pelo cálculo da razão entre a soma do número de casos observados em cada faixa etária no conjunto de pacientes hospitalizados oriundos do setor madeireiro, durante o período 1991-1999, e a soma do número de casos esperados em cada faixa etária para a respectiva localização, segundo os dados dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) de Belém (1988-1989), Goiânia (1990-1991) e Porto Alegre (1990-1991) (MS, 1995). A escolha dos registros dessas capitas, justifica-se, pelo fato de Belém ser a cidade onde se realizou o estudo e, a das demais, pelo fato de serem aquelas que apresentam registros de qualidade reconhecida pelo IARC. Para a obtenção dos número de casos esperados, foram calculadas as proporções de casos por cada localização anatômica de câncer, ocorridos em indivíduos do sexo masculino com 20 anos ou mais, segundo faixas de idade de 5 em 5 anos, até 75 anos e mais (Belém e Porto Alegre) e 85 anos e mais (Goiânia), segundo forma de apresentação dos dados dos respectivos registros RCBP (MS, 1995). Para cálculo das respectivas proporções, em cada cidade, foi 50 utilizada a média aritmética dos casos ocorridos nos anos de 1988 e 1989 (Belém) e de 1990 e 1991 (Goiânia e Porto Alegre). A segunda parte deste estudo consiste no cálculo da Razão de Chances de Mortalidade por Câncer (Cancer Mortality Odds Ratio – CMOR). Para a realização dessa análise, foram selecionados no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (Datasus, 2001), todos os óbitos ocorridos no período 1980 - 1995, em indivíduos do sexo masculino, de 20 ou mais anos de idade, residentes no estado do Pará, cujas ocupações haviam sido codificadas como 651, 653, 659, 731, 732, 735, 739, 811, 812, 819 e 954 (atividades relacionadas à exposição a madeira), em um total de 2420 óbitos. Foram também selecionados, no SIM, todos os óbitos de residentes do estado do Pará, ocorridos no período referido, em indivíduos do mesmo sexo e faixa etária, cuja ocupação não havia sido codificada com os códigos supracitados, correspondendo a um total de 51.073 óbitos. Com base nesses dados, a CMOR e seus respectivos intervalos de confiança a 95% conforme a distribuição de Poisson (Lilienfeld & Lilienfeld, 1980) foram calculados para o conjunto das neoplasias e para todas as localizações anatômicas em que houvesse ocorrido pelo menos 1 óbito em madeireiros. Resultados A distribuição dos casos de câncer entre os madeireiros atendidos no Instituto Ofir Loyola mostra um predomínio na faixa etária de 60-69 anos, seguida pela faixa etária de 50-59, que respondem em conjunto por 70% dos casos (anexo 3). Em relação a procedência, 85,5% são oriundos do próprio estado do Pará, sendo que a maioria concentra-se na área metropolitana de Belém; 18 casos são procedentes de outros estados e, para 2 casos não foi possível determinar a procedência dos mesmos (Gráfico 1). 51 O Gráfico 2, apresenta a distribuição dos casos de câncer na população de estudo, segundo as diferentes localizações anatômicas. O câncer de estômago foi o mais freqüente, correspondendo a um percentual de 23,2%. Em seguida, vieram as neoplasias de pele (17,4%); de cavidade oral e faringe e de traquéia, brônquio e pulmão, ambas com 13,0%. As localizações citadas, em conjunto, representaram 66,6% dos casos estudados. Os resultados da Razão de Incidência Proporcional por Câncer (PCIR), ajustada por idade, utilizando como referência a população de Belém, são apresentados na tabela 1. Nenhuma localização anatômica de câncer teve uma PCIR aumentada, estatisticamente significativa, sendo observado, entretanto, um maior número de casos de neoplasmas de laringe, fossa nasal, seios paranasais e ouvido, da traquéia, pulmão e brônquios, do Intestino delgado, da cavidade oral e faringe, de pênis, de testículo, da bexiga urinária, dos olhos e anexos; de leucemias, de mieloma múltiplo e de doença de Hodgkin entre os madeireiros. A tabela 2 apresenta os resultados da Razão de Incidência Proporcional por Câncer (PCIR), ajustada por idade, tendo como referência a população de Goiânia. Foi observada uma PCIR elevada e estatisticamente significativa para tumores de traquéia, pulmão e brônquios (PCIR 1,78; IC 95% 1,05 – 2,81), da cavidade oral e faringe (PCIR 2,44;IC 95% 1,44 – 3,85) e de estômago (PCIR 3,57; IC 95% 2,41 – 5,10) e para a doença de Hodgkin (PCIR 5,30; IC 95% 1,09 – 15,47). As neoplasias de fossa nasal, seios paranasais e ouvido, da laringe, do pâncreas, da junção reto-sigmóide, ânus e canal anal, de testículo, de pênis e de olhos e anexos e o mieloma múltiplo apresentaram PCIRs elevadas, embora sem significância estatística. Os resultados da Razão de Incidência Proporcional por Câncer (PCIR), ajustada por idade, utilizando como referência a população de Porto Alegre, são apresentados na tabela 3. Uma PCIR elevada e estatisticamente significante foi verificada para os neoplasmas da cavidade oral e faringe (PCIR 1,97; IC 95% 1,17 – 3,12), do estômago (PCIR 3,12; IC 95% 2,11 – 4,47) e de pênis (PCIR 6,54; IC 95% 1,78 – 16,75). Outras localizações anatômicas que apresentaram a PCIR 52 elevada, embora sem significância estatística, foram fossa nasal, seios paranasais e ouvido, laringe, intestino delgado, olhos e anexos, vesícula biliar e canais biliares extra-hepáticos, doença de Hodgkin e mieloma múltiplo. Na tabela 4, encontram-se os resultados do cálculo da Razão de Chances de Mortalidade pelas diferentes localizações anatômicas de câncer (Cancer Mortality Odds Ratio – CMOR) para madeireiros. Não foi observado aumento de risco para o conjunto de todas as localizações analisadas (CMOR 0,56; IC 95% 0,24 – 1,23). Excesso significativo foi encontrado somente para o câncer de fígado e vias intra-hepáticas (CMOR 8,86; IC 95% 5,26 – 14,83); um discreto excesso não significativo foi observado para as neoplasias de pleura, pênis, pele, laringe e reto e para os linfomas. Discussão O trato aéreo digestivo superior é uma das principais vias de entrada de agentes carcinógenos. A exposição ao pó de madeira é, reconhecidamente, carcinogênica para os seios nasais, mas estudos epidemiológicos têm indicado a possibilidade de que outras localizações anatômicas também sejam afetadas (IARC, 1995). Foi observado um excesso de risco para tumores da fossa nasal/seios paranasais no grupo de trabalhadores da indústria da madeira, quando comparado à população de Belém. Utilizando como referência a população de Goiânia, assim como a de Porto Alegre, foram também observadas PCIRs elevadas. Trata-se de uma neoplasia muito rara, tendo sido observado um único caso na população de estudo, o que poderia justificar a falta de significância estatística dos resultados. Uma série de estudos epidemiológicos ocupacionais têm evidenciado um aumento do risco para esse neoplasma nesse grupo de trabalhadores (Rang & Acheson, 1981; Vaughan & Davis, 1991; Nylander & Dement, 1993; Demers et al., 1995). 53 O câncer de laringe tem sido associado à exposição ao pó de madeira (Flanders & Rothman, 1982; Wortley et al., 1992; Pollán & López, 1995). Na comparação com as populações de Belém, Goiânia e Porto Alegre, os madeireiros apresentaram um maior risco de câncer de laringe, embora nenhuma das PCIRs tenha sido estatisticamente significativa. Deitmer (1995), em um estudo de revisão sobre exposição ocupacional, destaca a existência de evidências contraditórias sobre uma possível relação causal entre essa exposição e o desenvolvimento de câncer nessa localização anatômica, concluindo pela necessidade de outras investigações para que a mesma possa ser classificada como doença ocupacional causada por exposição ao pó da madeira. A comparação com as populações de Porto Alegre e Goiânia evidenciou um excesso de casos de neoplasias de cavidade oral/faringe, estatisticamente significativo, entre os madeireiros. Em relação a Belém esses trabalhadores também apresentaram um maior número de casos de tumores nessa localização anatômica. Steelman e co-autores (1998), observaram maior risco para câncer de nasofaringe (RR 1,44), embora sem significância estatística, para trabalhadores relacionados com atividades de madeira. Em um estudo de Innos e colaboradores (2000), foi verificado um maior risco de neoplasmas da cavidade bucal (SIR 1,22) e de faringe (SIR 1,82) para madeireiros do sexo masculino. Após a transformação das toras de madeira em tábuas, essas costumam ser submetidas a um processo de imunização, a base de substâncias fungicidas e inseticidas (IPT, 1986). Diversos estudos epidemiológicos têm relacionado a exposição à essas substâncias ao desenvolvimento de neoplasias do sistema hematopoiético e do tecido conjuntivo (Persson, 1996; Hertzman et al, 1997; Steelman et al., 1998). Os madeireiros apresentaram um número maior do que o esperado de casos de doença de Hodgkin e mieloma múltiplo, em comparação com as três populações de referência utilizadas, embora a única PCIR estatisticamente significativa tenha sido observada para doença de Hogkin, em relação à população de Goiânia. Innos e co-autores (2000) observaram, entre os 54 trabalhadores que exercem atividades relacionadas com madeira, um risco elevado, mas não significativo, para doença de Hodgkin (RR 1,44). A observação de PCIRs elevadas para tumores de estômago e pênis, duas localizações anatômicas não relacionadas à exposição a madeira, ao utilizar como referência as populações de Goiânia e Porto Alegre, o mesmo não se observando quando a comparação foi realizada com a de Belém, fala a favor da qualidade dos dados coletados, já que as diferenças observadas podem ser atribuídas à maior incidência dessas duas neoplasias entre a população do Pará, estado de residência dos indivíduos estudados. A análise da Razão de Chances de Mortalidade por Câncer (CMOR) pelas diferentes localizações anatômicas, mostra um excesso de óbitos para câncer de fígado/vias intra-hepáticas (CMOR 8,86; IC 95% 5,26 – 14,83). Estudos experimentais em ratos, com o objetivo de avaliar os efeitos carcinogênico e toxicológico do pentaclorofenol (biocida, usado como preservativo de madeira), têm evidenciado uma associação entre exposição a esta substância e câncer hepático (Huff, 2001). Segundo o IARC (1991), a evidência de carcinogenicidade desse produto químico para seres humanos ainda é limitada. Foi observado, também, um aumento do risco para neoplasias de reto, de pleura, de pênis e de pele, assim como para linfomas. Com relação aos linfomas, uma possível relação causal estaria relacionada, possivelmente, ao processo de tratamento da madeira com solventes, inseticidas e herbicidas (Persson et al., 1993; Steelman et al., 1998). Quanto ao câncer de pele, estudos experimentais em ratos têm mostrado um maior risco associado à exposição a preservativos de madeira, como compostos arsênicos, creosoto e fenol (Huff, 2001). Não foi observado aumento de risco para o conjunto das localizações anatômicas (CMOR 0,56; IC 95% 0,24 – 1,23). É possível que esse resultado possa estar relacionado ao “efeito do trabalhador sadio”, embora seja necessário considerar a baixa qualidade do emprego na indústria madeireira paraense e a sazonalidade desse tipo de trabalho, levando a uma grande rotatividade de mão- 55 de-obra. Por outro lado, esse tipo de atividade tem sido relacionado, na literatura, ao desenvolvimento de câncer em localizações específicas, não sendo assim esperado, que se observasse um maior risco de câncer em geral entre esses trabalhadores. Uma Importante limitação deste estudo está relacionada a não disponibilidade de informações sobre outros fatores de risco reconhecidamente associados ao desenvolvimento de câncer em algumas das localizações anatômicas analisadas, como tabagismo e álcool, entre outros. Outra limitação consiste na determinação da exposição, uma vez que a mesma foi determinada de modo indireto, através da ocupação do indivíduo no momento da internação hospitalar ou do óbito. A falta de uma história ocupacional impediu a confirmação desse dado, contribuindo, possivelmente, para erros na classificação da ocupação dos indivíduos do estudo. Apesar das limitações, este estudo contribui para demonstrar a existência de associações entre o desenvolvimento de câncer em algumas localizações anatômicas descritas na literatura e a exposição ocupacional à madeira, no estado do Pará. Tendo em vista o crescimento da exploração da madeira nessa região, o acompanhamento da mortalidade e da incidência de câncer nesse grupo ocupacional, se torna muito importante. 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARMSTRONG, R. W.; IMREY, P. B.; LYE, M. S.; ARMSTRONG, M. J.; C YU, M. & SANI, S., 2000. Nasopharingeal carcinoma in malasyan chinese: occupational exposure to particles formaldehyde and heat. 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DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE CÂNCER EM TRABALHADOES DO SETOR MADEIREIRO, SEGUNDO A PROCEDÊNCIA DO CASO – IOL – 1991 a 1999. 60 23,2 Estômago 17,4 Pele Traquéia, Pulmão e Brônquios 13,0 Lábio, Cav. Oral e Faringe 13,0 5,1 Laringe Leucemias 2,9 Bexiga urinária 2,9 Pênis 2,9 Doença de Hodgkin 2,2 Reto, Ânus e Canal anal 2,2 Esôfago 2,2 Pâncreas 2,2 Testículo 1,5 Próstata 1,5 M ieloma múltiplo 1,5 M elanoma 0,7 Olhos e anexos 0,7 Rim 0,7 Intestino delgado 0,7 Tecido conjuntivo 0,7 Ossos e articulações 0,7 Seio M axilar 0,7 Cólon 0,7 Vesícula biliar 0,7 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 Casos Fonte: Instituto Ofir Loyola – Registro Hospitalar de Câncer. GRÁFICO 2. DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE CÂNCER EM TRABALHADOES DO SETOR MADEIREIRO, SEGUNDO A LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA – IOL – 1991 a 1999. 25,0 61 Tabela 1 RAZÃO DE INCIDÊNCIA PROPORCIONAL POR CÂNCER (PCIR), AJUSTADA POR IDADE – POPULAÇÃO DE REFERÊNCIA/BELÉM – CASOS DE MADEIREIROS – 1991 A 1999. PCIR BELÉM CID C00-C14 C15 C16 C17 C18 C19-C21 C22 C23-C24 C25 C48 C30-C31 C32 C33-C34 C38 C40-C41 C49 C43 C44 C50 C61 C62 C60 C67 C64-C66 C69 C71 C47-C72 C73-C75 C81 C82-C85 C90 C91-C95 LOCALIZAÇÃ0 ANATÔMICA Cavidade oral e Faringe Esôfago Estômago Intestino delgado Cólon Junção Reto Sigmóide/Ânus e Canal anal Fígado e vias intra-hepáticas Vesícula biliar/Canais biliares extra-hepáticos Pâncreas Retroperitônio e peritônio Fossa nasal, seios paranasais e ouvido Laringe Traquéia, pulmão e brônquios Timo, coração e mediastino Ossos, articulações e cartilagem articular Tecido conjuntivo Melanoma Pele Mama masculina Próstata Testículo Pênis Bexiga urinária Rim Olhos e anexos Encéfalo Sistema nervoso periférico Glândulas endócrinas Doença de Hodgkin Outros linfomas Mieloma múltiplo Leucemias Fonte: Instituto Ofir Loyola – Registro Hospitalar de Câncer / RCBP (Belém). O 18 3 32 1 1 3 0 1 3 0 1 7 18 0 1 1 1 24 0 2 2 4 4 1 1 0 0 0 3 0 2 4 E PCIR 10,8 3,5 31,4 0,4 3,2 2,8 0,6 0,9 3,0 0,7 0,6 6,1 14,9 0,2 1,5 1,6 1,7 25,3 0,1 9,3 1,5 2,7 2,1 0,9 0,8 1,7 0,4 0,6 1,4 3,4 0,8 2,9 1,67 0,87 1,02 2,47 0,31 1,07 0,00 1,15 1,00 0,00 1,54 1,15 1,21 0,00 0,65 0,61 0,57 0,95 0,00 0,22 1,32 1,49 1,88 1,15 1,25 0,00 0,00 0,00 2,16 0,00 2,44 1,38 IC 95% 0,99 - 2,64 0,18 - 2,53 0,69 - 1,46 0,06 - 13,77 0,01 - 1,73 0,22 - 3,13 0,00 - 0,00 0,03 - 6,39 0,21 - 2,92 0,00 - 0,00 0,04 - 8,59 0,46 - 2,37 0,72 - 1,91 0,00 - 0,00 0,02 - 3,62 0,02 - 3,38 0,01 - 3,18 0,61 - 1,41 0,00 - 0,00 0,03 - 0,78 0,16 - 4,78 0,40 - 3,81 0,51 - 4,82 0,03 - 6,40 0,03 - 6,95 0,00 - 0,00 0,00 - 0,00 0,00 - 0,00 0,44 - 6,30 0,00 - 0,00 0,30 - 8,81 0,38 - 3,54 62 Tabela 2 RAZÃO DE INCIDÊNCIA PROPORCIONAL POR CÂNCER (PCIR), AJUSTADA POR IDADE – POPULAÇÃO DE REFERÊNCIA/GOIÂNIA – CASOS DE MADEIREIROS – 1991 A 1999. PCIR GOIÂNIA CID C00-C14 C15 C16 C17 C18 C19-C21 C22 C23-C24 C25 C48 C30-C31 C32 C33-C34 C38 C40-C41 C49 C33 C44 C50 C61 C62 C60 C67 C64-C66 C69 C71 C73-C75 C81 C82-C85 C90 C91-C95 LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA Cavidade oral e Faringe Esôfago Estômago Intestino delgado Cólon Junção Reto Sigmóide/Ânus e Canal anal Fígado e vias intra-hepáticas Vesícula biliar/Canais biliares extra-hepáticos Pâncreas Retroperitônio e peritônio Fossa nasal, seios paranasais e ouvido Laringe Traquéia, pulmão e brônquios Timo, coração e mediastino Ossos, articulações e cartilagem articular Tecido conjuntivo Melanoma Pele Mama masculina Próstata Testículo Pênis Bexiga urinária Rim Olhos e anexos Encéfalo Glândulas endócrinas Doença de Hodgkin Outros linfomas Mieloma múltiplo Leucemias Fonte: Instituto Ofir Loyola – Registro Hospitalar de Câncer / RCBP (Goiânia). O E PCIR 18 3 32 1 1 3 0 1 3 0 1 7 18 0 1 1 1 24 0 2 2 4 4 1 1 0 0 3 0 2 4 7,4 4,3 9,0 0,8 2,7 1,8 2,7 1,0 1,3 0,6 0,4 4,0 10,1 0,3 1,4 2,1 0,0 57,2 0,2 10,6 1,1 1,4 3,0 1,4 0,2 4,1 1,1 0,6 2,7 0,8 3,5 2,44 0,69 3,57 1,33 0,38 1,64 0,00 1,01 2,30 0,00 2,47 1,73 1,78 0,00 0,71 0,49 0,42 0,00 0,19 1,80 2,84 1,32 0,71 4,57 0,00 0,00 5,30 0,00 2,39 1,15 IC 95% 1,44 - 3,85 0,14 - 2,50 2,41 - 5,10 0,03 - 7,42 0,01 - 2,09 0,34 - 4,78 0,00 - 0,00 0,03 - 5,61 0,47 - 6,72 0,00 - 0,00 0,06 - 13,75 0,70 - 3,57 1,05 - 2,81 0,00 - 0,00 0,02 - 3,93 0,01 - 2,71 0,27 - 0,63 0,00 - 0,00 0,02 - 0,68 0,22 - 6,50 0,77 - 7,27 0,36 - 3,38 0,02 - 3,94 0,12 - 25,47 0,00 - 0,00 0,00 - 0,00 1,09 - 15,47 0,00 - 0,00 0,29 - 8,61 0,31 - 2,95 63 Tabela 3 RAZÃO DE INCIDÊNCIA PROPORCIONAL POR CÂNCER (PCIR), AJUSTADA POR IDADE – POPULAÇÃO DE REFERÊNCIA/PORTO ALEGRE – CASOS DE MADEIREIROS – 1991 - 1999. PCIR - PORTO ALEGRE CID C00-C14 C15 C16 C17 C18 C19-C21 C22 C23-C24 C25 C30-C31 C32 C33-C34 C40-C41 C49 C43 C44 C50 C61 C62 C60 C67 C64-C66 C69 C71 C73-C75 C81 C82-C85 C90 C91-C95 LOCALIZAÇÃO ANTÔMICA Cavidade oral e Faringe Esôfago Estômago Intestino delgado Cólon Junção Reto Sigmóide/Ânus e Canal anal Fígado e vias intra-hepáticas Vesícula biliar/Canais biliares extra-hepáticos Pâncreas Fossa nasal, seios paranasais e ouvido Laringe Traquéia, pulmão e brônquios Ossos, articulações e cartilagem articular Tecido conjuntivo Melanoma Pele Mama masculina Próstata Testículo Pênis Bexiga urinária Rim Olhos e anexos Encéfalo Glândulas endócrinas Doença de Hodgkin Outros linfomas Mieloma múltiplo Leucemias O E PCIR IC 95% 18 3 32 1 1 3 0 1 3 1 7 18 1 1 1 24 0 2 2 4 4 1 1 0 0 3 0 2 4 9,1 8,8 10,2 0,7 5,4 4,7 3,4 0,6 3,2 0,1 5,2 26,1 1,6 0,9 1,4 22,4 0,3 10,4 2,2 0,6 5,7 3,6 0,3 1,9 1,0 1,0 3,1 0,8 3,4 1,97 0,34 3,12 1,49 0,18 0,64 0,00 1,78 0,92 8,38 1,34 0,69 0,64 1,17 0,69 1,07 0,00 0,19 0,90 6,54 0,70 0,28 3,56 0,00 0,00 3,11 0,00 2,55 1,18 1,17 - 3,12 0,07 - 0,99 2,11 - 4,47 0,04 - 8,28 0,00 - 1,03 0,13 - 1,87 0,00 - 0,00 0,04 - 9,90 0,19 - 2,70 0,21 - 46,67 0,54 - 2,77 0,41 - 1,09 0,02 - 3,54 0,03 - 6,50 0,02 - 3,86 0,69 - 1,60 0,00 - 0,00 0,02 - 0,70 0,11 - 3,26 1,78 - 16,75 0,19 - 1,80 0,01 - 1,55 0,09 - 19,82 0,00 - 0,00 0,00 - 0,00 0,64 - 9,08 0,00 - 0,00 0,31 - 9,20 0,32 -3,01 Fonte: Instituto Ofir Loyola – Registro Hospitalar de Câncer / RCBP (Porto Alegre). 64 Tabela 4 “Cancer Mortality Odds Ratio” (CMOR) Casos de Madeireiros do Estado do Pará – 1980 - 1995. CMOR IC 95 % Cavidade oral e Faringe (C00-C14) Localização Anatômica 1,03 0,62 – 1,68 Esôfago (C15) 1,01 0,59 – 1,70 Estômago (C16) 0,84 0,67 – 1,06 Cólon (C18) 0,49 0,18 – 1,23 Junção Reto Sigmóide/Ânus e Canal anal (C19-C21) 1,32 0,60 – 2,78 Fígado e vias intra-hepáticas (C22) 8,86 5,26 – 14,83 Vesícula biliar/Canais biliares extra-hepáticos (C23-C24) 0,55 0,09 – 2,28 Pâncreas (C25) 0,46 0,18 – 1,06 Laringe (C32) 1,32 0,60 – 2,78 Traquéia, pulmão e brônquios (C33-C34) 0,75 0,56 – 1,00 Pleura (C37) 3,71 0,00 – 17,65 Timo, coração e mediastino (C38) 1,00 0,12 – 3,61 Tecido Ósseo (C40) 1,14 0,49 – 2,53 Melanoma (C43) 1,02 0,12 – 3,68 Pele (C44) 1,60 0,57 – 4,12 Retroperitônio e peritônio (C48) 0,87 0,10 – 3,14 Tecidos moles (C49) 1,25 0,31 – 4,16 Pênis (C60) 2,19 0,85 – 5,28 Próstata (C61) 0,59 0,37 – 0,93 Testículo (C62) 0,55 0,03 – 3,73 Bexiga urinária (C67) 0,60 0,19 – 1,67 Cérebro (C71) 0,30 0,05 – 1,24 Tiróide (C73) 1,20 0,03 – 6,68 Doença de Hodgkin (C81) 1,11 0,40 – 2,83 Linfomas (C82-C85) 1,39 0,72 – 2,64 Mieloma múltiplo (C90) 0,51 0,03 – 3,44 Leucemias (C91-C95) 0,56 0,24 – 1,23 Todos as localizações 0,56 0,24 – 1,23 Fonte: Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. 65 ANEXOS – ESTUDO 1 ANEXO 1: Ficha de Registro de Tumor. 66 ANEXO 2: Classificação das ocupações do IBGE. 67 68 69 ANEXO 3 FAIXA ETÁRIA 15,2 32,6 70 + 28,4 1 60-69 50-59 15,9 40-49 3,6 30-39 20-29 4,3 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 CASOS Fonte: Instituto Ofir Loyola – Registro Hospitalar de Câncer. GRÁFICO 3. DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE CÂNCER EM TRABALHADOES DO SETOR MADEIREIRO, SEGUNDO A FAIXA ETÁRIA – IOL – 1991 a 1999. 70 ESTUDO 2. TÍTULO: Tendências da mortalidade por câncer de laringe no estado do Pará no período 1980-1997. RESUMO INTRODUÇÃO: O câncer de laringe é o segundo tumor do aparelho respiratório em termos de ocorrência, e sua incidência vem crescendo, principalmente em função do consumo de tabaco e álcool. No Pará, este sítio anatômico tem grande relevância no sexo masculino. OBJETIVOS: Descrever as tendências da mortalidade por câncer de laringe do estado do Pará, no período de 1980 a 1997. MATERIAL E MÉTODOS: Dados de mortalidade foram obtidos através do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e dados populacionais a partir dos Censos Demográficos de 1980 e 1991 e estimativas populacionais para os anos intercensitários, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram calculadas taxas de mortalidade padronizadas por idade para câncer de laringe, utilizando como padrão a população mundial. RESULTADOS: Belém apresentou taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe entre 3,9 e 2,0/100.000 e o Pará entre 1,4 e 0,8/100.000. Observou-se uma tendência de declínio dessas taxas, tanto em Belém, quanto no Pará, no período de estudo. A magnitude das taxas padronizadas foi maior no sexo masculino, com uma razão de sexos entre 8,0 e 7,0. As taxas de mortalidade mais elevadas foram observadas nas faixas etárias de 60-69 anos (8,3 e 3,8/100.000) e de 70 anos e mais (12,7 e 6,4/100.000). As taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe apresentaram importantes diferenças de magnitude entre a capital e o interior do estado CONCLUSÕES: Observa-se uma tendência de declínio das taxas, em ambos os sexos, mais acentuada para o sexo masculino. As diferenças observadas entre as faixas etárias poderiam estar relacionadas a exposições cumulativas distintas aos fatores de risco nos diferentes grupos de idade. Além de diferenças reais, essa heterogeneidade entre as taxas da capital e interior poderia estar apontando diferenças na qualidade da notificação dessa neoplasia como causa de morte Palavras-chaves: Câncer, tendência de mortalidade, laringe. 71 ABSTRACT INTRODUCTION: Larynx is the second site of occurrence of cancer in the respiratory tract. Its incidence has been growing in most countries, due to the consumption of tobacco and alcohol. In Pará, this is na important anatomic site of cancer for men. OBJECTIVE: To describe the trends of larynx cancer mortality in the state of Pará, from 1980 to 1997. METHODS: Mortality data were taken from Brazil’s Mortality Information System and population data from Demographic Censuses of 1980 and 1991 and population estimates from Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). Age standardized mortality rates were calculated using the world population as a standard. RESULTS: Belém has shown standardized mortality rates for larynx cancer between 3,9 and 2,0/100.000. For Pará, these rates varied between 1,4 and 0,8/100.000. There has been a decline of the rates in Belém and the state of Pará, during the study period. Standardized rates were higher in men with a sex ratio between 8,0 (1980-1982) and 7,0 (1995-1997). The highest mortality rates were observed for the 60-69 (8,3 and 3,8/100.000) and 70 years or more (12,7 and 6,4/100.000) age groups. Important differences in the magnitude of standardized mortality rates for larynx cancer were observed when comparing Belém to other parts of Pará state CONCLUSION:. It was observed a decline of the mortality rates for both genders, although more marked in men. The observed age differences could be related to distinct cumulative exposures to risk factors for the disease in different age groups. The heterogeneity of the mortality rates when comparing belém with other areas of the state could be due to varying degrees of identification of this neoplasia as the subjacent cause of death Key Words: Cancer, mortality trends, larynx. 72 Introdução O câncer de laringe é uma das neoplasias mais freqüentes da região da cabeça e pescoço, representando cerca de 25% dos tumores malignos que acometem esta área e 2% de todas as doenças malignas (INCA, 2000). Cattaruzza e co-autores (1996), em uma revisão da literatura sobre câncer de laringe, evidenciaram que essa neoplasia é o segundo tumor do aparelho respiratório, em termos de ocorrência, sendo superado apenas pela neoplasia de pulmão, e que sua incidência tem crescido, através do tempo, em muitos países do mundo, principalmente em função das mudanças ocorridas nos hábitos de consumo de tabaco e álcool. O câncer de laringe é relativamente comum em homens, porém bastante raro em mulheres, sendo as maiores razões de sexo observadas nos países latinos (Muir & Nectoux, 1996). Coleman e co-autores (1993) observaram que as taxas de incidência dessa neoplasia são cerca de 3 a 4 vezes maiores em populações latinas comparando com aquelas de origem inglesa e que esse diferencial vem se mantendo constante nos últimos 20 anos. Dados de mortalidade por câncer de laringe na Ásia, África e Oceania, no período 1955-1989, foram apresentados pela Organização Mundial da Saúde. No Japão, foi observado um declínio das taxas padronizadas de mortalidade que passaram de 2,31/100.000, em 1955-59, para 0,93/100.000, em 1985-89. Em contraste, observou-se aumento dessas taxas, para o sexo masculino, na Austrália, onde, em 1955-59 eram de 1,76/100.000 e passaram para 2,13/100.000 em 1985-89 (La Vecchia, 1993). Nos Estados Unidos, as taxas de mortalidade, padronizadas pela população mundial, para o sexo masculino, no período 1978-79, eram de 2,05/100.000, enquanto na França, correspondiam a 11,24/100.000 e, na Itália, a 6,51/100.000 (Austin & Reynolds, 1996). No Brasil, as taxas de mortalidade por câncer de laringe são mais elevadas no sexo masculino. Para o ano de 1991, observou-se, em Porto Alegre, taxas de mortalidade padronizadas pela população mundial de 7,05/100.000 para homens e de 0,78/1000.000 para mulheres, com uma razão de sexo de 9,0, enquanto em 73 Goiânia, no mesmo ano, essas taxas correspondiam, respectivamente, a 3,06/100.000 e 0,49/100.000, com uma razão de sexo de 6,2 (INCA, 1995). Em Belém, em 1989, a taxa padronizada de mortalidade por câncer de laringe, no sexo masculino, era de 5,59/100.000 e de 0,21/100.000 no sexo feminino, correspondendo a uma razão de sexo de 26,6 (INCA,1995). Essa neoplasia representa, no estado do Pará, um sítio anatômico de grande relevância para o sexo masculino (INCA, 2000). Decarli e colaboradores (1992) analisaram a tendência de mortalidade por tumores do aparelho respiratório, em ambos os sexos, em área da Itália, no período de 1969-1987. Os autores observaram uma diminuição, ou pouca variação das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe, na faixa etária de 35-64 anos em todas as áreas estudadas. La Vecchia e colaboradores (1993) analisaram as tendências da mortalidade por câncer de laringe no sexo masculino, em países da América no período de 19551989, observando uma variação entre 2,0 e 3,0/100.000 na maioria dos países das Américas Central e do Sul, valores um pouco acima dos observados para o Canadá e os Estados Unidos. As taxas mais elevadas foram observadas no Uruguai (7,0/100.000), em Cuba e na Argentina (ao redor de 5,0/100.000). Pinto e Curi (1991), analisando o comportamento da mortalidade por neoplasmas nos 26 estados do Brasil, nos períodos 1980/1983 e 1985, observaram um crescimento de 6,36% para o câncer de laringe. Este estudo tem como objetivo descrever a tendência da mortalidade por câncer de laringe no estado do Pará, no período de 1980 a 1997, segundo sexo, faixa etária e região de residência, assim como, comparar a distribuição das taxas padronizadas de mortalidade desse estado com aquelas dos outros estados e regiões do Brasil. Material e Métodos Foi realizado um estudo epidemiológico descritivo, visando analisar a magnitude e a tendência da mortalidade por neoplasia de laringe, no estado do Pará, no período de 1980 a 1997. 74 Considerou-se óbito por câncer de laringe, todos aqueles codificados pela Classificação Internacional de Doenças 9ª revisão (CID 9), com o código 161, no período de 1980 – 1995, e pela CID 10, com o código C32, no período de 1996 a 1997. Os dados de mortalidade foram obtidos a partir das Declarações de Óbito (DOs) consolidadas no CD-ROM do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) (MS, 1999). Os dados populacionais foram obtidos a partir dos Censos Demográficos dos anos de 1980 e 1991, recontagem de 1996 e estimativas populacionais para os anos intercensitários, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram calculadas taxas brutas de mortalidade por neoplasia de laringe para o estado do Pará, suas mesoregiões e Belém, para períodos de três anos (1980-1982; 1983-1985; 1986-1988; 1989-1991; 1992-1994 e 1995-1997), visando minimizar possíveis variações temporais. Foram também calculadas taxas específicas por sexo e faixa etária, sendo essa última agrupada em menores de 20 anos; 20-29 anos; 3039 anos; 40-49 anos; 50-59 anos e 60 anos ou mais. Foram calculadas taxas de mortalidade padronizadas por idade para câncer de laringe, tendo como referência a população mundial (Seigi, 1960). Através do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS), foi obtido o número de óbitos por câncer de laringe, segundo sexo e faixa etária, para todos os estados e capitais brasileiros, ocorridos no período 1980-1997, exceto para Tocantins (dados não disponíveis para os três períodos iniciais) e para Palmas (dados não disponíveis para todos os períodos). A partir do Censo Demográfico dos anos de 1980 e 1991, recontagem de 1996 e estimativas populacionais para os anos intercensitários (IBGE), foram obtidas as informações sobre a população residente nas capitais e estados brasileiros, no mesmo período. Com esses dados, foram calculadas taxas de mortalidade, brutas e específicas por faixa etária, para os estados e capitais, mantendo os mesmo grupos 75 etários e obedecendo os períodos de tempo anteriormente definidos. Foram também calculadas as taxas de mortalidade padronizadas por idade, utilizando a população mundial como padrão (Seigi, 1960). A variação anual das taxas de mortalidade, supondo-se uma variação linear, foi determinada através da expressão: [ (T2/T1) 1 / y2 – y1 - 1 ] x 100, onde T2 = taxa de mortalidade por câncer de laringe no período final da série. T1 = taxa de mortalidade por câncer de laringe no período inicial da série. Y2 = ano do final da série. Y1 = ano do início da série. Inicialmente, foram analisadas as taxas de mortalidade do município de Belém, das mesoregiões do estado (Baixo Amazonas, Marajó, Metropolitana, Nordeste, Sudoeste e Sudeste) e do Pará, segundo sexo e faixa etária. Em seguida, essas taxas foram comparadas entre si. Finalmente, as taxas padronizadas de mortalidade do Pará foram comparadas com aquelas dos demais estados da Federação e, as de Belém, com as demais capitais brasileiras. Resultados No gráfico 4, são apresentadas as taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe de Belém, do Pará e do interior do estado, para ambos os sexos nos anos de 1980 a 1997. Podemos observar que, ao longo de todo o período, Belém apresenta as maiores taxas (variando entre 3,9 e 2,0/100.000), enquanto que aquelas do interior do estado tem uma magnitude bem menor (variando entre 0,6 e 0,2/100.000). Isso contribui para que as taxas de mortalidade por câncer de laringe do estado do Pará, como um todo, apresentem valores relativamente baixos, em comparação com as taxas de outras países e/ou regiões. Entre 1980 e 1997, a taxa de mortalidade por câncer de laringe apresentou um decréscimo anual da ordem de –3,85% em Belém, e de –3,24% no Pará. A análise das taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe, segundo sexo, no Pará e em Belém, mostra uma tendência de declínio em ambos os sexos, mais acentuada para o sexo masculino (declínio anual na ordem de –3,86% em Belém e de –3,77% no Pará) enquanto no sexo feminino, esses valores 76 corresponderam a –2,96% e –1,68%, respectivamente. Observa-se que a magnitude das taxas do sexo masculino é bem maior do que as do sexo feminino, tanto no estado (4 a 12 vezes), quanto no município (6 a 16 vezes). Em Belém, a maior taxa observada para o sexo masculino foi de 8,2/100.000, no período 1980-1982, enquanto que a maior taxa, entre o sexo feminino, correspondeu a 1,0/100.000, no mesmo período (Gráfico 5). No Gráfico 6, são apresentadas as taxas de mortalidade por câncer de laringe no Pará, segundo faixas etárias, para ambos os sexos. Podemos verificar que as taxas aumentam com a idade, sendo que, nas faixas etárias de 60 a 69 anos, foram observadas taxas de mortalidade entre 8,3 e 3,8/100.000, enquanto que, na faixa de 70 ou mais anos de idade, esses valores corresponderam a 12,7 e 6,4/100.000. Apesar das oscilações nos valores das taxas, se observa uma tendência de declínio das mesmas, nessas duas faixas etárias, quando comparados os períodos inicial e final da série. Para Belém, as taxas de mortalidade por câncer de laringe segundo grupos etários apresentam um padrão de distribuição semelhante ao do estado, embora a magnitude das taxas seja bem mais elevada (dados não apresentados). No Gráfico 7, são comparadas as taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe, segundo as mesoregiões do Pará, nos períodos inicial e final da série analisada. As maiores taxas foram observadas na região Metropolitana de Belém, 3,3/100.000 para 1980-1982 e 1,9/100.000 para 1995-1997. As demais regiões apresentaram valores bem mais baixos, mas pode ser observada uma pequena elevação das taxas de mortalidade por essa neoplasia na região do Baixo Amazonas (0,5 e 0,7/100.000, respectivamente para 1980-1982 e 1995-1997). Em relação ao sexo e faixa etária, as diferentes mesoregiões apresentam distribuição similar àquela de Belém e do estado do Pará (dados não apresentados). A comparação entre as taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe das diversas regiões do Brasil, no período de estudo (Gráfico 8) mostra que as regiões Sul e Sudeste apresentam taxas com magnitude mais elevada que as demais, variando entre 2,5 e 3,0/100.000. Entre as regiões que apresentam taxas menores, a região Centro-Oeste apresenta taxas intermediárias ao longo do período, com valores em torno de 1,5/100.000. Na região Norte está ocorrendo um declínio dessas taxas ao longo de todo o período estudado (1,4/100.000 em 1980-1982 e 1,0/100.000 em 1995-1997). Já na região Nordeste, as taxas padronizadas de 77 mortalidade por câncer de laringe permanecem praticamente estáveis, com um ligeiro aumento apenas nos dois últimos períodos da série (0,6/100.000 em 19801982 e 0,8/100.000 em 1995-1997). Em relação à distribuição por sexo, o predomínio do sexo masculino aparece em todas as regiões brasileiras (dados não apresentados). Na comparação dos períodos inicial e final da série para um conjunto de 26 capitais brasileiras se observa, na maioria delas, uma tendência de declínio das taxas de mortalidade por câncer de laringe (gráfico 9). Em algumas dessas capitais, porém, o pequeno número de óbitos ocorridos em cada período talvez possa acarretar instabilidade nos valores comparados, dificultando a análise da tendência da mortalidade. As duas maiores capitais da região Norte apresentam redução das taxas de mortalidade por câncer de laringe, 3,9 e 2,0/100.00 (Belém) e 5,4 e 2,8/100.000 (Manaus), em 1980-1982 e 1995-1997, respectivamente. Já na região Sul, apenas Curitiba apresenta um declínio das taxas no período (3,2 e 2,6/100.000), enquanto em Porto Alegre (3,3 e 3,5/100.000) e Florianópolis (3,3 e 4,0/100.000) podemos observar uma elevação das mesmas. Na região Sudeste, verificamos um pequeno declínio nas taxas de mortalidade por câncer de laringe no Rio de Janeiro (2,7 e 2,4/100.000) e uma elevação ligeira das mesmas em São Paulo (3,2 e 3,5/100.000), enquanto Belo Horizonte manteve taxas similares em ambos os períodos. Salvador (2,1 e 1,9/100.00), Recife (1,9 e 1,8/100.000) e Fortaleza (2,4 e 2,1/100.00), na região Nordeste, também apresentam uma pequena tendência de declínio das taxas de mortalidade por essa neoplasia. Apenas 6 capitais (Belém, Cuiabá, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) mantiveram taxas padronizadas de mortalidade superiores a 2,0/100.000 habitantes em todos os períodos analisados (dados não apresentados). O gráfico 10 apresenta as taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe, nos estados brasileiros, nos períodos inicial e final da série. Observa-se que a magnitude dessas taxas nos diferentes estados foi, de modo geral, bem menor do que aquela observada nas suas respectivas capitais. O estado do Pará apresenta taxas relativamente baixas, quando comparado às demais UF. Observa-se um declínio nos valores das taxas de mortalidade nos estados da região Norte (Amazonas, Pará, Amapá e Acre) e um crescimento nos estados da região Sul. 78 Discussão A análise dos dados deste estudo mostrou um declínio das taxas de mortalidade por câncer de laringe no período de 1980-1997, tanto no Pará (1,4/100.000 em 1980-82 e 0,8/100.000 em 1995-97), como em Belém (3,9/100.000 em 1980-82 e 2,0/100.000 em 1995-97). Uma tendência de declínio das taxas de mortalidade por essa neoplasia, particularmente no sexo masculino, tem sido observada em vários países, entre eles, o Canadá e o Japão (La Vecchia, 1993; Austin & Reynolds, 1996). No Brasil, poucos estudos epidemiológicos têm analisado a mortalidade por câncer de laringe, dificultando a comparação dos resultados deste estudo. Pinto e Curi (1991), analisando a tendência da mortalidade por essa neoplasia nos 26 estados brasileiros, no período 1980-1985, observaram um crescimento da ordem de 6,36%. Além de diferenças reais quanto a sua magnitude, a heterogeneidade observada na distribuição das taxas de mortalidade por câncer de laringe entre a capital e o interior do estado do Pará poderia estar apontando para diferenças na qualidade de sua notificação como causa de morte. Considerando o gradiente de diferenças entre ambas regiões, com taxas de mortalidade quatro a sete vezes mais elevadas em Belém, é pouco provável admitir-se que a exposição aos fatores de risco para esta neoplasia, sobretudo tabagismo e ingestão de álcool, apresentem prevalências tão desiguais nestas duas áreas. Quando analisadas as distribuições segundo sexo, tais diferenças por área de residência são mais evidentes no sexo masculino, embora as taxas em mulheres do interior se apresentem sempre mais reduzidas que em Belém. A semelhança do que é relatado internacionalmente, as taxas padronizadas de mortalidade no sexo masculino se apresentaram bem mais elevadas que as dos sexo feminino (Pisani et al., 1993; La Vecchia et al., 1993). A análise da distribuição da mortalidade por câncer de laringe no estado do Pará segundo idade, revela taxas com magnitude crescente diretamente proporcionais. Na faixa de menores de 50 anos, estas se mantém relativamente estáveis ao longo da série se observa uma discreta tendência ao declínio nas faixas de 50-59 e 60-69 anos. Já na faixa de maiores de 70 anos, embora tenha ocorrido importante redução entre 1980-82 e 1983-85, observou-se discreta elevação da mortalidade ao longo dos anos até 1995-97. Considerando-se as características de longa latência do câncer de laringe, sobretudo em função do sinergismo entre o 79 consumo de fumo e álcool em sua etiologia, as diferenças comentadas poderiam estar relacionadas aos efeitos diferenciais de uma exposição cumulativa distinta para estes fatores de risco, entre outros, nos diferentes grupos etários. A comparação entre as taxas observadas nas mesoregiões do estado do Pará não revela diferenças de importância entre as mesmas, observando-se, na região do Baixo Amazonas, um discreto patamar intermediário entre Belém e as demais mesoregiões. Na comparação das taxas de mortalidade observadas nas diferentes regiões do país, constata-se a existência de um marcado diferencial na magnitude de sua distribuição, com taxas mais elevadas, em ordem decrescente, nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Quanto à direcionalidade de tendências, entretanto, verifica-se um discreto declínio da mortalidade na região Norte, paralelamente a uma discreta elevação observada nas demais. A comparação das taxas de mortalidade padronizadas por idade nas 26 capitais assinala, entretanto, um quadro mais mesclado quanto a sua distribuição regional. Assim, as maiores taxas no período de 1995-97 foram observadas em Florianópolis (4,0/100.000) e Cuiabá, estando Belém situada em 12a posição em ordem decrescente (2,0/100.000), o que representa um declínio importante relativamente aos níveis de 1980-82 (3,9/100.000), quando detinha a 3a colocação. A intensa heterogeneidade observada nas taxas das diferentes capitais, compartilhando muitas vezes quadro sócio-econômico similar (Rio Branco, Macapá e Porto Velho com os menores indicadores, versus Boa Vista e Manaus, por exemplo) pode indicar deficiências na captação do universo de óbitos por esta neoplasia através do sistema de mortalidade. 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUSTIN D. F. & REYNOLDS, P., 1996. Laryngeal cancer In: Cancer Epidemiology and Prevention. SHONTTENFELD, E. & FRAUMENI JUNIOR, J. F. (ed) Oxford New York. CATTARUZZA, M. S., MAISONNEUVE, P.; BOYLE, P., 1996. Epidemiology of laryngeal cancer. Eur J Cancer B Oral Oncol, 32B(5):293-305. COLEMMAN, M. P; ESTEVE, J; DAMIECKI, P; ARSLAN, A; RENARD, H., 1993. Trends in cancer incidence and mortality, IARC Scientific publication: Lyon, n.121. DATASUS / TABNET: Dados populacionais, 2001. Disponível: http://datasus.saude.gov.br/cgi/tabcgi.exe/aim/dybr.def. Acesso em: 21/03/2001. 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Taxas de Mortalidade* por Câncer de Laringe Pará, Belém e Interior - 1980 a 1997. Fonte: DATASUS/SIM, 1979-1998. * Taxas padronizadas por 100.000, segundo a população mundial. Iinterior 83 9,0 8,0 8,2 7,0 6,2 6,0 5,0 5,0 5,1 4,8 4,2 4,0 3,0 Belém-Masc. 2,5 2,0 1,0 0,0 Pará-Masc. 2,4 1,9 1,0 0,5 0,4 80 - 82 0,3 83 - 85 1,8 1,6 0,8 0,8 0,4 86 - 88 0,3 0,2 89 - 91 0,3 92 - 94 Belém-Fem. 1,3 0,6 0,3 95 - 97 Gráfico 5. Taxas de Mortalidade* por Câncer de Laringe, Segundo Sexo - Pará e Belém - 1980 a 1997. Fonte: DATASUS/SIM, 1979-1998. * Taxas padronizadas por 100.000, segundo a população mundial. Pará-Fem. 84 14,0 12,7 12,0 10,0 8,0 7,5 8,3 7,3 6,4 6,0 5,6 6,4 3,3 3,3 80-82 4,1 1,4 1,1 1,0 83-85 86-88 89-91 0,0 > 50 50-59 1,6 2,0 0,9 5,7 5,5 4,0 2,1 7,7 3,8 1,8 0,6 92-94 70 e + 1,4 1,1 95-97 Gráfico 6. Taxas de Mortalidade* por Câncer de Laringe, Segundo Faixa Etária - Pará - 1980 a 1997. Fonte: DATASUS/SIM-DOS, 1979-1998. *Taxas por 100.000 habitantes. 60-69 85 0,3 Sudeste 0,2 95-97 0,0 Sudoeste 0,4 80-82 0,2 Nordeste 0,2 0,0 Marajó 0,6 1,9 Metropol. 3,3 0,7 Baixo Amaz. 0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Gráfico 7. Taxas de Mortalidade* por Câncer de Laringe Mesoregiões / Pará - 1980 a 1997. Fonte: DATASUS/SIM, 1979-1998. * Taxas padronizadas por 100.000, segundo a população mundial. 3,5 86 3,5 3,0 2,5 NORTE 3,0 2,8 2,7 2,9 2,7 2,8 2,8 2,9 2,7 2,6 2,5 2,5 CENTRO-OESTE SUDESTE SUL 2,0 1,5 NORDESTE 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,0 0,6 0,6 1,6 1,4 1,0 0,6 1,0 0,6 0,5 1,4 1,1 1,0 0,8 0,8 0,0 80-82 83-85 86-88 89-91 92-94 95-97 Gráfico 8. Taxas de Mortalidade* por Câncer de LaringeRegiões/Brasil - 1980 a 1997. Fonte: DATASUS/SIM, 1979-1998. * Taxas padronizadas por 100.000, segundo a população mundial. 87 Florianópolis 4,0 3,3 Cuiabá 3,7 3,0 P.Alegre 3,3 3,5 3,5 S.Paulo 3,2 C.Grande 2,9 1,1 2,8 Manaus 2,6 Curitiba Boa Vista 5,4 3,2 2,5 0,0 2,4 R.Janeiro 2,1 Fortaleza 2,7 2,4 2,1 2,2 2,0 B.Horizonte Belém 1,9 Salvador 3,9 2,1 95-97 1,9 1,9 Brasília 1,8 Recife Natal 1,7 1,2 Maceió 80-82 1,9 1,7 1,2 1,5 J.Pessoa 2,2 1,4 Goiânia 2,7 1,4 1,4 São Luis Aracaju 1,3 Vitória 1,3 1,1 Teresina 1,6 2,6 1,4 0,8 Macapá Porto velho 0,5 4,8 0,7 0,3 Rio Branco 0,0 2,2 1,0 2,0 3,0 4,0 Gráfico 9. Taxas de Mortalidade* por Câncer de Laringe Capitais / Brasil - 80-82 e 95-97. Fonte: DATASUS/SIM, 1979-1998. * Taxas padronizadas por 100.000, segundo a população mundial. 5,0 6,0 88 R.G.do Sul 3,3 São Paulo 3,3 3,3 2,7 2,8 R.Janeiro 2,5 Paraná 2,2 Stª Catarina 2,1 1,8 E.Santo 1,9 D.Federal 1,9 1,9 2,1 1,7 1,6 M.Gerais 1,7 Rondônia 0,6 1,6 0,0 1,5 Amazonas Mato Grosso 2,7 1,4 0,8 1,2 Goiás 1,4 95-97 1,1 Amapá Pernambuco 0,7 80-82 0,9 0,8 Pará 3,2 1,1 0,8 Ceará 1,4 0,8 0,8 Bahia 0,8 Alagoas 0,5 R.G.Norte 0,4 Sergipe 0,4 0,8 0,8 0,6 Paraíba 0,4 0,3 0,4 Piauí 0,3 0,2 Maranhão Tocantins 2,4 2,2 Mato G.Sul Roraima 3,5 0,3 0,0 0,1 Acre 0,0 1,3 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Gráfico 10. Taxas de Mortalidade* por Câncer de Laringe Estados / Brasil - 80-82 e 95-97. Fonte: DATASUS/SIM, 1979-1998. *Taxas padronizadas por 100.000, segundo a população mundial. 4,0 89 CONCLUSÕES O padrão da distribuição dos casos de câncer entre os trabalhadores do setor madeireiro, mostrou que o câncer de estômago é o mais frequente dentre a população de estudo. Os tumores de fossa nasal, seios paranasais e ouvido, laringe, cavidade oral e faringe que compreendem o trato aéreo digestivo superior apresentaram excesso de risco, quando comparados às populações de referência do estudo. Os madeireiros apresentaram um número maior do que o esperado de casos de doença de Hodgkin e mieloma múltiplo, em comparação com as três populações de referência. Os resultados observados indicam um maior risco de câncer entre os madeireiros, consistente com a literatura, apontando para a necessidade de novos estudos que avaliem essa exposição ocupacional no estado do Pará. As taxas padronizadas de mortalidade por câncer de laringe apresentam importantes diferenças de magnitude entre a capital e o interior do estado. Além de diferenças reais, essa heterogeneidade poderia estar apontando diferenças na qualidade da notificação dessa neoplasia como causa de morte. Observa-se uma tendência de declínio das taxas no estado e na capital, em ambos os sexos, mais acentuada para o sexo masculino, fato também observado em homens em todas as regiões brasileiras. Podemos verificar que as taxas de mortalidade aumentam com a idade, e que, as diferenças observadas entre as faixas etárias poderiam estar relacionadas a exposições cumulativas distintas aos fatores de risco nos diferentes grupos de idade. Observa-se tendência de declínio das taxas de mortalidade ao longo do período de estudo na região Norte como um todo. A análise comparativa das 26 capitais em estudo, mostrou que Belém apresenta comportamento de declínio semelhante a maioria das capitais brasileiras. Comportamento inverso foi observado no Pará, que apresenta declínio em suas taxas, quando as da grande maioria dos demais estados aumentam. 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARMSTRONG, R. W.; IMREY, P. B.; LYE, M. S.; ARMSTRONG, M. J.; C YU, M.; SANI, S., 2000. 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