o compromisso da cidade do cabo - Rede Evangélica Nacional de

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O COMPROMISSO DA
CIDADE DO CABO
UMA DECLARAÇÃO DE FÉ E UM CHAMADO
PARA AGIR
Cidade do Cabo 2010
Terceiro Congresso de Lausanne sobre Evangelização Mundial
16 a 25 de outubro de 2010
SUMÁRIO
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
PARTE 1 – PARA O SENHOR QUE AMAMOS: O NOSSO COMPROMISSO DE FÉ
1. NÓS AMAMOS PORQUE DEUS NOS AMOU PRIMEIRO
2. NÓS AMAMOS AO DEUS VIVO
3. NÓS AMAMOS AO DEUS PAI
4. NÓS AMAMOS AO DEUS FILHO
5. NÓS AMAMOS AO DEUS ESPÍRITO SANTO
6. NÓS AMAMOS A PALAVRA DE DEUS
7. NÓS AMAMOS O MUNDO DE DEUS
8. NÓS AMAMOS O EVANGELHO DE DEUS
9. NÓS AMAMOS O POVO DE DEUS
10. NÓS AMAMOS A MISSÃO DE DEUS
PARTE 2 - PARA O MUNDO QUE SERVIMOS: O CHAMADO À AÇÃO DA CIDADE DO CABO
INTRODUÇÃO
IIA TESTEMUNHANDO A VERDADE DE CRISTO EM UM MUNDO GLOBALIZADO E PLURALISTA
IIB CONSTRUINDO A PAZ DE CRISTO EM NOSSO MUNDO DIVIDIDO E FERIDO
IIC VIVENDO O AMOR DE CRISTO ENTRE PESSOAS DE OUTRAS CRENÇAS
IID DISCERNINDO A VONTADE DE CRISTO PARA A EVANGELIZAÇÃO MUNDIAL
IIE CHAMANDO A IGREJA DE CRISTO DE VOLTA À HUMILDADE, À INTEGRIDADE E À
SIMPLICIDADE
IIF FORMANDO PARCERIAS NO CORPO DE CRISTO PELA UNIDADE EM MISSÕES
CONCLUSÃO
1
PREFÁCIO
O Terceiro Congresso Lausanne sobre Evangelização Mundial (Cidade do Cabo, 16-25 de
outubro de 2010) reuniu 4.200 líderes evangélicos de 198 países e se estendeu a outras
centenas de milhares de líderes que participaram de reuniões, locais e online, realizadas em
todo o mundo. Seu objetivo? Trazer um novo desafio à Igreja global a fim de que ela
testemunhe de Jesus e de todo o seu ensinamento, em todas as nações, em todas as esferas da
sociedade e em todos os campos de reflexão.
O Compromisso da Cidade do Cabo é fruto desse esforço. Ele se posiciona em uma linha
histórica, tendo como base tanto o Pacto de Lausanne quanto o Manifesto de Manila. Está
dividido em duas partes. A Parte I estabelece as convicções bíblicas, transmitidas a nós nas
escrituras, e a Parte II ecoa o chamado para ação.
Como a Parte I tomou forma? Ela foi discutida pela primeira vez em Minneapolis, em dezembro
de 2009, num encontro entre 18 teólogos e líderes evangélicos trazidos de todos os
continentes. Um grupo menor, liderado por Dr. Christopher J H Wright, presidente do Grupo de
Trabalho Teológico Lausanne, foi convidado para elaborar o documento final, a ser apresentado
ao Congresso.
Como a Parte II tomou forma? Um extenso processo de pesquisa iniciou-se pouco mais de três
anos antes do Congresso. Cada um dos Diretores Internacionais do Movimento Lausanne
organizou consultas em suas regiões, nas quais foi solicitado aos líderes cristãos que
identificassem os principais desafios enfrentados pela Igreja. Seis questões principais surgiram.
Essas questões (i) definiram a programação do Congresso e (ii) deram forma à estrutura do
chamado à ação. Este processo de pesquisa prosseguiu durante o Congresso, enquanto Chris
Wright e o Grupo de Trabalho da Declaração trabalhavam para registrar fielmente todas as
contribuições. Um esforço hercúleo e monumental.
O Compromisso da Cidade do Cabo atuará como um roteiro para o Movimento Lausanne
durante os próximos dez anos. Esperamos que o seu chamado profético para o trabalho e para
a oração leve igrejas, agências missionárias, cristãos em seus locais de trabalho e alianças
estudantis em universidades a abraçar o chamado e a encontrar o seu papel neste trabalho.
Muitas declarações doutrinais afirmam o que a Igreja acredita. Gostaríamos de ir além e unir
crença e prática. O modelo que usamos foi o do Apóstolo Paulo, cujo ensinamento teológico foi
substanciado em instruções práticas. Por exemplo, em Colossenses, sua profunda e maravilhosa
representação da supremacia de Cristo resulta num ensinamento prático do que significa estar
enraizado em Cristo.
Podemos distinguir entre o que está no cerne do evangelho cristão, ou seja, as verdades básicas
sobre as quais devemos estar unidos, e as questões secundárias, onde há divergência entre
2
cristãos sinceros no que se refere à interpretação do que a Bíblia ensina ou exige. Trabalhamos
aqui para formular o princípio Lausanne de “liberdade dentro dos limites” e na Parte I esses
limites estão claramente definidos.
Durante todo este processo, tivemos o prazer de trabalhar em conjunto com a Aliança
Evangélica Mundial. Os líderes da AEM estão de pleno acordo tanto com a Confissão de Fé
quanto com o Chamado à Ação.
Embora falemos e escrevamos a partir da tradição evangélica dentro do Movimento Lausanne,
afirmamos a unidade do Corpo de Cristo e de bom grado reconhecemos a existência de muitos
outros seguidores do Senhor Jesus Cristo no contexto de outras tradições. Na Cidade do Cabo,
recebemos com alegria representantes respeitados de igrejas históricas de outras tradições, ali
presentes no papel de observadores, e confiamos que o Compromisso da Cidade do Cabo seja
útil para igrejas de todas as tradições. Nós o oferecemos em espírito de humildade.
Qual é a nossa expectativa em relação ao Compromisso da Cidade do Cabo? Cremos que ele
será comentado, discutido e valorizado como uma afirmação uníssona dos evangélicos em todo
o mundo; que definirá pautas no ministério cristão; que fortalecerá formadores de opinião na
arena pública; e que iniciativas e parcerias arrojadas surgirão a partir dele.
Que a Palavra de Deus ilumine nosso caminho e que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o
amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com cada um de nós.
S Douglas Birdsall
Presidente Executivo
Lindsay Brown
Diretor Internacional
3
O COMPROMISSO DA CIDADE DO CABO
INTRODUÇÃO
Como membros da igreja mundial de Jesus
Cristo, com alegria firmamos nosso
compromisso com o Deus vivo e com os Seus
propósitos de salvação através do Senhor Jesus
Cristo. Por Ele renovamos nosso compromisso
com a visão e os objetivos do Movimento
Lausanne.
Isto envolve dois pontos:
Primeiro: mantemos nosso compromisso com a
tarefa de testemunhar de Jesus Cristo e dos
seus ensinamentos em todo o mundo. O
Primeiro Congresso Lausanne (1974) foi
realizado visando à tarefa da evangelização
mundial. Alguns dos principais benefícios deste
congresso para a Igreja mundial foram: O Pacto
de Lausanne; uma nova consciência do número
de grupos de povos não alcançados; e uma nova
descoberta da natureza holística do evangelho
bíblico e da missão cristã. O Segundo Congresso
Lausanne, em Manila (1989), deu origem a mais
de 300 parcerias na evangelização mundial,
muitas das quais envolveram co-operação entre
nações de todas as partes do globo.
Segundo: mantemos nosso compromisso com
os principais documentos do Movimento – O
Pacto de Lausanne (1974) e O Manifesto de
Manila (1989). Estes documentos expressam de
maneira clara verdades básicas do evangelho
bíblico e as aplicam à nossa missão prática de
formas ainda relevantes e desafiadoras.
Confessamos que não temos sido fiéis aos
compromissos assumidos com esses
documentos. Mas nós os reafirmamos e os
legitimamos, ao mesmo tempo em que
procuramos discernir como expressar e aplicar a
verdade eterna do evangelho no mundo da
nossa geração, mundo este em constante
mudança.
AS REALIDADES DAS MUDANÇAS
Praticamente todos os aspectos referentes à
maneira como vivemos, pensamos e nos
relacionamos uns com os outros estão se
transformando em ritmo acelerado. Positivo ou
negativo, sentimos o impacto da globalização,
da revolução digital e da alteração no equilíbrio
do poder econômico e político do mundo.
Algumas situações que enfrentamos nos trazem
tristeza e ansiedade: a pobreza global, a guerra,
a doença, a crise do meio ambiente e a
mudança climática. Mas uma grande mudança
em nosso mundo é motivo de alegria: o
crescimento da igreja global de Cristo.
O fato de o Terceiro Congresso Lausanne ser
realizado na África é prova disto. Pelo menos
três quartos de todos os cristãos do mundo
vivem hoje em continentes do sul e leste do
globo. A composição de nosso Congresso
Cidade do Cabo 2010 reflete a significativa
transição ocorrida no mundo cristão durante o
último século, desde a Conferência Missionária
de Edimburgo em 1910. Alegramo-nos com o
incrível crescimento da igreja na África e com o
fato de que nossos irmãos e irmãs em Cristo,
africanos sejam os anfitriões deste Congresso.
Devemos responder às realidades de nossa
própria geração através da missão cristã.
Devemos também aprender com a combinação
entre sabedoria e erros que herdamos das
gerações anteriores. Nós honramos o passado e
nos engajamos com o futuro.
REALIDADES INALTERADAS
Mas em nosso mundo em constante mudança
algumas coisas se mantêm inalteradas. Estas
4
importantes verdades oferecem a lógica bíblica
para nosso engajamento missional.

Os seres humanos estão perdidos. A
condição básica do ser humano permanece
a mesma que foi descrita na Bíblia:
estamos em pecado e rebelião, sob o justo
julgamento de Deus e, sem Cristo, não
temos esperança.

O Evangelho é a boa nova. O Evangelho
não é um conceito que precisa de idéias
renovadas, mas uma história que precisa
ser contada de uma nova maneira. É a
história inalterada do que Deus fez para
salvar o mundo, essencialmente nos
eventos históricos da vida, morte,
ressurreição e reino de Jesus Cristo. Em
Cristo há esperança.

A missão da igreja continua. A missão de
Deus continua até os confins da terra e até
o fim do mundo. Chegará o dia quando os
reinos do mundo se tornarão o reino do
nosso Deus e de Seu Cristo e Deus habitará
com Sua humanidade redimida na nova
criação. Até aquele dia, a participação da
igreja na missão de Deus continua, em um
alegre ritmo de urgência, e com
oportunidades novas e empolgantes em
cada geração, inclusive na nossa.
A PAIXÃO DO NOSSO AMOR
expressão do amor redentor de Deus e da graça
que alcança a humanidade perdida e a criação
deteriorada. Em troca, elas pedem o nosso
amor. O nosso amor se manifesta através da
confiança, obediência e do compromisso
apaixonado com a aliança do Senhor. O Pacto
de Lausanne definiu a evangelização desta
forma “toda a igreja levando todo o Evangelho
para todo o mundo”. Esta continua sendo nossa
paixão. Por isso, renovamos esta aliança
reafirmando:



Nosso amor por todo o evangelho, como a
boa nova gloriosa de Deus em Cristo, para
todas as dimensões da sua criação, que
tem sido assolada pelo pecado e pelo mal.
Nosso amor por toda a igreja, como povo
de Deus redimido por Cristo de todas as
nações da terra e de todas as eras da
história, para partilhar a missão de Deus
nesta era e glorificá-lo para sempre nas
eras que virão.
Nosso amor por todo o mundo, tão longe
de Deus, mas tão perto do seu coração, o
mundo que Deus tanto amou que deu o
Seu único Filho pela sua salvação.
Mantendo firme este amor de três dobras,
renovamos nosso compromisso de ser toda a
igreja, de crer, obedecer e partilhar todo o
Evangelho, e de ir por todo o mundo para fazer
discípulos de todas as nações
Esta Declaração foi firmada na linguagem do
amor. O amor é a linguagem da aliança. As
alianças bíblicas, antigas e novas, são a
5
PARA O SENHOR QUE AMAMOS:
NOSSO COMPROMISSO DE FÉ
PRIMEIRA PARTE
1. NÓS AMAMOS PORQUE DEUS NOS AMOU
PRIMEIRO
A missão de Deus flui do amor de Deus. A
missão do povo de Deus flui do nosso amor a
Deus e a tudo que Deus ama. A evangelização
mundial é o fluir do amor de Deus para nós e
através de nós. Nós afirmamos a primazia da
graça de Deus e respondemos a esta graça pela
fé, demonstrada através da obediência em
amor. Nós amamos porque Deus nos amou
primeiro e enviou Seu Filho para ser propiciação
pelos nossos pecados1.
a) O amor a Deus e o amor ao próximo
constitui o primeiro e maior mandamento no
qual residem toda a lei e os profetas. O amor é
o cumprimento da lei, é o primeiro fruto do
Espírito mencionado. O amor é a evidência do
novo nascimento, a certeza de que conhecemos
a Deus; e a prova de que Deus habita em nós. O
amor é o novo mandamento de Cristo, o qual
disse aos Seus discípulos que somente ao
obedecerem este mandamento, a missão deles
seria visível e crível. O amor cristão de um para
com os outros é como o Deus invisível, o qual Se
fez visível através do Seu Filho encarnado,
continua fazendo-se visível ao mundo. O amor
estava entre as primeiras observações e
recomendações de Paulo para os novos
convertidos, acompanhado da fé e da
esperança. Mas o amor é o maior, pois o amor
nunca acaba2. [2]
1
Gl 5:6; Jo 14:21; 1Jo 4:9, 19.
Mt 22:37-40; Rm 13:8-10; Gl 5:22; 1Pe 1:22; 1Jo 3:14;
4:7-21; Jo 13:34-35; Jo 1:18 + 1Jo 4:12; 1Ts 1:3; 1 Cor. 13:8,
13.
2
b) Tal amor não é fraco nem sentimental. O
amor do próprio Deus é um amor de aliança fiel,
comprometido, que se doa, é sacrificial, forte e
santo. Como Deus é amor, o amor permeia todo
o seu ser e todas suas ações, sua justiça bem
como sua compaixão. O amor de Deus se
estende para toda Sua criação. Temos o
mandamento para amar de modo a refletir o
amor de Deus em todas estas dimensões. É isto
que significa andar no caminho do Senhor3.
c) Portanto, ao firmamos nossas convicções e
nosso compromisso em termos de amor,
estamos assumindo o desafio mais básico e
difícil de todos os desafios bíblicos:




amar ao Senhor nosso Deus de todo nosso
coração, alma, mente e força;
amar ao nosso próximo (incluindo o
estrangeiro e o inimigo) como a nós
mesmos;
amar uns aos outros, como Deus em Cristo
nos amou e;
amar ao mundo com o amor daquele que
deu seu único Filho para que o mundo
através dele pudesse ser salvo4.
d) Tal amor é o dom de Deus derramado em
nossos corações, e ao mesmo tempo é o
mandamento de Deus que requer rendição de
nossa vontade. Tal amor significa ser como o
próprio Cristo: firme na perseverança mas gentil
na humildade; duro na resistência ao mal mas
3
Dt 7:7-9; Os 2:19-20; 11:1; Sl 103; 145:9, 13, 17; Gl 2:20;
Dt 10:12-19.
4
Dt 6:4-5; Mt 22:37; Lv 19: 18, 34; Mt 5:43-45; Jo 15:12; Ef
4:32; Jo 3:16-17.
6
terno na compaixão pelo sofredor; corajoso no
sofrimento e fiel até a morte. Tal amor foi
exemplificado por Cristo na terra e é
monitorado pelo Cristo ressurreto em glória5.
Afirmamos que este amor bíblico tão
abrangente deve ser a identidade nítida e a
marca dos discípulos de Jesus. Em resposta à
oração e ao mandamento de Jesus, esperamos
que seja assim conosco. Infelizmente,
confessamos que com frequência não o é. Por
isso, renovamos nosso compromisso de aplicar
todo o nosso esforço para viver, pensar, falar e
agir de maneira que expressemos o que significa
andar em amor, amar a Deus, amar uns aos
outros e amar o mundo.
2. NÓS AMAMOS AO DEUS VIVO
O nosso Deus, a quem amamos, revela-se na
Bíblia como o único Deus vivo e eterno, que
governa todas as coisas de acordo com sua
soberana vontade, visando o seu propósito
salvador. Na unidade do Pai, Filho e Espírito
Santo, somente Deus é o Criador, Soberano, Juiz
e Salvador do mundo6 . Por isso, amamos nosso
Deus com alegres ações de graças pelo nosso
lugar na criação, em submissão à sua soberana
providência, com confiança na sua justiça e com
louvores eternos pela salvação que ele
conquistou para nós.
a) Nós amamos a Deus acima de todos os
rivais. Recebemos o mandamento de amar e
adorar somente ao Deus vivo. Mas, assim como
fez Israel no Novo Testamento, permitimos que
nosso amor a Deus seja adulterado ao
buscarmos os deuses deste mundo, os deuses
dos povos que estão ao nosso redor7. Caímos no
sincretismo, seduzidos pelos ídolos da ganância,
do poder e do sucesso, servindo a Mamom em
lugar de servir a Deus. Aceitamos o domínio de
5
Rm 5:5; 2Co 5:14; Ap 2:4.
Dt 4:35, 39;Sl 33:6-9; Jr 10:10-12; Dt 10:14; Is 40:22-24;Sl
33:10-11, 13-15;Sl 96:10-13;Sl 36:6; Is 45:22.
7
Dt 4 e 6.
6
ideologias políticas e econômicas sem uma
visão bíblica crítica. Somos tentados a fazer
concessões à nossa convicção da singularidade
de Cristo diante da pressão do pluralismo
religioso. Como Israel, precisamos ouvir o
chamado dos profetas e do próprio Jesus ao
arrependimento e abandonar estes rivais e
retornar ao amor obediente e à adoração
unicamente a Deus.
b) Nós amamos a Deus com paixão pela sua
glória. A maior motivação para cumprirmos a
nossa missão é a mesma que impulsiona a
missão do próprio Deus – que o único Deus vivo
seja conhecido e glorificado por toda criação.
Este é o objetivo principal de Deus e deve ser a
nossa maior alegria.
“Se Deus deseja que todo joelho se dobre a
Jesus e que toda língua o confesse, então é isto
o que devemos fazer. Devemos ter “ciúmes”,
como vemos às vezes nas Escrituras, pela honra
do seu nome, nos perturbar se ele permanece
desconhecido, sentir-nos feridos se for
ignorado, indignados se for blasfemado e estar
constantemente ansiosos e determinados a que
lhe sejam dadas honra e glória que lhe são
devidas. O mais elevado de todos os motivos
missionários não é a obediência à Grande
Comissão, mesmo importante como é, nem o
amor pelos pecadores que estão alienados e
perecendo (mesmo que este seja um incentivo
muito forte, principalmente quando
contemplamos a ira de Deus), mas o zelo
verdadeiro, zelo apaixonado e consumidor pela
glória de Jesus Cristo … Diante deste supremo
objetivo da missão cristã, todas as outras
motivações indignas definham e
morrem.”8(John Stott)
O motivo da nossa maior tristeza deve ser
porque em nosso mundo o Deus vivo não é
8
John Stott, The Message of Romans, The Bible Speaks
Today (Leicester and Downers Grove: Intervarsity Press) (tradução livre do inglês para o português do texto citado.
No Brasil, A Mensagem de Romanos, ed ABU).
7
glorificado. O Deus vivo é negado por um
ateísmo agressivo. O único Deus verdadeiro é
substituído ou distorcido em práticas de
religiões mundanas. Nosso Senhor Jesus Cristo é
agredido e mal representado em algumas
culturas populares. E a face do Deus da
revelação bíblica é obscurecida pelo
nominalismo, pelo sincretismo e pela hipocrisia
cristãos.
Amar a Deus em meio a um mundo que o rejeita
e o distorce, exige testemunho de Deus que seja
ousado e humilde; defesa firme, mas graciosa
da verdade do Evangelho de Cristo, o Filho de
Deus, e confiança pela oração na obra
salvadora e convincente do Seu Espírito Santo.
Firmamos nosso compromisso de dar este
testemunho, pois se declaramos amar a Deus,
devemos partilhar a principal prioridade de
Deus, qual seja, que o Seu nome e Sua Palavra
sejam exaltados acima de todas as coisas9.
3. NÓS AMAMOS AO DEUS PAI
Através de Jesus Cristo, o Filho de Deus, - e
somente através dele, como o caminho, a
verdade e a vida – podemos conhecer e amar
Deus como Pai. À medida que o Espírito Santo
testifica com nosso espírito que somos filhos de
Deus, clamamos as palavras que Jesus orou
“Aba Pai”, e oramos a oração que Jesus ensinou,
“Pai Nosso”. Nosso amor por Jesus, provado
pela obediência a Ele, une-se ao amor do Pai por
nós, uma vez que o Pai e o Filho fazem morada
em nós, em uma relação mútua de dar e receber
amor10. Esta íntima relação possui profundo
embasamento bíblico.
a) Nós amamos a Deus como o Pai do seu
povo. O Israel do Antigo Testamento conhecia a
Deus como Pai, como aquele que os havia
trazido à existência, que os tinha guiado e
disciplinado, chamado à sua obediência,
ansiado pelo seu amor e exercido perdão
compassivo e amor paciente e duradouro11.
Todas essas coisas permanecem verdadeiras
para nós, povo de Deus em Cristo, em nosso
relacionamento com nosso Deus Pai.
b) Nós amamos a Deus como o Pai, que tanto
amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito
para nossa salvação.Como é maravilhoso o
amor do Pai por nós, a ponto de sermos
chamados filhos de Deus. Que imensurável o
amor do Pai que não poupou seu único Filho,
mas o entregou por todos nós. Este amor do Pai
em dar o Filho foi espelhado no amor do Filho
que Se entregou. Houve completa harmonia no
propósito da obra de expiação que o Pai e o
Filho realizaram na cruz, através do Espírito
eterno. O Pai amou o mundo e deu seu Filho; “o
Filho de Deus me amou e entregou-se por
mim”. Esta unidade do Pai e do Filho, assim
declarada pelo próprio Jesus, ecoa nas mais
repetidas saudações de Paulo, “graça e paz da
parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus
Cristo, que se entregou pelos nossos pecados...
de acordo com a vontade do nosso Deus e Pai, a
quem seja a glória para sempre e sempre.
Amém”12.
c) Nós amamos a Deus como o Pai, cujo
caráter refletimos e em cujo cuidado
confiamos. No Sermão do Monte, repetidas
vezes, Jesus aponta nosso Pai do Céu como o
modelo ou foco de nossas ações. Devemos ser
pacificadores, como filhos de Deus. Devemos
praticar boas obras, para que nosso Pai receba
o louvor. Devemos amar nossos inimigos
refletindo o amor do nosso Deus Pai. Devemos
fazer nossas doações, orar e jejuar diante do
nosso Pai somente. Devemos perdoar aos
outros como nosso Pai nos perdoa. Não
devemos ser ansiosos mas confiar na provisão
do nosso Pai. Com tal comportamento fluindo
do caráter cristão, realmente faremos a
11
9
Sl. 138:2.
10
Jo 14:6; Rm 8:14-15; Mt 6:9; Jo 14:21-23.
Dt 32:6, 18; 1:31; 8:5; Is 1:2; Ml 1:6; Jr 3:4, 19; 31:9; Os
11:2;Sl 103:13; Is 63:16; 64:8-9.
12
Jo 3:16; 1Jo 3:1; Rm 8:32; Hb 9:14; Gl 2:20; Gl 1:4-5.
8
vontade do nosso Pai no céu, dentro do reino
de Deus13.
Confessamos que com frequência
negligenciamos a verdade da Paternidade de
Deus e nos privamos das riquezas de um
relacionamento com Ele. Renovamos nosso
compromisso de ir ao Pai através de Jesus, o
Filho, para receber e responder ao seu amor
paternal; viver em obediência sob a disciplina do
Pai; refletir seu caráter de Pai em todo nosso
comportamento e em todas nossas atitudes; e
confiar na sua provisão de Pai em qualquer
circunstância que Ele nos levar a viver.




4. NÓS AMAMOS AO DEUS FILHO
Deus ordenou a Israel que amasse o SENHOR
Deus com lealdade exclusiva. Da mesma forma,
amar ao Senhor Jesus Cristo significa que
afirmamos firmemente que somente Ele é
Salvador, Senhor e Deus. A Bíblia ensina que
Jesus opera as mesmas obras soberanas que o
próprio Deus. Cristo é o Criador do universo.
Soberano da história, Juiz de todas as nações e
Salvador de todos os que se voltam para Deus14.
Ele partilha a identidade de Deus em igualdade
divina e na unidade do Pai, Filho e Espírito
Santo. Assim como Deus chamou Israel para
amá-lo em fé pactual, obediência e testemunho
de servo, afirmamos nosso amor por Jesus Cristo
confiando nele, obedecendo-o e fazendo-o
conhecido.
a) Nós confiamos em Cristo. Cremos no
testemunho dos Evangelhos, que Jesus de
Nazaré é o Messias, escolhido e enviado de
Deus para cumprir a missão singular do Israel
do Antigo Testamento, qual seja, trazer a
bênção da salvação de Deus para todas as
nações, como Deus prometeu a Abraão.
13
Mt 5:9, 16, 43-48; 6:4, 6, 14-15, 18, 25-32; 7:21-23.
Jo 1:3; 1 Cor. 8:4-6; Hb 1:2; Cl 1:15-17;Sl 110:1; Mc
14:61-64; Ef 1:20-23; Ap 1:5; 3:14; 5:9-10; Rm 2:16; 2Ts
1:5-10; 2Co 5:10; Rm 14:9-12; Mt 1:21; Lc 2:30; At 4:12;
15:11; Rm 10:9; Tt 2:13; Hb 2:10; 5:9; 7:25; Ap 7:10.
14



No nascimento de Jesus, Deus assumiu
nossa forma humana e viveu entre nós
totalmente Deus e totalmente humano.
Na sua vida, Jesus andou em perfeita
fidelidade e obediência a Deus. Ele
anunciou e ensinou o reino de Deus e
estabeleceu o modelo de como Seus
discípulos devem viver sob o reinado de
Deus.
No seu ministério e nos seus milagres,
Jesus anunciou e demonstrou a vitória do
reino de Deus sobre o mal e sobre os
poderes do mal.
Na sua morte na cruz, Jesus tomou sobre si
os nossos pecados em nosso lugar,
assumindo todo o preço, pena e vergonha,
venceu a morte e os poderes do mal e
conquistou a reconciliação e a redenção de
toda a criação.
Na sua ressurreição, Jesus foi justificado e
exaltado por Deus e se tornou o precursor
da humanidade redimida e da criação
restaurada.
Desde a sua ascensão, Jesus reina como
Senhor sobre toda a história e criação.
Na Sua volta, Jesus executará o julgamento
de Deus, destruirá Satanás, o mal e a
morte e estabelecerá o reino universal de
Deus.
b)Nós obedecemos a Cristo.Jesus nos chama
para o discipulado, para tomarmos nossa cruz e
segui-lo no caminho da abnegação, servidão e
obediência. “Se me amam, obedecerão aos
meus mandamentos”, Ele disse. “Por que me
chamam Senhor, Senhor e não fazem o que eu
digo?”. Somos chamados para viver como Cristo
viveu e para amar como Cristo amou. Confessar
a Cristo e ao mesmo tempo ignorar os seus
mandamento é uma insensatez perigosa. Jesus
alerta que muitos que usam o seu nome em
ministérios miraculosos e espetaculares serão
considerados por Ele como malfeitores15. Nós
15
Lc 6:46; 1Jo 2:3-6; Mt 7:21-23.
9
atentamos ao alerta de Cristo, porque nenhum
de nós está imune a este temível perigo.
c) Nós proclamamos Cristo. Somente em Cristo
Deus se revelou de maneira completa e
definitiva, e somente através de Cristo, Deus
conclui a salvação para o mundo. Portanto, nos
ajoelhamos aos pés de Jesus de Nazaré e, como
Pedro, lhe dizemos: “Tu és o Cristo, o Filho do
Deus vivo”, e como Tomé, “Senhor meu, Deus
meu!”. Apesar não o termos visto, nós o
amamos. E nos alegramos com esperança,
aguardando pelo dia da sua volta, quando o
veremos como Ele é. Até este dia, nos unimos a
Pedro e João proclamando que: “Não há
salvação em nenhum outro, pois, debaixo do
céu não há nenhum outro nome dado aos
homens pelo qual devamos ser salvos”16.
Nós renovamos nosso compromisso de dar
testemunho de Jesus Cristo e de todo o seu
ensinamento, em todo o mundo, cientes que
somente podemos dar tal testemunho se nós
mesmos vivermos em obediência ao seu
ensinamento.
5. NÓS AMAMOS AO DEUS ESPÍRITO
Nós amamos o Espírito Santo na unidade da
Trindade, com Deus o Pai que o envia e com
Jesus Cristo de quem Ele dá testemunho. Ele é o
Espírito missionário do Pai missionário e o do
Filho missionário, soprando vida e poder na
igreja missionária de Deus. Nós amamos e
oramos pela presença do Espírito Santo porque
sem o testemunho do Espírito de Cristo nosso
testemunho é inútil. Sem a obra de
convencimento do Espírito Santo, nossa
pregação é em vão. Sem o poder do Espírito,
nossa missão é mero esforço humano. E sem o
fruto do Espírito, nossas vidas sem brilho não
podem refletir a beleza do Evangelho.
a) No Antigo Testamento vemos o Espírito de
Deus ativo na criação, em obras de libertação e
16
Mt 16:16; Jo 20:28; 1Pe 1:8; 1Jo 3:1-3; Atos 4:12.
de justiça, enchendo e capacitando o povo para
todo tipo de serviço. Os profetas cheios do
Espírito ansiavam pela vinda do rei e servo que
estava por vir, cuja Pessoa e obra seriam
capacitadas pelo Espírito de Deus, e pela era
vindoura que seria marcada pelo
derramamento do Seu Espírito, trazendo nova
vida e obediência renovada para o povo de
Deus17.
b) No Pentecoste, Deus derramou o seu Espírito
Santo como havia prometido através dos
profetas e de Jesus. O Espírito santificador
produz Seus frutos na vida dos crentes, e o
primeiro fruto é sempre o amor. O Espírito
enche a igreja com seus dons e com poder para
missões e para a grande variedade de serviços.
O Espírito nos capacita para proclamar e
apresentar o Evangelho, para discernir a
verdade, para orar com eficácia e para
prevalecer sobre as forças das trevas. O Espírito
fortalece e consola os discípulos que são
perseguidos ou que estão em tribulação por
causa do seu de Cristo18.
c) Nosso engajamento em missões, portanto,
perde o objetivo e se torna infrutífero se não
houver a presença e o poder do Espírito Santo.
Isto é verdade para missões em todas as áreas:
evangelismo, testemunho da verdade,
discipulado, promoção da paz, envolvimento
social, transformação ética, preservação da
criação, vitória sobre poderes do mal, expulsão
de espíritos demoníacos, cura de pessoas
doentes, em sofrimento e passando por
perseguição. Tudo o que fazemos em nome de
Cristo deve ser capacitado pelo Espírito Santo.
O Novo Testamento deixa isto claro através da
igreja primitiva e do ensinamento dos
17
Gn 1:1-2;Sl 104:27-30; Jó 33:4; Ex. 35:30-36:1; Jdg. 3:10;
6:34; 13:25; Num. 11:16-17, 29; Is 63:11-14; 2Pe 1:20-21;
Mic. 3:8; Neh. 9:20, 30; Zech. 7:7-12; Is 11:1-5; 42:1-7;
61:1-3; 32:15-18; Ezek. 36:25-27; 37:1-14; Joel 2:28-32.
18
Atos 2; Gl 5:22-23; 1Pe 1:2; Ef 4:3-6; 1 Cor. 12:4-11; Jo
20:21-22; 14:16-17, 25-26; 16:12-15; Rm 8:26-27; Ef 6:1018; Mt 10:17-20; Lc 21:15.
10
apóstolos. Hoje, vemos isto demonstrado
através dos frutos e do crescimento das igrejas,
cujos seguidores de Jesus atuam
confiantemente, na dependência e expectativa
do poder do Espírito Santo.
outra revelação pode superá-la, e também nos
alegramos porque o Espírito Santo ilumina as
mentes do povo de Deus para que a Bíblia
continue a falar a verdade de Deus de maneira
nova em todas as culturas19.
Não existe Evangelho verdadeiro nem completo,
e nem missão bíblica autêntica sem a Pessoa, a
obra e o poder do Espírito Santo. Oramos por
um despertamento maior para esta verdade
bíblica e para que isto se torne realidade em
todo o corpo de Cristo em todo o mundo.
Entretanto, temos consciência dos muitos
abusos disfarçados com o nome do Espírito
Santo, das várias formas nas quais todos os
tipos de fenômenos são praticados e
enaltecidos, como vemos exemplificado no Novo
Testamento, que carregam as marcas de outros
espíritos, não do Espírito Santo. Há grande
necessidade de um discernimento mais
profundo, de alertas claros contra enganos, da
exposição dos fraudulentos manipuladores a seu
próprio serviço, que usam poder espiritual de
forma abusiva para seu próprio enriquecimento.
Acima de tudo, há uma grande necessidade de
ensinamento bíblico consistente e de pregação
inundada por oração humilde, que capacite
crentes comuns a entender e se alegrar no
verdadeiro Evangelho e a reconhecer e rejeitar
os falsos evangelhos.
a) A Pessoa que a Bíblia revela. Amamos a Bíblia
como uma noiva ama as cartas do seu noivo,
não pelo papel propriamente dito, mas pela
pessoa que fala através delas. A Bíblia nos
oferece a revelação do próprio Deus, da Sua
identidade, do Seu caráter, dos Seus propósitos
e das Suas ações. Ela é a principal testemunha
do Senhor Jesus Cristo. Lendo-a, encontramonos alegremente com ele, através do Espírito.
Nosso amor pela Bíblia é uma expressão do
amor a Deus.
b) A história que a Bíblia conta. A Bíblia conta a
história universal da criação, queda, redenção
na história e nova criação. Esta narrativa
abrangente permite que tenhamos uma visão
de mundo coerente e bíblica e molda nossa
teologia. No centro desta historia estão os
eventos culminantes da salvação, a cruz e a
salvação de Cristo, que constituem o coração do
Evangelho. É esta história, no Novo e no Antigo
Testamentos, que contam quem somos, por
qual razão estamos aqui e para onde
caminhamos. Esta história da missão de Deus
define nossa identidade, impulsiona nossa
missão e garante que o fim está nas mãos de
Deus. Esta história deve dar forma à memória e
à esperança do povo de Deus e governar o
conteúdo do seu testemunho evangelístico, ao
ser passado de geração a geração. Devemos
usar todos os meios possíveis para tornar a
Bíblia conhecida, pois sua mensagem é para
todos os povos da terra. Portanto, reafirmamos
nos compromisso com esta tarefa contínua de
traduzir, disseminar e ensinar as Escrituras a
todas as culturas e línguas, incluindo aquelas
que são predominantemente orais ou nãoliterárias.
6. NÓS AMAMOS A PALAVRA DE DEUS
Nós amamos a palavra de Deus nas Escrituras
do Novo e do Antigo Testamento, ecoando o
canto alegre do salmista no Torá: "Eu amo os
teus mandamentos mais do que o ouro...Como
amo a Tua lei!”. Recebemos toda a Bíblia como
a Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito de
Deus, falada e escrita através de autores
humanos. Submetemo-nos a ela como
autoridade única e suprema, que governa nossa
fé e nosso comportamento. Testificamos do
poder da Palavra de Deus para cumprir o seu
propósito de salvação. Afirmamos que a Bíblia é
a palavra final escrita de Deus, que nenhuma
19
Sl 119:47, 97; 2Tm 3:16-17; 2Pe 1:21.
11
c) A verdade que a Bíblia ensina. Toda a Bíblia
nos ensina todo o conselho de Deus, a verdade
que Deus quer que saibamos. Submetemo-nos à
Bíblia como verdadeira e confiável em tudo o
que declara, pois é a Palavra do Deus que não
mente e não erra. Ela é clara e suficiente para
revelar o caminho da salvação. É o fundamento
para explorar e entender todas as dimensões da
verdade de Deus.
Entretanto, vivemos em um mundo cheio de
mentiras e de rejeição da verdade. Muitas
culturas exibem um relativismo dominante, que
nega que qualquer verdade absoluta exista ou
possa ser conhecida. Se amamos a Bíblia, então,
devemos nos levantar em defesa das verdades
que ela declara. Devemos encontrar novas
formas de articular a autoridade bíblica em
todas as culturas. Nós reafirmamos nosso
compromisso de batalhar pela verdade da
revelação de Deus como parte do nosso
trabalho de amor pela Palavra de Deus.
d) A vida que a Bíblia requer. “A palavra está
bem próxima de vocês; está em sua boca e em
seu coração; por isso vocês poderão obedecerlhe”. Jesus e Tiago nos chamam para ser
praticantes da Palavra e não somente
ouvintes20. A Bíblia retrata uma qualidade de
vida que deveria marcar o crente e as
comunidades dos crentes. Desde Abraão até
Moisés, com os salmistas, profetas e com a
sabedoria de Israel, de Jesus aos apóstolos,
aprendemos que tal estilo de vida bíblico inclui
justiça, compaixão, humildade, integridade,
honestidade, confiabilidade, pureza sexual,
generosidade, bondade, autonegação,
hospitalidade, promoção da paz, não-retaliação,
fazer o bem, perdão, alegria, contentamento e
amor – todas essas coisas combinando em vidas
de adoração, louvor e fidelidade a Deus.
Nós confessamos que facilmente declaramos
amar a Bíblia sem amar a vida que ela ensina:
20
Dt 30:14; Mt 7:21-27; Lc 6:46; Tg 1:22-24.
vida prática e difícil de obediência a Deus
através de Cristo. E mais, “nada divulga melhor
o Evangelho do que uma vida transformada, e
nada traz mais descrédito do que a
inconsistência pessoal. Temos sobre nós a
cobrança de um comportamento digno do
Evangelho de Cristo e que o “adorne”,
enriquecendo sua beleza com vidas santas”21.
Portanto, por causa do Evangelho de Cristo,
reafirmamos nosso compromisso de provar
nosso amor pela Palavra de Deus crendo
nela e lhe obedecendo. Não existe missão
bíblica sem vida bíblica.
7. NÓS AMAMOS O MUNDO DE DEUS
Partilhamos a paixão de Deus pelo seu mundo,
amando tudo o que Deus fez, nos alegrando
com a providência e a justiça de Deus através da
sua criação, proclamando as boas novas a toda
criação e a todas as nações, aguardando pelo
dia quando a terra será cheia do conhecimento
da glória de Deus como as águas cobrem o
mar22.
a) Nós amamos o mundo criado por Deus. Este
amor não é um simples sentimento afetivo pela
natureza, o qual a Bíblia não ordena que
tenhamos, muito menos é uma adoração
panteísta da natureza, o que a Bíblia condena
explicitamente. Antes é a prática lógica do
nosso amor a Deus manifestado em cuidado
pelo que pertence a ele. “Do Senhor é a terra e
tudo o que nela existe”. A terra é propriedade
do Deus a quem declaramos amar e obedecer.
A terra é importante para nós simplesmente
porque pertence a quem chamamos de
Senhor23.
A terra é criada, sustentada e redimida por
Cristo24. Não podemos alegar que amamos a
21
Manifesto de Manila, parágrafo 7; Tt 2:9-10.
Sl 145:9, 13, 17;Sl 104:27-30;Sl 50:6; Mc 16:15; Cl 1:23;
Mt 28:17-20; Hc 2:14.
23
Sl 24:1; Dt 10:14.
24
Cl 1:15-20; Hb 1:2-3.
22
12
Deus se fazemos mau uso do que pertence a
Cristo por direito de criação, de redenção e de
herança. A terra é importante para nós, não
como no raciocínio do mundo secular, mas por
causa do Senhor. Se Jesus é Senhor de toda a
terra, não podemos separar nosso
relacionamento com Cristo da maneira como
agimos em relação à terra. Porque proclamar o
evangelho que diz “Jesus é Senhor” é proclamar
o Evangelho que inclui a terra, uma vez que o
Senhorio de Cristo está sobre toda a criação. O
cuidado com a criação é, portanto, uma questão
do evangelho no contexto do Senhorio de
Cristo.
Tal amor pela criação de Deus exige que nos
arrependamos de nossa participação na
destruição, desperdício e poluição dos recursos
da terra e da nossa conivência com idolatria
tóxica do consumismo. Em vez disso, firmamos
nosso compromisso de responsabilidade
ambiental urgente e profética e de apoiar
cristãos cujo chamado missional pessoal seja
defesa e ação em favor do meio ambiente.
Lembramo-nos de que a Bíblia declara o
propósito redentor de Deus para a criação
propriamente dita. Missão integral significa
discernir, proclamar e viver a verdade bíblica de
que o Evangelho é a boa nova de Deus, através
da cruz e ressurreição de Jesus Cristo, para
indivíduos e para a sociedade, e para a criação.
Estes três estão sofrendo e feridos por causa do
pecado, os três estão incluídos no amor
redentor e na missão de Deus; os três devem
fazer parte da missão abrangente do povo de
Deus.
b) Nós amamos o mundo das nações e das
culturas. “De um homem, Deus fez todas as
nações da humanidade, para viverem sobre a
face da terra”. A diversidade étnica é dom de
Deus na criação e será preservada na nova
criação, quando será libertada das rivalidades e
divisões. Nosso amor por todos os povos reflete
a promessa de Deus de abençoar todas as
nações da terra e a missão de Deus de criar para
si um povo vindo de toda tribo, língua e nação.
Devemos amar tudo o que Deus escolheu
abençoar, e isto inclui todas as culturas.
Historicamente, a missão cristã tem sido
atuante na proteção e preservação de culturas
nativas e suas línguas. Entretanto, o amor de
Deus também inclui discernimento crítico por
todas as culturas e evidencia não apenas as
características positivas da imagem de Deus nas
vidas humanas, mas também as impressões
negativas de Satanás e do pecado. Aguardamos
pelo dia quando veremos o Evangelho
incorporado e internalizado em todas as
culturas, redimindo-as de dentro para fora, para
que elas exibam a glória de Deus e a plenitude
radiante de Cristo. Aguardamos ansiosos pela
riqueza, pela glória e pelo esplendor de todas as
culturas trazidas para a cidade de Deus,
redimidas e purificadas do pecado,
enriquecendo a nova criação25.
Tal amor por todos os povos exige que
rejeitemos os males do racismo e do
etnocentrismo, e que tratemos todas as etnias e
grupos culturais com dignidade e respeito,
tendo como base o seu valor para Deus na
criação e na redenção26.
Tal amor exige também que façamos o
Evangelho conhecido entre todos os povos e
culturas em todo lugar. Nenhuma nação, judia e
gentia está fora do escopo da Grande Comissão.
O Evangelismo flui dos corações cheios do amor
de Deus por aqueles que ainda não O
conhecem. Envergonhados, confessamos que
existem muitos povos no mundo que ainda não
ouviram a mensagem do amor de Deus em
Jesus Cristo. Renovamos nosso compromisso,
inspirado desde o seu início pelo Movimento
Lausanne, de usar todos os meios possíveis para
alcançar todos os povos com o Evangelho.
25
Atos 17:26; Dt 32:8; Gn 10:31-32; 12:3; Ap 7:9-10; Ap
21:24-27.
26
Atos 10:35; 14:17; 17:27.
13
c) Nós amamos os pobres e os sofridos do
mundo. A Bíblia afirma que o Senhor ama tudo
o que criou, defende a causa do oprimido, ama
o estrangeiro, alimenta o faminto, sustenta o
órfão e a viúva27. A Bíblia também afirma que
Deus deseja fazer estas coisas através de seres
humanos comprometidos com tais ações. Deus
tem como responsáveis principalmente os que
exercem liderança política ou jurídica na
sociedade28, mas todo o povo de Deus, de
acordo com a Lei e os Profetas, os Salmos e a
Sabedoria, Jesus e Paulo, Tiago e João, deve
refletir o amor e a justiça de Deus através de
amor prático e de justiça para o necessitado29.
Tal amor pelo pobre exige não apenas amor,
misericórdia e atos de compaixão, mas também
que façamos justiça através da exposição e
oposição de tudo o que oprime e explora o
pobre. “Não devemos ter medo de denunciar o
mal e a injustiça onde quer que existam”30.
Envergonhados, confessamos que nesta
questão não temos partilhado da paixão de
Deus, não temos incorporado o amor de Deus,
não temos refletido o caráter de Deus e não
temos feito a vontade de Deus. Novamente nos
oferecemos para a promoção da justiça,
solidariedade e da defesa do marginalizado e
oprimido. Temos consciência da luta que se
trava contra o mal nas dimensões espirituais, a
qual só pode ser guerreada com a vitória da
cruz e a da ressurreição, no poder do Espírito
Santo e em constante oração.
d) Nós amamos nosso próximo como a nós
mesmos. Jesus convocou Seus discípulos a
obedecerem este mandamento como o
27
28
Sl 145:9, 13, 17; 147:7-9; Dt 10:17-18.
Gn 18:19; Ex. 23:6-9; Dt 16:18-20; Jó 29:7-17; Ps 72:4,
12-14; 82; Pv 31:4-9; Jr 22:1-3; Dn 4:27.
29
Ex. 22:21-27; Lv 19:33-34; Dt 10:18-19; 15:7-11; Is 1:1617; 58:6-9; Amos 5:11-15, 21-24;Sl 112; Jó 31:13-23; Pv
14:31; 19:17; 29:7; Mt 25:31-46; Lc 14:12-14; Gl 2:10; 2Co
8-9; Rm 15:25-27; 1Tm 6:17-19; Tg 1:27; 2:14-17; 1Jo 3:1618.
30
Pacto de Lausanne, Parágrafo 5.
segundo mais importante da lei, mas a seguir,
no mesmo capítulo, ele aprofundou
radicalmente este mandamento, de “amem o
seu próximo” para “amem seus inimigo”31.
Tal amor pelo nosso próximo exige de nós uma
resposta para todas as pessoas, uma resposta
que venha do coração do Evangelho, em
obediência ao mandamento de Cristo, seguindo
o Seu exemplo. Este amor ao próximo envolve
pessoas de outras crenças e se estende para
aqueles que nos odeiam, difamam, perseguem
e até matam. Jesus nos ensina a responder à
mentira com a verdade, aos malfeitores com
atos de bondade, misericórdia e perdão, à
violência e morte dos Seus discípulos com
sacrifício próprio, a fim de atrair pessoas a ele e
quebrar a cadeia do mal. Rejeitamos com
veemência a violência na propagação do
Evangelho e renunciamos à tentação de
retaliação e à vingança contra os que nos fazem
mal. A desobediência destes princípios é
incompatível com o exemplo e o ensinamento
de Cristo e do Novo Testamento32. Ao mesmo
tempo, nosso dever de amor para com o
próximo sofredor requer que busquemos a
justiça em favor deles apelando para as
autoridades legais e de Estado, que são servos
de Deus para punição dos malfeitores33.
e) O mundo que não amamos. O mundo da
boa criação de Deus tornou-se o mundo da
rebelião humana e satânica contra Deus. O
mandamento que recebemos é para que não
amemos este mundo de desejo, ganância e
orgulho pecaminosos. Com tristeza
confessamos que são exatamente estas marcas
mundanas que com frequência distorcem nossa
presença cristã e negam nosso testemunho do
Evangelho34.
31
Lv 19:34; Mt 5:43-4.
Mt 5:38-39; Lc 6:27-29; 23:34; Rm 12:17-21; 1Pe 3:1823; 4:12-16.
33
Rm 13:4.
34
1Jo 2:15-17.
32
14
Renovamos nosso compromisso de não flertar
com o mundo caído nem com suas paixões
transitórias, mas amar todo o mundo como
Deus o ama. Assim, amamos o mundo
esperando em santidade pela redenção e
renovação em Cristo de toda a criação e
culturas, pelo encontro do povo de Deus de
todas as nações, até dos confins da terra, e o
fim de toda destruição, pobreza e inimizade.
8. NÓS AMAMOS O EVANGELHO DE DEUS
Como discípulos de Jesus, somos povo do
Evangelho. A essência da nossa identidade é
nossa paixão pelas boas novas bíblicas da obra
salvadora de Deus através de Jesus Cristo.
Somos unidos pela nossa experiência com a
graça de Deus no Evangelho e pela nossa
motivação em fazer este Evangelho da graça
conhecido até os confins da terra, usando para
isto todos os meios possíveis.
a) Nós amamos as boas novas em um mundo
de más notícias. O Evangelho enfoca os efeitos
calamitosos do pecado, da queda e da
necessidade do ser humano. O ser humano
rebelou-se contra Deus, rejeitou a autoridade
de Deus e desobedeceu a Palavra de Deus.
Neste estado de pecado, estamos alienados de
Deus, uns dos outros e da ordem criada. O
pecado merece a condenação de Deus. Os que
se recusam a arrepender-se e não “obedecem
ao Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo
serão punidos com destruição e separação
eterna da presença de Deus”35. Os efeitos do
pecado e do poder do mal têm corrompido cada
aspecto da vida humana, espiritual, físico,
intelectual e relacional. Eles permeiam a vida
cultural, econômica, social, política e religiosa
de todas as culturas e gerações da história. Eles
têm causado miséria incalculável para a raça
humana e danos à criação de Deus. Neste
quadro sombrio, o Evangelho bíblico é
verdadeiramente boa nova.
b) Nós amamos a história que o Evangelho
conta. O Evangelho conta as boas novas dos
eventos históricos da vida, morte e ressurreição
de Jesus de Nazaré. Como filho de Davi, o
prometido Rei Messias, Jesus é Aquele através
de quem Deus estabeleceu o Seu reino e
promoveu a salvação do mundo, tornando
abençoadas todas as nações da terra, como
havia prometido a Abraão. Paulo define assim o
Evangelho: “Cristo morreu pelos nossos
pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e
ressuscitou no terceiro dia, segundo as
Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos
Doze”. O Evangelho declara que na cruz de
Cristo, Deus tomou sobre Si, na pessoa do Seu
Filho e em nosso lugar, o julgamento que
merecemos pelos nossos pecados. Neste
mesmo grandioso ato salvador, Deus
conquistou a vitória decisiva sobre Satanás,
sobre a morte e sobre todos os poderes do mal,
libertou-nos destes poderes e seus temores e
garantiu a destruição final deles. Deus
conquistou a reconciliação dos crentes consigo
e de uns com outros, vencendo todas as
divisões e inimizades. Através da cruz Deus
também cumpriu o Seu propósito de
reconciliação com toda a criação, e na
ressurreição do corpo de Jesus nos deu os
primeiros frutos da nova criação. “Deus em
Cristo estava reconciliando consigo o mundo”36.
Como amamos a história do Evangelho!
c) Amamos a garantia que o Evangelho
dá. Somente através da confiança apenas em
Cristo que somos unidos com Cristo através do
Espírito Santo e somos justificados em Cristo
diante de Deus. Sendo justificados pela fé,
temos paz com Deus e não somos condenados.
Recebemos o perdão dos nossos pecados.
Nascemos de novo para uma esperança viva
partilhando a vida ressurreta de Cristo. Somos
adotados como co-herdeiros com Cristo.
Tornamo-nos cidadãos da nação em aliança
36
35
Gn 3; 2Ts 1:9.
Mc 1:1, 14-15; Rm 1:1-4; Rm 4; 1 Cor. 15:3-5; 1Pe 2:24;
Cl 2:15; Hb 2:14-15; Ef 2:14-18; Cl 1:20; 2Co 5:19.
15
com Deus, membros da família de Deus e
morada de Deus. Por isso, ao confiar em Cristo,
temos plena certeza da salvação e de vida
eterna, porque nossa salvação depende não de
nós mesmos, mas exclusivamente da obra de
Cristo e da promessa de Deus. “Nada em toda a
criação pode nos separar do amor de Deus que
está em Cristo Jesus, nosso Senhor”37. Como
amamos as promessas do Evangelho!
d) Nós amamos a transformação produzida
pelo Evangelho. O Evangelho é o poder
transformador de vida dado por Deus que opera
no mundo. “É o poder de Deus para salvação de
todo aquele que crê”38. A fé é o único meio pelo
qual as bênçãos de Deus e as garantias do
Evangelho são recebidas. Entretanto, a fé
salvadora nunca permanece só, mas
necessariamente se mostra em obediência. A
obediência cristã é “a fé manifestada através do
amor”39. Não somos salvos pelas boas obras,
mas tendo sido salvos somente pela graça,
somos “criados em Cristo Jesus para
fazermos boas obras”40. “A fé propriamente
dita, se não for acompanhada de obras, está
morta”41. Paulo viu a transformação ética que o
Evangelho produz como a obra da graça de
Deus, graça que conquistou a nossa salvação na
primeira vinda de Cristo, e graça que nos ensina
a viver com ética, à luz da Sua segunda
vinda42. Para Paulo “obedecer ao Evangelho”
significava confiar na graça e depois ser
ensinado através da graça43. O objetivo
missional de Paulo era gerar “a obediência que
vem pela fé” entre todas as nações44. Esta forte
linguagem de aliança nos remete à Abraão.
Abraão creu na promessa de Deus, o que lhe foi
creditado por justiça, e depois obedeceu ao
mandamento de Deus em demonstração da sua
fé. “Pela fé Abraão... obedeceu”45.
Arrependimento e fé em Jesus Cristo são os
primeiros atos de obediência exigidos pelo
Evangelho; obediência contínua aos
mandamentos de Deus é o modo de vida
capacitado pela fé do Evangelho, através do
Espírito Santo santificador46. A obediência é,
portanto, a prova viva da fé salvadora e o seu
fruto vivo. A obediência também é o teste do
nosso amor por Jesus. “Quem tem os meus
mandamentos e lhes obedece, esse é o que me
ama”47. “Sabemos que o conhecemos, se
obedecemos aos seus mandamentos”48. Como
amamos o poder do Evangelho!
9. NÓS AMAMOS O POVO DE DEUS
O povo de Deus são aqueles de todas as eras e
nações que Deus em Cristo amou, escolheu,
chamou, salvou e santificou com povo Seu, para
partilhar na glória de Cristo como cidadãos da
nova criação. Como tais, a quem Deus amou de
eternidade a eternidade, por toda história
marcada por turbulências e rebelião, nós
recebemos o mandamento para amar uns aos
outros. Porque, “visto que Deus assim nos
amou, nós também devemos amar uns aos
outros”, e, portanto, “ser imitadores de Deus... e
viver em amor, como também Cristo nos amou
e Se entregou por nós”. Amar uns aos outros na
família de Deus não é simplesmente um opção
desejável, mas um mandamento do qual não
podemos escapar. Este amor é a primeira
evidência da obediência ao Evangelho, e a força
propulsora da missão no mundo49.
37
Rm 4; Phil. 3:1-11; Rm 5:1-2; 8:1-4; Ef 1:7; Cl 1:13-14;
1Pe 1:3; Gl 3:26-4:7; Ef 2:19-22; Jo 20:30-31; 1Jo 5:12-13;
Rm 8:31-39.
38
Rm 1:16.
39
Gl 5:6.
40
Ef 2:10.
41
Tg 2:17.
42
Tt 2:11-14.
43
Rm 15:18-19; 16:19; 2Co 9:13.
44
Rm 1:5; 16:26.
a) O amor exige Unidade. O mandamento de
Jesus para que Seus discípulos amem uns aos
45
Gn 15:6; Gl 6:6-9; Hb 11:8; Gn 22:15-18; Tg 2:20-24.
Rm 8:4.
47
Jo 14:21.
48
1Jo 2:3.
49
2Ts 2:13-14; 1Jo 4:11; Ef 5:2; 1Ts 1:3; 4:9-10; Jo 13:35.
46
16
outros está relacionado à oração para que eles
sejam um. Tanto este mandamento como a
oração são missionais, “com isso todos saberão
que vocês são meus discípulos”, e “para que o
mundo creia que tu *o Pai+ me enviaste”50. A
marca mais convincente da verdade do
Evangelho é a unidade em amor dos cristãos,
superando as divisões crônicas do mundo:
barreiras de raça, de cor, classes sociais,
privilégios econômicos ou partidarismo político.
Entretanto, poucas coisas destroem mais nosso
testemunho do que a presença e ampliação
destas mesmas divisões no meio cristão.
Nós confessamos que não derrubamos todas as
barreiras. Entre elas, uma que nos causa
profunda perturbação são os contrastes
escandalosos de desigualdade material dentro
do corpo de Cristo. Esta desigualdade nega a
instrução e aspiração de Paulo de que haja
mutualidade e suficiência para todos.
Condenamos a competitividade e a rivalidade
que, às vezes, chega a envenenar nosso zelo
pela missão. Rejeitamos o desequilíbrio de
recursos disponíveis para missões em diferentes
partes da igreja mundial. Buscamos com
urgência um novo equilíbrio global enraizado
em profundo amor e na parceria humilde
dentro do corpo de Cristo em todos os
continentes. A razão desta busca não visa
apenas o amor de uns pelos outros que vai além
das palavras, mas também o nome de Cristo e a
missão de Deus em todo o mundo.
b) O amor exige Honestidade. O amor fala a
verdade com graça. Ninguém amou mais o povo
de Deus do que os profetas de Israel e o próprio
Jesus. Ao mesmo tempo, ninguém os
confrontou com mais honestidade sobre a
verdade do erro, da idolatria e da rebelião deles
contra a aliança com o Senhor. Ao fazer isto,
chamaram o povo de Deus ao arrependimento,
para que fossem perdoados e restaurados para
o serviço na missão de Deus. A mesma voz de
50
Jo 13:34-35; 17:21.
amor profético deve ser ouvida hoje pelas
mesmas razões.
Esta amorosa honestidade clama para que
voltemos arrependidos à humildade,
integridade e simplicidade sacrificial de quem
teme a Deus. Devemos renunciar às idolatrias
da arrogância, do sucesso manipulado e da
ganância consumista que seduz a tantos de nós
e de nossos líderes. Nosso amor pela igreja de
Deus sofre com tristeza por causa da feiúra
entre nós que desfigura a face do nosso querido
Senhor Jesus Cristo e que esconde Sua beleza
do mundo – mundo este que precisa
desesperadamente ser atraído a Ele.
c) O amor exige Solidariedade. Amar uns aos
outros inclui principalmente cuidar dos que
estão sendo perseguidos e estão aprisionados
por causa da sua fé e testemunho. Se uma parte
do corpo sofre, todas sofrem com ele. Todos
nós somos, como João, “irmãos e companheiros
no sofrimento, no Reino e na perseverança em
Jesus”51.
Nós confessamos que nem sempre temos
demonstrado amor e solidariedade para com
nossos irmãos e irmãs perseguidos, e que
estamos mais preocupados com nossa própria
segurança. Firmamos nosso compromisso de
compartilhar do sofrimento dos membros do
corpo de Cristo em todo o mundo, através de
informação, oração, defesa e outros meios de
apoio. Entendemos que este compartilhar, no
entanto, não é um simples ato de piedade, mas
um desejo profundo de também aprender o
que a igreja sofredora pode ensinar e dar às
partes do corpo de Cristo que não enfrentam o
mesmo sofrimento. Somos advertidos que a
igreja que se sente tranquila e auto-suficiente,
como a de Laodicéia, pode ser a que Jesus
considera a mais cega quanto à sua própria
51
Hb 13:1-3; 1 Cor 12:26; Ap 1:9.
17
pobreza e na qual Ele próprio se sente um
estranho52.
do nosso Senhor e de Cristo e Ele reinará para
todo o sempre53.
Jesus chama todos os Seus discípulos para a
união como uma única família entre as nações,
uma comunidade reconciliada, na qual as
barreiras do pecado sejam derrubadas pela Sua
graça reconciliadora. Esta igreja é uma
comunidade de graça, obediência e amor, em
comunhão com o Espírito Santo, na qual os
gloriosos atributos de Deus e as características
da graça de Cristo são refletidos, e a sabedoria
multiforme de Deus é manifestada. Como a
mais vívida expressão do reino de Deus hoje, a
igreja é a comunidade dos reconciliados, que
não vivem mais para si mesmos, mas para o
Salvador que os amou e se entregou em seu
favor.
a) Nossa participação na missão de
Deus. Deus chama Seu povo para partilhar Sua
missão. A igreja de todas as nações está em
continuidade, através do Messias Jesus, com o
povo de Deus do Velho Testamento. Com eles
fomos chamados através de Abraão e
comissionados para ser bênção e luz para as
nações. Com eles, somos moldados e ensinados
através da Lei e dos Profetas para ser uma
comunidade de santidade, compaixão e justiça
em um mundo de pecado e sofrimento. Fomos
redimidos através da cruz e ressurreição de
Jesus Cristo e capacitados pelo Espírito Santo
para dar testemunho do que Deus fez em
Cristo. A igreja existe para adorar e glorificar a
Deus por toda a eternidade e participar da
missão transformadora de Deus na história.
Nossa missão deriva totalmente da missão de
Deus, dirigida a toda a criação de Deus e está
embasada na vitória redentora da cruz. Este é o
povo ao qual pertencemos, cuja fé confessamos
e cuja missão partilhamos.
10. NÓS AMAMOS A MISSÃO DE DEUS
Firmamos nosso compromisso com a missão
mundial, porque ela é essencial para nosso
entendimento de Deus, da Bíblia, da igreja, da
história humana e do futuro final. Toda a Bíblia
revela a missão de Deus de convergir a Cristo,
todas as coisas no céu e na terra, reconciliandoas através do sangue da Sua cruz. Ao cumprir
Sua missão, Deus transformará em uma nova
criação a criação destruída pelo pecado e pelo
mal, na qual não exista pecado nem maldição.
Deus cumprirá Sua promessa a Abraão, de
abençoar todas as nações da terra, através do
Evangelho de Jesus, o Messias, a semente de
Abraão. Deus transformará todas as nações,
tribos e línguas do mundo fragmentado sob o
julgamento de Deus em uma nova humanidade,
redimida pelo sangue de Cristo para adorar
nosso Deus e Salvador. Deus destruirá o reino da
morte, corrupção e violência quando Cristo
voltar para estabelecer Seu reino eterno de vida,
justiça e paz. Depois, Deus, Emanuel, habitará
conosco, e o reino do mundo se tornará o Reino
52
Ap 3:17-20.
b) O custo da nossa missão. Jesus deu
exemplo do que ensinou, que o maior amor é
dar a vida pelos seus amigos. Referindo-se a Ele
mesmo e a seus discípulos disse: “se o grão de
trigo não cair na terra e não morrer, continuará
ele só. Mas se morrer, dará muito fruto”. A
maioria de nós não será chamada para entregar
a vida por amor a Cristo, mas o sofrimento é
uma forma de engajamento missionário como
testemunhas de Cristo, como foi para os
apóstolos e profetas do Velho Testamento.
Estar disposto a sofrer é um teste decisivo da
genuinidade da nossa missão. Deus pode usar o
sofrimento, a perseguição e o martírio para
avançar sua missão. “O martírio é uma forma de
testemunho para o qual Cristo prometeu honra
especial”.
53
Ef 1:9-10; Cl 1:20; Gn 1-12; Ap 21-22.
18
c) A integridade da nossa missão. A fonte de
toda nossa missão é o que Deus fez em Cristo
para a redenção de todo mundo, conforme
revelado na Bíblia. Nossa tarefa evangelística é
fazer as boas novas conhecidas para todas as
nações. O contexto de toda a nossa missão é o
mundo no qual vivemos, o mundo do pecado,
sofrimento, injustiça e desordem criacional,
para o qual Deus nos envia para amar e servir
por amor a Cristo. Toda nossa missão deve,
portanto, refletir a integração do evangelismo e
o engajamento compromissado no mundo,
sendo ordenado e dirigido pela revelação
bíblica do Evangelho de Deus.
“Evangelização propriamente dita é a
proclamação do Cristo bíblico e histórico como
Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir
as pessoas a virem a ele pessoalmente e, assim,
se reconciliarem com Deus...Os resultados da
evangelização incluem a obediência a Cristo, o
ingresso em sua igreja e um serviço responsável
no mundo...Afirmamos que a evangelização e o
envolvimento sócio-político são ambos parte do
nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias
expressões de nossas doutrinas acerca de Deus
e do homem, de nosso amor por nosso próximo
e de nossa obediência a Jesus Cristo...A salvação
que alegamos possuir deve estar nos
transformando na totalidade de nossas
responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem
obras é morta”54.
Cristo. Se ignoramos o mundo, traímos a
palavra de Deus, que nos envia para servir o
mundo. Se ignoramos a palavra de Deus, não
temos nada para oferecer ao mundo”55.
Firmamos nosso compromisso com o exercício
dinâmico e integral de todas as dimensões da
missão para a qual Deus chama toda Sua igreja.


Deus nos ordena a tornar conhecidos em
todas as nações a verdade da revelação de
Deus e o evangelho da graça salvadora de
Deus através de Jesus Cristo, chamando
todos ao arrependimento, à fé, ao batismo e
ao discipulado obediente.
Deus nos ordena a refletir o Seu caráter
através do cuidado compassivo com o
necessitado, e demonstrar os valores e o
poder do reino de Deus na luta pela justiça e
pela paz e no cuidando com a criação de
Deus.
Em resposta ao amor irrestrito de Deus por nós
em Cristo, e por causa do nosso amor por Ele,
reconsagramos nossas vidas, com a ajuda do
Espírito Santo, para obedecer integralmente aos
mandamentos de Deus, com abnegadas
humildade, alegria e coragem. Renovamos esta
aliança com o Senhor que amamos porque Ele
nos amou primeiro.
“Missão integral é a proclamação e a
demonstração do Evangelho. Não significa
simplesmente que o evangelismo e o
envolvimento social tenham que ser realizados
simultaneamente. Na missão integral, nossa
proclamação tem consequências sociais quando
convocamos as pessoas ao amor e ao
arrependimento em todas as áreas da vida.
Nosso compromisso social tem consequências
para a evangelização quando damos
testemunho da graça transformadora de Jesus
55
54
Pacto de Lausanne, parágrafos 4 e 5.
Declaração Miquéias sobre Missão Integral www.micahnetwork.org/pt/page/declaração-miquéiassobre-missão-integral.
19
PARA O MUNDO QUE SERVIMOS: O
CHAMADO À AÇÃO DA CIDADE DO
CABO
SEGUNDA PARTE
INTRODUÇÃO
Nossa aliança com Deus vincula o amor à
obediência. Deus se alegra em ver nosso
“trabalho que resulta da fé” e nosso “esforço
motivado pelo amor”56, pois “somos criação de
Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos
boas obras, as quais Deus preparou antes para
nós praticarmos”57.
Como membros da Igreja de Jesus Cristo em
todo o mundo, temos procurado ouvir a voz de
Deus através do Espírito Santo. Ouvimos sua voz
a partir da Palavra escrita na exposição de
Efésios e através das vozes do seu povo em
todo o mundo. Os seis principais temas do
nosso Congresso oferecem a base para discernir
os desafios enfrentados pela Igreja de Cristo em
todo o mundo e as nossas prioridades para o
futuro. Não inferimos que esses compromissos
sejam os únicos que a Igreja deve considerar,
nem que as prioridades sejam as mesmas em
toda parte.
56
1 Tessalonicenses 1:3.
Efésios 2:10.
57
IIA TESTEMUNHANDO DA VERDADE DE
CRISTO EM UM MUNDO PLURALISTA E
GLOBALIZADO.
1. A Verdade e a pessoa de Cristo
Jesus Cristo é a verdade do universo. Como
Jesus é a verdade, a verdade em Cristo é (i)
pessoal bem como proposicional; (ii) universal
bem como contextual; (iii) final bem como
presente.
A) Como discípulos de Cristo, somos chamados
para ser pessoas da verdade.
1. Nós devemos viver a verdade. Viver a
verdade é ser a face de Jesus, através de quem
a glória do evangelho é revelada a mentes
cegas. As pessoas verão a verdade na face
daqueles que vivem suas vidas para Jesus, em
fidelidade e amor.
2. Nós devemos proclamar a verdade. A
proclamação oral da verdade do evangelho
continua fundamental em nossa missão. Não
pode ser separada do viver a verdade na
prática. Palavras e obras devem caminhar
juntas.
B) Nós apelamos aos líderes da igreja, pastores
e evangelistas que preguem e ensinem o
evangelho bíblico na sua plenitude, como Paulo
fez, na totalidade do seu escopo e da sua
verdade cósmicos. Devemos apresentar o
20
evangelho não apenas como uma oferta
individual de salvação nem como uma solução
às necessidades que seja melhor do que os
outros deuses podem oferecer, mas como plano
de Deus em Cristo para todo o universo. Às
vezes, as pessoas vêm a Cristo para satisfazer
determinada necessidade pessoal, mas
permanecem com Cristo quando encontram
nele a verdade.
2. A verdade e o desafio do pluralismo
A pluralidade cultural e religiosa é um fato e os
cristãos da Ásia, por exemplo, convivem com
isso há séculos. Cada uma das diferentes
religiões afirma que o seu caminho é o da
verdade. A maioria procura respeitar as
diferentes declarações da verdade de outras
crenças e convive com elas. Entretanto, o
pluralismo relativista pós-moderno é diferente.
Sua ideologia não permite a verdade universal
ou absoluta. Embora tolere as declarações da
verdade, as vê apenas como conceitos culturais
(Esta posição é logicamente autodestrutiva. pois
afirma como única verdade absoluta que não há
verdade absoluta única). Tal pluralismo
reivindica a “tolerância” como um valor
fundamental, mas pode tomar formar
opressivas em países onde o secularismo ou o
ateísmo agressivo governam a arena pública.
A) Esperamos ver um comprometimento maior
com o duro trabalho da apologética
consistente. Isso deve acontecer em dois níveis.
1. Precisamos identificar, preparar e orar por
aqueles que podem se envolver na discussão e
na defesa da verdade bíblica nos altos níveis
públicos e intelectuais da arena pública.
2. Nós apelamos aos líderes da igreja e pastores
para que equipem todos os crentes com a
coragem e com as ferramentas para que
relacionem a verdade com relevância profética
nas conversas pública de todo dia, e também
para que se envolvam em todos os aspectos da
cultura em que vivemos.
3. A Verdade e o local de trabalho
Na Bíblia vemos a verdade de Deus a respeito
do trabalho humano, como parte do bom
propósito de Deus na criação. A Bíblia traz para
a esfera de ministério, todo o trabalho que
executamos, como serviço para Deus em
diferentes vocações. Por outro lado, a falsidade
da “divisão entre secular e sagrado” tem
permeado o pensamento e o comportamento
da Igreja. Essa divisão nos diz que a atividade
religiosa pertence a Deus, ao contrário do que
acontece com outras atividades. A maioria dos
cristãos passa quase todo o seu tempo no
trabalho, que consideram de baixo valor
espiritual (o chamado trabalho secular). Mas
Deus é Senhor de toda a vida. “Tudo o que
fizerem, façam de todo coração, como para o
Senhor, e não para homens”58, Paulo falou,
dirigindo-se a escravos no local de trabalho
pagão.
Apesar da enorme oportunidade de
evangelismo e transformação no local de
trabalho, onde adultos cristãos têm a maioria
dos seus relacionamentos com não cristãos,
poucas igrejas têm a visão de preparar sua
congregação para aproveitar essa
oportunidade. Falhamos em considerar o
trabalho propriamente dito como intrínseca e
biblicamente importante, pois falhamos em
colocar a totalidade da nossa vida sob o
Senhorio de Cristo.
A) Consideramos esta divisão entre santo e
secular um grande obstáculo para a mobilização
de todo o povo de Deus na missão de Deus e
convocamos os cristãos em todo o mundo a que
rejeitem essa pressuposição não bíblica e
resistam aos seus efeitos maléficos. Nós
desafiamos a tendência de encarar ministério e
58
Colossenses 3:23.
21
missão (local e transcultural) como um trabalho
principalmente de ministros e missionários
pagos pela igreja, que correspondem a uma
porcentagem muito pequena de todo o corpo
de Cristo.
B) Nós desafiamos todos os crentes a aceitar e
confirmar como seu próprio ministério e missão
diária, qualquer local para onde Deus os tenha
chamado. Desafiamos pastores e líderes de
igrejas a apoiar a congregação neste ministério
– nas comunidades e nos locais de trabalho – “a
preparar os santos para obra de ministério” –
em todas as áreas de suas vidas.
C) Precisamos concentrar esforços no
treinamento de todo o povo de Deus para a
vida de discipulado, que significa viver, pensar,
trabalhar e falar a partir de uma perspectiva
bíblica e com eficiência missionária em todo
lugar e em toda circunstância da vida diária e do
trabalho.
Cristãos com diferentes habilidades, ofícios,
negócios e profissões têm acesso a lugares onde
tradicionais plantadores de igreja e evangelistas
não têm. O que esses “fazedores de tendas” e
profissionais fazem no local de trabalho deve
ser valorizado como parte do ministério das
igrejas locais.
D) Nós apelamos aos líderes da igreja que
compreendam o impacto estratégico do
ministério no local de trabalho e que mobilizem,
preparem e enviem os membros de sua igreja
como missionários no local de trabalho, tanto
em suas comunidades locais como em países
que estão fechados para as formas tradicionais
de testemunho do evangelho.
E) Nós apelamos aos líderes missionários que
integrem completamente os “fazedores de
tenda” na estratégia missionária global.
4. A verdade e a mídia globalizada
Nós nos comprometemos com um novo
envolvimento critico e criativo com a mídia e
com a tecnologia, como parte da defesa da
verdade de Cristo em nossas culturas das
mídias. Devemos fazer isso como embaixadores
de Deus da verdade, da graça, do amor, da paz
e da justiça.
Nós identificamos as seguintes principais
necessidades:
A) Consciência de mídia: ajudar as pessoas a
desenvolver uma consciência mais crítica a
respeito das mensagens que recebem e da visão
de mundo por trás delas. A mídia pode ser
neutra e, às vezes, favorável ao evangelho. Mas
também é usada para pornografia, violência e
ganância. Nós incentivamos pastores e igrejas a
enfrentar essas questões abertamente e a
providenciar ensinamento e orientação a fim de
que os cristãos resistam a tais pressões e
tentações.
B) Presença na mídia: desenvolver
comunicadores e exemplos cristãos
verdadeiros, autênticos e dignos de confiança
para a mídia jornalística em geral e de
entretenimento, e recomendar essas carreiras
com um meio digno de influência para Cristo.
C) Ministérios de mídia: desenvolver usos
criativos, associados e interativos das mídias
“tradicional”, “antiga” e “nova” para comunicar
o evangelho de Cristo no contexto de uma
cosmovisão bíblica e holística.
5. A verdade e a arte em missões
Nós possuímos o dom da criatividade, pois
somos feitos à imagem de Deus. A arte em suas
várias formas é parte integral do que fazemos
como humanos e pode refletir algo da beleza e
da verdade de Deus. Os artistas, no seu melhor,
são narradores da verdade e por isso a arte
22
constitui um meio importante através do qual
podemos comunicar a verdade do evangelho. O
teatro, a dança, a história, a música e as artes
plásticas podem expressar a realidade de nossa
condição de perdidos e a esperança, firmada no
evangelho, de que tudo pode ser novo.
No mundo das missões, a arte é um recurso
ainda não explorado. De maneira ativa, nós
incentivamos um envolvimento maior dos
cristãos com a arte.
A) Nós ansiamos ver a Igreja, em todas as
culturas, usando amplamente as artes como um
contexto para missões:
1. Trazendo a arte de volta para a vida da
comunidade de fé como um elemento válido e
valioso do nosso chamado para o discipulado;
2. Apoiando aqueles que possuem dons
artísticos, principalmente as irmãs e os irmãos
em Cristo, para que eles possam florescer no
seu trabalho;
3. Permitindo que a arte sirva com um ambiente
acolhedor no qual possamos reconhecer e
conhecer o próximo e o estrangeiro;
4. Respeitando as diferenças culturais e
valorizando expressões artísticas naturais do
país.
manipular, distorcer ou destruir, mas para
preservar e permitir a completude de nossa
humanidade, como aqueles que Deus criou
conforme a sua imagem. Nós convocamos:
A) Os líderes de igrejas locais para (i) incentivar,
apoiar e questionar os membros da igreja que
estejam profissionalmente engajados na
ciência, tecnologia, saúde e políticas públicas, e
(ii) para mostrar aos estudantes com base
teológica a necessidade de cristãos que estejam
presentes nessas arenas.
B) Os seminários a incluir essas matérias em
seus currículos, a fim de que os futuros líderes
da igreja e os educadores teológicos
desenvolvam uma crítica cristã bem informada
sobre as novas tecnologias.
C) Os teólogos e cristãos das áreas
governamentais, empresariais, acadêmicas e
técnicas para formar “think tanks” (usina de
idéias) nacionais ou regionais, ou parcerias para
engajamento com novas tecnologias e para
orientar a formulação de políticas públicas com
uma voz bíblica e pertinente.
D) Todas as comunidades cristãs locais para
demonstrar respeito pela dignidade singular e
pela santidade da vida humana, através do
cuidado prático e holístico, que integre os
aspectos físico, emocional, relacional e
espiritual de nossa humanidade criada.
6. A verdade e as tecnologias emergentes
7. A verdade e as arenas públicas
Este século é amplamente conhecido como o
“Século Biotech”, com avanços em todas as
tecnologias emergentes (bio, info/digital, nano,
realidade virtual, inteligência artificial e
robótica). Este fato tem grandes implicações
para a Igreja e para as missões, principalmente
em relação à verdade bíblica sobre o que
significa ser humano. Precisamos promover
respostas autenticamente cristãs e ações
práticas na arena de políticas públicas, para
assegurar que a tecnologia não seja usada para
As esferas interligadas das áreas
Governamental, Empresarial e Acadêmica têm
forte influência sobre os valores de cada nação
e, em termos humanos, definem a liberdade da
Igreja.
A) Nós incentivamos os seguidores de Cristo a
estarem ativamente envolvidos nessas esferas,
tanto do serviço público como empresarial, a
fim de moldar valores sociais e influenciar o
23
debate público. Nós incentivamos o apoio às
escolas e universidades cristocêntricas que
sejam comprometidas com a excelência
acadêmica e com a verdade bíblica.
B) A corrupção é condenada na Bíblia. Ela
debilita o desenvolvimento econômico, distorce
processos decisórios justos e destrói a coesão
social. Nenhuma nação está livre da corrupção.
Convidamos os cristãos nos locais de trabalho,
principalmente os jovens empreendedores, a
refletir de maneira criativa sobre a melhor
maneira de se posicionarem contra este flagelo.
C) Nós incentivamos os jovens acadêmicos
cristãos a considerar uma carreira de longo
prazo em universidades seculares, para (i)
ensinar e (ii) desenvolver suas disciplinas a
partir de uma perspectiva bíblica, e assim
influenciar seu campo de ensino. Não nos
atrevemos a negligenciar o meio acadêmico59.
IIB CONSTRUINDO A PAZ DE CRISTO EM
NOSSO MUNDO DIVIDIDO E FERIDO
1. A paz que Cristo promoveu
Não se pode separar a reconciliação com Deus
da reconciliação de uns com os outros. Cristo,
que é a nossa paz, trouxe a paz através da cruz,
e pregou a paz para o mundo dividido dos
judeus e dos gentios. A unidade do povo de
Deus é tanto um fato (“de dois ele fez um”)
como um mandamento (“façam todo o esforço
para conservar a unidade do Espírito pelo
vínculo da paz”). O plano de Deus para a
integração de toda criação em Cristo está
moldada na reconciliação étnica da nova
59
Pois ‘a universidade é nitidamente o sustentáculo
utilizado para mover o mundo. Não há melhor maneira da
Igreja prestar serviço a si mesma e à causa do evangelho
do que procurar resgatar as universidades para Cristo. Não
há recurso mais poderoso: mude a universidade e você
mudará o mundo.’ Charles Habib Malik, ex-presidente da
Assembleia Geral das Nações Unidas em 1981, Pascal
Lectures, A Christian Critique of the University.
humanidade de Deus. Este é o poder do
evangelho conforme prometido a Abraão60.
Nós afirmamos que, embora os judeus
conhecessem as alianças e promessas de Deus,
pela forma como Paulo descreve os gentios,
entende-se que eles ainda precisam de
reconciliação com Deus através do Messias
Jesus. Não existe diferença, afirmou Paulo,
entre judeu e gentio em relação ao pecado,
nem existe diferença de salvação. Somente na
cruz e através dela que os dois podem ter
acesso ao Deus Pai através do mesmo Espírito61.
A) Continuamos, portanto, declarando
enfaticamente a necessidade de toda a Igreja
compartilhar com o povo judeu as boas novas
de Jesus como Messias, Senhor e Salvador. E no
mesmo espírito de Romanos 14-15, instamos os
crentes gentios a aceitar, incentivar e orar pelos
crentes judeus messiânicos, no seu testemunho
entre o seu próprio povo.
A reconciliação com Deus e uns com os outros é
também o fundamento e a motivação da busca
pela justiça que Deus requer, sem a qual, Deus
afirma, não é possível haver paz. A reconciliação
verdadeira e duradoura demanda
reconhecimento do pecado, passado e
presente, arrependimento diante de Deus,
confissão para com a parte ferida, e a busca e o
recebimento do perdão. Também inclui
compromisso da Igreja com a busca pela justiça
ou reparação, quando apropriado, aos que
tenham sido atingidos pela violência e pela
opressão.
B) Nós ansiamos ver a Igreja de Cristo em todo
o mundo, os que foram reconciliados com Deus,
colocando em prática essa reconciliação uns
com os outros e comprometidos com a tarefa e
60
Efésios 1:10; 2:1-16; 3:6; Gálatas 3:6-8. Ver também a
Seção VI sobre a questão de unidade e parceria dentro da
Igreja.
61
Efésios 2:11-22; Romanos 3:23; 10:12-13; Efésios 2:18.
24
com a luta pela pacificação bíblica em nome de
Cristo.
2. A paz de Cristo no conflito étnico
A diversidade étnica é dádiva e plano de Deus
na criação62. Ela foi corrompida pelo pecado e
pelo orgulho humano, resultando em confusão,
conflito, violência e guerra entre as nações. No
entanto, a diversidade étnica será preservada
na nova criação, quando pessoas de toda a
nação, tribo, povo e língua se reunirão como
povo redimido de Deus63. Nós confessamos que
muitas vezes não levamos a sério a identidade
étnica e não a valorizamos, assim como a Bíblia
faz, na criação e na redenção. Deixamos de
respeitar a identidade étnica dos outros e
ignoramos as feridas profundas que causadas
por desrespeito tão duradouro.
A) Nós apelamos aos pastores e líderes de
igreja a que ensinem a verdade bíblica a
respeito da diversidade étnica. Devemos
ratificar positivamente a identidade étnica de
todos os membros da igreja. Mas também
devemos mostrar como nossas lealdades
étnicas estão manchadas pelo pecado e ensinar
os crentes que todas as nossas identidades
étnicas estão subordinadas à nossa identidade
redimida como nova humanidade em Cristo
através da cruz.
Reconhecemos com tristeza e vergonha a
cumplicidade de cristãos em alguns dos
acontecimentos mais devastadores de violência
étnica e opressão, e o lamentável silêncio de
grande parte da Igreja no decorrer dos
conflitos. Tais conflitos incluem o legado do
racismo e da escravidão negra; o holocausto
contra os judeus; o apartheid; a “limpeza
étnica”; a violência sectária entre cristãos; a
dizimação de populações indígenas; a violência
62
inter-religiosa, política e étnica; o sofrimento
palestino; as castas oprimidas e o genocídio
tribal. Os cristãos que, por ação ou omissão,
agravam o sofrimento do mundo,
comprometem seriamente nosso testemunho
do evangelho de paz. Portanto:
B) Por causa do evangelho, lamentamos, e
chamamos ao arrependimento os cristãos que
têm participado da violência étnica, da injustiça
e da opressão. Também chamamos ao
arrependimento os cristãos que muitas vezes
foram cúmplices de tais males, através do
silêncio, da apatia ou de presumida
neutralidade ou ainda oferecendo falsa
justificativa teológica para tais atos.
Se o evangelho não estiver profundamente
enraizado nos contextos, desafiando e
transformando cosmovisões subjacentes e
sistemas de injustiça, então, quando vier o dia
mau, a fidelidade cristã será descartada como
uma capa indesejada e as pessoas voltarão aos
antigos compromissos e atos pecaminosos. A
evangelização sem discipulado, ou o
avivamento sem obediência radical aos
mandamentos de Cristo, não são apenas
deficientes, são perigosos.
Nós ansiamos pelo dia em que a Igreja será para
o mundo o mais brilhante e visível modelo de
reconciliação étnica e sua defensora mais
presente na resolução de conflitos,
Tal aspiração, enraizada no evangelho, nos
chama a:
C) Abraçar a plenitude do poder reconciliador
do evangelho e ensiná-lo conformemente.Isso
inclui um completo entendimento bíblico da
expiação: que Jesus não apenas carregou
nossos pecados na cruz para nos reconciliar
com Deus, mas destruiu nossa inimizade, para
nos reconciliar uns com os outros.
Deuteronômio 32:8; Atos 17:26.
Apocalipse 7:9; 21:3, onde se lê, “eles serão os seus
povos” (plural).
63
25
D) Adotar o estilo de vida de reconciliação. Em
termos práticos, isso é demonstrado quando os
cristãos:
1. Perdoam os perseguidores, embora tenham
coragem para desafiar a injustiça em favor de
outros;
2. Prestam socorro e oferecem hospitalidade ao
próximo que está “do outro lado do conflito”,
tomando a iniciativa de transpor as barreiras e
buscar a reconciliação;
3.Persistem no testemunho de Cristo em
contextos de violência; e estão dispostos a
suportar o sofrimento e até mesmo a morte, em
vez de tomar parte em atos de destruição ou
vingança;
4. Envolvem-se no longo processo de cura de
feridas depois do conflito, fazendo da Igreja um
lugar seguro para refúgio e cura para todos,
inclusive para antigos inimigos.
E) Ser farol e portador da esperança. Nós
damos testemunho de Deus que estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo. Somente
no nome de Cristo e na vitória da sua cruz e
ressurreição que temos autoridade para
confrontar poderes demoníacos do mal que
agravam conflitos humanos e poder para
ministrar sua reconciliação e paz.
3. A paz de Cristo para o pobre e oprimido
O fundamento bíblico do nosso compromisso
de buscar justiça e shalom para o pobre e
oprimido está sintetizado na seção 7 (c) da
Confissão da Cidade do Cabo. Com base nisso,
esperamos uma ação mais efetiva da Igreja nas
seguintes questões:
Escravidão e tráfico humano
Existem hoje mais pessoas escravizadas em
todo o mundo (estima-se 27 milhões de
pessoas) do que há 200 anos, quando
Wilberforce lutou pela abolição do tráfico de
escravos no Atlântico. Somente na Índia,
estima-se que haja 15 milhões de crianças
escravizadas. O sistema de castas oprime
grupos de castas inferiores e exclui os Dalits.
Mas infelizmente, em muitos lugares, a Igreja
cristã em si está infectada com as mesmas
formas de discriminação. As vozes da Igreja
global devem se erguer em protesto uníssono
contra o que, na verdade, é um dos sistemas de
escravidão mais antigos do mundo. Mas para
que esta defesa global tenha autenticidade, a
Igreja deve rejeitar toda e qualquer
desigualdade e discriminação dentro de si
mesma.
A migração em escala sem precedentes no
mundo de hoje, por diversas razões, tem levado
ao tráfico humano a todos os continentes, à
escravidão generalizada de mulheres e crianças
no comércio sexual e ao abuso de crianças
através do trabalho forçado ou alistamento
militar.
A) Vamos nos erguer como a Igreja mundial,
para combater o mal do tráfico humano e falar
e agir profeticamente para “libertar os cativos”.
Isso deve incluir a abordagem dos fatores
sociais, econômicos e políticos que alimentam
esse comércio. Os escravos em todo o mundo
apelam à Igreja de Cristo: “Libertem nossas
crianças. Libertem nossas mulheres. Sejam a
nossa voz. Mostrem-nos a nova sociedade que
Jesus prometeu”.
Pobreza
Nós abraçamos o testemunho de toda a Bíblia,
visto que ela mostra o desejo de Deus, tanto
para a justiça econômica sistêmica, quanto para
a compaixão pessoal, para o respeito e a
generosidade com o pobre e necessitado.
Alegramo-nos, pois este ensinamento bíblico
abrangente tornou-se mais integrado em nossa
26
prática e estratégia missionária, como era para
a Igreja primitiva e para o Apóstolo Paulo64.
sociedade como na Igreja. Deus nos chama para
a justiça, a amizade, o respeito e o amor
mútuos.
Assim, vamos:
B) Reconhecer a grande oportunidade que os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
representam para a igreja local e global.
Apelamos para que as igrejas advoguem por
eles junto aos governos e que participem dos
esforços para eles sejam alcançados, como o
Desafio Miquéias.
C) Ter coragem de declarar que o mundo não
consegue tratar, muito menos resolver, o
problema da pobreza sem também desafiar a
ganância e a riqueza excessiva. O evangelho
desafia a idolatria do consumismo desenfreado.
Somos chamados, como servos a Deus e não de
mamon, a reconhecer que a ganância perpetua
a pobreza e devemos renunciá-la. Ao mesmo
tempo, nos alegramos, pois o evangelho inclui o
rico no seu apelo ao arrependimento e o
convida a juntar-se em comunhão àqueles que
foram transformados pela graça perdoadora.
4. A paz de Cristo para as pessoas com
deficiência
As pessoas com algum tipo de deficiência
formam um dos maiores grupos minoritários do
mundo, com uma estimativa que excede os 600
milhões. A maioria delas vive nos países menos
desenvolvidos e são as mais pobres entre as
mais pobres. Apesar da deficiência física ou
mental fazer parte da sua experiência diária, a
maioria é incapacitada por atitudes sociais, por
injustiça ou pela falta de acesso a recursos.
Servir às pessoas com deficiência não se limita a
lhes oferecer atendimento médico ou serviço
social; envolve lutar ao seu lado, ao lado dos
que lhes prestam cuidados e ao lado de suas
famílias, por inclusão e igualdade, tanto na
64
Atos 4:32-37; Gálatas 2:9-10; Romanos 15:23-29; 2
Coríntios 8-9.
A) Vamos nos erguer como cristãos em todo
mundo para rejeitar estereótipos culturais, pois
como comentou o Apóstolo Paulo, “a ninguém
mais consideramos do ponto de vista
humano”65. Feitos à imagem de Deus, todos nós
temos dons que Deus pode usar no seu serviço.
Nós nos comprometemos a ministrar às pessoas
com deficiências, e receber delas a ministração
que elas têm para dar.
B) Nós incentivamos igrejas e líderes de
missões a pensar não apenas em missões entre
aqueles com deficiências, mas a reconhecer,
afirmar e facilitar o chamado missionário de
cristãos que possuam deficiências, como parte
do Corpo de Cristo.
C) Nós nos entristecemos, pois tantas pessoas
com deficiência ouvem que sua deficiência é
resultante de pecado pessoal, falta de fé ou de
relutância para ser curado. Nós negamos que a
Bíblia ensine isso como uma verdade
universal66. Tal falso ensinamento é
pastoralmente insensível e espiritualmente
incapacitante; acrescenta o peso de culpa e de
esperanças frustradas a outras barreiras que as
pessoas com deficiência enfrentam.
D) Nós nos comprometemos a fazer das nossas
igrejas locais de inclusão e igualdade para
pessoas com deficiência e a nos posicionar ao
lado delas resistindo ao preconceito e
advogando pelas suas necessidades na
sociedade em geral.
65
66
2 Coríntios 5:16.
João 9:1-3.
27
5. A paz de cristo para as pessoas que
vivem com o HIV
O HIV e AIDS constituem um grande problema
em muitas nações. Milhões de pessoas estão
infectadas com o HIV, muitos, inclusive, em
nossas igrejas, e milhões de crianças são órfãs
devido à AIDS. Deus está nos chamando para
mostrar o seu profundo amor e compaixão a
todos os que já foram infectados ou afetados
pelo HIV e AIDS e a concentrar esforços para
salvar vidas. Nós acreditamos que o
ensinamento e o exemplo de Jesus, assim como
o poder transformador da sua cruz e
ressurreição, são essenciais para a resposta
holística do evangelho para o vírus HIV e AIDS,
que nosso mundo precisa tão urgentemente.
A) Nós repudiamos e denunciamos toda forma
de condenação, hostilidade, estigma e
discriminação contra aqueles que vivem com o
HIV e a AIDS. Tais atos são pecado e desgraça
dentro do corpo de Cristo. Todos nós pecamos e
fomos destituídos da glória de Deus; fomos
salvos somente pela graça e devemos ser
tardios para julgar e rápidos para restaurar e
perdoar. Também reconhecemos com tristeza e
compaixão que muitos são infectados com o
HIV, não o fazem por erro próprio, mas, muitas
vezes, por cuidarem de outros infectados.
B) Nós desejamos que todos os pastores
estabeleçam um exemplo de castidade e
fidelidade sexual, como Paulo ordenou, e que
ensinem, com frequência e clareza, que o
casamento é o lugar exclusivo para a união
sexual. Isso é necessário não apenas por ser o
claro ensino da Bíblia, mas também porque a
prevalência de parceiros sexuais simultâneas
fora do casamento é um fator importante na
rápida disseminação do HIV nos países mais
afetados.
C) Vamos, como Igreja em todo o mundo, nos
levantar para este desafio em nome de Cristo e
no poder do Espírito Santo. Vamos nos unir a
outros irmãos e irmãs em Cristo nas áreas mais
atingidas pelo HIV e AIDS, por meio de apoio
prático, cuidado compassivo (incluindo o
cuidado com as viúvas e os órfãos), defesa
social e política, programas de educação
(principalmente aqueles que orientam
mulheres), e estratégias de prevenção eficazes,
apropriadas para o contexto local. Nós nos
comprometemos com esta ação profética e
urgente, como parte da missão integral da
Igreja.
6. A paz de Cristo para sua criação em
sofrimento
Nosso mandamento bíblico em relação à
criação de Deus é apresentado na seção 7 (A) da
Confissão de Fé da Cidade do Cabo. Todos os
seres humanos devem ser mordomos da rica
abundância da boa criação de Deus. Estamos
autorizados a exercer o domínio piedoso ao
usá-la tendo em vista o bem estar do ser
humano e suas necessidades, por exemplo, na
agricultura, pesca, mineração, geração de
energia, engenharia, construção, comércio e
medicina. Ao fazermos isso, também
recebemos a ordem de cuidar da terra e de
todas as suas criaturas, porque a terra pertence
a Deus e não a nós. Fazemos isso por amor ao
Senhor Jesus Cristo, que é o criador, dono,
sustentador, redentor e herdeiro de toda
criação.
Lamentamos pelo abuso generalizado e pela
destruição dos recursos da terra, inclusive de
sua biodiversidade. Provavelmente o desafio
mais urgente e importante enfrentado pelo
mundo físico hoje seja a ameaça das mudanças
climáticas. Ela afetará de maneira
desproporcional os que vivem nos países
pobres, pois é lá que os eventos climáticos
extremos serão mais severos e onde há pouca
capacidade de adaptação a eles. A pobreza
mundial e as mudanças climáticas devem ser
tratadas em conjunto e com a mesma urgência.
28
Incentivamos os cristãos em todo mundo a:
A) Adotar estilos de vida que renunciem
hábitos de consumo destrutivos ou poluentes;
B) Exercer meios legítimos para persuadir os
governos a colocar imperativos morais acima de
interesses políticos em questões relacionadas à
destruição ambiental e à mudança climática em
potencial.
C) Reconhecer e incentivar o chamado
missionário tanto de (i) cristãos envolvidos no
uso apropriado dos recursos da terra para as
necessidades humanas e o bem comum através
da agricultura, indústria e medicina, como de (ii)
cristãos que se dedicam à proteção e
restauração dos habitats da terra e das espécies
por meio da conservação e defesa. Ambos
compartilham o mesmo objetivo, pois ambos
servem o mesmo Criador, Provedor e Redentor.
IIC VIVENDO O AMOR DE CRISTO ENTRE
PESSOAS DE OUTRAS CRENÇAS
1. “Ame o seu próximo como a si mesmo”
inclui pessoas de outras crenças.
Em vista das afirmações feitas na seção 7 (d) da
Confissão de Fé da Cidade do Cabo; nós
respondemos ao nosso chamado como
discípulos de Jesus Cristo para ver pessoas de
outras crenças como nossos próximos, no
sentido bíblico. Eles são seres humanos criados
à imagem de Deus, a quem Deus amou e por
cujos pecados Cristo morreu. Nós nos
esforçamos, não apenas para vê-los como nosso
próximo, mas para obedecer ao ensinamento
de Cristo sendo para eles o seu próximo. Somos
chamados para ser gentis, mas não ingênuos;
para discernir e não para ser simplórios, para
estar atentos a qualquer ameaça que possamos
enfrentar, mas não para sermos governados
pelo medo.
Nós somos chamados para compartilhar as boas
novas através do evangelismo, mas não nos
envolver em proselitismo indigno. O
evangelismo, que inclui argumentação racional
convincente, seguindo o exemplo do Apóstolo
Paulo, é “fazer uma declaração franca e aberta
do evangelho que deixe os ouvintes
inteiramente livres para formar sua própria
opinião”. Desejamos ser sensíveis aos de outras
crenças e rejeitamos qualquer abordagem que
vise forçar a sua conversão”67. Proselitismo,
pelo contrário, é a tentativa de obrigar outros a
se tornarem “um de nós”, para “que aceitem
nossa religião”, ou mesmo a se “juntem à nossa
denominação”.
A) Nós nos comprometemos a ser
escrupulosamente éticos em nosso
evangelismo. Nosso testemunho deve ser
marcado por “mansidão e respeito,
conservando boa consciência”68. Por isso,
rejeitamos qualquer forma de testemunho que
seja coercitivo, antiético, enganoso ou
desrespeitoso.
B) Em nome do Deus do amor, nós nos
arrependemos por não procurar criar laços de
amizade com muçulmanos, hindus, budistas e
pessoas de outras religiões. No espírito de
Jesus, tomaremos a iniciativa de demonstrar
amor, boa vontade e hospitalidade para com
eles.
C) Em nome do Deus da verdade, nos (i)
recusamos a divulgar mentiras e caricaturas de
outras crenças e (ii) denunciamos e resistimos
ao preconceito racista, ao ódio e ao medo
incitado na mídia popular e na retórica política.
D) Em nome do Deus da paz, nós rejeitamos o
caminho da violência e da vingança em todas as
nossas relações com pessoas de outras crenças,
mesmo quando violentamente atacados.
67
68
O Manifesto de Manila, Parágrafo 12
1 Pedro 3:15-16. Compare Atos 19:37.
29
E) Nós afirmarmos que o local apropriado para
diálogo com pessoas de outras crenças são os
lugares públicos, como fez Paulo ao debater
com judeus e gentios em sinagogas e arenas.
Este diálogo é parte legítima da nossa missão
cristã e combina a confiança na unicidade de
Cristo e na verdade do evangelho com a
capacidade de respeitosamente ouvir outros.
2. O amor de Cristo nos chama ao
sofrimento e até a morrer pelo evangelho
O sofrimento pode ser necessário em nosso
envolvimento missionário como testemunhas
de Cristo, como foi para os seus apóstolos e
para os profetas do Antigo Testamento69. Estar
disposto a sofrer é um teste difícil para a
genuinidade da nossa missão. Deus pode usar o
sofrimento, a perseguição e o martírio para
avançar sua missão. “O martírio é uma forma de
testemunho pela qual Cristo prometeu honra
especial”70. Muitos cristãos que vivem no
conforto e na prosperidade precisam ouvir
novamente o chamado de Cristo para estarem
dispostos a morrer por ele. Pois muitos outros
crentes vivem em meio a tal sofrimento,
pagando o custo de testemunhar de Jesus Cristo
em uma cultura religiosa hostil. Eles podem ter
visto seus queridos martirizados, passando por
tortura ou perseguição por causa da sua
obediência fiel e mesmo assim continuam a
amar aqueles que os feriram.
A) Nós ouvimos e lembramos com lágrimas e
orações os testemunhos daqueles que sofrem
pelo evangelho. Oramos por graça e coragem,
juntamente com eles, para “amar nossos
inimigos” como Cristo nos ordenou. Oramos
para que o evangelho dê frutos em lugares que
são tão hostis aos seus mensageiros. Ao
lamentarmos com razão por aqueles que
sofrem, devemos nos lembrar da infinita
tristeza de Deus por causa daqueles que
69
70
2 Coríntios 12:9-10; 4:7-10.
O Manifesto de Manila, §12.
resistem e rejeitam seu amor, seu evangelho e
seus servos. Desejamos ardentemente que eles
se arrependam, sejam perdoados e encontrem
a alegria de estar reconciliado com Deus.
3. O amor em ação personifica e manifesta
o evangelho da graça
“Somos o aroma de Cristo”71. Nosso chamado é
para viver entre pessoas de outras religiões de
maneira que elas fiquem tão saturadas com a
fragrância da graça de Deus que sintam o cheiro
de Cristo, e venham experimentar e ver que
Deus é bom. Com este amor personificado,
faremos o evangelho atraente em qualquer
contexto cultural e religioso. Quando os cristãos
amam pessoas de outras crenças através de
vidas de amor e atos de serviço, eles
personificam a graça transformadora de Deus.
Em culturas de “honra”, onde a vergonha e a
vingança estão aliadas ao legalismo religioso, a
“graça” é um conceito estranho. Nestes
contextos, o amor de Deus, vulnerável e
sacrificial não deve ser debatido; ele é
considerado muito estranho, até repulsivo. A
graça é um sabor a ser assimilado no decorrer
do tempo, em pequenas doses, para os que
tenham fome suficiente e se atrevam a
experimentar. O aroma de Cristo permeia
gradativamente tudo aquilo com o que seus
seguidores entram em contato.
A) Nós ansiamos para que Deus levante mais
homens e mulheres da graça, que assumam
compromissos de longo prazo para viver, amar
e servir em lugares difíceis, dominados por
outras religiões, para levar o aroma e o sabor da
graça de Jesus Cristo para culturas onde isso é
indesejável e perigoso. Isso requer paciência,
perseverança e, às vezes o tempo de uma vida
inteira e, por vezes, até a morte.
71
2 Coríntios 2:15.
30
4. O amor respeita a diversidade de
discipulado
vista, e manter conversas sem estridência nem
condenação mútua74.
Os chamados “movimentos internos” podem
ser encontrados dentro de várias religiões. São
grupos de pessoas que agora seguem a Jesus
como seu Deus e Salvador. Elas se encontram
em pequenos grupos para comunhão, ensino,
adoração e oração centrados em Jesus e na
Bíblia, ao mesmo tempo em que continuam a
viver social e culturalmente dentro das suas
comunidades, observando, inclusive, alguns de
seus elementos religiosos. Este é um fenômeno
5. O amor alcança os povos dispersos
complexo e existe muita discordância a respeito
de como reagir a ele. Alguns recomendam tais
movimentos. Outros alertam quanto ao perigo
do sincretismo. Sincretismo, entretanto, é um
perigo encontrado entre cristãos em qualquer
lugar, ao expressarmos nossa fé dentro de
nossas próprias culturas. Devemos evitar a
tendência, quando vemos Deus agindo de
maneira inesperada ou desconhecida, de, (i)
apressadamente classificar e promover como
uma nova estratégia missionária, ou (ii)
condenar apressadamente, sem um sensível
estudo contextual.
A) No espírito de Barnabé, que ao chegar em
Antioquia, “vendo a graça de Deus, ficou alegre
e os animou a permanecerem fiéis ao Senhor”72,
apelamos a todos que estão preocupados com
esta questão a:
1. Tomar a decisão e prática apostólica como
importante princípio para orientação: “não
devemos por dificuldades aos gentios que estão
se convertendo a Deus”73.
Nunca houve tanta movimentação de povos. A
migração é uma das realidades globais mais
importantes da nossa era. Estima-se que 200
milhões de pessoas vivam fora de seus países
de origem, voluntária ou involuntariamente. O
termo “diáspora” é usado aqui para se referir a
pessoas que, por alguma razão, tenham se
deslocado da sua terra natal. Um grande
número de pessoas, de várias religiões, inclusive
cristãos, vive em condições de diáspora:
migrantes econômicos em busca de trabalho;
pessoas que foram desalojadas devido a guerra
ou desastres naturais, refugiados e os que
buscam asilo político; vítimas de limpeza étnica;
pessoas que fogem de violência e perseguição
religiosa; aqueles que sofrem com a fome – seja
causada pela seca, por enchentes ou guerra;
vítimas de pobreza rural que se mudam para
centros urbanos. Estamos convencidos de que
as migrações contemporâneas estão sujeitas ao
propósito missional de Deus, sem ignorar o mal
e o sofrimento que pode estar envolvido75.
A) Nós incentivamos a Igreja e os líderes de
missões a reconhecer e responder às
oportunidades missionárias apresentadas pela
migração global e pelas comunidades em
diáspora, com planejamento estratégico,
treinamento específico e recursos para aqueles
que são chamados para trabalhar entre os que
estão em diáspora.
2. Exercer a humildade, a paciência e a bondade
para reconhecer a diversidade de pontos de
B) Nós incentivamos os cristãos nos países que
acolhem comunidades de imigrantes de outras
religiões ao testemunho transcultural do amor
de Cristo, por meio de palavras e ações, através
da obediência aos mandamentos bíblicos de
amar o estrangeiro e defender sua causa, de
72
74
73
Atos 11:20-24.
Atos 15:19.
75
Romanos 14:1-3.
Gênesis 50:20.
31
visitar os que estão na prisão, de praticar a
hospitalidade, desenvolver amizades, de
convidá-los às suas casas e de oferecer ajuda e
assistência76.
C) Nós incentivamos os cristãos que fazem
parte de comunidades em diáspora a discernir a
mão de Deus, mesmo em circunstâncias que
eles não tenham escolhido, e a buscar qualquer
oportunidade que Deus oferece para
testemunhar de Cristo em suas comunidades
anfitriãs e contribuir para sua prosperidade77.
Sempre que houver no país anfitrião igrejas
cristãs, nós apelamos às igrejas imigrantes e
nativas a que ouçam e aprendam umas com as
outras, e iniciem esforços cooperativos para
alcançar com o evangelho todos os setores da
nação.
6. O Amor trabalha pela liberdade religiosa
para todos
O apoio aos direitos humanos através da defesa
da liberdade religiosa não é incompatível
quando, diante da perseguição, escolhe-se
seguir o caminho da cruz. Não há contradição
entre estar pessoalmente disposto a sofrer
abuso ou perda dos nossos próprios direitos por
amor de Cristo e estar comprometido a ser
defensor e porta-voz dos que estão emudecidos
diante da violação dos seus direitos humanos.
Devemos também discernir entre a defesa os
direitos de pessoas de outras religiões e o
endosso à verdade de suas crenças. Podemos
defender a liberdade religiosa de outros e a
prática da sua religião sem aceitar essa religião
como verdadeira.
A) Esforcemo-nos por alcançar a liberdade
religiosa para todos os povos. Isso implica em
interceder, junto aos governos, pelos cristãos e
pelas pessoas de outras religiões que passam
por perseguição.
B) Vamos obedecer conscientemente o
ensinamento bíblico de ser bons cidadãos, de
buscar a prosperidade da nação onde vivemos,
de honrar e orar pelas autoridades, de pagar
impostos, de fazer o bem e de procurar viver
em paz e tranquilidade. O cristão é chamado
para submeter-se ao Estado, a menos que o
Estado exija o que Deus proíbe, ou proíba o que
Deus ordena. Se o Estado, portanto, nos obriga
a escolher entre a lealdade a ele e nossa
lealdade maior a Deus, devemos dizer “Não” ao
Estado porque dissemos “Sim” a Jesus Cristo
como Senhor78.
Em meio a todos nossos esforços legítimos pela
liberdade religiosa para todas as pessoas, o
desejo mais profundo de nossos corações
continua sendo que todos venham a conhecer o
Senhor Jesus Cristo, que livremente depositem
nele sua fé e sejam salvos e que entrem no
reino de Deus.
IID DISCERNINDO A VONTADE DE
CRISTO PARA A EVANGELIZAÇÃO MUNDIAL
1. Os povos não alcançados e não incluídos
O coração de Deus deseja que todos tenham
acesso ao conhecimento do amor de Deus e da
sua obra salvadora através de Jesus Cristo.
Reconhecemos com tristeza e vergonha que há
milhares de grupos de povos em todo o mundo
aos quais esse acesso ainda não foi
disponibilizado através do testemunho cristão.
Estes são os povos não alcançados, no sentido
de que não há entre eles igrejas ou pessoas
reconhecidamente cristãs. Muitos desses povos
também são não incluídos, no sentido de que
atualmente não temos conhecimento de
76
Levítico 19:33-34; Deuteronômio 24:17; Ruth 2; Jó
29:16; Mateus 25:35-36; Lucas 10:25-37; 14:12-14;
Romanos 12:13; Hebreus 13:2-3; 1 Pedro 4:9.
77
Jeremias 29:7.
78
Jeremias 29:7; 1 Pedro 2:13-17; 1 Timóteo 2:1-2;
Romanos 13:1-7; Êxodo 1:15-21; Daniel 6; Atos 3:19-20;
5:29.
32
nenhuma igreja ou agência que esteja sequer
tentando compartilhar com eles o evangelho.
Na realidade, apenas uma pequena
porcentagem dos recursos da Igreja (humanos e
materiais) está sendo destinada aos povos
menos alcançados. Por definição, esses são os
povos que não nos convidarão para que
levemos a eles a Boa Nova, pois não têm
conhecimento algum dela. Entretanto, a
presença deles entre nós, em nosso mundo,
2.000 anos após a ordem que nos foi dada por
Jesus de fazer discípulos de todas as nações,
representa não apenas uma censura à nossa
obediência, não apenas uma forma de injustiça
espiritual, mas também um “Chamado
Macedônico” silencioso.
Vamos nos levantar como Igreja em todo o
mundo para enfrentar este desafio e:
A) Vamos nos arrepender da nossa cegueira
diante da existência continuada de tantos povos
não alcançados em nosso mundo e da nossa
passividade diante da urgência da evangelização
entre eles.
B) Vamos renovar nosso compromisso de ir aos
que ainda não ouviram o evangelho, de nos
envolver profundamente com sua língua e
cultura, de viver o evangelho entre eles com
amor encarnacional e serviço sacrificial, de
comunicar a luz e a verdade do Senhor Jesus
Cristo em palavra e ação, despertando-os
através do poder do Espírito Santo para a
surpreendente graça de Deus.
C) Vamos buscar erradicar a pobreza bíblica no
mundo, pois a Bíblia continua sendo
indispensável para o evangelismo. Para que isto
aconteça, devemos:
1. Acelerar a tradução da Bíblia para as línguas
dos povos que ainda não possuem qualquer
porção da Palavra de Deus em sua língua
materna;
2. Tornar a mensagem da Bíblia amplamente
disponível através de meios orais. (Ver também
abaixo Culturas Orais)
D) Ter como objetivo a erradicação da
ignorância bíblica na Igreja, pois a Bíblia
continua indispensável para o discipulado dos
crentes à semelhança com Cristo.
1. Desejamos ardentemente ver uma convicção
renovada, em toda a Igreja de Deus, a respeito
da necessidade real do ensino da Bíblia para o
crescimento da Igreja no que se refere a
ministério, unidade e maturidade79. Nós nos
alegramos por todos aqueles a quem Cristo deu
o dom de pastores e mestres. Nós faremos todo
o esforço para identificá-los, incentivá-los,
treiná-los e apoiá-los na pregação e no ensino
da Palavra de Deus. Ao fazê-lo, no entanto,
devemos rejeitar o tipo de clericalismo que
restringe o ministério da Palavra de Deus a
alguns profissionais pagos ou a uma pregação
formal nos púlpitos das igrejas. Muitos homens
e mulheres, que demonstram claramente ter
recebido o dom para pastorear e ensinar o povo
de Deus, exercem o seu dom informalmente, ou
sem estruturas denominacionais oficiais, mas
com a clara bênção do Espírito de Deus. Eles
também precisam ser reconhecidos,
incentivados e preparados para o correto
manejo da Palavra de Deus.
2. Devemos promover a instrução bíblica nesta
geração que se identifica principalmente com a
comunicação digital, em substituição aos livros,
incentivando métodos digitais de estudo
indutivo das escrituras, com a profundidade de
questionamento que, hoje, necessita de papel,
caneta e lápis.
E) Vamos manter o evangelismo como parte
central do escopo plenamente integrado de
toda nossa missão, na medida em que o
evangelho propriamente dito seja a fonte, o
79
Efésios 4:11-12.
33
conteúdo e a autoridade de toda missão
biblicamente válida. Tudo o que fazemos deve
ser tanto uma personificação quando uma
declaração do amor e da graça de Deus e da sua
obra salvadora através de Jesus Cristo.
2. Culturas orais
A maior parte da população mundial é formada
por comunicadores orais, que não conseguem
ou se recusam a aprender através de meio
letrado, e mais da metade deles está entre os
grupos não alcançados, definidos acima. Entre
esses, estima-se que existam 350 milhões de
pessoas sem um único versículo das Escrituras
na sua língua. Além dos “aprendizes
basicamente orais”, existem muitos “aprendizes
orais secundários”, que são tecnicamente
alfabetizados, mas que preferem se comunicar
por meios orais, com o aumento da
aprendizagem visual e o domínio das imagens
na comunicação.
Ao reconhecer e agir sobre as questões de
oralidade, vamos:
A) Fazer melhor uso de metodologias orais em
programas de discipulado, mesmo entre
cristãos alfabetizados.
B) Como questão prioritária, disponibilizar
histórias bíblicas em formato de áudio nas
principais línguas dos grupos de povos não
alcançados ou não incluídos.
C) Incentivar as agências missionárias a
desenvolver estratégias orais, que incluam:
gravação e distribuição de histórias bíblicas em
áudio para evangelismo, discipulado e
treinamento de liderança, acompanhadas do
devido treinamento de oralidade aos
evangelistas e plantadores de igrejas pioneiros;
esses poderiam usar métodos frutíferos de
comunicação oral e visual para transmitir toda a
história bíblica da salvação, como, por exemplo,
narração de histórias, artes, poesia, cânticos e
teatro.
D) Incentivar as igrejas locais no Sul Global a se
envolver com grupos de povos não alcançados
em sua área através de métodos orais que
sejam específicos para sua visão de mundo.
E) Incentivar seminários a oferecer currículos
que preparem missionários e pastores em
metodologias orais.
3. Líderes Cristocêntricos
O rápido crescimento da Igreja em tantos
lugares continua superficial e vulnerável, em
parte devido à falta de líderes discipulados, e
em parte porque muitos usam suas posições
para obter poder secular, status arrogante ou
enriquecimento pessoal. Como resultado, o
povo de Deus sofre, Cristo é desonrado e a
missão do evangelho é prejudicada. O
“treinamento de liderança” é a solução
prioritária comumente proposta. De fato,
programas de treinamento de liderança de
todos os tipos têm se multiplicado, mas o
problema persiste, por duas prováveis razões.
Primeiro, treinar líderes para que sejam
piedosos e semelhantes a Cristo é o caminho
inverso. Em primeiro lugar, biblicamente,
apenas aqueles cujas vidas já demonstram as
características básicas do discipulado maduro
devem ser indicados para a liderança80.[80] Se
hoje nos deparamos com muitas pessoas na
liderança que mal foram discipuladas, então
não há alternativa senão incluir esse discipulado
básico no seu desenvolvimento de liderança.
Indiscutivelmente, a escala de líderes
mundanos e não semelhantes a Cristo na Igreja
global hoje é prova patente de evangelismo
reducionista, discipulado negligenciado e
crescimento superficial. A resposta para o
fracasso da liderança não é apenas mais
80
1 Timóteo 3:1-13; Tito 1:6-9; 1 Pedro 5:1-3.
34
treinamento de liderança, mas antes, melhor
treinamento de discipulado. Os líderes devem
primeiro ser discípulos de Cristo.
Segundo, alguns programas de treinamento de
liderança enfocam pacotes prontos de
conhecimento, e técnicas e habilidade em
detrimento do caráter piedoso. Em
contrapartida, líderes autenticamente cristãos
devem ser semelhantes a Cristo no que se
refere a ter humildade, integridade, coração
servil, ausência de ganância, vida de oração,
dependência no Espírito de Deus e um profundo
amor pelas pessoas. Além disso, alguns
programas de treinamento de liderança não
oferecem treinamento específico no ponto
chave incluído por Paulo em sua lista de
qualificações – a capacidade de ensinar a
Palavra de Deus ao povo de Deus. No entanto, o
ensino da Bíblia é o mais importante meio de
fazer discípulos e a maior deficiência nos líderes
da igreja contemporânea.
A) Ansiamos por ver esforços intensificados na
formação de discípulos, por meio do trabalho
de ensino e sustento de novos crentes a longo
prazo, a fim de que aqueles a quem Deus chama
e entrega à igreja como líderes estejam
qualificados de acordo com o critério bíblico de
maturidade e serviço.
B) Nós renovamos nosso compromisso de orar
por nossos líderes. Desejamos que Deus
multiplique, proteja e encoraje líderes a ser
biblicamente fiéis e obedientes. Oramos para
que Deus repreenda, remova ou leve ao
arrependimento líderes que desonram o seu
nome e difamam o evangelho. E oramos para
que Deus levante uma nova geração de servoslíderes discipulados, cuja maior paixão seja
conhecer a Cristo e ser semelhante a ele.
C) Aqueles entre nós que estão na liderança
cristã precisam reconhecer nossa
vulnerabilidade e aceitar o fato de que temos
que prestar contas dentro do corpo de Cristo.
Nós recomendamos a prática de submissão a
um grupo para prestação de contas.
D) Encorajamos firmemente os seminários e
todos os que oferecem programas de
treinamento de liderança a que se concentrem
mais na formação espiritual e de caráter, e não
apenas na transmissão de conhecimento ou
classificação de desempenho, e nos alegramos
intensamente com os que já fazem isso como
parte do desenvolvimento abrangente e
integral da liderança.
4. Cidades
As cidades são extremamente importantes para
o futuro humano e para a missão mundial.
Metade do mundo hoje vive em cidades. É nas
cidades que se encontram os quatro principais
tipos de pessoas: (i) a próxima geração de
jovens; (ii) a maioria dos povos menos
alcançados que migraram; (iii) os formadores de
cultura; (iv) os mais pobres entre os pobres.
A) Nós discernimos a soberana mão de Deus no
aumento massivo da urbanização em nosso
tempo e apelamos à Igreja e aos líderes de
missões em todo mundo a que respondam a
esse fato dando atenção estratégica e urgente à
missão urbana. Devemos amar nossas cidades
como Deus as ama, com discernimento santo e
compaixão semelhante à de Cristo, e obedecer
ao seu mandamento de “buscar a prosperidade
da cidade”, onde quer que ela esteja. Vamos
procurar aprender métodos adequados e
flexíveis de missão que respondam às
realidades urbanas.
5. Crianças
Todas as crianças estão em risco. Há cerca de
dois bilhões de crianças no mundo e metade
delas está em risco em decorrência da pobreza.
Milhões estão em risco em decorrência da
prosperidade. Os filhos dos ricos e estáveis têm
tudo para viver, mas nada pelo quê viver.
35
As crianças e os jovens são a Igreja de hoje e
não apenas de amanhã. Os jovens têm grande
potencial como agentes ativos na missão de
Deus. Eles representam uma grande e pouco
utilizada fonte de formadores de opinião com
sensibilidade para ouvir a voz de Deus e
disposição para responder a ele. Alegramo-nos
com os excelentes ministérios que servem entre
as crianças e juntamente com elas e desejamos
que esse trabalho seja multiplicado, diante de
tão grande necessidade. Como vemos na Bíblia,
Deus pode usar e realmente usa as crianças e os
jovens – suas orações, suas percepções, suas
palavras, suas iniciativas – para transformar
corações. Elas representam uma “nova energia”
para transformar o mundo. Vamos ouvir e não
reprimir sua espiritualidade infantil com nossas
abordagens adultas e racionalistas.
Nós assumimos o compromisso de:
A) Levar as crianças a sério, através de estudos
bíblicos e questionamentos teológicos
estimulantes, que reflitam o amor de Deus e o
seu propósito para elas e através delas. E
redescobrir o profundo significado para a
teologia e para a missão, da atitude
provocadora de Jesus ao “tomar uma criança e
colocá-la entre eles”81.
B) Buscar treinar pessoas e fornecer recursos
para atender as necessidades das crianças em
todo o mundo, sempre que possível,
trabalhando com suas famílias e comunidades,
com a convicção de que o ministério holístico
para e através de cada geração seguinte de
crianças e jovens, é um componente vital para a
missão mundial.
6. Oração
Diante de tantas prioridades, vamos renovar
nosso compromisso de orar. A oração é um
chamado, um mandamento e um dom. A
oração é o fundamento indispensável para
todos os elementos da nossa missão.
A) Nós oraremos com união, foco, persistência
e esclarecimento bíblico:
1. Para que Deus envie trabalhadores para
todos os cantos do mundo, no poder do seu
Espírito;
2. Para que os perdidos de todos os povos e
lugares sejam atraídos a Deus pelo seu Espírito,
através da declaração da verdade do evangelho
e da demonstração do amor e do poder de
Cristo.
3. Para que a glória de Deus seja revelada e o
nome de Cristo seja conhecido e louvado graças
ao caráter, as obras e as palavras do seu povo.
Vamos clamar pelos nossos irmãos e irmãs que
sofrem por causa do nome de Cristo.
4. Pela vinda do reino de Deus, para que a
vontade de Deus seja feita na terra como é feita
no céu, pelo estabelecimento da justiça, pela
mordomia e cuidado para com a criação e pela
bênção da paz de Deus em nossas
comunidades.
B) Daremos graças continuamente ao
presenciarmos a obra de Deus entre as nações,
ansiosos pelo dia em que o reino deste mundo
se tornará o reino do nosso Deus e do seu
Cristo.
C) Expor, resistir e agir contra toda e qualquer
forma de abuso contra as crianças, seja
violência, exploração, escravidão, tráfico,
prostituição, sexo e discriminação étnica, alvo
publicitário e negligência intencional.
81
Marcos 9:33-37.
36
IIE CHAMANDO A IGREJA DE CRISTO DE
VOLTA À HUMILDADE, À INTEGRIDADE E À
SIMPLICIDADE
Andar é a metáfora bíblica para nosso modo de
vida ou de conduta diária. Paulo, em Efésios,
fala sete vezes sobre como os cristãos devem
ou não devem andar82.
1. Andar de maneira diferenciada, como
nova humanidade de Deus83
O povo de Deus escolhe entre andar no
caminho do Senhor ou nos caminhos de outros
deuses. A Bíblia mostra que o maior problema
de Deus não é apenas com as nações do
mundo, mas com o povo que ele criou e
chamou para que fossem canal de bênçãos para
as nações. E o maior obstáculo para o
cumprimento desta missão é a idolatria entre o
próprio povo de Deus. Pois se somos chamados
para levar as nações a adorar ao único Deus
vivo e verdadeiro, falhamos vergonhosamente
quando nós mesmos corremos atrás de deuses
falsos dos povos ao nosso redor.
Quando não há diferença entre a conduta de
cristãos e não cristãos – por exemplo, na prática
da corrupção e da ganância, na promiscuidade
sexual, no alto índice de divórcio, no retorno a
práticas anteriores à religiosa cristã, na
hostilidade em relação a pessoas de outras
raças, nos estilos de vida consumistas, ou no
preconceito social – então, o mundo está certo
ao questionar se o cristianismo faz alguma
diferença. Diante o mundo que nos observa,
não há autenticidade em nossa mensagem.
A) Desafiamo-nos mutuamente, como povo de
Deus presente em todas as culturas, a encarar
até que ponto estamos, consciente ou
82
Apesar da tradução ser diferente, todos os seguintes
versículos usam o verbo “andar”: Efésios 2:2, 10; 4:1, 17;
5:2, 8, 15.
83
Efésios 4:16-31.
inconscientemente, enredados nas idolatrias da
cultura que nos cerca. Oramos por
discernimento profético para identificar e expor
esses deuses falsos e a sua presença dentro da
própria Igreja, e por coragem para que nos
arrependamos e os renunciemos no nome e na
autoridade de Jesus como Senhor.
B) Uma vez que não há missão bíblica sem vida
bíblica, com urgência renovamos nosso
compromisso e desafiamos a todos aqueles que
professam o nome de Cristo a viver de maneira
radicalmente diferente dos caminhos do
mundo, a “revestir-se do novo homem, criado
para ser semelhante a Deus em justiça e em
santidade provenientes da verdade”.
2. Andar em amor, rejeitando a idolatria da
sexualidade desordenada84
O plano de Deus na criação é que o casamento
seja constituído pelo relacionamento fiel e
comprometido entre um homem e uma mulher,
no qual eles se tornem uma só carne e uma
nova unidade social que seja distinta de suas
famílias de origem, e que a relação sexual,
como expressão daquela “uma só carne”, seja
desfrutada exclusivamente dentro dos laços do
casamento. Essa união sexual amorosa dentro
do casamento, na qual “dois se tornam um”,
reflete tanto o relacionamento de Cristo com a
Igreja, como a unidade de judeus e gentios na
nova humanidade85.
Paulo contrasta a pureza do amor de Deus com
a feiura do amor falso que se disfarça na
sexualidade desordenada e em tudo o que a
acompanha. A sexualidade desordenada de
todo tipo, em qualquer prática de intimidade
sexual antes ou fora do casamento, conforme
definido biblicamente, não se alinha com as
bênçãos e com a vontade de Deus na criação e
na redenção. O abuso e a idolatria que cercam a
84
85
Efésios 5:1-7.
Efésios 5:31, 2:15.
37
sexualidade desordenada contribuem para um
declínio maior da sociedade, causando a
ruptura de casamentos e famílias, e produz
sofrimento incalculável de solidão e de
exploração. Esta é um problema sério dentro da
própria igreja e, tragicamente, uma causa
comum de fracasso na liderança.
Reconhecemos nossa necessidade de profunda
humildade e consciência do fracasso nesta área.
Ansiamos por ver cristãos desafiando as
culturas que nos rodeiam vivendo de acordo
com os padrões para os quais a Bíblia nos
chamou.
A) Nós encorajamos firmemente todos os
pastores a:
1. Facilitar o diálogo mais aberto sobre
sexualidade em nossas igrejas, declarando
positivamente a boa nova do plano de Deus
para relacionamentos saudáveis e para a vida
familiar, mas também abordando com
honestidade pastoral as áreas onde os cristãos
compartilham as realidades disfuncionais e de
ruptura de sua cultura circundante;
2. Ensinar claramente os padrões de Deus, mas
fazer isso com a compaixão pastoral de Cristo
pelos pecadores, reconhecendo quão
vulneráveis à tentação sexual e ao pecado todos
nós somos;
3. Lutar para estabelecer um exemplo positivo
de vida segundo os padrões bíblicos de
fidelidade sexual;
B) Como membros da Igreja, nós assumimos o
compromisso de:
1. Fazer tudo o que pudermos na Igreja e na
sociedade para fortalecer casamentos fieis e
vida familiar saudável;
2. Reconhecer a presença e a contribuição
daqueles que são solteiros, viúvos ou sem
filhos, assegurar-lhes que a igreja é uma família
em Cristo acolhedora e amparadora, e capacitálos a exercer seus dons nos variados ministérios
da igreja;
3. Resistir às múltiplas formas de sexualidade
desordenada nas culturas que nos cercam,
incluindo a pornografia, o adultério e a
promiscuidade.
4. Procurar compreender e abordar as questões
profundas do coração relacionadas à identidade
e à experiência, que levam algumas pessoas à
prática homossexual; alcançá-las com amor,
compaixão e justiça de Cristo e rejeitar e
condenar toda forma de ódio e abuso verbal ou
físico e vitimização de pessoas homossexuais;
5. Lembrar que, pela graça redentora de Deus,
nenhuma pessoa ou situação está além da
possibilidade de mudança e restauração.
3. Andar em humildade, rejeitando a
idolatria do poder86
Devido à queda e ao pecado, o poder é
geralmente exercido para abusar e explorar
pessoas. Nós exaltamos a nós mesmos,
alegando superioridade de sexo, raça e status
social. Paulo se opõe a todas essas formas de
idolatria do orgulho e do poder exigindo que
aqueles que são cheios do Espírito de Deus se
submetam uns aos outros por amor a Cristo.
Essa submissão mútua e esse amor recíproco
devem ser expressos no casamento, na família e
nas relações socioeconômicas.
A) Nós desejamos ver todos os maridos e
esposas, pais e filhos, funcionários e
empregadores cristãos, praticando o
ensinamento bíblico de “submeter-se uns aos
outros no temor de Cristo”.
86
Efésios 5:15-6:4.
38
B) Nós incentivamos os pastores a ajudarem os
crentes a entender, a discutir honestamente e a
praticar a submissão mútua que Deus exige de
seus filhos. Em um mundo de poder, ganância e
abuso, Deus está chamando sua Igreja para ser
o lugar de humildade amável e amor abnegado
entre seus membros.
C) Nós clamamos aos maridos cristãos de
maneira particular e urgente a que observem o
equilíbrio das responsabilidades entre maridos
e esposas conforme o ensino Paulo. A
submissão mútua significa que a submissão da
esposa ao seu marido tem como alvo um
homem cujo amor e cuidado por ela seja
inspirado no amor abnegado de Jesus Cristo por
sua Igreja. Qualquer tipo de abuso contra uma
mulher – verbal, emocional e físico – é
incompatível com o amor de Cristo, em
qualquer cultura. Nós negamos que qualquer
tradição cultural ou interpretação distorcida da
Bíblia possa justificar a violência contra a
mulher. Lamentamos que isso aconteça entre
cristãos professos, incluindo pastores e líderes.
Não hesitamos em denunciar tal ato como um
pecado e chamar ao arrependimento e à
renúncia dessa prática.
4. Andar em integridade, rejeitando a
idolatria do sucesso87
Não podemos edificar o reino do Deus da
verdade sobre fundamentos de desonestidade.
No entanto, em nosso desejo por “sucesso” e
“resultados” somos tentados a sacrificar nossa
integridade, com alegações exageradas e
distorcidas que levam a mentiras. Andar na luz,
entretanto, “consiste em... justiça e verdade”88.
A) Nós apelamos a todos os líderes e
missionários a que resistam à tentação de ser
menos do que totalmente verdadeiros na
apresentação do seu trabalho. Somos
87
88
Efésios 5:8-9.
Efésios 5:10.
desonestos quando exageramos nossos
relatórios com estatísticas infundadas, ou
torcemos a verdade para nosso benefício.
Oramos por uma onda purificadora de
honestidade e pelo fim de tais distorções,
manipulações e exageros. Apelamos a todos os
que sustentam financeiramente a obra a que
não façam exigências irrealistas de resultados
visíveis e mensuráveis, além da necessidade da
devida prestação de contas. Vamos lutar por
uma cultura de total integridade e
transparência. Escolheremos andar na luz e na
verdade de Deus, pois o Senhor prova o coração
e se agrada com a integridade89.
5. Andar em simplicidade, rejeitando a
idolatria da ganância90
A pregação e o ensino generalizado do
“evangelho da prosperidade” em todo o mundo
levanta sérias preocupações. Definimos o
evangelho da prosperidade como o ensino de
que os crentes têm direito às bênçãos da saúde
e da riqueza e que podem obter essas bênçãos
por meio de confissões positivas de fé e da
“semeadura”, através de doações financeiras e
materiais. O ensino da prosperidade é um
fenômeno que atravessa muitas denominações
em todos os continentes91.
Nós ratificamos a graça e o poder milagroso de
Deus e congratulamo-nos com o crescimento
das igrejas e dos ministérios que levam pessoas
a exercer a fé expectante no Deus vivo e no seu
poder sobrenatural. Nós cremos no poder do
Espírito Santo. No entanto, negamos que o
poder milagroso de Deus possa ser tratado
como uma técnica automática ou à disposição
89
1 Crônicas 29:17.
Efésios 5:5.
91
Ver também o texto completo The Akropong Statement,
a critique of Prosperity Gospel (Declaração Akropongo,
uma crítica sobre o Evangelho da Prosperidade) produzido
por teólogos africanos, reunidos pelo Grupo de Trabalho
Teológico Lausanne, no site:
http://www.lausanne.org/akropong.
90
39
de humanos, ou ainda, manipulada por
palavras, ações, dons, objetos ou rituais
humanos.
Nós afirmamos que existe uma perspectiva
bíblica da prosperidade humana e que a Bíblia
inclui o bem estar material (tanto saúde como
riqueza) em seu ensinamento sobre a benção
de Deus. No entanto, consideramos como
contrário à Bíblia o ensinamento de que o bem
estar espiritual possa ser medido em termos de
bem estar material, ou que a riqueza seja
sempre um sinal da benção de Deus. A Bíblia
mostra que a riqueza muitas vezes pode ser
obtida através da opressão, do engano ou da
corrupção. Negamos também que a pobreza, a
doença ou a morte física sejam sempre sinais da
maldição de Deus, ou evidência de falta de fé,
ou o resultado de maldição humana, já que a
Bíblia rejeita tais explicações simplistas.
Nós admitimos que seja bom exaltar o poder e a
vitória de Deus. Mas cremos que os
ensinamentos de muitos que promovem
energicamente o evangelho da prosperidade
distorcem seriamente a Bíblia; que suas práticas
e seu estilo de vida geralmente são antiéticos e
não semelhantes a Cristo; que eles costumam
substituir o evangelismo genuíno pela busca de
milagres, e substituem o chamado ao
arrependimento pelo chamado para a
contribuição financeira destinada a organização
do pastor. Lamentamos que o impacto de seu
ensino em muitas Igrejas seja pastoralmente
prejudicial e espiritualmente doentio. É com
alegria e firmeza que ratificamos toda iniciativa
em nome de Cristo que busque trazer cura ao
doente ou livramento duradouro da pobreza e
do sofrimento. O evangelho da prosperidade
não oferece nenhuma solução duradoura para a
pobreza e pode desviar as pessoas da
verdadeira mensagem e do verdadeiro caminho
para a salvação eterna. Por essas razões,
usando de sensatez, ele pode ser descrito como
um evangelho falso. Por isso rejeitamos o
excesso de ensino sobre prosperidade por ser
incompatível com o cristianismo bíblico
equilibrado.
A) Com insistência encorajamos os líderes da
igreja e de missões presentes em contextos
onde o evangelho da prosperidade seja popular,
a compará-lo com atenção e cuidado ao ensino
e exemplo de Jesus Cristo. Particularmente,
todos nós precisamos interpretar e ensinar,
segundo seu contexto e harmonia, os textos
bíblicos comumente usados para sustentar o
evangelho da prosperidade. Onde houver o
ensino da prosperidade no contexto de
pobreza, devemos nos opor a ele, com
compaixão autêntica e ação que traga justiça e
transformação duradoura para o pobre. Acima
de tudo, devemos substituir o interesse próprio
e a ganância pelo ensinamento bíblico a
respeito do sacrifício próprio e da doação
generosa, como as marcas do verdadeiro
discipulado de Cristo. Nós ratificamos o apelo
histórico de Lausanne por estilos de vida mais
simples.
IIF FORMANDO PARCERIAS NO CORPO DE
CRISTO PELA UNIDADE EM MISSÕES
Paulo nos ensina que a unidade cristã é criação
de Deus, com base em nossa reconciliação com
Deus e uns com os outros. Essa dupla
reconciliação foi realizada através da cruz.
Quando vivemos em unidade e trabalhamos em
parcerias demonstramos o poder sobrenatural e
contra cultural da cruz. Mas quando
demonstramos nossa desunião através da
incapacidade de formar parcerias, rebaixamos
nossa missão e mensagem e negamos o poder
da cruz.
1. Unidade na Igreja
Uma igreja dividida não tem mensagem para
um mundo dividido. A nossa incapacidade de
viver em unidade reconciliada é um obstáculo
importante à autenticidade e eficácia em
missões.
40
A) Lamentamos a divisibilidade e divisão de
nossas igrejas e organizações. Temos o desejo
profundo e urgente de que os cristãos cultivem
um espírito de graça e que sejam obedientes ao
mandamento de Paulo de “fazer todo o esforço
para conservar a unidade do Espírito pelo
vínculo da paz”.
B) Embora reconheçamos que nossa unidade
mais profunda seja espiritual, ansiamos por
maior reconhecimento do poder missional da
unidade visível, prática e terrena. Portanto
apelamos aos irmãos e irmãs em todo o mundo,
por causa do nosso testemunho e missão em
comum, que resistam à tentação de dividir o
corpo de Cristo e que busquem caminhos de
reconciliação e de restauração da unidade
sempre que possível.
2. Parceria em missão global
A parceria em missões não se trata apenas de
eficiência. É o resultado prático e estratégico de
nossa submissão a Jesus Cristo como Senhor.
Muitas vezes nos envolvemos em missões que
priorizam e preservam nossa própria identidade
(étnica, denominacional, teológica etc.) e
deixamos de submeter nossas paixões e
preferências ao nosso único Senhor e Mestre. A
supremacia e centralidade de Cristo em nossa
missão devem ser mais do que uma confissão
de fé; devem também reger nossa estratégia,
prática e unidade.
Alegramo-nos com o crescimento e a força de
movimentos missionários emergentes em
países em desenvolvimento e com o fim do
antigo padrão “do Leste para o Resto”. Mas não
aceitamos a ideia de que o bastão da
responsabilidade sobre as missões tenha
passado de uma parte da Igreja mundial para
outra. Não faz sentido rejeitar o antigo
triunfalismo do Ocidente para, simplesmente,
deslocar o mesmo espírito ímpio para a Ásia,
África ou América Latina. Nenhum grupo étnico,
nação ou continente pode reivindicar o
privilégio exclusivo de ser o único a completar a
Grande Comissão. Somente Deus é soberano.
A) Permanecemos unidos como líderes e
missionários em todas as partes do mundo,
chamados a reconhecer e a aceitar uns aos
outros, com igualdade de oportunidades, para
juntos contribuirmos para a missão mundial.
Vamos, em submissão a Cristo, colocar de lado
a desconfiança, a competição e o orgulho e
estar dispostos a aprender com aqueles que
Deus está usando, mesmo que não sejam do
nosso continente, nem da nossa teologia em
particular, nem de nossa organização ou de
nosso círculo de amigos.
B) A parceria vai além do dinheiro, e a injeção
insensata de dinheiro geralmente corrompe e
divide a Igreja. Vamos, finalmente, provar que a
Igreja não opera sob o princípio de que aqueles
que têm mais dinheiro têm o poder de decisão.
Vamos deixar de impor em outras partes da
Igreja nossos nomes, slogans, programas,
sistemas e métodos preferidos. Vamos sim
trabalhar por reciprocidade verdadeira entre
Norte e Sul, Leste e do Oeste, por
interdependência em dar e receber, pelo
respeito e dignidade que caracteriza amigos
genuínos e verdadeiros parceiros em missões.
3. Homens e mulheres em parceria
As Escrituras afirmam que Deus criou homens e
mulheres à sua imagem e que lhes deu o
domínio sobre a terra. O pecado entrou na vida
e na história humana através do homem e da
mulher agindo em conjunto em rebelião contra
Deus. Através da cruz de Cristo, Deus trouxe
salvação, aceitação e unidade a homens e
mulheres igualmente. No Pentecoste, Deus
derramou o seu Espírito de profecia sobre toda
carne, filhos e filhas semelhantemente.
41
Mulheres e homens, portanto, são iguais na
criação, no pecado, na salvação e no Espírito92.
Todos nós, mulheres e homens, solteiros e
casados, somos responsáveis por empregar os
dons de Deus para o benefício de outros, como
mordomos da graça de Deus, e para o louvor e
glória de Cristo. Todos nós, portanto, também
somos responsáveis por capacitar todo o povo
de Deus para exercer todos os dons dados por
Deus em todas as áreas de serviço para as quais
Deus chama a Igreja93. Não devemos apagar o
Espírito desprezando os ministérios de
ninguém94. Além disso, estamos determinados a
ver o ministério dentro do corpo de Cristo como
dom e responsabilidade no qual somos
chamados a servir, e não como status ou direito
que exigimos.
A) Defendemos a posição histórica Lausanne:
“Nós afirmamos que os dons do Espírito são
distribuídos a todo o povo de Deus, mulheres e
homens, e que a parceria deles na
evangelização deve ser bem recebida visando o
bem comum”95. Reconhecemos a enorme
contribuição e sacrifício que as mulheres têm
feito pela missão mundial, ministrando tanto
para homens como para mulheres, desde os
tempos bíblicos até o presente.
B) Reconhecemos que há opiniões diferentes
sinceramente sustentadas por aqueles que
procuram ser fiéis e obedientes às Escrituras.
Alguns interpretam o ensino apostólico de
modo a inferir que mulheres não devem ensinar
nem pregar, ou que podem fazê-lo, mas não
como autoridade única sobre homens. Outros
entendem a igualdade espiritual das mulheres,
o exercício de edificação do dom de profecia
por mulheres na igreja do Novo Testamento e a
acolhida da igreja em suas casas, implicando
que os dons espirituais de liderança e ensino
podem ser recebidos e exercidos no ministério
tanto por mulheres como por homens96.
Convidamos aqueles que estão em lados
opostos nesta discussão a:
1. Aceitar um ao outro sem condenação em
relação a questões divergentes. Embora
possamos discordar, não temos motivos para
divisão, para palavras destrutivas, ou
hostilidade de uns para com os outros97;
2. Estudar juntos as Escrituras com atenção,
levando em conta o contexto e a cultura
originais de seus respectivos autores e leitores
contemporâneos;
3. Reconhecer que onde houver dor genuína,
devemos mostrar compaixão; onde houver
injustiça e falta de integridade, devemos nos
opor; e onde houver resistência à manifestação
da obra do Espírito Santo em alguma irmã ou
irmão, devemos nos arrepender.
4. Comprometer-se com um padrão de
ministério, de homens e de mulheres, que
reflita o espírito de servo de Jesus Cristo e não a
busca de poder e status característicos do
mundo.
C) Encorajamos as igrejas a reconhecer as
mulheres reverentes que ensinam e são
exemplos do que é bom, como Paulo ordenou98,
e a abrir portas mais largas de oportunidades
para mulheres na educação, no serviço e na
liderança, principalmente em contextos onde o
evangelho desafia tradições culturais injustas.
Esperamos que as mulheres não sejam
impedidas de exercer os dons de Deus ou de
seguir o chamado de Deus em suas vidas.
92
Gênesis 1:26-28; 3; Atos 2:17-18; Gálatas 3:28; 1 Pedro
3:7.
93
Romanos 12:4-8; 1 Coríntios 12:4-11; Efésios 4:7-16; 1
Pedro 4:10-11.
94
1 Tessalonicenses 5:19-20; 1 Timóteo 4:11-14.
95
O Manifesto de Manila, Afirmação 14.
96
I Timóteo 2:12; 1 Coríntios 14:33-35; Tito 2:3-5; Atos
18:26; 21:9; Romanos 16:1-5, 7; Filipenses 4:2-3;
Colossenses 4:15; 1 Coríntios 11:5; 14:3-5.
97
Romanos 14:1-13.
98
Tito 2:3-5.
42
4. Educação Teológica e missões
O Novo Testamento mostra a estreita parceria
entre o trabalho de evangelizar e plantar igrejas
(por exemplo, o Apóstolo Paulo), e o trabalho
de fortalecimento das igrejas (por exemplo,
Timóteo e Apolo). As duas tarefas estão
integradas na Grande Comissão, onde Jesus
descreve o fazer discípulos em termos de
evangelismo (antes de “batizando-os”) e
“ensinando-os a obedecer a tudo o eu lhes
ordenei”. A educação teológica é parte da
missão que vai além do evangelismo99.
B) A educação teológica caminha em parceria
com todas as formas de envolvimento
missional. Nós incentivaremos e apoiaremos
todos os que oferecerem educação teológica
biblicamente fiel, formal e não formal, em
níveis local, nacional, regional e internacional.
C) Nós apelamos às instituições e programas de
educação teológica a conduzir uma “auditoria
missional” em seus currículos, estruturas e etos,
para assegurar que eles realmente atendam às
necessidades e oportunidades da Igreja em suas
culturas.
A missão da Igreja na terra é servir à missão de
Deus, e a missão da educação teológica é
fortalecer e acompanhar a missão da Igreja. A
educação teológica serve primeiro para treinar
aqueles que lideram a Igreja como professorespastores, capacitando-os para ensinar a
verdade da Palavra de Deus com fidelidade,
relevância e clareza; e segundo, para capacitar
todo o povo de Deus para a tarefa missional de
entender e comunicar com relevância a verdade
de Deus em qualquer contexto cultural. A
educação teológica envolve guerra espiritual,
uma vez que “destruímos argumentos e toda
pretensão que se levanta contra o
conhecimento de Deus, e levamos cativo todo
pensamento, para torná-lo obediente a
Cristo”100.
D) Nós desejamos que todos plantadores de
igreja e educadores teológicos coloquem a
Bíblia no centro de suas parcerias, não apenas
nas declarações doutrinárias, mas também na
prática. Os evangelistas devem usar a Bíblia
como fonte suprema do conteúdo e da
autoridade de suas mensagens. Os educadores
teológicos devem recentrar o estudo da Bíblia
como disciplina fundamental na teologia cristã,
integrando e permeando todos os outros
campos de estudo e da aplicação. Acima de
tudo, a educação teológica deve servir para
preparar professores pastores para sua
principal responsabilidade de pregar e ensinar a
Bíblia101.
A) Aqueles de nós que lideram igrejas e
agências missionárias precisam reconhecer que
a educação teológica é intrinsecamente
missional. Aqueles que oferecem educação
teológica precisam garantir que ela seja
intencionalmente missional, uma vez que seu
lugar na área acadêmica não é um fim em si,
mas é servir a missão da Igreja no mundo.
Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo. O Espírito de Deus estava na Cidade do
Cabo, chamando a Igreja de Cristo para ser
embaixadora do amor reconciliador de Deus
para o mundo. Deus manteve a promessa da
sua Palavra enquanto o seu povo se reuniu em
o nome de Cristo, pois o próprio Senhor Jesus
Cristo habitou entre nós e andou entre nós102.
CONCLUSÃO
Nós buscamos ouvir à voz do Senhor Jesus
Cristo. E na sua misericórdia, através do seu
99
Colossenses 1:28-29; Atos 19:8-10; 20:20, 27; 1 Coríntios
3:5-9.
100
2 Coríntios 10:4-5.
101
2 Timóteo 2:2; 4:1-2; 1 Timóteo 3:2b; 4:11-14; Tito 1:9;
2:1.
102
Levítico 26:11-12; Mateus 18:20; 28:20.
43
Santo Espírito, Cristo falou ao povo que o ouvia.
Através das muitas vozes na exposição bíblica,
nas palestras de plenárias e na discussão em
grupo, dois temas foram repetidos e ouvidos.


A necessidade de discipulado
radicalmente obediente, que conduza à
maturidade, ao crescimento em
profundidade, bem como ao
crescimento numérico.
A necessidade de reconciliação radical
centrada na cruz, levando à unidade, ao
crescimento em amor, assim como ao
crescimento em fé e em esperança.
O discipulado e a reconciliação são
indispensáveis para nossa missão. Lamentamos
pelo escândalo da nossa superficialidade e falta
de discipulado e pelo escândalo da nossa
desunião e falta de amor. Ambos prejudicaram
gravemente nosso testemunho do evangelho.
Nós discernimos a voz do Senhor Jesus Cristo
nesses dois desafios, pois eles correspondem às
duas palavras mais enfáticas de Cristo à Igreja,
de acordo com os evangelhos. No Evangelho de
Mateus, Jesus deu o mandamento principal – o
de fazer discípulos de todas as nações. No
Evangelho de João, Jesus deu o nosso método
principal – o de amar uns aos outros para que o
mundo saiba que somos discípulos de Jesus.
Não devemos ficar surpresos, mas nos alegrar
ao ouvir a voz do Mestre, quando 2 mil anos
depois, Cristo diz as mesmas coisas ao seu povo
reunido de todas as partes do mundo. Fazer
discípulos. Amar uns aos outros.
nossa missão. O chamado de Cristo à sua Igreja
vem a nós, mais uma vez, das páginas dos
evangelhos: “Venham e sigam-me”; “Vão e
façam discípulos”.
Amem aos outros
Três vezes Jesus repetiu: “Um novo
mandamento lhes dou: Amem-se uns aos
outros. Como eu os amei, vocês devem amar
uns aos outros”103. Três vezes Jesus orou: “que
todos sejam um, Pai”104. Tanto o mandamento
quanto a oração são missionais. ‘”Com isso
todos saberão que vocês são meus discípulos, se
vocês se amarem uns aos outros”. “Que eles
sejam levados à plena unidade, para que o
mundo saiba que tu me enviaste”. Jesus não
poderia ter expressado seu desejo de maneira
mais enfática. A evangelização do mundo e o
reconhecimento da deidade de Cristo são
auxiliados ou prejudicados conforme o
obedecemos ou não na prática. O chamado de
Cristo e de seus apóstolos nos é novamente
apresentado: “Amemos uns aos outros”,
“Façam todo esforço para conservar a unidade
do Espírito pelo vínculo da paz”105. É por amor à
missão de Deus que renovamos nosso
compromisso de obedecer a esta “mensagem
que ouvimos desde o princípio”106. Quando os
cristãos viverem na unidade reconciliada do
amor pelo poder do Espírito Santo, o mundo
conhecerá Jesus, de quem somos discípulos, e
conhecerão o Pai que o enviou.
Façam discípulos
A missão bíblica exige que aqueles que
reivindicam o nome de Cristo sejam como ele,
tomando a sua cruz, negando a si mesmos, e
seguindo-o no caminho da humildade, do amor,
da integridade, da generosidade e da servidão.
Falhar no discipulado e na tarefa de fazer
discípulos é falhar no nível mais elementar de
103
João 13:34; 15:12; 17.
João 17:21-23.
105
Efésios 4:1-6; Colossenses 3:12-14; 1 Tessalonicenses
4:9-10; 1 Pedro 1:22; 1 João 3:11-14; 4:7-21.
106
1 João 3:11.
104
44
Em nome do Deus Pai, do Filho e do Espírito Santo, e sobre o único fundamento de fé na
infinita misericórdia de Deus e na sua graça salvadora, sinceramente desejamos e oramos por
uma reforma do discipulado bíblico e por uma revolução de amor como o de Cristo.
Fazemos desta a nossa oração e assumimos este nosso compromisso pelo Senhor que
amamos e pelo mundo que servimos em seu nome.
45
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