CONCLUSÃO ADP A histórica concentração populacional em grandes cidades, articulada ao desenvolvimento capitalista e à industrialização, agravou o problema social nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. Nos últimos anos, longe se ser resolvido, o problema se agravou. No momento, podem ser identificadas duas grandes linhas ou correntes teóricas de interpretação do fenômeno urbano nos países desenvolvidos. Uma crítica enfatiza a luta social e de classe dentro das grandes aglomerações e reivindica o direito à cidade, de modo a criar um espaço compartilhado de vida e de convivência, opondo-se à segmentação social e territorial nelas criadas. Essa segmentação se agravou pelo estilo de especulação imobiliária da era neoliberal. A outra corrente faz a apologia da cidade e defende um maior adensamento, na busca de combinar, no mesmo espaço, estrutura de negócios, habitação e infraestrutura social. Esta, no entanto, só se materializa nos conglomerados intraurbanos modernos, ficando de fora grande parte da cidade, caracterizando uma grande divisão social e territorial. A urbanização no mundo subdesenvolvido assumiu outras feições. Na América Latina, por exemplo, esse processo foi muito expressivo no pós II Guerra Mundial, alcançando, atualmente, um grau de urbanização de 80%, o mesmo dos países desenvolvidos. Ao mesmo tempo foram criadas grandes aglomerações urbanas, entre as quais duas aglomerações com mais de 20 milhões de habitantes e oito entre as 71 aglomerações mundiais com mais de cinco milhões de habitantes. Dada a velocidade da urbanização, os maiores níveis de desigualdade na distribuição de renda, a falta ou deficiência de habitações e deficiência de infraestrutura de transporte e saneamento, a segmentação social e segregação territorial ainda se tornaram mais graves. No entanto, como o estoque de população rural foi reduzido e a taxa de crescimento demográfico vem caindo, espera-se uma menor pressão sobre o crescimento das cidades. Em anos mais recentes, e de forma mais dramática, vem avançando a urbanização africana. Com estoque de população superior a um bilhão de habitantes, altas taxas de crescimento demográfico e grau de urbanização ainda de 40%, a pressão sobre o crescimento das cidades tem sido enorme. De forma também grave, a urbanização asiática se acelerou nas últimas décadas. Em especial na China e na Índia, agravadas pelo tamanho de suas populações. No entanto, o caso chinês exige uma análise diferente pelo controle da propriedade da terra pelo Estado e por uma nova orientação macroespacial da urbanização chinesa. A urbanização brasileira, como discutido nas seções anteriores, foi rápida no pós-II Guerra Mundial, alcançando grau de urbanização de 83% em 2010. Além de duas megaconcentrações, representadas por São Paulo e Rio de Janeiro, com respectivamente 20 e 12 milhões de habitantes, temos um conjunto de outras sete metrópoles com população superior a 3 milhões de habitantes cada. No total, 20 aglomerações possuem população superior a um milhão de habitantes. Essa metropolização acelerada explicitou uma grave crise urbana, como indicam os dados de segmentação social e segregação territorial e suas consequências em termos da falta ou deficiência do sistema habitacional, da precariedade dos transportes, da incidência de doenças relacionadas com a falta ou deficiência do sistema de saneamento e do aumento da violência e do crime. Nessas áreas metropolitanas, observa-se o que muitos tem definido de cidades fraturadas. Ou seja, espaços cindidos, onde coexistem: em uma "cidade legal", planejada e estruturada, com altos níveis de sofisticação, semelhante aos melhores padrões habitacionais do mundo; a "cidade ilegal", com crescimento anárquico, com precárias condições habitacionais, sem infraestrutura, sem saneamento. Entre elas há uma grande segmentação, cujos indicadores mais ilustrativos das desigualdades existentes são os que reportam a acentuada diferença nos níveis de renda e escolaridade. Esta situação é o resultado da falta de planejamento e de vontade política para intervenção. A experiência de planejamento urbano no Brasil foi historicamente de pouca prioridade e relevância. Várias tentativas foram fracassadas. Há que se fazer uma crítica ao planejamento urbano desvinculada de uma visão territorial mais abrangente. Essa tentativa foi esboçada, mas não recebeu prioridade e apoio político, estando o país, hoje, praticamente sem política urbana, enquanto se agravam os problemas de habitação, saneamento, transporte, dentre outros. Embora tenham sido elaboradas várias propostas de planejamento urbano com objetivos de inclusão social e territorial, a ação do Estado não às seguiu. Ao contrário, de forma explicita ou implica, o Estado agiu conduzindo uma urbanização corporativa, que legitimou e auxiliou as ações do mercado na sua política segregacionista. No entanto, dado o elevado grau de urbanização e a queda na taxa de crescimento demográfico, a pressão sobre as cidades está diminuindo, o que abre perspectivas para uma nova política urbana. Tal política, no entanto, só terá sucesso se for articulada com outras políticas de cunho econômico e social capazes de acelerar os padrões de distribuição da propriedade e da renda no país. No caso específico da crise urbana, a variável de maior importância é o monopólio da terra urbana. A alteração das condições de acesso à terra e freio à especulação imobiliária, acelerada na era neoliberal, é o elemento de maior importância para o sucesso de uma nova política urbana orientada para a redução das desigualdades sociais e sua segmentação territorial.