II - DEMANDA DE PRODUTOS AGRÍCOLAS No primeiro capítulo, foi enfatizado que as famílias e as empresas são os principais atores econômicos num sistema econômico. A abordagem do presente capítulo será especificamente sobre as famílias ou os consumidores e o comportamento das pessoas com relação às suas decisões, ao procurarem satisfazer seus desejos por bens e serviços. O resultado final da fabricação e distribuição de todos os insumos usados na agricultura, as atividades de produção agrícola e os processos de coleta, estocagem, transporte, processamento e o comércio de atacadistas e varejistas nos alimentos e nas fibras é o consumo. As atitudes dos consumidores em relação aos alimentos e fibras de origem agrícola têm um importante papel na operação do complexo sistema de indústrias inter-relacionadas, que compõem o setor de produtos alimentares e têxteis da economia brasileira. Os economistas colocam o estudo do comportamento dos indivíduos no centro de seus modelos, porque, numa economia de livre empresa, são os desejos dos consumidores que, fundamentalmente1, ditam o tipo e a quantidade de produtos que serão produzidos, ou seja, o sistema competitivo deve responder aos desejos dos consumidores. Refere-se a isto como a “soberania do consumidor”. Portanto, será apresentada, de forma sucinta, a base conceitual da teoria da demanda2, de modo que o leitor entenda o mecanismo pelo qual o comportamento do consumidor gera um conjunto de sinais capazes de influenciar os produtores em suas decisões de “o quê” e “como” produzir. No próximo capítulo serão abordados os principais aspectos da oferta, para, então, no capítulo V, ser possível proceder à análise de mercado (demanda e oferta juntas). Só, assim, o leitor terá todo o instrumental básico necessário para uma análise adequada de mercado, de preços, de políticas, de programas, de produção e de consumo. 3.1 - TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Para melhor compreensão do conceito de demanda, faz-se necessário um sucinto comentário sobre a origem das curvas de demanda (ou procura), cuja derivação se baseia na teoria do comportamento do consumidor individual. Para tanto, dispõe-se de duas aproximações: a primeira é a da teoria de utilidade, e a segunda é a das curvas de indiferença. Ambas as alternativas chegam ao mesmo resultado, ou seja, normalmente as curvas de procura são inclinadas para baixo. No estudo do comportamento do consumidor, certas características são 1 2 O emprego da palavra ”fundamentalmente” é porque diversos autores argúem que os consumidores, em vez de orientarem as decisões de produção, são, ao contrário, manipulados pelas grandes empresas, que utilizam propagandas massivas. Uma visão deste argumento pode ser encontrada em John Kenneth Galbraith “The Affluent Society” (Boston: Hougton Mifflin, 1.958); e “The New Industrial State” (Boston: Hougton Mifflin, 1.967). Embora o conceito de demanda será apresentado mais adiante, é fundamental que o leitor-aluno, a priori, saiba que demanda e procura são rigorosamente sinônimos. Apenas por hábito, o autor utiliza mais freqüentemente o nome "demanda". notadas, tais como: a) Excetuando-se a poupança, os consumidores gastam tudo o que recebem em bens e serviços; b) Eles não gastam toda a renda em apenas um bem; c) Eles (quase) nunca adquirem o suficiente da maioria dos produtos (os desejos humanos são insaciáveis; e mais é preferível a menos); e d) Eles procuram maximizar a satisfação total, sujeita a uma restrição (limite) de renda e dos preços dos bens disponíveis. A Utilidade Marginal Decrescente. A teoria de utilidade se baseia na constatação de que o consumidor obtém utilidade ou satisfação pelo consumo de bens e serviços. Pelo termo utilidade entende-se a satisfação psicológica resultante do consumo de uma ou mais unidades de um produto ou serviço. A utilidade total refere-se à satisfação total derivada de todas as unidades consumidas de um bem. Portanto, é um termo aplicado a cada produto ou serviço consumido por um indivíduo; e não uma medida do total de satisfação de um indivíduo obtida pelo consumo de todos os bens. Apesar da dificuldade de se mensurar a utilidade, pelo caráter subjetivo do consumidor, ele tem condições de distinguir entre níveis maiores e menores de utilidade. Assim, quanto mais de um bem o indivíduo consuma por unidade de tempo, maior será a sua satisfação ou utilidade total, até um certo ponto. Em algum nível de consumo, a utilidade total do produto alcançará um máximo (ponto de saturação). Portanto, a utilidade total cresce a taxas decrescentes, atinge um máximo e pode até decrescer. Uma característica importante do comportamento do consumidor é que a sua renda não é gasta em apenas um único produto, mas numa variedade de produtos e serviços. A razão para este comportamento está contida na chamada lei da utilidade marginal decrescente. Esta lei significa que, quando um indivíduo consome unidades adicionais de um produto, mantido constante o consumo de outros produtos e serviços, a quantidade de satisfação, obtida de cada unidade adicional daquele produto, decresce (lembre-se que, em economia, o termo “marginal” significa “adicional”). Um exemplo da utilidade marginal decrescente é o seguinte: considere um sedento viajante num deserto, sem água. Admita que este indivíduo tem dinheiro e encontra alguém com água para vender. Para o primeiro copo d’água, este viajante possivelmente estaria disposto a pagar um valor elevado, porque a utilidade derivada deste primeiro copo d’água é muito grande. Um segundo copo d’água também adicionará utilidade, mas numa quantidade menor do que o primeiro, de modo que o viajante estaria interessado em pagar menos por este segundo copo de água, uma vez que este adiciona menos utilidade que primeiro. Seguindo este raciocínio, o viajante estaria disposto a não pagar nada pelo, digamos, vigésimo copo d’água, porque ele já estaria totalmente satisfeito. Assim, uma das explicações da inclinação “para baixo” da curva de demanda do consumidor individual origina-se da utilidade decrescente que ele obtém de cada unidade adicional consumida (utilidade marginal decrescente), e, portanto, ele só está disposto a pagar um preço menor para unidades adicionais. Esta clássica teoria assume também que o consumidor maximiza a satisfação total ao alocar sua renda entre diversos produtos, de tal modo que a utilidade marginal, derivada do último Real gasto em um bem, é exatamente igual à utilidade marginal obtida do último Real gasto em todas as outras mercadorias. A redução (ou o acréscimo) na quantidade procurada de um produto, quando seu preço aumenta (ou diminui), provem de dois fatores: o efeito-substituição e o efeito-renda, os quais serão discutidos mais adiante, ainda neste capítulo. A Teoria das Curvas de Indiferença A teoria das curvas de indiferença complementa a clássica teoria da utilidade, e é uma alternativa neoclássica para se derivar as curvas de procura de bens. Análise das curvas de indiferença elimina a necessidade de se procurar mensurar a utilidade e de pressupor que a utilidade marginal é (necessariamente) decrescente. Nesta seção apresenta-se a teoria de demanda do consumidor em dois componentes. Primeiro, através das curvas de indiferenças, descreve-se teoricamente o desejo dos consumidores para comprar diferentes combinações de produtos, ou seja, o que o consumidor gostaria de fazer. Segundo, através da restrição de orçamento (renda), desenvolve-se uma descrição teórica das condições do consumidor de comprar diferentes combinações de produtos, ou seja, o que o consumidor pode fazer. Combinando-se esses dois componentes (o que o consumidor gostaria de fazer com o que ele pode fazer), pode-se derivar a curva de demanda de um indivíduo para um determinado produto. Esse procedimento, contudo, não será aqui apresentado, por não ser de fundamental importância para os profissionais de ciências agrárias. 3.2 - CURVA DE DEMANDA DE MERCADO A curva de demanda de mercado resulta da soma horizontal de todas as curvas de demanda individuais para um determinado produto. A cada preço, a quantidade demandada no mercado é a soma das quantidades de cada indivíduo. A curva de demanda de mercado é uma relação que descreve quanto (ou seja, quantidade) de um bem os consumidores estão dispostos a adquirir, a diferentes níveis de preços, num determinado período de tempo, dado um conjunto de condições. Portanto, no conceito de demanda, há duas variáveis fundamentais: preços e quantidades. A expressão "dado um conjunto de condições" significa dizer que podem ser mantidas constantes (“ceteris paribus”), num dado período de tempo, algumas variáveis como: população, renda, preços dos produtos substitutos e complementares, gostos e preferências dos consumidores, entre outras. Figura 3.1 - Curva hipotética de Demanda (Procura) de um determinado produto. Na determinação de uma curva de demanda, há várias importantes forças (ou fatores) determinantes da quantidade demandada de um produto específico. A primeira é o próprio preço do produto, e as demais (também chamadas de fatores deslocadores da curva de demanda) são: a renda do consumidor, a população (leia-se: número de consumidores), os preços dos produtos substitutos e complementares, os gostos e preferências do consumidor, a propaganda, entre outros. O preço do produto estabelece a quantidade demandada, dado o nível da curva de demanda, enquanto as outras forças determinam o nível da demanda em si. Para fazer diferenciação entre o efeito do preço do próprio produto e os efeitos dos demais fatores (chamados deslocadores da demanda), diz-se que: a) variações (aumento ou diminuição) nos preços do produto, cuja demanda está sendo analisada, provocam variações (redução ou aumento) nas quantidades demandadas, (onde a posição da curva de demanda se mantém inalterada); enquanto b) variações nos fatores deslocadores da demanda provocam o aumento ou redução da demanda (nesse caso, é a curva de demanda, como um todo, que muda de posição). Portanto, a curva de demanda, numa determinada posição, mostra uma relação entre preços e quantidades demandadas de um produto por unidade de tempo. Esta relação, que foi exposta pelo economista Alfred Marshall (1842-1924), é conhecida como lei da demanda, cujo enunciado é o seguinte: tende a haver uma relação inversa entre os preços de um produto e as quantidades que os consumidores estarão dispostos a comprar deste produto, por unidade de tempo, em condições “ceteris paribus”3. 3.2.1- Fatores Determinantes da Lei da Procura As principais razões pelas quais os consumidores compram uma maior quantidade de um produto, quando os preços caem (e vice-versa), são as seguintes: a) A preços mais baixos, novos consumidores passam a ter condições de comprar o produto. É o chamado efeito-novo comprador. b) Devido à queda do preço do produto, a renda real (ou o poder de compra) do consumidor aumenta (embora sua renda monetária permaneça inalterada), e, consequentemente, ele pode comprar mais dos produtos normais ou superiores. Este é o efeito-renda, o qual pode ser mostrado, matematicamente da seguinte maneira: I = P1 Q 1 + ∑ Pi Q i A renda (I) de um consumidor pode ser gasta no produto 1 e em diversos outros produtos (i), onde P e Q são respectivamente preços e quantidades de cada produto. A expressão acima pode ser rearranjada, em função da quantidade do produto 1 (Q1), como sege: ↑Q1 = Erro! Uma queda no preço 1 (P1), mantendo-se constantes a renda nominal (I) e os preços dos demais produtos (Pi), permite ao consumidor comprar mais de Q1. Portanto, o efeito-renda ocorre porque a variação no preço do produto, em condições “ceteris paribus”, altera a renda real ou o poder aquisitivo do consumidor. Este efeito é geralmente inverso. O efeito-renda provém tanto do decréscimo no preço como também do aumento de preço de um produto. No caso de um declínio de preço, a renda real aumenta, ou seja, o consumidor passa a ter condições de comprar mais de 3 Uma famosa exceção à regra da curva de demanda inclinada para baixo é o chamado “paradoxo de Giffen” (em homenagem ao economista Robert Giffen), que se refere a um bem cuja quantidade demandada varia diretamente com o preço. Giffen constatou que, na Irlanda no século passado, as famílias muito pobres compravam mais batatas quando o preço da batata subia. Isto ocorria por duas razões: 1) porque o aumento no preço das batatas tornava-os ainda mais pobres e, quanto mais pobres mais eles substituíam a carne por batata; 2) porque os preços dos outros produtos aumentavam relativamente mais que os da batata; e, portanto, esta era ainda mais barata que os outros alimentos. ambos os produtos, mesmo que sua renda monetária (nominal) não tenha se alterado. c) A terceira razão pela qual o consumidor tende a comprar mais, quando o preço cai, deve-se ao fato de que sua satisfação aumenta, se ele comprar mais de um produto de preço baixo relativamente a um produto de preço alto. É o chamado efeito-substituição, o qual é sempre negativo. Ressalta-se que o paradoxo de Giffen, antes escrito, surge quando o efeito-renda for positivo e maior que o efeito-substituição, e neste caso, a curva de demanda será positivamente inclinada. No caso de um aumento de preço, o efeito-substituição faz com que o consumidor substitua os bens relativamente mais caros (quando seus preços aumentam) pelos produtos relativamente mais baratos (mesmo que seus preços não tenham variado). Por exemplo, um aumento no preço da carne de frango leva os consumidores a substituírem a carne de frango por carne bovina (ou outros tipos de carne). Um decréscimo de preço provoca um efeito contrário. Pode-se dizer que o decrescimento (ou acréscimo) na quantidade procurada de um produto, quando o seu preço aumenta (ou diminui), é o resultado combinado de duas forças: o efeito-substituição e o efeito-renda. d) A curva de demanda é inclinada para baixo, porque a utilidade marginal é decrescente, ou seja, cada unidade adicional de produto acrescenta menos à satisfação do consumidor, e, portanto, ele só estará disposto a comprar mais, a preços menores. 3.2.2 - Elasticidade -Preço da Procura Na seção anterior, foram citadas algumas variáveis que determinam a quantidade (Q) de um produto que os consumidores irão adquirir, entre as quais destacou-se: o preço do produto em análise (P), a renda dos consumidores (I), o número de consumidores (N), os preços dos produtos substitutos (Ps), os preços dos produtos complementares (Pc), os gostos e preferências dos consumidores (G) e a propaganda (A). Assim, mudanças em uma ou mais destas variáveis afetam o nível de consumo de um produto. Portanto, a curva de demanda pode ser expressa como: Qd = f (P / I, N, Ps, Pc, G, A) (1) onde a barra “/” significa “mantendo-se as variáveis seguintes constantes”. Para se medir a variação na quantidade devido à variação em uma dessas variáveis, utiliza-se o conceito de elasticidade. Genericamente, o termo elasticidade é uma medida de resposta, que compara a mudança percentual em uma variável dependente (Y) devido a uma mudança percentual em uma variável explicativa (X). 4 E = Erro! onde o símbolo ∆ significa “mudança em”. Assim, sempre que se tiver duas variáveis inter-relacionadas, pode-se calcular a elasticidade. A fórmula da elasticidade, assim expressa, é extremamente útil em economia, em especial porque ela contorna dois tipos de problemas oriundos das diferentes unidades com que os bens são medidos: a) o mesmo produto, medido em unidades diferentes, como grama, quilo, tonelada, saca(o) de 60 kg, arroba; e b) produtos diferentes, medidos em unidades diferentes (feijão em sacos de 60 kg com ovos em dúzia, ou carros em unidades com soja em milhões de toneladas), além de outras medidas com, por exemplo, o “bushel”, a libra-peso e o galão5. Assim, dependendo da unidade de medida, a inclinação da curva pode ser maior ou menor, razão pela qual a comparação da declividade da demanda de um produto (ex.: feijão) com a de um outro produto (algodão) não tem muito sentido, não sendo um indicador adequado da sensibilidade, por exemplo, da quantidade procurada em relação às mudanças no preço do produto. A elasticidade contorna o problema, porque, em sua fórmula, ela compara apenas a variação relativa (ou percentual) entre duas variáveis. No estudo da demanda, os três mais importantes tipos de elasticidade são: a) elasticidade-preço da demanda; b) elasticidade-cruzada da procura; e c) elasticidade-renda. Por enquanto analisar-se-á apenas a elasticidade-preço da procura (Ep), a qual mede a resposta do consumidor a variações de preços, ou seja, a Ep é definida como a mudança percentual da quantidade procurada dividida pela mudança percentual do preço. A elasticidade pode ser calculada de duas maneiras: a elasticidade-ponto e elasticidade-arco. A primeira mede o valor da elasticidade num dado ponto da curva de demanda; enquanto a segunda mede a elasticidade média entre dois pontos sobre a curva de demanda 4 5 O leitor que tem familiaridade com cálculo pode expressar a elasticidade como: E = (dY/dX).(X/Y). Um “bushel” é igual a 0,035239 m3 ou 35,23 litros. Por exemplo, o “bushel” de soja ou de trigo eqüivale a 27,22 kg, o de milho, a 25,40 kg. A libra-peso = 453,6 gramas e o galão americano equivale a 3,785 litros. Elasticidade-Ponto A elasticidade num determinado ponto da curva de demanda pode ser medida geométrica e matematicamente. Geometricamente, a inclinação da curva de procura linear (Figura 3.2.a) é ML/MT. Portanto, ∆P/∆Q = ML/MT, ou, invertendose: ∆Q/∆P = MT/ML. No ponto P, o preço é ML e a quantidade é OM. Assim, em L, a elasticidade é: Erro! Figura 3.2 - Determinação da Elasticidade pelo Método Geométrico. Mesmo para uma curva de demanda não-linear (Figura 3.2.b), pode-se medir a elasticidade no ponto L, passando-se uma tangente naquele ponto, prolongando-a até o ponto T. Matematicamente, tem-se que Q = f (P), onde Q = quantidade demandada e P = preço do produto. Erro! Devido ao fato de que a curva de demanda é (quase sempre) inclinada para baixo, a mudança na quantidade será em sinal oposto à mudança no preço, o que significa que a Ep tem sinal negativo. Por conveniência, será ignorado o sinal negativo, referindo-se apenas ao seu valor absoluto. Na próxima seção será tratado, com mais detalhe, o cálculo de elasticidade com base em funções lineares e nãolineares. Elasticidade-Arco Geralmente não se dispõe de uma função de procura (ou de oferta), devidamente estimada, mas apenas de algumas observações de preços e respectivas quantidades adquiridas. Suponha que se tem disponível as duas seguintes combinações de preços e quantidades: ao preço de R$ 2,00 por unidade, os consumidores adquiram a quantidade de 4 milhões de toneladas de um determinado produto (ponto A). Havendo queda no preço para R$ 1,25 por unidade, os consumidores passam a comprar 5 milhões de toneladas (ponto B). Neste caso, se for calculada a elasticidade entre os pontos A e B, movendose no sentido de A para B, o resultado é o seguinte: Erro! Por outro lado, se for determinada a elasticidade do ponto B para A, obtémse: Erro! Devido à diferença nos resultados da elasticidade, adota-se uma fórmula mais precisa, que é a da elasticidade-arco. Esta fórmula estima uma elasticidade no ponto médio entre as duas observações e envolve o uso de uma média das quantidades e dos preços. Algebricamente, fórmula da elasticidade-arco é a seguinte: 6 Erro! Portanto, a elasticidade média entre os pontos A e B é de – 0,48, significando que um decréscimo de 1 % no preço deve provocar um aumento na quantidade demandada de (apenas) 0,48 %. Ressalta-se que, neste caso, os gastos dos consumidores cairiam de R$ 8 milhões para R$ 6,25 milhões, porque a demanda é inelástica. Formas de Curvas de Demanda e Elasticidades A demanda é classificada, em relação ao preço, como elástica, como de 6 Por simplificação, a Ep = Erro! elasticidade unitária, e inelástica, dependendo dos valores de Ep. O coeficiente de elasticidade-preço da procura terá sinal negativo, porque o preço e a quantidade variam em sentidos opostos. Entretanto, quando se trata de magnitude da Ep ignorase o sinal negativo. Assim, a Ep de – 1 é maior do que a de – 0,5, e a de – 2 é maior do que a de – 1. Valor da Ep > 1 (ou < –1) = 1 (ou = –1) < 1 (ou > –1) Procura “no ponto” Elástica Elasticidade Unitária Inelástica Por exemplo, se a Ep para a carne foi estimada em 1,2 (o que, na realidade, é –1,2), isto significa que a percentagem de mudança na quantidade demandada é maior que a percentagem de mudança em seu preço ou, mais específicamente, um aumento de 1 % no preço da carne deve resultar na redução de 1,2 % na quantidade adquirida de carne, e vice-versa. Se a Ep para a carne fosse 1,0 (–1,0), então uma redução no preço provocaria um aumento na quantidade, de mesma magnitude. Novamente, usando o exemplo da Ep para carne, se o valor for 0,7 (–0,7) uma elevação no preço de 1 % resulta na diminuição na quantidade demandada de apenas 0,7 %. É fundamental para produtores, consumidores e governo o conhecimento sobre o valor da elasticidade da curva de procura, pois uma política de mercado recomendável, quando a demanda é elástica, provavelmente será desastrosa, se a procura for inelástica. De um modo geral, os produtos agrícolas têm demanda inelástica a preços, e os fatores que levam a isso serão explicados mais adiante. A elasticidade-preço pode variar entre 0 (completamente inelástica) e –∞ (perfeitamente elástica). A Figura 3.3 ilustra as relações entre alguns tipos de elasticidade da demanda. A parte “a” da Figura apresenta uma curva de demanda com elasticidade infinita (Ep = ∞), porque a declividade da curva dP/dQ é zero, e, portanto, dQ/dP é infinito. A função desta linha horizontal é P = P0, onde P0 é uma constante. Isto significa que a este nível de preço (demanda perfeitamente elástica) o produtor pode vender qualquer quantidade de produto, mas se aumentar o preço não conseguirá vender nada. Individualmente, cada propriedade agrícola, ao colocar a sua produção no mercado, enfrenta uma demanda deste tipo (Ep = ∞), ou seja, para vender, o produtor rural tem que aceitar o preço (P = P0) determinado pelo mercado. Na parte “b” tem-se a situação de uma demanda perfeitamente inelástica (Ep = 0), onde a quantidade demandada depende do preço, de tal modo que alguma quantidade fixa (Q = Q0 + 0.P) será procurada, independente do nível de preço. Como a demanda, neste caso, permanece constante, a derivada dQ/dP é zero; e, portanto, a elasticidade-preço para o produto será igual a zero (0), muito embora a declividade da curva dP/dQ = ∞. Esta condição dificilmente ocorre no mundo real, tendo apenas como aproximação o caso de um monopólio que vende um serviço ou produto extremamente necessário, como, por exemplo, a água. Figura 3.3 - Curvas de Demanda com Diferentes Elasticidades-Preço A parte “c” da Figura 3.3, trata de um tipo de curva de demanda que tem a elasticidade constante ao longo de toda a curva. Isto significa que os indivíduos respondem, para mudança em preço, de maneira proporcional em vez de absoluta, como acontece com a curva de demanda linear. Uma curva com uma elasticidade constante em toda a sua extensão tem a seguinte expressão: onde b < 0 e P ≠ 0. Q=aPb ou log Q = log a + b log P. Esta curva se assemelha a uma hipérbole, que nunca corta os eixos de P e Q. Ao longo desta curva, a elasticidade-preço (Ep) é igual a “b”, isto é, a elasticidade é simplesmente dada pelo expoente de P e não varia7. Por exemplo, se b = –1,2, então um aumento no preço de 1 por cento resulta na queda na quantidade demandada de 1,2 por cento, ou do contrário: uma redução de 1 % no preço deve provocar um aumento na quantidade procurada de 1,2 %. No caso especial em que b = –1, então a curva de demanda é: Q = a P–1 ou PQ = a, onde “a” é uma constante, a elasticidade é unitária8 e, portanto, P x Q (que é igual a receita) permanece constante ao longo de toda a curva, ou seja, uma variação no preço é compensada por uma variação proporcional igual mas oposta na quantidade procurada. A parte “d” da figura 3.5, mostra uma curva de demanda linear, que é o tipo que mais freqüentemente aparece nos livros-textos. Até certo ponto, infelizmente, isto acontece, porque este tipo de curva parece implicar um comportamento irrealista. Ao longo de uma linha reta a declividade dP/dQ é constante e, portanto, a parcela dQ/dP (que pertence à fórmula da elasticidade) é constante. Isto significa que uma mudança no preço de, digamos, R$ 2,50 para R$ 5,00 (uma duplicação de preço) terá o mesmo efeito sobre Q do que uma mudança de R$ 50,00 para R$ 52,50 (um aumento de 5 %). Comportamento deste tipo parece não corresponder à base das informações de que se dispõe sobre as reações de mercado. O fato de dQ/dP ser constante, para uma curva linear, não significa dizer que a sua elasticidade é constante. Na realidade, todas as curvas de demanda lineares, exceto a perfeitamente elástica e a perfeitamente inelástica, têm elasticidade variando nos diferentes pontos sobre a curva de demanda. Em outras 7 8 Pela anotação de cálculo, a Ep = (dQ/dP) (P/Q), então: Ep = (baPb-1) (P/Q) = baP b / aP b = b. Se Q = a P–1, então, a Ep é igual a: [–1.a. P–2(P/Q)] = [–1 a P–2 P/a p–1] = 1 palavras, uma determinada curva de demanda pode ser elástica num ponto e inelástica em outro. Para melhor perceber isto, convém recordar que na fórmula da elasticidade-preço: Ep = dQ/dP . P/Q a declividade da curva de demanda linear (1/dQ/dP) = dP/dQ é constante. Contudo, a razão P/Q varia de zero num ponto sobre a abcissa (quantidade), a infinito (+ ∞) na interseção do eixo da ordenada (preço). Tendo em vista que se está multiplicando uma constante negativa por uma razão que varia entre 0 e + ∞, a elasticidade-preço de uma curva linear deve variar de 0 a – ∞. Em algum ponto ao longo da curva de demanda, a Ep é igual à unidade. Para uma função linear do tipo Q = a –bP, o coeficiente de elasticidade-preço é Ep = –b (P/Q), onde “b” é o inverso da declividade da curva de demanda. Admita que alguém estimou a curva de procura para feijão e encontrou a seguinte expressão: Q = 400.000 – 500 P . A Ep é igual à unidade quando P = 400 e Q = 200.000. Portanto, para preços acima de 400 a Ep > 1 e para preços abaixo, Ep < 1. Na parte “e” da figura, a curva de demanda D1 é mais inelástica (ou, é o mesmo que dizer: "menos elástica") do que a D2. Isto pode ser verificado ao se comparar a mudança na quantidade adquirida devido à uma queda no preço de P0 a P1. A porcentagem de mudança na quantidade demandada, para uma dada mudança no preço, é menor para a curva de demanda D1 do que para a D2; isto é ∆Q + ∆Q’ é maior do que ∆Q, e, portanto, a Ep é menor (menos elástica) para D1. O leitor deve notar que esta comparação não diz nada sobre o valor numérico da Ep; simplesmente, que a Ep para a curva de demanda D1 é menor que D2. Como será mostrado ao longo desse livro, a agricultura enfrenta uma demanda do tipo D1, enquanto a demanda de produtos industriais (ou mesmo agroindustrializados) se aproxima mais à D2. Ressalte-se que o fato de os produtos agrícolas terem demanda relativamente inelástica traz problemas para os produtores rurais, através da instabilidade de preços (e, consequentemente, de renda), principalmente porque a oferta agrícola é de dificil previsão (oferta instável). Esse aspecto será bastante enfatizado também mais adiante. A Tabela 3.1 contém algumas estimativas de elasticidade-preço da demanda de produtos agrícolas obtidas para o Brasil e para os Estados Unidos. Os resultados ilustram uma característica básica da procura para alimentos em que a elasticidadepreço tende a ser inelástica (–1 < Ep < 0), ou em termos absolutos (1 > Ep > 0). Antes de se comentar os valores destas estimativas, serão apresentados alguns fatores determinantes da magnitude da elasticidade para os produtos. Tabela 3.1 - Estimativas de Elasticidade-Preço, de Curto Prazo, da Demanda de Alguns Alimentos, a Nível de Varejo, Brasil e EUA. PRODUTO Açúcar Arroz Batata Inglesa Café em Pó Café Solúvel Carne Bovina Carne de Frango Carne Suína Farinho de Trigo Feijão Frutas Leite Ovos Produtos Agrícolas em geral Carnes em geral Alimentos em geral Não-Alimentos BRASIL - 0,13 - 0,10 - 0,15 - 0,12 - 0,85 - 0,94 - 0,96 -0,70 - 0,35 - 0,16 - 0,50 - 0,14 - 1,20 n.d n.d - 0,50 n.d EUA - 0,24 n.d - 0,25 - 0,21 - 1,10 - 0,77 - 0,80 - 0,60 - 0,15 n.d - 0,45 - 0,34 - 0,30 - 0,42 - 0,60 - 0,12 - 1,02 Fontes: Várias Publicações. n.d significa dado “não disponível”. (*) Outros valores de Ep para os EUA: a) produtos elásticos: metais, -1,52; produtos de engenharia elétrica, - 1,39; produtos de engenharia mecânica, - 1,30; móveis, - 126; automóveis, - 1,14; serviços profissionais, - 1,09; e serviços de transporte, - 1,03; b) produtos inelásticos: gás, eletricidade e água, -0,92; bebidas em geral, - 0,78; roupas, - 0,64; fumo, - 0,61; serviços bancários e de seguro, - 0,56; serviços domésticos, - 0,55; livros, revistas e jornais, - 0,34. Fatores que Afetam a Elasticidade-Preço da Demanda Entre os fatores que determinam que um produto tenha alta elasticidade e que outro apresente baixa elasticidade (inelástico) pode-se citar os seguintes: a) a disponibilidade de produtos substitutos para o bem considerado. Um produto com bons substitutos terá uma maior elasticidade-preço que um outro que deles não disponha, pois, quando os preços de um produto se elevam e os preços dos substitutos se mantém constantes, o consumidor tende a demandar os substitutos a fim de maximizar a satisfação com a sua renda. Do mesmo modo, se o preço de um produto cai, os consumidores tendem a adquirir menos dos produtos substitutos (porque, evidentemente, passam a consumir mais do produto, cujo preço baixou). Portanto, quanto mais e melhores os substitutos para um bem específico, maior será a sua elasticidade-preço. Ressalte-se que tanto o avanço tecnológico na fabricação de novos produtos como o emprego massivo da propaganda procuram diferenciar os produtos, ou seja, reduzir o número de substitutos, e assim tornar a curva de demanda mais inelástica. b) o número de utilizações que se pode dar ao produto. Suponha que a soja pudesse ser utilizada apenas na fabricação de óleo. Neste caso, não haveria muitas possibilidades de mudanças na quantidade de soja em grão, ao variar o preço da soja. Se isso ocorresse, provavelmente a curva de demanda de soja seria inelástica. Na realidade, a soja em grão tem uma centena de empregos entre os quais se destacam: óleo, farelo, leite, carne, farinha, margarina, aditivo de alimentos, queijo, molho, enzimas, ingrediente para diversos produtos, pão, massas, soja torrada e vários usos industriais. Assim, a variação possível na quantidade demandada é bem maior. Aumentos ou diminuições no preço da soja em grão reduzem ou ampliam a lista de seus usos economicamente desejáveis. Portanto, quanto maior o número de possíveis usos de um produto, maior será a sua elasticidade-preço. c) a proporção da renda gasta com produtos. A demanda de produtos, que absorvem grande parcela da renda dos consumidores, deve ser mais elástica do que a de bens, cujos dispêndios apresentam baixa percentagem da renda. A demanda para bens de preços elevados, que respondem por uma grande proporção da renda, será relativamente sensível a preço, como é o caso de automóveis, casa, geladeira, televisão, videocassete, e móveis, entre outros. Por outro lado, a procura para bens muito baratos, em que os consumidores destinam uma baixa percentagem dos gastos para a sua aquisição, a elasticidade deve ser muito baixa (provavelmente inferior a (-) 0,1 ou até próxima de 0). Entre os produtos com esta característica, cita-se o sal, os condimentos, e o fósforo, em que as pessoas não diminuem suas compras pelo fato de os seus preços terem aumentado, uma vez que as elevações de preços não afetam substancialmente a proporção da renda gasta do consumidor, mesmo que ele tenha baixo nível de renda. Por exemplo, suponha um consumidor com renda mensal de R$ 2.000,00, que deseja adquirir uma nova televisão a cores e 05 quilos de arroz que custam R$ 400,00 e R$ 2,85, respectivamente. Ao ir comprar estes dois produtos ele constatou que seus preços haviam sido majorados em 20 %. Consequentemente, se optar em adquiri-los, ele gastará 24 % de sua renda (em vez de 20 %) com a televisão, mas apenas 0,17 % com o arroz (que antes era 0,14 %). Neste caso, provavelmente muitos (novos) consumidores não comprarão a televisão, mas poucos (ou nenhum deles) deixarão de adquirir o arroz. Desse modo, também se explica porque a demanda de um produto é menos elástica entre as pessoas de alta renda do que entre as de baixa renda. d) o grau de essencialidade do produto. Quanto mais essencial ou necessário for um produto para os consumidores, tanto mais a demanda será inelástica a preços, ou seja, os consumidores serão “forçados” a serem menos sensíveis às variações de preços, como, por exemplo, a água. Em outras palavras, os produtos muito essenciais podem subir, por exemplo, 20 %, e mesmo assim, a quantidade consumida cai muito pouco (talvez uns 3 %). e) o período de tempo. A demanda tende a ser mais elástica para um período mais longo de tempo do que no curto prazo, porque os consumidores têm a oportunidade de tomar conhecimento de alternativas existentes e ajustar suas compras à uma mudança de preço. A Tabela 3.2 mostra algumas estimativas de elasticidade-preço da demanda de produtos agrícolas, nos prazos curto e longo, para o mercado brasileiro, em que se constata que no curto prazo as elasticidadespreço são menores do que no longo prazo, período suficiente para ajuste de consumo. Tabela 3.2 - Estimativas de Elasticidade-Preço da Procura de Produtos Agrícolas, no Curto e Longo Prazos, Brasil. PRODUTO Açúcar Arroz Café Carne bovina Carne de Frango Carne Suína ELASTICIDADE-PREÇO Curto Prazo Longo Prazo – 0,13 – 0,10 – 0,12 – 0,94 - 0,96 – 0,70 – 0,32 – 0,13 – 0,22 – 1,52 - 1,20 –1,05 Fontes: Vários Autores Com base nestes cinco fatores que influenciam a elasticidade-preço e retornando aos dados da tabela 3.1, pode-se concluir que: a) para o Brasil, os produtos mais essenciais, como açúcar, arroz, feijão e leite, apresentam demanda relativamente inelástica a preço; b) a procura de produtos que tenham uma maior participação nos gastos dos consumidores, apresenta uma maior elasticidade, como ocorre com as carnes bovina e suína; c) produtos com bons substitutos, como o tomate e as carnes, têm demanda mais preço-elástica do que os bens sem bons substitutos, como o açucar e o café; d) para os EUA, a elasticidade de demanda para as carnes em geral (–0,60) é menor do que para a carne de frango ou de boi isoladamente. Isto ilustra o princípio de que há poucos substitutos para carne do que para um componente individual. Portanto, a elasticidade-preço para carne como uma categoria é menor do que para qualquer dos componentes individuais. Maior grau de substituição existe dentro da classe de carnes do que entre as carnes. Quanto maior o grau de substituição, mais elástica é a curva de demanda. O mesmo princípio ajuda a explicar a baixa elasticidade-preço para os alimentos coletivamente. Não há substitutos para os alimentos em geral. É esta baixa elasticidade-preço da demanda para os alimentos que explica porque um aumento relativamente pequeno na produção em um determinado ano tende a reduzir substancialmente os preços para os produtos agrícolas; e, por outro lado, pequenas frustrações de safra aumentam os preços dos alimentos dramaticamente. Em resumo: a) quanto mais essencial for um produto para os consumidores, b) quanto menor o número de substitutos, c) quanto mais baixa a proporção da renda gasta com este produto, mais inelástica é a sua demanda, ou seja, menor é a resposta do consumidor a variações de preços. 3.2.3 - Flexibilidade - Preço da Demanda O coeficiente de flexibilidade-preço da demanda indica a variação relativa no preço associada à variação de um porcento na quantidade procurada, mantendo-se os demais fatores constantes. É comum encontrar-se afirmações de que o coeficiente da flexibilidade-preço é o recíproco (ou seja, o inverso) do da elasticidade-preço de demanda. Esta afirmação é verdadeira apenas sob certas condições, como, por exemplo, no caso da inexistência de produtos substitutos (em que os efeitos cruzados seriam iguais a zero). A flexibilidade-preço da procura implica que o preço do produto depende da quantidade deste produto, das quantidades dos substitutos e da renda do consumidor. Por outro lado, como foi visto anteriormente, a demanda de um produto é função do próprio preço, dos preços dos substitutos e da renda do consumidor, além de outros fatores. Tendo em vista que diferentes variáveis são mantidas constantes nas duas funções, o inverso da flexibilidade não necessariamente resulta no valor da elasticidade. Matematicamente, o coeficiente de flexibilidade de preço (Fp) é o inverso da fórmula da elasticidade e é definido como: Fp = Erro! P ∆P Q ∆Q onde: = preço do produto = variação no preço = quantidade demandada do produto = variação na quantidade Como na elasticidade-preço, o valor do coeficiente da flexibilidade-preço deve ser negativo. Um coeficiente de flexibilidade de preço igual a – 4,0 (menos quatro) significa que o preço deste produto deve aumentar (ou diminuir) em 4 % (quatro por cento), se houver uma redução (ou aumento) de 1 % na quantidade procurada (ou ofertada, caso se esteja em equilíbrio de mercado). Considerando-se que a maioria dos produtos agrícolas tem procura inelástica a preço, o coeficiente de flexibilidade-preço provavelmente será maior do que um, em valor absoluto. Isto significa que uma pequena variação na quantidade tem um impacto relativamente alto no preço. Um bom exemplo é o que ocorreu com a boa safra agrícola de 1995, em que um aumento de aproximadamente 7 % na produção (leia-se: oferta) de grãos de um modo geral foi suficiente para provocar uma drástica queda de preços, superior a 25 %, fazendo com que a receita e a renda agrícolas caíssem substancialmente, ou seja, houve uma grande descapitalização do produtor agrícola naquele ano. O conceito de flexibilidade-preço é importante para a comercialização de produtos agrícolas, devido às características próprias desses produtos, tais como: sazonalidade na produção (oferta fixa entre o período de suas safras, ou seja, o nível de produção não pode ser alterado), e perecibilidade (dificuldade de estocagem por longos períodos). Devido a estas características, a quantidade disponível para o consumo é fixa e depende do volume de produção, a qual deve ser consumida em um período de tempo que poderá estender-se até a safra seguinte. Assim, considerando-se que a curva de demanda é relativamente fixa, o preço de mercado depende fundamentalmente da quantidade produzida no período. 3.2.4 - Relação entre Elasticidade-Preço e a RECEITA AGRÍCOLA O conhecimento do valor da elasticidade-preço da demanda para um determinado produto se reveste da mais alta importância para as empresas que o produzem, devido à sua relação com a receita total (R), oriunda da venda deste produto no mercado. A receita das empresas pode ser considerada como despesa ou gasto dos consumidores e resulta da multiplicação da quantidade vendida (Q) pelo preço da venda (P). Portanto: R=P.Q Tendo em vista que a receita é uma função do preço e da quantidade, e que a elasticidade-preço da procura mede a relação entre a variação relativa na quantidade e no preço, há consequentemente, uma nítida relação entre elasticidade e preço, conforme pode ser observada na Figura 3.4. Por exemplo, se a porção da curva de demanda é inelástica, um decréscimo relativamente grande no preço está associado a apenas um pequeno aumento na quantidade procurada. Em conseqüência, a receita total (preço vezes quantidade) se reduz com um decréscimo no preço. Do mesmo modo, se a procura é elástica, para uma pequena diminuição de preço, a porcentagem de aumento na quantidade vendida é maior do que a porcentagem de redução no preço, e, portanto, a receita aumenta. Em outras palavras, para redução de preço de um produto, a receita da firma aumenta enquanto a curva de demanda for elástica, atinge um valor máximo (quando a elasticidade for igual a um) e diminui quando a curva de demanda for inelástica. Figura 3.4 - Relação entre Procura, Receita e Elasticidade-Preço. No caso dos produtos agrícolas, cujas demandas são relativamente inelásticas, a relação entre elasticidade e receita dos produtores pode ser melhor visualizada na Figura 3.5. Ao preço original (P0), por exemplo, de R$ 230,00 por tonelada, os produtores são capazes de vender 3,5 milhões de toneladas (Q0) aos consumidores, totalizando uma receita de R$ 805 milhões. Ao preço (P1) de R$ 150,00 a tonelada, eles são capazes de vender uma maior quantidade de arroz (Q1 = 4,3 milhões de toneladas). Tendo em vista que o aumento percentual na quantidade é menor que a redução percentual no preço, a receita dos rizicultores cai para R$ 645 milhões. Portanto, por causa da demanda inelástica, um aumento na quantidade e um decréscimo no preço estão associadas a uma receita menor (e possivelmente uma renda também menor, uma vez que a colheita e os custos já ocorreram) para os produtores. Figura 3.5 - Efeito da Demanda Inelástica sobre a Receita. O leitor deve observar que uma grosseira avaliação da elasticidade pode ser feita pela comparação entre os retângulos na Figura 3.5. Quando o preço cai, os orizicultores perdem uma receita igual à área do retângulo A e ganham uma receita igual à área do retângulo B. Se a área A é maior que a área B, a demanda é inelástica. Se a área A é menor que a área B, a demanda é elástica. Se as áreas são exatamente iguais, a elasticidade é igual a 1 (demanda unitária, pelo menos naquela porção da curva). Neste último caso, naturalmente, um aumento ou diminuição no preço ou na quantidade não terão efeito sobre a receita dos produtores. Uma outra maneira de visualizar o efeito da elasticidade-preço da demanda sobre os gastos dos consumidores com alimentos (e a receita das firmas ao venderem diferentes quantidades a diferentes preços) é mostrada na Figura 3.6, que analisa os resultados de uma variação (aumento ou diminuição) de 10 % nos preços de três hipotéticos produtos de diferentes elasticidades. Para uma queda no preço de um produto com uma demanda de elasticidade unitária, a quantidade adquirida aumentaria em 10 % e a receita total (preço de renda vezes quantidade vendida) seria exatamente a mesma, antes da queda de preço. Para uma mercadoria com demanda elástica, a quantidade aumentaria mais de 10 % e a nova receita total das vendas seria maior que a anterior. Contudo, para um produto com demanda inelástica, uma redução de preço provocaria um aumento menor do que 10 % na quantidade comprada e a receita seria menor. Os valores da receita (ou gastos dos consumidores) são apresentados entre parênteses na Figura 3.6. Figura 3.6 - Impacto da Mudança de 10 % no Preço sobre as Receitas para Curvas de Demandas: Elástica, Unitária e Inelástica. 3.3 – FATORES DESLOCADORES DA CURVA DE DEMANDA Presumivelmente, os consumidores escolhem suas dietas de modo a satisfazerem as suas necessidades e desejos. É importante compreender a natureza das preferências dos consumidores por alimentos, porque as suas escolhas afetam as decisões de produção e a comercialização da indústria de produtos alimentares. Cada sociedade desenvolve padrões comuns de hábitos alimentares, cujo comportamento apresenta quatro características importantes. A primeira é que não há duas sociedades com os mesmos hábitos alimentares. A segunda é que hábitos alimentares padronizados resultam em preferências relativamente similares e estáveis por alimentos dentro de sociedade. A terceira é que hábitos alimentares que orientam sobre “como comer” contribuem socialmente muito para a dieta que são ensinados a cada uma das futuras gerações. A quarta característica é que os hábitos alimentares se adaptam às mudanças sócio-econômicas, tais como: urbanização, educação, renda, tecnologia e mudanças no estilo de vida. A curva de demanda, numa determinada posição, mostra as quantidades máximas procuradas a todos os possíveis preços alternativos. Nesta situação, variações nas quantidades demandadas para um produto decorrem exclusivamente de alterações no preço do próprio bem, e todos os outros fatores que influenciam a quantidade adquirida permanecem constantes. Portanto, não há um deslocamento da procura, mas apenas um deslocamento ao longo da curva da demanda. Em outras palavras, variações de preços não deslocam a curva de demanda, mas é um deslocamento ao longo da própria curva. Entretanto, além do preço, há muitos outros fatores que afetam a demanda, ou seja, que deslocam a curva de demanda. Esses fatores até agora foram considerados como se mantivessem constantes. No mundo real, evidentemente, esses fatores variam, e portanto, podem afetar a demanda. Entre esses fatores citamse: − − − − − − − − − − − − − − − − a demografia, ou seja, o número de consumidores; o nível e a distribuição da renda dos consumidores; os preços dos produtos substitutos e complementares; os processos de urbanização; as mudanças nos gostos e preferências dos consumidores; a propaganda; a expectativa de variação de preços do produto no futuro; o nível de educação e a idade dos consumidores; a disponibilidade de mercadorias; a moda; a geografia e o clima; o sexo; a ocupação; as estações do ano; a religião; a origem étnica e muitos outros fatores. Assim, a curva de demanda para carne bovina, por exemplo, pode se deslocar para a direita (para cima), ou seja, de D0 para D1 (Figura 3.7), se uma ou mais de uma das seguintes alterações ocorrerem: crescimento da população; aumento da renda do consumidor; elevação nos preços da carne suína e de frangos (que são produtos substitutos da carne bovina); diminuição no preço de um produto complementar à carne bovina, como: arroz, batata e feijão, e o aumento da preferência por carne bovina, a qual pode decorrer de razões como: propaganda, mudanças nos hábitos alimentares (carne engorda menos). Do mesmo modo, a curva de procura pode se deslocar para a esquerda (para baixo), ou seja, de D0 para D2, por diminuição da população, da renda e do preço dos substitutos e pelo aumento no preço dos produtos complementares, entre outros. Figura 3.7 - Deslocamentos da Curva Hipotética de Demanda para Carne Bovina. Uma mudança da demanda significa que, a um dado preço, uma maior ou menor quantidade poderá ser adquirida. Observe-se que na curva de demanda original D0, ao preço de, por exemplo, R$ 4,00 por quilo de carne, os consumidores brasileiros estarão dispostos a adquirir 150.000 toneladas por mês. Depois que a demanda se deslocar para D1, os consumidores comprarão 200.000 toneladas/mês em vez de 150.000 t/mês, mesmo que o preço tenha se mantido em R$ 4,00/quilo. Então, quando a demanda aumenta, mais unidades de um produto serão compradas a cada preço (ou o que é a mesma coisa, os consumidores estarão dispostos a pagar preços mais elevados para a mesma quantidade de produto). Por outro lado, se a procura diminui (ou seja, desloca-se para a esquerda), menos unidades de um produto serão demandadas a cada preço, conforme D2 (Figura 3.7). Se os consumidores originalmente estavam comprando 150.000 t/mês ao preço de R$ 4,00/quilo, um decréscimo na demanda para D2 faz com que eles adquiram somente 100.000 t/mês ao mesmo preço. Novamente, o leitor deve observar que os consumidores poderiam comprar 150.000 t/mês, mas somente a um preço menor. Serão feitas agora algumas considerações sobre três principais variáveis (população, renda e preços de outros produtos) deslocadoras da curva de demanda (de produtos agrícolas), com informações adicionais sobre o comportamento dessas variáveis, a nível de Brasil. 3.3.1 - Aspectos Demográficos A demografia é o estudo das populações no que tange ao número de pessoas, onde vivem e como vivem. Estas tendências influenciam a comercialização de alimentos por afetar o número de pessoas a se alimentar, onde os alimentos são vendidos e como as pessoas adquirem seus alimentos. Com relação a esta variável, é importante analisar os seguintes aspectos: tamanho e crescimento populacional, distribuição geográfica, composição (idade), mobilidade e educação da população. À medida que o número de pessoas aumenta, mais habitações, alimentos, roupas e serviços são necessários. Portanto, o crescimento da população implica o aumento da demanda por estes produtos e serviços, a curva original D0 se desloca na direção de D1 (Figura 3.7). Estima-se que a população brasileira, no início de 1998, era de aproximadamente 160 milhões de habitantes. Segundo o Censo realizado em 1996, o contingente populacional do Brasil era de 157.079 mil habitantes (Tabela 3.3), distribuídos em 5.507 municípios, sendo que 78,4 % dessa população se concentrava em áreas urbanas, contra 45 % em 1960. Isso significa dizer que a atual taxa de urbanização coloca o Brasil ao lado de países mais desenvolvidos como Japão, Alemanha, França, Canadá, Estados Unidos, entre outros. Essa população, que já teve um ritmo de crescimento muito grande (2,48 % ao ano, nos anos 70), tem atualmente uma taxa de crescimento em torno de 1,4 % ao ano, ou seja, anualmente, a população brasileira está aumentando ao redor de 2,24 milhões de pessoas. Essa taxa média atual, que é a mais baixa deste século, decorre da desaceleração do crescimento em todas as cinco grandes regiões do país, nos anos recentes. Cabe ressaltar que essa taxa de crescimento populacional, apesar de declinante, ainda é considerada muito elevada, se comparada com a de países desenvolvidos, cuja taxa é inferior a 1 %. É por isso que ela é tida, por muitos autores, como a principal causa dos problemas econômicos internos, uma vez que, socialmente, há um desequilíbrio entre a massa populacional e a potencialidade da economia, sendo que o desenvolvimento sócio-econômico só pode ser alcançado, quando perfeitamente equacionado o binômio população-crescimento. Dada uma taxa de crescimento do produto nacional, é evidente que a renda "per capita" duplicará mais rapidamente quanto menor for a taxa de crescimento populacional. Conforme já referido no capítulo anterior, o produto interno bruto "per capita" (leiase renda "per capita") no Brasil cresceu muito pouco ao longo das duas últimas décadas. Em termos reais, cresceu de R$ 5.073,35 em 1980 para R$ 5.415,91 em 1997. Isso significa dizer que, em média, cada ano houve um aumento de apenas R$ 20,15 por habitante. Portanto, devido apenas ao efeito-população, a demanda por produtos agrícolas está se deslocando anualmente para a direita a uma taxa atual de 1,4 %. Este aumento relativo (1,4 %) do consumo igual à variação percentual da população se deve ao fato de que uma pessoa a mais significa um consumidor a mais, com um provável padrão de consumo próximo da média populacional. Em outras palavras, pode-se dizer que a elasticidade-população, ou seja, o acréscimo relativo no consumo devido ao incremento percentual da população é igual à unidade. A expansão demográfica, considerada isoladamente tende, de um modo geral, a causar uma expansão uniforme na procura de produtos agrícolas. Com relação à distribuição geográfica, a densidade demográfica é de 18,5 pessoas por quilômetro quadrado, variando de 2,4 na região Norte a 307 no Estado do Rio de Janeiro. As regiões Sudeste (que compreende os estados de SP, RJ, MG e ES) e Sul (PR, SC e RS) concentram 57,6 % da população total brasileira, e produzem, em conjunto, 70 % da produção agropecuária, e cerca de 80 % tanto da produção industrial como da renda nacional. O poder de compra de uma região depende do contingente populacional e da renda dos consumidores. Dentro de cada Estado ou região brasileira há áreas com grandes diferenças em renda e em densidade populacional. Por exemplo, a região Sudeste, com 67 milhões de habitantes em 1996, possui 42,6 % da população brasileira e contribui com mais de 60 % da renda nacional, o que a torna o grande mercado de alimentos. Por outro lado, o Nordeste, com 44,7 milhões de habitantes em 1996, embora com 28,5 % da população do Brasil, tem ainda um baixo poder aquisitivo (em torno de um sétimo da renda nacional). Ressalte-se que, atualmente, 30 % da população brasileira se concentra em apenas 11 regiões metropolitanas, destacando-se as regiões metropolitanas de São Paulo, com cerca de 16 milhões de habitantes, e a do Rio de Janeiro, com 10 milhões, Belo Horizonte (3,5 milhões), Porto Alegre (3,0 milhões), Recife (2,9 milhões), Salvador e Fortaleza com cerca de 2,5 milhões, cada; Curitiba (2,2 milhões), Brasília (quase 1,7 milhão), e Goiânia e Belém com quase 1 milhão de habitantes, cada. A distribuição geográfica da população influencia a eficiência do comércio de alimentos, porque normalmente é mais econômico fazer o fornecimento de produtos em áreas de população altamente concentrada do que em áreas onde os consumidores estão dispersos. O sistema de comercialização de alimentos enfrenta o desafio de distribuir uma grande variedade de alimentos a estas diferentes áreas do país. Portanto, em nível de mercado, a demanda de produtos agrícolas, devido ao efeito-população, esteja crescendo a uma taxa ainda maior que 1,4 %, uma vez que o êxodo rural e consequentemente processo de urbanização têm feito com que a população, de produtora, passe a ser apenas consumidora de alimentos. Estima-se que a população brasileira praticamente pára de crescer no ano 2020, quando deverá ter um contingente ao redor de 200 milhões de pessoas, em grande parte porque a taxa de fecundidade despencou de quatro filhos por mulher nos anos 80 para 2,2 nos anos 90, devendo ficar em 1,8 filho por mulher daqui a duas décadas. Distribuição Regional da População e Renda no Brasil, 2000 (*). REGIÕES N NE SE S CO BRASIL POPULAÇÃO TOTAL Milhões hab. % 12,8 7,6 47,9 28,2 72,2 42,6 25,1 14,8 11,6 6,8 169,6 100 % DA POPULAÇÃO URBANA 64,8 67,0 91,0 80,0 84,4 81,3 % NA RENDA NACIONAL 3,5 12,0 62,0 17,5 5,0 100 FONTE: FIBGE. (*) Projeção Quanto à composição da população deve haver uma relação inversa entre esta variável e o consumo “per capita” de alimentos. Isto se explica porque a capacidade de consumo das crianças é menor do que a dos adultos para a maioria dos produtos. Para um produto como o leite, por exemplo, a relação entre composição populacional e consumo “per capita” tende a ser direta, uma vez que este produto, no Brasil, é consumido principalmente por crianças. No Brasil, observa-se uma queda relativa da população com menos de 15 anos (41,7 % em 1950 e 36,4 % em 1985 e 32 % em 1997, devendo cair para 25 % em 2020) e um aumento do contingente com mais de 60 anos (4,4 % em 1950 e 6,5 % em 1985; 7,6 % em 1997 e estima-se em 14 % em 2020). A faixa etária de 60 anos ou mais é o segmento que mais cresce em termos proporcionais no país. Em outras palavras, menos crianças e mais idosos. O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. No entanto, em países desenvolvidos o processo se deu ao longo do século, enquanto no Brasil está ocorrendo de uma geração para outra. Isso significa dizer que até há pouco caracterizado como um país jovem, o Brasil está ficando mais velho e de forma muito rápida. A mudança do perfil da população brasileira é explicada pela combinação de dois fatores: queda da taxa de fecundidade das mulheres e aumento da expectativa de vida. Basta dizer que, em 1940, a expectativa de vida era de 38,5 anos, enquanto em meados dos anos 90 já era de 66,4 anos. Melhores condições nutricionais, de trabalho, saneamento e moradia, ao lado de novas descobertas da medicina (como antibióticos e vacinas) estão entre os principais responsáveis pelo aumento da expectativa de vida. Jovens e idosos apresentam um padrão de consumo diferente dos outros consumidores, ou seja, por causa da alteração na composição populacional brasileira tende a haver mudanças na demanda de alguns produtos. Com relação à mobilidade da população, esta também influencia o sistema de comercialização de alimentos. Aproximadamente 15 % dos brasileiros não residem em seus estados de origem e a cada ano um número significativo muda-se de um estado para o outro, e, portanto se expondo a padrões de consumo de novos alimentos. Como resultado dessa migração, nos anos 90, a exemplo da década anterior, a população tem crescido mais rapidamente nas regiões Norte e CentroOeste (2,44 % ao ano e 2,22 % ao ano, respectivamente), enquanto alguns estados tiveram crescimento populacional inferior a 1 % ao ano e a população rural tem decrescido (era de 38,5 milhões de pessoas em 1980 e de 34 milhões de habitantes em 1996). Isto altera a rede de distribuição de alimentos, uma vez que a produção, além do crescente volume, tem que percorrer uma maior distância para chegar aos mercados. Uma das características históricas da demografia nacional está no fato de os brasileiros se concentrarem na costa. Contudo, um estudo recente (1996) do IBGE mostra que está havendo uma mudança de tendência, que é a seguinte: há 181 cidades de porte médio, com população entre 100 mil e 500 mil habitantes, localizadas no interior do país, cujo contingente está crescendo a uma taxa de 2,2 %, bem acima da média nacional. Este aspecto contrasta com uma outra tendência que é a sensível redução nas taxas médias de crescimento das regiões metropolitanas, que de 3,8 % ao ano, na década de 70, ficou em 2,3 % ao ano no decênio seguinte, e de 1,5 % ao ano nos anos 90. A região metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, está crescendo apenas 0,77 % ao ano, nos anos 90. Da atual população brasileira, em torno de 160 milhões de habitantes, a distribuição por tamanho de cidades é a seguinte: - Cidades pequenas (até 100 mil hab.) com 80 milhões de pessoas Cidades médias (de 100 mil a 500 mil hab.) com 37,5 milhões de pessoas Cidades grandes (acima de 500 mil hab.) com 42,5 milhões de pessoas Há diferenças nos padrões de consumo de alimentos entre uma região do país e outra que não podem ser explicadas com base na renda ou outros fatores. Por exemplo, cada carioca consome, em média, 14,3 kg/ano de feijão preto, enquanto o paulista só 1,0 kg/ano, preferindo este o feijão roxo (12 kg/ano), e o povo carioca apenas 0,1 kg/ano. Um outro exemplo: enquanto o consumo de pão francês por parte do cearense de Fortaleza é de 23,5 kg/hab/ano de pão francês, o do goianiense é de 9,8 kg/hab/ano, ou o consumo médio de farinha de trigo dos curitibanos (12,8 kg/hab/ano) é nove vezes o do paulistano (1,4 kg/hab/ano). Quanto à educação da população, espera-se que o nível educacional do consumidor esteja diretamente relacionado com o nível de consumo de produtos de maior valor nutritivo e, inversamente, com os alimentos de menor valor nutricional. 3.3.2 - Renda dos Consumidores Além do tamanho e do crescimento da população, a demanda de alimentos depende mais ainda da capacidade de compra (leia-se: nível de renda ou poder aquisitivo) da população. Por exemplo, um país como a Suíça, com 7,1 milhões de habitantes e renda “per capita” em torno de US$ 37 mil constitui um mercado de compra de alimentos muito superior ao de um país da América Latina com 30 milhões de habitantes e renda “per capita” de US$ 2,5 mil por ano. Além disso, não se pode dizer que as famílias suíças gastam a maior parte de sua renda na aquisição de alimentos, uma vez que a porcentagem é baixa (20 %). Pelo contrário, na América Latina uma elavada proporção da renda (40 %) se destina a compra de alimentos. Assim, na Suíça os 20 % sobre US$ 37.000 significam US$ 7.400 por pessoa, o que para o país como um todo corresponderia a US$ 52,54 bilhões para serem gastos com alimentação; enquanto, no país latino-americano, o total disponível para gastos com alimentação seria de apenas US$ 30 bilhões. Com relação à variável-renda, no Brasil, serão abordados dois aspectos: o nível e a evolução da renda “per capita” e a estrutura da repartição individual da renda da população economicamente ativa. No tocante à renda (ou PIB) “per capita”, a preços de 1997, conforme já mostrado no capítulo anterior, constata-se que a mesma era de R$ 5.073,35, ficou abaixo desse nível na primeira metade dos anos 80, e voltou a crescer, situando-se acima desse nível no quadriênio 1986-89. Nos anos 90, o PIB por habitante ficou novamente abaixo de cinco mil reais por ano, no período de 1990-93, mas nos quatro anos seguintes houve uma melhora, a ponto de em 1997 ter atingido o maior nível histórico (R$ 5.415,91). Ressalte-se que esta renda é baixa, ainda levemente abaixo da média mundial (em torno de cinco mil dólares, em 1997, que correspondia, à época, a R$ 5.600), e principalmente quando comparada com a dos Estados Unidos (US$ 28 mil), ou o Japão (US$ 32 mil) ou aos países da Europa Ocidental. Além da renda “per capita” ser baixa, a repartição desta renda é extremamente desigual. De acordo com os dados disponíveis, no Brasil, ocorreu um inequívoco processo de concentração da renda nas mãos das classes mais ricas, em detrimento do percentual de participação das classes mais pobres até os primeiros anos da década de 90. Historicamente, pode-se dizer que o rico ficou mais rico, enquanto o pobre ficou mais pobre. De fato, com base no rendimento da população economicamente ativa do Brasil, aos 10 % mais ricos dessa população cabiam, em 1960, 39,7 % do total da renda agregada; em 1985 essa pequena parcela populacional detinha 47,7 %, e em 1993 essa participação era de 49 %. Por outro lado, os 10 % mais pobres, que detinham apenas 1,9 % da renda agregada em 1960, viram sua participação cair para 0,9 % em 1985 e para 0,7 % em 1993. Destaque-se que, em 1993 a parcela da renda agregada (15,5 %) pelos 1 % mais ricos da população economicamente ativa era superior à parcela apropriada pelos 50 % mais pobres (12,9 %). Isto significa que o 1 % dos mais bem remunerados fica com uma parte da renda social superior a que é canalizada aos 50 % mais mal remunerados. Portanto: 0s 50 % mais pobres detém apenas 12,9 % da renda agregada, ou O 1 % mais rico detém mais renda do que os 50 % mais pobres, ou Os 10 % mais ricos controlam aproximadamente metade da renda agregada Com base nos dados da PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE, para 1996, a população economicamente ativa (PEA), que considera pessoas com 10 anos ou mais, era de 73,1 milhões de habitantes, cujo rendimento médio mensal, a preços de 1997, era de R$ 492,54 por pessoa ocupada, o que corresponde a um rendimento médio anual de R$ 6.403,00, Tabela 3.4. Cabe ressaltar que mais da metade (54,3 %, ou seja, quase 40 milhões de pessoas) dessa população ganha menos de dois salários mínimos, as quais, em conjunto, são responsáveis por uma renda total de R$ 53,0 bilhões/ano, isto é, 11,3 % do rendimento anual da PEA global. Isto significa dizer que aproximadamente metade das pessoas ocupadas no Brasil recebem anualmente apenas R$ 1.338,71 por pessoa. Por outro lado, 2.775 mil pessoas, ou seja, apenas 3,7 % do total ocupado, recebiam acima de R$ 3.456,07, das quais 554,5 mil tinham um rendimento médio mensal superior a 6,8 mil reais, o que corresponde a quase 90 mil reais/ano. Esse grupo, cujo rendimento é superior a 3,4 mil/pessoa ocupada/mês, é responsável por quase um terço (31,8 %) do rendimento global de toda a PEA brasileira, estimado em R$ 468,1 bilhões. Esse valor corresponde a 54 % do produto interno bruto (R$ 865,9 bilhões, em 1997). Em outras palavras, os grupos de maior nível de rendimento mensal (acima de sete salários mínimos), apesar de ser uma minoria (apenas 18,5 % do total das pessoas ocupadas) controlam R$ 322,7 bilhões, ou seja, em torno de 69 % dos ganhos totais da PEA global brasileira. Os dados dessa Tabela mostram resultados muito próximos do acima citado, quais sejam: a) 54,3 % da PEA com menores rendimentos controlam 11,3 % da renda global, isto é: 39,6 milhões de pessoas da PEA têm renda agregada anual de apenas R$ 53,0 bilhões b) 7,5 % da PEA com maiores rendimentos detém 50,5 % da renda global, ou seja: apenas 5,5 milhões de pessoas da PEA controlam R$ 236,6 bilhões da renda agregada. Tabela 3.4 - Rendimento Médio Mensal e Anual da População Economicamente Ativa (PEA) total, no Brasil, 1997. População Economicamente Rendimento Médio por Pessoa Ocupada ------------------------------------------------------Ativa (PEA), 1996 -----------------------------------R$/mês Anual Distância em (R$ ) relação à média Mil Pessoas % 13.809,4 18,9 60,00 780,00 0,12 11.235,5 15,4 111,65 1.451,65 0,23 14.575,1 20,0 137,02 1.781,12 0,28 8.458,6 11,6 245,63 3.192,00 0,50 11.392,4 15,6 441,52 5.739,80 0,90 8.096,5 11,0 818,10 10.635,46 1,66 2.776,8 3,8 2.421,80 31.482,22 4,91 2.221,3 3,0 3.456,07 44.928,65 7,01 554,5 0,7 6.857,34 89.143,34 13,92 73.120,1 100 492,54 6.403,00 1,00 Rendimento Anual da PEA Global --------------------------------R$ bilhões % 10,77 2,3 16,31 3,5 25,96 5,5 27,00 5,8 65,39 14,0 86,11 18,4 87,42 18,7 99,80 21,3 49,43 10,5 468,19 100 Fonte: FIBGE. Dados demográficos e rendimentos por classe. Cálculos do Autor. Obs.: Os rendimentos, com dados de 1996, foram corrigidos para 1997. A Figura 3.8 mostra a distribuição relativa das pessoas ocupadas e de seus respectivos rendimentos agregados anuais da população economicamente ativa, no Brasil. Os dados evidenciam, com muita clareza, a forte concentração dos rendimentos, conforme já é notório. Figura 3.8 - Distribuição Relativa das Pessoas Ocupadas e de seus Respectivos Rendimentos Agregados Anuais da População Economicamente Ativa, no Brasil. Uma outra maneira de chegar aos resultados semelhantes aos acima mostrados é através dos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE em 1996, nas onze principais regiões metropolitanas, cuja Pesquisa contém informações sobre o número de famílias por classe de recebimento mensal domiciliar e respectivos desembolsos globais. Nesses desembolsos, além das despesas correntes (com alimentação, habitação, vestuário, transporte, higiene e cuidados pessoais, assistência à saúde, educação, recreação e cultura, fumo, serviços pessoais e outras despesas diversas), está também incluído o aumento de ativo (aquisição de veículo e de imóveis, reformas de imóveis e outros investimentos, como a poupança) e a diminuição do passivo (empréstimo e carnê e prestação de imóvel). Isto significa dizer que estes dados correspondem a todo o rendimento das famílias. As onze regiões metropolitanas (Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), segundo os dados da POF têm 12.544 mil famílias, com um gasto mensal médio de R$ 1.350,55 por família, o que significa dizer que o dispêndio global anual de todas as famílias residentes nessas regiões deve ficar ao redor de 203 bilhões de reais (Tabela 3.5). Com base na informação de que há 40.221,4 mil domicílios no Brasil e pressupondo-se que a distribuição das famílias nas demais regiões brasileiras corresponde àquela observada nas regiões metropolitanas, o que é perfeitamente aceitável, calculou-se o número de famílias por classe de rendimento mensal. As despesas mensais das famílias das demais regiões foram consideradas como correspondendo a 60 % dos desembolsos verificados nas regiões metropolitanas, uma vez que, nas cidades de pequeno e médio portes, os gastos médios são efetivamente menores. Esse percentual foi estabelecido com base em alguns indicadores do IBGE. Assim procedendo, chegou-se à estimativa de que os 27.677,3 mil domicílios localizados nas regiões não-metropolitanas têm um gasto médio mensal de R$ 810,33, e um desembolso anual agregado de 269 bilhões de reais. Para o país como um todo, as despesas globais das 40,22 milhões de famílias devem estar ao redor de R$ 472 bilhões, o que corresponde a um pouco menos de um mil reais por família/mês. Desse total, 43 % ocorre nas regiões metropolitanas e o restante (57 %) no chamado "interior" (assim entendido: as cidades de pequeno e médio porte e o meio rural). Cabe relembrar, conforme já citado, que há no Brasil, 181 municípios com população entre 100 mil e 500 mil habitantes e que estão incluídos como demais regiões. Os dados mostram também a forte concentração dos dispêndios nas classes de famílias com relativamente elevado rendimento mensal (acima de 20 salários mínimos), que correspondem a menos de 10 milhões de famílias no Brasil, as quais são responsáveis por dispêndios globais em torno de 268 bilhões de reais por ano, ou seja, por 56,7 % do total geral. Por outro lado, as cerca de 13 milhões de famílias (quase um terço do total) que ganham menos de seis salários mínimos mensais "consomem" (apenas) R$ 42,9 bilhões, ou seja, 9 % do dispêndio global. Tabela 3.5 - Despesa Média Mensal e Global Anual Familiar, segundo as Classes de Recebimento Mensal Familiar, nas Regiões Metropolitanas e Demais do Brasil, 1997. Classes de RecebiDemais Regiões do País BRASIL Regiões Metropolitanas mento Mensal ---------------------------------------- -------------------------------------------- ------------------------Familiar (em N.º de Despesas Número de Despesas Despesas Número de Despesas Despesas Mensais Globais Famílias Mensais Globais Salário mínimo - Famílias Famílias Globais (mil) (R$) (R$ bilhões) (mil) (R$) (R$ bilhões) (mil) (R$ bilhões) SM) 1.228,1 232,00 2.709,0 139,20 3.937,1 4,52 Até 2 SM 3,42 7,94 1.020,2 365,33 2.251,0 219,20 3.271,2 5,92 De 2 a 3 4,47 10,39 1.821,7 484,63 4.018,0 290,78 5.839,7 14,0 De 3 a 5 10,60 24,60 817,1 629,90 1.803,0 377,94 2.620,1 8,18 De 5 a 6 6,17 14,35 1.274,6 787,75 2.812,3 472,65 4.086,9 15,95 De 6 a 8 12,05 28,00 897,7 935,69 1.981,0 561,41 2.878,7 13,34 De 8 a 10 10,08 23,42 1.529,3 1.253,63 3.373,0 752,18 4.902,3 30,44 De 10 a 15 23,00 53,45 862,1 1.766,20 1.903,0 1.059,72 2.765,1 24,20 De 15 a 20 18,27 42,48 853,8 2.350,87 1.884,0 1.410,52 2.737,8 31,90 De 20 a 30 24,08 55,98 1.272,8 4.922,58 2.808,0 2.953,55 4.080,8 99,52 Mais de 30 75,19 174,72 966,1 1.375,43 2.135,0 825,26 3.101,1 21,14 Sem Declaração 15,95 37,20 MÉDIA ou 12.544,0 1.350,55 203,30 27.677,3 810,33 269,13 40.221,4 472,43 TOTAL Fonte: FIBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares, 1995-96, publicada em 1997. Retornando a parte teórica, analisa-se a relação entre a renda e o consumo. Para tanto, introduz-se o conceito da chamada curva de Engel, a qual mostra as quantidades de um produto que o consumidor adquirirá por unidade de tempo, os vários níveis de renda, outras coisas permanecendo constantes. Entre os inúmeros estudos que relacionam o consumo com a renda, está o do estatístico alemão Ernst Engel, em 1857, cujo trabalho se resume, em especial, no seguinte conceito de que “quanto mais pobre é uma família, maior é a proporção de sua renda que é gasta com alimentos”. Os princípios da “Lei de Engel” são os seguintes: a) Quanto maior o nível de renda de uma família, menor é a proporção relativa gasta com alimentos. b) Para qualquer nível de renda, a família gasta aproximadamente a mesma percentagem com vestuário. c) O percentual da renda destinada à habitação e energia (gás, eletricidade) é invariavelmente o mesmo. d) À medida que aumenta a renda, a percentagem de gastos com produtos e serviços extras (educação, saúde, lazer, etc.) é cada vez maior. As curvas de Engel, mostradas na Figura 3.9, proporcionam valiosa informação referente aos níveis de consumo dos diversos bens por diferentes indivíduos. À medida que a renda cresce, o consumidor pode adquirir mais ou menos de um produto. Um bem dito normal ou superior é aquele em que os consumidores compram mais com o aumento de renda. Um bem dito inferior é aquele em que os consumidores compram menos à medida em que a renda aumenta. Para cada produto e para cada indivíduo existe uma diferente curva de Engel. Para a grande maioria dos produtos, notadamente os alimentares, o aumento da renda resulta em expansão do consumo, porém geralmente este crescimento do consumo é menos que proporcional à elevação da renda, pelo menos para níveis maiores de renda. Em outras palavras (neste caso é um bem normal), o consumo (C) do bem aumenta com a elevação da renda (Y), mas cresce a taxas decrescentes. Portanto, a proporção da renda gasta com esse produto decresce com o aumento da renda (Figura 3.9.a). Há, também, alguns poucos produtos alimentares, cujo consumo diminui com o aumento da renda (Figura 3.9.b). Esses produtos, ditos inferiores, têm características e propriedades que não são muito desejáveis, razão pela qual os consumidores procuram reduzir o consumo à medida que sua renda cresça. Neste caso, eles passam a adquirir outros bens com qualidades superiores. Um bom exemplo é a carne de segunda, cujo consumidor, quando a renda aumenta para níveis relativamente mais elevados, passa a substituí-la por carne de primeira. No tocante a outros bens, como roupa, imóveis, carnes mais nobres e muitos outros, à medida que a renda aumenta, o consumo deve se expandir mais rapidamente do que o aumento de renda (Figura 3.9.c). Provavelmente, a curva apropriada relacionando quantidade consumida de um produto agrícola numa ampla faixa de renda seria a da Figura 3.9.d. A faixa de renda mais baixa (a camada pobre da população) estaria no segmento AB; a faixa intermediária (classe média, por exemplo), no segmento BF e a faixa mais rica, no segmento FG. Em outras palavras, para a camada da população de baixa renda, devido ao baixo consumo do produto, à medida que sua renda aumenta, as pessoas nesta faixa de renda têm alta propensão marginal a consumir, ou seja, o acréscimo no consumo do produto é proporcionalmente maior que o incremento de renda. Para as pessoas de renda intermediária, cujo consumo “per capita” do produto provavelmente é maior que os de baixa renda, os acréscimos de renda provocam aumentos proporcionalmente menores no consumo. Por outro lado, para a população de alta renda, os incrementos de renda podem até resultar em decréscimo no consumo, devido ao efeito-subsituição, ou seja, eles passam a consumir produtos substitutos de melhor qualidade. Figura 3.9 - Diferentes Relações entre Consumo (C) e Renda (Y). Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), já citada, mostram que os princípios da lei de Engel, enunciados há mais de um século, estão relativamente corretos. Por exemplo, no caso dos gastos com alimentação o percentual cai com o aumento da renda, como é de se esperar: as famílias com renda de até três salários mínimos despendem aproximadamente um terço com alimentos, enquanto para as de 20 ou mais salários a parcela é inferior a 15 %, sendo de apenas 10,3 % para as que têm salários acima de 30 mínimos. Em média, cada família das regiões metropolitanas brasileiras destina a importância de R$ 221,33 por mês com alimentos, ou seja, R$ 7,38 por família/dia, ou R$ 2.656,00 por ano Isto significa dizer que as 40,22 milhões de famílias do país devem ter um dispêndio agregado anual com alimentos levemente superior a 100 bilhões de reais. Os alimentos "absorvem" um sexto do dispêndio global de uma família. O item habitação tem um percentual muito elevado (um quinto dos desembolsos totais), porque engloba despesas como: aluguel, artigos de limpeza, mobiliários, eletrodomésticos e equipamentos do lar, os quais, cada vez mais estão fazendo parte dos lares brasileiros, em especial, após o início do Plano Real. Tabela 3.6 - Despesa Média Mensal Familiar, Total e com Alimentação, e percentual (%) com os principais Tipos de Despesa, Brasil, 1996. Despesa Desembolso Classes de RecebiPercentual (%) da Despesa Média Mensal Familiar com: Familiar com --------------------------------------------------------------------------Total mento Mensal Alimentação Alimen- Habi- Vestu- Trans- Saúde Educação Lazer Familiar Familiar (em (R$/Mês) (R$/Mês) Tação tação ário porte Salário mínimo -SM) 232,00 Até 2 SM 24,8 5,0 9,2 9,3 1,4 1,4 77,74 33,5 365,33 23,7 5,6 9,2 7,5 1,4 1,1 De 2 a 3 124,00 33,9 484,63 23,8 5,7 10,8 6,5 1,7 1,6 De 3 a 5 146,42 30,2 629,90 De 5 a 6 24,1 5,8 10,5 6,5 1,8 2,2 165,94 26,3 787,75 De 6 a 8 22,9 5,6 10,7 6,7 2,1 2,4 192,78 24,5 935,69 De 8 a 10 22,4 5,6 10,1 7,2 2,2 2,3 211,56 22,6 1.253,63 De 10 a 15 22,2 5,5 10,6 7,0 3,0 2,7 240,23 19,2 1.766,20 De 15 a 20 21,8 5,2 11,3 7,5 3,9 2,9 290,48 16,4 2.350,87 De 20 a 30 19,9 4,4 10,3 6,7 4,4 2,6 348,96 14,8 4.922,58 Mais de 30 17,7 3,8 9,1 5,7 4,0 2,5 507,59 10,3 1.375,43 25,4 5,3 6,8 6,9 4,4 2,9 Sem Declaração 159,96 11,6 MÉDIA ou 1.350,55 221,33 16,4 20,8 4,7 9,7 6,5 3,5 2,5 TOTAL Fonte: IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 1995-96. Obs.: As despesas com habitação incluem: aluguel, impostos e taxas, manutenção do lar, artigos de limpeza, mobiliários e artigos do lar, eletrodomésticos, equipamentos do lar, som e TV e consertos e manutenção de artigos do lar. Elasticidade-Renda Os coeficientes de elasticidade-renda são bons indicadores da resposta do consumidor a variações em sua renda. A elasticidade-renda (Ey) da demanda é expressa como a percentagem de mudança na quantidade adquirida (ou seja, no consumo) dividida pela variação relativa na renda, a qualquer ponto ao longo da curva de Engel. Matematicamente, tem-se: Erro! onde: C2 C1 Y2 Y1 = = = = quantidade adquirida após o aumento da renda; quantidade adquirida antes do aumento de renda; nível de renda após o aumento de renda; nível de renda antes do aumento de renda. Exemplo: admita que ao nível de renda mensal de R$ 1.000,00 o consumidor adquiria 2 quilos de carne por mês. Quando sua renda aumentou para R$ 1.500,00, ele passou a comprar 2,5 quilos por mês, ao mesmo preço unitário anterior. Neste caso, a elasticidade-renda é de 0,55, ou seja: E y = Erro! = 0,55 Isto significa que, neste caso, e neste segmento da curva de Engel, um acréscimo de 1 % na renda deve resultar em 0,55 por cento em aumento na quantidade adquirida de carne. Se a elasticidade-renda é maior que a unidade e maior que zero, diz-se que o bem é normal. Se é maior que a unidade, diz-se que é superior, e se for menor que zero (relação inversa), diz-se que bem é um produto inferior. O conhecimento das elasticidades-rendas da demanda para os produtos agrícolas é importante para estimar o impacto de mudanças de renda sobre as compras de alimentos. A Tabela 3.7 lista alguns produtos e seus coeficientes de elasticidade-renda para o Brasil e os Estados Unidos. Os dados sobre elasticidaderenda evidenciam os segmentos aspectos: a) A maioria dos produtos agrícolas apresentam um valor de elasticidade-renda relativamente baixo, variando entre 0,2 e 0,5, ou seja, são bens normais. Os produtos de origem animal têm elasticidade-renda, via de regra, mais elevada, significando que aumentos de renda tendem a estimular mais intensamente o consumo de produtos pecuários do que os de origem vegetal. b) Nos países de renda mais elevada, a elasticidade-renda para alimentos é relativamente mais baixa. Como exemplo, no Brasil, os alimentos no agregado têm uma elasticidade-renda em torno de 0,4; enquanto nos EUA é de 0,15. c) Alguns alimentos apresentam a característica de bens inferiores, notadamente se há um produto substituto de melhor qualidade e/ou aceitação. Como exemplo, a farinha de milho, no Brasil (substituto: farinha de trigo); e a margarina, nos EUA (substituto: manteiga). d) Muitos produtos e serviços não-agrícolas têm demanda relativamente elástica à renda, ou seja, são bens superiores. Como exemplo, a demanda de bens duráveis, roupa, consumo em restaurantes, entre outros. Tabela 3.7 - Estimativas de Elasticidades-renda (Ey) para Alguns Alimentos, Brasil e Estados Unidos. PRODUTO Açúcar Adoçante Arroz Banana Batata-inglesa Café Carne de boi Carne de frango Carne de porco Farinha de mandioca Farinha de milho Farinha de trigo Feijão Frutas e verduras Fumo Laranja Leite Manteiga Margarina Óleos vegetais Ovos Peixe Queijo Restaurante (refeições fora de casa) Roupa Bens de consumo durável ALIMENTOS EM GERAL NÃO-ALIMENTOS Ey ou Efeito da variação de 1 % de na renda dos consumidores sobre o consumo (variação em %) -------------------------------------------------------------------------------------BRASIL EUA 0,13 0,01 n.d 0,42 0,10 0,15 0,10 0,10 0,61 0,10 0,25 0,30 0,94 0,47 1,10 0,50 0,80 0,18 - 0,03 n.d - 0,14 n.d 0,32 0,35 - 0,11 - 0,49 n.d 0,44 0,60 1,02 0,56 0,26 0,60 0,16 0,65 0,53 0,15 - 0,25 0,42 0,49 0,62 0,16 0,40 0,30 0,85 0,45 n.d 1,48 n.d 2,01 1,20 2,20 0,40 0,15 n.d 1,20 (*) Fonte: Várias (*) Outros valores de Ey para os EUA: a) produtos elásticos: passagens aéreas, 5,82; cinema, 3,41; serviços domésticos, 2,45; eletricidade, 1,94; refeições em restaurante, 1,61; gasolina, 1,36; carros, 1,07; b) produto de elasticidade unitária: serviços dentários, 1,0; c) produtos inelásticos: calçados, 0,94; fumo, 0,86; serviços de consertos de calçados, 0,72; bebidas alcoólicas, 0,62; móveis, 0,51; jornais e revistas, 0,38; e telefone, 0,32. Em conclusão, a elasticidade-renda é, algumas vezes, relacionada ao nível de renda “per capita” do país e às respectivas taxas de crescimento populacional. De um modo geral, para países com baixo nível de renda por habitante, o efeito da renda na taxa de crescimento da demanda é equivalente ao efeito do crescimento da população. Em países com nível médio de renda “per capita”, o efeito da renda é maior do que o efeito do crescimento populacional. Para um país como o EUA com elevado nível de renda “per capita”, o efeito da renda sobre a demanda de alimentos é menor do que o efeito do crescimento populacional. Ressalte-se que esta relação inversa entre nível “per capita” e elasticidade-renda da demanda dos produtos agrícolas tem contribuído historicamente para a redução da participação relativa da agricultura na formação do Produto Interno Bruto (PIB) dos países, de um modo geral, e do Brasil, em particular. Esta reversão das participações do setor agrícola na geração do PIB se relaciona à constatação de que, à medida que a renda nacional cresce, as elasticidades-renda da procura de produtos agrícolas se tornam menores. Consequentemente, o crescimento da renda causa uma pressão cada vez menor sobre o aumento da demanda de produtos primários, especialmente de produtos alimentícios. Destaque-se que o modelo econômico brasileiro, que foi concentrador de renda, resultou em elasticidade-renda da demanda de produtos agrícolas ainda mais baixa e contribui para a redução da participação da agricultura na renda nacional. De um modo geral, os alimentos ricos em calorias e carbohidratos têm uma elasticidade-renda menor do que os alimentos ricos em proteínas. 3.3.3 - Preços de Produtos Substitutos e Complementares Os efeitos sobre a demanda de um bem, resultantes das mudanças nos preços de produtos que com ele estão relacionados, definem a natureza destas relações. Dependendo dessas relações, os produtos podem ser ditos substitutos ou complementares entre si. Vejamos os casos, por exemplo, do chá e do café. O produto relacionado é substituto ou competitivo (café, por exemplo), se uma elevação no preço do café faz com que a curva de procura para chá se desloque para a direita (de D0 para D1). Esta mudança decorre da decisão dos consumidores em reduzir o consumo do produto (café), cujo preço se elevou, substituindo-o pelo bem (chá), que está relativamente mais barato. É claro que aquelas pessoas cegamente "amantes" do café dificilmente deixariam de tomar esse produto só porque o seu preço foi majorado, mas é provável que sempre haverá pessoas dispostas a substituir, pelo menos parcialmente, café por chá. Um produto relacionado é complementar (café, por exemplo), se um aumento no seu preço faz com que a curva de demanda para um outro bem (leite, por exemplo) se desloque para a esquerda (de D0 para D2). Um preço mais elevado de um produto relacionado (café) induz o consumidor a comprar uma menor quantidade deste bem (lembre-se que, neste caso, há um deslocamento ao longo da curva de demanda para café). Considerando-se que dois produtos são complementares, quando o aumento no consumo de um bem implica maior consumo do outro bem, então o aumento no preço do café provoca uma redução no consumo de leite, ou seja, a curva de procura para leite desloca-se para a esquerda (D2). A Figura 3.10 mostra o que acontece com a demanda de café (um movimento ao longo de sua curva de procura) relativamente às demandas de chá e de leite (deslocamento das curvas). Figura 3.10 - Efeito do Aumento de Preço entre Produtos Substitutos e Complementares. Há uma maneira de se estimar o grau de relação entre dois produtos, que é através da elasticidade-cruzada. O coeficiente da elasticidade-cruzada mede a extensão da relação de demanda entre dois diferentes produtos. Considerando-se dois produtos X e Y, a elasticidade cruzada (Exy) é uma medida da variação percentual na quantidade procurada de um produto X devido a uma mudança relativa no preço de Y (com a renda e todos os outros preços mantidos constantes). Exy = Erro! onde: Q'x Qox P'x Pox = = = = quantidade de X após a mudança de preço em Y; quantidade de X antes da mudança de preço em Y; preço de Y após a mudança; e preço de Y antes da mudança. Se o coeficiente da elasticidade-cruzada é positivo e relativamente grande, os produtos são substitutos e competem pela (limitada) renda do consumidor a ser gasta com alimentos. Para coeficientes negativos, os produtos são complementares, e, portanto, tendem a ser usados (isto é, “consumidos”) juntos. Se a elasticidade é igual a zero, diz-se que os produtos são independentes. A maioria dos produtos tendem a ser substitutos. A Tabela 3.8 mostra estimativas de coeficientes de elasticidade-cruzadas para alguns produtos nos Estados Unidos e para carnes no Brasil. Tabela 3.8 -Estimativas de Elasticidades-Cruzadas da Demanda para Produtos Selecionados, Brasil (1970) e EUA (1980). (em %) VARIAÇÕES DE 1% NO PREÇO DO(A) Carne de Porco Carne de Frango Peixe Queijo Ovos Leite "in natura" Batata EFEITO RESULTANTE NO CONSUMO DA Carne Bovina Carne suína Brasil (a) EUA (b) EUA (b) 0,21 0,35 n.d n.d n.d n.d n.d 0,082 0,067 0,003 0,001 0,001 0,003 0,001 0,076 0,035 0,004 0,002 0,003 0,005 0,001 FONTES: (a) BRANDT, S.A. (2); (b) PURCELL, W. (23) Obs: “n.d” significa não disponível. Convém observar que os coeficientes da elasticidade-cruzada não são simétricos. Quando os preços da carne de porco aumentam (ou diminuem) em 1 %, a quantidade de carne bovina adquirida deve aumentar (ou diminuir) em 0,082 %. Mas quando os preços da carne bovina mudam, a relação é levemente diferente. Cada aumento (ou diminuição) de 1 % nos preços da carne bovina faz aumentar (ou diminuir) a quantidade de carne de porco adquirida em 0,076 %. A razão para isto se deve ao comportamento do consumidor, que é mais relutante a deixar de comprar carne bovina e passar para carne suína, do que vice-versa. 3.3.4- Outros Fatores que Afetam a Procura Além dos aspectos demográficos e econômicos (renda e preços de outros produtos), a demanda de produtos agrícolas pode ser afetada por fatores sociais e ambientais, entre os quais se destacam: Ocupação - O tipo de ocupação do consumidor pode afetar as suas necessidades. Por exemplo, as pessoas que desempenham trabalho físico demandam um tipo de vestuário diferente das de escritório ou de profissões liberais e também requerem uma alimentação com maior valor calórico. Geografia e Clima - As condições climáticas, principalmente num país continental como o Brasil, influem sobre a alimentação e o vestuário. Por exemplo, o consumo de leite em Belém do Pará é de apenas 6,0 litros por domicílio/ano, enquanto em Porto Alegre é de 86,2 litros, ou o elevado gasto com farinha de mandioca em Salvador (R$ 34,7/família/ano) relativamente à Curitiba (R$ 2,0/família/ano). Sexo - As mulheres compram mais que os homens e a tendência é aumentar a participação delas devido ao crescente número de mulheres no mercado de trabalho. Estima-se que 70 % dos produtos de consumo são adquiridos por mulheres. Moda - Devido à melhoria nos meios de comunicação e transporte, a moda tem afetado cada vez mais a comercialização, principalmente no ítem vestuário. Nacionalidade e Etnia - A nacionalidade e a origem étnica formam tradições comuns que afetam a natureza das necessidades de consumo, especialmente a alimentação e o vestuário. Por exemplo, o consumo elevado de peixe cru, no Japão, e o tipo de vestuário da mulher da Índia diferem em muito de qualquer outro país. Disponibilidade de Mercadorias - A falta temporária de um produto no mercado influi nas compras do consumidor, que se vê forçado a aceitar os substitutos ou adiar as compras. O Plano Cruzado, em 1996, foi pródigo em exemplos deste tipo. Religião - Como a nacionalidade e etnia, a religião tem influência sobre o consumo, de modo permanente ou esporádico. Por exemplo, o povo indiano, por considerar o boi um animal sagrado, não come carne bovina. Um outro exemplo: a Igreja Católica recomenda não consumir carne na Sexta-Feira Santa. 3.4 – DEMANDA EM NÍVEL DE PRODUTOR Até aqui tem-se analisado a demanda em nível de consumidor, que é quem determina a forma e a posição da curva de demanda. É por esta razão que a demanda em nível de consumidor ou varejo é denominada de “demanda primária”. O mercado, visto como um sistema integrado de estágios intermediários entre o produtor e o consumidor, caracteriza-se pela presença de compradores (e vendedores também) de produtos agrícolas em todos os níveis intermediários do sistema. Quando se considera o sistema como um todo, uma característica marcante é o grau diferenciado de influência que os participantes do processo desempenham na formação de preço. Em geral, a capacidade dos “intermediários” de influenciar os preços ou os termos de troca aumenta à medida que o produto vai ultrapassando os diversos estágios na direção do consumidor. O papel de tomador de preço é restrito, notadamente em nível de produção original, ou seja, ao nível do produtor agrícola. Por exemplo, em abril de 1998, o preço de leite, na maioria das regiões brasileiras, estava apenas R$ 0,20 por litro para o produtor (pecuarista), enquanto os consumidores estavam pagando de três a cinco vezes mais. Para melhor ilustrar esse diferenciado poder na formação dos preços, analisa-se o setor de carne, cujo preço é determinado, nos vários níveis (consumidor, atacadista e produtor), como segue: a) A cadeia varejista (supermercado e açougues) avalia as decisões de “sim-não” dos consumidores ao nível de um determinado preço para vários cortes de carne (carnes de primeira e de segunda). Assim, com base nos preços que os consumidores estão dispostos a pagar e nas quantidades de carne dos vários tipos obtidos de uma carcaça, os varejistas calculam que preço podem eles oferecer pela carcaça (dianteiro e traseiro), de modo a obterem uma certa margem de lucro. b) O frigorífico converte o preço oferecido pelas carcaças de várias qualidades em preços da arroba do boi gordo a ser adquirido dos pecuaristas, resguardando a sua margem de lucro. c) O pecuarista, ao receber esta “oferta” (preço) pelo seu boi vivo, quase não tem capacidade de influenciar o preço de sua mercadoria. Ele é um tomador de preço e não há ninguém abaixo dele, dentro da cadeia de produção-comercialização, que lhe permita obter uma eventual margem maior através do ajuste de preços de compra. Seu “preço de compra” é essencialmente seu custo de produção. Na análise de preço e de mercado, refere-se à demanda do consumidor como a demanda primária, porque é a esta demanda que todas as outras demandas se relacionam. Abaixo do nível do varejista, a função de demanda que os atacadistas (frigoríficos) e os produtores enfrentam é essencialmente uma demanda derivada, ou seja, uma função direta do preço ao nível acima, próximo da margem de operação das firmas que estão no estágio acima do sistema. Ao nível dos frigoríficos, a empresa pode deixar de operar, se as margens que estão sendo obtidas resultam em prejuízo. Por outro lado, ao nível de pecuarista, a flexibilidade é mais limitada, uma vez que, estando com o gado em condições de abate (boi gordo), o pecuarista praticamente se sente “forçado” a entregar o gado ao preço oferecido pelo frigorífico. Cada produto ao nível de consumidor consiste não apenas da matéria-prima bruta, mas também das utilidades de tempo, forma e lugar. À carne adquirida no supermercado ou açougue foram adicionados os serviços de abate, corte, armazenamento, transporte e embalagem. Portanto, os economistas dizem que a demanda para carne ao nível do pecuarista é uma demanda derivada, porque ela se deriva (depende) da demanda primária (ao nível do consumidor). É possível comparar diretamente curvas de demanda em dois (ou mais) níveis do sistema de comercialização, somente se expressar as quantidades em um determinado nível (consumidor, por exemplo) em termos das quantidades do outro nível (produtor, por exemplo). Usualmente expressa-se a quantidade, em todos os níveis, em termos equivalentes ao nível de produtor. Por exemplo, se alguém desejar comparar a demanda por lombo ao nível de pecuarista, tem de reconhecer que este tipo de carne constitui só aproximadamente 10 % da carcaça e que a carcaça representa apenas em torno de 57 % do peso do animal vivo. Dada a possibilidade de se expressar a demanda em termos de unidades equivalentes de preço e quantidade, pode-se obter curvas de demanda para dois ou mais níveis de mercado, no mesmo diagrama. A Figura 3.11 ilustra relações de demanda hipotéticas para dois níveis de mercado (consumidor e produtor). Nesta Figura, Dv é a demanda a nível de varejista (ou consumidor) e Dp é demanda a nível de produtor. Dv também pode ser referida como a demanda primária, e Dp a demanda derivada. A diferença entre estas duas curvas de demanda é o custo de comercialização associado à cada quantidade de demanda do produto. No caso da demanda por carne bovina, é o custo para converter o boi gordo em produtos finais (diversos tipos de carne) requeridos pelos consumidores. Por exemplo, Dv é a demanda a nível de varejo (retalho) por carnes contidas no animal vivo. A curva Dp é a demanda equivalente por esta carne ao nível do produtor. Portanto, a curva Dp é derivada da Dv ao se subtrair todos os custos necessários para transformar o animal vivo em diversos tipos de carne. Na Figura 3.11, assume-se que os custos de comercialização são (constantes) de R$ 2,00/quilo e incluem os custos de abate, processamento, transporte, armazenamento, embalagem da carne e uma certa margem de lucro. Se, por ventura, o custo unitário de comercialização é constante R$ 2,00/kg (como no exemplo), independente da quantidade comercializada, as curvas Dv e Dp são paralelas, o que significa que ambas têm a mesma declividade. Ressalte-se, contudo, que apesar de terem a mesma declividade, suas elasticidades, para uma determinada quantidade, não são iguais, conforme se mostra a seguir. Figura 3.11 - Curvas (hipotéticas) de Demanda para Carne aos Níveis de Produtor e de Consumidor. Utilizando-se a fórmula básica da elasticidade, as elasticidades das curvas de procura em nível de consumidor (Ey) e de produtor (Ep) seriam: Ev = Erro! Ep = Erro! Por serem paralelas, as declividades de ambas as curvas são iguais, ou seja, Erro! Isto significa que os inversos das declividades são também iguais entre si e, portanto, as expressões entre parênteses são iguais. Assim: Erro! Considerando-se que Py é (necessariamente!) maior que Pp, conclui-se que Ev > Ep, ou seja, caso o custo unitário de comercialização seja constante (curvas paralelas), as elasticidades-preço da demanda são menores ao nível de produtor (Ep) do que o nível de varejo (Ev). Aplicando-se os dados da Figura 3.11 à fórmula da elasticidade-arco, tem- se: Erro! Erro! A Figura 3.12 mostra como a elasticidade-preço dos alimentos geralmente aumenta à medida que eles se movimentam na direção do consumidor. Isto reflete as maiores possibilidades de substituição por outras marcas de produto no supermercado local do que a nível de produtor. Portanto, a curva de demanda ao nível do produtor é mais inelástica do que ao nível do consumidor. Desta maneira, quanto maior o custo de comercialização, maior a diferença entre os preços; e, portanto, maior a diferença entre as duas elasticidades. Em outras palavras, uma variação na produção pode causar uma variação relativamente maior no preço para o produtor do que para o consumidor. Isto explica porque em anos de uma supersafra os preços caem relativamente mais para os agricultores do que para os consumidores (para estes, muitas vezes, nestes casos, os preços não chegam nem a cair). Figura 3.12 - Elasticidade da Demanda aos Níveis de Vários Mercados. 3.5 - O CONSUMO “PER CAPITA” NO BRASIL Como foi observado no início deste capítulo, o consumo é resultado final de todo o processo de produção e distribuição de produtos. Entre as várias causas determinantes do consumo de alimentos pode-se destacar os fatores físicos e os econômicos. Os fatores físicos, que no Brasil assumem grande importância, como localização, tipo de solo, ciclo biológico da produção e o tempo, influenciam o consumo à medida que eles afetam a produção agrícola. Esta influência ocorre mais acentuadamente em áreas menos desenvolvidas (Nordeste, por exemplo), onde o sistema de transporte e distribuição é relativamente mais deficiente e onde grande parte da população vive em nível de subsistência. Com relação aos fatores econômicos, o nível e a distribuição de renda dos consumidores são mais importantes, e influenciam tanto a composição dietética como a quantidade de alimentos consumida. Ressalte-se que o percentual de gasto com alimentação decresce à medida que a renda familiar aumenta, conforme já foi mencionado, quando se fez referência à lei de Engel. No Brasil, os alimentos, em particular, exercem uma grande influência no orçamento das famílias, uma vez que os gastos com alimentação representam entre um décimo (para as famílias de nível de renda mais elevado, ou seja, acima de 30 salários mínimos) um terço para as de nível mais baixo (até 3 SM), conforme mostrado a seguir. Embora os dados não são mostrados, sabe-se que para as famílias de renda até um salário mínimo o percentual despendido com alimentos ultrapassa metade da renda familiar. Percentual de Gastos com Alimentos - Famílias com até 3 salários mínimos - Famílias com mais de 30 salários mínimos 1987 1996 38,9 10,9 33,7 10,3 Também já foi referido que, considerando-se o desembolso global de uma família, a alimentação representa, em média, 16,4 % do total das despesas, variando de 12,7 % em Goiânia a 23,3 % em Fortaleza. Entretanto, levando-se em consideração apenas as despesas com consumo (alimentação, habitação, vestuário, transporte, saúde, cuidados pessoais e outras despesas), os alimentos absorviam 23,0 % em 1996 (contra 25,4 % em 1987), sendo que o menor percentual foi em Goiânia (18,8 %) e o maior em Fortaleza (30,7 %). Analisando-se apenas dez importantes produtos do consumo alimentar domiciliar “per capita” da Pesquisa de Orçamentos Familiares, tanto em 1996 como em 1987, no Brasil, verificam-se acentuadas alterações de consumo no período compreendido, conforme pode ser visto na Tabela 3.9, levando-se em consideração apenas as médias para o país. Destaca-se o aumento do consumo de biscoito (28 %), frango 16 %), carne bovina de Segunda (7 %) e carne bovina de primeira (6 %); e diminuição do consumo de farinha de trigo (29 %), leite de vaca (19 %), arroz polido (16 %) e feijão (15 %). Entre cada região metropolitana, constata-se uma variação muito grande, como é o caso do leite de vaca, cujo consumo em Porto Alegre chega a ser de 13,6 vezes maior do que em Belém do Pará. Tabela 3.9 – Consumo Alimentar Domiciliar “per capita” de Produtos (em kg/ano), Brasil (1987 e 1996) e em algumas Regiões Metropolitanas, 1996. PRODUTO MÉDIA DO BRASIL 1987 1996 60,8 Leite de vaca 49,0 29,9 Arroz Polido 24,9 20,0 Pão Francês 17,4 14,4 Frango 16,8 9,8 Carne Bovina de Primeira 10,4 11,8 Feijão 9,9 8,3 Carne Bovina de Segunda 8,9 3,0 Biscoito 3,9 4,2 Macarrão 3,7 4,1 Farinha de Trigo 2,8 TOTAL DOS 10 PRODUTOS 166,3 147,7 Fonte: IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares, 1987 e 1996. (Em quilos/habitante/ano) REGIÃO METROPOLITANA,1996, DE: Maior Consumo Menor Consumo 6,0 (Belém) 86,2 (Porto Alegre) 13,5 (Recife) 42,8 (Brasília) 23,5 (Recife) 9,8 (Goiânia) 25,0 (Belém) 13,7 (Goiânia) 15,8 (Belém) 7,0 (Salvador) 15,2 (Fortaleza) 6,5 (Porto Alegre) 22,3 (Belém) 6,3 (Rio de Janeiro) 6,9 (Recife) 2,1 (Goiânia) 5,3 (Curitiba) 2,1 (Goiânia) 12,8 (Curitiba) 1,3 (Belém) 255,8 68,3 A despesa média mensal familiar de todas as regiões metropolitanas brasileiras com alimentação em 1996 foi de R$ 221,33, o que corresponde a 23 % em relação às despesas de consumo. Essa despesa eqüivale a R$ 2.655,96 por família por ano, ou R$ 717,82 por pessoa/ano, uma vez que o tamanho médio da família era de 3,7 pessoas. A região com maior valor de gastos com alimentos foi Brasília com R$ 259,47 por família/mês, ou seja, 17 % acima da média das demais regiões; enquanto, por outro lado, a de menor despesa com alimentação foi Goiânia com R$ 158,16, isto é, 29 % abaixo da média global das regiões metropolitanas (Tabela 10). Tabela 10 – Despesa Média Mensal Familiar com Alimentação e Percentual da Despesa com Alimentação em Relação às Despesas de Consumo, 1996. REGIÃO METROPOLITANA BRASILIA BELÉM SÃO PAULO CURITIBA PORTO ALEGRE DESPESA MÉDIA MENSAL FAMILIAR R$ % 21,3 259,47 28,13 247,27 21,3 238,38 21,3 236,39 23,1 228,21 DISTÂNCIA EM RELAÇÃO À MÉDIA 1,17 1,12 1,08 1,07 1,03 BELO HORIZONTE 227,11 SALVADOR 215,50 FORTALEZA 209,08 RECIFE 201,97 RIO DE JANEIRO 196,34 GOIÂNIA 158,16 MÉDIA DAS REGIÕES 221,33 Fonte: IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 22,8 28,4 30,7 28,8 23,9 18,8 23,0 1,03 0,97 0,94 0,91 0,88 0,71 1,0 Analisando-se os principais grupos de alimentos, constata-se que as maiores despesas ocorrem com carnes e pescados, que absorvem R$ 28,72 por família/mês, na média global dos domicílios, independente do nível de rendimento (Tabela 11). Para as famílias de baixa renda (até 2 salários mínimos) os gastos com esses tipos de produtos foi de apenas R$ 10,85/família/mês, enquanto as de alta renda (ou seja, mais de 30 salários) despendem R$ 50,30. O grupo do leite e derivados ficou em segundo lugar com aproximadamente R$ 24,00 por domicílio/mês, com variação de R$ 8,91 para as famílias de até 2 salários mínimos e de R$ 47,84 para as com rendimento acima de 30 SM. Os demais com gastos mensais acima de dez reais, foram: panificados (R$ 19,53), bebidas e infusões (R$ 16,58) e aves e ovos (R$ 10,52). Esses cinco grupos de produtos, juntos, são responsáveis por cerca de cem reais por família/mês, o que corresponde a 60,2 % da despesa mensal familiar com alimentação no domicílio. Tabela 11 – Despesa Média Mensal Familiar com Alimentação no Domicílio, para os Principais Grupos de Alimentos, na Média das Regiões Metropolitanas, Brasil, 1996. PRINCIPAIS GRUPOS DE DESPESA COM ALIMENTOS Carnes e pescados Leite e Derivados Panificados Bebidas e infusões Aves e ovos Frutas Cereais, leguminosas e Oleaginosas Açúcares e derivados Farinhas, féculas e massas Legumes e verduras Alimentos preparados Sal e condimentos Tubérculos e raízes Óleos e gorduras Enlatados e conservas ALIMENTAÇÃO NO DOMICÍLIO (a) ALIMENTAÇÃO FORA DOMICÍLIO (b) DESPESAS COM ALIMENTAÇÃO (a+b) DESPESA MÉDIA MENSAL FAMILIAR (R$) Média Global Até 2 salários (*) Mais de 30 SM (*) 28,72 23,99 19,53 16,58 10,52 9,63 9,35 7,53 5,54 5,26 5,03 3,40 3,08 2,70 1,58 165,0 56,33 221,33 10,85 8,91 10,80 5,75 6,64 2,70 6,13 2,92 3,31 2,12 0,90 1,36 1,16 1,31 0,39 68,05 9,70 77,74 50,30 47,84 30,80 38,66 15,22 22,71 11,40 15,67 8,68 10,62 14,79 5,01 5,20 4,64 4,96 323,57 184,02 507,59 Fonte: IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares, 1996. (*) Média da despesa mensal familiar para as famílias que ganham até dois salários mínimos (SM) e para as que ganham mais de 30 SM. Em termos globais (ou seja, o consumo de todos os alimentos), tem havido uma tendência de aumento do consumo global “per capita”, no Brasil. Segundo dados do IBGE, em 1975, o consumo era, em média, de 350,9 kg/habitante/ano, e de 378 kg/hab./ano em 1988. Embora os dados da POF de 1996 ainda não haviam computados os totais, no início de 1998, estima-se que o consumo atual (1998) de alimentos no agregado esteja ao redor de 400 quilos por habitante por ano, o que corresponde a aproximadamente 1,1 kg de produto diariamente. Em comparação com os USA, por exemplo, o consumo “per capita” brasileiro (em torno de 400 kg) é relativamente baixo, uma vez que este consumo representa menos da metade da quantidade ingerida pelo americano (864 kg/ano), sem considerar o aspecto qualitativo de produtos nobres, no mercado norte-americano, como carnes em geral (cujo consumo total é de 124 kg/hab/ano), leite e derivados (mais de 200 kg/hab/ano) e frutas (mais de 100 kg/hab/ano) e hortaliças (mais de 170 kg/hab/ano). Isto significa dizer que o consumo/pessoa nos EUA é muito superior à media brasileira. 3.5.1- Evolução da Disponibilidade Interna de Alimentos Tendo em vista que não se dispõe de dados sistemáticos sobre a evolução (tendência) do consumo “per capita” de alimentos ao longo dos anos, utiliza-se, como, aproximação (“proxi”), a disponibilidade interna “per capita” para consumo humano (DIPCH). Para o cálculo da DIPCH, para um determinado ano, procede-se da seguinte maneira: soma-se o volume do estoque final do ano anterior (“carry-over”) com a produção e a importação do produto e subtrai-se a exportação e o consumo não-humano, dividindo-se o resultado pela população daquele ano. A variável consumo “não-humano” resulta da soma dos itens: consumo animal, sementes e perdas, não estando incluída a transformação industrial. Os dados da Tabela 3.12 e Figura 3.13 mostram a evolução do consumo “per capita” dos principais alimentos e outros produtos agrícolas, ao longo das quase três últimas décadas. Os alimentos com maior volume consumido são: em primeiro lugar, o leite e derivados, cujo volume é de 139 litros por habitante por ano (incluindo-se todos os seus derivados). Considerando-se que o consumo global de cada brasileiro situa-se em torno de 400 quilos de alimentos por ano, pode-se dizer o leite e seus derivados correspondem a quase um terço do total. O trigo, através dos vários produtos panificados, ocupa a segunda posição, com cerca de 53 kg/hab/ano, seguido do arroz com aproximadamente 50 kg/hab/ano. No quarto e quinto lugares, estão as carnes bovina e de frango, com 32 e 24 kg/hab/ano, respectivamente. Esses cinco produtos, em conjunto, correspondem a quase trezentos quilos por habitante por ano, ou seja, eles representam mais de 70 % do total consumido por cada brasileiro, na média. Tabela 3.12 – Consumo “Per Capita” dos Principais Produtos Agrícolas no Brasil, 1988-97. PRODUTOS ALGODÃO Pluma ARROZ Beneficiado BATATA Inglesa CAFÉ CACAU (a) CARNE BOVINA CARNE FRANGO CARNE SUÍNA SUCO LARANJA FEIJÃO LEITE MILHO (*) OVOS (c) PEIXES SOJA em Grão (*) FARELO de SOJA(*) ÓLEO de SOJA TRIGO 1970-80 1980-90 4,1 2,3 15,8 4,0 7,3 19,0 9,0 8,5 12,2 90 11,3 94 167 96,0 5,5 80,0 4,0 60,0 61,0 (Quilos/habitante/ano) 1995 1996 1997 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 6,0 51,1 5,7 51,6 2,4 0,35 27,8 12,2 8,2 2,5 0,44 30,9 12,9 6,9 5,0 51,7 15,6 2,6 0,51 32,5 14,2 6,9 18,6 98 181 18,3 99 183 16,4 100 171 4,9 51,9 15,5 2,8 0,55 31,0 15,7 7,7 0,12 17,9 103 172 4,9 51,7 16,3 2,8 0,45 30,0 16,7 8,1 0,12 18,8 106 191 101 5,5 51,7 15,7 2,9 0,50 30,1 18,0 7,8 0,12 18,4 106 204 105 5,5 51,4 16,2 2,9 0,57 31,5 19,2 8,3 0,14 18,3 111 214 103 5,2 50,9 17,2 3,1 0,64 32,9 23,7 9,2 0,12 18,3 132 229 102 5,2 50,4 17,1 3,3 0,65 33,0 23,3 9,4 0,14 18,3 136 230 100 5,3 50,0 15,7 3,6 0,66 32,0 24,0 9,5 0,14 18,3 139 232 90 6,0 111 17,1 14,0 53,9 129 23,1 15,4 49,7 115 20,1 14,7 46,8 95,5 22,7 14,6 50,5 108 22,2 15,2 52,5 121 23,3 15,3 52,2 133 29,2 15,8 54,0 150 32,0 16,6 52,5 137 33,4 16,9 54,6 129 33,7 16,9 53,2 Fonte: IBGE, CONAB e FNP Agrianual 98. (a)Em eqüivalente “Amêndoas”; (b) Litros/habitante/ano (inclui o leite “in natura” e os derivados); (c) Número de ovos/habitante/ano. Descontando a casca, em média, cada 20 ovos eqüivalem a um quilo. (*) Para esses três produtos (milho, soja em grão e farelo) não se trata de consumo direto humano, mas apenas indireto, ou seja, os valores representam, na realidade, disponibilidade “per capita”. Obs: Os valores que constam para os períodos de 1970-80 e 1980-90 são também médias anuais. Para o ARROZ, a conversão de “em casca” para “beneficiado” foi obtida multiplicando-se os dados “em casca” pelo coeficiente 0,68, ou seja, o volume de arroz beneficiado corresponde a cerca de 68 % do volume “em casca”. Figura 3.13 - Consumo “Per Capita” dos Principais Alimentos no Brasil, 1997. 3.6 - CARACTERÍSTICAS DO MERCADO DE CONSUMO Basicamente, há dois níveis de consumidor ou de mercado para os produtos. O mercado intermediário, composto por todas as empresas comerciais e industriais que demandam produtos agrícolas em atividades (de compra, processamento e revenda) destinadas à obtenção de lucro. O outro tipo de mercado, que é o que interessa no momento, é o do consumidor final, composto da população em geral que, individualmente ou em grupos, consome os produtos com o objetivo de satisfazer as necessidades pessoais (no caso específico, a alimentação). As principais características do mercado de consumo final são: Grande Número de Compradores - Cada um dos 160 milhões de habitantes do Brasil é um consumidor. Contudo, o ato de comprar é realizado por um número relativamente pequeno de consumidores. Por exemplo, as necessidades de uma criança são cuidadas por um “agente”, quase sempre a mãe. Concentração Geográfica dos Consumidores - Grande parte do mercado consumidor brasileiro está geograficamente concentrado em onze áreas metropolitanas, que juntas têm 12.544 mil famílias e um dispêndio global de mais de duzentos bilhões de reais por ano. Compras em Pequena Escala - De um modo geral, o consumidor típico compra apenas para as necessidades do dia, ou seja, compra em pequenas quantidades visando dispor de um fornecimento de gêneros alimentícios durante um período relativamente curto (dias, semanas). As condições econômicas (salários relativamente baixos) e de espaço (moradores de apartamento) contribuem para a compra em pequena escala. Em conseqüência, quanto menor a compra, maior a freqüência com que o consumidor compra. Inabilidade do Comprador - O consumidor, de um modo geral, não é um hábil comprador, pelas seguintes razões: primeiro, não tem tempo ou não quer perder tempo para investigar convenientemente o que vai comprar; segundo, a propaganda e a habilidade do vendedor influem em sua decisão, de modo que o preço não necessariamente reflete a qualidade. 3.7 - PROJEÇÃO DE DEMANDA DE PRODUTOS AGRÍCOLAS Conforme já analisado nesse capítulo, o consumo de alimentos depende de uma série de fatores, muitos deles difíceis de serem estimados. Dada esta dificuldade de estimação de muitas variáveis que afetam a demanda, considera-se, como simplificação, que o crescimento da demanda de um produto agrícola depende fundamentalmente de variações na população e na renda dos consumidores, sendo que esta última é ponderada pelo coeficiente de elasticidade-renda. A expressão matemática seguinte procura captar as variações no consumo de um produto em que se pressupõe que a elasticidade de população é igual à unidade. d = p + Ey . Y onde: d p Ey Y = taxa de crescimento da procura ou consumo; = taxa de crescimento demográfico; = elasticidade-renda da procura por alimentos; = taxa de crescimento da renda real “per capita”. O consumo de alimentos tende a se elevar consideravelmente quando as economias se encontram nas etapas iniciais do desenvolvimento, em que o crescimento populacional se faz a taxas elevadas, e o coeficiente de elasticidaderenda da procura é relativamente elevado; ou seja, para um aumento de 1 % na renda real dos consumidores a maior parcela deste acréscimo será destinada à compra de alimentos. A taxa de crescimento da demanda, assim estimada, é um bom indicador da necessidade de crescimento mínimo da oferta de alimentos, caso se pretenda abastecer convenientemente a população e evitar elevações acentuadas nos preços dos produtos para os consumidores. Com o intuito de avaliar melhor o efeito-população e o efeito-renda considere os seguintes exemplos: Exemplo 1 - Admita que a população de um determinado país está crescendo a uma taxa anual de 1,4 %, a renda real “per capita” em 6 % a.a., e a elasticidade-renda da demanda de alimentos para a média da população é de 0,4. Portanto, a taxa de crescimento da demanda é de 3,8 % ao ano, ou seja: d = 1,4 + 0,4 (6) = 3,8 % ao ano. Isto significa que se, em 1997, a procura de alimentos desse (hipotético) país foi, por exemplo, de 1.000.000 toneladas, no ano seguinte, deverá ser em torno de 1.038.00 toneladas. Neste caso, a oferta deve crescer, no mínimo, a este mesmo ritmo para que não haja problemas de abastecimento. Ressalte-se que a contribuição do crescimento populacional foi menor (1,4/3,8, ou seja, 36,8 %) do que a do efeitorenda, que respondeu por 63,2 % (isto é, 2,4/3,8). Este é um típico exemplo de um país em desenvolvimento, cujo crescimento populacional e elasticidade-renda são elevados. Exemplo 2 - suponha o caso em que a taxa de crescimento demográfico é de 1,4 % ao ano; a renda “per capita” esteja decrescendo (como ocorreu no Brasil nos períodos 1981/93 e 1990-92) a um ritmo de 2,0 % ao ano; e a elasticidade-renda da demanda é igual a 0,4. Neste caso, a taxa anual de crescimento do consumo é de 0,6 %. Assim, tendo em vista a inter-relação entre população e renda, o crescimento demográfico não necessariamente implica em aumento proporcional na demanda de alimentos. Neste exemplo em que a população cresce 1,4 % ao ano, mas o consumo anual só 0,6 % conclui-se que deve estar havendo um declínio do nível de nutrição, com conseqüente deterioração nos padrões de saúde e bem-estar. Exemplo 3 - Admita uma população e sua renda crescendo a taxas de 0,6 % e 6 % ao ano, respectivamente, e uma elasticidade-renda de 0,1. Neste caso, a demanda cresce anualmente 1,2 %. Este é um exemplo para países desenvolvidos ou para o extrato de população rica de países em desenvolvimento, sendo que no segundo caso, em que há concentração da riqueza em mãos de uma parcela pequena da população, o crescimento da demanda de alimentos não será tão dinâmico. Generalizando, pode-se afirmar que, para um país em desenvolvimento e em fase de crescimento, quanto melhor a distribuição da renda, mais dinâmico é o setor dos alimentos. Uma vez determinado o valor da taxa de crescimento da demanda de alimentos (d ), pode-se calcular a quantidade (Qn) que será demandada num determinado ano n, projetando-se para esse ano a demanda de alimentos (Q0) de um ano qualquer, considerado como base. Para essa projeção, usa-se a mesma expressão empregada no cálculo de taxas de crescimento, ou seja: Qn = Q0 (1 + r)n, sendo r = d /100 Exemplo: Considerando-se que a população brasileira está crescendo a uma taxa anual de 1,4 por cento, e estimando-se que a renda real “per capita” deverá expandir-se a um ritmo de 5 % ao ano, ao longo dos próximos anos, pretende-se estimar o consumo de arroz, por exemplo, para o ano 2.005, considerando-se que: a) o coeficiente de elasticidade-renda da procura de arroz é de 0,10 (ver tabela 3.7), e b) o volume global de arroz (eqüivalente “em casca”) consumidos em 1997 foi de 11,6 milhões de toneladas. Neste caso, a demanda de arroz, que deve estar apresentando um crescimento anual de 1,9 %, provavelmente será em torno de 85,3 milhões de toneladas, no ano 2.005, ou seja: Q2000 = 11.600.000 (1 + 0,019)8. Portanto: Q2005 = 13.485.012 t Conclui-se assim que, mantido o ritmo de expansão de 1,9 % ao ano, a demanda de alimentos, no Brasil, deverá ter uma expansão de 16,2 % entre os anos de 1997 e 2.005. 3.8 - RESUMO DO CAPÍTULO Os aspectos mais relevantes a serem enfatizados nesse capítulo são as seguintes: 1 - As duas maneiras mais conhecidas de se mostrar que a curva de demanda apresenta a relação inversa entre preço e quantidade são: através da aproximação utilitária (utilidade marginal decrescente) e pelo emprego das curvas de indiferença. A relação inversa entre preço e quantidade pode ser explicada por quatro razões: efeito novo consumidor, efeito-renda, efeitosubstituição e utilidade marginal decrescente. 2 - A curva de demanda é uma relação que descreve quanto de um bem os consumidores estão dispostos a adquirir, a diferentes níveis de preços, num determinado período de tempo, dado um conjunto de condições (renda, população, preços de outros produtos, gosto e preferência do consumidor, propaganda, entre outros). Variações no preço do produto provocam variações nas quantidades demandadas e é um movimento ao longo da curva de procura. Daí surge o conceito de elasticidade-preço da demanda, que mede as variações relativas na quantidade, devido a variações relativas no preço. De um modo geral, os produtos agrícolas são inelásticos a preços, ou seja, as variações percentuais na quantidade são menores do que as mudanças percentuais no preço do produto. Isto significa que os aumentos de produção, num determinado ano, podem contribuir para reduzir a renda do produtor. A inelasticidade-preço da demanda resulta fundamentalmente do fato de os produtos agrícolas serem essenciais, terem poucos substitutos e “consumirem” grande parcela da renda do consumidor. 3 - Além do preço, os principais fatores que afetam a demanda (também chamados de fatores deslocadores da demanda) de produtos agrícolas são: demografia, nível e crescimento da renda do consumidor, preços de outros produtos e gosto e preferência do consumidor, propaganda. Quanto à demografia, a população brasileira, que está crescendo a uma taxa anual de 1,4 %, é de aproximadamente 160 milhões de habitantes, dos quais mais de 78,3 % se concentram em áreas urbanas, sendo que em onze regiões metropolitanas vivem cerca de 46,4 milhões de pessoas aglutinadas em 12.544 mil domicílios. Além do tamanho e do crescimento populacional, outros aspectos demográficos, como distribuição geográfica, composição, mobilidade e educação da população, afetam o consumo. No tocante à renda dos consumidores, foram abordados os seguintes aspectos: o nível e a evolução da renda “per capita” e a estrutura da repartição individual da renda. A renda “per capita” do povo brasileiro ficou estagnada no período de 1980-93. De um valor levemente acima de cinco mil reais em 1980, caiu para aproximadamente R$ 4,6 mil no período de 1998185, subiu para um patamar de R$ 5,1 mil no quadriênio de 1986-89 e caiu novamente nos quatro primeiros anos da década de 90. Entretanto, a partir de 1994, tem havido uma leve recuperação, sendo que em 1997 foi alcançado o nível de R$ 5,4 mil por habitante, o mais elevado valor até então. Mesmo assim, o atual patamar é ainda levemente inferior à média mundial. Além da renda “per capita” ser baixa, a repartição desta renda é extremamente desigual, destacando-se que a parcela de renda agregada pelo 1 % mais rico da população economicamente ativa ultrapassa a parcela apropriada pelos 50 % mais pobres. Nas onze regiões metropolitanas, 1,272 mil famílias têm despesas mensais próximas a cinco mil reais, o que corresponde a despesas globais anuais de R$ 75 bilhões. Por outro lado, mais de 4 milhões de famílias têm um gasto total de cerca de R$ 18 bilhões por ano. 4 - As relações entre consumo e renda são analisadas com o auxílio das curvas de Engel. Aqui surge o conceito de elasticidade-renda, que mede as variações relativas no consumo, devido à variações relativas na renda do consumidor. De um modo geral, os produtos agrícolas são inelásticos à renda, ou seja, o aumento de renda resulta em expansão do consumo, porém este crescimento é menos que proporcional à elevação da renda. 5 - A demanda em nível de consumidor ou varejo é denominada de demanda primária e dela se deriva a demanda a nível de produtor, ou seja, a demanda derivada, que é uma função direta do preço ao nível de consumidor e da margem e dos custos de operação das firmas que estão no sistema. Devido à maior possibilidade de substituição dos produtos ao nível de varejo, a demanda é mais elástica ao nível de consumidor do que ao nível de produtor. Isto significa que um determinado aumento de oferta de produto deve resultar em maior queda de preço para o produtor do que para o consumidor. 6 - No Brasil, os alimentos exercem uma grande influência no orçamento das famílias, uma vez que os gastos com alimentação representam mais de um terço dos ganhos das camadas de baixo rendimento. Nos países desenvolvidos e também nas camadas de renda alta no Brasil, o dispêndio com alimentos não ultrapassa um sexto da renda. Destaque-se que apenas doze alimentos (por ordem decrescente), a saber: leite e derivados, carne bovina, pão francês, frango, refrigerantes, arroz, alimentos preparados, biscoitos, café, feijão, açúcar e batata inglesa, representam uma despesa mensal média de cem reais por família, o que corresponde a aproximadamente 60 % dos gastos com alimentos no domicílio. Com relação ao consumo físico “per capita” de alimentos no Brasil, constata-se que o consumo médio de todos os produtos está em torno de 400 quilos por habitante/ano, o que eqüivale a 1,1 kg “per capita” diariamente. Esse consumo pode ser considerado baixo, se comparados com alguns países desenvolvidos, entre os quais os EUA, que acima de 800 kg/hab/ano. Há, também, um consumo relativamente desigual entre as regiões, em que o Nordeste, por exemplo, consome apenas um pouco mais do que consome a região Sul. 7- O crescimento da demanda de um produto agrícola (alimentos) depende fundamentalmente de variações na população e na renda dos consumidores, sendo que esta última é ponderada pelo coeficiente de elasticidade-renda. Nos países em desenvolvimento, devido à elevada taxa de crescimento populacional e à alta elasticidade-renda, a demanda por alimentos cresce a taxas maiores do que nos países desenvolvidos. A taxa de crescimento da demanda é um bom indicador da necessidade de crescimento mínimo da oferta de alimentos, caso se pretenda abastecer convenientemente a população e evitar elevações acentuadas nos preços para os consumidores. No Brasil, a taxa média anual de crescimento para o agregado dos alimentos deve estar em torno de 3 %. 3.9 - QUESTÕES PARA REVISÃO E EXERCÍCIOS 1 - Descreva os efeitos de variações na renda e nos preços de outros produtos (substitutos e complementares) sobre a demanda de um produto alimentar. Mostre graficamente e explique. 2 - Qual é a diferença entre uma mudança na demanda e uma mudança na quantidade demandada? 3 - Explique com suas próprias palavras por que alguns alimentos são mais elásticos a preço (ou menos inelásticos) do que outros, e o significado (ou seja, a conseqüência) disto para os agricultores. De que maneira é possível, fazer com que os produtos agrícolas (matérias-primas brutas), que têm demanda inelástica, se transformem em alimentos, cuja demanda seja relativamente elástica? 4 - Qual é o efeito sobre os preços e as rendas dos agricultores quando há demandas inelásticas para a maioria dos produtos agrícolas? 5 - Comente a seguinte afirmação: a elasticidade-preço da procura para filé mignon é (admita) – 1,3. Pode-se esperar, portanto, que a demanda para boi gordo (nível de pecuarista) é também elástica ?. 6 - Explique o significado de um coeficiente de elasticidade-cruzada entre pão e manteiga de –1,2 (por exemplo). 7 - Escreva sobre as razões ou fatores que explicam que a curva de demanda (normal) é inclinada para baixo. 8 - Um famoso psicólogo afirmou que os fatores econômicos (preços e renda) não são tão importantes para explicar o comportamento do consumidor como as influências culturais e sociais e os fatores psicológicos. Você concorda ou discorda? 9 - Você deseja ajudar um empresário a determinar a elasticidade da demanda para seu produto. Ele indica que as vendas comportam-se da seguinte maneira: Variação de preço As vendas R$ 40,00 a 30,00 R$ 30,00 a 20,00 R$ 20,00 a 10,00 aumentam não variam diminuem Elasticidade 10 - A elasticidade-renda da demanda para alimentos aumenta ou diminui à medida que a renda aumenta? Dê as razões para a sua resposta. 11 - Se a elasticidade-renda da demanda para um produto é maior que 1, o preço relativo desse produto aumentará à medida que a renda “per capita” se eleve, isto é, aumentará relativamente aos bens cuja elasticidade-renda é menor do que 1. A resposta é “verdadeira”, “falsa” ou “incerta”, e faça defesa de sua resposta. 12 - Admita que você é um assessor econômico do governo, que lhe solicita um parecer sobre taxação (imposto: ICMS, por exemplo) para apenas um de dois produtos, os quais têm as seguintes características: o produto A é insensível às variações de preço, enquanto o produto B tem alta elasticidade-preço da demanda. O que você diria? 13 - Suponha que a carne bovina está sendo vendida a R$ 26,00/arroba, a nível de pecuarista, e a elasticidade-preço da demanda neste nível é de –0,4. Qual seria o preço de equilíbrio para a carne, se houvesse um aumento brusco de 5 % na oferta de carne (sugestão: assuma que a oferta é perfeitamente inelástica). 14 - Suponha que a quantidade de um bem X demandada por um indivíduo 1 é dada por: X1 = 10 – 2 Px + 0,01 I1 + 0,4 Py e a quantidade de X demandada por um indivíduo 2 é: X2 = 5 – Px + 0,02 I2 – 0,2 Py Qual é a função de demanda do mercado para o total de X (= X1 + X2) como uma função de Px, I1, I2 e Py (onde Px é o preço do produto, I é a renda de cada indivíduo e Py é o preço de um produto substituto ou complementar)? a) Plote num gráfico as duas curvas de demandas individuais (com X no eixo horizontal e Px no eixo vertical), para o caso em que I1 = 500, I2 = 2.000, e Py = 10. b) Usando estas curvas individuais, construa a curva de demanda de mercado para o total de X. Qual é a equação algébrica para esta curva? c) Agora, suponha que I1 aumente para 1.100 e I2 diminua para 1.000. Como a curva de procura de mercado se deslocaria? Como as curvas de demanda individual se deslocariam? Plote estas novas curvas. d) Finalmente, suponha que Py aumente para 15. Plote as novas curvas individuais e de mercado. 15 - Em condições “ceteris paribus”, admita que o preço da manteiga, por quilo, subiu de R$ 6,00 para R$ 6,60, ao mesmo tempo em que a quantidade demandada de margarina aumentou de 20.000 kg para 24.000 kg/semana, numa determinada cidade. Calcular a elasticidade-cruzada da procura de margarina. Interpretar o resultado com relação aos dois produtos e mostrar graficamente. 16 - Antes de decidir sobre a expansão em sua capacidade de produção, uma determinada usina está analisando a demanda para seu açúcar. Preliminarmente, os resultados indicam que a demanda média diária, em toneladas (Q), é uma função do preço (P), dada pela equação: Q = f (P) = 1000 –1,20 P; a) Assuma que esta empresa planeja vender 400 toneladas por dia. Qual o preço que ela deve cobrar? b) Quantas toneladas por dia a companhia pode vender ao preço de R$ 300,00/t? c) A que preço as vendas serão iguais a zero? d) Qual será a demanda para açúcar se a companhia o oferece a preço zero? e) Plote as curvas de: demanda, receita marginal e receita total. f) Determine a elasticidade-preço da demanda (no ponto) para o preço de R$ 300,00/t. g) Determine a elasticidade-preço da demanda entre os preços de R$ 300,00 e R$ 350,00/t (elasticidade-arco). h) A que preço a Usina maximizaria a sua receita? 17 - A empresa “KIARROZ” estima que a relação consumo-renda para o seu produto (arroz) é dada pela função Q = 10 Y0,12, onde I = renda “per capita” do consumidor. a) Determine as quantidades demandadas em cada um dos seguintes níveis de renda: R$ 500,00; R$ 1.000,00; R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00. b) Determine a elasticidade-renda da demanda (no ponto) para os níveis de renda de R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00. c) Determine a elasticidade-renda da demanda entre os intervalos de renda de R$ 1.000,0 e R$ 2.000,00 (elasticidade-arco).