01. as estratégias de persuasão de lady macbeth

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Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de
dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4
AS ESTRATÉGIAS DE PERSUASÃO DE LADY MACBETH NA PEÇA
MACBETH DE WILLIAM SHAKESPEARE
SANTOS, Clarice de Souza Lima dos.
Graduanda em Letras/Inglês pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná–UNIOESTE- Foz do
Iguaçu: [email protected].
SANTOS, Orlando Bispo dos.
Graduado em Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA.
Graduando em Turismo pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE-Foz do Iguaçu
Mestrando em Sociedade, Cultura e Fronteiras pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE- Foz do Iguaçu [email protected].
RESUMO
O presente estudo visa analisar na obra Macbeth, de William Shakespeare, de que forma, em seu
discurso, a co-protagonista Lady Macbeth consegue persuadir e convencer o personagem masculino, seu
esposo, a alcançar o poder intervindo em suas decisões. Para fundamentar a pesquisa proposta foram
abordados teóricos que tratam da persuasão, como Abreu, Citelli, Reboul e dois artigos relacionados à
obra de William Skakespeare, Macbeth: “Lady Macbeth: ambição e loucura” de Kaveski (2011), que
analisa as características psicológicas da co-protagonista que proporcionam a ela forte influência na
decisão inicial do marido a matar o rei e “A persuasão do discurso do personagem Macbeth e sua
relação com Lady Macbeth no contexto do regicídio e suas consequências no contexto escolar” de
Villwoch e Polidório (2010), que trata da persuasão do discurso do personagem e da relação de
cumplicidade entre Macbeth e Lady Macbeth. A principal fonte de embasamento será a própria obra
Macbeth, traduzida por Beatriz Viégas-Faria.
Palavras-chave: Poder; Ambição; Persuasão do discurso.
ABSTRACT
This study analyzes the work of William Shakespeare Macbeth how, in his speech, the co-protagonist
Lady Macbeth can persuade and convince the masculine character, her husband, to achieve power
intervening in their decisions. To support the proposed research we discuss theoretical dealing with
persuasion, such as, Abreu, Citelli, Reboul and it will also be used as two theoretical support articles
related to the work of William Shakespeare, Macbeth:"Lady Macbeth: ambition and madness" of
Kaveski, (2011) which examines the psychological characteristics of the co-protagonist who provide
her strong influence on her husband's decision to kill the king and "The character of speech persuasion
Macbeth and his relationship with Lady Macbeth in the context of regicide and the consequences in the
school context" of Villwoch and Polidorio, (2010) which deals with the character of the discourse of
persuasion and of complicity relationship between Macbeth and Lady Macbeth. The main source of the
foundation will work itself Macbeth, translated by Beatriz Viégas-Faria.
Key-words: Power; Ambition; Persuasion Speech.
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Clarice de Souza Lima dos. SANTOS, Orlando Bispo dos.
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1.
INTRODUÇÃO
A arte de persuadir pelo discurso é um fator presente no contexto histórico da vida
humana. É assim nos discursos políticos proferidos pelos que buscam ocupar cargos na vida
pública, em discursos de comandantes militares com vistas a encorajarem suas tropas a serem
vitoriosas em conflitos, e no desenvolvimento de outras missões, e até mesmo em discursos de
professores em sala de aula, que buscam formas de fazer com que o conteúdo aplicado seja
apreendido por seus alunos, e em discursos jurídicos, em que os advogados buscam êxito em
suas causas em tribunais, e por meio de peças escritas.
A partir dessa perspectiva, pode-se compreender que o uso do discurso persuasivo
como instrumento de controle, implica em dar dimensões diversas as formulações estratégicas
de sobrevivência do ser humano em seu contexto social.
Desta forma com olhares voltados para a personagem de Lady Macbeth, da peça teatral
de William Shakespeare, Macbeth, este estudo busca analisar as principais estratégias e
argumentos utilizados pela personagem feminina para persuadir seu esposo Macbeth, e
conduzi-lo a tomar a decisão de matar o rei Duncan e assumir o trono, pois dessa forma ela se
tornaria rainha.
A partir dessa perspectiva, a pesquisa faz uma abordagem a partir da contextualização
da obra, com vistas a entender a personalidade da co-protagonista e sua influencia na tomada de
decisão do esposo em relação a sua ascensão ao trono por meio dos enunciados da personagem
Lady Macbeth, com enfoque nas estratégias persuasivas utilizadas em seu discurso.
A escolha do tema parte do interesse em aprofundar o conhecimento em torno da obra e
por observar que Lady chama a atenção por ser ambiciosa e determinada a convencer seu
marido por meio da utilização do discurso persuasivo, como instrumento estratégico para
alcançar seu objetivo , sem demonstrar importância para as possíveis consequências geradas a
partir de suas ações.
Para tanto serão utilizados fragmentos da fala da co-protagonista na obra de
Shakespeare como aporte metodológico para a investigação do objeto proposto. Para
fundamentação teórica, serão utilizados autores que abordam sobre a persuasão e estudos
analíticos sobre a personalidade de Lady Macbeth.
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2.
1. Shakespeare e sua obra Macbeth
O poeta, ator e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616) nasceu na
Inglaterra, em Stratford-Avon. É autor de obras clássicas da literatura universal, que são
encenadas, publicadas em livros e estudadas até os dias atuais.
No século em que viveu, havia grande concorrência entre os dramaturgos e o público
exigente fazia investimentos financeiros para assistir peças bem elaboradas. Para tanto, as
perspectivas do público girava em torno de boas apresentações, ao contrario disso, se a obra não
apresentasse condições aceitáveis, quem assistia demonstrava a insatisfação com por meio de
gestos e arremesso de objetos ao palco. Além desses fatores haviam por parte da plateia a
evasão do teatro antes do final da sessão.
Apesar disso, as obras que Shakespeare criava se destacavam, abordando assuntos como
o amor, o heroísmo, o sobrenatural, a vingança, a loucura e a sabedoria.
Seu objetivo principal nas peças era proporcionar entretenimento, mas principalmente,
estimular o público a pensar. Shakespeare não assume caráter moralista, mas coloca seus
personagens em situações de prova, assim como analisa o psicológico do ser social. Nesse
contexto Polidório (2009) afirma que.
O conhecimento da natureza humana de Shakespeare impressiona. Ele aborda
os conflitos do ser humano que sempre existiram, como ódio, amor, usurpação
do poder, traição, vingança, o belo, o feio, a tirania, a angústia, a melancolia, a
ambição, etc. Todas essas características compõem a nossa natureza humana.
Resumindo, Shakespeare explora o bem e o mal que existe em todos os seres
humanos (POLIDÓRIO, 2009, p. 08-09).
Em outras palavras, Shakespeare analisa as reações humanas diante do poder, das
relações sociais, da natureza humana, a partir do ponto de vista que o ser humano está suscetível
à dor, à morte, ao descontrole e outras fragilidades. Pressupõem, portanto que ao assistir um
teatro relacionado aos ensinamentos de Shakespeare, o público é levado a pensar sobre sua
postura diante da sociedade.
Parafraseando com Rozakis 2002, na época em que Shakespeare viveu, a Inglaterra era
governada por Elisabeth I, o que deixava os mais conservadores surpresos, por se tratar de uma
mulher no poder. Com o falecimento de Elisabeth, Jaime I, que era o rei da Escócia, assumiu o
governo da Inglaterra, pois Elisabeth I não teve herdeiros.
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Graças a um pedido do rei, que unificou as coroas da Escócia e da Inglaterra, surgiu a
obra Macbeth. A peça em estudo é uma adaptação realizada por Shakespeare entre 1603 e 1606,
a partir de relatos de crônicas da Inglaterra, Escócia e Irlanda (1577-1587) escritas por Raphael
Holimshed e outros autores.
Foi encenada pela primeira vez em 1606, e nessa época do século XVII, a Inglaterra
vivia em uma atmosfera de crenças em bruxaria, o que pode ter contribuído para o sucesso da
peça, que traz uma história sombria e trágica.
2. A personagem Lady Macbeth
A obra faz uma abordagem da história do nobre guerreiro Macbeth, primo do rei
Duncan, homem valente e corajoso, que retornava de uma guerra pelo reino da Escócia com seu
amigo Banquo e, no caminho, se deparam com três feiticeiras que fazem algumas previsões:
Macbeth se tornaria Barão de Cawdor e mais tarde, o novo rei, já Banquo seria progenitor de
reis. Logo depois do prenúncio, o protagonista foi eleito Barão de Cawdor pelo rei Duncan e,
perplexo com a revelação das feiticeiras, ele resolveu escrever uma carta para a esposa Lady
Macbeth contando o que aconteceu. A previsão de que seria rei, fez criar expectativas a
Macbeth, pois apesar de honrar seu dever, apresentava ambições em posições sociais.
Conforme a peça teatral, é a partir desses fatores que a co-protagonista Lady Macbeth,
que possui características psicológicas marcantes, constrói suas articulações estratégicas com o
objetivo de fazer tornar verdade às revelações proféticas das feiticeiras. Pressupõe-se pelos
aspectos em que a obra imprime da personagem Lady que suas características sociais não eram
atribuídas as mesmas das mulheres da época em que a obra foi escrita, pois elas não
apresentavam atitudes como às de Lady, a menos que fossem bruxas. Ao saber das previsões
proféticas das feiticeiras, Lady Macbeth busca encorajar seu marido por meio do discurso a
pensar na possibilidades de se tornar rei da seguinte forma. Conforme Faria (2010)
Desejas ter, meu grande Glamis, a coroa que grita que assim deves agir se
queres tê-la. E desejas também aquilo que temes fazer, e teu temor é maior do
que teu desejo de que tal ato pudesse ser omitido. Apressa-te em vir para cá, e
que eu possa em teus ouvidos derramar meu inebriante vigor, e que eu possa,
com a ousadia de minha língua, açoitar tudo o que se interpõe entre tua pessoa
e o círculo de ouro com o qual parece terem te coroado o Destino e o auxílio
sobrenatural. (FARIA, 2010, p. 28).
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Diante dessa perspectiva pode-se observar que a personagem se mostra forte, e por meio
de seu aspecto sombrio, marcante e determinada a alcançar a coroa, sem se importar quais as
formas que iria utilizar, buscou a partir de seus discursos, exacerbar as ambições do esposo com
a finalidade de fazê-lo criar meios para alcançar o objetivo. Esses anseios conduziram a
personagem voltar seus pensamentos apenas para o possível título que seu marido teria no
futuro como aborda o ato I, cena V em faria (2010, p. 29) “grande Glamis, valoroso Cawdor, e
maior que ambos no título com que serás por todos saudados futuramente, tuas cartas
transportaram-me para além deste tempo de ignorância”.
A ambição de Lady pelo poder se apresenta mais forjada do que os desejos do esposo, e
isso a conduz propor que o rei fosse assassinado o mais breve possível para que ele ocupasse o
trono em seu lugar, em face da suposição que as previsões das feiticeiras estavam acontecendo,
e não haveria problemas se antecipasse o intento.
O General Macbeth por ser leal ao rei e por julga-lo justo, hesitou a proposta da esposa.
Diante disso, a co-protagonista decide recorrer às forças ocultas para convencer o marido e abre
mão da doçura do ser feminino como forma de indução ao crime e conforme Faria (2010, p. 28)
profere “venham espíritos que instilam os pensamentos assassinos, dessexuai-me,
Cumulem-me da cabeça aos pés Com a mais horrível crueldade! (...) Possuam os meus seios e
façam amargo o meu leite”.
Pressupõe que tal inovação estratégica tenha enchido de coragem para seduzir, nutrir e
direcionar a ambição de seu marido. Ela chega a convencê-lo que o ato de matar o rei para
usurpar o trono é heroico. Kaveski (2011) afirma que:
A personagem compartilha vários traços de personalidade com o marido:
ambos são dotados de temperamento altivo, soberbo e imperativo; são
arrogantes e desprezam seus inferiores; seus objetivos são posição e poder. E
contrastam em outros pontos: ela é dotada de uma inabalável firmeza de
espírito, mostrando-se capaz de submeter-se a imaginação, as emoções e a
consciência (KAVESKI, 2011, p. 320).
Conforme a obra, apesar de temer as consequências que o ato de assassinar o rei poderia
desencadear o General Macbeth, encorajado pela esposa convida o soberano a se hospedar em
sua residência e à noite o mata sem piedade. Dessa forma a obra retrata Macbeth e Lady
Macbeth como representantes da maldade, já que não levaram em conta o bem comum, pelo
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fato de estarem dominados pela ambição, de modo que buscaram apenas a realização de seus
desejos egocêntricos, como a vontade de ser servido, e desfrutar de regalias ao ocupar o trono.
Nesse contexto, Lady Macbeth pode ser associada à figura de uma das bruxas, por
evocar aos espíritos formas de livrá-la de seus aspectos femininos, lhe destituírem de todo o
bem e conquistar o poder, o que da a entender a incitação ao mundo das trevas e da à maldade
para seguir com seu intento.
Suas estratégias por meio de procedimentos malignos possibilitou a seu esposo o acesso
ao trono, no entanto, culpa e remorso o perseguiu o, e o deixou perturbado, a ponto de relatar
que o fantasma do rei o acompanhava. Esses fatores levaram a cometer outros crimes, a
destacar o assassinato de Banquo pelo fato de tê-lo acusado de matar o rei, e isso tornaria
impossível a sua permanência no poder.
Tais fatores consistiram em causar desequilíbrio mental a Macbeth, a ponto de
enlouquecer, principalmente ao saber que sua esposa, recorreu ao suicídio por não suportar o
remorso e a culpa.
Por fim, Macduff, filho de Banquo, como verdadeiro sucessor do trono desafiou
Macbeth que teve a cabeça arrancada pelo fio de sua espada fazendo justiça pela morte do pai e
os outros assassinatos cometidos.
3. Lady Macbeth e a persuasão pelo discurso
O uso do discurso como força de persuadir, implica em fatores que partem das
interpretações do orador em relação ao conjunto social ou ao indivíduo em que se pretende
convencer de algo. Em outras palavras, implica em adequar sua fala ao nível cultural do meio
social ou da pessoa em que pretende fazer uma abordagem a fim de mudar seus pensamentos e
atitudes. A esse respeito Reboul (2004) enfatiza que.
Para ser bom orador, não basta saber falar, é preciso saber também a quem se
está falando, compreender o discurso do outro, seja esse discurso manifesto ou
latente, detectar suas ciladas, sopesar a força de seus argumentos e, sobretudo,
captar o não dito. (REBOUL 2004, p. 19)
Nem sempre é possível persuadir e convencer alguém sobre determinado ponto de
vista. Para que se concretizem mudanças de conceitos, portanto, se faz necessário que o orador
tenha domínio dos conceitos e aplique artifícios que abarquem as concepções do receptor a
ponto de tornar o oculto em verdades concretas a partir do novo ponto de vista.
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Nessa perspectiva, Abreu (2001, p. 9) defende que “convencer é saber gerenciar
informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Persuadir é saber gerenciar
relação, é falar à emoção do outro”. Parafraseando com Abreu (2001) observa-se procura deixar
claro que o fato de convencer está ligado ao plano das ideias e persuadir ao plano das emoções.
Por esse motivo, persuadir se torna um pouco mais difícil, pois só é possível levar a pessoa a
desenvolver algo a partir da aplicação de técnicas que delimite e gerencie de forma positiva as
relações entre orador e receptor por meio de conexões de ideias. Em relação a arte de
argumentação Abreu (2001) enfatiza que.
Argumentar não é tentar provar o tempo todo que temos razão, impondo nossa
vontade. Aqueles que agem assim não passam de pessoas irritantes e quase
sempre mal-educadas. Argumentar é, em primeiro lugar, convencer, ou seja,
vencer junto com o outro, caminhando ao seu lado, utilizando, com ética, as
técnicas argumentativas, para remover os obstáculos que impedem o
consenso. Argumentar é também saber persuadir, preocupar-se em ver o outro
por inteiro, ouvi-lo, entender suas necessidades, sensibilizar-se com seus
sonhos e emoções (ABREU, 2001, p.42).
Nesse contexto entende-se que ao persuadir, motiva-se o outro a fazer algo, isto é, o
orador busca dar autonomia, para o receptor colocar em prática a ideia proposta de acordo com
a sua concepção levando em consideração que o benefício abarcará ambas as partes a partir da
ação.
A exemplo disso, observa-se que na obra Macbeth de Shakespeare, a co-protagonista
Lady Macbeth tinha a total convicção de que, ao matar o rei Duncan, ela ganharia a coroa,
tornando-se rainha, e seu marido ocuparia o trono, tornando-se poderoso soberano. O
personagem Macbeth precisou da motivação de sua esposa para matar, mas foi sua escolha
concordar com ela e fazer o que ela pedia. Por meio de seu discurso persuasivo Lady o
convenceu.
Macbeth, ao apresenta possuir alma bondosa, configura uma ideia contraria aos olhos de
Lady e isso consistiu em gerar uma oposição aos conceitos de bondade do marido quando diz
que ele não deixa de ter ambição, mas não é malvado como deveria. A esse respeito Faria
(2010, p. 29) enfatiza ato I, cena V o seguinte “temo tua natureza, que é tão cheia do leite da
bondade humana. Desejaras ser grande, e não te encontras destituído, de todo, de ambição;
porém careces da inerente maldade”.
Ela passa a estimular cada vez mais o marido de que o melhor a fazer é matar o rei,
incitar Macbeth a agir exatamente a partir de seu planejamento. Ao toma conhecimento de que
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o rei passará a noite no castelo, decide pelo assassinato e começa a explicar ao marido de que
forma o plano seria desenvolvido para alcançar êxito.
Macbeth se retira da presença do rei no momento da refeição e em seu aposento
apresenta a Lady seu medo e a intenção em desistir de praticar o ato, tão estrategicamente
planejado.
É a partir desse momento que Lady Macbeth passa a se esforçar com um jogo de
palavras para convencer seu esposo. Os preceitos da época impediam que ela, em sua condição
de mulher, ordenasse o marido a fazer algo. Desta forma, ela começa a provocá-lo chamando-o
de covarde como aborda Faria (2010).
Deste momento em diante, calculo que esteja igualmente doentio o teu amor.
Tens medo de ser na própria ação e no valor o mesmo que és em teu desejo?
Queres ter aquilo que, por tua estimativa, é o adorno da vida e, no apreço que
tens de ti mesmo, levas a vida como um covarde, não é assim? Deixas que o
teu „não me atrevo‟ fique adiando tua ação até que o teu “eu quero‟ aconteça
por milagre; como a gata, coitadinha, que queria comer o peixe mas não
queira molhar a pata.(FARIA, 2010, p. 34).
Percebe-se ao longo de toda esta cena que, para persuadir o marido, Lady Macbeth
modaliza o seu discurso buscando atingir o emocional de Macbeth. Parafraseando com Citelle
(2006) pode-se observar que as figuras de retórica são importantes recursos para chamar a
atenção do receptor. Percebe-se que Lady Macbeth faz uso de uma delas ao dizer que a gata,
coitadinha, que queria comer o peixe mas não queira molhar a pata.
Ao dizer isso, a mulher faz uma comparação maldosa perante os preceitos daquela
época, com o respaldo de uma visão machista que põe em xeque a virilidade do marido, pois o
aproxima à figura de uma gata, e denigre ainda mais sua masculinidade, ao qualificar “gata”
como uma “coitadinha”. Diante dessas palavras, Macbeth sem demora se defende: “Imploro-te
paz. Atrevo-me a fazer tudo o que é próprio de um homem” (Ato I, cena VII).
Conforme Faria (2010), por não sentindo firmeza nas palavras do marido e para se
certificar de que ele realmente não desistiria do plano Lady declara o seguinte.
Quem foi, então, o animal que te obrigou a mencionar pra tua esposa esse
plano arrojado? Quando te atreveste a fazê-lo, então sim, eras um homem! E,
para seres mais do que eras, terias de ser muito mais homem (FARIA, 2010, p.
34).
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Por fim, Macbeth recupera a determinação em cumprir sua palavra, mas teme que a
tentativa de assassinato falhe e é imediatamente interpelado por Lady ao proferir o seguinte.
“Nós, falharmos?! Ponha sua coragem no limite e não falharemos”. Com essas palavras, Lady Macbeth
além de encorajar seu marido, o ajuda para que tudo ocorra conforme planejado. Encarrega-se
de drogar as bebidas dos camareiros do rei e avisar Macbeth de que o caminho estava livre para
o assassinato. Lady mostra-se confiante com a saída de Macbeth para realizar o ato, porém ao
saber que ele não havia deixado as adagas no lugar do crime, resolve agir, mas antes, critica
mais uma vez a ação do marido da seguinte forma de acordo com Faria (2010, p. 35). “que fraca
determinação! Dê-me as adagas. (...) Se ainda corre o sangue, cobrirei com ele as faces dos
criados, para que a culpa deles seja visível”.
As palavras de humilhação ao esposo se tornou fatores comuns para Lady, que o
recriminava quanto a seus temores dizendo que sua firmeza parecia tê-lo abandonado.
Conforme o ato III, Cena IV Macbeth, é encorajado por Lady que por meio do discurso tenta
convencê-lo dizendo que: “O que está feito, está feito”. E quando ele comenta sobre a ameaça
que Banquo e seu filho representam para suas pretensões, ela sugere implicitamente o
assassinato deles, e assim foi feito. Nesse sentido, Macbeth é subordinado à sua esposa.
Na sociedade patriarcal em que os personagens viveram, não se esperava que uma
mulher fosse representada como superior ao homem, ou que ele fosse seu submisso. Essa
representatividade em Lady Macbeth pode ter sido pensada em decorrência da Rainha Elisabete
I ter assumido o trono por muitos anos na Inglaterra, em que diversos homens eram seus
submissos. Não gostavam de serem mandados por uma mulher, porém, dependiam dela e de
suas ordens para o país prosperar.
Na obra, o mesmo acontece, pois apesar de Macbeth ter suas ambições, ele pensa várias
vezes em desistir do ato, mas a argumentação de sua esposa mexe com suas ideias e
principalmente com sua masculinidade, forçando-o a aceitar o plano.
Assim que alcançam o que almejavam, a vida passa a não fazer nenhum sentido, porque
a culpa e o remorso pesam demais sobre os dois. Lady Macbeyh, que se mostrava tão forte e
determinada no início da obra, agora se encontra em declínio psicológico, e Macbeth que
dependia das argumentações da esposa para continuar no poder, fica perdido e enlouquece,
principalmente ao saber do suicídio da esposa.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Shakespeare não permite sobre suas obras conclusões preciso, pois abre o caminho para
a discussão e o debate em diferentes áreas do conhecimento. Sua genialidade transpassou
diversas gerações, pois influenciou estudiosos no passado e influencia na atualidade,
impressiona algumas reações humanas diante do poder e das relações sociais como um todo,
principalmente o que o ser humano é capaz de fazer para alcançar o poder.
Neste sentido, a peça incita a mente do leitor/espectador a associar personagens da
ficção com os da vida real. Ao contrário da realidade, em que a impunidade aflige o ser
humano, Shakespeare em Macbeth apresenta o arrependimento e o tormento de consciência dos
criminosos, assim como suas punições. Mas, lamentavelmente, a evolução humana não implica
em desenvolvimento ético e moral.
Nessa breve pesquisa, pode-se tirar algumas considerações tímidas sobre o objeto de
estudo, visto que, ainda muitos pontos da obra precisam ser esclarecidos com mais pesquisa e
discussão.
Muitas dúvidas fervilham sobre a obra em questão, pois toda a tragédia se desenrola
pelas previsões das bruxas, mas não se sabe afirmar se elas diziam a verdade e, nem tão pouco
se Macbeth seria rei. Entre outras dúvidas, a obra faz menção de que Lady Macbeth tenha sido
mãe, porém a tragédia não aborda com clareza, quem era o pai, e nem onde estaria essa criança.
Faz menção apenas das semelhanças do rei Duncan e o pai de Lady Macbeth.
O objetivo desse estudo foi analisar de que forma, em seu discurso, a co-protagonista
Lady Macbeth consegue persuadir e convencer o personagem masculino, seu esposo, a alcançar
o poder intervindo em suas decisões. Sobre isso, encontrou-se algumas estratégias
argumentativas utilizadas por Lady Macbeth.
A princípio, pelo discurso, Lady Macbeth fragiliza e põe em cheque as relações de
gênero que estão postas na sociedade aristocrática da época, já que é a mentora e cúmplice na
execução do plano; depois ela atinge o emocional de Macbeth a todo o instante em que ele tenta
desistir, usando o medo contra ele próprio ao chamá-lo de covarde. Além disso, humilha-o e o
compara à “uma gata que não quer molhar a pata”, ou seja, um fraco.
Diante disso, ela fragiliza sua masculinidade e Macbeth é obrigado a concordar com seu
plano. Ela também coloca em cheque o amor dele por ela, como percebe-se no seguinte trecho:
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“Deste momento em diante, calculo que esteja igualmente doentio o teu amor. Tens medo de ser
na própria ação e no valor o mesmo que és em teu desejo?” (Ato I, cena VII).
Por fim, entende-se que Shakespeare, por meio dessa obra, tenta alertar sobre como a
ambição pode fragilizar o ser humano diante de pessoas persuasivas, a ponto de despertar o lado
mal, até que se faça algo que não era desejado e que, por sua vez, trará consequências trágicas.
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REFERÊNCIAS
ABREU, Antônio Suárez. A arte de argumentar: gerenciando Razão e Emoção. 4.ed. São
Paulo: Saraiva, 2001.
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 16ª. Ed. São Paulo, Ática, 2006.
Gil, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo : Atlas, 2008.
KAVESKI, Aline Tayná de Quadros. Lady Macbeth: ambição e loucura. Uniletras, Ponta
Grossa, V.33, n. 2, p.319-328. Jul./dez. 2011.
REBOUL, Oliver. Introdução à Retórica. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
SANTANA,
Ana
Lucia.
Macbeth.
2015.
<http://www.infoescola.com/teatro/macbeth/> Acesso em 04/06/2015.
Disponível
em:
SHAKESPEARE, William. Macbeth. Tradução de Beatriz Viégas-Faria. Porto Alegre: L&PM,
2010.
VIEGAS-FARIA,
Beatriz.
Estúdio
Clio.
Disponível
em:
<http://www.studioclio.com.br/docentes/18090/beatriz-viegas-faria> Acesso em 19/06/2015.
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