Escola Superior de Saúde do Alcoitão

Propaganda
UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DO ALCOITÃO
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA
A Consciência Sintáctica em Crianças de 1ªCiclo de Escolaridade:
Construção e Aplicação de uma Tarefa de Manipulação
Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de
mestre em Terapia da Fala
Por
Rita Maria Pereira Alexandre
Orientada pela Professora Doutora Anabela Gonçalves
Co-orientada pela Professora Doutora Maria João Freitas
2009
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Índice
Índice de Quadros
4
Agradecimentos
10
Resumo
11
Abstract
13
Introdução
14
1. Enquadramento Teórico
16
1.1. Categorias Sintácticas
16
1.2. Consciência Linguística e Consciência Sintáctica
22
2. Metodologia
33
2.1. Objectivos e hipóteses
33
2.2. Caracterização da amostra
34
2.3. Material e Procedimentos
36
2.4. Tratamento de dados
50
3. Apresentação, Descrição e Comentário dos Resultados
55
3.1.
55
A categoria sintáctica da palavra-alvo
3.1.1. Nome
3.1.1.1.
55
1º ano de escolaridade
55
3.1.1.1.1. Respostas correctas
58
3.1.1.1.2. Respostas incorrectas
61
3.1.1.2.
4º ano de escolaridade
72
3.1.1.2.1. Respostas correctas
74
1
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.1.2.2. Respostas incorrectas
3.1.1.3.
77
Síntese comparada dos resultados
3.1.2. Verbo
3.1.2.1.
85
86
1º ano de escolaridade
87
3.1.2.1.1. Respostas correctas
89
3.1.2.1.2. Respostas incorrectas
91
3.1.2.2.
4º ano de escolaridade
101
3.1.2.2.1. Respostas correctas
103
3.1.2.2.2. Respostas incorrectas
106
3.1.2.3.
Síntese comparada dos resultados
3.1.3. Adjectivo
3.1.3.1.
112
114
1º ano de escolaridade
114
3.1.3.1.1. Respostas correctas
116
3.1.3.1.2. Respostas incorrectas
119
3.1.3.2.
4º ano de escolaridade
127
3.1.3.2.1. Respostas correctas
129
3.1.3.2.2. Respostas incorrectas
132
3.1.3.3.
Síntese comparada dos resultados
136
3.1.4. Comparação dos resultados relativos ao sucesso na tarefa de manipulação em função
das categorias sintácticas
3.2.
137
A distribuição da palavra-alvo
138
3.2.1. Nome
138
3.2.1.1.
1º ano de escolaridade
139
2
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.2.1.2.
4º ano de escolaridade
140
3.2.2. Verbo
142
3.2.2.1.
1º ano de escolaridade
142
3.2.2.2.
4º ano de escolaridade
144
3.2.3. Adjectivo
145
3.2.3.1.
1º ano de escolaridade
145
3.2.3.2.
4º ano de escolaridade
147
3.3.
Comparação das variáveis Ano de escolaridade e Género
148
3.4.
Comentário aos resultados
154
Conclusão
157
Referências Bibliográficas
159
Apêndices
162
Apêndice I – Ficha socioprofissional
163
Apêndice II – Caracterização do meio socioprofissional
164
Apêndice III – Folha de registo da prova de avaliação da consciência sintáctica
165
Apêndice IV – Carta de apresentação do projecto
172
Apêndice V - Carta de pedido de autorização aos Encarregados de Educação
173
Apêndice V – Estatística Inferencial - Testes de Normalidade
174
3
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Índice de Quadros
Quadro 1 - Tarefas e Capacidades utilizadas para avaliar consciência fonológica (Alves et al., citado por Afonso,
2008:26)
Quadro 2 – Caracterização da amostra relativamente ao ano de escolaridade, género e meio socioprofissional
25
Quadro 3 – Frases utilizadas para testar a tarefa de reconstituição
41
Quadro 4
- Frases utilizadas para testar a tarefa de supressão
35
41
Quadro 5 – Frases utilizadas para testar a tarefa de identificação
42
Quadro 6 – Tipologia das respostas consideradas erradas
51
Quadro 7 – Exemplos de substituições por sinónimos e antónimos
53
Quadro 8 – Número total de sujeitos em cada grupos
54
Quadro 9 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas para a categoria nome no 1º ano de
escolaridade
Quadro 10 – Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria nome no 1º ano de escolaridade
56
Quadro 11 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria nome, no 1º ano de escolaridade
Quadro 12 – Teste de Mann-Whitney para a pontuação total da categoria nome, no 1º ano de escolaridade
57
Quadro 13 – Respostas correctas para a frase 1, no 1º ano de escolaridade
58
Quadro 14 – Respostas correctas para a frase 5, no 1º ano de escolaridade
58
Quadro 15 – Respostas correctas para a frase 8, no 1º ano de escolaridade
59
Quadro 16 – Respostas correctas para a frase 11, no 1º ano de escolaridade
59
Quadro 17 – Respostas correctas para a frase 13, no 1º ano de escolaridade
60
Quadro 18 – Respostas correctas para a frase 16, no 1º ano de escolaridade
60
Quadro 19 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de
escolaridade – frase 1
Quadro 20 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de
escolaridade – frase 5
Quadro 21 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de
escolaridade – frase 8
Quadro 22 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de
escolaridade – frase 11
Quadro 23 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de
escolaridade – frase 13
Quadro 24 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de
escolaridade – frase 16
Quadro 25 – Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 5
Quadro 26 – Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 8
Quadro 27 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 13
Quadro 28 – Inadequação semântica, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 1
62
Quadro 29 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 1
67
Quadro 30 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 5
67
Quadro 31 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 8
67
Quadro 32 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 11
68
4
56
57
62
62
63
63
63
65
65
65
66
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 33 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 13
68
Quadro 34 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 16
68
Quadro 35 – Construção de uma frase nova, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 5
70
Quadro 36 – Construção de uma frase nova, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 8
71
Quadro 37 – Ausência de resposta, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade
71
Quadro 38 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas para a categoria nome no 4º ano de
escolaridade
Quadro 39 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria nome no 4º ano de escolaridade
72
Quadro 40 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria nome, no 4º ano de escolaridade
Quadro 41 - Teste de Mann-Whitney para a pontuação total da categoria nome, no 4º ano de escolaridade
73
Quadro 42 – Respostas correctas para a frase 1, no 4º ano de escolaridade
74
Quadro 43 – Respostas correctas para a frase 5, no 4º ano de escolaridade
74
Quadro 44 – Respostas correctas para a frase 8, no 4º ano de escolaridade
75
Quadro 45 – Respostas correctas para a frase 11, no 4º ano de escolaridade
75
Quadro 46 – Respostas correctas para a frase 13, no 4º ano de escolaridade
76
Quadro 47 – Respostas correctas para a frase 16, no 4º ano de escolaridade
76
Quadro 48 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de
escolaridade – frase 1
Quadro 49 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de
escolaridade – frase 5
Quadro 50 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de
escolaridade – frase 8
Quadro 51 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de
escolaridade – frase 11
Quadro 52 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de
escolaridade – frase 13
Quadro 53 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de
escolaridade – frase 16
Quadro 54 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade –
frase 8
Quadro 55 - Inadequação semântica, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 1
77
Quadro 56 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 5
82
Quadro 57 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 8
82
Quadro 58 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 11
85
Quadro 59 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 13
85
Quadro 60 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 16
85
Quadro 61 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas na categoria verbo, no 1º ano de
escolaridade
Quadro 62 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria verbo no 1º ano de escolaridade
87
Quadro 63 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Quadro 64 - Teste de Mann-Whitney para a pontuação total da categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
88
Quadro 65 – Respostas correctas para a frase 2 no 1º ano de escolaridade
89
Quadro 66 – Respostas correctas para a frase 4 no 1º ano de escolaridade
89
5
72
73
78
78
78
79
79
81
82
87
88
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 67 – Respostas correctas para a frase 7 no 1º ano de escolaridade
89
Quadro 68 – Respostas correctas para a frase 9 no 1º ano de escolaridade
90
Quadro 69 – Respostas correctas para a frase 15 no 1º ano de escolaridade
90
Quadro 70 – Respostas correctas para a frase 17 no 1º ano de escolaridade
91
Quadro 71 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria verbo no 1º ano de
escolaridade
Quadro 72 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade –
frase 2
Quadro 73 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade –
frase 4
Quadro 74 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade –
frase 7
Quadro 75 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade –
frase 9
Quadro 76 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade –
frase 15
Quadro 77 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade –
frase 17
Quadro 78 – Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade –
frase 2
Quadro 79 – Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade –
frase 4
Quadro 80 – Alteração de propriedades sintácticas originando agramaticalidade, para a categoria verbo no 1º
ano de escolaridade
Quadro 81 – Transformação de frase afirmativa na negativa, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade
92
Quadro 82 – Inadequação semântica, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade
98
Quadro 83 – Alterações morfológicas com preservação da base, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade
99
93
93
93
94
95
95
96
96
97
98
Quadro 84 – Identificação incorrecta da palavra a substituir, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade
100
Quadro 85 – Construção de uma frase nova, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade
100
Quadro 86 – Ausência de resposta, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade
101
Quadro 87 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas na categoria verbo, no 4º ano de
escolaridade
Quadro 88 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria verbo no 4º ano de escolaridade
101
Quadro 89 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria verbo, no 4º ano de escolaridade
Quadro 90 - Teste de Mann-Whitney para a pontuação total da categoria verbo, no 4º ano de escolaridade
102
Quadro 91 - Respostas correctas para a frase 2 no 4º ano de escolaridade
103
Quadro 92 - Respostas correctas para a frase 4 no 4º ano de escolaridade
104
Quadro 93 - Respostas correctas para a frase 7 no 4º ano de escolaridade
104
Quadro 94 - Respostas correctas para a frase 9 no 4º ano de escolaridade
105
Quadro 95 - Respostas correctas para a frase 15 no 4º ano de escolaridade
105
Quadro 96 - Respostas correctas para a frase 17 no 4º ano de escolaridade
106
Quadro 97 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de
escolaridade
Quadro 98 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade –
frase 2
107
6
102
103
107
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 99 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade –
frase 4
Quadro 100 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade –
frase 7
Quadro 101 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade –
frase 2
Quadro 102 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade –
frase 4
Quadro 103 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade –
frase 9
Quadro 104 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade –
frase 15
Quadro 105 - Alteração de propriedades sintácticas originando agramaticalidade, para a categoria verbo no 4º
ano de escolaridade
Quadro 106 – Inadequação semântica, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade
108
Quadro 107 – Alterações morfológicas com preservação da base, para a categoria verbo no 4º ano de
escolaridade
Quadro 108 – Ausência de resposta, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade
111
Quadro 109 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas para a categoria adjectivo no 1º ano
de escolaridade
Quadro 110 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
114
Quadro 111 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade
Quadro 112 – Teste de Mann-Whitney para a pontuação total da categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade
115
Quadro 113 – Respostas correctas para a frase 3, no 1º ano de escolaridade
116
Quadro 114 – Respostas correctas para a frase 6, no 1º ano de escolaridade
117
Quadro 115 – Respostas correctas para a frase 10, no 1º ano de escolaridade
117
Quadro 116 – Respostas correctas para a frase 12, no 1º ano de escolaridade
118
Quadro 117 – Respostas correctas para a frase 14, no 1º ano de escolaridade
118
Quadro 118 – Respostas correctas para a frase 18, no 1º ano de escolaridade
118
Quadro 119 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
– frase 3
Quadro 120 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
– frase 6
Quadro 121 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
– frase 10
Quadro 122 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
– frase 12
Quadro 123 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
– frase 14
Quadro 124 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
– frase 18
Quadro 125 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo no 1º ano de
escolaridade – frase 6
Quadro 126 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo no 1º ano de
escolaridade – frase 10
Quadro 127 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo no 1º ano de
escolaridade – frase 12
Quadro 128 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo no 1º ano de
119
7
108
109
109
109
109
110
111
112
115
116
120
120
120
121
121
122
122
122
123
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
escolaridade – frase 14
Quadro 129 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo no 1º ano de
escolaridade – frase 18
Quadro 130 - Transformação de frase afirmativa na negativa, para a categoria adjectivo no 1º ano de
escolaridade
Quadro 131 – Inadequação semântica, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
123
124
124
Quadro 132 – Identificação incorrecta da palavra a substituir, para a categoria adjectivo no 1º ano de
escolaridade
Quadro 133 - Construção de uma frase nova, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
125
Quadro 134 - Ausência de resposta, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
127
Quadro 135 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas para a categoria adjectivo no 4º ano
de escolaridade
Quadro 136 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria adjectivo no 4º ano de escolaridade
127
Quadro 137 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria adjectivo, no 4º ano de escolaridade
Quadro 138 – Teste de Mann-Whitney para a pontuação total da categoria adjectivo, no 4º ano de escolaridade
129
Quadro 139 - Respostas correctas para a frase 3, no 4º ano de escolaridade
130
Quadro 140 - Respostas correctas para a frase 6, no 4º ano de escolaridade
130
Quadro 141 - Respostas correctas para a frase 10, no 4º ano de escolaridade
130
Quadro 142 - Respostas correctas para a frase 12, no 4º ano de escolaridade
131
Quadro 143 - Respostas correctas para a frase 14, no 4º ano de escolaridade
131
Quadro 144 - Respostas correctas para a frase 18, no 4º ano de escolaridade
132
Quadro 145 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 4º ano de escolaridade
133
Quadro 146 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo no 4º ano de
escolaridade
Quadro 147 - Inadequação semântica, para a categoria adjectivo no 4º ano de escolaridade
134
Quadro 148 – Uso de palavras não existentes no Português Europeu, para a categoria adjectivo no 4º ano de
escolaridade
Quadro 149 - Ausência de resposta, para a categoria adjectivo no 4º ano de escolaridade
136
Quadro 150 – Pontuação das categorias sintácticas nome, verbo e adjectivo
138
Quadro 151 – Frequências e percentagens para a categoria nome, consoante a posição na frase no 1º ano de
escolaridade
Quadro 152 – Teste de Mann-Whitney para a posição do nome na frase, no 1º ano de escolaridade
139
Quadro 153 – Estatística Descritiva para a posição que o constituinte que integra o nome ocupa na frase – 1º ano
de escolaridade
Quadro 154 - Frequências e percentagens para a categoria nome, consoante a posição na frase no 4º ano de
escolaridade
Quadro 155 – Teste de Mann-Whitney para a posição do nome na frase, no 4º ano de escolaridade
140
Quadro 156 - Estatística Descritiva para a posição que o constituinte que integra o nome ocupa na frase – 4º ano
de escolaridade
Quadro 157 - Frequências e percentagens para a categoria verbo, consoante a subclasse do mesmo, no 1º ano de
escolaridade
Quadro 158 - Teste de Mann-Whitney para a classe do verbo, no 1º ano de escolaridade
141
Quadro 159 - Estatística Descritiva para a subclasse do verbo – 1º ano de escolaridade
143
Quadro 160 - Frequências e percentagens para a categoria verbo, consoante a subclasse do mesmo, no 4º ano de
escolaridade
144
8
126
128
129
135
136
140
141
141
142
143
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 161 - Teste de Mann-Whitney para a classe do verbo, no 4º ano de escolaridade
144
Quadro 162 - Estatística Descritiva para a subclasse do verbo – 4º ano de escolaridade
145
Quadro 163 - Frequências e percentagens para a categoria adjectivo, consoante a função do SA, no 1º ano de
escolaridade
Quadro 164 - Teste de Mann-Whitney para função do SA, no 1º ano de escolaridade
145
Quadro 165 - Estatística Descritiva para a função do SA – 1º ano de escolaridade
146
Quadro 166 - Frequências e percentagens para a categoria adjectivo, consoante a função do SA, no 4º ano de
escolaridade
Quadro 167 - Teste de Mann-Whitney para função do SA, no 4º ano de escolaridade
147
Quadro 168 - Estatística Descritiva para a função do SA – 4º ano de escolaridade
148
Quadro 169 – Pontuação total da tarefa nos 4 grupos
149
Quadro 170 – Comparação entre géneros no 1º ano de escolaridade
149
Quadro 171 – Comparação entre géneros no 4º ano de escolaridade
150
Quadro 172 – Comparação entre anos de escolaridade no género feminino
150
Quadro 173 – Comparação entre anos de escolaridade no género masculino
151
Quadro 174 – Caracterização do meio socioprofissional
164
Quadro 175 – Testes de normalidade para a pontuação total da tarefa de manipulação
174
Quadro 176 – Testes de normalidade para a pontuação de nomes, verbos e adjectivos
174
Quadro 177 – Testes de normalidade para a pontuação de nomes consoante a posição, de verbos consoante a
classe e de adjectivos consoante a função do SA
175
9
146
148
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Agradecimentos
Este trabalho não teria sido possível sem a colaboração de várias pessoas que contribuíram para o
mesmo.
Em primeiro lugar, agradeço à Professora Doutora Anabela Gonçalves e à Professora Doutora
Maria João Freitas, minhas orientadoras, pelo apoio e pelos esclarecimentos prestados ao longo de
todo este processo. Sem a sua disponibilidade e simpatia, não teria sido possível encontrar soluções
para os problemas que foram surgindo. Agradeço-lhes também pela partilha de conhecimentos, que
resultaram num crescimento profissional e pessoal.
Agradeço às Professoras Madalena Colaço e Dulce Tavares, bem como à Terapeuta da Fala Sónia
Vieira, por terem aceitado fazer parte do painel de validação, e pelas indicações preciosas que me
deram para melhorar o trabalho. Tenho de agradecer, especialmente, à Terapeuta da Fala Sónia
Vieira, pelo esclarecimento de questões relacionadas com a classificação dos erros e pela prontidão
e simpatia com que respondeu a todas as minhas dúvidas.
Agradeço à Professora Maria Emília Santos pelo esclarecimentos de algumas questões práticas, e
pelo apoio dado ao longo de todo o mestrado.
Agradeço à Professora Cláudia Silva, pela ajuda no tratamento estatístico dos dados, bem como pela
sua infinita disponibilidade para responder prontamente a todas as dúvidas que lhe coloquei.
Agradeço ao Agrupamento de Escolas da Pontinha (Escola Básica Mello Falcão), ao Agrupamento
de Escolas São Vicente/Telheiras 2 (Escola Básica Luz/Carnide) e ao Colégio José Álvaro Vidal
por terem aceitado participar neste estudo, especialmente ao corpo docente e às crianças que
participaram na recolha de dados.
Por fim, agradeço a todos aqueles que me ajudaram, das mais variadas formas, na realização deste
processo, e que mostraram paciência para o continuar a fazer, mesmo nos dias mais difíceis.
10
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Resumo
O objectivo deste estudo consiste na construção e aplicação de uma tarefa de manipulação de
categorias sintácticas, integrada numa prova de avaliação de consciência sintáctica para o Português
Europeu, desenvolvida por um conjunto de quatro mestrandas, que construíram as tarefas de
reconstituição, de supressão, de identificação e de manipulação que constituem a prova. Esta foi
aplicada a 84 crianças dos 1º e 4º anos de escolaridade do Ensino Básico, sendo que 40
frequentavam o 1º ano e 44, o 4º ano do Ensino Básico.
A tarefa de manipulação que se propõe na presente tese consiste na substituição de itens lexicais de
determinadas categorias sintácticas, o que implica a identificação da categoria a que a palavra
pertence e a escolha de uma palavra adequada à sua substituição. A tarefa é constituída por 18 itens,
seis para cada categoria manipulada – nome, verbo e adjectivo. Foi construída uma tipologia de
erros empiricamente motivada pelas respostas dadas pelas crianças avaliadas, a qual esteve na base
do tratamento dos dados. O tratamento estatístico dos resultados foi efectuado através do programa
SPSS (17.0).
Com a tarefa de manipulação pretendeu-se controlar o papel das variáveis linguísticas categoria
sintáctica e distribuição na avaliação da consciência sintáctica das crianças observadas; as variáveis
extra-linguísticas ano de escolaridade e género foram também tidas em consideração na recolha de
dados e na interpretação do desempenho dos sujeitos.
Quanto à categoria sintáctica da palavra-alvo, os dados mostram que todas as crianças de 1º ano e
os rapazes de 4º ano substituem mais facilmente adjectivos, seguindo-se-lhes de verbos e,
finalmente, os nomes. Contrastivamente, as raparigas do 4º ano não revelaram diferenças de
desempenho na manipulação das três categorias sintácticas.
Quanto à distribuição da palavra-alvo, verificou-se que, relativamente aos nomes, a sua posição (no
constituinte inicial ou no final) não determina diferenças de género em cada ano de escolaridade.
No que diz respeito aos verbos, não existem, nos dois anos de escolaridade, diferenças entre género
se aqueles forem intransitivos; porém, se tivermos em consideração os verbos transitivos, as
raparigas de 1º ano de escolaridade apresentam uma média de respostas correctas superior à dos
rapazes, esbatendo-se esta diferença no 4º ano, em que não se registam diferenças entre géneros
determinadas pela subclasse dos verbos. Quanto aos adjectivos, não existem diferenças entre
géneros determinadas pela função predicativa ou atributiva do Sintagma Adjectival de que o
adjectivo é núcleo, em cada ano de escolaridade.
11
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Os resultados globais sugerem que existem diferenças entre género no 1º ano de escolaridade mas
não no 4º ano de escolaridade, o que revela a possível existência de um efeito de interacção idadegénero. Tal como esperado, as crianças de 4º ano de escolaridade apresentam maior facilidade na
realização da tarefa. Estes dados mostram que a tarefa de manipulação testada é eficaz na
identificação de diferentes níveis de consciência sintáctica, associados aos dois níveis de
escolaridade testados.
Palavras-chave: consciência sintáctica; tarefa de manipulação; categoria sintáctica; distribuição;
ano de escolaridade.
12
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Abstract
The main goal of this study is to create and apply a manipulation task of syntactic categories,
included in an evaluation test of syntactic awareness, for European Portuguese, developed by four
master students, who created reconstruction, deletion, identification and manipulation tasks. These
tasks were applied to 84 children, from 1st (40 children) and 4th grade (44 children) of Elementary
School.
The manipulation task presented in this thesis consists in the replacement of lexical items from
some syntactic categories, which implicates the identification of the category the word belongs to
and the choice of an appropriate word for the replacement. The task consists of 18 items, six for
each manipulated category – name, verb and adjective. A typology of errors was built based on the
children’s answers; this typology was used in the data basis for data treatment. The statistic analysis
was performed under the SPPS (17.0) software.
With the manipulation task we intended to control the role of the linguistic variables syntactic
category and distribution in the evaluation of children´s syntactic awareness; the extra-linguistic
variables school year and gender were also considered in the data collection and in the
interpretation of the subjects performance.
As to the syntactic category of the target-word, the data show that all the children from the 1st grade
and the boys from the 4th grade replace more easily adjectives, followed by verbs and, at last,
names. In contrast, the girls from the 4th grade replace equally the three syntactic categories.
As to the distribution of the target-word, we concluded that, regarding names, their position (within
the first or the final constituent) does not trigger differences between the two genders, for each
school year. Regarding verbs, there are not differences between genders, in both school years, when
intransitive verbs are manipulated. However, when transitive verbs are involved, the correct
answers average is higher for the girls from the 1st grade than for the boys, though this difference
fades in the 4th grade, when the subclass the verb belongs to does not trigger differences between
genders. As to adjectives, there are no differences between genders determined by the predicative or
attributive position of the Adjectival Phrase, in each school year.
The results suggest that there are differences between genders in the 1st grade but not in the 4 th
grade, which may reveal the existence of an age-gender interaction effect. As expected, the children
from the 4th grade have better performances. These data show that the manipulation task is adequate
to identify different levels of syntactic awareness, associated to the two school levels tested.
Key-words: syntactic awareness; manipulation task; syntactic category; distribution; grade.
13
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Introdução
A pesquisa relatada na presente tese foi realizada no âmbito do Mestrado em Terapia da Fala, área
de Patologia da Linguagem, inserindo-se num projecto mais amplo desenvolvido por um grupo de
estudantes1, no contexto do qual se propõe a construção e a aplicação de tarefas de consciência
sintáctica que possam ser utilizadas na construção de uma prova de avaliação de consciência
linguística2. A investigação foi motivada pela escassez de estudos em Portugal sobre esta temática e
pela ausência de provas formais validadas para o Português Europeu que permitam avaliar a
consciência sintáctica nas crianças.
No que concerne à Terapia da Fala, esta investigação é relevante devido à relação entre consciência
linguística e aprendizagem da leitura e da escrita, uma vez que são muitos os casos de dificuldades
neste domínio sinalizados para avaliação. Para efectuar uma intervenção eficaz, direccionada para
as dificuldades de cada criança, é fulcral compreender o que subjaz às dificuldades inerentes à
aprendizagem da leitura e da escrita e que competências linguísticas estão ou não dominadas.
Como tal, a existência de um suporte de avaliação adequado é de relevância incontestável.
No caso específico da presente tese, construiu-se e aplicou-se uma tarefa de manipulação de
categorias e constituintes sintácticos. Esta mesma tarefa foi aplicada a crianças dos 1º e 4º anos de
escolaridade, com o intuito de testar a capacidade de avaliação da tarefa construída.
Os resultados mostraram diferenças significativas de comportamento entre as crianças do 1º e as do
4º ano de escolaridade, o que mostra a capacidade de avaliação da tarefa de manipulação testada.
Quanto à variável género, verificou-se que, no 1º ano de escolaridade, existem diferenças
significativas entre género na pontuação total da tarefa, facto que não ocorre no 4º ano de
escolaridade, o que evidencia um efeito de interacção idade-género. No que diz respeito às
categorias sintácticas testadas, quer as crianças de 1º ano quer os rapazes de 4º ano tiveram
melhores desempenhos na substituição de adjectivos, seguindo-se os verbos e, finalmente, os
nomes. Contudo, as raparigas de 4º ano de escolaridade não apresentaram diferenças significativas
na manipulação das três categorias. Finalmente, quanto à distribuição da palavra-alvo na frase, as
crianças do 1º ano de escolaridade revelaram melhores desempenhos na manipulação de nomes no
1
Ana Rita Castanheira, A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de
identificação (em preparação);
Magda Costa, A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de
reconstituição (em preparação);
Rita Alexandre, A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de
manipulação (em preparação);
2
Ver Secção da Metodologia
14
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
último constituinte, de verbos transitivos e de adjectivos em Sintagmas Adjectivais (SA) com
função predicativa. Contrariamente, as crianças do 4º ano de escolaridade não revelaram diferenças
de desempenho na manipulação de nomes, em posição inicial ou final, nem de verbos de diferentes
subclasses. Em relação aos adjectivos, as crianças deste ano de escolaridade apresentam um
desempenho ligeiramente melhor quando os mesmos se encontram em SAs com função predicativa.
Esta tese encontra-se organizada em três capítulos. No primeiro capítulo, apresenta-se um breve
enquadramento teórico das questões centrais do projecto, com uma secção sobre categorias
sintácticas e uma secção sobre consciência linguística, com especial relevo para a consciência
sintáctica. No capítulo dois, apresentam-se os objectivos e as hipóteses de investigação; descrevese, também, a metodologia utilizada, com os dados referentes à amostra, ao material e
procedimentos utilizados e ao tratamento estatístico dos dados.3 O terceiro capítulo apresenta e
descreve os resultados obtidos e a análise estatística dos mesmos; ainda no terceiro capítulo, é feito
o comentário aos resultados, confrontando-se os mesmos com as hipóteses colocadas no capítulo
dois e com resultados de outros estudos, referidos no capítulo um. Na conclusão, serão sumariados
os principais resultados obtidos e referidas as limitações encontradas no decorrer da investigação.
3
A secção do enquadramento teórico referente à consciência linguística e consciência sintáctica (capítulo um) e parte da metodologia
(capítulo dois) são muito similares aos textos apresentados nas secções congéneres das teses A consciência sintáctica em crianças do
1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de identificação e A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de
escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de reconstituição, de A. R. Castanheira e de M. Costa, respectivamente.
15
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
1. Enquadramento Teórico
1.1.
Categorias Sintácticas
As frases não são meras associações de palavras, que se seguem linearmente. Pelo contrário, cada
frase é dotada de uma estrutura interna hierárquica, ou seja, é constituída por grupos de palavras que
se vão organizando sucessivamente em grupos maiores. Estes grupos de palavras funcionam como
unidades sintácticas e recebem o nome de constituintes. Os constituintes que se combinam para
formar uma unidade sintáctica maior chamam-se constituintes imediatos dessa unidade. Assim, a
análise de uma frase deve ter em conta a sua estrutura de constituintes.
Existem três argumentos a favor da organização das combinações de palavras em constituintes,
como observa Duarte (2000: 129): as intuições dos falantes sobre o modo como se organizam as
palavras numa frase; os resultados gramaticais ou agramaticais dos resultados obtidos pela
aplicação de testes de constituência e a ambiguidade estrutural ou sintáctica.
Em primeiro lugar, qualquer falante nativo de uma língua é capaz de reconhecer a sequência *Este
no recreio menino jogou à bola como agramatical, por oposição a Este menino jogou à bola no
recreio. Com efeito, a inserção da expressão no recreio entre o determinante e o nome que
constituem o sujeito conduz a uma sequência não conforme com as regras da língua. Esta
capacidade de distinguir entre sequências gramaticais e sequências agramaticais decorre do
conhecimento linguístico dos falantes.
Os testes de constituência permitem confirmar as intuições dos falantes, ou seja, dar base objectiva
à análise da estrutura das frases. Baseiam-se em três operações fundamentais (cf. Duarte, 2000:
125): a substituição, a deslocação e a retoma anafórica. Parte-se do principio de que apenas
constituintes suficientemente altos na estrutura da frase respondem positivamente aos testes,
podendo ser substituídos apenas por uma palavra, ser deslocados ou constituir o antecedente de uma
expressão anafórica.
Para proceder à identificação dos constituintes de uma frase, deve-se formular a hipótese de que
uma dada combinação de palavras funciona como uma unidade sintáctica, aplicando-se, em
seguida, pelo menos dois testes baseados em operações diferentes. Se os resultados obtidos forem
gramaticais, tal como já foi referido, a combinação de palavras é uma unidade sintáctica; se o
16
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
resultado for agramatical, deve-se formular uma nova hipótese e iniciar novamente o processo de
aplicação dos testes.
Exemplificando com um item da tarefa aplicada neste estudo, coloca-se a hipótese de que, na frase
Este menino jogou à bola no recreio, a combinação de palavras este menino é um constituinte
principal, neste caso nominal.
O teste de substituição consiste na substituição do constituinte que se está a testar por um pronome
pessoal. O resultado é, neste caso, a frase gramatical Ele jogou à bola no recreio.
O teste de deslocação pode ser aplicado utilizando dois processos: a clivagem e a deslocação à
direita. Por clivagem entende-se colocar um constituinte em posição de contraste pela introdução de
uma forma do verbo ser e da palavra que, sendo que o constituinte irá ocorrer entre estas duas
palavras (Duarte, 2000:125 nota 5) . Exemplificando, com a frase já referida, e partindo da hipótese
formulada obtém-se o seguinte resultado: Foi este menino que jogou à bola no recreio. Se se
utilizar o processo de deslocação à direita, coloca-se o constituinte à direita da frase a que pertence,
separando-o da restante frase através de uma pausa (representada na escrita pela vírgula) (Duarte,
2000: 125 nota 6). Deste modo, o resultado da aplicação deste teste à frase utilizada como exemplo
é Jogou à bola no recreio, este menino. Como se pode verificar, todos os resultados da aplicação do
teste de deslocação são gramaticais, o que confirma a hipótese colocada.
Finalmente, o teste da retoma anafórica (em estruturas de coordenação ou em pares
pergunta/resposta) baseia-se no facto de que, se a expressão que estamos a analisar for um
constituinte principal, pode ser o antecedente de uma expressão anafórica como o pronome pessoal.
Tendo em conta a frase de que partimos, o resultado gramatical é o seguinte: Este menino jogou à
bola no recreio e todos acham que ele jogou bem. Neste caso, o pronome pessoal ele, anafórico,
tem como antecedente o constituinte que se está a testar.
Assim, visto que o resultado de todos os testes aplicados são frases gramaticais, pode-se concluir
que este menino é uma unidade sintáctica, sendo um constituinte principal.
Por sua vez, a ambiguidade estrutural, referida acima como argumento para a análise em
constituintes, consiste no facto de existirem frases a que os falantes podem atribuir mais do que uma
interpretação, por ser possível atribuir-lhes maus do que uma estrutura sintáctica, ou seja, por
existirem diferentes possibilidades de organização das palavras em constituintes. Veja-se os
exemplos em (1), retirados de Duarte (2000: 129, ex. (12)):
17
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
1) a. Eles trouxeram vinho de Bordeús.
b. Os filmes e as telenovelas interessantes são um óptimo divertimento.
A frase primeira frase pode ser interpretada como Foi vinho de Bordéus que eles trouxeram ou Foi
de Bordéus que eles trouxeram vinho. No primeiro caso mencionado, vinho de Bordéus é um
constituinte principal, e a frase significa que alguém trouxe um tipo específico de vinho. Na
segunda interpretação vinho e de Bordéus são dois constituintes principais que se combinam com o
verbo para formar a unidade trouxeram vinho de Bordéus, sendo que a frase significa que Bordéus é
o sítio de onde trouxeram o vinho. No caso da frase (1b), podem existir duas interpretações: todos
os filmes e apenas as novelas interessantes são um óptimo divertimento ou só os filmes
interessantes e as telenovelas interessantes constituem um óptimo divertimento. Na primeira
situação, interessantes combina-se directamente com telenovelas para formar a unidade telenovelas
interessantes; no segundo caso, interessantes combina-se com toda a unidade os filmes e as
telenovelas (Duarte, 2000: 129).
Tendo estabelecido a definição de constituinte como uma combinação de palavras que funciona
como uma unidade sintáctica, coloca-se a questão da natureza dos constituintes que ocorrem nessas
combinações de palavras. Um dos elementos fundamentais dos constituintes principais é o seu
núcleo. É este elemento que atribui a designação ao constituinte, bem como as suas propriedades
essenciais. Os núcleos podem pertencer a diferentes categorias sintácticas ou classes de palavras:
nome, adjectivo, verbo, preposição, entre outros. Os constituintes de que estas categorias são núcleo
designam-se como Sintagma Nominal (SN), Sintagma Verbal (SV), Sintagma Adjectival (SA),
Sintagma Preposicional (SP) e assim em todos os casos.
Existem, na literatura, várias metodologias de identificação de classes de palavras, como por
exemplo, critérios semânticos, morfológicos e sintácticos.
Os critérios semânticos ou nocionais defendem que as classes de palavras são definidas com base
nas suas propriedades semânticas, ou seja, no seu significado inerente, seguindo a tradição
gramatical greco-latina. Assim, se consultarmos Cunha & Cintra (1984/2002) encontramos as
seguintes definições: (i) “Substantivo é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em
geral. São, por conseguinte, substantivos: a) os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um
género, de uma espécie ou de um dos seus representantes (…), b) os nomes de noções, acções,
estados e qualidades, tomados como seres (…) (op. cit: 177); (ii) “O Adjectivo é essencialmente um
modificador do substantivo. Serve: 1º) para caracterizar os seres, os objectos ou as noções
18
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
nomeadas pelo substantivo, indicando-lhes: a) uma qualidade (ou defeito) (…) b) o modo de ser
(…) c) o aspecto ou aparência (…) d) o estado (…), 2º) para estabelecer com o substantivo uma
relação de tempo, de espaço, de matéria, de finalidade, de propriedade, de procedência, etc.” (op.
cit: 247); (iii) “Verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um
acontecimento representado no tempo (…) (op. cit: 377).
Contudo, as definições acima transcritas levantam alguns problemas quando as queremos aplicar
para a identificação da categoria das palavras, visto que, por exemplo, nem sempre os verbos
denotam acções, como acontece com verbos como ser, estar, adorar, entre outros. Por outro lado,
existem palavras que, não sendo verbos, denotam acções (A contagem dos votos foi demorada). Do
mesmo modo, nem sempre os nomes denotam entidades (A bondade da Maria é infinita) e,
adicionalmente, existem palavras que, não sendo adjectivos, denotam estados (A doença da Maria é
de origem nervosa).
De acordo com a perspectiva gramatical tradicional, a classificação das palavras como nome,
adjectivo ou verbo é morfológica e não sintáctica. Ao considerar estas palavras como pertencendo a
categorias sintácticas, a Linguística assume uma posição distinta da tradição gramatical greco-latina
(Duarte, 2000: 131). Tendo em conta que existem muitas línguas sem morfologia flexional, ou com
morfologia flexional muito reduzida, e que também classificam as palavras como verbo, nome,
adjectivo, não é possível usar critérios morfológicos para identificar universalmente as categorias a
que pertencem as palavras. Por outro lado, as línguas podem variar quanto às propriedades
morfológicas dos itens que pertencem a uma dada classe. Assim, por exemplo, não é possível
definir um adjectivo como uma categoria que flexiona em género e número e admite variação de
grau, tanto interlinguisticamente (cf. 2), como intralinguisticamente (cf. 3).
2) a) Uma casa amarela/os livros amarelos (adjectivo flexionado em género e número no PE)
b) A yellow shirt/the yellow coats (adjectivo é invariável no Inglês)
3) a) Uma rapariga simpática/mais simpática do que a irmã/muito simpática (adjectivo que admite
variação de grau, no PE)
b) um carro eléctrico/*mais eléctrico do que o comboio/*muito eléctrico (adjectivo que não
admite variação de grau, no PE)
19
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Em terceiro lugar, Duarte (2000: 132) refere os casos de homonímia como o argumento mais forte
contra o uso de critérios morfológicos para identificar a categoria sintáctica de uma palavra. Veja-se
o exemplo retirado (4), retirado de Duarte (2000:132).
4) Canto entusiástica e desafinadamente, quando ouço o canto dos pássaros, sentada no meu canto
favorito do jardim.
O facto de os falantes não interpretarem de forma ambígua as diferentes ocorrências da palavra
canto, sendo sensíveis ao contexto sintáctico para determinarem o significado adequado de cada
uma dessas ocorrências, mostra que a classificação das palavras em categorias deve obedecer
essencialmente a critérios de natureza sintáctica.
Dada a insuficiência dos critérios semânticos/nocionais e dos critérios morfológicos foi necessário
encontrar critérios de classificação das palavras “que permitissem a atribuição não equívoca de uma
categoria sintáctica às palavras de língua tipologicamente muito diferentes” (Duarte, 2000: 133).
Esses critérios, sintácticos, surgiram associados ao conceito de distribuição e à metodologia de
análise distribucional da Linguística estruturalista norte-americana.
A distribuição de um item constitui a soma dos contextos sintácticos em que cada palavra pode
ocorrer, “definindo-se contexto sintáctico como os vizinhos que uma palavra pode ter à sua
esquerda e à sua direita (ou seja, as palavras e as unidades sintácticas que a podem preceder e
seguir).” (Duarte, 2000: 133). Assim, se duas palavras têm a mesma distribuição, ou seja, são
distribucionalmente equivalentes, pertencem à mesma categoria sintáctica.
Existem vários argumentos em favor desta abordagem, sintetizados em Duarte (2000: 134-136):
(i) Palavras da mesma categoria sintáctica ocorrem no mesmo ponto da cadeia sintagmática4,
assim, em (5), as palavras saia e azul são da mesma categoria (nome), mas comprou pertence a
uma categoria diferente (verbo).
(5) a. a saia azul
b. a casa azul
c. *a comprou azul
4
Por exemplo, a classe dos nomes é, tipicamente, precedida de determinantes ou quantificadores e, ocasionalmente, de adjectivos, e
pode ser seguida de expressões adjectivais e preposicionais, bem como, orações subordinadas relativas ou completivas.
20
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(ii) Duas palavras da mesma categoria não podem co-ocorrer no mesmo ponto da cadeia
sintagmática, como se verifica pela agramaticalidade de (6a), em que co-ocorrem as palavras
saia e casa, ambas nomes, e (6b) em que co-ocorrem os determinantes o e este.
(6) a. *a saia casa azul
b. *o este rapaz
Assim, se duas palavras podem co-ocorrer contiguamente numa combinação de palavras não
pertencem à mesma categoria sintáctica (cf. 7, exemplos de Duarte, 2000: 135)
(7) a. cavalo formoso
b. touro bravo
c. rapaz alto
Note-se que, em alguns casos, palavras da mesma classe podem co-ocorrer, mas apenas se se
incluírem em subclasses distintas.
(8) a. rio Tejo (nome comum + nome próprio)
b. Ele já tinha saído (verbo auxiliar + verbo principal).
A tarefa construída para esta dissertação – tarefa de manipulação – assenta precisamente no
princípio de que palavras da mesma categoria sintáctica são distribucionalmente equivalentes, pelo
que podem substituir-se umas às outras no mesmo ponto da frase.
Na presente dissertação, serão tratadas as seguintes categorias: nome, verbo e adjectivo. No que diz
respeito aos verbos, os itens construídos incluem apenas verbos principais. Trata-se de núcleos
lexicais plenos, dotados de propriedades de selecção semântica (número de argumentos e respectivo
papel temático) e propriedades de selecção sintáctica (categoria de cada argumento e relação
gramatical que assume na oração).
Com base no número de argumentos que seleccionam e na relação gramatical que esses argumentos
desempenham na oração, Duarte (2003: 209-302), distingue as seguintes subclasses de verbos
principais: ditransitivos (anunciar, apresentar, comprar), transitivos de três lugares (confundir,
afastar, converter, distribuir), transitivos-predicativos (achar, classificar), transitivos (adorar,
assassinar), verbos de dois lugares com um argumento interno objecto indirecto (acudir, obedecer),
verbos de dois lugares com um argumento interno oblíquo (assistir, colidir, depender, confiar),
21
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
verbos inergativos (chorar, dançar), verbos inacusativos (cair, crescer) e verbos de zero lugares
(chover, amanhecer)5. Na tarefa construída para este estudo apenas se irá testar o comportamento
das crianças no que diz respeito a verbos transitivos (comprar, ler, pintar) e verbos inergativos
(chorar, dormir, dançar).
Os Verbos Transitivos seleccionam um argumento externo com a relação gramatical de Sujeito e
um argumento interno com a relação gramatical de Objecto Directo, como em (9):
(9) O João comprou um boneco.
Os Verbos Inergativos ou verdadeiros Verbos Intransitivos são verbos de um lugar, que
seleccionam um argumento externo com a relação gramatical de Sujeito6. Para além disso, têm as
seguintes propriedades:
(i) o sujeito destes verbos não admite a construção de Particípio Absoluto
(10) *chorado o bebé, demos-lhe a chupeta.
(ii) a forma participial não pode ocorrer em posição predicativa (11a) nem em posição
atributiva (11b).
(11) a. * o bebé está chorado.
b. * o bebé chorado tinha cólicas.
1.2.
Consciência Linguística e Consciência Sintáctica7
A comunidade linguística à qual uma criança é exposta activa a faculdade da linguagem e leva-a a
evoluir para um sistema de conhecimento específico, que se torna estável no final da adolescência e
que se denomina conhecimento da língua. Este conhecimento é intuitivo, ou seja, não consciente, e
pode conceber-se como a gramática da língua materna desenvolvida natural e espontaneamente pelo
falante (Sim-Sim, Duarte & Ferraz, 1997: 19-20). Este conhecimento natural, consequência directa
da faculdade da linguagem, designa-se por conhecimento implícito e o seu nível de
5
Esta classificação, apesar de não ser unânime na literatura sobre o assunto, será a classificação utilizada neste estudo.
Estes verbos distinguem-se dos inacusativos, que também seleccionam um argumento com a relação gramatical de sujeito, tratandose, no entanto, de um argumento interno. Para as diferenças entre verbos inergativos e verbos inacusativos, ver Duarte (2003:301).
7
Devido à natureza do projecto em questão e à pesquisa bibliográfica realizada, comum às três investigadoras, a presente secção tem
por base um texto da co-autora Ana Rita Castanheira.
6
22
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
desenvolvimento durante o 1º Ciclo do Ensino Básico tem repercussões no sucesso na
aprendizagem da leitura e da escrita.
Segundo Duarte (2008: 9), as crianças cuja língua de escolarização coincide com a língua materna
chegam ao 1º ano de escolaridade capazes de compreender e produzir enunciados orais, tendo
adquirido, intuitivamente, o essencial da estrutura gramatical dessa língua, o que lhes permite usá-la
em diversos contextos informais com a família e/ou os seus pares e entrar em contacto com
contextos de explicitação de conhecimento linguístico. Por conhecimento explícito, entende-se a
capacidade de reflexão, quase sempre com base em uso de terminologia específica, sobre o
conhecimento intuitivo da língua (Sim-Sim, et al., 1997), bem como o conhecimento dos princípios
e regras que regulam o uso oral e escrito desse sistema (Duarte, 2008: 17). Sim-Sim et al. (1997:
31) acrescentam que a consciencialização do conhecimento implícito facilita a referência aos
conteúdos a trabalhar em contexto lectivo, ajuda os alunos a descobrirem as regras gramaticais que
usam e permite a identificação rápida das dificuldades que manifestam no uso que fazem da língua.
O conhecimento metalinguístico distingue-se dos dois tipos de conhecimento anteriormente
referidos e remete para a “capacidade de reflexão sobre a linguagem e sua utilização, e para
competências de controlo e planificação sobre os seus próprios processos de tratamento linguístico”
(Gombert, 1990, citado por Silva, 2003: 117). O conhecimento metalinguístico tem uma natureza
diferente da do conhecimento implicado no processamento do discurso oral, surgindo mais tarde e
de forma independente da aquisição da linguagem, visto que o sujeito não necessita de ter
consciência das unidades do discurso para o processar. Para Tunmer, Herriman e Nesdale (1988),
consciência metalinguística é a capacidade de desempenhar operações mentais sobre o que é
produzido, através dos processos de compreensão da língua (Kolinsky, citado por Capovilla,
Capovilla & Soares, 2004).
A consciência linguística tem na base alguma capacidade de distanciamento, reflexão e
sistematização relativamente aos enunciados da língua, situando-se num estado intermédio entre o
conhecimento intuitivo da língua e o conhecimento explícito (Duarte, 2008). Silva (2003: 118)
refere que a mesma “(…) engloba capacidade para reflectir sobre as características formais da
linguagem ao nível dos seus segmentos fonológicos, dos seus elementos semânticos, ao nível da
estrutura sintáctica, e ainda ao nível da adequação pragmática do discurso.” (Silva, 2003: 118). A
mesma autora acrescenta que, durante os anos pré-escolares, as crianças evidenciam alguns
comportamentos que revelam o desenvolvimento de capacidades de reflexão sobre a linguagem oral
23
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(Slobin, 1978, citado por Silva, 2003), apesar de os mesmos não revelarem ainda reflexão e
controlo deliberado sobre a linguagem e as suas estruturas.
Para Gombert (2003, citado por Copovilla et al., 2004), as capacidades metalinguísticas são
conscientes e intencionais, contrariamente às capacidades linguísticas, não-conscientes, nãointencionais e decorrendo apenas do conhecimento implícito. De acordo com o mesmo autor,
podem ser observados comportamentos demonstrativos de capacidades metalinguísticas a partir dos
2 anos. Viana (2002) acrescenta que as crianças demonstram estes comportamentos quando: 1)
fazem observações a propósito da pronúncia de certas palavras ou do sotaque de certas pessoas; 2)
fazem exercícios de treino de pronúncia de sons recém-adquiridos; 3) inventam rimas. No entanto,
embora a sensibilidade linguística esteja presente precocemente, a consciência linguística e o
conhecimento explícito desenvolvem-se mais tardiamente e são especialmente promovidos durante
a aprendizagem da leitura e da escrita, ou seja, em idade escolar, sendo que vários autores têm
apontado a consciência linguística como um factor promotor no processo de aprendizagem da
leitura e da escrita (Downing & Valtin, 1984; Tunmer, Pratt & Herriman, 1984; Wagner &
Torgesen, 1984; Adams, 1994, citados por Viana, 2002).
Bialystok (1993, citado por Correa, 2004), Nesdale & Tunmer (1984) e Tunmer & Bowey (1984)
(citados por Layton, Robinson, & Lawson, 1998) referem que existem as seguintes principais
componentes da capacidade metalinguística que se relacionam com a leitura:
(a) consciência fonológica (identificação e manipulação das estruturas fonológicas da língua;
conhecimento dos sons e de como estes se relacionam com os grafemas);
(b) consciência da palavra (identificação e manipulação da palavra como unidade);
(c) consciência sintáctica (identificação e manipulação das estruturas sintácticas da língua);
(d) consciência pragmática (identificação e manipulação dos usos sociais da língua);
(e) consciência morfológica (identificação e manipulação das estruturas morfológicas da língua; (cf.
Carlisle, 2000; Levin, Ravid & Rapaport, 1999; Mahony, Singson & Mann, 2000, citados por
Correa, 2004);
(f) consciência textual, que diz respeito ao controle intencional da compreensão e da produção de
texto (Gombert, 1992, citado por Correa, 2004).
24
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Um estudo longitudinal de Dreher & Zenge (1990, citados por Layton, Robinson, & Lawson, 1998),
com a duração de cinco anos, mostrou que as primeiras quatro áreas de consciência linguística
referidas acima são importantes preditores do sucesso na leitura, sendo a consciência fonológica o
tipo de consciência linguística mais estudado, quer isoladamente, quer na relação com a leitura e
escrita. Silva (2003) refere vários autores (Williams, 1984; Wagner & Torgesen, 1987; Adams,
1994) que estudaram o valor preditivo e as fortes correlações existentes entre a consciência
fonológica e a aprendizagem da leitura, chegando à conclusão de que as crianças pequenas que
apresentam bons resultados em tarefas de consciência fonológica estão posteriormente situadas
entre os melhores leitores. Pelo contrário, crianças que iniciam o 1º ano de escolaridade com um
frágil desenvolvimento da consciência fonológica irão estar, mais tarde, entre os maus leitores.
Sendo que a consciência fonológica tem sido bastante estudada ao longo das últimas décadas, já
existe uma grande variedade de tarefas para a sua avaliação. O Quadro 1 apresenta as provas mais
utilizadas para testar a consciência fonológica (Alves, Correia & Castro, em preparação, citado por
Afonso, 2008: 26).
Quadro 1 - Tarefas e Capacidades utilizadas para avaliar consciência fonológica (Alves et al., citado por Afonso, 2008:
26)
Capacidades
Reconstituição
Segmentação
Identificação
Provas
Síntese Silábica
Segmentação
Reprodução
Análise
Contagem
Comparação com o modelo
Igual/Diferente
Exclusão da diferente
Identificação da sílaba
Manipulação –
Exclusão
Apagamento da sílaba inicial/
medial ou final
Manipulação –
Transposição
Inversão silábica
25
Exemplo
São dadas as sílabas
isoladamente e é pedido ao
sujeito que identifique a
palavra.
É dada uma palavra e é
pedido ao sujeito que a
segmente em sílabas.
É pedido que sujeito o
identifique as sílabas da
palavra para que possa
proceder a tarefas de
identificação.
É pedido ao sujeito que
mantenha em memória as
sílabas da palavra e que as
manipule segundo a tarefa
proposta.
É dada uma palavra ao
sujeito e é pedido que este
inverta a ordem das
sílabas.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Na presente tese, estudam-se aspectos específicos da consciência sintáctica, assunto sobre o qual
nos debruçaremos em seguida. Quanto à consciência sintáctica, Gombert (1990, citado por Silva,
2003) define-a como a possibilidade de o sujeito raciocinar conscientemente sobre os aspectos
sintácticos da linguagem e controlar, de forma deliberada, o uso das regras da gramática. Sim-Sim
(1998, citada por Silva, 2003) acrescenta que esta competência se traduz na capacidade de efectuar
juízos sobre a gramaticalidade de um enunciado, proceder à sua correcção. Silva (2003), acrescenta
que as crianças chegam à escola com diferentes níveis de consciência sintáctica o que interfere na
maneira como as crianças, durante a aprendizagem da leitura, usam o contexto linguístico na análise
de palavras e na sua capacidade para integrar as informações extraídas do texto que estão a ler.
A consciência sintáctica tem sido avaliada, nos trabalhos consultados, por tarefas orais como:
(a) julgar frases – Após ouvir frases com problemas de concordância como O menina está
dormindo, ou com problemas de ordem, como Sapo o comeu o insecto, a criança deve dizer
se as frases estão ou não correctas.
(b) corrigir frases - Consiste em, após ouvir frases com incorrecções gramaticais, rectificar
essas incorrecções, dizendo a frase correctamente8.
(c) completar frases - Consiste em terminar correctamente palavras de frases ou textos, como,
por exemplo, Eu comprei um ordi___, João comprou dois or___.
(d) replicar erros - Consiste em, ao ouvir duas frases, uma correcta e uma incorrecta, repetir o
erro da incorrecta na correcta, ou seja, a partir de Nós pegou os livros e de Nós gostamos do
filme, produzir Nós gostou do filme (Gombert, 2003; Tsang & Stokes, 2001, citados por
Capovilla, et al., 2004).
(e) categorizar unidades sintácticas -
Consiste em ouvir palavras e classificá-las como
substantivos, verbos e adjectivos (Rego & Buarque, 1997, citados por Capovilla et al.,
2004).
Silva (2003), baseando-se nos trabalhos de Gombert (1990), Emerson (1980) e Sim-Sim (1998),
refere que a capacidade para emitir juízos sintácticos de natureza mais formal parece não ocorrer
antes dos sete anos, contudo, as crianças evidenciam ter algumas intuições sobre as características
estruturais das frases, com base em pistas de natureza semântica, desde muito cedo. Sim-Sim (1998)
8
Demont (1997, citado por Capovilla et al., 2004 ) usou uma variação da tarefa de correcção de frases, denominada correcção de
frases assemânticas e agramaticais. Nesta tarefa eram apresentadas oralmente à criança frases com incorrecções semânticas e
gramaticais; a criança deveria corrigir apenas o erro gramatical, ignorando o semântico.
26
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
acrescenta que, antes da idade escolar, as crianças apresentam indicadores de sensibilidade à
estrutura sintáctica mas só a partir dos 6/7 anos demonstram consciência da aceitabilidade
gramatical da língua materna. Aos 3/4 anos, é frequente a criança efectuar correcções ao seu próprio
discurso ou ao discurso dos seus pares .
A consciência sintáctica é importante para a aprendizagem da leitura e da escrita porque permite ao
leitor processar palavras desconhecidas em função do contexto sintáctico. Bryant (1993, citado por
Rego, 1997) demonstra a correlação positiva entre o desempenho em tarefas de consciência
sintáctica e o posterior desempenho na leitura de palavras que impõem dificuldades ortográficas, ou
seja, que não podem ser lidas correctamente com o uso exclusivo da descodificação. Além de
contribuir para o reconhecimento de palavras, a reflexão sobre as propriedades sintácticas é
essencial para a extracção do significado do texto, uma vez que tal significado depende não só da
soma dos significados dos elementos lexicais individuais, mas também da forma pela qual tais
elementos se articulam, o que é evidenciado por índices gramaticais como a ordem dos elementos
na frase, a presença de palavras funcionais (preposições, artigos), a presença de morfemas
gramaticais e, no caso da leitura, a pontuação (Capovilla et al., 2004).
Ehri e Wilce (1980, citados por Lesaux, Siegel & Rupp, 2006), na década de 80, referiram que
leitores com boa consciência sintáctica são capazes de utilizar a frase e pistas de contexto para
adivinhar as palavras que virão em seguida num texto. Uma boa capacidade de consciência
sintáctica irá, igualmente, permitir aos leitores monitorizarem os seus processos de compreensão da
leitura eficazmente (Tunmer & Hoover, citados por Lesaux et al, 2006). Tunmer e Hoover (1992,
citados por Plaza & Cohen, 2003) evidenciam, também, que a consciência sintáctica pode ter
implicações na variação da habilidade de descodificação da informação escrita, depois de os
problemas de consciência fonológica estarem resolvidos.
Tunmer (1989, citado Silva, 2003: 73) explicita a função desempenhada pela consciência sintáctica
na aquisição da leitura ao defender que “(…) este tipo de competências seria essencial para ajudar o
reconhecimento de palavras nas fases iniciais de aprendizagem, na medida em que ajuda as crianças
a ultrapassarem erros de descodificação quando lêem palavras desconhecidas. Por outro lado, os
conhecimentos sintácticas facilitam os processos de compreensão, nomeadamente no que concerne
à integração das informações lidas num texto.” Siegel (1993, citado por Lesaux et al., 2006)
reafirma este aspecto, referindo que a consciência sintáctica, bem como o processamento fonológico
e a memória de trabalho, são competências necessárias para a leitura de palavras e a compreensão
da leitura.
27
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Tunmer, Nesdale e Wright (1987) compararam, em diversas tarefas de consciência sintáctica,
crianças mais jovens e bons leitores com crianças mais velhas e maus leitores, mas com nível de
leitura idêntico. Os resultados indicaram que as crianças mais jovens obtiveram melhores
desempenhos nas tarefas de consciência sintáctica do que as crianças mais velhas. Para Tunmer et
al (1987), este resultado constitui evidência de que o atraso no desenvolvimento da consciência
sintáctica pode reflectir-se no desenvolvimento da capacidade de leitura, sugerindo que a
consciência sintáctica pouco estimulada pode estar relacionada com dificuldades na aprendizagem
da leitura. Nesta perspectiva, os autores formularam a hipótese de que a aprendizagem inicial da
leitura é influenciada tanto pela consciência fonológica quanto pela consciência sintáctica, ou seja,
que a consciência fonológica influencia directamente a aquisição da correspondência fonemagrafema, ligada ao processo de descodificação, enquanto a consciência sintáctica possibilita que as
crianças focalizem as palavras enquanto categorias sintácticas, o que, por sua vez, aumenta a
capacidade de identificação e produção de palavras escritas. Para testar esta hipótese, Tunmer,
Herriman e Nesdale (1988) conduziram um estudo com 100 crianças australianas, avaliadas através
de uma tarefa de consciência sintáctica (corrigir frases agramaticais) e uma tarefa de consciência
fonológica (contar os fonemas de palavras sem sentido). Os autores constataram uma relação
preditiva entre consciência sintáctica e consciência fonémica e o desenvolvimento da capacidade da
criança na descodificação e compreensão na leitura.
Rego (1991, citado por Rego, 1997) realizou um estudo longitudinal com 57 crianças britânicas que
iniciaram a leitura através do método global, sem qualquer aprendizagem de conceitos fonológicos.
As crianças foram avaliadas através de diferentes tarefas de consciência sintáctica e fonológica, aos
cinco anos e seis meses, antes de iniciarem o processo de aprendizagem de leitura. Voltaram a ser
avaliadas, através da leitura de uma lista de palavras isoladas e de uma outra com facilitação
contextual, aos seis meses e doze meses. Um ano depois, as capacidades de descodificação e de
compreensão foram avaliadas, tendo-se verificado que: (1) existe uma interacção entre o nível de
leitura e a facilitação contextual, no final do primeiro ano, sendo que as crianças com maior
progresso na leitura eram capazes de usar a informação contextual de forma mais eficaz; (2) as
tarefas de consciência fonológica são muito boas para prever a capacidade de leitura de listas de
palavras isoladas, enquanto que as tarefas de consciência sintáctica são boas a prever a facilitação
contextual na leitura; (3) as capacidades de consciência sintáctica e fonológica, existentes e medidas
aos cinco anos e seis meses, são factores capazes de prever o progresso da criança na
descodificação e na compreensão da leitura, no final do ano de escolaridade. Estes resultados vão ao
28
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
encontro dos já descritos por Tunmer et al. (1988), estudo no qual a consciência sintáctica prediz
também o desempenho da criança na descodificação e na compreensão da leitura.
Contudo, apesar das investigações sobre consciência sintáctica relacionadas com a capacidade de
leitura e escrita, Cain (2007) considera que não é possível ainda conhecer com clareza a relação
entre as mesmas, sendo que alguns estudos referem um relação específica entre consciência
sintáctica e capacidade de leitura de palavras ou compreensão da leitura e outros estudos sugerem
que essa relação é mediada por capacidades de linguagem, não especificando quais.
Para o Português, verifica-se que o número de pesquisas considerando a relação entre consciência
sintáctica e aprendizagem da leitura e da escrita é bastante reduzido.
O estudo realizado por Rego (1993), envolvendo 32 crianças brasileiras, permitiu verificar que a
consciência sintáctica constitui um bom preditor do progresso das crianças tanto na descodificação
quanto na compreensão da leitura. No entanto, num estudo de 1995, envolvendo 50 crianças
brasileiras alfabetizadas através do método tradicional com ênfase exclusiva no ensino de padrões
silábicos, o autor apresentou resultados diferentes. Rego (1995) não encontrou uma relação entre
consciência sintáctica e progresso inicial na descodificação das palavras. Barrera (2000, citado por
Guimarães, 2003) efectuou um estudo com 65 crianças da 1ª série e testou a hipótese de que as
habilidades metalinguísticas, como a consciência fonológica, a lexical e a sintáctica, desempenham
um papel facilitador na aprendizagem da linguagem escrita. Os resultados desta investigação
mostraram correlações positivas entre os níveis de consciência fonológica e sintáctica no início do
ano lectivo e o desempenho em leitura e escrita no final do ano. Desse modo, a autora concluiu que
os alunos que iniciaram o processo de alfabetização com melhores níveis de capacidades
metalinguísticas apresentaram um melhor desempenho na leitura e escrita no final do ano lectivo.
Embora os resultados do estudo de Barrera (2000, citada por Guimarães, 2003) corroborem os
resultados encontrados por Rego (1993), é importante relembrar a hipótese de Rego (1995), que
defende que a influência da consciência sintáctica sobre o desempenho inicial na leitura depende do
método de ensino a que a criança/leitor é exposta/o. Enquanto não houver um acordo quanto à
importância do impacto da consciência sintáctica na aprendizagem da leitura e da escrita em
Português, permanece a necessidade de novos estudos para investigar como a capacidade das
crianças em identificar, julgar e manipular estruturas frásicas pode influenciar o processo de
aprendizagem da leitura e da escrita (Guimarães, 2003).
29
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Guimarães (2003) sugere que, dado que o sistema ortográfico representa simultaneamente os níveis
fonológico e morfossintáctico, a aprendizagem da leitura e da escrita é influenciada tanto pela
consciência fonológica, ligada ao processo de descodificação e codificação, quanto pela consciência
morfossintáctica, que possibilita a focalização das palavras enquanto categorias gramaticais,
aumentando a capacidade de identificação e produção da linguagem escrita.
Sim-Sim (1998) realizou vários trabalhos, em Portugal, que confirmam que as crianças de nove
anos têm mais facilidade em identificar erros em estruturas frásicas e proceder à respectiva
correcção do que crianças com seis anos. Num contributo para o conhecimento sobre o
desenvolvimento linguístico das crianças portuguesas, a autora construiu um instrumento de
avaliação da linguagem oral com tarefas de avaliação referentes à avaliação do conhecimento
intuitivo das regras sintácticas que regulamentam a língua portuguesa. Ilustrando:
(12) Tarefas de avaliação do conhecimento sintáctico retiradas de Sim-Sim (1998)
(i) Compreensão de estruturas complexas – Tem como objectivo avaliar o reconhecimento de
um enunciado descontextualizado, através da resposta a uma questão com base no
respectivo enunciado;
(ii) Reflexão morfo-sintáctica – É pedido à criança que julgue a gramaticalidade da estrutura
sintáctica e, que, em caso de agramaticalidade, identifique o erro e o corrija;
(iii) Completamento de frases – Exige a compreensão de uma estrutura frásica, na qual faltam
uma, duas ou três palavras; pretende-se que o sujeito seja capaz de completar a frase através
da identificação dos elementos em falta.
Duarte (2008) refere a importância da promoção da consciência sintáctica no processo de
aprendizagem da leitura e da escrita, visto que vários aspectos estruturais de um texto funcionam
como pistas para a sua compreensão. Assim, pistas estruturais como ordem de palavras e
conectores, períodos e parágrafos melhoram a identificação das ideias principais e a sua retenção na
memória. A mesma autora sugere diversas actividades de consciência sintáctica, que não recorrem a
qualquer metalinguagem gramatical (cf. 13).
(13) Actividades de consciência sintáctica (Duarte, 2008: 40-47)
(i)
Manipulação envolvendo alargamento – Este tipo de manipulação contribui para o
desenvolvimento do comprimento médio dos enunciados, ao sensibilizar as crianças
para as possibilidades oferecidas pela língua de construir unidades sintácticas
30
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
progressivamente mais complexas. A autora sugere vários exercícios envolvendo
alargamento; segue-se um exemplo:
Ex: Torna cada uma das frases abaixo apresentadas maiores, acrescentando características
que conheças dos heróis que lá são referidos – Harry Potter é um feiticeiro.
(ii)
Manipulação envolvendo substituições – Esta tarefa implica a construção de frases
idênticas à produzida pelo adulto, substituindo apenas uma palavras, o que é
fundamental para a identificação de classes gramaticais:
Ex: Ouve a frase que vou dizer: O menino jogou à bola. – Agora, inventa outras frases
iguais em tudo menos na palavra menino.
(iii)
Manipulação envolvendo reduções – Este tipo de manipulação remete para a redução de
frases sem retirar o sentido às mesmas, o que lhes permite identificar os elementos
centrais da frase nas suas unidades elementares. Este tipo de actividades sensibiliza as
crianças para os elementos nucleares da frase e para as suas unidades estruturais,
levando-as a compreender a diferença entre estes e os modificadores.
Ex: Reduz o mais possível as frases sem lhes retirares o sentido: Na semana passada, o
Pedro guardou os esquis no armário do quarto. A solução seria O Pedro guardou os esquis.
(iv)
Manipulação envolvendo segmentação – Nesta tarefa, pretende-se que a criança
identifique as partes fundamentais das estruturas frásicas, permitindo identificar
unidades estruturais da frase e sua função:
Ex: Ouve com atenção a frase que eu vou dizer: O Pedro comeu gelatina. Quais são os
bocados mais importantes da frase?
(v)
Manipulação envolvendo deslocação – Este tipo de actividades pode ser utilizada para
identificar unidades estruturais da frase e para sensibilizar as crianças para o papel do
contexto na selecção da ordem de palavras mais adequada.
Ex: Constrói a frase que te parecer mais adequada ao seguinte contexto: Alguém diz que a
Ana está na piscina. Tu sabes que quem lá está é o Pedro. Não dizes: O Pedro está na
piscina; dizes: Quem está na piscina é o Pedro.
(vi)
Complexidade sintáctica – Trata-se de tarefas que permitem sensibilizar a criança para a
complexidade sintáctica:
a. Juntar duas frases numa só - O bebé queria a chupeta. O pai deu-lhe a chupeta;
31
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
b. Escolher palavras de uma lista, para completar frases;
c. Sublinhar a frase que está dentro da frase maior.
Tendo em conta as investigações mencionadas, o estudo da consciência sintáctica parece ser
relevante, não só por esta ser uma capacidade que permite compreender melhor as habilidades
metalinguísticas das crianças, mas também pela importância que parece ter na aprendizagem da
leitura e da escrita. Como tal, e sendo esta última uma área de extrema importância na prática
profissional de um terapeuta da fala, torna-se cada vez mais necessária a existência de provas que
nos permitam avaliar correctamente a consciência sintáctica, para que possa ser efectuado um plano
de intervenção eficaz e direccionado para as reais dificuldades de cada criança.
32
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
2. Metodologia
No presente capítulo, explicitam-se os critérios metodológicos utilizados no estudo em
desenvolvimento, apresentando-se: i) os objectivos e as hipóteses colocadas (secção 2.1); ii) a
caracterização da amostra (secção 2.2); iii) o material e os procedimentos (secção 2.3); iv) o
tratamentos de dados (secção 2.4).
2.1 Objectivos e Hipóteses
Este estudo centra-se na área de investigação sobre avaliação da consciência sintáctica, aspecto que,
em contexto nacional, não tem sido objecto de investigação, como registado na revisão bibliográfica
efectuada no capítulo 1. O objectivo central deste estudo é, assim, o de contribuir para a construção
de uma prova de avaliação de consciência sintáctica para o Português Europeu, através da
construção e aplicação de uma tarefa de manipulação de categorias sintácticas.
Para atingir o objectivo central acima referido, definiram-se os seguintes objectivos específicos para
o trabalho:
i.
Mostrar se a categoria sintáctica da palavra-alvo condiciona o sucesso na tarefa de
manipulação.
ii.
Verificar se a distribuição da palavra na frase condiciona o sucesso na tarefa de
manipulação.
iii.
Identificar diferenças de desempenho na tarefa de manipulação de categorias sintácticas
entre as crianças do 1º e do 4º ano de escolaridade.
iv.
Verificar se a variável género tem implicações no desempenho na tarefa de manipulação.
Sabendo (i) que as palavras de uma língua se podem distinguir pela sua distribuição, i.e., pela
posição que ocupam na cadeia sintagmática e que (ii) que a distribuição das palavras permite
identificar a sua categoria sintáctica (cf. capítulo 1), colocam-se as seguintes hipóteses:
Hipótese 1: A categoria sintáctica da palavra determina o grau de sucesso no desempenho na tarefa
de manipulação.
Hipótese 2: A distribuição da palavra-alvo na frase condiciona o grau de sucesso no desempenho da
tarefa de manipulação.
33
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Estudos consultados sobre consciência linguística mostraram, em função do ano de escolaridade,
que existem diferenças no desempenho de tarefas que recrutem este tipo de consciência. Veja-se
Silva (2003), Afonso (2008) e Vicente (2009), entre muitos outros, para tarefas de consciência
fonológica, e Sim-Sim (1998), Bowey (1986) Siegel & Ryan (1989) (citados por Cain, 2007), para
tarefas de consciência sintáctica. Assim, coloca-se a seguinte hipótese:
Hipótese 3: A tarefa de manipulação permite identificar diferenças no desempenho entre o 1º e o 4º
anos de escolaridade.
De acordo com os resultados obtidos por Sim-Sim (1998), não há diferenças estatisticamente
significativas entre género, em provas de avaliação da linguagem oral. António (1998) também não
encontrou diferenças significativas entre rapazes e raparigas, na realização dos diversos itens do
Bankson Language Screening Test (1997). Contrastivamente, Mendes, Afonso, Lousada e Andrade
(2009) construíram o teste Fonético-Fonológico ALPE, nos resultados do qual as crianças do género
feminino apresentaram valores médios superiores às do género masculino. Contudo, tendo em conta
que a maioria dos estudos consultados não identificaram diferenças entre géneros, estabeleceu-se a
última hipótese:
Hipótese 4: A variável género não tem implicações no desempenho na tarefa de manipulação.
2.2 Caracterização da amostra
Os dados que se analisam nesta investigação foram produzidos por crianças que frequentavam o 1º
e o 4º anos de escolaridade do Ensino Básico à data da recolha de dados, sendo provenientes de dois
agrupamentos de escolas distintos e de um colégio: (i) Agrupamento de Escolas São VicenteTelheiras (Escola Básica Luz/Carnide) e Agrupamento de Escolas da Pontinha (Escola Básica
Mello Falcão); (ii) Colégio José Álvaro Vidal, integrado numa Instituição Particular de
Solidariedade Social (IPSS) – Fundação CEBI.
Assim, a amostra utilizada é constituída por 84 crianças, que responderam à tarefa de manipulação
de categorias sintácticas apresentada na secção 2.3, sendo que as suas idades variam entre os 6:04
anos e os 10:05 anos. Destas crianças, 40 frequentavam o 1º ano e 44, o 4º ano do Ensino Básico.
Os dados foram recolhidos por três investigadoras9 envolvidas no projecto referido na introdução
9
Ver nota 1.
34
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
desta tese, sendo que não se utilizaram os dados recolhidos pela investigadora da tarefa de
supressão10.
Construiu-se um documento para recolha de informações relativas à formação académica, idade e
situação profissional dos pais/cuidadores das crianças avaliadas – ficha socioprofissional (cf.
Apêndice I). A classificação do meio socioprofissional foi efectuada a partir da profissão dos pais
(do pai ou da mãe, considerando a mais elevada), com utilização de uma escala11 com seis
categorias (Apêndice II). Os dados foram agrupados em duas classes: classe 1 (tendencialmente
alta) e classe 2 (tendencialmente baixa), conforme expresso no quadro abaixo. O Quadro 2
apresenta a caracterização da amostra em relação ao ano de escolaridade, ao género e ao meio
socioprofissional.
Quadro 2 – Caracterização da amostra relativamente a ano de escolaridade, género e meio socioprofissional.
Idade
Género
Meio sócio
profissional
Masculino
Feminino
Classe 1
(tendencialmente alta)
Classe 2
(tendencialmente baixa)
1º ano de
escolaridade
[6:04 – 7:11]
n
%
2º ano de
escolaridade
[9:01 – 10:05]
n
%
40
22
18
16
47,6%
26,2%
21,4%
19,0%
44
21
23
28
24
28,6
16
Total
N
%
52,4%
25,0%
27,4%
33,4%
84
43
41
44
100%
51,2%
48,8%
52,4%
19,0%
40
47,6%
Conforme se pode observar no Quadro 2, a distribuição da amostra é homogénea em relação ao ano
de escolaridade, género e meio socioprofissional. Importa salientar que a primeira faixa etária
corresponde às crianças do 1º ano de escolaridade, com idade mínima de 6A3M (76 meses) e
máxima de 7A11M (95 meses); a segunda faixa etária corresponde ao 4º ano de escolaridade, tendo
a criança mais nova 9A01M (109 meses) e a criança mais velha, 10A05M (125 meses).
Foram excluídas todas as crianças que não correspondessem aos seguintes critérios de inclusão: (i)
ter como língua materna o Português e ser monolingue; (ii) frequentar o 1º ou o 4º ano de
escolaridade do Ensino Básico pela primeira vez; (iii) ser filho de pais de nacionalidade portuguesa;
(iv) não ter perturbações mentais ou sensoriais que pudessem interferir no normal desenvolvimento
10
Maria Auxilia Amaral, A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de
supressão (em preparação).
11
Com base na Classificação Nacional das Profissões (1994), do Instituto de Emprego e Formação Profissional.
35
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
da linguagem e da fala, nem dificuldades na aquisição da leitura e escrita, detectadas pelos
professores e/ou outros técnicos.
A amostra recolhida é uma amostra não probabilística, seleccionada de acordo com a conveniência
de cada investigadora e de acordo com o objectivo, pelo que é uma amostra de conveniência
(Carmo & Ferreira, 1998)
2.3 Material e Procedimentos
A realização desta investigação implicou a construção de uma tarefa de consciência sintáctica de
manipulação de categorias sintácticas, integrada numa prova de avaliação de consciência sintáctica
que contém, ainda, uma tarefa de reconstituição, uma tarefa de supressão e uma tarefa de
identificação12.
Nos trabalhos revistos na fundamentação teórica desta tese, não se encontrou a utilização da tarefa
de manipulação para a avaliação da consciência sintáctica. Assim, como já foi referido no capítulo
mencionado, a escolha deste tipo de tarefa foi baseada num paralelismo com as tarefas utilizadas
para avaliação da consciência fonológica.
Tendo em conta as capacidades e tarefas referidas para testar a consciência fonológica (secção 1.2:
25), optou-se por construir uma tarefa que implica capacidade de manipulação. Mais
especificamente, optou-se pela construção de uma tarefa de manipulação de categorias sintácticas,
em que é pedido à criança que memorize a frase e manipule a categoria sintáctica da palavra alvo,
substituindo-a por outra. Assim, a tarefa de manipulação surge como uma tarefa de substituição de
itens lexicais de determinadas categorias sintácticas, que implica a identificação da categoria a que
a palavra pertence e a escolha de uma palavra adequada à sua substituição.
Para a construção dos estímulos das quatro tarefas (reconstituição, supressão identificação e
manipulação), estabeleceu-se o seguinte conjunto de critérios, a fim de uniformizar as tarefas:
i.
Controlo da extensão média dos enunciados – evitar estruturas sintácticas demasiado
extensas, para evitar complexificar a tarefa em termos do recurso à memória de curto prazo;
12
Ver nota 1
36
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
ii.
Controlo do conteúdo semântico dos itens lexicais - seleccionar itens lexicais cujo
significado seja acessível à idade e experiência das crianças de ambos os anos de
escolaridade;
iii.
Utilização exclusiva de nomes, verbos e adjectivos;
iv.
Utilização de nomes e de adjectivos em diferentes posições da frase;
v.
Manipulação de verbos de diferentes subclasses;
vi.
Controlo do formato fonológico dos itens – para evitar complexidade fonológica,
seleccionaram-se itens lexicais:
a. com o padrão acentual paroxítono (o mais comum no Português Europeu (Mateus et
al., 2003));
b. com estruturas silábicas o mais próximas possível da estrutura CV, a mais frequente
no PE (Andrade & Viana, 1993);
c. com extensão média da palavra equivalente a dissílabo ou a trissílabo, por serem
estas extensões de palavras as mais frequentes no léxico infantil (Vigário, Freitas e
Frota, 2006);
d. preferencialmente, sem a ocorrência de fenómenos de sândi no contacto entre
palavras, para não perturbar a compreensão dos vários itens lexicais.
No caso específico da tarefa de manipulação, optou-se por trabalhar a construção de itens focando
apenas as seguintes categorias sintácticas: nomes, em duas posições, integrando o primeiro e o
último constituinte da frase13; verbos intransitivos e transitivos directos; adjectivos com função
predicativa e com função atributiva14. Inicialmente, construíram-se cerca de 12 frases para testar
cada categoria sintáctica, sendo que na categoria verbo se considerou a substituição de verbos
intransitivos, transitivos directos, transitivos indirectos e ditransitivos. Contudo, visto que a tarefa
seria aplicada a crianças do 1º, tornava-se assim bastante extensa para ser aplicada em conjunto com
as restantes tarefas, optou-se por utilizar seis frases para cada uma das três categorias. Optou-se,
13
Utilizar-se-á a etiqueta “posição inicial” para designar os casos em que o nome integra o 1º constituinte e a etiqueta “posição final”
quando o nome integra o 2º constituinte.
14
São manipulados adjectivos que se integram em SAs com função predicativa e atributiva.
37
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
também, por não manipular verbos que seleccionam complementos preposicionais (como único
complemento ou não), visto que a estrutura sintáctica seria, assim, mais complexa.
Quanto à categoria sintáctica adjectivo, inicialmente considerou-se relevante a construção de frases
com adjectivos que não tivessem antónimo. Contudo, tendo em conta as faixas etárias para as quais
a tarefa é direccionada, esse objectivo tornou-se difícil de concretizar, pois foi necessário utilizar
palavras que fizessem parte do léxico fundamental de todas as crianças, principalmente das mais
novas.
Uma vez que se pretendeu adequar a tarefa às crianças do 1º e do 4º anos, a construção dos itens foi
baseada nos exemplos constantes em Duarte (2008) (cf. 14), que são direccionados para o Ensino
Básico.
(14) Exemplos para a tarefa de manipulação através de substituição, retirados de Duarte (2008:41)
a) O menino jogou à bola.
Inventa outras frases iguais em tudo menos na palavra menino.
b) As bolas vermelhas estão no recreio
Inventa outras frases iguais em tudo menos na palavra vermelhas.
c) O Pedro tirou o carrinho ao Zé.
Inventa outras frases iguais em tudo menos na palavra tirou.
De forma a ilustrar a tarefa que se construiu no âmbito da presente tese, apresentam-se os itens
utilizados para testar as categorias nome (cf. 15), verbo (cf. 16) e adjectivo (cf. 17).
(15) Itens para manipulação da categoria nome:
a) Este menino jogou à bola no recreio.
b) Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
c) Aquela linda casa é grande.
d) O Pedro tem um carro.
e) Eu vi um grande livro.
38
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
f)
O João vai à loja com a tia.
Nos itens apresentados, pretende-se que a criança substitua o nome a negrito por outra palavra da
mesma categoria sintáctico, sendo que, em (a) (b) e (c), o mesmo se encontra no primeiro
constituinte da frase e, em (d) (e) e (f), no último.
(16) Itens para manipulação da categoria verbo:
a) O bebé chora quando acorda.
b) As crianças dormem à noite.
c) O meu pai dança.
d) O João comprou um boneco.
e) A Mariana lê o livro.
f)
A Sara pintou um desenho.
Nos itens desta categoria, pretende-se que a criança substitua os verbos, sendo que, em (a), (b) e (c),
os verbos são intransitivos e, em (d), (e) e (f), são transitivos.
(17) Itens para manipulação da categoria adjectivo:
a) O menino está zangado.
b) Os cães são muito espertos.
c) Aquela ponte é muito perigosa.
d) O Noddy tem um barrete engraçado.
e) Eu tenho um gato peludo.
f) A mãe comprou uma saia rasgada.
Finalmente, para a categoria adjectivo, a criança deverá substituir os adjectivos que integram
Sintagmas Adjectivais com função predicativa (cf. 18(a)-(c)) e com função atributiva (cf. 18(d)-(f)),
por outra palavra da mesma categoria sintáctica que possa ocorrer nessas posições.
A ordem de execução da tarefa é simples, pedindo-se à criança para dizer uma frase igual à que lhe
foi dita excepto na palavra a testar, que deve trocar por outra. É referido que se pretende que a
39
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
criança altere apenas essa palavra. Segue-se a transcrição do enunciado que consta do protocolo de
aplicação da tarefa:
Eu vou dizer-te umas frases e quero que digas outra frase igual em tudo menos na palavra que eu
disser. Por exemplo “Esta saia da Ana é verde”. Diz outra frase igual em tudo menos na palavra
saia. Só podes mudar mesmo esta palavra. Em vez de “Esta saia da Ana é verde”, poderíamos
dizer “Esta pasta da Ana é verde”. Vou dar-te mais alguns exemplos.
De seguida, são fornecidos à criança vários exemplos de cada categoria sintáctica manipulada na
tarefa, para que ela seja levada a compreender a tarefa (cf. 18). Por sugestão do painel de validação,
como será referido mais abaixo, colocaram-se alguns exemplos do que a criança não deveria fazer
(cf. 18d).
(18) (a) Aquele carro (gelado, caderno) é meu.
1. O João espirrou (cantou, saltou).
2.
O sapato está roto (velho, estragado).
3.
Aquele carro é meu – Aquele jogo é do João.
Em (a), a palavra-alvo é um nome e, no item de treino, a mesma é substituída, separadamente,
pelas duas palavras que se encontram dentro dos parênteses, para que a criança compreenda o que
lhe é pedido. O mesmo se passa com os itens (b) e (c), sendo que, no primeiro, a palavra-alvo é um
verbo e, no segundo, um adjectivo. O exemplo (d) é um exemplo incorrecto, em que se substituem
duas palavras na frase com o objectivo de que a criança compreenda o que não deve fazer.
Os itens do teste das várias categorias apresentam-se aleatoriamente, por forma a evitar fenómenos
de interferência e/ou imitação, ou seja, se todos os itens referentes a nomes se encontrassem em
sequência, as crianças poderiam focar-se em substituir sempre o nome, mesmo quando já não fosse
essa a tarefa solicitada.
Paralelamente, as outras três investigadoras envolvidas na concretização do presente projecto (cf.
introdução desta tese) construíram as restantes tarefas descritas abaixo:
a.
Tarefa de reconstituição, com a qual se pretende que a criança identifique a
gramaticalidade/agramaticalidade dos enunciados e, caso estes sejam agramaticais, que realize a
respectiva correcção, sem qualquer tipo de justificação. Assim, uma frase como O irmão do Pedro
joga futebol deverá ser reconhecida como gramatical, mas uma sequência como Os pais comeu uma
40
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
maçã deverá ser identificada como agramatical, tendo a criança de a corrigir, de forma a obter uma
frase gramatical. No Quadro 3, apresentam-se as frases utilizadas para testar esta tarefa, integrada
na prova de avaliação de consciência sintáctica usada no projecto comum às investigadoras
referidas15.
Quadro 3 - Frases utilizadas para testar a tarefa de reconstituição
Frases
1-O irmão do Pedro joga futebol.
11-Casa é azul esta.
2-Os pai comeu uma maçã.
12-O menino escreveu um textos.
3-A até mãe comprou um gelado.
13-A casa hoje da tia está a ser pintada.
4-O pai comprou grande um carro.
14-Estas flores são brancas.
5-A menina pegou nos livro.
15-Este é o livro das menina.
6-Ela guardou os brinquedos.
16-O menino só apanhou uma flor pequenina.
7-A caneta é bonita do pai.
17-O carro do tios foi caro.
8-O menino comeu o ontem bolo.
9-A canetas ficou estragada.
10-Ontem eu comi massa.
b.
Tarefa de supressão, com a qual se pretende que a criança identifique os constituintes
gramaticais que pode suprimir/omitir das frases apresentadas, mantendo-as gramaticais. O Quadro 4
apresenta todos os estímulos usados na aplicação na tarefa de supressão; os sublinhados remetem
para os constituintes que a criança deveria suprimir16.
Quadro 4 - Frases utilizadas para testar a tarefa de supressão
Na sala o João arruma os livros.
O João na sala arruma os livros.
O João arruma os livros na casa.
Os sapatos do pai são grandes.
A mãe limpa os sapatos do pai.
Em casa a Joana limpa o quarto.
A Joana em casa limpa o quarto.
A Joana limpa o quarto em casa.
No Algarve a Sandra vai à piscina da tia.
A Sandra vai à piscina da tia no Algarve.
No parque a Sara perdeu a boneca.
A Sara no parque perdeu a boneca.
A Sara perdeu a boneca no parque.
Frases
Na rua a Carolina apanhou uma flor do jardim.
A Carolina apanhou uma flor do jardim na rua.
A casa da Sara tem um jardim.
O menino foi a casa da Sara.
Na escola a Francisca foi à sala da irmã.
A Francisca foi à sala da irmã na escola.
O carro do Manuel é amarelo.
A ursa está no carro do Manuel.
15
Costa, Magda. A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de
reconhecimento (em preparação).
16
Amaral, M. Auxília. A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de
reconhecimento (em preparação).
41
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
c.
Tarefa de identificação, com a qual se pretende que a criança identifique o item intruso num
conjunto de três itens, ou seja, pretende-se que a criança identifique o enunciado cujas propriedades
sintácticas diferem das dos outros dois. No Quadro 5, apresentam-se todos os itens que constituem a
tarefa; a frase a negrito é a que corresponde a uma estrutura sintáctica diferente das duas com que é
apresentada17.
Quadro 5 – Frases utilizadas para testar a tarefa de identificação
a) A mala é azul.
b) A mala é minha.
c) A mala é grande.
a) A casa está aqui.
b) A casa está pintada.
c) A casa está bonita.
a) A camisola de lã é minha.
b) A camisola bem lavada é minha.
c) A camisola muito grande é minha.
a) A bola de futebol é branca.
b) A bola de futebol é pequena.
c) A bola de futebol é minha.
a) A casa bem pintada está aqui.
b) A casa de pedra está aqui.
c) A casa muito grande está aqui.
a) Fizemos muitos gelados.
b) As meninas brincaram.
c) Estes atletas correram.
a) Os rapazes brincam na rua
b) Lemos o jornal na rua.
c) Aquelas senhoras caíram na rua.
a) O João adormeceu na cama.
b) Vi um filme na televisão.
c) Esta menina brinca na rua.
a) A tia mais alta espirrou.
b) O amigo do João saiu.
c) A mãe da Rita chegou.
a) O livro muito grande caiu.
b) O livro menos sujo caiu.
c) O livro da menina caiu.
a) Aquela menina loira é bonita.
b) Os meninos altos são giros.
c) Somos todos muito morenos.
Frases
a) O avô do João joga xadrez.
b) As irmãs da mãe cozinham bem.
c) Brinquei com os meus primos.
a) Fizemos um trabalho grande.
b) Fantasmas metem muito medo
c) Elefantes são animais selvagens.
a) Limões são frutos amarelos.
b) Coelhos comem muitas cenouras.
c) Brincamos sempre no intervalo.
a) Bolos são guloseimas boas.
b) Encontrámos uma boneca grande.
c) Elefantes são animais grandes.
a) O pai comprou um carro.
b) A minha sobrinha já nasceu.
c) O jogador de futebol caiu.
a) Os colegas da escola sorriram
b) A avó da Rita espirrou.
c) O pai lê o jornal.
a) Ela comprou um livro.
b) O bebé dorme bem.
c) Aquela criança chora muito.
a) A mãe embala o bebé.
b) O Pedro foi a Paris.
c) Este menino escreveu um livro.
a) A tia fez um sumo.
b) O pai ouviu a música.
c) O atleta mais alto caiu.
a) Os músicos ganharam o concurso.
b) Estes alunos estudaram muito bem.
c) As irmãs compraram um bolo.
Apresenta-se, de seguida, a totalidade da prova de avaliação da consciência sintáctica construída no
âmbito do projecto apresentado na introdução da presente tese. As tarefas e os respectivos itens
foram apresentados na ordem que se segue.
17
Castanheira, Ana Rita. A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa
de identificação (em preparação).
42
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
I - TAREFA DE RECONSTITUIÇÃO:
Instrução: Eu vou dizer-te umas frases. Algumas estão correctas e outras erradas. Primeiro, quero que me digas se a
frase está certa ou errada; se estiver errada, tens de a corrigir e dizê-la de forma correcta, sem tirares nem pores mais
palavras. Por exemplo, a frase O menino comprou um rebuçado está correcta. Mas a frase As menina andou de carro
está errada, porque, para estar correcta, temos de dizer A menina andou de carro. Vou dar-te outro exemplo: a frase Eu
caderno escrevo no está incorrecta porque as palavras estão na ordem errada. O correcto é Eu escrevo no caderno.
Entendeste?
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, após a resposta da criança, deve ajudá-la, produzindo a frase gramatical):
a) A menina gosta das boneca. (após a resposta da criança, dizer: a frase está errada porque o correcto é dizer A menina
gosta da boneca.
b) O cão é preto. (após a resposta da criança, dizer: a frase está certa!)
c) O só pai tem um telemóvel. (após a resposta da criança, dizer: a frase está errada porque a frase certa é O pai só tem
um telemóvel.
Itens de teste (o terapeuta regista a resposta da criança):
Frase
1-O irmão do Pedro joga futebol.
2-Os pai comeu uma maçã.
3-A até mãe comprou um gelado.
4-O pai comprou grande um carro.
5-A menina pegou nos livro.
6-Ela guardou os brinquedos.
7-A caneta é bonita do pai.
8-O menino comeu o ontem bolo.
9-A canetas ficou estragada.
10-Ontem eu comi massa.
11-Casa é azul esta.
12-O menino escreveu um textos.
13-A casa hoje da tia está a ser pintada.
14-Estas flores são brancas.
15-Este é o livro das menina.
16-O menino só apanhou uma flor pequenina.
17-O carro do tios foi caro.
Compreensão
Expressão
II – TAREFA DE SUPRESSÃO
Instrução - Eu vou dizer-te umas frases. Quero que tu me digas o que é que podes tirar da frase de forma a ficar uma
frase boa, que se perceba. Por exemplo, para a frase Na cozinha, a Maria varre o chão podemos dizer só A Maria varre
o chão porque a frase fica bem na mesma se retirarmos na cozinha. Vou dar-te outro exemplo: No cinema o João viu
um filme de aventuras. Nesta frase, podemos tirar duas coisas no cinema e de aventuras porque a frase O João viu um
filme já é boa. Percebeste?
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase, pedindo para retirar o que for necessário
de forma a que se obtenha uma frase gramatical):
43
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
I - Estrutura SV
II - Estrutura N
Na cozinha a Maria varre o chão.
A loja da mãe é grande.
A Maria na cozinha varre o chão.
A menina brinca em casa da mãe.
A Maria varre o chão na cozinha.
III - Estrutura SN + V
No campo a avó apanha flores.
No cinema o João viu um filme de aventuras.
A avó no campo apanha flores.
No parque a Maria comprou um gelado de
A avó apanha flores, no campo.
morango.
Itens de teste (Novamente o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase registando a resposta da
criança):
Frases
Resposta
1.
Na sala o João arruma os livros.
O João na sala arruma os livros.
O João arruma os livros na casa.
2.
Os sapatos do pai são grandes.
A mãe limpa os sapatos do pai.
3.
Em casa a Joana limpa o quarto.
A Joana em casa limpa o quarto.
A Joana limpa o quarto em casa.
4.
No Algarve a Sandra vai à piscina da tia.
A Sandra vai à piscina da tia no Algarve.
5.
No parque a Sara perdeu a boneca.
A Sara no parque perdeu a boneca.
A Sara perdeu a boneca no parque.
6.
Na rua a Carolina apanhou uma flor do jardim.
A Carolina apanhou uma flor do jardim na rua.
7.
A casa da Sara tem um jardim.
O menino foi a casa da Sara.
8.
Na escola a Francisca foi à sala da irmã.
A Francisca foi à sala da irmã na escola.
9.
O carro do Manuel é amarelo.
A ursa está no carro do Manuel.
44
Cotação
1–0
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
III – TAREFA DE IDENTIFICAÇÃO
Instrução: Eu vou dizer-te três frases. Há uma que não pertence ao grupo. Quero que me digas qual é a frase que não
pertence ao grupo, a que achas que é diferente. Por exemplo, nas frases (a) O João é bonito; (b) O João é alto e (c) O
João é meu, a frase (c) não pertence ao grupo.
Itens de treino (a terapeuta produz as 3 frases, dá a instrução e diz se a resposta está ou não correcta):
Adjectivos:
a) A bola é amarela.
a) As calças de fazenda são minhas.
b) A bola é minha.
b) As calças muito rasgadas são minhas.
c) A bola é grande.
c) As calças bem passadas são minhas.
Nomes:
a) Os rapazes correram.
a) Esta menina brinca no recreio.
b) Estas meninas chegaram.
b) Vi um jogo na televisão.
c) Comemos muitos bolos.
c) O pai lê o jornal.
Verbos:
a) A mãe comprou um jogo.
a) O avô assistiu ao filme.
b) O bebé da Rita nasceu.
b) A mãe escreveu uma carta.
c) Esta meninas das tranças caiu.
c) A Rita obedeceu à mãe.
Itens de teste (a terapeuta regista a resposta da criança, sem qualquer tipo de ajuda):
Adjectivos
1.
a) A mala é azul.
2.
a) A casa está aqui.
b) A mala é minha.
b) A casa está pintada.
c) A mala é grande.
c) A casa está bonita.
3. a) A bola de futebol é branca.
4.
b) A bola de futebol é pequena.
b) A casa de pedra está aqui.
c) A bola de futebol é minha.
c) A casa muito grande está aqui.
5.
a) A casa bem pintada está aqui.
a) A camisola de lã é minha.
b) A camisola bem lavada é minha.
c) A camisola muito grande é minha.
Nomes
6. a) Fizemos muitos gelados.
7. a) Os rapazes brincam na rua
b) As meninas brincaram.
b) Lemos o jornal na rua.
c) Estes atletas correram.
c) Aquelas senhoras caíram na rua.
8. a) O João adormeceu na cama.
9.
b) Vi um filme na televisão.
b) O amigo do João saiu.
c) Esta menina brinca na rua.
c) A mãe da Rita chegou.
10. a) O livro muito grande caiu.
11. a) Aquela menina loira é bonita.
b) O livro menos sujo caiu.
b) Os meninos altos são giros.
c) O livro da menina caiu.
c) Somos todos muito morenos.
12. a) O avô do João joga xadrez.
13. a) Fizemos um trabalho grande.
45
a) A tia mais alta espirrou.
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
b) As irmãs da mãe cozinham bem.
b) Fantasmas metem muito medo
c) Brinquei com os meus primos.
c) Elefantes são animais selvagens.
14. a) Limões são frutos amarelos.
15. a) Bolos são guloseimas boas.
b) Coelhos comem muitas cenouras.
b) Encontrámos uma boneca grande.
c) Brincamos sempre no intervalo.
c) Elefantes são animais grandes.
Verbos

Verbos intransitivos
16. a) O pai comprou um carro.
17. a) Os colegas da escola sorriram
b) A minha sobrinha já nasceu.
b) A avó da Rita espirrou.
c) O jogador de futebol caiu.
c) O pai lê o jornal.
18. a) Ela comprou um livro.
b) O bebé dorme bem.
c) Aquela criança chora muito.

19.
21.
Verbos transitivos directos
a) A mãe embala o bebé.
20.
a) A tia fez um sumo.
b) O Pedro foi a Paris.
a) O pai ouviu a música.
c) Este menino escreveu um livro.
b)
O atleta mais alto caiu.
a) Os músicos ganharam o concurso.
b) Estes alunos estudaram muito bem.
c) As irmãs compraram um bolo.
O Quadro seguinte é a folha de registo desta tarefa.
Estimulo
a)
Adjectivos
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Nomes
7.
8.
9.
46
Resultado
b)
c)
Pontuação
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
10.
11.
12.
13.
14.
15.
Verbos
- Verbos intransitivos
16.
17.
18.
- Verbos transitivos directos
19.
20.
21.
IV – TAREFA DE SUBSTITUIÇÃO
Instrução: Eu vou dizer-te umas frases e quero que digas outra frase igual em tudo menos na palavra que eu disser. Por
exemplo: Esta saia (pasta, boneca) da Ana é verde. Diz outra frase igual em tudo menos na palavra X. Só podes mudar
mesmo esta palavra. Assim, poderíamos dizer Esta pasta da Ana é verde. Vou dar-te mais alguns exemplos:
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase, dando a hipótese de substituição):
a) Aquele carro (gelado, caderno) é meu.
b) Esse menino tem um jogo (lápis, computador)
c) O João espirrou (cantou, saltou).
d) A menina fez (bebeu, entornou) um sumo.
e) O sapato está roto (velho, estragado).
f) O Miguel tem uma bola furada (redonda, pequena).
Itens de treino pela negativa (itens representativos daquilo que a criança não deve fazer):
a) Aquele carro é meu – Aquele jogo é do João.
b) A menina fez um sumo – A menina comprou um bolo.
c) O sapato está roto – O casaco está roto.
47
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Itens de teste (Novamente o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase registando a resposta da
criança):
Frase
Substituição
1- Este menino jogou à bola no recreio.
2- O bebé chora quando acorda.
3- O menino está zangado.
4- As crianças dormem à noite.
5- Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
6- Os cães são muito espertos.
7- O meu pai dança.
8- Aquela linda casa é grande.
9- O João comprou um boneco.
10- Aquela ponte é muito perigosa.
11- O Pedro tem um carro.
12- O Noddy tem um barrete engraçado.
13- Eu vi um grande livro.
14- Eu tenho um gato peludo.
15- A Mariana lê o livro.
16- O João vai à loja com a tia.
17- A Sara pintou um desenho.
18- A mãe comprou uma saia rasgada.
Terminada a construção da prova, realizou-se a validação dos seus conteúdos através de um painel
de validação constituído por um grupo de cinco especialistas na área da Linguística e da Terapia da
Fala: a) duas especialistas em Linguística, doutoradas na área da Sintaxe; b) uma especialista em
Linguística, doutorada na área de Aquisição da Fonologia; c) uma especialista em Terapia da Fala e
doutoranda em Linguística Aplicada - área da Sintaxe; d) uma especialista em Terapia da Fala,
Mestre na área das Perturbações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem. No caso da tarefa
de manipulação, as indicações do painel de validação prenderam-se com a já referida criação de
itens exemplificativos do a criança não deveria fazer, para que a ordem de execução da tarefa fosse
mais clara, e com a alteração de uma das frases relativa à categoria sintáctica verbo, por questões de
ordem semântica. Assim, a frase 15), inicialmente, A Mariana adora o livro passou a A Mariana lê
o livro, uma vez que, sendo a primeira uma combinação menos esperada na língua portuguesa, a
substituição poder-se-ia tornar mais complicada para as crianças.
Após a conclusão da fase de construção das tarefas, realizou-se um pré-teste com cerca de 5% dos
elementos da amostra (10 elementos de um universo que se pensava ser de 200 crianças), de ambos
48
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
os níveis de escolaridade estudados (1º e 4º anos do Ensino Básico). Visto que não foram detectadas
dificuldades na compreensão das tarefas, passou-se à fase de aplicação da tarefa à totalidade da
amostra.
Cada uma das quatro investigadoras envolvidas no projecto referido na introdução aplicou a
totalidade das tarefas construídas, registando as respostas em suporte áudio18 e por escrito, numa
folha de registo (Apêndice III), respeitando a mesma ordem de aplicação: a) tarefa de
reconstituição; b) tarefa de supressão; c) tarefa de identificação; d) tarefa de manipulação. As
tarefas foram apresentadas oralmente a cada aluno individualmente, sendo fornecida a instrução
referida na construção das tarefas, na secção 2.3, e foram dados diversos itens de treino adequados
ao nível de escolaridade das crianças. Só se avançou para a aplicação da tarefa após as crianças
terem compreendido o que lhes era pedido. A avaliação de cada criança demorou entre 15 e 30
minutos.
Para a aplicação das quatro tarefas construídas, adoptou-se um conjunto de normas, seguidas pelas
investigadoras. Cada criança seleccionada foi retirada da sala de aula e conduzida a uma sala
isolada, onde a investigadora explicou o que se iria fazer. Para colocar a criança mais à vontade,
efectuaram-se algumas questões pessoais referentes a nome, idade, actividades preferidas, equipa de
futebol favorita, etc. Explicou-se que o gravador servia para gravar a conversa e, seguidamente,
iniciou-se a aplicação das tarefas. Houve a preocupação de produzir as frases apresentadas com
entoação declarativa e sem marcação prosódica de qualquer constituinte da frase. O registo das
respostas foi, como referido anteriormente, realizado em áudio e em registo escrito, através da folha
de registo.
Para obter a autorização para realização do estudo nos Agrupamentos e no Colégio já referidos, foi
elaborado um documento (Apêndice IV), entregue na Direcção dos mesmos,
que explicava
sucintamente o que era pretendido. Após a obtenção da autorização, realizou-se uma reunião com a
coordenadora da escola escolhida para a realização do estudo, com o objectivo de agendar datas de
entrega do documento para obtenção da autorização dos Encarregados de Educação (Apêndice V) e
para a aplicação das tarefas. Após a autorização dos mesmos, aplicaram-se as tarefas à amostra.
18
Existem gravações áudio das respostas, contudo, por razões de ordem técnica, não existe a gravação áudio de seis dos sujeitos.
49
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
2.4 Tratamento de dados
Após a recolha dos dados, foi efectuada a cotação das respostas de todas as crianças. Para a tarefa
estudada nesta tese (tarefa de manipulação) as respostas consideradas erradas foram cotadas com o
valor zero (0) e as respostas consideradas correctas foram cotadas com o valor um (1), sendo que o
valor total da cotação para a tarefa é de 18. Visto que são testadas três categorias sintácticas
diferentes, com seis enunciados em cada uma (secção 2.3), a subcotação de cada categoria tem o
valor total de seis (6). Consideraram-se respostas correctas todas as substituições adequadas dentro
da mesma categoria sintáctica e sem alteração do número de palavras na frase fornecida.
Apesar da instrução dada no início da aplicação da tarefa, algumas crianças responderam com
apenas uma palavra (menina), ou parte da frase (Esta menina), e não a frase inteira. Foram
consideradas correctas as respostas em que a substituição da palavra-alvo permitia a reconstituição
gramatical da frase apresentada.
No Quadro 6, é fornecida a informação relativa ao tipo de respostas consideradas erradas.
50
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 6 - Tipologia das respostas consideradas erradas
Tipo de Erro
Manipulação do
sintagma em vez do
núcleo
Descrição
Este menino
jogou à bola no
recreio
Substituição, usando
mais do que uma
palavra
Eu tenho um gato
peludo
Eu tenho um gato
com pouco pêlo
Omissão de uma
expressão dentro do
sintagma
Os cães são muito
espertos
Os cães são burros
O meu pai dança
O meu pai dança
A Mariana lê o
livro
O meu pai senta
O meu pai limpa
A Mariana põe o
livro
Os cães são muito
espertos
Os cães não são
muito espertos
Aquela linda casa
é grande
O bebé chora
quando acorda
O Noddy tem um
barrete
engraçado
O Pedro tem um
carro
Este menino
jogou à bola no
recreio
O meu pai dança
Aquela linda manhã
As crianças
dormem à noite
Aquela linda casa
é grande
Eu vi um grande
livro
As crianças acordem
à noite
Aquela linda casinha
é grande
Eu vi um pequeno
livro
Aquela boneca da
Maria é cor de
rosa
Eu tenho um gato
peludo
_______
Aquela árvore é da
Maria
Nome
Verbo
Adjectivo
Alteração de Género
e/ou Número
Alteração
morfológica com
preservação da base
Tempo verbal
Conjugação
Diminutivos
Identificação
incorrecta da palavra
a substituir
Construção de uma
frase nova
Uso de palavras não
existentes no PE
Ausência de resposta
Exemplos
Incorrectos
Esta menina jogou à
bola no recreio
Substituição de mais do
que uma palavra no
sintagma
Alteração de
propriedades
sintácticas
originando
agramaticalidade
Transformação de
frase afirmativa em
negativa
Inadequação
semântica
Item Inicial
51
O bebé dorme
quando acorda
O Noddy tem um
barrete tonto
O Pedro tem uma
banana
Estas crianças
jogaram à bola no
recreio
O meu pai dançou
Eu tenho um gato
fafarrudo
_______
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
É importante referir que, no tipo de erro substituição de mais do que uma palavra no sintagma, são
contabilizadas, também, as alterações de género, como no exemplo fornecido Este menino – Esta
menina (Esta menina jogou à bola no recreio). Como tal, várias respostas são contabilizadas em
mais do que um tipo erro: por exemplo, o item incorrecto referido para o tipo de erro alteração de
género e/ou número será contabilizado neste mesmo tipo e na substituição de mais do que uma
palavra no sintagma.
No tipo de erro substituição usando mais do que uma palavra, contabilizaram-se todos os casos em
que a criança introduziu outras palavras no sintagma que contém a palavra-alvo, como no exemplo
Eu tenho um gato peludo, em que a criança substituiu peludo por com pouco pêlo. Incluem-se
também nesta categoria de erro os casos de alteração das propriedades sintácticas, como, por
exemplo, a substituição de um verbo intransitivo por um verbo transitivo, com a devida introdução
do complemento deste último. Assim, no tipo de erro alteração de propriedades sintácticas
originando agramaticalidade, contabilizaram-se apenas os casos em que a substituição originou
sequências agramaticais por violação das propriedades sintácticas da palavra-alvo, como nos O meu
pai senta; O meu pai limpa; A Mariana põe o livro.
A omissão de expressões dentro do sintagma (Os cães são burros como resposta a Os cães são
muito espertos), foi considerada incorrecta, visto que a alteração do número de palavras da frase
implica alteração da estrutura interna dos constituintes e, como tal, alteração da estrutura sintáctica
da frase.
As respostas sintacticamente bem-formadas mas anómalas do ponto de vista semântico (Aquela
linda manhã é grande; O bebé dorme quando acorda; O Noddy tem um barrete tonto) foram
cotadas como incorrectas por se considerar que os falantes de uma língua só conhecem
verdadeiramente as palavras dessa língua quando são capazes de manipular as suas propriedades
semânticas e sintácticas. Ou seja, quando se adquire uma nova palavra, adquire-se a informação
sobre a sua categoria, a informação sobre as propriedades de selecção categorial e a informação
semântica (propriedades de selecção semântica e restrições de selecção). Assim, a criança, ao
proceder à substituição, deveria respeitar todas as propriedades lexicais do item para que a sua
resposta fosse cotada como correcta.
Visto que as formas verbais não são marcadas quanto a género, a não ser no caso do particípio
passado, no capítulo da apresentação e discussão dos resultados, na secção da categoria sintáctica
52
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
verbo, o tipo de erro alteração de género e/ou número será referida como alteração de pessoa e/ou
número.
O tipo de erro alteração morfológica com preservação da base inclui: (i) alteração do tempo verbal
(O meu pai dançou como resposta a O meu pai dança), (ii) problemas de conjugação (As crianças
acordem à noite como resposta a As crianças dormem à noite) e (iii) utilização de diminutivos
(Aquela linda casinha é grande como resposta a Aquela linda casa é grande).
Importa referir que se consideraram correctas as substituições por sinónimos ou antónimos da
palavra pedida, visto que é mantida a categoria da palavra-alvo, como pretendido nesta tarefa.
Seguem-se os respectivos exemplos (Quadro 7).
Quadro 7 - Exemplos de substituição por sinónimos e antónimos
1) Este menino jogou à
bola no recreio
Sinónimo
Antónimo
Este rapaz jogou à bola no
_________
recreio
2) O bebé chora quando
_________
acorda
O bebé ri/sorri quando
acorda
3) O menino está zangado
O menino está furioso
O menino está
contente/feliz/alegre
4)
Os
cães
são
muito
espertos
5) O meu pai dança
6) O Pedro tem um carro
Os cães são muito
Os cães são muito burros
inteligentes
O meu pai baila
_________
O Pedro tem um automóvel
_________
Para análise e tratamento de dados, construiu-se uma base de dados no programa informático
Statistic Package for the Social Sciences (SPSS) 17.0, onde se inseriram os dados obtidos no
processo de recolha e as variáveis a explorar (número do sujeito; idade; género; ano de
escolaridade; meio socioprofissional; frases da tarefa identificadas por categoria e por posição,
subclasse e função).
Após a construção da base de dados, foram inseridos os dados de todos os sujeitos. De acordo com
os objectivos específicos estabelecidas nesta investigação, criou-se uma nova variável (Grupo), no
programa acima referido, que articula o ano de escolaridade com o género, de modo a facilitar a
análise estatística. Assim, como se pode verificar no Quadro 8, o n total em cada grupo é inferior a
30.
53
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro8 - Número total de sujeitos em cada grupo
1º ano género feminino
N
18
1º ano género masculino
N
22
4º ano género feminino
N
23
4º ano género masculino
N
21
De acordo com Maroco (2003: 47), “De um modo geral assume-se que para amostras de dimensão
superior a 30 (i.r., amostras grandes) a distribuição da média amostral é normal. Particularmente
quando a dimensão da amostra não permite a aplicação do teorema do limite central torna-se
necessário o recurso a métodos que não exigem à partida nenhum pressuposto sobre a forma
distribuição normal (Métodos não paramétricos)”. Deste modo, foi necessário aplicar testes de
normalidade a todas as variáveis em estudo, para averiguar a possibilidade de utilização de
estatística paramétrica. Como se pode observar nos Quadros 175 a 177 (Apêndice VI), o requisito
da normalidade da amostra não está preenchido, pelo que se optou por aplicar estatística não
paramétrica.
Assim, o tratamento estatístico envolveu análise descritiva dos dados, a qual está relacionada com a
recolha, organização, análise e interpretação de dados empíricos (Martinez & Ferreira, 2007).
Recorreu-se, igualmente, a estatística inferencial, através da utilização de estatística não
paramétrica, mais especificamente dos testes Mann-Whitney, para averiguar a existência das
diferenças entre género e entre subgrupo dentro de cada categoria e dos testes Kruskall Wallis e,
novamente, Mann-Whitney para análise da pontuação total. O nível de significância usado foi p
<0.05.
54
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3. Apresentação, Descrição e Comentário dos Resultados
No presente capítulo proceder-se-á à apresentação, descrição e comentário dos resultados obtidos
nas seguintes secções: i) dados relativos à categoria sintáctica da palavra-alvo (secção 3.1) ii) dados
relativos à distribuição da palavra-alvo (secção 3.2); iii) comparação das variáveis ano de
escolaridade e género (secção 3.3); v) comentário dos resultados (secção 3.4).
3.1.
A categoria sintáctica da palavra-alvo
3.1.1. Nome
Como já foi referido na secção 2.3, a categoria nome foi testada em duas posições: integrando o
primeiro e o último constituinte da frase19. Os itens construídos com este propósito encontram-se
listados em (19), em que os itens (a)-(c) contêm o nome no primeiro constituinte; os itens (d)-(f)
testam o nome no último constituinte da frase.
(19) Itens utilizados para testar a categoria nome.
a) [Este menino] jogou à bola no recreio. (frase 1)
b) [Aquela boneca da Maria] é cor-de-rosa. (frase 5)
c) [Aquela linda casa] é grande. (frase 8)
d) O Pedro [tem um carro]. (frase 11)
e) Eu [vi um grande livro]. (frase13)
f) O João [vai à loja com a tia]. (frase 16)
Estas duas posições, assinaladas com parênteses rectos em (19), são manipuladas com o objectivo
de verificar se um maior grau de encaixe do SN de que o nome a testar é núcleo condiciona, de
alguma forma, o sucesso na tarefa.
3.1.1.1.
1º ano de escolaridade
Nesta secção, apresentam-se os resultados relativos à substituição de itens lexicais da categoria
sintáctica nome pelas crianças do 1º ano de escolaridade.
19
Ver nota 13.
55
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
No Quadro 9, apresentam-se os resultados globais do 1º ano para a categoria nome. Recorde-se que
existem 40 sujeitos neste ano de escolaridade, pelo que a totalidade de respostas para esta categoria
é 240.
Quadro 9 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas para a categoria nome, no 1º ano de
escolaridade
Frequência
Percentagem
Respostas correctas
124
51,67%
Respostas incorrectas
116
48,33%
Total
240
100%
Através da análise do Quadro 9, observa-se que, em termos globais, as respostas se dividem
equitativamente, visto existirem aproximadamente 50% de respostas correctas e 50% de respostas
incorrectas. No Quadro seguinte, apresentam-se exemplos de respostas correctas e incorrectas a
cada um dos itens relativos à categoria nome.20
Quadro 10 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria nome, no 1º ano de escolaridade
Item de Teste
Respostas Correctas
Respostas Incorrectas
a) Este menino jogou à bola no
Este rapaz jogou à bola no recreio
Esta menina jogou à bola no recreio
recreio
(sujeito 76)
(sujeito 10)
b) Aquela boneca da Maria é cor-
Aquela camisola da Maria é cor-de-
Aquele jogo da Maria é cor-de-rosa
de-rosa
rosa (sujeito 9)
(sujeito 12)
c) Aquela linda casa é grande
Aquela linda boneca é grande (sujeito
Aquela vivenda é grande (sujeito 16)
9)
d) O Pedro tem um carro
O Pedro tem um jipe (sujeito 11)
O Pedro tem uma linda mota (sujeito
10)
e) Eu vi um grande livro
Eu vi um grande dinossauro (sujeito 9)
Eu vi um pequeno livro (sujeito 49)
f) O João vai à loja com a tia
O João vai à loja com a mãe (sujeito 9)
O João vai à loja com os amigos
(sujeito 10)
Dado que a Hipótese 4 tem em conta a variável género procedeu-se a uma análise dos resultados em
função desta variável. Os resultados globais, relativos às 22 crianças do sexo masculino e às 18 do
20
Os itens a substituir e as substituições feitas pelos sujeitos encontram-se assinaladas a negrito.
56
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
sexo feminino no 1º ano apresentam-se no Quadro 11. Considerando o número de sujeitos de cada
género existem 132 dadas por rapazes e 108, dadas por raparigas.
Quadro 11 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria nome, no 1º ano de escolaridade
Masculino (N=22)
Total
Feminino (N=18)
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
64
68
132
60
48
108
48,48%
51,51%
100%
55,56%
44,44%
100%
Frequência
Percentagem
Como se pode observar no Quadro 11, os sujeitos do género masculino apresentam uma
percentagem de respostas correctas próxima da percentagem de respostas incorrectas, sendo a
frequência destas últimas ligeiramente superior à frequência das primeiras. No género feminino, a
diferença entre respostas correctas e incorrectas é maior e, ao contrário dos rapazes, as raparigas
apresentam uma maior frequência de respostas correctas.
Para averiguar a existência de diferenças e a significância das mesmas, entre géneros na pontuação
total da categoria nome, aplicou-se o teste estatístico Mann-Whitney (Quadro 12)
Quadro 12 - Teste de Mann-Whitney para a pontuação total da categoria nome, no 1º ano de escolaridade
Grupo
Média de
MannWhitney
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
3,33±1,50
,00
6,00
24,89
1º ano
género
feminino
U = 119,00
n = 18
p = 0,031
1º ano
género
2,91±1,66
,00
6,00
16,91
masculino
n= 22
Tendo em conta os dados apresentados no Quadro acima, existem diferenças estatisticamente
significativas entre géneros, sendo que as raparigas apresentam uma média de respostas correctas
mais elevada do que os rapazes.
57
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.1.1.1. Respostas correctas
Nesta secção, analisam-se respostas correctas a cada item da categoria nome, bem como a sua
frequência.
Tal como já foi referido, a percentagem de respostas correctas para a categoria nome nas crianças
de 1º ano de escolaridade foi de 51,67% (124/240) distribuídos por todos os itens que envolvem a
categoria em causa. No que se segue, apresentam-se os dados relativos a cada item da frase.
Frase 1 - Este menino jogou à bola no recreio.
Quadro 13 - Respostas correctas para a frase 1, no 1ºano de escolaridade
Itens correctos
Frequência
rapaz
4
primo
1
homem
1
senhor
1
pai
1
miúdo
2
amigo
1
ladrão
1
Frase 5 – Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
Quadro 14 - Respostas correctas para a frase 5, no 1º ano de escolaridade
Itens correctos
Frequência
saia
3
camisola
6
flor
3
ursinha
1
garrafa
1
borboleta
1
pintura
1
mochila
1
trança
1
58
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 8 - Aquela linda casa é grande.
Quadro 15 - Respostas correctas para a frase 8, no 1º ano de escolaridade
Itens correctos
Frequência
Itens correctos
Frequência
mota
1
quinta
2
boneca
4
árvore
1
Cadela
1
mochila
1
tenda
1
casota
1
rua
1
piscina
3
porta
1
flor
3
loja
1
Frase 11 – O Pedro tem um carro.
Quadro 16 - Respostas correctas para a frase 11, no 1º ano de escolaridade
Itens
Frequência
Itens correctos
Frequência
correctos
autocarro
1
avião
1
comboio
1
lápis
2
jogo
3
skate
1
boneco
5
placard
1
chupa
1
brinquedo
1
camião
2
táxi
1
bolo
1
59
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 13 - Eu vi um grande livro.
Quadro17 - Respostas correctas para a frase 13, no 1º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Jogo
1
menino
1
Boneco
2
computador
3
Garrafão
1
elefante
1
Carro
3
papel
1
Dinossauro
1
jardim
1
Filme
4
macaco
1
Caderno
2
espantalho
2
Comboio
1
chapéu
1
Homem
1
crocodilo
1
Camião
1
gigante
1
Cinema
1
Frase 16 - O João vai à loja com a tia.
Quadro18 - Respostas correctas para a frase 16, no 1º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
mãe
19
prima
1
avó
1
Tendo em conta os dados apresentados nos Quadros 13 a 18, existe uma grande variedade de
respostas em todas as frases, principalmente na frase 13 Eu vi um grande livro, para a qual são
dadas 21 respostas diferentes.
Nas respostas a alguns itens, as crianças substituíram a palavra-alvo por um sinónimo ou por outra
palavra do mesmo campo semântico. No caso de sinónimos, vejam-se as duas respostas mais
frequentes à frase 1 (Quadro 13), rapaz e miúdo, que substituem o nome menino.
60
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Por sua vez, as respostas à frase 16 O João vai à loja com a tia, são ilustrativas da selecção
exclusiva de palavras do mesmo campo semântico – o das relações de parentesco (Quadro 18). O
mesmo aconteceu relativamente à frase 11. O Pedro tem um carro, em que a palavra-alvo é
substituída ainda que não maioritariamente, por outros itens que designam meios de transporte,
como autocarro, comboio, camião, avião e táxi.
3.1.1.1.2. Respostas incorrectas
Na presente secção, apresentam-se as respostas incorrectas com base na tipologia de erros que
consta do capítulo 2. Tal como referido, neste capítulo, algumas respostas são incluídas em mais do
que um tipo de erro sendo que, quando tal acontece, a resposta é apresentada e discutida em mais do
que uma secção.
Recorde-se que a percentagem de respostas incorrectas, no primeiro ano de escolaridade, para a
categoria nome foi de 48,33% ( 116/240).
A. Manipulação do sintagma em vez do núcleo
(i)
Substituição de mais do que uma palavra no sintagma
Neste tipo de erro, contabilizaram-se todos os casos em que as crianças alteram mais do que uma
palavra dentro do SN que integra o nome a testar, incluindo aqueles em que foi seleccionado um
nome com traços de número e/ou género diferentes dos da palavra-alvo, o que implicou a
substituição de mais do que um item: o nome, o determinante e nos casos em que é alterado o
número, o verbo. Estes casos foram, também, contabilizados no tipo de erro alteração de género
e/ou número. Apresentam-se, de seguida, as respostas incorrectas, para cada item que testa a
categoria nome.
61
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 1 – Este menino jogou à bola no recreio.
Quadro 19 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 1
Item Incorrecto
Frequência
Esta menina jogou à bola
Item Incorrecto
11
Frequência
Essa menina jogou à bola
no recreio
1
no recreio
A menina jogou à bola no
1
O amigo jogou à bola no
recreio
1
recreio
Aquele senhor jogou à bola
1
O pai
1
Ele jogou à bola no recreio
1
O menino brincou à bola
1
no recreio
O tio jogou à bola no
1
recreio
Frase 5 – Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
Quadro 20 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 5
Item Incorrecto
Frequência
Aquele boneco da Maria é cor-de-rosa
2
Aquele bebé cor-de-rosa é da Maria
1
O carro é cor-de-rosa
1
O brinquedo da Maria é cor-de-rosa
1
O carro da Maria é cor-de-rosa
2
Aquele jogo é cor-de-rosa
1
Aquele brinquedo da boneca
1
Frase 8 – Aquela linda casa é grande.
Quadro 21- Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 8
Item incorrecto
Frequência
Aquele lindo boneco é grande
1
Aquele terraço é grande
1
Aquele lindo prédio é grande
1
62
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 11 – O Pedro tem um carro.
Quadro 22 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 11
Item incorrecto
Frequência
O Pedro tem uma linda mota
1
O Pedro tem uma bicicleta
5
O Pedro tem uma bola
2
O Pedro tem uma mota
4
O Pedro tem uma casa
1
O Pedro comprou um boneco
1
Frase 13 – Eu vi um grande livro.
Quadro 23 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 13
Item incorrecto
Frequência
Eu vi uma flor
1
Eu vi uma grande história
1
Frase 16 – O João vai à loja com a tia.
Quadro 24 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade –
frase 16
Item Incorrecto
Frequência
O João vai à loja com o pai
7
O João vai à loja com os amigos
1
O João vai à loja com o tio
5
O João vai sozinho à loja.
1
Conforme se pode observar nos Quadros apresentados, para todas as frases existem respostas em
que as crianças procederam à alteração do género da palavra-alvo. Estas respostas, que constituem a
maioria, inserem-se no tipo de erro substituição de mais do que uma palavra do sintagma, uma vez
que a selecção de um nome com traços de género distintos dos do original obrigou também à
63
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
substituição do determinante, ou seja, a criança realizou a substituição de todo o sintagma. Note-se
que, em alguns casos, a criança manteve o mesmo tipo de determinante, ainda que com marcas de
género ou número diferentes das do determinante que consta do item do teste (por exemplo, altera o
determinante demonstrativo este para esta), mas, em outros casos, substitui o mesmo determinante
por outro de uma subclasse distinta (por exemplo, substitui o determinante demonstrativo este pelo
artigo definido o).
Respostas como Ele jogou à bola no recreio, para a frase 1, revelam também que a criança, ainda
que tenha identificado o nome a substituir, manipulou o SN e não só o nome, o que mostra a
relevância de uma análise em constituintes.
Em alguns casos, registou-se a manipulação de todo o SV em que ocorre o nome a substituir. Vejase, a este propósito, a resposta O Pedro comprou um boneco (Quadro 22), em que a criança
procedeu não só à substituição do SN com a função sintáctica de Objecto Directo, que integra a
palavra-alvo, como também à substituição do verbo.
É, ainda, de salientar que, em alguns casos, a criança substitui também o modificador do nome, ou
porque a alteração do género deste último assim o obriga (veja-se a substituição de aquela linda
casa por aquele lindo boneco, Quadro 21), ou porque selecciona mesmo um item lexical distinto do
original (por ex., substitui aquela boneca da Maria por aquele bebé cor-de-rosa).
Na última frase, apresentada no Quadro 24, verifica-se, tal como nas respostas correctas, que a
escolha das crianças teve em conta o campo semântico da palavra-alvo.
(ii)
Substituição usando mais do que uma palavra
Entre as crianças do 1º ano de escolaridade, apenas existiram dois casos em que as crianças
utilizaram mais do que uma palavra para completar a tarefa. Este erro verificou-se sempre na frase
O Pedro tem um carro (frase 11), para a qual se obtiveram as seguintes respostas:
(20) 1. O Pedro tem uma linda mota.
2. O Pedro tem um boneco de brincar.
Em ambos os casos, para além de terem procedido à substituição do nome, como lhes era solicitado
nesta tarefa, as crianças inseriram um modificador da expressão nominal: o SA linda e o SP de
brincar.
64
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(iii)
Omissão de uma expressão dentro do sintagma
Neste tipo de erro, são incluídas as respostas em que as crianças omitiram uma expressão dentro do
SN em que se encontra o nome a substituir. Seguidamente, apresentam-se as respostas incorrectas
das crianças de 1º ano de escolaridade.
Frase 5 – Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
Quadro 25 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – Frase 5
Item Incorrecto
Frequência
O carro é cor-de-rosa
1
Aquele jogo é cor-de-rosa
1
Frase 8 – Aquela linda casa é grande.
Quadro 26 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – Frase 8
Item incorrecto
Frequência
Aquela piscina é grande
1
Aquele terraço é grande
1
Frase 13 – Eu vi um grande livro.
Quadro 27 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – Frase 13
Item incorrecto
Frequência
Eu vi um filme
1
Eu vi uma flor
1
Eu tenho um livro
1
Observando os Quadros 25, 26 e 27 é possível observar que as crianças omitiram sempre o
modificador que se encontra internamente ao SN que contém o nome a substituir. No caso da frase
5, omitiram o SP da Maria, e no caso das frases 8 e 13 foi omitido é o SA, linda e grande,
respectivamente.
Salienta-se que estes casos de omissão não contemplam as situações em que a criança produz
apenas o item substituto e não a frase completa.
65
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
B. Inadequação semântica
Neste tipo de erro, incluem-se as respostas em que, na substituição, se utilizou outro nome, como
esperado, embora a sequência final resultante seja anómala do ponto de vista semântico.
Frase 1 – Este menino jogou à bola no recreio.
Quadro 28 - Inadequação semântica, para a categoria nome no 1º ano de escolaridade – frase 1
Item Incorrecto
Frequência
Este João jogou à
1
bola no recreio
A bola joga à bola
1
A resposta Este João jogou à bola no recreio insere-se neste tipo de erro, uma vez que os nomes
próprios, por designarem um indivíduo único no universo, são totalmente determinados, não
podendo, por isso, ser precedido de determinantes demonstrativos, que fazem pressupor a existência
de mais do que um indivíduo com a propriedade expressa pelo predicado.
Relativamente às frases 5, Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa, e 8, Aquela linda casa é grande,
obtiveram-se as seguintes sequências anómalas:
(21) a. Aquela menina da Maria é cor-de-rosa.
b. Aquela linda manhã.
Em ambos os casos, a anomalia decorre da violação das restrições de selecção semântica impostas
pelos predicadores cor-de-rosa e grande ao Sujeito (aquela boneca da Maria, no primeiro caso e
aquela linda manhã, no segundo). Note-se que o nome que é núcleo do SN-Sujeito resultou da
substituição efectuada pelas crianças.
C. Alteração de género e/ou número
Neste tipo de erro, foram colocadas todas as respostas incorrectas em que o nome utilizado na
substituição difere do nome original em género e/ou número. Esta substituição obriga também à
alteração do determinante e de modificadores adjectivais, pelo que estes erros foram também
incluídos no erro substituição de mais do que uma palavra.
66
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Importa referir que se incluem também nesta secção todas as situações em que as crianças
produziram apenas um nome e não a frase completa, tendo seleccionado, para o efeito, um item
nominal com traços de género e/ou número distintos dos do original. Com efeito, mesmo
produzindo apenas a palavra substituta, a criança deverá reconhecer a sua distribuição na frase, pelo
que deve respeitar as relações de concordância tal como estabelecidas no item do teste.
Em todas as frases que testam a categoria nome se verificam respostas incorrectas que se incluem
neste tipo de erro. Segue-se a apresentação das mesmas.
Frase 1 – Este menino jogou à bola no recreio.
Quadro 29 – Alteração de género e/ou número, para a categoria nome, no 1º ano de escolaridade – frase 1
Item Incorrecto
Frequência
Esta menina jogou à bola
Item Incorrecto
11
Essa menina jogou à bola
no recreio
Frequência
1
no recreio
A menina jogou à bola no
1
menina
3
recreio
Frase 5 – Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
Quadro 30 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome, no 1º ano de escolaridade – frase 1
Item Incorrecto
Aquele
boneco
Frequência
Item Incorrecto
Frequência
2
O carro da Maria é cor-de-
2
da
Maria é cor-de-rosa
rosa
Aquele bebé cor-de-
1
Aquele jogo é cor-de-rosa
1
O carro é cor-de-rosa
1
boneco
3
O brinquedo da Maria
1
avião
1
rosa é da Maria
é cor-de-rosa
Frase 8 – Aquela linda casa é grande.
Quadro 31 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome, no 1º ano de escolaridade – frase 8
Item incorrecto
Frequência
Aquele lindo boneco é grande
1
Aquele terraço é grande
1
Aquele lindo prédio é grande
1
Carro
1
Café
1
67
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 11 – O Pedro tem um carro.
Quadro 32 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome, no 1º ano de escolaridade – frase 11
Item incorrecto
Frequência
O Pedro tem uma linda mota
1
O Pedro tem uma bicicleta
5
O Pedro tem uma bola
2
O Pedro tem uma mota
4
O Pedro tem uma casa
1
Carrinha
1
Frase 13 – Eu vi um grande livro.
Quadro 33 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome, no 1º ano de escolaridade – frase 13
Item incorrecto
Frequência
Eu vi uma flor
1
Eu vi uma grande história
1
Casa
2
Frase 16 – O João vai à loja com a tia.
Quadro 34 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome, no 1º ano de escolaridade – frase 16
Item Incorrecto
Frequência
O João vai à loja com o pai
7
O João vai à loja com os amigos
1
O João vai à loja com o tio
5
tio
3
Observando os Quadros acima, constata-se que em todas as respostas à frase 1 Este menino jogou à
bola no recreio se verifica a selecção da forma feminina do nome masculino apresentado, ou seja,
em todas as respostas foi utilizada a palavra menina. Ainda que com uma frequência menor, nas
respostas aos itens 5 e 16 é possível encontrar casos de selecção da forma masculina do nome
feminino apresentado, sendo que, para a frase 5, Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa, duas
crianças deram como resposta Aquele boneco da Maria é cor-de-rosa, e três crianças produziram
68
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
apenas a palavra boneco. Na frase 16, a palavra tio substitui o item tia cinco vezes em contexto de
frase e três vezes sem contexto.
Nas respostas aos itens 5 e 16 é ainda possível verificar a ocorrência de respostas em que é
seleccionada uma forma não relacionada com a original, mas que apresenta traços de género
diferente. Esta ocorrência é visível nas respostas O carro da Maria é cor-de-rosa, na frase 5 e O
João vai à loja com o pai, na frase 16, por exemplo.
A alteração de número ocorreu apenas na frase 16, na resposta O João vai à loja com os amigos, em
que o nome seleccionado, amigos, difere da palavra-alvo (tia) em género e número.
Salienta-se, de novo, que em algumas respostas, as crianças substituíram a palavra-alvo por outra do
mesmo campo semântico. Foi o que aconteceu na frase 8, por exemplo, em que casa foi substituída
por terraço e por prédio, e na frase 11 em que o nome carro foi substituído por outros que
designam igualmente meios de transporte (mota, bicicleta e carrinha).
D. Alteração morfológica com preservação da base
Apresentam-se, de seguida, os resultados relativos às respostas incorrectas em que existe uma
alteração morfológica da palavra-alvo com preservação da base, ou seja, em que é aplicado um
processo morfológico derivacional sobre a base do nome original. Inclui-se neste tipo de erro o uso
de diminutivos, cuja frequência de ocorrência é baixa, restringindo-se às frases 5, 8, 11 e 13, como
se ilustra em (22), respectivamente:
(22) a. aquela boneca – aquela bonequinha.
b. casa – casinha
c. carro – carrinho
d. livro – livrinho
E. Identificação errada da palavra a substituir
Este tipo de erro inclui as respostas em que as crianças não identificam correctamente a palavra a
substituir, tendo substituído outra palavra da frase. As expressões corrigidas pertencem a categorias
sintácticas diferentes:
69
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(i) Determinantes: Substituição do determinante, mas não do nome a testar, como em O menino
brincou à bola no recreio, que constitui uma resposta à frase 1. Este menino jogou à bola no
recreio, e A boneca da Maria é cor-de-rosa, em resposta à frase 5, Aquela boneca da Maria
é cor-de-rosa.
(ii) Verbos: Substituição do verbo mas não do nome a testar, como em O menino brincou à
bola no recreio e em Eu tenho um grande livro, que constituem respostas às frases 1, Este
menino jogou à bola no recreio, e 13, Eu vi um grande livro.
(iii) Sintagmas Preposicionais, sem alteração do nome a testar, como em Este menino joga um
jogo, resposta à frase 1, Este menino jogou à bola no recreio.
(iv) Adjectivos/Sintagmas Adjectivais, sem alteração do nome a testar, como por exemplo, em
Aquela bonita casa é grande, resposta à frase 8, Aquela linda casa é grande ou em Eu vi
um pequeno livro, resposta à frase 13, Eu vi um grande livro.
F. Construção de uma frase nova
Deste tipo de erro fazem parte as respostas que apresentam uma reformulação completa da frase,
semanticamente relacionada com a frase original ou não. Relembre-se que, de acordo, com as
instruções dadas antes do início da realização da tarefa, os sujeitos não podiam alterar senão a
palavra-alvo. Os resultados obtidos são os seguintes:
Frase 5 – Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
Quadro 35 – Construção de uma frase nova, para a categoria nome, no 1º ano de escolaridade – frase 5
Item Incorrecto
A
Maria
tem
Frequência
um
Item Incorrecto
1
A Maria tem um lindo
boneco
A
Maria
Frequência
1
boneco
tem
um
1
Aquele brinquedo da
ursinho
A Maria tem um cão
1
boneca
1
A menina é bonita
70
1
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 8 – Aquela linda casa é grande.
Quadro 36 - Construção de uma frase nova, para a categoria nome, no 1º ano de escolaridade – frase 8
Item incorrecto
Frequência
Aquele jardim é bonito
1
Aquela casinha é linda
1
Aquele cão é bonito
1
Observando os dois Quadros apresentados é possível efectuar distinção entre: (i) casos em que o
verbo é diferente, dando origem a uma frase com uma estrutura sintáctica distinta da do item
original, como se verifica nas respostas à frase 1 com recurso ao verbo ter; (ii) casos em que se
mantém o verbo da frase original, pelo que se obtém uma estrutura sintáctica próxima da original,
mas em que se altera o predicador, como acontece na resposta A menina é bonita, na frase 1, e em
todas as respostas à frase 8; (iii) casos em que há omissão do SV, com possibilidade de reconstrução
da frase como gramatical, mas em que os nomes do SN-Sujeito são ambos alterados, caso da
resposta Aquele brinquedo da boneca, na frase 1.
G. Ausência de resposta
Neste tipo de erro são incluídas as frases que testam a categoria nome para as quais não houve
qualquer resposta. Em cada caso, indica-se o número de crianças que não respondeu a essas frases.
Quadro 37 – Ausência de resposta para a categoria nome no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Frequência
Este menino jogou à bola no recreio (frase 1)
2
Aquela linda casa é grande (frase 8)
3
O Pedro tem um carro (frase 11)
1
Eu vi um grande livro (frase 13)
1
O João vai à loja com a mãe (frase 16)
1
Através da análise do Quadro 37, constata-se que a frase 8 é aquela que maiores problemas colocou
às crianças do 1º ano, sendo que três sujeitos não apresentaram qualquer resposta. Segue-se a frase
1, com duas ocorrências de ausência de resposta. Para cada uma das frases 11, 13 e 16, apenas uma
criança, nunca a mesma, não conseguiu efectuar a substituição.
71
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.1.2.
4º ano de escolaridade
Nesta secção, apresentam-se os resultados relativos à substituição de itens lexicais da categoria
sintáctica nome pelas crianças do 4º ano de escolaridade.
No Quadro 38, são apresentados os resultados globais. Recorde-se que a amostra em análise nesta
secção é constituída por 44 sujeitos e, como tal, a totalidade de respostas para esta categoria é de
264.
Quadro 38 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas para a categoria nome, no 4ª ano de
escolaridade
Frequência
Percentagem
Respostas correctas
205
77,65%
Respostas incorrectas
59
22,35
Total
264
100%
De acordo com os resultados apresentados no Quadro 38, em termos globais, existe uma grande
diferença entre a percentagem de respostas correctas e incorrectas, sendo a percentagem de
respostas correctas bastante mais elevada do que a percentagem de respostas incorrectas entre as
crianças do 4º ano de escolaridade.
No Quadro seguinte, apresentam-se exemplos de respostas correctas e incorrectas para os itens que
envolvem a categoria sintáctica em análise.
Quadro 39 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria nome, no 4º ano de escolaridade
Item de Teste
Respostas Correctas
Respostas Incorrectas
a)
Este menino jogou à
Este rapaz jogou à bola no recreio
Esta menina jogou à bola no recreio
bola no recreio
(sujeito 5)
(sujeito 7)
b)
Aquela capa da Maria é cor-de-rosa
Aquele boneco do Mário é cor-de-rosa
(sujeito 6)
(sujeito 11)
Aquela linda árvore é grande (sujeito
Aquele castelo é grande (sujeito 5)
Aquela boneca da Maria
é cor-de-rosa
c)
Aquela
linda
casa
é
grande
d)
6)
O Pedro tem um carro
O Pedro tem um computador (sujeito
O Pedro tem uma banana (sujeito 5)
6)
e)
Eu vi um grande livro
Eu vi um grande rinoceronte (sujeito
Eu vi uma grande almofada (sujeito 5)
6)
f)
O João vai à loja com a
O João vai à loja com a avó (sujeito 5)
tia
72
O João vai à loja com o tio (sujeito 7)
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
De seguida, apresentam-se os resultados relativos ao 4º ano de escolaridade tendo em conta o
género. Relembre-se que existem 21 crianças do género masculino e 23 do género feminino no 4º
ano, pelo que existem 126 respostas de rapazes e 138 de raparigas.
Quadro 40 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria nome, no 4º ano de escolaridade
Masculino (N=21)
Total
Feminino (N=23)
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
94
32
126
111
27
138
74,60%
25,40%
100%
80,43%
19,57%
100%
Frequência
Percentagem
Através da análise do Quadro 40, verifica-se que a frequência de respostas correctas é, em ambos os
géneros, superior à das respostas incorrectas. É possível, ainda, constatar que as raparigas
apresentam uma percentagem de respostas correctas ligeiramente superior à dos rapazes.
No sentido de averiguar a existência de diferenças, e a sua significância, entre géneros, na
pontuação das respostas às frases que testam a categoria nome, aplicou-se o teste estatístico MannWhitney (Quadro 41).
Quadro 41 – Teste de Mann-Whitney para a pontuação total da categoria nome, no 4º ano de escolaridade
Grupo
M ± DP
Mínimo
Máximo
4,83±1,30
2,00
6,00
Média de
Mann-
Rank
Whitney
4º ano
género
feminino
23,13
n = 23
U = 227,00
4º ano
p = 0,730
género
masculino
4,48±1,54
1,00
6,00
21,81
n= 21
Com a aplicação do teste , conclui-se que não existem diferenças significativas entre género,
estando as médias aritméticas bastante próximas (M = 4,48, F = 4,83).
73
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.1.2.1. Respostas correctas
Nesta secção apresentam-se os dados relativos às respostas correctas dadas pelas crianças do 4º ano
a cada item que testa a categoria sintáctica em análise.
No ano de escolaridade referido, a percentagem de respostas correctas para a categoria nome foi de
77,65% (205/264). De seguida, apresentam-se as opções das crianças para cada item da tarefa.
Frase 1 - Este menino jogou à bola no recreio.
Quadro 42 - Respostas correctas para a frase 1, no 4º ano de escolaridade
Itens correctos
Frequência
Itens correctos
Frequência
rapaz
23
aluno
1
Senhor
4
homem
1
Sujeito
1
jogador
1
Cão
1
músico
1
Frase 5 – Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
Quadro 43 - Respostas correctas para a frase 5 , no 4º ano de escolaridade
Itens correctos
Frequência
Itens correctos
Frequência
Barbie
3
bola
5
camisola
6
pasta
1
flor
1
cama
2
capa
1
bicicleta
1
Caneta
4
piscina
1
saia
2
fita
1
mala
1
bolacha
1
mochila
1
casa
1
mesa
1
coluna
1
Minhoca
1
almofada
1
74
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 8 - Aquela linda casa é grande.
Quadro 44 - Respostas correctas para a frase 8, no 4º ano de escolaridade
Itens correctos
Frequência
Itens correctos
Frequência
mota
1
mesa
1
boneca
7
árvore
1
Cadela
2
bola
2
tenda
1
casota
3
Vivenda
4
prateleira
1
porta
1
barraca
1
Mala
2
limousine
1
Girafa
1
camisola
1
Parede
1
camioneta
1
Pulseira
1
Frase 11 – O Pedro tem um carro.
Quadro 45 - Respostas correctas para a frase 11, no 4º ano de escolaridade
Itens correctos
Frequência
Itens correctos
Frequência
Jogo
2
computador
3
boneco
6
microfone
1
Avião
1
tractor
1
Desenho
1
jipe
2
Livro
1
hamster
1
Cão
1
puzzle
1
Brinquedo
3
limão
1
Avião
1
armário
1
Automóvel
3
jornal
1
Chapéu
1
75
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 13 - Eu vi um grande livro.
Quadro 46 - Respostas correctas para a frase 13, no 4º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Jogo
4
leão
1
Boneco
3
computador
4
Animal
1
elefante
5
Carro
5
navio
1
Surfista
1
móvel
1
Filme
1
monte
1
Caderno
3
guizo
1
Peluche
1
estojo
1
Vídeo
1
desenho
1
Chocolate
1
armário
1
Rinoceronte
1
Frase 16 - O João vai à loja com a tia.
Quadro 47 - Respostas correctas para a frase 16, no 4º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
mãe
22
prima
2
avó
4
irmã
2
senhora
1
Madalena
1
Como se pode verificar nos Quadros apresentados acima, existe uma grande variedade de respostas
para todas as frases. Tal como aconteceu no 1º ano, em alguns casos, as crianças do 4º ano
recorreram a sinónimos. Vejam-se as respostas à frase 1, em que menino foi maioritariamente
substituído por rapaz, e à frase 11, em que carro foi substituído por automóvel, ainda que esta não
tenha sido a opção mais frequente.
76
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Também como aconteceu no 1º ano, algumas crianças do 4º ano efectuaram a substituição da
palavra-alvo por palavras do mesmo campo semântico. Esta estratégia é visível em respostas à frase
8, em que o nome, casa foi substituído por vivenda (4), casota (3), tenda (1) e barraca (1), e
também em respostas à frase 16, em que dos seis diferentes itens usados na substituição da palavra
tia, apenas dois não designam relações de parentesco.
3.1.1.2.2. Respostas incorrectas
Tal como referido acima, a percentagem de respostas incorrectas dadas pelas crianças de 4º ano de
escolaridade aos itens que testam a categoria nome foi de 22,35% (59/264), percentagem muito
inferior à de respostas correctas aos mesmos itens.
A. Manipulação do sintagma em vez do núcleo
(i)
Substituição de mais do que uma palavra no sintagma
Apresentam-se, de seguida, os resultados do 4º ano relativos às respostas incorrectas que se incluem
neste tipo de erro, relativamente a cada frase que envolve a categoria nome.
Frase 1 – Este menino jogou à bola no recreio.
Quadro 48 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade –
frase 1
Item Incorrecto
O Manuel jogou à bola no
Frequência
1
recreio
Ele jogou à bola no recreio
Item Incorrecto
Esta menina jogou à bola
2
no recreio
2
Estas crianças jogaram à
bola no recreio
O João jogou à bola no
Frequência
1
recreio
77
1
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 5 – Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
Quadro 49 - – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade –
frase 5
Item Incorrecto
Frequência
Aquele boneco do Mário é cor-de-
1
rosa
O livro da Maria é cor-de-rosa
1
Aquele boneco da Maria é cor-de-
1
rosa
Aquele carro da Maria é cor-de-
1
rosa
Aquele jogo da Maria é cor-de-
1
rosa
Frase 8 – Aquela linda casa é grande.
Quadro 50 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade –
frase 8
Item incorrecto
Frequência
Aquele castelo é grande
1
Aquele amigo é grande
1
Aquele hotel é grande
1
Frase 11 – O Pedro tem um carro.
Quadro 51 – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade –
frase 11
Item incorrecto
Frequência
O Pedro tem uma banana
1
O Pedro tem uma bola
1
O Pedro tem uma mota
4
O Pedro tem uma casa
1
O Pedro tem uma bicicleta
3
O Pedro tem uma boneca
1
78
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 13 – Eu vi um grande livro.
Quadro 52 - – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade –
frase 13
Item incorrecto
Frequência
Eu vi uma grande almofada
1
Eu vi uma grande estante
1
Eu vi uma grande bola
1
Eu vi uma grande Bíblia
1
Frase 16 – O João vai à loja com a tia.
Quadro 53 - – Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade –
frase 16
Item Incorrecto
Frequência
O João vai à loja com o pai
4
O João vai à loja com o avô
1
O João vai à loja com o tio
2
O João vai à loja com o sobrinho
1
O João vai à loja com os pais
1
O João vai à loja com o primo
1
O João vai sozinho à loja.
1
Nos Quadros apresentados acima é possível observar que a substituição da palavra-alvo por outra
com diferentes traços de género com 38 ocorrências no total, é o motivo principal pelo qual estas
respostas se inserem neste tipo de erro. Com efeito, para manter a gramaticalidade das frases, os
sujeitos tiveram de alterar também o determinante, a fim de respeitar a relação de concordância que
este estabelece com o nome.
Como aconteceu no 1º ano, também no 4º ano surgiu a resposta Ele jogou à bola no recreio para a
frase 1, contabilizada neste tipo de erro visto que o SN, constituído por duas palavras é substituído
por apenas uma palavra, o pronome.
79
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Também como se verificou nas respostas das crianças do 1º ano, nos itens 11 e 16 algumas crianças
recorreram ao campo semântico para realizar as substituições, apesar de terem seleccionado itens
com diferentes especificações quanto ao género. Assim, na frase 11, o nome carro foi substituído
por outros que designam meios de transporte, como mota e bicicleta; na frase 16, foram utilizados
maioritariamente nomes que designam relações de parentesco para substituírem a palavra tia.
Ainda que esporadicamente, verificou-se ainda a substituição do nome no interior do modificador
que se integra no SN que contém o nome a testar. Tal aconteceu apenas uma vez na resposta à frase
5, Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa, em que, para além do nome boneca, foi alterado o nome
Maria, substituído por Mário.
A simples substituição pela forma feminina de nomes masculinos ou pela forma masculina de
nomes femininos foi igualmente pouco frequente: menino é substituído por menina em duas
respostas; boneca é substituída por boneco também em dois casos.
(ii)
Substituição usando mais do que uma palavra
Para os itens que testam a categoria nome, existiu apenas uma resposta incorrecta que se insere
neste tipo de erro. Assim, na frase 11, O Pedro tem um carro, uma criança deu como resposta
garrafa de água. Apesar de a criança ter produzido apenas esta expressão e não a frase inteira,
considera-se que a criança revela não reconhecer o contexto sintáctico, visto que efectuou a
substituição por outro nome mas alterou o género e acrescentou o modificador de água, que não
consta do item da tarefa.
80
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(iii)
Omissão de uma expressão dentro do sintagma
Este tipo de erro manifestou-se apenas para a frase 8, Aquela linda casa é grande, como se verifica
no Quadro 54.
Frase 8 – Aquela linda casa é grande.
Quadro 54 – Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 8
Item incorrecto
Frequência
Aquele castelo é grande
1
Aquele amigo é grande
1
Aquela casinha é grande
1
Aquele menina é grande
1
Aquela vivenda é grande
1
Aquele hotel
1
Deste modo, tal como no 1º ano, o constituinte omitido foi o SA, modificador da expressão
nominal.
B. Inadequação semântica
Entre as respostas das crianças de 4º ano de escolaridade, encontra-se apenas um caso em que a
substituição efectuada originou inadequação semântica. Assim, em resposta à frase 5, Aquela
boneca da Maria é cor-de-rosa, um sujeito produziu a sequência Aquela amiga da Maria é cor-derosa. Esta sequência é agramatical visto que o predicador cor-de-rosa não selecciona argumentos
com o traço [+humano], como aquela amiga da Maria. Trata-se, portanto, de uma violação das
restrições semânticas impostas pelo predicador ao seu argumento.
C. Alteração de género e/ou número
Tal como as crianças do 1º ano de escolaridade, as crianças de 4º ano efectuaram algumas
substituições por nomes distintos do original no que diz respeito ao género e/ou ao número.
Apresentam-se, de seguida, os casos em que este erro ocorreu, encontrando-se a maioria também na
secção relativa ao erro substituição de mais do que uma palavra no sintagma, uma vez que as
alterações de género e/ou número do nome obrigaram igualmente à substituição do determinante.
81
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 1 – Este menino jogou à bola no recreio.
Quadro 55 – Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 1
Item Incorrecto
Frequência
Estas crianças jogaram à
Item Incorrecto
1
Frequência
Esta menina jogou à bola
bola no recreio
no recreio
Menina
3
Frase 5 – Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
Quadro 56 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 5
Item Incorrecto
Frequência
Aquele boneco do Mário é cor-de-rosa
1
Aquele boneco da Maria é cor-de-rosa
1
Aquele carro da Maria é cor-de-rosa
1
Aquele jogo da Maria é cor-de-rosa
1
Brinquedo
1
Frase 8 – Aquela linda casa é grande.
Quadro 57 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 8
Item incorrecto
Frequência
Aquele castelo é grande
1
Aquele amigo é grande
1
Aquele hotel é grande
1
Palácio
1
Prédio
1
Hotel
1
Carro
2
82
2
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 11 – O Pedro tem um carro.
Quadro 58 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 11
Item incorrecto
Frequência
O Pedro tem uma banana
1
O Pedro tem uma bola
1
O Pedro tem uma mota
4
O Pedro tem uma casa
1
O Pedro tem uma bicicleta
3
O Pedro tem uma boneca
1
Mota
1
Frase 13 – Eu vi um grande livro.
Quadro 59 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 13
Item incorrecto
Frequência
Eu vi uma grande almofada
1
Eu vi uma grande estante
1
Eu vi uma grande bola
1
Eu vi uma grande bíblia
1
Frase 16 – O João vai à loja com a tia.
Quadro 60 - Alteração de género e/ou número, para a categoria nome no 4º ano de escolaridade – frase 16
Item Incorrecto
Frequência
O João vai à loja com o pai
4
O João vai à loja com o avô
1
O João vai à loja com o tio
2
O João vai à loja com o sobrinho
1
O João vai à loja com os pais
1
O João vai à loja com o primo
1
*(a) tio
1
83
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Como se pode verificar, o tipo de alteração mais frequente é a substituição por um nome distinto do
original apenas quanto ao género, fenómeno que ocorre em todas as frases. Em vários casos as
crianças limitaram-se a produzir o nome (veja-se Quadro 57, relativo à frase 8), alterando o género
do item lexical da tarefa, não tendo mostrado explicitamente a necessidade de verificar a relação de
concordância determinante-nome. No caso da frase 16, uma criança produziu mesmo a tio.
Existiu apenas uma resposta em que se procedeu à alteração do número, no item 16, tendo a criança
produzido O João vai à loja com os pais, como resposta à frase O João vai à loja com a tia. Em
relação a esta frase acrescenta-se que todas as substituições foram efectuadas tendo em conta o
campo semântico das relações de parentesco.
Finalmente, existiu apenas uma resposta em que ocorre alteração de género e de número,
simultaneamente. Esta alteração verifica-se na frase 1, em que a criança produziu Estas crianças
jogaram à bola no recreio, tendo usado um nome distinto do original (menino) quanto ao género e
ao número.
D. Alteração morfológica com preservação da base
Relembre-se que, no caso da categoria nome, apenas são contabilizadas neste tipo de erro as
respostas em que são utilizados diminutivos. No que diz respeito ao 4º ano de escolaridade, apenas
uma criança produziu uma reposta que se insere neste tipo de erro: na frase 8, Aquela linda casa é
grande, a criança substituiu o nome casa por casinha.
E. Identificação incorrecta da palavra
Neste tipo de erro existe, igualmente, apenas uma resposta incorrecta. Assim, como resposta à frase
13, Eu vi um grande livro, em que se solicita a substituição do nome livro, um sujeito do 4º ano de
escolaridade produziu a frase Eu vi um pequeno livro, tendo, desta forma, substituído o adjectivo e
não o nome.
F. Construção de uma frase nova
Apenas uma resposta foi contabilizada como construção de uma frase nova: para a frase 5, Aquela
boneca da Maria é cor-de-rosa, foi apresentada a resposta Aquela árvore é da Maria. Neste caso, a
criança substitui, efectivamente, a palavra boneca, mantém a forma verbal (ser), mas altera a
estrutura interna do SN-Sujeito, eliminando o modificador preposicional, que passa a utilizar como
84
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Predicativo do Sujeito. Relembra-se que a tarefa de manipulação construída no âmbito deste
trabalho não permite a alteração da estrutura sintáctica do item do teste.
3.1.1.3.
Síntese comparada dos Resultados
Relativamente à substituição de nomes e comparando os resultados das crianças de 1º ano com os
resultados das crianças de 4º ano de escolaridade, é possível concluir que:
a) As crianças de 4º ano produzem cerca de mais 30% de respostas correctas do que as
crianças de 1º ano.
b) No 1º ano existem diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas,
sendo que as raparigas têm uma média de respostas correctas mais elevada. No 4º ano,
não existem diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas, ainda
que, as raparigas continuem a apresentar uma média aritmética de respostas ligeiramente
superior à dos rapazes.
c) No geral, as crianças de 4º ano apresentam maior variedade de respostas correctas, o que
pode decorrer do facto de possuírem um conhecimento lexical superior. Este facto
verificou-se para todas as frases, nas respostas das crianças de 4º ano de escolaridade.
d) As crianças de 4º ano responderam, correcta ou incorrectamente, a todas as frases. No 1º
ano, oito crianças não deram qualquer tipo de resposta a cinco dos itens utilizados para
testar a categoria nome (cf. Quadro 37).
e) Nas respostas das crianças de 1º ano, os tipos de respostas incorrectas foram, por ordem
decrescente de frequência:
(i) Alteração de género e/ou número;
(ii) Substituição de mais do que uma palavra no sintagma;
(iii) Construção de uma frase nova;
(iv) Identificação incorrecta da palavra a substituir;
(v) Omissão de uma expressão dentro do sintagma;
(vi) Inadequação semântica;
85
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(vii)
Alteração morfológica com preservação da base:
(viii) Substituição usando mais do que uma palavra.
f) Entre as crianças de 4º ano, os tipos de respostas incorrectas foram, por ordem
decrescente de frequência:
(i) Alteração de género e/ou número;
(ii) Substituição de mais do que uma palavra no sintagma;
(iii)Omissão de uma expressão dentro do sintagma:
(iv) Em igualdade de circunstância (uma ocorrência por tipo de erro): substituição
usando mais do que uma palavra; inadequação semântica; alteração morfológica
com preservação da base; identificação incorrecta da palavra; construção de frase
nova.
3.1.2. Verbo
Como já foi referido na secção 2.3, foram utilizados, nesta tarefa, verbos intransitivos e transitivos
directos, num total de seis itens, ilustrados em (23) e (24).
(23) Itens utilizados para testar a categoria verbo intransitivo
a) O bebé chora quando acorda. (frase 2)
b) As crianças dormem à noite. (frase 4)
c) O meu pai dança. (frase 7)
(24) Itens utilizados para testar a categoria verbo transitivo directo
a)
O João comprou um boneco. (frase 9)
b)
A Mariana lê o livro. (frase 15)
c)
A Sara pintou um desenho. (frase 17)
86
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.2.1.
1º ano de escolaridade
No Quadro 61, apresentam-se os resultados globais do1º ano de escolaridade para a categoria verbo.
Recorde-se que existem 40 sujeitos neste ano de escolaridade, pelo que a totalidade de respostas que
envolvem esta categoria sintáctica é de 240.
Quadro 61 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas para a categoria verbo, no 1º ano de
escolaridade
Frequência
Percentagem
Respostas correctas
152
63,75%
Respostas incorrectas
88
36,25%
Total
240
100%
Observando o Quadro 61, verifica-se que a percentagem de respostas correctas é superior à
percentagem de respostas incorrectas, na totalidade dos itens que testam os verbos,
independentemente da subclasse a que estes verbos pertencem.
No Quadro 62, apresentam-se exemplos de respostas correctas e incorrectas das crianças de 1º ano
de escolaridade a cada uma das frases que envolvem a categoria verbo (intransitivos nas três
primeiras frases; transitivos nas três últimas).
Quadro 62 - Exemplos de Respostas Correctas e Incorrectas para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Item do Teste
Respostas Correctas
Respostas Incorrectas
a)
O bebé chora quando
acorda
b)
As crianças dormem à
O bebé brinca quando acorda (sujeito
O bebé fica contente quando acorda
4)
(sujeito 9)
As crianças brincam à noite (sujeito 2)
As crianças estão acordadas à noite
noite
(sujeito 9)
c)
O meu pai dança
O meu pai canta (sujeito 2)
O meu pai dançou (sujeito 36)
d)
O João comprou um
O João viu um boneco (sujeito 2)
O João cantou um boneco (sujeito 4)
e)
A Mariana lê o livro
A Mariana vê o livro (sujeito 2)
A Mariana leu o livro (sujeito 36)
f)
A
A Sara fez um desenho (sujeito 2)
A Sara está a pintar um desenho
boneco
Sara
pintou
um
desenho
(sujeito 36)
87
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
No Quadro seguinte, apresentam-se os resultados relativos ao 1º ano de escolaridade de acordo com
a variável extra-linguística género. Relembre-se que, neste ano, existem 22 crianças do género
masculino e 18 do género feminino. Assim, existem 132 respostas de rapazes e 108 de raparigas.
Quadro 63 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Masculino (N=22)
Total
Feminino (N=18)
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
74
58
132
79
29
108
56,06%
43,94%
100%
73,15%
26,85%
100%
Frequência
Percentagem
No Quadro 63, verifica-se que, globalmente e em ambos os géneros, a percentagem de respostas
correctas é superior à de respostas incorrectas, sendo, contudo, mais elevada nas raparigas do que
nos rapazes. Adicionalmente, observa-se que a diferença entre respostas correctas e incorrectas é
menor nos sujeitos do género masculino, havendo maior discrepância entre respostas correctas e
incorrectas nos sujeitos do género feminino.
Para averiguar a existência de diferenças significativas entre géneros na pontuação dos itens que
testam a categoria verbo, aplicou-se o teste estatístico Mann-Whitney (Quadro 64).
Quadro 64 – Teste Mann-Whitney para a pontuação total da categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Grupo
Média de
MannWhitney
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
4,39±1,66
,00
6,00
24,75
1º ano
género
feminino
n= 18
U = 121,50
1º ano
p = 0,034
género
masculino
3,36±1,56
1,00
6,00
17,02
n= 22
Os dados do Quadro 64 mostram que existem diferenças significativas entre género: o género
feminino apresenta uma média aritmética de respostas correctas mais elevada do que o género
masculino.
88
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.2.1.1. Respostas correctas
Como já foi referido, os sujeitos do 1º ano de escolaridade apresentam uma totalidade de respostas
correctas de 63,75% (153/240) no que diz respeito à substituição de palavras da categoria verbo.
Considerem-se, em primeiro lugar, os itens que envolvem verbos intransitivos.
Frase 2 – O bebé chora quando acorda.
Quadro 65 – Respostas correctas para a frase 2 no 1º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Brinca
5
sorri
7
Ri
6
grita
2
Frase 4 – As crianças dormem à noite.
Quadro 66 - Respostas correctas para a frase 4 no 1º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Brincam
9
lêem
1
Jantam
2
descansam
1
Acordam
7
gritam
1
Bebem
1
comem
1
Frase 7 - O meu pai dança.
Quadro 67 - Respostas correctas para a frase 7 no 1º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Canta
9
caiu
1
Trabalha
4
brinca
1
Bebe
1
pula
1
Lê
1
anda
1
Grita
1
chora
1
89
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Da análise dos Quadros 65 a 67 realçam-se quatro aspectos:
(i) as crianças escolheram com frequência antónimos da palavra-alvo – na frase 2, ri e sorri
como substitutos de chora, na frase 4, acordam como substituto de dormem.
(ii) na frase 7, seleccionaram maioritariamente um verbo (canta) do mesmo campo semântico da
palavra-alvo, dança
(iii)
utilizaram verbos transitivos que admitem queda do objecto, ou seja, em que o
argumento interno directo não é projectado na representação sintáctica (Duarte, 2003:
310-311), como beber e ler na frase 7, e comer na frase 4.
(iv) manifestaram preferência por verbos inergativos; assim, dos 16 verbos utilizados na
substituição, só dois são inacusativos (acordar e ler).
Seguem-se os resultados relativos aos itens que envolvem verbos transitivos directos.
Frase 9 – O João comprou um boneco.
Quadro 68 - Respostas correctas para a frase 9 no 1º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Viu
3
ganhou
1
Tinha
2
deu
1
Tem
7
trocou
1
Fez
5
estragou
1
Vê
1
tirou
1
Vendeu
3
Frase 15 – A Mariana lê o livro.
Quadro 69 - Respostas correctas para a frase 15 no 1º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
vê
19
viu
5
tem
4
escreve
1
faz
1
90
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
leva
1
Frase 17 – A Sara pintou o desenho.
Quadro 70 - Respostas correctas para a frase 17 no 1º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Fez

rasgou

Descreveu

viu

Estragou

tem

Desenhou


Os dados acima apresentados revelam que a maior parte das crianças utilizou verbos da mesma
subclasse para efectuar a substituição solicitada. Os verbos vender e dar, utilizados na frase 9,
ainda que sejam tipicamente classificados como verbos de três lugares, seleccionando um Objecto
Directo e um Objecto Indirecto, admitem a não realização lexical deste último pelo que as respostas
em que se encontram envolvidos foram classificadas como correctas. Por sua vez, o verbo trocar,
também utilizado na frase 9, é igualmente um verbo que, seleccionando três argumentos (O Pedro
trocou o livro pelo caderno), admite a não realização de um deles – o pré-posicionado (pelo
caderno), pelo que a resposta em que este verbo surge foi considerada gramatical.
Na totalidade das manipulações, os verbos mais frequentes foram ter, fazer e ver. Este último, como
se pode observar no Quadro 69 (frase 15), foi utilizado muito frequentemente para substituir lê,
possivelmente pela semelhança fonológica: trata-se de palavras monossilábicas, com estrutura
silábica similar (Ataque não ramificado; Rima não ramificada; Núcleo não ramificado) e material
segmental idêntico no domínio da Rima. Assim, pode considerar-se que as crianças que exibiram
este comportamento acederam à via fonológica para proceder à substituição da palavra-alvo.
3.1.2.1.2. Respostas incorrectas
A percentagem de respostas incorrectas relativas à categoria verbo, no 1º ano de escolaridade, foi de
36,25% (87/240). Apresentam-se de seguida, essas respostas, tendo em conta o tipo de erro nelas
presente.
91
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
A. Manipulação do sintagma em vez do núcleo
(i)
Substituição de mais do que uma palavra no sintagma
No 1º ano de escolaridade, o número de respostas incorrectas que se incluem neste tipo de erro é
reduzido, dado que se regista apenas uma resposta deste tipo para quatro dos itens da tarefa (Quadro
71).21
Quadro 71 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens Incorrectos
Frequência
O bebé chora quando acorda (frase 2)
O bebé brinca na cama
1
As crianças dormem à noite (frase 4)
*As crianças acordam à dia
1
O João comprou um boneco (frase 9)
O João foi comprar um caderno
1
A Mariana lê o livro (frase 15)
A Mariana viu um filme
1
Como se pode verificar, na frase 2 a criança efectuou a substituição do verbo, mas também do
modificador frásico (a oração adverbial temporal, quando acorda) por um modificador
preposicional, na cama. Na frase 4 foi alterado o verbo e o nome que integra o modificador
preposiconal, ainda que o resultado obtido seja agramatical.
Na resposta à frase 9, existe inserção do verbo auxiliar ir, com manutenção do verbo principal, que
devia ter sido substituído. Para além disso, a criança substitui o Objecto Directo (um boneco, que
passa a um caderno), o que também ocorre na frase 15 (o livro é substituído por um filme), tendo
assim, estas duas crianças, substituído mais do que uma palavra no SV.
(i)
Substituição usando mais do que uma palavra
Na substituição usando mais do que uma palavra contabilizaram-se todos os casos de alteração das
propriedades sintácticas do verbo a substituir, nomeadamente aqueles em que o verbo da frase da
tarefa foi substituído por um outro que selecciona um diferente número de complementos, ou os de
inserção de verbos auxiliares.
Apresentam-se, de seguida, as respostas que exibem este tipo de erro, relativas às frases da tarefa
que testam verbos intransitivos.
21
Dado o número reduzido de erros desta natureza, optou-se por apresentar todas as frases no mesmo Quadro.
92
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 2 – O bebé chora quando acorda.
Quadro 72 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade – frase 2
Itens Incorrectos
O
bebé
fica
contente
Frequência
Itens Incorrectos
Frequência
1
O bebé fica feliz quando
1
quando acorda
acorda
O bebé quer a chucha
1
bebe no biberão
1
O bebé fica feliz
1
bebe leite
1
O bebé pára de chorar
1
quando acorda
Frase 4 – As crianças dormem à noite.
Quadro 73 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade – frase 4
Itens Incorrectos
Frequência
As crianças estão acordadas à noite
2
As crianças estão a dormir à noite
1
As crianças vêem televisão à noite
2
As crianças lavam os dentes
2
*A criança vai vestir à noite
1
Frase 7 – O meu pai dança.
Quadro 74 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade – frase 7
Itens Incorrectos
Frequência
Itens Incorrectos
Frequência
O meu pai vê televisão
1
vai para casa
1
comprou um carro
1
O meu pai viu um filme
1
O meu pai é esperto
1
*O meu pai fica a ver
1
vê um filme
1
O meu pai vê o jogo
1
é amigo
1
O meu pai é fixe
1
joga à bola
1
93
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Nos Quadros apresentados é possível constatar que, para efectuar a substituição dos verbos
intransitivos, as crianças recorreram à utilização de:
(i) verbos transitivos directos com inserção do respectivo Objecto Directo, como se pode
verificar, por exemplo, em O bebé quer a chucha quando acorda (frase 2), As crianças
vêem televisão à noite (frase 4) e O meu pai vê o jogo (frase 7);
(ii) verbos copulativos com o respectivo Predicativo do Sujeito, como em, O bebé fica contente
quando acorda (frase 2), O meu pai é esperto (frase 7);
(iii)
as sequências com auxiliares, mantendo o verbo principal, como por exemplo, em O
bebé pára de chorar (frase 2) e As crianças estão a dormir à noite (frase 4);
(iv) verbos de dois lugares com argumento interno oblíquo, como em joga à bola e vai para
casa (frase 7).
Note-se que as estratégias mais frequentes, na globalidade dos itens, são as enunciadas em (i) e (ii),
acima.
Realça-se, ainda, o facto de que duas das sequências resultantes serem agramaticais por omissão
indevida do Objecto Directo do verbo usado na substituição. Trata-se das respostas A criança vai
vestir à noite (frase 4) e O meu pai fica a ver (frase 7), em que os verbos a manipular foram
efectivamente substituídos por outros, que exigem um Objecto Directo não realizado nas produções
dos sujeitos.
Seguem-se os resultados obtidos como resposta aos itens que testam os verbos transitivos directos.
Frase 9 – O João comprou um boneco.
Quadro 75 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade – frase 9
Itens Incorrectos
Frequência
O João foi comprar um caderno
1
O João foi comprar um boneco
1
O João troca de boneco
1
brincou com
1
94
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 15 – A Mariana lê o livro.
Quadro 76 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade – frase 15
Itens Incorrectos
Frequência
A Mariana escreveu no livro
1
A Mariana pôs o livro na estante
1
A Mariana foi comprar um livro
1
Frase 17 – A Sara pintou um desenho.
Quadro 77 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade – frase 17
Itens Incorrectos
Frequência
A Sara acabou de ver um desenho
1
A Sara dá à mãe um desenho
1
está a pintar
1
Nos Quadros 75, 76 e 77 verifica-se que as crianças de 1º ano de escolaridade utilizaram diferentes
subclasses de verbos na substituição dos transitivos directos. Assim,
(i)
Introduzem um verbo auxiliar, mantendo, como verbo principal o item lexical que deve ser
alvo da manipulação. Vejam-se a título de exemplo, as respostas O João foi comprar um
caderno (frase 9) e está a pintar (frase 17);
(ii)
Introduzem um verbo auxiliar, substituindo, no entanto, a palavra-alvo por um verbo
adequado, como acontece, por exemplo, nas respostas A Sara acabou de ver um desenho
(frase 17) e A Mariana foi comprar um livro (frase 15).
(iii)
Substituem o verbo da frase da tarefa por outro que selecciona mais argumentos, realizados
lexicalmente nas suas produções, são exemplo destas situações as respostas A Mariana pôs o
livro na estante (frase 15) e A Sara dá à mãe um desenho (frase 17).
Note-se que em nenhum caso se verificou a substituição de um verbo transitivo por um verbo
intransitivo.
95
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(ii)
Omissão de uma expressão dentro do sintagma
Neste tipo de erro só se encontram respostas incorrectas relativamente aos itens 2, 4 e 15.
Frase 2 – O bebé chora quando acorda.
Quadro 78 – Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade – frase 2
Itens Incorrectos
Frequência
Itens Incorrectos
Frequência
O bebé acorda
2
O bebé sorri
1
O bebé dorme
2
bebe no biberão
1
O bebé fica feliz
1
bebe leite
1
O bebé pára de chorar
1
Frase 4 – As crianças dormem à noite.
Quadro 79 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 1º ano de escolaridade – frase 4
Itens Incorrectos
Frequência
As crianças brincam
2
As crianças dormem
1
As crianças lavam os dentes
2
Relativamente à frase 15, A Mariana lê o livro, existe apenas uma resposta de omissão, A Mariana
não lê, sendo que a criança omitiu o SN o livro. Adicionalmente, observa-se a eliminação de
modificadores do SV: a oração adverbial temporal, na frase 2; o SP com valor temporal, na frase 4.
B. Alteração de propriedades sintácticas originando agramaticalidade
Neste tipo de erro, são tidas em conta as respostas em que existe a substituição dos verbos da frase
de teste por outros que seleccionam um diferente número de argumentos ou em que os
complementos do verbo utilizado são de categoria sintáctica distinta dos verbos das frases da tarefa.
O facto de se obterem resultados agramaticais distingue este tipo de erro do anterior.
Os resultados são apresentados, em conjunto, no Quadro 80, pois a frequência deste tipo de erro é
baixa, não só porque são poucos os itens cujas respostas se incluem neste conjunto, como também
porque são poucas as crianças cujas respostas podem ser aqui incluídas.
96
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 80 – Alteração de propriedades sintácticas originando agramaticalidade, para a categoria verbo, no 1º ano de
escolaridade
Itens do teste
O bebé chora quando acorda (frase
Itens incorrectos
Frequência
*O bebé gosta quando acorda
1
*espreguiça
1
As crianças dormem à noite (frase 4)
deitam-se
1
O meu pai dança (frase 7)
*O meu pai senta
1
A Mariana lê o livro (frase 15)
*A Mariana põe o livro
1
2)
Em relação à frase 2, a primeira resposta apresenta a substituição do verbo intransitivo por um
verbo de dois lugares com argumento interno Oblíquo (gostar), embora este argumento não se
encontre realizado, o que determina a agramaticalidade da sequência obtida. A segunda substituição
produz um resultado agramatical, uma vez que o verbo utilizado não dispõe da variante não
pronominal, sendo o clítico uma propriedade lexical do próprio verbo (espreguiçar-se). Este tipo de
clíticos designa-se como reflexo inerente (cf. Otero, 1999:1463; Brito, Duarte & Matos 2003:808809), não sendo possível a utilização do verbo sem o clítico (*espreguiçar).
Na frase 4, o pronome se corresponde ao Objecto Directo do verbo deitar, tratando-se, por isso, da
substituição de um verbo intransitivo (dormir) por um verbo transitivo directo (deitar).
No caso da frase 7, o verbo intransitivo do item do teste foi substituído por um verbo que selecciona
objecto directo (sentar), sem que este fosse realizado (sob a forma pronominal – o meu pai sentouse – ou não – o meu pai sentou o bebé), o que determina a agramaticalidade da resposta.
Finalmente, a resposta ao item 15 apresentada no Quadro 80 é agramatical, uma vez que pôr é um
verbo de três lugares com argumento interno oblíquo, sendo que este último não foi lexicalmente
realizado.
C. Transformação de frase afirmativa em negativa
Em alguns casos, as crianças do 1º ano de escolaridade transformam frases afirmativas em frases
negativas, introduzindo o operador de negação frásica não e mantendo o verbo que se pretendia que
substituíssem. Estas respostas encontram-se listadas no Quadro 81.
97
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 81 – Transformação de frase afirmativa em negativa, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
O meu pai dança (frase 7)
O meu pai não dança
1
O João comprou um boneco (frase 9)
O João não comprou um boneco
2
A Mariana lê o livro (frase 15)
A Mariana não lê
1
A Mariana não lê o livro
1
A Sara não pintou um desenho
1
A Sara pintou um desenho (frase 17)
D. Inadequação semântica
No Quadro 82, apresentam-se as respostas incorrectas em que se verifica inadequação semântica
provocada pelo verbo utilizado na substituição.
Quadro 82 – Inadequação semântica, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
O bebé chora quando acorda (frase
*O bebé dorme quando acorda
1
2)
*O bebé ressona quando acorda
1
O João comprou um boneco (frase 9)
*O João cantou um boneco
1
A Mariana lê o livro (frase15)
?*A Mariana ditou o livro
1
A Sara pintou um desenho (frase 17)
*A Sara escreveu um desenho
1
No caso das respostas incorrectas à frase 2, o significado do verbo da oração matriz, sujeito à
substituição, é contraditório com o verbo da oração subordinada.
Nas frases 15 e 17, existe uma incompatibilidade semântica entre o predicador verbal e o respectivo
Objecto Directo, embora a frase 15 possa causar algumas dúvidas visto que, efectivamente, é
possível atribuir-lhe significado, em função da experiência dos sujeitos (imaginando, por exemplo,
que a professora está a fazer um ditado de um livro).
E. Alteração de pessoa e/ou número
Nas respostas incorrectas das crianças de 1º ano de escolaridade, para a categoria verbo, existe
apenas uma resposta que se enquadra neste tipo de erro. A mesma foi produzida em resposta à
substituição pedida na frase 4, As crianças dormem à noite, em que uma criança produziu A criança
98
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
vai vestir à noite, tendo alterado o número do sujeito, o que a obrigou a alterar também o número da
forma verbal. Como já referido, esta sequência é agramatical, visto que o verbo vestir é um verbo
transitivo directo pelo que o Objecto Directo deveria estar realizado.
F. Alteração morfológica com preservação da base
Neste tipo de erro são contemplados os casos em que as crianças se limitam a alterar o tempo verbal
da palavra-alvo ou produzem erros de conjugação. As respostas que aqui se inserem encontram-se
no Quadro 83.
Quadro 83 – Alteração morfológica com preservação da base, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
O bebé chora quando acorda (frase
Itens incorrectos
Frequência
O bebé chorou quando acorda
1
As crianças dormem à noite (frase 4)
As crianças acordem
1
O meu pai dança (frase 7)
O meu pai dançou
2
O João comprou um boneco (frase 9)
O João compra um boneco
1
A Mariana lê o livro (frase15)
A Mariana leu o livro
1
A Sara pintou um desenho (frase 17)
A Sara pinta um desenho
1
2)
Como se pode verificar no Quadro 83, nas frases 2, 7 e 15, as crianças alteraram o tempo verbal do
presente para o pretérito perfeito, acontecendo o contrário nas frases 9 e 16.
Na frase 14, ocorre um erro de conjugação, uma vez que a forma utilizada corresponde ao presente
do conjuntivo (acordem), facto que dá origem a um resultado agramatical.
G. Identificação incorrecta da palavra a substituir
Tal como acontece com os nomes, também em alguns casos as crianças procedem à substituição de
outra palavra que não o verbo, como era solicitado, ou não efectuam qualquer substituição. Veja-se,
a este propósito, o Quadro 84.
99
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 84 – Identificação incorrecta da palavra a substituir, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
As crianças dormem à noite (frase 4)
As crianças dormem de dia
1
O João comprou um boneco (frase 9)
comprou um boneco
1
A Sara pintou um desenho (frase 17)
A Sara pintou a casa
1
A Sara pintou um elefante
1
Relativamente à frase 4, foi substituído o SP modificador do SV; na frase 17, duas crianças
substituíram o nome que constitui o núcleo do SN com a função de Objecto Directo. Note-se, ainda,
que, numa das respostas a esta última frase foi ainda alterado o determinante que integra o objecto
directo.
A frase 9 está inserida neste tipo de erro uma vez que a criança não efectuou qualquer substituição.
H. Construção de uma frase nova
Este tipo de erro surge apenas nas respostas à frase 9, O João comprou boneco, como se verifica no
Quadro 85.
Quadro 85 – Construção de uma frase nova, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Itens Incorrectos
Frequência
O João tem há muitos anos um
1
boneco
O João saiu à noite
1
O João foi à loja
1
Nestes casos, é alterada completamente a estrutura sintáctica da frase da tarefa, o que, de acordo
com as instruções dadas (cf. Capítulo 2), não era permitido.
I. Ausência de reposta
Apresentam-se, de seguida, as frases que testam a categoria verbo para as quais não houve qualquer
resposta. Indica-se, ainda, a frequência de ocorrência deste tipo de erro nas respostas das crianças
do 1º ano de escolaridade.
100
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 86 – Ausência de resposta, para a categoria verbo, no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Frequência
O bebé chora quando acorda (frase
2
2)
As crianças dormem à noite (frase 4)
3
O meu pai dança (frase 7)
2
O João comprou um boneco (frase
1
9)
A Sara pintou um desenho (frase 17)
2
Analisando o Quadro, constata-se que a única frase para a qual não houve ausência de resposta é a
frase 15. O item em que se verifica mais este tipo de erro é a frase 4.
3.1.2.2.
4º ano de escolaridade
Nesta secção, apresentam-se os resultados relativos à manipulação de itens lexicais da categoria
sintáctica verbo pelas crianças de 4º ano de escolaridade.
No Quadro 87, apresentam-se os resultados globais relativos às respostas das crianças de 4º ano
para a categoria em análise. Recorde-se que existem 44 sujeitos neste ano de escolaridade e, como
tal, a totalidade de respostas para esta categoria é de 264.
Quadro 87 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas na categoria verbo, no 4ª ano de
escolaridade
Frequência
Percentagem
Respostas correctas
229
86,74%
Respostas incorrectas
35
13,26%
Total
264
100%
Através da análise do Quadro 87, observa-se que a percentagem de respostas correctas é bastante
superior à percentagem de respostas incorrectas. No Quadro 88 apresentam-se exemplos de
respostas correctas e incorrectas para cada uma das frases que testam a categoria sintáctica verbo
apresentadas na tarefa.
101
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 88 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria verbo, no 4º ano de escolaridade
Item de Teste
Respostas Correctas
Respostas Incorrectas
O bebé chora quando acorda
O bebé ri quando acorda (sujeito 1)
O bebé bebe leite quando acorda
(sujeito 12)
As crianças dormem à noite
As crianças choram à noite (sujeito 1)
As crianças vão para a cama à noite
(sujeito16)
O meu pai dança
O meu pai canta (sujeito 1)
O meu pai diverte-se (sujeito 3)
O João comprou um boneco
O João ganhou um boneco (sujeito 2)
O João comprou uns ténis (sujeito 55)
A Mariana lê o livro
A Mariana vê o livro (sujeito 1)
A Mariana leu o livro (sujeito 16)
A Sara pintou um desenho
A Sara descreveu um desenho (sujeito
A Sara fez um livro (sujeito 25)
1)
No Quadro seguinte, apresentam-se os resultados relativos ao 4º ano de escolaridade, tendo em
conta a variável extra-linguística género. Relembre-se que existem 21 crianças do género masculino
e 23 do género feminino no 4º ano. Assim, existem 126 respostas correspondentes ao género
masculino e 138 ao género feminino.
Quadro 89 - Frequências e percentagem de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria verbo, no 4º ano de escolaridade
Masculino (N=22)
Frequência
Percentagem
Total
Feminino (N=18)
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
112
14
126
117
21
138
91,06%
11,11%
100%
84,78%
15,22%
100%
É possível observar, no Quadro 89, que a percentagem de respostas correctas dos sujeitos do género
masculino é muito próxima de 100% . Apesar de esta percentagem ser inferior no género feminino,
é, neste género, igualmente superior à percentagem de respostas incorrectas.
Para averiguar a existência de diferenças significativas entre género na pontuação dos itens relativos
à categoria verbo, aplicou-se o teste estatístico Mann-Whitney (Quadro 90)
102
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 90 – Teste Mann-Whitney para a pontuação total das categoria verbo, nº 4º ano de escolaridade
Grupo
Média de
MannWhitney
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
5,09±,95
3,00
6,00
21,20
4º ano
género
feminino
n= 23
U = 211,50
4º ano
p= 0,447
género
masculino
4,00
5,33±,73
6,00
23,93
n= 21
Apesar da diferença apresentada no Quadro 89, as diferenças existentes não são estatisticamente
significativas. È, ainda, possível observar que a média aritmética do género masculino é apenas
ligeiramente superior à média do género feminino, não permitindo assim a identificação de
diferenças entre géneros.
3.1.2.2.1. Respostas correctas
Nesta secção serão apresentadas as respostas correctas dadas pelas crianças do 4º ano de
escolaridade aos itens que testam a categoria verbo. Tal como já foi referido, a percentagem de
respostas correctas é de 86,74% (229/264).
Considerem-se, em primeiro lugar, as respostas aos itens que envolvem verbos intransitivos.
Frase 2 - O bebé chora quando acorda.
Quadro 91 – Respostas correctas para a frase 2, no 4º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Ri
15
sorri
6
Berra
1
grita
9
ri-se
2
espirra
1
Arrota
1
canta
1
Sangra
1
tosse
1
103
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 4 - As crianças dormem à noite.
Quadro 92 - Respostas correctas para a frase 4, no 4º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Brincam
11
sonham
2
Comem
2
descansam
2
Acordam
15
gritam
2
Choram
1
ressonam
1
Conversam
1
adormecem
1
Sossegam
1
riem
2
Frase 7 - O meu pai dança.
Quadro 93 - Respostas correctas para a frase 7, no 4º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Canta
13
cai
2
Trabalha
1
brinca
2
Espirra
1
pula
1
Lê
1
anda
3
Chora
1
come
1
Corre
3
zanga-se
1
Baila
1
sorri
1
Conduz
1
salta
1
Escreve
1
Observando os três Quadros verifica-se que as crianças do 4º ano utilizaram, com grande
frequência, sinónimos (como berra para chora, adormecem para dormem; baila para dança), bem
como antónimos (como ri e sorri para chora) e verbos do mesmo campo semântico (como corre,
brinca, pula e salta para dança).
Na frase 7 recorreram a verbos transitivos que admitem queda do objecto, (Duarte, 2003:310-311),
como beber, ler, comer e escrever.
104
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Pela análise dos Quadros, é também possível identificar uma maior preferência por verbos
inergativos, como sorrir, espirrar, tossir (frase 2), chorar, gritar, rir (frase 4) e trabalhar, correr
(frase 7) , do que por verbos inacusativos como adormecer (frase 4) ou cair (frase 7).
Acrescenta-se, ainda, que ri-se e zanga-se foram cotados correctamente, pelo facto do clítico se ser
um reflexo inerente ao verbo, pelo que a manipulação foi adequada.
Relativamente aos itens que testam verbos transitivos, apresentam-se, de seguida, os resultados.
Frase 9 – O João comprou um boneco.
Quadro 94 - Respostas correctas para a frase 9, no 4º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Viu
1
ganhou
2
Tinha
1
coseu
1
Tem
5
trocou
1
Fez
1
ofereceu
3
Roubou
2
alugou
1
Vendeu
17
pagou
1
Recebeu
2
arranjou
1
Frase 15 – A Mariana lê o livro.
Quadro 95 - Respostas correctas para a frase 15, no 4º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Vê
14
guarda
2
Viu
7
desenha
1
Rasga
1
escreve
1
Fechou
1
comprou
2
Estuda
2
estraga
11
Vende
1
fez
1
Recebeu
1
105
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 17 – A Sara pintou o desenho
Quadro 96 - Respostas correctas para a frase 17, no 4º ano de escolaridade
Itens Correctos
Frequência
Itens Correctos
Frequência
Fez

rasgou

Descreveu

viu

Comprou

tem

Desenhou

arrumou

Deu

decorou

Arranjou

cortou

Apagou

guardou

Riscou


Através da análise das respostas correctas para a substituição de verbos transitivos directos é
possível verificar que a maior parte das crianças utilizou verbos da mesma subclasse para efectuar a
substituição solicitada, apesar de surgirem também verbos ditransitivos, que admitem a omissão do
Objecto Directo, como por exemplo, vender, oferecer, pagar, comprar, dar.
Novamente, o verbo vê (Quadro 95) foi utilizado muito frequentemente para substituir lê, pelos
motivos já mencionados anteriormente, ou seja, por semelhança fonológica com a palavra-alvo.
Salienta-se, ainda, que, relativamente à frase 9, em que a palavra-alvo era uma forma do verbo
comprar, foi utilizado o verbo vender. Na frase 17, o verbo mais utilizado foi desenhar, de que o
Objecto Directo (“um desenho”) é cognato.
3.1.2.2.2. Respostas incorrectas
A percentagem de respostas incorrectas dadas pelas crianças de 4º ano de escolaridade às frases que
testam a categoria verbo foi bastante reduzida (13,26% , ou seja, 35/264).
A. Manipulação do sintagma em vez do núcleo
106
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(i)
Substituição de mais do que uma palavra no sintagma
A frequência de ocorrência deste tipo de erro nas respostas dadas pelas crianças do 4º ano de
escolaridade é baixa, como se constata no Quadro 97.
Quadro 97 - Substituição de mais do que uma palavra no sintagma, para a categoria verbo, no 4º ano de escolaridade
Itens de teste
Itens Incorrectos
Frequência
O João comprou um boneco (frase 9)
O João gostou do boneco
1
A Mariana lê o livro (frase 15)
A Mariana gosta do livro
1
A Sara pintou um desenho (frase 17)
A Sara fez um livro
1
Nas frases 9 e 15, as crianças substituíram o verbo transitivo directo por um verbo de dois lugares
com argumento interno oblíquo (gostar), o que as obrigou a inserir uma preposição (a que introduz
o complemento oblíquo), a fim de manterem a gramaticalidade das frases.
Na frase 17, uma criança substituiu a forma verbal correctamente, já que seleccionou, como
substituto um verbo transitivo directo, mas alterou também o núcleo do SN com a função sintáctica
de Objecto Directo. A manipulação do Objecto Directo é também visível na resposta à frase 9, em
que foi alterado, para além do verbo, o determinante que integra o SN com a função sintáctica
referida.
(ii)
Substituição usando mais do que uma palavra
Entre as crianças de 4º ano de escolaridade, e relativamente à categoria em estudo nesta secção, a
substituição através da utilização de mais do que uma palavra só se verificou nas frases 2, 4 e 7.
Frase 2 – O bebé chora quando acorda.
Quadro 98 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 4º ano de escolaridade – frase 2
Itens Incorrectos
Frequência
Itens Incorrectos
Frequência
O bebé bebe leite quando
1
O bebé está feliz quando
1
acorda
O bebé tem fome quando
acorda
1
O bebé faz uma birra
acorda
107
1
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 4 – As crianças dormem à noite.
Quadro 99 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 4º ano de escolaridade – frase 4
Itens Incorrectos
Frequência
As crianças vão para a cama à noite.
1
Frase 7 – O meu pai dança.
Quadro 100 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria verbo, no 4º ano de escolaridade – frase 7
Itens Incorrectos
Frequência
diverte-se
2
O meu pai joga um jogo
1
O meu pai fica quieto
1
Através da observação dos dados apresentados, é possível constatar que as crianças de 4º ano de
escolaridade recorreram à utilização de verbos que pertencem a uma subclasse distinta da do verbo
dos itens da tarefa, o que as obrigou a alterar mais do que a palvra-alvo. Assim, são utilizados:
(i) verbos transitivos directos com inserção do respectivo Objecto Directo, como se pode
verificar, por exemplo, em O bebé bebe leite quando acorda (frase 2), e O meu pai joga
um jogo (frase 7);
(ii) verbos copulativos com o respectivo Predicativo do Sujeito, como em O bebé está feliz
quando acorda (frase 2);
(iii)
verbos de dois lugares com argumento interno oblíquo, como em As crianças vão para
a cama à noite (frase 4).
(iii)
Omissão de uma expressão dentro do sintagma
Relembre-se, que neste tipo de erro, são incluídas as respostas em que as crianças omitiram uma
expressão dentro do Sv em que se encontra o verbo a substituir. De seguida, apresentam-se as
respostas incorrectas das crianças do 4º ano de escolaridade.
108
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 2 – O bebé chora quando acorda
Quadro 101- Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade – frase 2
Itens Incorrectos
Frequência
O bebé sorri
1
O bebé faz uma birra
1
Frase 4 – As crianças dormem à noite
Quadro 102 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade – frase 4
Itens Incorrectos
Frequência
As crianças brincam
1
As crianças acordam
1
Frase 9 – O João comprou um boneco.
Quadro 103 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade – frase 9
Itens Incorrectos
Frequência
O João vendeu
1
Frase 15 – A Mariana lê o livro.
Quadro 104 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria verbo no 4º ano de escolaridade – frase
15
Itens Incorrectos
Frequência
A Mariana escreve
1
*A Mariana compra
1
chora
1
Nos Quadros apresentados acima, verifica-se que as crianças de 4º ano eliminaram sobretudo os
modificadores do SV nomeadamente, a oração adverbial temporal, na frase 2, e o Sintagma
Preposicional com valor temporal, na frase 4.
109
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Na frase 15, na resposta A Mariana escreve foi utilizado um verbo transitivo directo que admite
queda de objecto o que torna a frase gramatical. Neste caso, a resposta foi cotada como incorrecta
porque a criança, ao fazer a omissão do Objecto Directo, acabou por substituir todo o Sintagma
Verbal e não apenas o verbo, como lhe era solicitado. No entanto, a omissão do complemento do
verbo resultou numa sequência agramatical, na resposta às frases 9, O João vendeu e 15, *A
Mariana compra.
B. Alteração de propriedades sintácticas originando agramaticalidade
Tal como já foi referido, neste tipo de erro são incluídas as respostas em que o verbo substituído
apresenta propriedades de selecção diferentes das do verbo substituto, sendo o resultado final
agramatical. A agramaticalidade das sequências obtidas é o parâmetro que distingue este tipo de
erro dos anteriores.
As respostas dadas pelas crianças do 4º ano que se incluem neste tipo de erro encontram-se listadas
no Quadro 105.
Quadro 105 – Alteração de propriedades sintácticas originando agramaticalidade, para a categoria verbo, no 4º ano de
escolaridade
Itens do teste
O meu pai dança (frase 7)
A Sara pintou um desenho (frase 17)
Itens Incorrectos
Frequência
senta
1
O meu pai limpa
1
O meu pai conta
1
A Sara olhou um desenho
1
Como se verifica no Quadro, só existem respostas incorrectas que apresentam este tipo de erro para
as frases 7 e 17.
No caso da frase 7, as respostas são agramaticais por ausência do Objecto Directo seleccionado
pelos verbos utilizados na manipulação.
110
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Relativamente à frase 17, a Sara olhou um desenho, a marginalidade deve-se ao facto de o verbo
olhar, neste contexto, subcategorizar como argumento interno um SP, com a função gramatical de
Oblíquo22.
C. Inadequação semântica
Nesta categoria de erro, incluem-se as respostas em que na substituição se utilizou outro verbo,
como esperado, embora a sequência final resultante seja anómala do ponto de vista semântico.
Quadro 106 – Inadequação semântica, para a categoria verbo, no 4º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens Incorrectos
Frequência
O meu pai dança (frase 7)
?roda
1
A Sara pintou um desenho (frase 17)
A Sara escreveu um desenho
1
Analisando o Quadro 106, é possível verificar que, no caso da frase 7, a inadequação semântica
advém da violação das restrições de selecção semântica impostas pelo verbo rodar ao argumento
externo, que não pode ser animado. Na frase 17, ocorre também a violação das restrições de
selecção semântica impostas pelo verbo escrever, mas, neste caso, ao argumento interno.
D. Alteração morfológica com preservação da base
Relembre-se que neste tipo de erro são incluídas as respostas em que se procedeu à alteração do
tempo verbal da palavra-alvo, bem como as que exibem erros de conjugação. Tal como 1º ano de
escolaridade, este tipo de erro não é muito frequente nas respostas dos sujeitos do 4º ano, como se
verifica no Quadro 107.
Quadro 107 – Alteração morfológica com preservação da base, para a categoria verbo, no 4º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens Incorrectos
Frequência
O João comprou um boneco (frase 9)
O João compra um boneco
1
A Mariana lê o livro (frase 15)
A Mariana leu o livro
3
*A Mariana reveu o livro
1
A Sara pintará um desenho
1
A Sara pintou um desenho (frase 17)
22
O verbo olhar pode seleccionar um Sintagma Nominal, que é normalmente definido e acompanhado de um modificador
preposicional ou adverbial que designa o modo. Ex: O João olhou o firmamento (com atenção).
111
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Em todos os itens apresentados no Quadro, existe alteração do tempo verbal: na frase 9, utiliza-se o
pretérito perfeito em vez do presente, ocorrendo o inverso na frase 15; na frase 17, a forma verbal
substituta encontra-se no futuro e não no presente, como no item do teste.
Note-se, ainda, que, na segunda resposta à frase 15, a forma do verbo rever é incorrecta, tendo a
criança conjugado o verbo irregular, como um verbo regular.
E. Identificação incorrecta da palavra a substituir
Este tipo de erro surge apenas em uma resposta à frase 9, O João comprou um boneco. Neste caso,
a criança produz a frase O João comprou uns ténis, na qual substitui o Objecto Directo, um boneco,
e não o verbo, como era pedido.
F. Ausência de resposta
Como se pode verificar no Quadro 108, as crianças de 4º ano de escolaridade não tiveram
dificuldade em dar algum tipo de resposta aos itens da tarefa que testam a categoria verbo. Apenas
duas crianças, diferentes, não conseguiram efectuar qualquer substituição, nas frases 7 e 9.
Quadro 108 – Ausência de resposta, para a categoria verbo, no 4º ano de escolaridade
Itens do teste
Frequência
O meu pai dança (frase 7)
1
O João comprou um boneco (frase
1
9)
3.1.2.3.
Síntese comparada dos Resultados
No que diz respeito à categoria sintáctica verbo, se compararmos os resultados das crianças do 1º
ano com os das crianças do 4º ano de escolaridade, é possível concluir que:
a) As crianças do 1º ano apresentam uma percentagem de respostas correctas de 64%
contra os 87% das crianças do 4º ano.
b) No 1º ano, existem diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas,
sendo que as raparigas têm uma média de respostas correctas mais elevada. No 4º ano,
não existem diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas. Contudo,
112
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
ao contrário do que acontece no 1º ano, os rapazes apresentam uma média de respostas
ligeiramente superior à das raparigas.
c) No geral, as crianças de 4º ano apresentam maior variedade
lexical nas respostas
correctas.
d) No 1º ano, dez crianças não deram qualquer tipo de resposta a cinco itens do teste,
enquanto apenas duas crianças do 4º ano não foram capazes de responder a dois itens.
e) Nas respostas das crianças do 1º ano, os tipos de erros encontrados foram, por ordem
decrescente de frequência:
(i) Substituição usando mais do que uma palavra;
(ii) Omissão de uma expressão dentro do sintagma;
(iii) Alteração morfológica com preservação da base:
(iv) Transformação de frase afirmativa na negativa;
(v) Alteração de propriedades sintácticas, originando agramaticalidade; Identificação
incorrecta da palavra a substituir;
(vi) Substituição de mais do que uma palavra na frase; Inadequação semântica;
(vii)
Construção de uma frase nova;
(viii) Alteração de género e/ou número.
f) Nas respostas das crianças do 4º ano, os tipos de erros encontrados foram, por ordem
decrescente de frequência:
(i) Substituição usando mais do que uma palavra;
(ii) Omissão de uma expressão dentro do sintagma;
(iii)Alteração morfológica com preservação da base;
(iv) Alteração de propriedades sintácticas, originando agramaticalidade;
(v) Substituição de mais do que uma palavra no sintagma; inadequação semântica;
(vi) Identificação incorrecta da palavra a substituir.
113
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.3. Adjectivo
Para testar a classe sintáctica dos adjectivos, utilizaram-se itens desta categoria em Sintagmas
Adjectivais simples, ou seja, constituídos apenas pelo núcleo, com função predicativa (cf. exemplos
25a-c) e com função atributiva (cf. exemplos 26a-c). Em ambos os casos, o adjectivo ocupa a
posição final da frase, tal como já foi referido na secção 2.3.
(25) Itens utilizados para testar a categoria adjectivo em SAs com função predicativa
i.
O menino está zangado. (frase 3)
ii.
Os cães são muito espertos. (frase 6)
iii.
Aquela ponte é muito perigosa. (frase 10)
(26) Itens utilizados para testar a categoria adjectivo em SAs com função atributiva
a) O Noddy tem um barrete engraçado. (frase 12)
b) Eu tenho um gato peludo. (frase 14)
c) A mãe comprou uma saia rasgada. (frase 18)
3.1.3.1.
1º ano de escolaridade
Nesta secção, apresentam-se os resultados relativos à substituição de itens lexicais da categoria
sintáctica adjectivo pelas crianças de 1º ano de escolaridade. Recorde-se que existem 40 sujeitos
neste ano de escolaridade, pelo que a totalidade de respostas para esta categoria é de 240.
Quadro 109 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas na categoria adjectivo, no 1º ano de
escolaridade
Frequência
Percentagem
Respostas correctas
173
72,08%
Respostas incorrectas
67
27,92%
Total
240
100%
Através da análise do Quadro 109, observa-se que, relativamente à categoria adjectivo, existe,
globalmente, uma maior percentagem de repostas correctas do que de respostas incorrectas. No
114
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 110, apresentam-se exemplos de respostas correctas e incorrectas aos itens que envolvem
adjectivos dadas por sujeitos do 1º ano de escolaridade.
Quadro 110 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade
Item de Teste
Respostas Correctas
Respostas Incorrectas
O menino está zangado
O menino está feliz (sujeito 4)
O menino está a dormir (sujeito 36)
Os cães são muito espertos
Os cães são muito burros (sujeito 2)
O cão é burro (sujeito 47)
Aquela ponte é muito perigosa
Aquela ponte é muito alta (sujeito 2)
Aquela
ponte
é
muito
cuidadosa
(sujeito 41)
O
Noddy
tem
um
barrete
O Noddy tem um barrete amarelo
O Noddy tem um barrete engraçadinho
engraçado
(sujeito 2)
(sujeito 36)
Eu tenho um gato peludo
Eu tenho um gato macio (sujeito 33)
Eu tenho um gato com muito pêlo
(sujeito 2)
A mãe comprou uma saia rasgada
A mãe comprou uma saia bonita
A mãe comprou uma saia (sujeito 47)
(sujeito 2)
Considerem-se, de seguida, os resultados relativos ao 1º ano de escolaridade tendo em conta a
variável extra-linguística género – Quadro 111. Relembre-se que existem 22 crianças do género
masculino e 18 do género feminino no 1º ano. Assim, existem 132 respostas de rapazes e 108 de
raparigas.
Quadro 111 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade
Masculino (N=22)
Frequência
Percentagem
Total
Feminino (N=18)
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
88
44
132
85
23
108
66,67%
33,33%
100%
78,70%
21,30%
100%
Observando o Quadro 111, verifica-se que, globalmente, a percentagem de respostas correctas é
superior à percentagem de respostas incorrectas em ambos os géneros. Salienta-se que a
percentagem de respostas correctas é ligeiramente superior no género feminino.
115
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Para averiguar a existência de diferenças e respectiva significância, entre género na pontuação dos
itens que testam a categoria adjectivo, aplicou-se o teste estatístico Mann-Whitney (Quadro 112)
Quadro 112 - Teste Mann-Whitney para a pontuação total da categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade
Grupo
Média de
MannWhitney
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
4,72±1,23
2,00
6,00
23,78
1º ano
género
feminino
n = 18
U = 139,00
1º ano
p = 0,095
género
4,00±1,38
1,00
6,00
17,82
masculino
n= 22
Tendo em conta os dados apresentados no Quadro 112, não existem diferenças significativas entre
géneros, estando as médias aritméticas muito próximas, apesar de a média do género feminino ser
ligeiramente superior à média do género masculino.
3.1.3.1.1. Respostas correctas
Como já foi referido anteriormente, a percentagem de respostas correctas dadas pelas crianças de 1º
ano de escolaridade aos itens que testam a categoria adjectivo é de 72,08% (173/240). Nesta secção,
apresentam-se as respostas consideradas correctas no que diz respeito à categoria em questão.
Considerem-se, em primeiro lugar, os itens que testam adjectivos integrados em SAs com função
predicativa.
Frase 3 – O menino está zangado.
Quadro 113 – Respostas correctas para a frase 3, no 1º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
feliz
29
contente
4
triste
1
alegre
1
116
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 6 – Os cães são muito espertos.
Quadro 114 - Respostas correctas para a frase 6, no 1º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
Burros
8
amigos
1
Maus
4
malandros
1
Feios
1
idiotas
1
Refilões
1
tímidos
1
Malucos
2
bonitos
1
Brincalhões
1
engraçados
1
Lindos
1
pequeninos
1
Inteligentes
3
parecidos
1
Giros
1
Frase 10 – Aquela ponte é muito perigosa.
Quadro 115 - Respostas correctas para a frase 10, no 1º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
Alta
3
engraçada
1
Boa
2
sossegada
1
Segura
8
gira
1
Bonita
4
escorregadia
1
Grande
3
feia
1
Direita
1
Através da análise dos dados apresentados nos Quadros, é possível constatar uma preferência nas
respostas por expressões antónimas. Assim, na frase 3, o adjectivo mais utilizado para substituir
zangado foi feliz, com um grande número de ocorrências, o mesmo acontecendo na frase 6, em que,
a palavra com maior número de ocorrências (burros) é antónimo da palavra-alvo (espertos) e, na
frase 10, em que o adjectivo mais utilizado para substituir perigosa foi segura.
117
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
De seguida, apresentam-se os resultados relativos aos itens que testam adjectivos integrados em
SAs com função atributiva.
Frase 12 – O Noddy tem um barrete engraçado.
Quadro 116 - Respostas correctas para a frase 12, no 1º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
Amarelo
1
bonito
3
Feio
2
vermelho
2
Estúpido
1
triste
2
Azul
8
giro
6
Frase 14 – Eu tenho um gato peludo.
Quadro 117 - Respostas correctas para a frase 14, no 1º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
Macio
4
sujo
1
Fofinho
3
giro
3
Careca
1
fofo
1
Amarelo
1
limpo
1
Bonito
4
morto
1
Frase 18 – A mãe comprou uma saia rasgada.
Quadro 118 - Respostas correctas para a frase 18, no 1º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
Bonita
12
engraçada
1
Nova
7
cosida
2
Lisa
2
vermelha
1
Linda
1
limpa
1
Pintada
1
boa
1
Molhada
1
limpinha
1
novinha em folha
1
branca
1
Gira
1
118
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
O Quadro 116 mostra que, na frase 12, azul foi o adjectivo mais utilizado pelas crianças de 1º ano
de escolaridade para substituir engraçado, o que advém do conhecimento das características da
personagem. Surgem, também, as cores vermelho e amarelo, apesar de com menor frequência; o
adjectivo giro (sinónimo da palavra-alvo) foi igualmente muito utilizado. Nas frases 14 e 16 existe
uma grande variedade de respostas, existindo, na frase 16, preferência pelo adjectivo bonita para
substituir rasgada.
3.1.3.1.2. Respostas incorrectas
As crianças do 1º ano de escolaridade deram cerca de 28% de respostas incorrectas, o que perfaz
um total de 67 ocorrências em 240.
A. Manipulação do sintagma em vez do núcleo
(i)
Substituição de mais do que uma palavra do sintagma
Neste tipo de erro, inclui-se apenas uma resposta incorrecta dada pelas crianças de 1º ano de
escolaridade. Com efeito, apenas uma criança deu como resposta à frase 6, Os cães são muito
espertos, a sequência O cão é burro. Nesta resposta, a criança substituiu todo o SA muito espertos
por um outro, que contém apenas o núcleo. Assim, não está a identificar apenas a categoria
sintáctica que tem de substituir, mas o sintagma de que essa categoria é núcleo.
(ii)
Substituição usando mais do que uma palavra
Recorde-se que, na substituição usando mais do que uma palavra, contabilizaram-se todos os casos
em que as crianças substituem não só a palavra pedida, mas também outras expressões dentro da
frase ou do sintagma de que a categoria sintáctica a identificar é núcleo.
Apresentam-se, inicialmente, os resultados dos itens que testam adjectivos em SAs com função
predicativa.
Frase 3 – O menino está zangado.
Quadro 119 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade –
frase 3
Itens incorrectos
Frequência
a dormir
2
a rir
1
119
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Frase 6 – Os cães são muito espertos.
Quadro 120 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade –
frase 6
Itens incorrectos
Frequência
Os cães não são muito espertos.
1
Frase 10 – Aquela ponte é muito perigosa.
Quadro 121 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade –
frase 10
Itens incorrectos
Frequência
Aquela ponte não é perigosa
2
Aquela ponte não é muito perigosa
1
Aquela ponte é bem feita
1
Relativamente à frase 3, as crianças reinterpretaram o verbo copulativo estar como verbo auxiliar, o
que leva a alterar a categoria do complemento. Assim, ao invés de manterem a categoria adjectival
do Predicativo do Sujeito do verbo da frase da tarefa, usaram um complemento verbal, introduzido
por a, como é próprio do verbo auxiliar estar.
Na frase 2, as crianças optaram essencialmente pela inserção do operador de negação.
Seguem-se as respostas incorrectas deste tipo de erro, para os itens utilizados para testar adjectivos
em SAs com função atributiva.
Frase 12 – O Noddy tem um barrete engraçado.
Quadro 122 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade –
frase 12
Itens incorrectos
Frequência
O Noddy tem um barrete com um
1
sino
O Noddy tem um barrete na cabeça
1
O Noddy tem um barrete que não é
1
engraçado
120
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
para rir
1
Frase 14 – Eu tenho um gato peludo.
Quadro 123 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade –
frase 14
Itens incorrectos
Frequência
Itens incorrectos
Frequência
Eu tenho um gato com
1
Eu tenho um gato muito
1
muito pêlo
esperto
Eu tenho um gato às riscas
2
Eu tenho um gato que ri
1
Eu tenho um gato com pêlo
1
Eu tenho um gato que é
1
giro
Eu tenho um gato muito
1
sem pêlo
2
1
muito brincalhão
1
liso
Eu tenho um gato quase
sem pêlos
Eu tenho um gato que não
1
é peludo
Frase 18 – A mãe comprou uma saia rasgada
Quadro 124 - Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade –
frase 18
Itens incorrectos
Frequência
*A mãe comprou uma saia sem rasgar
1
A mãe comprou uma saia de ganga
1
A mãe comprou uma saia que não
1
estava rasgada
Como se pode observar no Quadro 123, existe uma grande variedade de respostas à frase 14.
Algumas crianças efectuaram a substituição do SA por modificadores de outras categorias,
nomeadamente, SPs (Eu tenho um gato com muito pêlo, Eu tenho um gato às riscas, por exemplo) e
frases relativas (Eu tenho um gato que ri, Eu tenho um gato que é giro). Existe também substituição
121
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
por modificadores da mesma categoria, mas em que se altera o grau do adjectivo por inserção do
advérbio muito.
A frase 18 apresenta menor variedade de respostas, ainda que as estratégias de substituição
utilizadas sejam semelhantes às que se encontraram relativamente à frase 14. Assim, o SA é
substituído em dois casos por um SP (*A mãe comprou uma saia sem rasgar e A mãe comprou uma
saia de ganga) e em um caso por uma frase relativa (A mãe comprou uma saia que não estava
rasgada).
(iii)
Omissão de uma expressão dentro do sintagma
Apresentam-se, de seguida, as respostas que se inserem neste tipo de erro.
Frase 6 – Os cães são muito espertos
Quadro 125 – Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade –
frase 6
Itens incorrectos
Frequência
O cão é burro
1
Os cães são maus
1
Os cães são inteligentes
1
Os cães são vadios
1
Frase 10 – Aquela ponte é muito perigosa
Quadro 126 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade –
frase 10
Itens incorrectos
Frequência
Aquela ponte é nova
1
Aquela ponte não é perigosa
2
Aquela ponte é gira
1
Aquela ponte atravessa
1
Frases 12 - O Noddy tem um barrete engraçado.
122
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 127 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade –
frase 12
Itens incorrectos
Frequência
tem um guizo
1
Frase 14 – Eu tenho um gato peludo.
Quadro 128 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade –
frase 14
Itens incorrectos
Frequência
Eu tenho um gato
3
Frase 18 – A mãe comprou uma saia rasgada.
Quadro 129 - Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo, no 1º ano de escolaridade –
frase 18
Itens incorrectos
Frequência
A mãe comprou uma saia
1
Como se pode observar nos Quadros 125 a 129, em todos os casos em que se registou a omissão de
uma expressão não foram produzidas sequências agramaticais. De facto, as crianças omitiram
apenas material lexical que não é crucial na predicação, como o advérbio muito (frase 10) ou o
próprio adjectivo a testar (como Eu tenho um gato, como resposta à frase 14).
A frase Aquela ponte atravessa, foi contabilizada neste tipo de erro, visto que, o sintagma verbal
constituído por três palavras foi reduzido a uma única palavra.
123
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
B. Transformação de frase afirmativa em negativa
As respostas que se incluem neste tipo de erro têm uma frequência muito baixa, como se pode
confirmar através do Quadro 130.
Quadro 130 – Transformação de frase afirmativa em negativa, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
Os cães são muito espertos (frase 6)
Os cães não são muito espertos
1
Aquela ponte é muito perigosa (frase
Aquela ponte não é perigosa
2
10)
Aquela ponte não é muito perigosa
1
O Noddy tem um barrete engraçado
O Noddy tem um barrete que não é
1
(frase 12)
engraçado
Eu tenho um gato peludo (frase 14)
Eu tenho um gato que não é peludo
1
A mãe comprou uma saia rasgada
A mãe comprou uma saia que não
1
(frase 18)
estava rasgada
Dos dados apresentados neste Quadro, salienta-se que, nas frases 12, 14 e 18, as crianças
introduzem uma oração relativa como substituta do SA que contém o adjectivo a testar, sendo o
operador de negação inserido nesta oração e não na matriz.
C. Inadequação semântica
No Quadro 131 apresentam-se as respostas incorrectas que se incluem neste tipo de erro.
Quadro 131 – Inadequação semântica, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
Os cães são muito espertos (frase 6)
Os cães são muito contentes
1
Aquela ponte é muito perigosa (frase
cuidadosa
1
O Noddy tem um barrete feliz
2
10)
O Noddy tem um barrete engraçado
124
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(frase 12)
Eu tenho um gato peludo (frase 14)
O Noddy tem um barrete partido
1
Eu tenho um gato fino
1
Eu tenho um gato cortado
1
Eu tenho um gato coitado
1
A frase 6 insere-se neste tipo de erro devido à co-ocorrência de um adjectivo que exprime uma
propriedade temporária (contente) com o verbo ser, que se associa a predicadores que denotam
propriedades permanentes, e não com o verbo estar. Nas restantes frases, verifica-se uma
incompatibilidade semântica entre o adjectivo e a expressão nominal sobre a qual predica (como
cuidadosa, na frase 10) ou à qual atribui uma propriedade (como um barrete feliz, na frase 12).
D. Alteração de Género e/ou Número
Apenas uma criança de 1º ano de escolaridade produziu uma resposta incorrecta que se insere neste
tipo de erro: O cão é burro (para Os cães são muito espertos, frase 6). Como se pode observar, a
criança procedeu a todas as alterações necessárias: dado que o adjectivo seleccionado é núcleo do
Predicativo do Sujeito, ao alterar os seus traços de número, alterou também o número do Sujeito e,
consequentemente, do verbo.
E. Alteração morfológica com preservação da base
Existe apenas uma resposta que se enquadra neste tipo de erro, sendo que, na frase 12, O Noddy tem
um barrete engraçado, uma criança respondeu engraçadinho, utilizando, assim, o diminutivo da
forma a substituir.
F. Identificação incorrecta da palavra a substituir
Nas respostas dadas pelas crianças de 1º ano de escolaridade, regista-se apenas uma frase em que
ocorreu este tipo de erro: a frase 12, O Noddy tem um barrete engraçado. No Quadro 132
apresentam-se as respostas respectivas.
Quadro 132 – Identificação incorrecta da palavra a substituir, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade –
frase 12.
Itens Incorrectos
Frequência
O Noddy tem um guizo engraçado
1
125
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
O
Noddy
tem
um
chapéu
1
engraçado
tem um guizo
1
Como se pode observar no Quadro 132, nas duas primeiras frases as crianças substituem o nome
modificado pelo SA que contém o adjectivo que está a ser testado; na última resposta, a criança
substitui o nome e omite o SA.
G. Construção de uma frase nova
Como se pode constatar no Quadro 133, este tipo de erro aconteceu em apenas duas frases.
Quadro 133 – Construção de uma frase nova, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
Aquela ponte é muito perigosa (frase
*Nunca a ponte parte
1
10)
Aquela ponte está a abanar
1
Eu tenho um gato peludo (frase 14)
O gato é bonito
1
Em ambos os casos, recupera-se material lexical do item de teste (no caso da frase 10, o Sujeito; no
caso da frase 14, o nome que é núcleo do Objecto Directo), mas altera-se o predicador, construindose uma frase sem qualquer relação sintáctica ou semântica com a frase original. Relembre-se, de
novo, que a tarefa de manipulação aplicada não permitia a alteração da estrutura sintáctica do item
do teste.
H. Uso de palavras não existentes no Português Europeu
A única resposta que se inclui neste tipo de erro foi produzida em resposta à substituição pedida na
frase 18, A mãe comprou uma saia rasgada, a que uma criança respondeu limpada. Note-se que
esta forma é próxima da forma regular do particípio passado (limpado), que, no entanto, não existe
enquanto forma adjectival.
Este tipo de erro ocorreu apenas na parte da tarefa em que se testam os adjectivos.
I. Ausência de resposta
126
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Apresentam-se, de seguida, as frases que testam a categoria adjectivo para as quais não houve
qualquer resposta. Indica-se, ainda, a frequência de ocorrência deste tipo de erro nas respostas das
crianças do 1º ano de escolaridade.
Quadro 134 – Ausência de resposta, para a categoria adjectivo no 1º ano de escolaridade
Itens do teste
Frequência
O menino está zangado (frase 3)
2
Os cães são muito espertos (frase 6)
1
Aquela ponte é muito perigosa (frase 10)
4
O Noddy tem um barrete engraçado (frase
4
12)
A mãe comprou uma saia rasgada (frase
1
18)
Como se pode verificar, apenas a frase 14 não está representada neste Quadro, visto que todas as
crianças de 1º ano de escolaridade conseguiram efectuar a substituição, correcta ou incorrecta, do
adjectivo peludo, tarefa que lhes era solicitada nessa frase. As frases 10 e 12 apresentam o mesmo
número de ausências de resposta (4), seguidas da frase 3 (2) e, finalmente, as frases 6 e 18
apresentam apenas uma ocorrência de ausência de resposta.
3.1.3.2. 4º ano de escolaridade
Nesta secção, apresentam-se os resultados relativos à substituição da categoria sintáctica adjectivo
pelas crianças do 4º ano de escolaridade.
No Quadro 135, apresentam-se os resultados globais das crianças de 4º ano relativos às respostas
aos itens que testam a categoria adjectivo. Recorde-se que existem 44 sujeitos neste ano de
escolaridade e, como tal, a totalidade de respostas para esta categoria é de 264.
Quadro 135 – Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas na categoria adjectivo, no 4ª ano de
escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Percentagem
240
90,91%
127
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Respostas incorrectas
24
9,09%
Total
264
100%
Através da análise do Quadro 135., observa-se que a percentagem de respostas correctas está muito
próxima dos 100%, registando-se apenas 24 respostas incorrectas (9,09%) aos itens que envolvem a
substituição de adjectivos.
No Quadro 136, apresentam-se exemplos de respostas correctas e incorrectas para cada uma das
frases que testam a categoria sintáctica adjectivo.
Quadro 136 - Exemplos de respostas correctas e incorrectas da categoria adjectivo, no 4º ano de escolaridade
Item do Teste
Respostas Correctas
Respostas Incorrectas
O menino está zangado
O menino está contente (sujeito 1)
Os cães são muito espertos
Os cães são muito burros (sujeito 1)
_________
O cães não são muito espertos (sujeito
31)
Aquela ponte é muito perigosa
Aquela ponte é muito segura (sujeito
Aquela ponte é muito boa para passar
1)
(sujeito 20)
O Noddy tem um barrete estúpido
O Noddy tem um barrete tonto (sujeito
engraçado
(sujeito 1)
5)
Eu tenho um gato peludo
Eu tenho um gato gordo (sujeito 3)
Eu tenho um gato com pouco pêlo
O
Noddy
tem
um
barrete
(sujeito 1)
A mãe comprou uma saia rasgada
A mãe comprou uma saia inteira
A mãe comprou uma saia com tecido
(sujeito 1)
(sujeito 23)
É importante realçar que, relativamente à primeira frase do Quadro 136, não existe nenhum
exemplo de resposta incorrecta, o que significa que todas as crianças do 4ª ano de escolaridade
foram capazes de efectuar correctamente a substituição do adjectivo zangado, núcleo de um SA
com função predicativa.
No Quadro que se segue, são apresentados os resultados relativos ao 4º ano de escolaridade tendo
em conta a variável extra-linguística género. Recorde-se que no 4º ano, existem 21 crianças do
128
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
género masculino e 23 do género feminino. Assim, foram dadas 126 respostas por sujeitos do
género masculino e 138 por sujeitos do género feminino.
Quadro 137 - Frequências e percentagens de respostas correctas e incorrectas, por género, aos itens que testam a
categoria adjectivo, no 4º ano de escolaridade
Masculino (N=22)
Total
Feminino (N=18)
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
114
12
126
126
12
138
90,48%
9,52%
100%
91,30%
8,70%
100%
Frequência
Percentagem
É possível observar no Quadro 137 que a percentagem de respostas correctas em ambos os géneros
é muito similar e bastante próxima de 100% .
Com o objectivo de averiguar a existência de diferenças significativas entre géneros, na pontuação
dos itens relativos à categoria adjectivo, aplicou-se o teste estatístico Mann-Whitney (Quadro 138)
Quadro 138 – Teste Mann-Whitney para a pontuação total da categoria adjectivo, no 4º ano de escolaridade
Grupo
Média de
MannWhitney
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
5,48±,85
3,00
6,00
22,93
4º ano
género
feminino
n= 23
U = 231,50
4º ano
p = 0,784
género
masculino
5,43±,81
4,00
6,00
22,02
n= 21
Através da análise do Quadro acima, conclui-se que não existem diferenças significativas entre
géneros, o que está de acordo com os resultados apresentados no Quadro 137 visto que a diferença
de percentagens entre os grupos era mínima.
3.1.3.2.1. Respostas correctas
129
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Como referido anteriormente, a percentagem de respostas correctas, para a categoria adjectivo,
dadas pelas crianças do 4º ano de escolaridade é de 90,91% (240/264). Nesta secção, apresentam-se
todas as respostas consideradas correctas, para cada frase que testa a categoria em análise.
Considerem-se, em primeiro lugar, os itens que integram adjectivos em SAs predicativos.
Frase 3 – O menino está zangado.
Quadro 139 – Respostas correctas para a frase 3, no 4º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
contente
11
alegre
4
furioso
2
rabugento
1
feliz
17
aborrecido
1
triste
4
normal
1
chateado
2
sozinho
1
Frase 6 – Os cães são muito espertos.
Quadro 140 - Respostas correctas para a frase 6, no 4º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
burros
20
simpáticos
1
inteligentes
15
grandes
1
perigosos
1
amigos
1
engraçados
1
Frase 10 – Aquela ponte é muito perigosa.
Quadro 141 - Respostas correctas para a frase 10, no 4º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
alta
8
baixa
1
assustadora
3
estreita
2
segura
17
gira
1
estranha
1
linda
1
130
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
grande
4
Através da observação dos Quadros, constata-se, novamente, uma preferência por expressões
sinónimas e antónimas. Assim, na frase 3, os adjectivos mais utilizados para substituir zangado
foram feliz, contente, alegre (antónimo) e triste. Na frase 6, em que o item-alvo é esperto, as
palavras com maior número de ocorrências são burros e inteligente, revelando a escolha do
antónimo e do sinónimo, respectivamente, para efectuar a substituição solicitada. Finalmente, o
mesmo acontece na frase 10 em que o adjectivo mais utilizado para substituir perigosa foi segura
(antónimo).
Seguidamente, apresentam-se as respostas correctas para os itens que integram adjectivos em SAs
atributivos.
Frase 12 – O Noddy tem um barrete engraçado.
Quadro 142 - Respostas correctas para a frase 12, no 4º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
estúpido
3
divertido
2
feio
12
estragado
1
giro
3
peludo
1
espectacular
1
alegre
1
triste
5
barulhento
1
foleiro
2
sujo
1
vermelho
2
grande
1
estranho
2
perigoso
1
bonito
1
Frase 14 – Eu tenho um gato peludo.
Quadro 143 - Respostas correctas para a frase 14, no 4º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
gordo
2
liso
1
careca
5
manso
1
giro
2
engraçado
2
131
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
fofinho
3
pequeno
1
macio
5
desinfectado
1
Feio
3
meigo
1
branco
1
lindo
1
Fofo
2
maluco
1
preto
2
grande
1
alegre
1
Frase 18 – A mãe comprou uma saia rasgada.
Quadro 144 - Respostas correctas para a frase 18, no 4º ano de escolaridade
Respostas correctas
Frequência
Respostas correctas
Frequência
inteira
2
linda
2
bonita
10
limpa
3
amarela
1
cortada
1
boa
2
nova
3
cosida
4
suja
1
curta
3
rota
1
dourada
1
cor-de-rosa
1
curtinha
1
pintada
1
perfeita
1
pequenina
1
descosida
1
Os Quadros 142 a 144, demonstram uma grande variedade lexical nas respostas a estes itens. Na
frase 12, o adjectivo mais utilizado pelas crianças de 4º ano de escolaridade foi feio o que pode
denotar já algum desinteresse pela personagem, visto que já são crianças mais velhas.
Adicionalmente, verifica-se, de novo, uma escolha orientada pelas relações semânticas entre
palavras, uma vez que, quer na frase 12 quer na frase 14, as palavras que ocorrem com maior
frequência são feio e careca, respectivamente, antónimos de engraçado e peludo, que eram os
adjectivos das frases da tarefa. A relação de sinonímia é também evidente. Vejam-se, por exemplo,
as substituições do adjectivo engraçado, da frase 12, por giro, espectacular ou bonito.
Na frase 18 existe também, uma grande variedade de respostas, verificando-se, tal como no 1º ano
de escolaridade, na frase 16, uma preferência pelo adjectivo bonita para substituir rasgada, termos
que podem ser entendidos quase como antónimos.
132
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.3.2.2. Respostas incorrectas
Tal como já foi referido, no início da secção sobre os resultados relativos à categoria adjectivo, no
4º ano, só não existe nenhuma resposta incorrecta para a frase 3, O menino está zangado.
A. Manipulação do sintagma em vez do núcleo
(i)
Substituição de mais do que uma palavra no sintagma
Entre os sujeitos do 4º ano de escolaridade, existe apenas uma resposta que se inclui neste tipo de
erro. Assim, na resposta à substituição pedida na frase Aquela ponte é muito perigosa (frase 10),
uma criança produziu A ponte é assustadora, tendo alterado não só o adjectivo, como solicitado na
tarefa, mas também o determinante que ocorre no SN com função de sujeito.
(ii)
Substituição usando mais do que uma palavra
As respostas incorrectas das crianças de 4º ano de escolaridade que se incluem neste tipo de erro são
apresentadas no Quadro 145.
Quadro 145 – Substituição usando mais do que uma palavra, para a categoria adjectivo, no 4º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
Aquela ponte é muito perigosa (frase
Aquela ponte é muito boa para
1
10)
passar
O Noddy tem um barrete engraçado
O Noddy tem um barrete com um
(frase 12)
guizo
Eu tenho um gato peludo (frase 14)
A mãe comprou uma saia rasgada
1
Eu tenho um gato com muitos pêlos
1
Eu tenho um gato com pêlo curto
1
sem pêlo
1
com pouco pêlo
1
A mãe comprou uma saia com tecido
1
A mãe comprou uma saia às cores
1
(frase 18)
133
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Na primeira resposta do Quadro, constata-se que a totalidade das crianças não substitui o adjectivo
por outro adjectivo, tendo, antes, manipulado todo o SA, que desempenha a função sintáctica de
Modificador, por outros constituintes sintagmáticos com a mesma função mas de categoria
diferente:
(i)
SPs nas frases 12 (com um guizo), 14 (com muitos pêlos, com pêlo curto, sem pêlo, com
pouco pêlo) e 18 (com tecido, às cores);
(ii)
oração subordinada adverbial final, na frase 10 (para passar).
As crianças de 4º ano de escolaridade não recorreram a frases relativas nem à alteração do grau do
adjectivo.
(iii)
Omissão de uma expressão dentro do sintagma
Este tipo de erro ocorreu apenas em duas frases e as respostas são apresentadas no Quadro 146.
Quadro 146 – Omissão de uma expressão dentro do sintagma, para a categoria adjectivo, no 4º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
Os cães são muito espertos (frase 6)
Os cães são inteligentes
1
Aquela ponte é muito perigosa (frase
Aquela ponte é segura
1
10)
A ponte é assustadora
1
Como é possível observar no Quadro 146, em ambas as frases as crianças omitiram o advérbio
muito, alterando, assim, o grau do adjectivo.
B. Transformação de frase afirmativa em negativa
Existe apenas uma resposta que exibe este tipo de erro: à frase Os cães são muito espertos uma
criança respondeu Os cães não são muito espertos.
C. Inadequação semântica
No quadro seguinte, apresentam-se as respostas que se inserem neste tipo de erro, por
incompatibilidade semântica entre o adjectivo e a expressão nominal sobre o qual predica ou à qual
atribui uma propriedade.
134
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 147 – Inadequação semântica, para a categoria adjectivo no 4º ano de escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Frequência
Aquela ponte é muito perigosa (frase
Aquela ponte é muito vaidosa
1
10)
sensível
1
O Noddy tem um barrete engraçado
O Noddy tem um barrete tonto
1
(frase 12)
O Noddy tem um barrete feliz
1
Eu tenho um gato peludo (frase 14)
Eu tenho um gato enferrujado
1
curto
1
As respostas às frases 10 e 12 foram consideradas incorrectas por serem utilizados adjectivos que se
aplicam a entidades com o traço [+ humano], apenas, verificando-se, portanto, uma violação das
propriedades lexicais do adjectivo.
O mesmo acontece relativamente à frase 14, já que nas respostas apresentadas, os adjectivos
utilizados, integrados em SAs com função atributiva, não correspondem a uma opção correcta, visto
que não são semanticamente adequados à expressão nominal que se encontram a modificar.
D. Alteração de género e/ou número
Na frase Aquela ponte é muito perigosa registou-se uma resposta que se insere neste tipo de erro.
Neste caso, a criança manteve o adjectivo, alterando apenas o género, o que origina uma sequência
agramatical, *Aquela ponte é muito perigoso. Note-se que, sendo o adjectivo o núcleo do
Predicativo do Sujeito, tem de concordar, em género e em número, com o Sujeito (feminino,
singular, no caso em apreço).
E. Uso de palavras não existentes no Português Europeu
135
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Como se pode verificar pelo Quadro 148, a construção de neologismos é pouco frequente, so se
verificando nos casos em que se testam adjectivos.
Quadro 148 – Uso de palavras não existentes no Português Europeu, para a categoria adjectivo no 4º ano de
escolaridade
Itens do teste
Itens incorrectos
Eu tenho um gato peludo (frase 14)
A mãe comprou uma saia rasgada
Frequência
Eu tenho um gato fafarrudo
1
Eu tenho um gato depelado
1
A mãe comprou uma saia desrasgada
1
(frase 18)
F. Ausência de resposta
Observando o Quadro 149, é possível verificar que apenas duas crianças de 4º ano de escolaridade
não deram qualquer tipo de resposta às substituições pedidas nas frases 12 e 18.
Quadro 149 – Ausência de resposta, para a categoria adjectivo, no 4º ano de escolaridade
Itens do teste
Frequência
O Noddy tem um barrete engraçado (frase 12)
1
A mãe comprou uma saia rasgada (frase 18)
1
3.1.3.3. Síntese comparada dos Resultados
No que diz respeito à categoria adjectivo, a comparação entre os resultados das crianças do 1º
ano e os das crianças do 4º ano de escolaridade permite concluir que:
a) As crianças de 4º ano apresentam cerca de 90% de respostas correctas, enquanto o valor
para o mesmo tipo de resposta por parte das crianças de 1º ano corresponde a cerca de
70%.
136
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
b) Não existem diferenças significativas entre géneros na pontuação total dos itens que
envolvem adjectivos, no 1º e no 4º anos de escolaridade; porém, as raparigas apresentam
uma média de respostas correctas ligeiramente superior à dos rapazes, nos dois anos.
c) No geral, para os adjectivos, as crianças do 4º ano de escolaridade apresentaram maior
variedade de respostas; contudo, as crianças do 1º ano deram um maior número de
respostas diferentes às frases 6 e 10.
d) No 1º ano, doze crianças não deram qualquer tipo de resposta, a cinco dos itens do teste;
no 4º ano, apenas duas crianças não foram capazes de responder às substituições pedidas,
em dois dos itens do teste.
e) Nas respostas das crianças de 1º ano, os erros encontrados foram, por ordem decrescente
de frequência:
(i) Substituição usando mais do que uma palavra;
(ii) Omissão de uma expressão dentro do sintagma;
(iii) Inadequação semântica; Identificação incorrecta da palavra a substituir;
Construção de uma frase nova;
(iv) Substituição de mais do que uma palavra na frase; Alteração de género e/ou
número; Alteração morfológica com preservação da base (com uma ocorrência
em cada tipo de erro)
f) Nas respostas das crianças de 4º ano, os erros encontrados foram, por ordem decrescente
de frequência:
(i) Substituição usando mais do que uma palavra;
(ii) Inadequação semântica;
(iii) Omissão de uma expressão dentro do sintagma; Uso de palavras não existentes
no Português Europeu;
(iv) Substituição de mais do que uma palavra no sintagma; Alteração de género e/ou
número.
137
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.1.4.
Comparação dos resultados relativos ao sucesso na tarefa de manipulação em
função das categorias sintácticas
Para se averiguar a influência da categoria sintáctica da palavra-alvo no sucesso da manipulação,
utilizou-se o teste estatístico não paramétrico Anova de Friedman com o intuito de averiguar a
existência de diferenças na pontuação total de nomes, verbos e adjectivos. No Quadro 150,
apresentam-se os resultados obtidos por aplicação do referido teste.
Quadro 150. Pontuação das categorias sintácticas nome, verbo e adjectivo
M ± DP
Mínimo
Máximo
Média de
Rank
Pontuação Nomes
3,33±1,50
,00
6,00
1,44
18
PontuaçãoVerbos
4,39±1,69
,00
6,00
2,19
p= 0,007
Pontuação Adjectivos
4,72±1,23
2,00
6,00
2,36
Pontuação Nomes
2,91±1,66
,00
6,00
1,68
22
PontuaçãoVerbos
3,36±1,56
1,00
6,00
1,93
p= 0,029
Pontuação Adjectivos
4,00±1,38
1,00
6,00
2,39
Pontuação Nomes
4,83±1,30
2,00
6,00
1,85
23
PontuaçãoVerbos
5,01±,95
3,00
6,00
1,43
p= 0,244
Pontuação Adjectivos
5,48±,85
3,00
6,00
2,22
Pontuação Nomes
4,48±1,54
1,00
6,00
1,57
21
PontuaçãoVerbos
5,33±,73
4,00
6,00
2,21
p= 0,024
Pontuação Adjectivos
5,43±,81
4,00
6,00
2,21
Grupo
1º ano género feminino
n = 18
1º ano género masculino
n= 22
4º ano género feminino
n = 23
4º ano género masculino
n = 21
Anova de
Friedman
Como se pode observar no Quadro 150, no 1º ano de escolaridade existem diferenças significativas
entre a pontuação das três categorias sintácticas, para o género feminino, bem como, para o género
masculino. Tanto as raparigas como os rapazes substituíram mais facilmente adjectivos, seguidos
de verbos, e finalmente, nomes, como se pode observar através das médias de Rank.
Em relação ao 4º ano de escolaridade, não se verificam diferenças significativas na pontuação total
das três categorias sintácticas, para o género feminino, mas sim para o género masculino. Como se
pode observar no Quadro, os rapazes deste ano de escolaridade tiveram maior facilidade na
substituição de adjectivos e verbos do que de nomes.
3.2.
A distribuição da palavra-alvo
138
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Nesta secção apresentam-se os resultados relativos à comparação entre as respostas correctas e
incorrectas de acordo com a posição da palavra a ser substituída.
3.2.1. Nome
Como se referiu na secção 2.3, a categoria nome foi testada em duas posições, integrando o
primeiro ou o último constituinte da frase. Recorde-se que existem três itens para testar cada
posição.
3.2.1.1. 1º ano de escolaridade
No Quadro 151 apresentam-se os resultados para o 1º ano de escolaridade. Visto que existem 40
crianças neste ano, a totalidade de respostas é de 120, para cada posição do constituinte que integra
o nome na frase.
Quadro 151 - Frequências e percentagens para a categoria nome, consoante a posição do mesmo na frase, no 1º ano de
escolaridade
Nomes – Posição Inicial
Frequência
Percentagem
Total
Nomes – Posição Final
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
51
69
120
73
47
120
42,50%
57,50%
100%
60,83%
39,17%
100%
Quando o nome está inserido no primeiro constituinte da frase podemos observar que existe uma
maior percentagem de respostas incorrectas, ainda que a diferença relativamente aos valores das
respostas correctas não seja grande. Quando a palavra alvo se encontra no último constituinte da
frase a diferença entre respostas correctas e incorrectas é maior, existindo uma maior percentagem
de respostas correctas.
Contudo, se compararmos os valores relativos às duas posições, concluímos que as crianças de 1º
ano de escolaridade têm mais facilidade em substituir nomes quando estes aparecem no último
constituinte da frase.
139
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Para averiguar a existência de diferenças significativas entre géneros, tendo em conta a posição que
o nome ocupa na frase, aplicou-se, novamente, o teste Mann-Whitney, sendo os resultados
apresentados nos Quadros 152 e 153.
Quadro 152 - Teste de Mann-Whitney para posição do nome na frase, no 1º ano de escolaridade
MannGrupo
Nomes
Whitney
–
Posição
U=196,500
p= 0,966
Inicial
Nomes
Posição
Final
–
U=146,50
p=0,144
Quadro 153 - Estatística descritiva para a posição que o constituinte que integra o nome ocupa na frase – 1º ano de
escolaridade
Grupo
M ± DP
Mínimo
Máximo
1º ano genéro
PNomeInicial
feminino
PNomeFinal
1,28±1,02
,00
3,00
2,06±,99
,00
3,00
1,27±1,03
,00
3,00
1,64±,95
,00
3,00
n = 18
1º ano género
PNomeInicial
masculino
PNomeFinal
n = 22
Pela análise do Quadro 152, observa-se que não existem diferenças significativas entre os géneros
no que diz respeito à posição ocupada pelo nome a testar. O Quadro 153 permite verificar que a
média aritmética das respostas correctas dadas pelos rapazes e pelas raparigas aos itens que
envolvem nomes em posição inicial é idêntica; em relação à posição final, verifica-se uma ligeira
variação, apresentando as raparigas uma média aritmética superior.
3.2.1.2. 4º ano de escolaridade
No 4º ano de escolaridade existem 44 crianças, pelo que a totalidade de respostas é de 132.
140
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 154 - Frequências e percentagens para a categoria nome, consoante a posição do mesmo na frase, no 4º ano de
escolaridade
Nomes – Posição Inicial
Frequência
Percentagem
Nomes – Posição Final
Total
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
103
29
132
102
30
132
78,03%
21,97%
100%
77,27%
22,73%
100%
No Quadro 154, é possível observar que existem grandes diferenças entre as respostas incorrectas e
incorrectas relativamente a cada uma das posições dos nomes na frase, sendo que a percentagem de
respostas correctas é, em cada caso, bastante mais elevada do que a de respostas incorrectas.
Contudo, não existem grandes diferenças entre a posição inicial e final, visto que os valores
percentuais são praticamente iguais, o que significa que, para as crianças de 4º ano de escolaridade,
a posição do nome na frase não influenciou a sua substituição. Veja-se o Quadro 155, abaixo:
Quadro 155 - Teste de Mann-Whitney para posição do nome na frase, no 4º ano de escolaridade
MannGrupo
Nomes
Whitney
–
Posição
U=237,500
p= 0,917
Inicial
Nomes
Posição
Final
–
U=186,00
p=0,151
Quadro 156 - Estatística descritiva para posição que o constituinte que integra o nome ocupa na frase – 4º ano de
escolaridade
Grupo
M ± DP
Mínimo
Máximo
4º ano género
PNomeInicial
feminino
PNomeFinal
n = 23
4º ano género
PNomeInicial
masculino
PNomeFinal
n = 21
2,35±,83
,00
3,00
2,48±,79
1,00
3,00
2,33±,91
,00
3,00
2,14±,91
,00
3,00
141
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Pela análise do Quadro 155, observa-se que não existem diferenças significativas entre os géneros
no que diz respeito à posição do nome na frase (p = 0,917; p = 0.151). Constata-se, no Quadro 156,
que a média aritmética das respostas de rapazes e raparigas é muito próxima quando o nome ocorre
no primeiro constituinte da frase; quando o nome ocorre no último constituinte a referida média
varia ligeiramente, sendo superior no género feminino, apesar de a diferença não ser significativa,
tal como já foi referido.
3.2.2. Verbo
Nesta secção apresentam-se os resultados relativos à comparação entre as respostas correctas e
incorrectas de acordo com a subclasse do verbo a ser substituído.
É de notar que a distinção entre subclasses é também empiricamente motivada através da
distribuição dos verbos que constituem essas subclasses.
Como tem vindo a ser referido, existem seis itens que testam os verbos, três para cada subclasse
(intransitivos e transitivos directos).
3.2.2.1. 1º ano de escolaridade
A totalidade de respostas obtidas neste ano é de 120, para cada subclasse, dado que a amostra
integra 40 crianças do 1º ano de escolaridade.
Quadro 157 - Frequências e percentagens para a categoria verbo, consoante a subclasse do mesmo, no 1º ano de
escolaridade
Verbos Intransitivos
Frequência
Percentagem
Total
Verbos Transitivos
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
66
45
120
87
33
120
55%
45%
100%
72,5%
27,5%
100%
Em relação à subclasse verbos intransitivos, podemos observar que, apesar de os valores serem
próximos, existe uma maior percentagem de respostas correctas do que de respostas incorrectas. Por
outro lado, em relação aos verbos transitivos, a diferenças entre respostas correctas e incorrectas é
superior, existindo, igualmente uma maior percentagem de respostas correctas.
142
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Ao comparar os valores relativos às respostas correctas para cada subclasse de verbos, verifica-se
que as crianças do 1º ano de escolaridade têm mais facilidade em substituir verbos transitivos
directos do que verbos intransitivos. Veja-se o Quadro 158.
Quadro 158 - Teste de Mann-Whitney para subclasse do verbo, no 1º ano de escolaridade
MannGrupo
Whitney
Verbos
U=163,50
Intransitivos
p= 0,331
Verbos
Transitivos
U=108,50
p= 0,008
Quadro 159 - Estatística descritiva para subclasse do verbo – 1º ano de escolaridade
Grupo
M ± DP
Mínimo
1º ano género
Intransitivos
feminino
Transitivos
Máximo
1,83±1,04
,00
3,00
2,56±,92
,00
3,00
1,50±1,06
,00
3,00
1,86±,99
,00
3,00
n = 18
1º ano género
Intransitivos
masculino
Transitivos
n = 22
Pela observação do Quadro 158 conclui-se que não existem diferenças significativas entre os
géneros na manipulação de verbos intransitivos. Com efeito, constata-se, no Quadro 159, que as
médias aritméticas relativas às duas subclasses de verbos se encontram muito próximas.
Relativamente aos verbos transitivos directos, existem diferenças significativas entre géneros
(Quadro 158), sendo possível observar, no Quadro 159, que a média aritmética de respostas
correctas do género feminino é superior à média de respostas correctas do género masculino.
143
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.2.2.2. 4º ano de escolaridade
Quadro 160 - Frequências e percentagens para a categoria verbo, consoante a subclasse do mesmo, no 4º ano de
escolaridade
Verbos Intransitivos
Frequência
Percentagem
Total
Verbos Transitivos
Total
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
115
17
120
114
18
120
87,12%
12,88%
100%
86,36%
13,64%
100%
Em cada subclasse, existe uma grande diferença entre os valores das respostas correctas e das
respostas incorrectas, sendo estas últimas muito menos frequentes.
Comparando os valores percentuais entre as duas subclasses, verifica-se que não existem grandes
diferenças entre a manipulação de verbos intransitivos e a de verbos transitivos directos, no 4º ano.
De modo a averiguar a existência de diferenças significativas entre género no que diz respeito às
subclasses de verbos testadas, aplicou-se, novamente, o teste Mann-Whitney, encontrando-se os
resultados no Quadro 161.
Quadro 161 - Teste de Mann-Whitney para subclasse do verbo, no 4º ano de escolaridade
MannGrupo
Whitney
Verbos
U=204,00
Intransitivos
p= 0,281
Verbos
Transitivos
U=228,50
p= 0,717
144
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 162 - Estatística descritiva para subclasse do verbo – 4º ano de escolaridade
Grupo
M ± DP
Mínimo
4º ano género
Intransitivos
feminino
Transitivos
Máximo
2,52±,67
1,00
3,00
2,57±,59
1,00
3,00
2,71±,56
1,00
3,00
2,62±,59
1,00
3,00
n = 18
4º ano género
Intransitivos
masculino
Transitivos
n = 22
Pela análise do Quadro 161, conclui-se que não existem diferenças significativas entre os géneros
em relação às subclasse de verbos testadas, encontrando-se as médias aritméticas muito próximas,
como se verifica no Quadro 162.
3.2.3.
Adjectivo
Nesta secção apresentam-se os resultados relativos à comparação entre as respostas correctas e
incorrectas dadas pelos sujeitos aos itens que testam a categoria adjectivo. Recorde-se que existem
seis itens que testam esta categoria sintáctica, sendo que o SA de que o adjectivo faz parte tem uma
função predicativa em três itens e uma função atributiva noutros três.
3.2.3.1. 1º ano de escolaridade
Tal como já foi referido, existem 40 crianças no 1º ano de escolaridade pelo que a totalidade das
respostas é 120, consoante a função do SA.
Quadro 163 - Frequências e percentagens para a categoria adjectivo, consoante a função do SA, no 1º ano de
escolaridade
Adjectivos em SAs com função
Total
Adjectivos em SAs com função
predicativa
Frequência
Percentagem
Total
atributiva
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
94
26
120
79
41
120
78,33%
21,67%
100%
65,83%
34,17%
100%
145
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Analisando o Quadro 163, observa-se que em cada conjunto de itens, existe uma maior percentagem
de respostas correctas. Ainda que não exista uma grande diferença no desempenho dos alunos do 4º
ano, é possível verificar que o mesmo melhora quando são manipulados adjectivos que são núcleo
de SAs com função predicativa.
Para averiguar a existência de diferenças significativas, entre géneros, em relação à função
(predicativa/atributiva) do Sintagma Adjectival que inclui o adjectivo, aplicou-se, novamente, o
teste Mann-Whitney (Quadro 164).
Quadro 164 - Teste de Mann-Whitney para função do SA, no 1º ano de escolaridade
MannGrupo
Whitney
Adjectivos
U=137,00
com função
p= 0,067
predicativa
Adjectivos
com função
atributiva
U=165,50
p=0,353
Quadro 165 - Estatística descritiva para função do SA – 1º ano de escolaridade
Grupo
M ± DP
Mínimo
1º ano género
AdjecPredicativos
feminino
AdjecAtributiva
Máximo
2,56±,62
1,00
3,00
2,17±,79
1,00
3,00
2,18±,66
1,00
3,00
1,82±1,09
,00
3,00
n = 18
1º ano género
AdjecPredicativos
masculino
AdjecAtributiva
n = 22
Pela análise do Quadro 164, observa-se que não existem diferenças significativas entre os géneros
em relação à função do SA. Adicionalmente, é possível constatar – Quadro 165 – que as médias
aritméticas são muito próximas, exceptuando no que diz respeito ao género masculino para os
adjectivos com função atributiva, em que a média é ligeiramente inferior.
146
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
3.2.3.2. 4º ano de escolaridade
No Quadro 166, apresentam-se os resultados das respostas das crianças do 4º ano de escolaridade,
tendo em conta a função do SA em que se encontra integrado o adjectivo a testar. A totalidade de
respostas é 132, consoante a função do SA onde se integra o Adjectivo.
Quadro 166 - Frequências e percentagens para a categoria adjectivo, consoante a função do SA, no 4º ano de
escolaridade
Adjectivos em SAs com função
Total
Adjectivos em SAs com função
predicativa
Frequência
Percentagem
Total
atributiva
Respostas
Respostas
Respostas
Respostas
Correctas
Incorrectas
Correctas
Incorrectas
124
8
132
116
16
132
93,94%
6,06%
100%
87,88%
12,12%
100%
Como é possível verificar no Quadro 166, existe uma grande diferença entre as frequências de
respostas correctas e incorrectas nos dois grupos de itens, sendo que a percentagem de respostas
correctas é bastante elevada.
A percentagem de respostas correctas no grupo dos adjectivos em SAs com função predicativa é
ligeiramente superior à percentagem de respostas correctas do outro grupo, o que significa que as
crianças do 4º ano de escolaridade tiveram maior facilidade, apesar de ligeira, na substituição dos
adjectivos com função predicativa.
Para averiguar a existência de diferenças significativas entre géneros no que diz respeito à
substituição de Adjectivos em SAs com função predicativa e em SAs com função atributiva,
aplicou-se, novamente, o teste Mann-Whitney (Quadro 167).
147
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 167 - Teste de Mann-Whitney para função do SA, no 4º ano de escolaridade
MannWhitney
Grupo
Adjectivos
U=236,00
com função
p= 0,839
predicativa
Adjectivos
com função
atributiva
U=234,50
p= 0,840
Quadro 168 - Estatística descritiva para função do SA – 4º ano de escolaridade
Grupo
M ± DP
Mínimo
4º ano género
AdjPredicativos
feminino
AdjAtributiva
n = 23
4º ano género
AdjPredicativos
masculino
AdjAtributiva
n = 21
Máximo
2,83±,39
2,00
3,00
2,65±,57
1,00
3,00
2,81±,51
1,00
3,00
2,62±,59
1,00
3,00
Os dados do Quadro 167 demonstram que não existem diferenças significativas entre os géneros em
relação à função do adjectivo, e constata-se, no Quadro 168, que as médias aritméticas estão todas
muito próximas.
3.3.
Comparação das variáveis Ano de escolaridade e Género
Nesta secção apresentam-se os dados referentes à pontuação total da tarefa, tendo em conta o ano
de escolaridade e o género. Para a análise destas variáveis efectuou-se o teste não paramétrico
Kruskal-Wallis (cf. secção 2.5).
148
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 169. Pontuação total da tarefa nos quatro grupos.
Média de
KruskalWallis
Grupo
n
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
1º ano género feminino
18
12,44±3,50
5,00
17,00
35,31
1º ano género masculino
22
10,27±3,78
4,00
18,00
22
4º ano género feminino
23
15,39±2,19
11,00
18,00
56,11
4º ano género masculino
21
15,24±2,05
11,00
18,00
54,71
Total
84
H= 29,078
p= 0,000
Como se pode observar no Quadro 169, existem diferenças muito significativas entre os diferentes
grupos. Com efeito, é possível observar, através da média de Rank, que o género feminino no 1º ano
de escolaridade apresenta um maior número de respostas correctas do que o género masculino no
mesmo ano de escolaridade.
No 4º ano de escolaridade verifica-se a mesma situação, visto que o género feminino apresenta uma
média de Rank superior à do género masculino. Analisando a média aritmética e os valores de
mínimo e máximo, conclui-se que as raparigas apresentam uma média superior à dos rapazes.
No Quadro 170 apresentam-se os dados relativos ao género no 1º ano de escolaridade.
Quadro 170. Comparação entre géneros no 1º ano de escolaridade.
Média de
Mann-
Grupo
n
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
Whitney
1º ano género feminino
18
12,44±3,50
5,00
17,00
24,89
U= 119,00
1º ano género masculino
22
10,27±3,78
4,00
18,00
16,91
p = 0,031
Total
40
Como é possível observar, existem diferenças significativas entre género no 1º ano de escolaridade,
sendo que as raparigas apresentam uma média de respostas correctas superior à dos rapazes.
Por outro lado, analisando os dados registados no Quadro seguinte (Quadro 171), é possível
observar que não existem diferenças significativas entre género no 4º ano de escolaridade.
149
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 171 - Comparação entre géneros no 4º ano de escolaridade.
Média de
Mann-
Grupo
n
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
Whitney
4º ano género feminino
23
15,39±2,19
11,00
18,00
23,13
U= 227,00
4º ano género masculino
21
15,24±2,05
11,00
18,00
21,81
p = 0,730
Total
44
Como tal, é possível concluir a existência de um efeito de interacção entre ano de escolaridade e
género, já que apenas no 1º ano de escolaridade se verificam diferenças entre género feminino e
masculino. Contudo, é importante ter em conta que a diferença está bastante próxima da não
significância (p = 0,046), o que significa que seria interessante realizar esta comparação com uma
amostra maior para averiguar se os resultados se mantêm.
Para complementar esta análise, realizou-se a comparação entre anos de escolaridade em cada
género. O quadro 172 apresenta os resultados obtidos pelos sujeitos do género feminino.
Quadro 172 - Comparação entre anos de escolaridade no género feminino.
Média de
MannWhitney
Grupo
n
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
1º ano género feminino
18
12,44±3,50
5,00
17,00
14,97
U= 98,50
4º ano género feminino
23
15,39±2,19
11,00
18,00
25,72
p = 0,004
Total
41
Tendo em conta os valores do Quadro 172, existem diferenças significativas entre os dois anos de
escolaridade, sendo que, em média, as raparigas do 4º ano respondem correctamente a mais três
perguntas, e considera-se importante realçar, também, que o valor mínimo de respostas correctas
aumenta.
150
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
No Quadro 173, apresentam-se os resultados para o género masculino.
Quadro 173 - Comparação entre anos de escolaridade no género masculino.
Média de
MannWhitney
Grupo
n
M ± DP
Mínimo
Máximo
Rank
1º ano género masculino
22
10,27±3,78
4,00
18,00
14,23
U= 60,00
4º ano género masculino
21
15,24±2,05
11,00
18,00
30,14
p = 0,000
Total
43
Em relação ao género masculino é possível observar a existência de diferenças muito significativas.
A média de respostas correctas aumenta de 10 para 15 com o ano de escolaridade, e o valor mínimo
sofre, igualmente, uma grande alteração sendo que as crianças do sexo masculino com maior grau
de escolaridade respondem, no mínimo, a 11 respostas correctamente.
Em síntese:
1. Relativamente às categorias sintácticas e sua posição dentro da frase
1.1.
Nomes
a.
1º ano de escolaridade
(i)
A percentagem de respostas correctas e incorrectas ronda os 50%.
(ii)
Quando o nome se encontra no SN que ocupa a posição inicial de
frase, existe uma maior percentagem de respostas incorrectas do que
quando o SN de que o nome é núcleo se encontra na posição final de
frase.
(iii)
Existem diferenças significativas entre géneros, na substituição de
nomes, visto que as raparigas apresentam uma maior percentagem de
respostas correctas e os rapazes apresentam uma maior percentagem
de respostas incorrectas.
(iv)
Não existem diferenças significativas entre género em função da
posição do constituinte (inicial ou final) em que se encontra o nome.
151
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
b.
4º ano de escolaridade
(i)
A percentagem de respostas correctas é superior à de respostas
incorrectas.
(ii)
A percentagem de respostas correctas é idêntica à das respostas
incorrectas, independentemente da posição do SN que integra o nome
a testar; logo,para as crianças de 4º ano de escolaridade, a posição não
foi importante para a manipulação da palavra alvo.
(iii)
Não existem diferenças significativas entre géneros, na substituição de
nomes, apesar de a percentagem de respostas correctas do género
feminino ser ligeiramente superior.
(iv)
Não existem diferenças significativas entre géneros em função da
posição do constituinte (inicial ou final) em que se encontra o nome.
1.2.
Verbos
a. 1º ano de escolaridade
(i)
A percentagem de respostas correctas é superior à percentagem de
respostas incorrectas.
(ii)
A percentagem de respostas correctas é superior quando se testam
verbos transitivos.
(iii)
Não existem, globalmente, diferenças significativas entre géneros na
substituição de verbos, embora a percentagem de respostas correctas
no género feminino seja superior.
(iii)
Existem diferenças significativas entre género no que diz respeito à
substituição de verbos transitivos, sendo que as raparigas apresentam
uma
média
aritmética
superior.
Relativamente
aos
verbos
intransitivos, não existem diferenças significativas entre géneros.
b. 4º ano de escolaridade
(i)
A percentagem de respostas correctas é bastante superior à
percentagem de respostas incorrectas.
152
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(ii)
A percentagem de respostas correctas é idêntica para as duas
subclasses de verbos manipuladas.
(iii)
Não existem diferenças significativas entre géneros, na substituição de
verbos, apesar de a percentagem de respostas correctas do género
feminino ser superior.
(iv)
Não existem diferenças significativas entre géneros no que diz
respeito à substituição de verbos transitivos e intransitivos.
1.3.
Adjectivos
a. 1º ano de escolaridade
(i)
A percentagem de respostas correctas é superior à percentagem de
respostas incorrectas.
(ii)
Existem diferenças na substituição de adjectivos tendo em conta a
função predicativa ou atributiva do SA de que aqueles são núcleos.
Com efeito, verifica-se um maior número de respostas correctas
quando o SA tem função predicativa.
(iii)
Não existem diferenças significativas entre géneros, no que diz
respeito à substituição de adjectivos, apesar de o género feminino
apresentar uma percentagem de respostas correctas superior.
(iv)
Não existem diferenças significativas entre géneros no que diz
respeito à função do SA de que o adjectivo testado é núcleo.
4.
4º ano de escolaridade
(i)
A percentagem de respostas correctas é superior à percentagem de
respostas incorrectas.
(ii)
A percentagem de respostas correctas em substituições que envolvam
SAs com posição predicativa é superior à percentagem de respostas
correctas em substituições que envolvam SAs em posição atributiva,
sendo ambas superiores a 80%.
153
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(iii)
Não existem diferenças significativas entre géneros, relativamente à
substituição de adjectivos, sendo a percentagem de respostas correctas
muito similar nos dois géneros.
(iv)
Não existem diferenças significativas entre géneros tendo em conta a
função (predicativa ou atributiva) do SA de que o adjectivo é núcleo.
2. As crianças do 1º ano de escolaridade, de ambos os géneros, substituíram com maior
facilidade adjectivos, depois verbos e, finalmente, nomes. No 4º ano de escolaridade, os
dados revelam que as raparigas substituem de igual modo nomes, verbos e adjectivos,
contudo, os rapazes têm mais sucesso na substituição de adjectivos e verbos e menos
sucesso quando manipulam nomes.
3. Existem diferenças significativas entre géneros na pontuação total da tarefa no 1º ano de
escolaridade, mas não no 4º ano, o que permite concluir a existência de um efeito de
interacção idade-género. Ou seja, no ano de escolaridade superior, o género já não é
distintivo, sendo que rapazes e raparigas revelam o mesmo nível de desempenho.
4. Existem diferenças significativas entre anos de escolaridade dentro do mesmo género, na
pontuação total da tarefa, sendo que, tal como esperado, as crianças mais velhas
apresentam maior facilidade em realizar correctamente a tarefa.
3.4.
Comentário dos Resultados
Nesta secção procede-se ao comentário aos resultados obtidos, à luz das hipóteses formuladas e
tendo em conta os estudos referidos no Capítulo 1.
Considere-se, em primeiro lugar, a Hipótese 1, de acordo com a qual a categoria sintáctica da
palavra-alvo determina o grau de sucesso no desempenho da tarefa de manipulação
Os resultados obtidos no presente estudo só confirmam parcialmente esta Hipótese. Com efeito,
embora as crianças do 1º ano e os rapazes do 4º ano tenham tido melhores desempenhos na
substituição de adjectivos, depois de verbos e, por último, de nomes, as raparigas do 4º ano não
apresentaram diferenças significativas na manipulação das três categorias.
Quanto à Hipótese 2, segundo a qual a distribuição da palavra-alvo na frase condiciona o sucesso no
desempenho da tarefa de manipulação, só parcialmente é confirmada pelos dados uma vez que se
verificam diferenças em função do ano de escolaridade. Assim, a hipótese em causa confirma-se
154
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
para o 1º ano mas não para o 4º ano de escolaridade. Quanto aos sujeitos do 1º ano, revelaram
melhores desempenhos na manipulação de: (i) nomes no último constituinte da frase; (ii) verbos
transitivos; (iii) adjectivos em SAs com função predicativa. Pelo contrário, as crianças do 4º ano
não revelam diferenças de desempenho na manipulação de nomes em diferentes posições nem de
verbos de diferentes subclasses. Relativamente aos adjectivos, essas crianças têm um desempenho
ligeiramente superior quando os mesmos se encontram em SAs com função predicativa.
Na Hipótese 3 afirma-se que a tarefa de manipulação permite identificar diferenças de desempenho
entre o 1º e o 4º anos de escolaridade. Os resultados obtidos mostram que as crianças de 4º ano de
escolaridade tiveram um melhor desempenho em todas as categorias sintácticas do que as crianças
de 1º ano de escolaridade, pelo que esta hipótese se confirma. Assim, estes resultados vão ao
encontro dos resultados obtidos por Sim-Sim (1998), que refere que a idade aparece claramente
associada à melhoria do desempenho nos subtestes da prova aplicada pela autora; por Mendes et
al.(2009) , por Silva (2003) e por Afonso (2008).
A Hipótese 4, de acordo com a qual a variável género não tem implicações no desempenho na tarefa
de manipulação, foi também confirmada visto que não existem diferenças no desempenho da tarefa
entre géneros. Contudo, tal como no estudo de Mendes et al. (2009) o género feminino apresenta
um desempenho ligeiramente superior ao do género masculino, que não é
estatisticamente
significativo.
Ao longo da apresentação e descrição dos dados encontraram-se alguns resultados que merecem
uma atenção especial.
Em primeiro lugar, em muitos casos de respostas incorrectas, as crianças manipularam o
constituinte de natureza sintagmática e não apenas o núcleo, que era alvo da manipulação. Este
facto indicia que as crianças da amostra revelam também consciência da noção de constituinte.
Em segundo lugar, vários sujeitos de ambos anos de escolaridade efectuaram substituições dentro
do campo semântico da palavra-alvo. Além disso, optaram frequentemente por sinónimos e por
antónimos, o que revela que a manipulação das categorias sintácticas é, muitas vezes, orientada
pelas relações semânticas entre itens lexicais.
Finalmente, em algumas respostas foram omitidas expressões. No entanto, na globalidade, essas
omissões não resultaram em sequências agramaticais, visto que o material omitido corresponder a
modificadores quer de expressões verbais quer de expressões nominais. Veja-se em particular, o
155
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
caso dos adjectivos: várias crianças omitiram o adjectivo quando o SA que o integra tem uma
função atributiva, mas não o fizeram quando o SA tem uma função predicativa. Este
comportamento dos sujeitos é revelador da consciência das relações gramaticais que se estabelecem
entre as palavras de uma frase.
156
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Conclusão
Com o presente estudo procurou-se compreender o comportamento das crianças face a uma tarefa
de consciência sintáctica, mais especificamente uma tarefa de manipulação de categorias
sintácticas, na qual as crianças devem proceder à substituição de itens lexicais das categorias nome,
verbo e adjectivo.
Os resultados obtidos neste estudo mostram que as crianças do 1º ano de escolaridade e os rapazes
do 4º ano revelam diferenças de desempenho na manipulação de nomes, verbos e adjectivos.
Contudo, as raparigas do 4º ano de escolaridade não apresentam diferenças significativas na
manipulação das três categorias, pelo que a hipótese de que a categoria sintáctica da palavra-alvo
determina o sucesso no desempenho da tarefa de manipulação só parcialmente foi confirmada.
Os dados demonstram que, no 1º ano de escolaridade, a distribuição da palavra-alvo na frase
interfere no desempenho na tarefa, sendo que as crianças deste ano de escolaridade revelam
melhores resultados na manipulação (i) de nomes no último constituinte da frase, (ii) de verbos
transitivos e (iii) de adjectivos em SAs com função predicativa. Contudo, visto que, no 4º ano de
escolaridade, não se verificaram diferenças de desempenho tendo em conta a distribuição da palavra
na frase (apenas um desempenho ligeiramente superior quando o adjectivo se encontra num SA com
função predicativa), o impacto desta variável linguística no desempenho da tarefa de manipulação
poderá estar relacionada com o nível de consciência sintáctica do sujeito ou com o treino associado
ao alargamento do seu conhecimento explícito, pelo que o estudo carece de investigação adicional.
Não se verificaram diferenças de desempenho entre géneros na tarefa de manipulação, apesar de o
género feminino apresentar um desempenho ligeiramente superior ao do género masculino, não
sendo, porém, estatisticamente significativo.
Tal como esperado, as crianças do 4º ano de escolaridade apresentam melhores resultados globais
na tarefa de manipulação do que as crianças do 1º ano de escolaridade, pelo que se pode afirmar que
esta tarefa é eficaz na identificação de diferentes níveis de consciência sintáctica, associados aos
anos lectivos estudados.
Na execução deste estudo, identificaram-se algumas limitações, que se prendem com questões
relacionadas com a aplicação das quatro tarefas construídas:
(i)
As instruções e os itens da tarefa deveriam ter sido previamente gravados para assegurar
que todas os sujeitos eram expostos às mesmas condições de teste.
157
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
(ii)
Nem todas as respostas das crianças foram eficazmente gravadas, devido a falhas no
sistema/software de gravação de áudio utilizados.
(iii)
A prova deveria ter sido aplicada num contexto sem distracções o que não foi possível,
por motivos logísticos, pelo que algumas crianças se baseavam nos objectos ou desenhos
presentes na sala para responder ao que lhes era pedido, essencialmente na tarefa de
manipulação.
A tarefa de manipulação de categorias sintácticas pode ser usada, quer em contexto lectivo, quer em
contexto de intervenção clínica, como forma de promover o conhecimento lexical das crianças (cf.
Duarte, 2008).
Finalmente, retomando o que já foi referido no capítulo 1, este estudo é relevante para a área da
Terapia da Fala no sentido em que contribui para a construção de uma prova de avaliação sintáctica
e para a reflexão sobre as variáveis linguísticas e extralinguísticas a controlar em instrumentos desta
natureza. Como referido anteriormente, não existem instrumentos que permitam avaliar
exaustivamente os níveis de consciência sintáctica nas crianças portuguesas, sendo crucial a criação
de instrumentos fiáveis e linguisticamente controlados para a realização de uma avaliação adequada
desta competência e para a posterior planificação de uma intervenção eficaz.
158
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Referências Bibliográficas
Afonso, C. (2008). Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os
6 anos. Dissertação de Mestrado em Terapia da Fala. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa.
António, R. (1998). Desenvolvimento da linguagem em rapazes e raparigas: estudo de um grupo de
crianças no inicio do primeiro ano de escolaridade. Monografia final de curso bietápico de
licenciatura em terapia da fala. Alcoitão: Escola Superior de Saúde do Alcoitão.
Brito, A.M. (2003). Categorias Sintácticas. In Mateus, M.H., Brito, A.M., Duarte, I., Faria, I.H.,
Frota, S., Matos, G., Oliveira, F., Vigário, M. & Villalva, A. (2003). Gramática da Língua
Portuguesa (6ª edição). Lisboa: Editorial Caminho.
Brito, A.M.; Duarte, I. & Matos, G. (2003). Tipologia e distribuição das expressões nominais. In
Mateus, M.H., Brito, A.M., Duarte, I., Faria, I.H., Frota, S., Matos, G., Oliveira, F., Vigário, M. &
Villalva, A. (2003). Gramática da Língua Portuguesa (6ª edição). Lisboa: Editorial Caminho.
Cain, K. (2007). Syntactic awareness and reading ability: is there any evidence for a special
relationship?. Applied Psycholinguistics, 28, 679-694.
Capovilla, A., Capovilla, F. & Soares, J. (2004). Consciência sintáctica no ensino fundamental:
correlações com consciência fonológica, vocabulário, leitura e escrita. Psico-USF, 9, (1), 39-47.
Carmo, H. & Ferreira, M.M. (1998). Metodologia da Investigação – Guia para AutoAprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta.
Correa, J. (2004). A avaliação da consciência sintáctica na criança: uma análise metodológica.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 20 (1).
Cunha, C. & Cintra, L. (1984/2002). Nova Gramática do Português Contemporâneo .(17ª edição)
Lisboa: Edições João Sá da Costa, LDA.
Duarte, I. & Brito, A.M. (1996). Sintaxe. In Faria, I., E. Pedro, I. Duarte & C. Gouveis (orgs.).
Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho.
Duarte, I. (2000). Língua Portuguesa: Instrumentos de Análise. Lisboa: Universidade Aberta.
159
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Duarte, I. (2003). Relações gramaticais, esquemas relacionais e ordem de palavras. In Mateus,
M.H., Brito, A.M., Duarte, I., Faria, I.H., Frota, S., Matos, G., Oliveira, F., Vigário, M. & Villalva,
A. (2003). Gramática da Língua Portuguesa (6ª edição). Lisboa: Editorial Caminho.
Duarte, I. & Brito, A.M. (2003). Predicação e classes de predicadores verbais. In Mateus, M.H.,
Brito, A.M., Duarte, I., Faria, I.H., Frota, S., Matos, G., Oliveira, F., Vigário, M. & Villalva, A.
(2003). Gramática da Língua Portuguesa (6ª edição). Lisboa: Editorial Caminho.
Duarte, I. & Oliveira, F. (2003). Referência Nominal. In Mateus, M.H., Brito, A.M., Duarte, I.,
Faria, I.H., Frota, S., Matos, G., Oliveira, F., Vigário, M. & Villalva, A. (2003). Gramática da
Língua Portuguesa (6ª edição). Lisboa: Editorial Caminho.
Duarte, I. (2008). O Conhecimento da língua: desenvolver a consciência linguística (1ªed.). Lisboa:
Ministério da Educação – Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular.
Guimarães, S.R.K. (2003). Dificuldades no desenvolvimento da lectoescrita: o papel das
habilidades metalinguísticas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 19, (1).
Layton, A., Robinson, J. & Lawson, M. (1998). The relationship between syntactic awareness and
reading performance. Journal of Research in Reading, 21 (1), 5-23.
Lesaux, N.K., Siegel, L.S. & Rupp, A.A. (2007). Growth in reading skilss of children from diverse
linguistic backgrounds: findings from a 5.year longitudinal study. Journal of Educational
Pshychology, 99 (4), 821-834.
Maroco, J. (2003). Análise Estatística com Utilização do SPSS. Lisboa: Edições Silabo.
Martinez, L. & Ferreira, A. (2007). Análise de dados com SPSS: primeiros passos. Lisboa: Escolar
Editora.
Mendes, A., Afonso, E., Lousada, M. & Andrade, F. (2009), Teste fonético-fonológico ALPE.
Designeed, Lda.
Otero, C.P. (1999). Pronombres reflexivos y recíprocos. In Bosque, I. & V. Demonte (orgs.).
Gramática Descriptiva de la Lengua Española. Vol. 1. Madrid: Espasa.
Plaza, M. & Cohen, H. (2003). The Interaction between phonological processing, syntactic
awareness, and naming speed in the reading and spelling performance of first-grade children. Brain
and Cognition, 53, 287-292.
160
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Rego, L.L.B. (1993). O papel da consciência sintáctica na aquisição da língua escrita. Temas em
Psicologia. 1, 79-87.
Rego, L.L.B. (1995). Diferenças individuais na aprendizagem inicial da leitura: papel
desempenhado por factores metalinguísticos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 11, (1), 51-60.
Rego, L.L.B. (1997). The connection between syntactic awareness and reading: evidence from
portuguese-speaking children taught by phonic method. International Journal of Behavioral
Development,20, (2), 349-365.
Silva, A.C.C. (2003). Até à descoberta do principio alfabético. Fundação Calouste Gulbenkian.
Sim-Sim, I., Duarte, I. & Ferraz, M.J. (1997). A língua materna na educações básica. Competencias
essenciais. Lisboa: ME-DEB.
Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da linguagem. Lisboa: Universidade Aberta.
Tunmer, W.E., Nesdale, A.R, & Wright, A.D. (1987). Syntactic awareness and reading acquisition.
British Journal of Developmental Psychology. 5, 25-43.
Tunmer, W. E., Herriman, M.L. & Nesdale, A.R. (1988). Metalinguistic abilities and beginning
reading. Reading Research Quarterly. 23, 134-158.
Viana, F.L.P. (2002). Da linguagem oral à leitura. Construção e validação do teste de identificação
de competências linguísticas. Fundação Calouste Gulbenkian.
Vicente, F.L. (2009). Consciência fonológica no ensino básico em Moçambique.. Dissertação de
Mestrado em Linguística. Lisboa: Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras.
Vigário, Marina, M. João Freitas e Sónia Frota (2006) Grammar and frequency effects in the
acquisition of prosodic words in European Portuguese. In Katherine Demuth (ed) Language and
Speech. Vol. 49.
161
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Apêndices
162
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Apêndice I – Ficha socioprofissional
Criança
Nome:____________________________________________________________________
Data de Nascimento:____/____/_______
Idade: ___________________
Escola: __________________________________________ Ano/Turma: ______________
Agregado Familiar
Pai/Cuidador
Nome: _________________________________________________Idade: _______________
Profissão: ________________________________ Habilitações: _______________________
Mãe/Cuidador
Nome: _________________________________________________Idade: _______________
Profissão: ________________________________ Habilitações: _______________________
Fratria
Nome: __________________________________ Idade: ______ Escolaridade: ___________
Nome: __________________________________ Idade: ______ Escolaridade: ___________
Nome: __________________________________ Idade: ______ Escolaridade: ___________
Nome: __________________________________ Idade: ______ Escolaridade: ___________
163
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Apêndice II – Caracterização do meio socioprofissional
Quadro 174 - Caracterização do meio socioprofissional
n
1.
Grandes empresários, profissões liberais, quadros superiores
11
2. Profissões intermédias, quadros médios, grandes agricultores
11
3. Trabalhadores qualificados, comerciantes, artesão, pequenos agricultores, operários
22
Classe
1
qualificados
4. Trabalhadores semi-qualificados, empregados
23
5. Trabalhadores não qualificados
13
6. Desempregados, Domésticas, reformados
4
164
2
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Apêndice III – Folha de registo da prova
Consciência Linguística
Avaliação da Consciência Sintáctica
I – TAREFA DE RECONSTITUIÇÃO:
Instrução: Eu vou dizer-te umas frases. Algumas estão correctas e outras erradas. Primeiro, quero
que me digas se a frase está certa ou errada; se estiver errada, tens de a corrigir e dizê-la de forma
correcta, sem tirares nem pores mais palavras. Por exemplo, a frase O menino comprou um
rebuçado está correcta. Mas a frase As menina andou de carro está errada, porque, para estar
correcta, temos de dizer A menina andou de carro. Vou dar-te outro exemplo: a frase Eu caderno
escrevo no está incorrecta porque as palavras estão na ordem errada. O correcto é Eu escrevo no
caderno. Entendeste?
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, após a resposta da criança, deve ajudá-la, produzindo a
frase gramatical):
a) A menina gosta das boneca. (após a resposta da criança, dizer: a frase está errada porque o
correcto é dizer A menina gosta da boneca.
b) O cão é preto. (após a resposta da criança, dizer: a frase está certa!)
c) O só pai tem um telemóvel. (após a resposta da criança, dizer: a frase está errada porque a frase
certa é O pai só tem um telemóvel.
Itens de teste (o terapeuta regista a resposta da criança):
Frase
1-O irmão do Pedro joga futebol.
Reconhecimento
2-Os pai comeu uma maçã.
3-A até mãe comprou um gelado.
4-O pai comprou grande um carro.
5-A menina pegou nos livro.
6-Ela guardou os brinquedos.
7-A caneta é bonita do pai.
8-O menino comeu o ontem bolo.
9-A canetas ficou estragada.
10-Ontem eu comi massa.
11-Casa é azul esta.
12-O menino escreveu um textos.
13-A casa hoje da tia está a ser pintada.
14-Estas flores são brancas.
15-Este é o livro das menina.
16-O menino só apanhou uma flor pequenina.
17-O carro do tios foi caro.
165
Correcção
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
II – TAREFA DE SUPRESSÃO
Instrução – Eu vou dizer-te umas frases. Quero que tu me digas o que é que podes tirar da frase de
forma a ficar uma frase boa, que se perceba. Por exemplo, para a frase Na cozinha, a Maria varre o
chão podemos dizer só A Maria varre o chão porque a frase fica bem na mesma se retirarmos na
cozinha. Vou dar-te outro exemplo: No cinema o João viu um filme de aventuras. Nesta frase,
podemos tirar duas coisas no cinema e de aventuras porque a frase O João viu um filme já é boa.
Percebeste?
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase, pedindo para retirar o
que for necessário de forma a que se obtenha uma frase gramatical):
I – Estrutura SV
Na cozinha a Maria varre o chão.
A Maria na cozinha varre o chão.
A Maria varre o chão na cozinha.
No campo a avó apanha flores.
A avó no campo apanha flores.
A avó apanha flores, no campo.
II – Estrutura N
A loja da mãe é grande.
A menina brinca em casa da mãe.
III – Estrutura SN + V
No cinema o João viu um filme de aventuras.
No parque a Maria comprou um gelado de morango.
Itens de teste (Novamente o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase registando a
resposta da criança):
Frases
Resposta
1.
Na sala o João arruma os livros.
O João na sala arruma os livros.
O João arruma os livros na casa.
2.
Os sapatos do pai são grandes.
A mãe limpa os sapatos do pai.
3.
166
Cotação
1–0
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Em casa a Joana limpa o quarto.
A Joana em casa limpa o quarto.
A Joana limpa o quarto em casa.
4.
No Algarve a Sandra vai à piscina da tia.
A Sandra vai à piscina da tia no Algarve.
5.
No parque a Sara perdeu a boneca.
A Sara no parque perdeu a boneca.
A Sara perdeu a boneca no parque.
6.
Na rua a Carolina apanhou uma flor do jardim.
A Carolina apanhou uma flor do jardim na rua.
7.
A casa da Sara tem um jardim.
O menino foi a casa da Sara.
8.
Na escola a Francisca foi à sala da irmã.
A Francisca foi à sala da irmã na escola.
9.
O carro do Manuel é amarelo.
A ursa está no carro do Manuel.
III – TAREFA DE IDENTIFICAÇÃO
Instrução: Eu vou dizer-te três frases. Há uma que não pertence ao grupo. Quero que me digas qual
é a frase que não pertence ao grupo, a que achas que é diferente. Por exemplo, nas frases (a) O João
é bonito; (b) O João é alto e (c) O João é meu, a frase (c) não pertence ao grupo.
Itens de treino (a terapeuta produz as 3 frases, dá a instrução e diz se a resposta está ou não
correcta):
Adjectivos:
d) A bola é amarela.
d) As calças de fazenda são minhas.
e) A bola é minha.
e) As calças muito rasgadas são minhas.
f) A bola é grande.
f) As calças bem passadas são minhas.
Nomes:
d) Os rapazes correram.
d) Esta menina brinca no recreio.
e) Estas meninas chegaram.
e) Vi um jogo na televisão.
f) Comemos muitos bolos.
f) O pai lê o jornal.
167
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Verbos:
d) A mãe comprou um jogo.
d) O avô assistiu ao filme.
e) O bebé da Rita nasceu.
e) A mãe escreveu uma carta.
f) Esta meninas das tranças caiu.
f) A Rita obedeceu à mãe.
Itens de teste (a terapeuta regista a resposta da criança, sem qualquer tipo de ajuda):
Adjectivos
10.
a) A mala é azul.
11.
a) A casa está aqui.
b) A mala é minha.
b) A casa está pintada.
c) A mala é grande.
c) A casa está bonita.
12.
13. a) A casa bem pintada está aqui.
a) A bola de futebol é branca.
b) A bola de futebol é pequena.
b) A casa de pedra está aqui.
c) A bola de futebol é minha.
c) A casa muito grande está aqui.
14. a) A camisola de lã é minha.
b) A camisola bem lavada é minha.
c) A camisola muito grande é minha.
Nomes
15.
a) Fizemos muitos gelados.
16.
a) Os rapazes brincam na rua
b) As meninas brincaram.
b) Lemos o jornal na rua.
c) Estes atletas correram.
c) Aquelas senhoras caíram na rua.
17.
18. a) A tia mais alta espirrou.
a) O João adormeceu na cama.
b) Vi um filme na televisão.
b) O amigo do João saiu.
c) Esta menina brinca na rua.
c) A mãe da Rita chegou.
10. a) O livro muito grande caiu.
14. a) Aquela menina loira é bonita.
b) O livro menos sujo caiu.
b) Os meninos altos são giros.
c) O livro da menina caiu.
c) Somos todos muito morenos.
15. a) O avô do João joga xadrez.
16. a) Fizemos um trabalho grande.
b) As irmãs da mãe cozinham bem.
b) Fantasmas metem muito medo
c) Brinquei com os meus primos.
c) Elefantes são animais selvagens.
14. a) Limões são frutos amarelos.
15. a) Bolos são guloseimas boas.
b) Coelhos comem muitas cenouras.
b) Encontrámos uma boneca grande.
c) Brincamos sempre no intervalo.
c) Elefantes são animais grandes.
168
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Verbos
 Verbos intransitivos
22. a) O pai comprou um carro.
23. a) Os colegas da escola sorriram
b) A minha sobrinha já nasceu.
b) A avó da Rita espirrou.
c) O jogador de futebol caiu.
c) O pai lê o jornal.
24. a) Ela comprou um livro.
b) O bebé dorme bem.
c) Aquela criança chora muito.
 Verbos transitivos directos
25. a) A mãe embala o bebé.
26. a) A tia fez um sumo.
c) O pai ouviu a música.
b) O Pedro foi a Paris.
c) Este menino escreveu um livro.
d) O atleta mais alto caiu.
27. a) Os músicos ganharam o concurso.
b) Estes alunos estudaram muito bem.
c) As irmãs compraram um bolo.
Estimulo
a)
Resultado
b)
c)
Adjectivos
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Nomes
7.
8.
9.
10.
11.
12.
169
Pontuação
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
13.
14.
15.
Verbos
- Verbos intransitivos
16.
17.
18.
- Verbos transitivos directos
19.
20.
21.
IV – TAREFA DE SUBSTITUIÇÃO
Instrução: Eu vou dizer-te umas frases e quero que digas outra frase igual em tudo menos na
palavra que eu disser. Por exemplo: Esta saia (pasta, boneca) da Ana é verde. Diz outra frase igual
em tudo menos na palavra X. Só podes mudar mesmo esta palavra. Assim, poderíamos dizer Esta
pasta da Ana é verde. Vou dar-te mais alguns exemplos:
Itens de treino (o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase, dando a hipótese de
substituição):
g) Aquele carro (gelado, caderno) é meu.
h) Esse menino tem um jogo (lápis, computador)
i) O João espirrou (cantou, saltou).
j) A menina fez (bebeu, entornou) um sumo.
k) O sapato está roto (velho, estragado).
l) O Miguel tem uma bola furada (redonda, pequena).
Itens de treino pela negativa (itens representativos daquilo que a criança não deve fazer):
d) Aquele carro é meu – Aquele jogo é do João.
e) A menina fez um sumo – A menina comprou um bolo.
f) O sapato está roto – O casaco está roto.
Itens de teste (Novamente o terapeuta diz a frase, dá a instrução e volta a repetir a frase registando a
resposta da criança):
Frase
Substituição
1- Este menino jogou à bola no recreio.
170
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
2- O bebé chora quando acorda.
3- O menino está zangado.
4- As crianças dormem à noite.
5- Aquela boneca da Maria é cor-de-rosa.
6- Os cães são muito espertos.
7- O meu pai dança.
8- Aquela linda casa é grande.
9- O João comprou um boneco.
10- Aquela ponte é muito perigosa.
11- O Pedro tem um carro.
12- O Noddy tem um barrete engraçado.
13- Eu vi um grande livro.
14- Eu tenho um gato peludo.
15- A Mariana lê o livro.
16- O João vai à loja com a tia.
17- A Sara pintou um desenho.
18- A mãe comprou uma saia rasgada.
171
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Apêndice IV – Carta de apresentação do projecto
Lisboa, Maio de 2009
Exmo. Sr.(a) Presidente da Comissão Executiva
A signatária, aluna do mestrado de Terapia da Fala – área de Patologia da Linguagem da
Universidade Católica Portuguesa – Instituto de Ciências da Saúde em parceria com a Escola
Superior de Saúde do Alcoitão, encontra-se a realizar um trabalho final de investigação com vista a
construção de tarefas de avaliação de consciência linguística, cujo título é: A consciência sintáctica
em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação.
Neste sentido, solicita-se a V.Exa o consentimento para a realização de recolha de dados no âmbito
do referido projecto, com alunos do 1º e do 4º anos de escolaridade.
O estudo implica a avaliação de cada criança através de quatro tarefas de conversação, com
respectiva gravação áudio e realizada uma única vez na própria escola, devendo ocorrer no período
decorrente entre Maio e Junho, com a duração média de 30 minuto. Os dados a obter destinam-se
apenas a fins académicos e científicos, sendo confidenciais.
Caso a realização do respectivo projecto seja aceite, solicito a disponibilização de uma lista
dos alunos que frequentam os 1º e 4º anos da escola, para realizar a respectiva selecção aleatória da
amostra.
Grata pela disponibilidade, aguardo a sua resposta,
___________________________________,
Rita Maria Pereira Alexandre
Para qualquer esclarecimento:
172
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Apêndice V – Carta de pedido de autorização aos encarregados de educação
Lisboa, ________ de ____________ de 2009
Exmº Encarregado de Educação,
A signatária, aluna do mestrado de Terapia da Fala – área de Patologia da Linguagem da
Universidade Católica Portuguesa – Instituto de Ciências da Saúde em parceria com a Escola
Superior de Saúde do Alcoitão, está a realizar um trabalho final de investigação com vista a
construção de tarefas de avaliação de consciência linguística, cujo título é: A consciência sintáctica
em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação.
Neste sentido já foi obtido consentimento do Agrupamento de Escolas da Pontinha.
O estudo implica a avaliação de cada criança através de quatro tarefas de conversação, com
respectiva gravação áudio e realizada uma única vez na própria escola, devendo ocorrer no período
decorrente entre Maio e Junho. Os dados a obter destinam-se apenas a fins académicos e científicos,
sendo confidenciais.
Caso concorde, agradeço que preencha o destacável em baixo e o entregue ao professor
titular da turma.
Grata pela disponibilidade,
___________________________________,
Rita Maria Pereira Alexandre
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Eu, ___________________________________________________, Encarregado de Educação do
aluno _____________________________________________, declaro que autorizo o meu
educando a participar no estudo que visa a construção de tarefas de avaliação de consciência
sintáctica, em curso na escola que frequenta.
____ / ____ / ____
______________________________
(Assinatura)
173
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Apêndice VI – Estatística Inferencial - Testes de Normalidade
Quadro 175 - Testes de normalidade para a pontuação total da tarefa de manipulação
Testes de Normalidade
Kolmogorov-Smirnova
Grupo
PontuaçãoTotal
Statistic
df
Shapiro-Wilk
Sig.
Statistic
df
Sig.
1º ano género feminino
,285
18
,000
,839
18
,006
1º ano género masculino
,131
22
,200*
,973
22
,774
4º ano género feminino
,218
23
,006
,907
23
,035
4º ano género masculino
,216
21
,012
,900
21
,035
a. Lilliefors Significance Correction
*. This is a lower bound of the true significance.
Quadro 176 - Testes de normalidade para a pontuação de nomes, verbos e adjectivos
Testes de Normalidade
Kolmogorov-Smirnova
Grupo
PontuaçãoNome
PontuaçãoVerbo
PontuaçãoAdjectivo
Statistic
df
Shapiro-Wilk
Sig.
Statistic
df
Sig.
1º ano género feminino
,161
18
,200*
,939
18
,281
1º ano género masculino
,205
22
,016
,914
22
,056
4º ano género feminino
,251
23
,001
,822
23
,001
4º ano género masculino
,205
21
,022
,870
21
,009
1º ano género feminino
,253
18
,004
,844
18
,007
1º ano género masculino
,138
22
,200*
,937
22
,168
4º ano género feminino
,246
23
,001
,820
23
,001
4º ano género masculino
,296
21
,000
,774
21
,000
1º ano género feminino
,201
18
,054
,878
18
,024
1º ano género masculino
,311
22
,000
,840
22
,002
4º ano género feminino
,384
23
,000
,673
23
,000
4º ano género masculino
,379
21
,000
,687
21
,000
a. Lilliefors Significance Correction
*. This is a lower bound of the true significance.
174
A consciência sintáctica em crianças do 1º ciclo de escolaridade: construção e aplicação de uma tarefa de manipulação
Quadro 177 - Testes de normalidade para a pontuação de nomes consoante a posição, de verbos consoante a classe e de adjectivos
consoante a função do SA
Testes de Normalidade
Kolmogorov-Smirnova
Grupo
PontuaçãoNomesIniciais
PontuaçãoNomesFinais
PontuaçãoVerbIntra
PontuaçãoVerbTran
PontuaçãoAdjPred
PontuaçãoAdjMod
Statistic
df
Shapiro-Wilk
Sig.
Statistic
df
Sig.
1º ano género feminino
,205
18
,043
,876
18
,023
1º ano género masculino
,195
22
,029
,875
22
,010
4º ano género feminino
,305
23
,000
,757
23
,000
4º ano género masculino
,339
21
,000
,745
21
,000
1º ano género feminino
,256
18
,003
,817
18
,003
1º ano género masculino
,248
22
,001
,869
22
,008
4º ano género feminino
,398
23
,000
,661
23
,000
4º ano género masculino
,295
21
,000
,773
21
,000
76-95 sexo feminino
,202
18
,051
,864
18
,014
76-95 sexo masculino
,227
22
,004
,873
22
,009
109-125 sexo feminino
,373
23
,000
,702
23
,000
109-125 sexo masculino
,457
21
,000
,569
21
,000
1º ano género feminino
,463
18
,000
,554
18
,000
1º ano género masculino
,282
22
,000
,841
22
,002
4º ano género feminino
,378
23
,000
,691
23
,000
4º ano género masculino
,408
21
,000
,658
21
,000
1º ano género feminino
,376
18
,000
,699
18
,000
1º ano género masculino
,290
22
,000
,793
22
,000
4º ano género feminino
,499
23
,000
,463
23
,000
4º ano género masculino
,502
21
,000
,434
21
,000
1º ano género feminino
,244
18
,006
,804
18
,002
1º ano género masculino
,223
22
,006
,847
22
,003
4º ano género feminino
,424
23
,000
,633
23
,000
4º ano género masculino
,408
21
,000
,658
21
,000
a. Lilliefors Significance Correction
175
Download