– Antropologia Cultural ______________________________________________________________ FATEBOV ___________________________________________________ Programa de Convalidação de Bacharel em Teologia FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia FUNDAMENTOS SÓCIO-ANTROPOLÓGICOS Carga Horária: 40horas-aula EMENTA Análise do fenômeno educativo e suas múltiplas inferfaces: política, cultural, social, econômica etc, por meio do resgate das concepções do homem e da sociedade em que ele esta inserido e diante das relações com as transformações do mundo do trabalho, a partir das referências teóricas construídas no âmbito das ciências humanas e sócias, numa perspectiva interdisciplina , caracterizada pelas interfaces entre os enfoques sociológicos, antropológico e psicológico. OBJETIVOS Compreender os princípios que regem os fatos sociais e distinguir as formas de organização da sociedade em sistemas integrados. Possibilitar ao aluno o contato com as formulações teóricas e práticas das áreas de sociologia e antropologia na educação acerca do fenômeno educacional e dos determinantes sócio-culturais do espaço escolar. Desenvolver o raciocínio sociológico e o olhar antropológico essencial ao exercício da licenciatura. Discutir, em nível introdutório, a produção do conhecimento sociológico e antropológico, considerando os fundamentos histórico-sociais e a especificidade e complexidade do estudo científico dos fenômenos sociais. Discutir os conceitos fundamentais da Teoria Sociológica e antropológica necessários à compreensão e análise explicativa da realidade social. Discutir os principais processos envolvidos na formação e dinâmica da sociedade, com ênfase na natureza, reprodução e transformação da sociedade de classe. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 2 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Fundamentos sociológicos. Antropologia cultural: definição; evolução histórica O que é sociologia, sua origem, seus principais conceitos Cultura: conceito, função da cultura, cultura e sub-cultura; cultura popular; o folclore Racionalidade e conhecimento: as diversas etapas do conhecimento. Conhecimento científico e conhecimento popular Objeto e método da sociologia da educação. Educação, escola e sociedade O que é antropologia Conceitos básicos O campo e a abordagem da antropologia – o método etnográfico O que é cultura. Cultura x Natureza A alteridade e o etnocentrismo A cultura condicionante da visão do mundo do homem Desenvolvimento do sócio-antropológico Trajetória histórica do surgimento da ciência. O postivismo. Augusto Comte 2.2 - Herbert Spencer A contribuição de Emile Durkaheim para o estudo da educação 2.3 - Êmile Durkheim 2.4 - Karl Marx e Friedrick Engels A escola e a estratificação social. A alienação em Karl Marx Louis Althusser e os aparelhos ideológicos de Estado Desafios da realidade sócio-cultural contemporânea 5.1- Neoliberalismo 5.2- Globalização Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 3 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia ÍNDICE 1. FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS 5 1.1. Correntes Sociológicas 8 1.2. A ciência da sociologia 10 1.3. Comparação com outras Ciências Sociais 11 1.4. Sociologia da Ordem e Sociologia da Crítica da Ordem 12 1.5. A evolução da sociologia como disciplina 12 1.6. Áreas de estudo em Sociologia 13 2. ANTROPOLOGIA CULTURAL 15 2.1-.Definições 15 2.2. Evolução Histórica 16 3. ANTROPOLOGIA FÍSICA 16 4. CULTURA 18 4.1. Conceito 18 4.2. Função da Cultura 20 4.3. Cultura e Sub-cultura 22 4.4. Cultura Popular 25 4.5. O Folclore 27 5. ORIENTAÇÃO PARA ESTUDOS 30 6. BIBLIOGRAFIA 31 Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 4 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 1. FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS Interações sociais e suas consequências são interesses comuns na sociologia. A Sociologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e os meios de comunicação em função do meio e os processos que interligam o indivíduo em associações, grupos e instituições. Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos diversos, e interagem no seu interior. Os resultados da pesquisa sociológica não são de interesse apenas de sociólogos. Cobrindo todas as áreas do convívio humano — desde as relações na família até a organização das grandes empresas, o papel da política na sociedade até o comportamento religioso — a Sociologia pode vir a interessar, em diferentes graus de intensidade, a administradores, políticos, empresários, juristas, professores em geral, publicitários, jornalistas, planejadores, sacerdotes, mas, também, ao homem comum. Entretanto, o maior interessado na produção e sistematização do conhecimento sociológico é o Estado, normalmente o principal financiador da pesquisa desta disciplina científica. Assim como toda ciência, a Sociologia pretende explicar a totalidade do seu universo de pesquisa. Ainda que esta tarefa não seja objetivamente alcançável, é tarefa da Sociologia transformar as malhas da rede com a qual a ela capta a realidade social cada vez mais estreitas. Por essa razão, o conhecimento sociológico, através dos seus conceitos, teorias e métodos, pode constituir para as pessoas um excelente instrumento de compreensão das situações com que se defrontam na vida quotidiana, das suas múltiplas relações sociais e, conseqüentemente, de si mesmas como seres inevitavelmente sociais. A Sociologia ocupa-se, ao mesmo tempo, das observações do que é repetitivo nas relações sociais, para daí formular generalizações teóricas, como também de eventos únicos e sujeitos à inferência sociológica, como o surgimento do capitalismo ou a gênese do Estado Moderno, para explicá-los no seu significado e importância singular. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 5 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia A Sociologia surgiu como uma disciplina no século XIX, na forma de uma resposta acadêmica para um desafio de modernidade: se o mundo está ficando mais integrado, a experiência de pessoas do mundo é crescentemente atomizada e dispersada. Sociólogos não só esperavam entender o que unia os grupos sociais, mas também desenvolver um "antídoto" para a desintegração social. Hoje os sociólogos pesquisam macroestruturas inerentes à organização da sociedade, como raça ou etnicidade, classe e gênero, além de instituições como a família; processos sociais que representam divergência, ou desarranjos, nestas estruturas, inclusive crime e divórcio. E pesquisam os microprocessos como relações interpessoais. Sociólogos fazem uso freqüente de técnicas quantitativas de pesquisa social (como a estatística) para descrever padrões generalizados nas relações sociais. Isto ajuda a desenvolver modelos que possam entender mudanças sociais e como os indivíduos responderão a essas mudanças. Em alguns campos de estudo da Sociologia, as técnicas qualitativas — como entrevistas dirigidas, discussões em grupo e métodos etnográficos — permitem um melhor entendimento dos processos sociais de acordo com o objetivo explicativo. Os cursos de técnicas quantitativas/qualitativas servem, normalmente, a objetivos explicativos distintos ou dependem da natureza do objeto explicado por certa pesquisa sociológica: o uso das técnicas quantitativas é associado às pesquisas macro-sociólogicas; as qualitativas, às pesquisas micro-sociológicas. Entretanto, o uso de ambas as técnicas de coleta de dados pode ser complementar, uma vez que os estudos micro-sociológicos podem estar associados ou ajudarem no melhor entendimento de problemas macro-sociológicos (ver: Elias, Norbert. Os Estabelecidos e os Outsiders. Rio de Janeiro, Jorger Zahar Ed., 2000. Introdução e cap. 1, pp. 19-60). A Sociologia é uma área de interesse muito recente, mas foi a primeira ciência social a se institucionalizar. Antes, portanto, da Ciência Política e da Antropologia. Em que pese o termo Sociologie tenha sido criado por Auguste Comte, que esperava unificar todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia, Montesquieu também pode ser encarado como um dos fundadores da Sociologia - talvez como o último pensador clássico ou o primeiro pensador moderno. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 6 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia Em Comte, seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os remédios para os problemas de ordem social. As transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas no século XVIII, como as Revoluções Industrial e Francesa, colocaram em destaque mudanças significativas da vida em sociedade com relação a suas formas passadas, baseadas principalmente nas tradições. A Sociologia surge no século XIX como forma de entender essas mudanças e explicá-las. No entanto, é necessário frisar, de forma muito clara, que a Sociologia é datada historicamente e que o seu surgimento está vinculado à consolidação do capitalismo moderno. Esta disciplina marca uma mudança na maneira de se pensar a realidade social, desvinculando-se das preocupações especulativas e metafísicas e diferenciando-se progressivamente enquanto forma racional e sistemática de compreensão da mesma. Assim é que a Revolução Industrial significou, para o pensamento social, algo mais do que a introdução da máquina a vapor. Ela representou a racionalização da produção da materialidade da vida social. O triunfo da indústria capitalista foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o controle de um grupo social, convertendo grandes massas camponesas em trabalhadores industriais. Neste momento, se consolida a sociedade capitalista, que divide de modo central a sociedade entre burgueses (donos dos meios de produção) e proletários (possuidores apenas de sua força de trabalho). Há paralelamente um aumento do funcionalismo do Estado que representa um aumento da burocratização de suas funções e que está ligado majoritariamente aos estratos médios da população. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 7 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia O quase desaparecimento dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, e etc., tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modificar radicalmente suas formas tradicionais de vida. Não demorou para que as manifestações de revolta dos trabalhadores se iniciassem. Máquinas foram destruídas, atos de sabotagem e exploração de algumas oficinas, roubos e crimes, evoluindo para a criação de associações livres, formação de sindicatos e movimentos revolucionários. Este fato é importante para o surgimento da Sociologia, pois colocava a sociedade num plano de análise relevante, como objeto que deveria ser investigado tanto por seus novos problemas intrínsecos, como por seu novo protagonismo político já que junto a estas transformações de ordem econômica pôde-se perceber o papel ativo da sociedade e seus diversos componentes na produção e reprodução da vida social, o que se distingue da percepção de que este papel seja privilégio de um Estado que se sobrepõe ao seu povo. O surgimento da Sociologia prende-se em parte aos desenvolvimentos oriundos da Revolução Industrial, pelas novas condições de existência por ela criada. Mas uma outra circunstância concorreria também para a sua formação. Trata-se das modificações que vinham ocorrendo nas formas de pensamento, originada pelo Iluminismo. As transformações econômicas, que se achavam em curso no ocidente europeu desde o século XVI, não poderiam deixar de provocar modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura. 1.1. Correntes Sociológicas Porém, a Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação teórico-metodológica dominante. Ela traz diferentes estudos e diferentes caminhos para a explicação da realidade social. Assim, pode-se claramente observar que a Sociologia tem ao menos três linhas mestras explicativas, fundadas pelos seus autores clássicos, das quais podem se citar, não necessariamente em ordem de importância: (1) a Positivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comte e seu principal expoente clássico em Émile Durkheim, de Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 8 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia fundamentação analítica; (2) a sociologia compreensiva iniciada por Max Weber, de matriz teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e (3) a linha de explicação sociológica dialética, iniciada por Karl Marx que mesmo não sendo um sociólogo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica. Estas três matrizes explicativas, originadas pelos seus três principais autores clássicos, originaram quase todos os posteriores desenvolvimentos da Sociologia, levando à sua consolidação como disciplina acadêmica já no início do século XX. É interessante notar que a sociologia não se desenvolve apenas no contexto europeu. Ainda que seja relativamente mais tardio seu aparecimento nos Estados Unidos, ele se dá, em grande medida, por motivações diferentes que as da velha Europa (mas certamente influenciada pelos europeus, especialmente pela sociologia britânica e positivista de Herbert Spencer). Nos EUA a Sociologia esteve de certo modo "engajada" na resolução dos "problemas sociais", algo bem diverso da perspectiva acadêmica européia, especialmente a teuto-francesa. Entre os principais nomes do estágio inicial da sociologia norte-americana, podem ser citados: William I. Thomas, Robert E. Park, Martin Bulmer e Roscoe C. Hinkle. A Sociologia, assim, vai debruçar-se sobre todos os aspectos da vida social. Desde o funcionamento de estruturas macro-sociológicas como o Estado, a classe social ou longos processos históricos de transformação social ao comportamento dos indivíduos num nível micro-sociológico, sem jamais esquecer-se que o homem só pode existir na sociedade e que esta, inevitavelmente, lhe será uma "jaula" que o transcenderá e lhe determinará a identidade. Para compreender o surgimento da sociologia como ciência do século XIX, é importante perceber que, nesse contexto histórico social, as ciências teóricas e experimentais desenvolvidas nos séculos XVII, XVIII e XIX inspiraram os pensadores a analisar as questões sociais, econômicas, políticas, educacionais, psicológicas, com enfoque científico. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 9 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 1.2. A ciência da sociologia Ainda que a Sociologia tenha emergido em grande parte da convicção de Comte de que ela eventualmente suprimiria todas as outras áreas do conhecimento científico, hoje ela é mais uma entre as ciências. Atualmente, ela estuda organizações humanas, instituições sociais e suas interações sociais, aplicando mormente o método comparativo. Esta disciplina tem se concentrado particularmente em organizações complexas de sociedades industriais. Ao contrário das explicações filosóficas das relações sociais, as explicações da Sociologia não partem simplesmente da especulação de gabinete, baseada, quando muito, na observação casual de alguns fatos. Muitos dos teóricos que almejavam conferir à sociologia o estatuto de ciência, buscaram nas ciências naturais as bases de sua metodologia já mais avançada, e as discussões epistemológicas mais desenvolvidas. Dessa forma foram empregados métodos estatísticos, a observação empírica, e um ceticismo metodológico a fim de extirpar os elementos "incontroláveis" e "dóxicos" recorrentes numa ciência ainda muito nova e dada a grandes elucubrações. Uma das primeiras e grandes preocupações para com a sociologia foi eliminar juízos de valor feitos em seu nome. Diferentemente da ética, que visa discernir entre bem e mal, a ciência se presta à explicação e à compreensão dos fenômenos, sejam estes naturais ou sociais. Como ciência, a Sociologia tem de obedecer aos mesmos princípios gerais válidos para todos os ramos de conhecimento científico, apesar das peculiaridades dos fenômenos sociais quando comparados com os fenômenos de natureza e, conseqüentemente, da abordagem científica da sociedade. Tais peculiaridades, no entanto, foram e continuam sendo o foco de muitas discussões, ora tentando aproximar as ciências, ora afastando-as e, até mesmo, negando às humanas tal estatuto com base na inviabilidade de qualquer controle dos dados tipicamente humanos, considerados por muitos, imprevisíveis e impassíveis de uma análise objetiva. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 10 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 1.3. Comparação com outras Ciências Sociais No começo do século XX, sociólogos e antropólogos que conduziam estudos sobre sociedades não-industrializadas ofereceram contribuições à Antropologia. Deve ser notado, entretanto, que mesmo a Antropologia faz pesquisa em sociedades industrializadas; a diferença entre Sociologia e Antropologia tem mais a ver com os problemas teóricos colocados e os métodos de pesquisa do que com os objetos de estudo. Quanto a Psicologia social, além de se interessar mais pelos comportamentos do que pelas estruturas sociais, ela se preocupa também com as motivações exteriores que levam o indivíduo a agir de uma forma ou de outra. Já o enfoque da Sociologia é na ação dos grupos, na ação geral. Já a Economia diferencia-se da Sociologia por estudar apenas um aspecto das relações sociais, aquele que se refere a produção e troca de mercadorias. Nesse aspecto, como mostrado por Karl Marx e outros, a pesquisa em Economia é freqüentemente influenciada por teorias sociológicas. Por fim, a Filosofia social intenta criar uma teoria ou "teorias" da sociedade, objetivando explicar as variâncias no comportamento social em suas ordens moral, estética e históricas. Esforços nesse sentido são visíveis nas obras de modernos teóricos sociais, reunindo um arcabouço de conhecimento que entrelaça a filosofia hegeliana, kantista, a teoria social de Marx e, ao mesmo tempo, Max Weber, utilizando-se de valores morais e políticos do iluminismo liberal mesclados com os ideais socialistas. À primeira vista, talvez, seja complexo apreender tal abordagem. Entretanto, as obras de Max Horkheimer, Theodor Adorno, Jürgen Habermas, entre outros, representam uma das mais profícuas vertentes da filosofia social, representada por aquilo que ficou conhecido como Teoria Crítica ou, como mais popularmente se diz, Escola de Frankfurt. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 11 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 1.4. Sociologia da Ordem e Sociologia da Crítica da Ordem A Sociologia, em vista do tipo de conhecimento que produz, pode servir a diferentes tipos de interesses. A produção sociológica pode estar voltada para engendrar uma forma de conhecimento comprometida com emancipação humana. Ela pode ser um tipo de conhecimento orientado no sentido promoção do melhor entendimento dos homens acerca de si mesmos, para alcançar maiores patamares de liberdades políticas e de bem-estar social. Por outro lado, a Sociologia pode ser orientada como uma 'ciência da ordem', isto é, seus resultados podem ser utilizados com vistas à melhoria dos mecanismos de dominação por parte do Estado ou de grupos minoritários, sejam eles empresas privadas ou Centrais de Inteligência, à revelia dos interesses e valores da comunidade democrática com vistas a manter o status quo. As formas como a Sociologia pode ser uma 'ciência da ordem' são diversas. Ela pode partir desde a perspectiva do sociólogo individual, submetendo a produção do conhecimento não ao progresso da ciência por si ou da sociedade, mas aos seus interesses materiais imediatos. Há, porém, o meio indireto, no qual o Estado, como principal ente financiador de pesquisas nas áreas da sociologia escolhe financiar aquelas pesquisas que lhe renderam algum tipo de resultado ou orientação estratégicas claras: pode ser tanto como melhor controlar o fluxo de pessoas dentro de um território, como na orientação de políticas públicas promovidas nem sempre de acordo com o interesse das maiorias ou no respeito às minorias. Nesse sentido, o uso do conhecimento sociológico é potencialmente perigoso, podendo mesmo servir à finalidades anti-democráticas, autoritárias e arbitrárias. 1.5. A evolução da sociologia como disciplina A sociologia no mundo foi se mostrando presente em várias datas importantes desde as Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 12 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia grandes revoluções, desde lá cada vez mais foi de fundamental participação para a sociedade mundial e também brasileira. Desde o início a sociologia vem se preocupando com a sociedade no seu interior, isto diz respeito, por exemplo, aos conflitos entre as classes sociais. Na América Latina, por exemplo, a sociologia sofreu influencias americanas e européias, na medida em que as suas preocupações passam a ser o subdesenvolvimento, ela vai sofrer influências das teorias marxistas. No Brasil nas décadas de 20 e 30 a sociologia estava num estudo sobre a formação da sociedade brasileira, e analisando temas como abolição da escravatura, êxodos, e estudos sobre índios e negros. Nas décadas seguintes de 40 e 50 a sociologia voltou para as classes trabalhistas tais como salários e jornadas de trabalho, e também comunidades rurais. Na década de 60 a sociologia se preocupou com o processo de industrialização do país, nas questões de reforma agrária e movimentos sociais na cidade e no campo e a partir de 1964 o trabalho dos sociólogos se voltou para os problemas sócio-políticos e econômicos originados pela tensão de se viver em um país cuja forma de poder é o regime militar. Na década de 80 a sociologia finalmente volta a ser disciplina no ensino médio,e também ocorreu a profissionalização da sociologia. Além da preocupação com a economia política e mudanças sociais apropriadas com a instalação da nova republica, voltam também em relação ao estudo da mulher, ao trabalhador rural, e outros assuntos culminantes. 1.6. Áreas de estudo em Sociologia Os sociólogos estudam uma variedade muito grande de assuntos. Segue uma pequena lista de áreas e tópicos de estudo na Sociologia. Demografia social Micro-sociologia Sociologia ambiental Sociologia da arte Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 13 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia Sociologia do conhecimento Sociologia da ciência Sociologia da cultura Sociologia econômica Sociologia da comunicação Desenvolvimento econômico Sociologia das Organizações Sociologia da educação Sociologia das histórias em quadrinhos Sociologia industrial Sociologia jurídica Sociologia médica Sociologia do esporte Sociologia política Sociologia das relações de gênero Sociologia da religião Sociologia rural Sociologia do trabalho Sociologia urbana Sociologia da Violência e da Criminalidade . Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 14 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 2. ANTROPOLOGIA CULTURAL 2.1. Definições Segundo o Dicionário de Antropologia: “é o corpo de disciplinas que se consagram ao estudo dos grupos humanos sob o prisma dos tipos físicos e biológicos e sob o prisma das formas de civilização sem escrita atualmente existentes... é a ciência do homem tomado na totalidade das suas manifestações e das suas dimensões”. O termo “Antropologia” vem do grego antropos = homem e logia = estudo. Daí a definição de que antropologia é o estudo, ou tratado do homem. É a ciência que estuda o homem. Etimologicamente significa o ramo dos saber que tem por objeto de estudo, o homem. Segundo Broca, “antropologia é a ciência que tem por objeto o grupo humano, considerado no seu conjunto, nos seus pormenores e nas suas relações com o resto da natureza”. Já para Lehman Nitsche, “a antropologia é o estudo físico e psíquico do gênero humano, no ponto de vista comparado”. Isto é, comparativamente com os outros animais e das raças humanas entre si. O professor Mendes Corrêa enunciou, dizendo que “ a antropologia estuda os caracteres humanos, físicos e psíquicos, que tem sob o triplo ponto de vista: a) Da posição do homem na escala zoológica; b) Da origem do homem e conhecimento dos primeiros hominídeos; c) Da classificação das raças, povos e tipos humanos.” Em poucas palavras e de uma maneira simples, definimos antropologia como a ciência que estuda o homem, e tudo que o envolve, física e psiquicamente. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 15 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 2.2. Evolução Histórica A antropologia começou a desenvolver-se especificamente como ciência na segunda metade do século XIX, num momento histórico em que as coleções etnológicas, antes meras curiosidades de particulares, passavam a constituir verdadeiros museus, e em que os conhecimentos da cultura européia sobre outros povos começavam a ser sistematizados e submetidos a revisões metódicas. O aparecimento do darwinismo, com o debate sobre a origem do homem, suscitou o início do estudo comparativo das diversas línguas; esse fator e o interesse em conhecer a história de outras culturas distanciadas da Europa fizeram convergir os esforços dos pesquisadores, até que se aglutinassem numa só ciência - a antropologia - as descobertas, os procedimentos, os métodos e os achados de muitas outras que, sob ângulos diversos, empreenderam o estudo das sociedades humanas. Ao longo de duas décadas, entre 1840 e 1860, apareceram sucessivamente as sociedades antropológicas de Londres, dos Estados Unidos e de Paris, as quais agrupavam peritos oriundos de variados campos - zoologia, fisiologia, geografia, geologia, lingüística e outras ciências -, unidos no interesse comum pelo estudo homem. 3. ANTROPOLOGIA FÍSICA Como se viu, na segunda metade do século XIX ficou bem clara uma primeira diferenciação dos estudos antropológicos entre os que se referiam ao homem como ser social e os que o tomavam como objeto de estudo do ponto de vista de suas características biológica. Desde então, a antropologia física se desenvolveu em torno de dois objetivos principais: de um lado, o desejo de encontrar o lugar que o homem ocupa dentro da classificação animal, e averiguar Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 16 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia sua história natural. De outro, a intenção de oferecer uma definição inequívoca das diversas categorias em que se pode dividir o conjunto do gênero humano, de acordo com as diferenças biológicas que os homens apresentam entre si. O primeiro desses objetivos se traduziu na tentativa por parte dos pesquisadores, de reconstruir a linha evolutiva que teria vindo dos primatas até o homem. Foi essa tarefa que se popularizou, na segunda metade do século XIX, com o nome de “busca do elo perdido”. No século XX, a matéria adquiriu um caráter mais científico e se vinculou estreitamente com a paleontologia ou estudo dos fósseis. Importantes descobertas de “homens macacos”, primeiro na África oriental, permitiram um conhecimento mais precioso da evolução dos hominídeos. Destacaram-se nesse nesses trabalhos antropólogos como os da família queniana Leaky (Louis Seymour Blazett e Mary, assim como o filho do casal, Richard) e o americano D. C. Johanson. Curiosamente, essa disciplina adquiriu tal importância nos países da Europa continental, tais pesquisas não costumam ser consideradas propriamente antropológicas e são classificadas como uma forma de paleontologia, a qual é vista como um instrumento da outra. De qualquer modo, realizaram-se classificações raciais bastante complexas, mais que logo demonstrariam sua insuficiência, já que se guiavam basicamente pelo critério de dar importância maior aos traços mais visíveis do corpo humano formato do rosto, cor da pele etc. - que não são necessariamente os traços diferenciadores mais importantes. Por volta de 1900, desencavaram-se os velhos trabalhos de Mendel sobre a hereditariedade, publicados 35 anos antes, e rapidamente a ciência da genética ganhou enorme vigor. Por outro lado, a descoberta dos grupos sangüíneos, seguida de muito perto pelas outras relativas às características bioquímicas do corpo humano, pôs a descoberto a superficialidade das classificações raciais baseadas nas características morfológicas externas. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 17 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 4. CULTURA 4.1. Conceito Proveniente de “culto”, que significa atitude de veneração e respeito à coisa alguma ou alguém, a cultura é o conjunto de atitudes e modos de agir característicos do homem, que exerce no meio e/ou em os mesmos visando uma transformação de forma a melhorar sua condição de vida. A cultura se transmite de uma a outra geração, formando um sistema de comportamentos humanos. Mas não é só isso. Cultura e o conjunto de conhecimentos de alguém; instrução. Como podemos ver, a cultura e empregada em dois sentidos principais: a) Sentido absoluto, filosófico e pedagógico: Diferencia de civilização, designa a vida intelectual de pensamento crítico e reflexivo de um indivíduo, de uma época ou de um país. b) Sentido relativo, antropológico, sociológico, etnográfico: Designa aquele conjunto de estilos, de métodos, de valores materiais juntamente com os morais que caracterizam um povo ou sociedade. Compreende por um lado, um acervo de objetos, utensílios e instrumentos. E, por outro lado, um conjunto de hábitos corporais ou mentais que servem direta ou indiretamente para a satisfação de necessidades humanas. Muitos podem perguntar: Qual é a melhor cultura? Ou, existe uma cultura modelo? A resposta é que não há cultura melhor que a outra. Não podemos dizer que um “civilizado” é melhor que um índio nativo. O conceito de certo e errado para um “civilizado” é diferente para um nativo. Os valores e os padrões podem ser diferentes e não serem errados, piores ou melhores. Tudo depende do ponto de vista cultural de cada um. É muito comum acharmos que nossa cultura é melhor que uma outra, baseando apenas no nosso conceito, daquilo que nos rodeia e que nos é comum. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 18 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia Com os padrões de comportamento predominantes nas relações entre animais não-humanos são transmitidos pela herança biológica, usa-se denominar, a exemplo de Kingsley Davis, essas sociedades de sistemas biossociais. As formas de organização das relações sociais entre os homens, pelo fato de elas se basearem em padrões artificiais, não derivados das características orgânicas específicas da nossa espécie, são classificadas como sistemas bio-sócio-culturais, segundo a denominação do mesmo sociólogo, pois o que caracteriza a sociedade humana é precisamente a cultura. Mas o que significa cultura para o cientista social? O sentido sociológico da palavra cultura não é o mesmo da linguagem do senso comum. Na linguagem cotidiana, a palavra cultura é empregada com vários significados. Ora significa erudição, grande soma de conhecimentos, quando, por exemplo, se diz que “fulano tem cultura”, ora significa determinado tipo de realização humana, como a arte, a ciência e a filosofia. Isto sem falar no sentido agrícola original da expressão. Já, o sentido sociológico dessa palavra não se limita a essas acepções. É, no entanto, tão amplo que não exclui nenhum desses significados. Na linguagem sociológica, cultura é tudo que resulta da criação humana. A cultura, portanto, tanto compreende idéias quanto artefatos. É clássica a definição de Edward B. Tylor: “Um todo complexo que abarca conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e outras capacidades adquiridas pelo homem como integrante da sociedade.” O que deve ser ressaltado nessa definição é a indicação de que a cultura compreende todas as elaborações resultantes das “capacidades adquiridas pelo homem como integrante da sociedade”, pois a cultura, como já deve ter ficado claro, não decorre da herança biológica do homem, mas de capacidades por ele desenvolvidas através do convívio social. Só o homem, possui cultura. Todos os homens possuem culturas, no sentido de que, vivendo em sociedade, participam de alguma cultura. Ao contrário do que se afirma na linguagem vulgar, quando se diz que alguns indivíduos não tem cultura, a cultura não é exclusiva das pessoas letradas, já que qualquer indivíduo normalmente socializado participa dos Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 19 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia costumes, das crenças e de algum tipo de conhecimento da sua sociedade. Por esta razão, é comum o emprego, principalmente entre antropólogos, da expressão enculturação como sinônimo de socialização, já que esta implica necessariamente a interiorização da cultura pelo indivíduo. Todas as sociedades, e não apenas as que possuem escrita, têm uma cultura. Tanto a mais simples e isolada sociedade tribal quanto a mais complexa sociedade urbano-industrial possuem cultura. A cultura, compreendendo conhecimentos, técnicas de transformação da natureza, valores, crenças de todo o tipo, normas, é pois o modo de vida de cada povo. Ela é o fundamento da sociedade e o que distingue o homem dos animais irracionais. Cada povo, cada sociedade tem modo próprio de convívio que ele desenvolveu para a adaptação às circunstâncias ambientais. Ela é também a parte do ambiente resultante da transformação da natureza pelo homem. Por isto, a cultura é, por excelência, o domínio do artificial e do convencional. 4.2. Funções da Cultura Nascendo do trabalho humano para responder aos desafios da natureza, a cultura tem como função evidente satisfazer necessidades humanas. Quando o homem faz um instrumento de caça, é impelido pela necessidade de alimentar, quando confecciona um casaco com peles de animais, é levado pela necessidade de se proteger do frio. Mas esta não é a única função da cultura. Toda cultura compreende, além dos meios de satisfação convencionalmente correto de necessidades, de satisfazê-las, idéias isto é: a respeito normas. É do um modo fato tipicamente humano que a satisfação das necessidades seja culturalmente regulamentada. É próprio da condição social do homem que ele não apenas se preocupe com a satisfação das suas necessidades, mas também com as formas estabelecidas como corretas na cultura da sua sociedade para satisfazê-las, pois toda cultura é inevitavelmente necessidades humanas. Na medida em que a Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 20 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia cultura compreende uma regulamentação de satisfação de necessidades, ela estabelece limites a essa satisfação. Observe-se, por exemplo, a alimentação humana. O homem, como sabemos, é onívoro, no entanto, a sua alimentação, sendo culturalmente regulada, é seletiva. Alimentos tidos como nutritivos e agradáveis ao paladar em uma cultura, em outras não são sequer incluídos no cardápio do homem, mesmo sendo disponíveis no ambiente natural. Além do mais, a alimentação humana é feita dentro de ritmos culturalmente estabelecidos. Toda cultura não só estabelece que alimentos podem ou não ser comidos., não só as possibilidades de combinação, mas também as horas do dia em que determinados alimentos podem ser ingeridos. E isto é artificial. A alimentação humana é um exemplo do quanto a cultura molda as inclinações animais mais elementares do homem através da regulamentação da satisfação de necessidades. E assim ocorre com a satisfação de todas as necessidades humanas. Mas, além de possibilitar a satisfação das necessidades humanas e de limitar normativamente essa satisfação, a cultura também cria necessidades para o homem. As necessidades humanas não se restringem às estritamente decorrentes dos imperativos de sua condição animal. Mesmo estas, como já vimos, são moldadas pela cultura e por ele assimilado através da socialização. Veja-se, por exemplo, o vestuário. Como qualquer pessoa pode facilmente constatar, o vestuário não tem como principal função proteger o indivíduo dos rigores do clima. Tem, igualmente, uma função moral, associado que está às noções de decoro. Além dessas funções, tem ainda, uma função claramente simbólica. Estar na moda, quando ao vestuário, significa obedecer às normas referentes a essa área da vida social e, ao mesmo tempo, satisfazer uma necessidade estética cultural. Mesmo quando prevalecem as considerações morais na escolha e no uso do vestuário, ainda aí o indivíduo está simultaneamente obedecendo normas e satisfazendo necessidades psíquicas originadas na cultura, já que mesmo a observância de normas se torna uma necessidade, quando estas são suficientemente assimiladas pelos indivíduos. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 21 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia É oportuno notar que, proporcionando ao homem meios de satisfazer as suas necessidades, a cultura nem sempre é inteiramente harmonizada com as condições orgânicas da nossa espécie. Ao contrário. A cultura, em geral, implica alguma forma de violação da condição natural do homem. O uso do paletó e da gravata e de tecidos e cores incompatíveis com o Bem-estar humano em regiões de clima tropical são um exemplo do caráter arbitrário da cultura de como ela nem sempre representa a forma mais adequada de adaptação do homem às condições ambientais. 4.3. Cultura e Sub-cultura A cultura das sociedades simples, como notadamente as sociedades tribais, tende a possuir um grau muito alto de homogeneidade e de integração. O ritmo de transformação dessas culturas, como já foi observado, tende a ser lento, quando comparado com o ritmo da mudança nas sociedades complexas, como a sociedade em que vivemos. Quando afirmamos que a cultura das sociedades simples tem um alto grau de homogeneidade, estamos, de outro modo, dizendo que a grande maioria dos seus padrões são compartilhados por todos os seus participantes. Todos os indivíduos, nessas sociedades, participam das mesmas crenças e dos fundamentais, mesmos possuem valores motivos, básicos, observam sentimentos e as mesmas atitudes normas semelhantes, compartilham de formas análogas de perceber e interpretar as situações da existência. Isto não acontece nas sociedades complexas, como as predominantemente organizadas com base na industrialização e na urbanização. As culturas de tais sociedades são altamente heterogêneas. Nelas, a participação cultural dos indivíduos é fragmentada e diversificada. Por esta razão, para compreender as culturas das sociedades complexas em toda a sua diversificação é necessário identificar as subculturas que as compõem. Na linguagem sociológica, ao contrário do uso que se faz da palavra na linguagem do senso comum, subcultura Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 22 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia não significa cultura inferior. Subcultura significa parte de uma cultura. As subculturas sendo diferentes do todo, não são contudo, independentes da cultura total. Uma subcultura não é também um simples conjunto de pessoas. As pessoas participam de subculturas, mas não são as subculturas. Nas sociedades complexas, as pessoas tendem a participar simultaneamente de várias subculturas. Uma subcultura é antes constituída de valores, crenças, normas e padrões de comportamento, ou seja de um modo de vida próprio, compartilhados por uma parte da população total de uma sociedade. O que distingue uma subcultura é o fato de que as crenças, os valores, as normas e os padrões de comportamento que ela implica são exclusivos dela. Ao mesmo tempo, sendo parte de uma cultura total, uma subcultura participa do modo de vida comum da cultura total, o que equivale a dizer de todas as outras subculturas. Podemos, assim definir subcultura como parte de uma cultura, distinta desta última pela posse de crenças, valores, normas e padrões de comportamento exclusivos, mas dependente do todo através da participação de elementos culturais comuns ao todo. Do mesmo modo que uma subcultura não é um conjunto de pessoas, também não é necessariamente uma região. Existem, é verdade, subculturas regionais, ou seja, modos de vida culturalmente característicos de determinadas populações localizadas em uma região comum. Esse tipo de subcultura, porém é cada vez menos freqüente nas sociedades onde as comunicações de massa tenham um papel relevante. Será que ainda é possível a identificação no Brasil de subculturas regionais? Uma subcultura sulista típica, por exemplo, ou mesmo gaúcha? Uma subcultura da Região Norte? Uma subcultura nordestina? Uma subcultura de Copacabana-Ipanema-Leblon? Será que existe uma subcultura urbano-industrial paulista? Embora seja tentador tipificar o comportamento do brasileiro com base nessas sugestões de localização geográfica, é pelo menos aconselhável não negligenciar o risco de simplificação exagerada que a identificação de subculturas regionais pode ter no Brasil de hoje. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 23 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia Numa sociedade complexa como a nossa, mais viáveis são as subculturas não regionais, como as subculturas etárias, profissionais, religiosas etc. Os indivíduos que participam, por exemplo, da subcultura dos jovens de classe média alta urbana não estão necessariamente localizados em um mesmo espaço geográfico. As pessoas que compartilham de um modo de vida característico em razão da sua filiação religiosa também não estão situadas em uma área geográfica comum. Os indivíduos que participam de formas semelhantes de perceber e enfrentar situações sociais em decorrência de alguma profissão, do mesmo modo, não são confinados a um mesmo espaço geográfico. De especial importância nas sociedades complexas são as subculturas de classe. Estas constituem provavelmente o tipo mais evidente de subcultura nessas sociedades. Pertencer a uma determinada classe social, não significa apenas ter grau de escolaridade, significa também participar de certas crenças, possuir determinados valores morais e mesmo estéticos, ter determinadas aspirações, perceber a existência de um certo modo, pois as classes sociais tendem a possuir modos próprios de vida, isto é, subculturas correspondentes. O que torna possível a integração da cultura de uma sociedade complexa é a existência de elementos culturais comuns a todo, os chamados universais da cultura, segundo Ralph Linton, elementos compartilhados por todos os adultos socializados, independente da sua participação nas subculturas existentes: um idioma comum, os mesmos princípios éticos básicos, uma tradição histórica compartilhada e sentimentos de participação dessa tradição e da totalidade da cultura. Ao conjunto de valores, das crenças, das atitudes, dos sentimentos, dos motivos, das normas e dos padrões de comportamento compartilhados por todos os adultos socializados em uma cultura podemos denominar de núcleo de integração cultural, ou como é mais usual, cultura dominante. Na sociedade de classe da atualidade, não se deve subestimar o fato de que as classes dominantes, detendo a possibilidade de controle dos meios de comunicação de massa, desempenham um importante papel na difusão de padrões culturais e, conseqüentemente, no controle da cultura dominante. Este Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 24 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia fato, contudo, não significa que a cultura seja uma pura conseqüência das chamadas relações de classe. É evidente que a existência de classes sociais, ou de outras formas de estratificação, constitui um fenômeno de significativa relevância sociológica nas sociedades que conhecem esse tipo de desigualdade, mas isto não diminui a importância crucial da cultura na vida social, pois não é possível a compreensão sociológica das relações de classe pondo de lado os componentes culturais de tais relações como, de resto, de qualquer fenômeno social, de vez que a cultura perpassa tudo o que os seres humanos fazem em sociedade. 4.4. A Cultura Popular Outra parte da cultura merecedora de atenção nas sociedades complexas é a chamada cultura popular. Do mesmo modo que a cultura de massa, a cultura popular não se confirma a uma única subcultura, mas ao contrário daquela, não perpassa todas as subculturas. Enquanto a cultura de massa resulta da indústria cultural, a cultura popular está ligada àquelas subculturas nas quais a permanência de padrões tradicionais é mais forte. No Brasil, a cultura popular está presente em vária subculturas regionais espalhadas por todo o território nacional. Há, desse modo, uma cultura popular gaúcha como há uma cultura popular típica da Região Norte, bem como uma cultura popular nordestina. É comum a associação da idéia de cultura popular apenas às manifestações lúdicas: escolas de samba, maracatu, bumba-meu-boi, por exemplo – a à arte em geral – música, dança, cerâmica etc, mas a cultura popular não se restringe à diversão e às criações artísticas do povo. A cultura popular é uma realidade bem mais vasta do que estes campos da vida social, incluindo as práticas médica, por exemplo, como, acentuadamente, a linguagem, os meios de conviver, do ver e de sentir o mundo. Outro equívoco freqüente consiste em identificar a cultura popular com as anônimas do povo: as lendas, as cantigas de roda e de ninar. A cultura popular, Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 25 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia porém, tanto compreende as invenções anônimas do povo como inclui muitas criações, principalmente no campo das artes, de autores conhecidas. Nesse sentido, tanto pertence à cultura popular um provérbio ou uma anedota de autor desconhecido, como uma composição musical ou um folheto de literatura elaborado por um autor conhecido. É, ainda, freqüente identificar a cultura popular apenas com o que sobrevive do passado, o que também representa um equívoco. Afirmar que a cultura popular está ligada a padrões tradicionais não significa que estes padrões não sejam continuamente alterados e reinterpretados pelo povo, sem que isto signifique, que a cultura seja necessariamente substituída pelos padrões da cultura de massa. Como todo fenômeno social, a cultura popular é uma realidade viva e, portanto, dinâmica, em contínua transformação. Assim, ela é feita e refeita a todo momento graças a criatividade do povo. Mas é inegável que a cultura popular pode incorporar padrões provenientes dos setores modernos da sociedade e, até mesmo, da cultura de massa. Este processo se dá, antes, através da reinterpretação do significado de tais padrões, de acordo com o modo próprio de agir, pensar e sentir do povo, e não como repetição pura e mecânica. Se a cultura popular está presente nas sociedades mais industrializadas, desenvolvidas e urbanizadas do mundo contemporâneo, ela tem, no entanto, um significado especial nas sociedades do chamado Terceiro Mundo, pelo fato de que, nessas sociedades, a cultura popular compreende um grande número de subculturas das quais participa uma proporção significativa da população. Embora as expressões da cultura popular sejam mais visíveis nas comunidades rurais mais isoladas (chamadas de cultura de folk, de acordo com a classificação do antropólogo Robert Redfiel), a cultura popular está presente, também, no ambiente urbano, como se pode ver nas grandes metrópoles brasileiras, nas quais são muito fortes, ainda, as marcas da tradição rural, apesar da influência da cultura de massa. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 26 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 4.5. O Folclore http://www.folclorebrasileiro.cjb.net/ No dia 22 de agosto comemora-se O "Dia do Folclore", porque foi nessa data que a palavra apareceu pela primeira vez, ou seja, nesse dia ela foi criada. William John Thoms, um estudioso inglês, sugeriu o seu uso em um artigo publicado no periódico The Athenaeum, no ano de 1846, para explicar o que antes era chamado "antigüidades populares". Mas exatamente o que significa a palavra "folclore"? Analisando a sua origem os especialistas chamam isso de "etimologia"- encontramos folk = povo, nação, raça; e lore = ato de ensinar, instrução. Portanto folclore significa "ensinamento do povo", ou seja, a voz do povo. Mas o que é folclore na prática? São as histórias que ouvimos de nossas mães, ou nas rodas de amigos, sobre o nosso povo e a nossa raça. O Saci-Pererê garoto negro com gorro vermelho e cachimbo na boca, de uma perna só, que passa toda a sua existência fazendo travessuras -, por exemplo, faz parte do folclore brasileiro; assim como as festas do Bumba Meu Boi, o Carnaval e as Quadrilhas; o Lobisomem (que também faz parte do folclore norte-americano, e de muitas outras culturas), a Mula-Sem-Cabeça e o Bicho-Papão. Os contos e histórias tradicionais que ouvimos desde bem pequenos fazem parte do folclore de muitos povos. Os irmãos Jakob e Wilhelm Grimm, por exemplo, escreveram histórias que já faziam parte do folclore alemão; Chapeuzinho Vermelho, A gata borralheira e O rei Sapo são algumas delas. Na Espanha temos as touradas. Os norte-americanos se divertem no dia 31 de Outubro, comemorando o dia das Bruxas com cantorias, danças e brincadeiras: é o Halloween. Em todas as partes do mundo, cada povo tem formas próprias de manifestar suas crenças e costumes: este é o folclore. Mas, o folclore não é só isso. Todos os elementos que fazem parte da cultura popular, tradições das mais diversas passadas de pai para filho, e que nos ensinam muito a respeito de determinado povo fazem parte do folclore. Os Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 27 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia gêneros folclóricos são muitos e variados, manifestando-se na música, na comida, no artesanato, nas danças regionais, nas festas e folguedos populares, nas cantigas, nos brinquedos e brincadeiras, nos provérbios, nas parlendas, nos trava-línguas etc. Desta forma, aprendemos mais sobre o povo brasileiro, suas origens, suas crenças, sua maneira de agir e de pensar, ou seja, aprendemos mais sobre nós mesmos, conhecendo o nosso folclore. O folclore brasileiro apresenta várias heranças culturais: A dos povos indígenas; A dos colonizadores portugueses; A dos negros africanos trazidos para o país como escravos; A dos imigrantes europeus, principalmente italianos e alemães. O estudo do folclore brasileiro começou com Amadeu Amaral (1875-1929) que era poeta e pesquisador das coisas nacionais. Posteriormente, Sílvio Romero, Nina Rodrigues, Figueiredo Pimentel e muitos outros contribuíram para o desenvolvimento dos estudos sobre o folclore brasileiro. Mas, não dá para falar de folclore sem mencionar um autor que dedicou sua vida a pesquisar as histórias, os costumes, as tradições, as superstições, as crenças, as lendas e mitos do povo brasileiro. Luís da Câmara Cascudo nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte em 1898. As manifestações do folclore brasileiro podem se concentrar numa única cidade ou pequena região, ou se espalhar por vários estados. O carnaval, as festas juninas e a capoeira são exemplos de manifestações que ocorrem por todo o país. No geral, as manifestações folclóricas brasileiras podem ser classificadas de acordo com a divisão do país em grandes regiões: Região Norte: no estado do Pará, sobrevivem importantes festas populares como o Círio de Nazaré e a dança popular chamada carimbó, além de pratos típicos de quase toda a região como o pato no tucupi e o tacacá. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 28 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia Região Nordeste: o folclore nordestino é um dos mais ricos do país e inclui os folguedos do bumba-meu-boi, do pastoril, da nau catarineta e do fandango; as danças populares como a ciranda, o frevo, o maracatu, o tambor de crioula e a dança dramática do quilombo típica do estado de Alagoas; o artesanato de rendas e bordados, e a cerâmica nordestina cujo maior expoente foi Mestre Vitalino; a literatura de cordel, o teatro de mamulengos e a culinária baiana com seus acarajés, moquecas, carurus, abarás e outros quitutes. Região Sudeste: predominam as congadas, o artesanato do vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, as festas para Iemanjá no final do ano em todo o litoral do Rio de Janeiro, as duplas de música caipira etc. Região Centro-oeste: se destaca com as cavalhadas e pelo bailado moçambique. Região Sul: a influência dos imigrantes europeus e da cultura gaúcha se faz presente nas tradições folclóricas através das danças, do artesanato e da culinária. Concluímos que, tudo enfim, que surgiu do povo e por ele é conservado e transmitido, tendo por base a influência dos escravos, índios, portugueses e imigrantes constitui-se no conjunto das tradições folclóricas brasileiras. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 29 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 5. ORIENTAÇÃO PARA ESTUDOS Visando auxiliar na sua compreensão e no seu crescimento intelectual, achamos necessário apresentar algumas dicas, simples, mas de extrema importância para um bom aproveitamento de estudos. 1. Leia a primeira vez para conhecer o conteúdo; 2. Releia, lentamente, parágrafo por parágrafo; 3. Grife as palavras desconhecidas e procure o seu significado no dicionário; 4. Sintetize, oralmente, o que leu; 5. Responda às perguntas porventura existentes no final do texto. PERGUNTAS 1- Dê o conceito de: Antropologia, Antropologia Física e Cultura. 2- Comente sobre as funções da cultura. 3- Qual a diferença entre cultura e subcultura? 4- Comente sobre o folclore. Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 30 FACIBA – Faculdade de Ciências da Bahia 6. BIBLIOGRAFIA ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológico de Estado. Lisboa: ed Presença, 1975 AKOUN, André. Dicionário de Antropologia. Ed. Verbo, 1983 BERGER, P. Perspectivas sociológicas. Petrópolis: Vozes, 1973 COSTA, Cristina. Sociologia: introdução a ciência da sociedade. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2000. DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo: Maritm Claret, 2001 ENCICLOPÉDIA FUNDAMENTAL VERBO. Editora Verbo, 1982. GOMES, Candido. A educação na perspectiva sociológica. São Paulo: E.P.U., 1985 GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Editora Enciclopédia, Ltda – Lisboa/Rio de Janeiro. KRUPPA, S.M.P. sociologia da educação. 157 ed. São Paulo: Cortes, 1998 HUBERMAN, L. Historia da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1974 MARTINS, Carlos B. o que é sociologia, são Paulo:Brasiliense, 1988 (col. Primeiros Passos, vol 57) MARTINS, C. B. O que e Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1982 MARX, Carl, ENGELS, Friederich. Manifesto do partido comunista. Porto Alegre: L & M, 2002 MENDONÇA, David A. (tradutor). A missão da igreja da atualidade. Cruzada de Literatura Evangélica do Brasil, 1966 MILLS, W. 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São Paulo: Moraes, 1987 Sites pesquisados: http://www.folclorebrasileiro.cjb.net/ http://www.antropologia.com.br/ http://www.sebantropologiacom.blogspot.com/2008/02/fundamentossociolgicos.html Programa de Proficiência em Filosofia Módulo – Fundamentos Sócio-Antropológicos 32