INTEMPERISMO Prof. Antonio Carlos de Azevedo - DS / CCR / UFSM Prof. Ricardo S. Diniz Dalmolin - DS / CCR / UFSM 1. Introdução Intemperismo é o conjunto de processos que leva à degradação e decomposição das rochas. Estes processos estão relacionados com dois fatores: a natureza da rocha e a condição do ambiente. a) Natureza da Rocha O magma é um material em estado de fusão (800 a 1000 ºC) composto por óxidos, silicatos e materiais voláteis, que se encontra nas zonas profundas da crosta terrestre, mas que pode subir à superfície por fendas, vulcões, etc. O magma, quando resfriado, solidifica-se. Se esta solidificação se dá em grandes profundidades, a rocha é chamada de ÍGNEA ou MAGMÁTICA INTRUSIVA; por outro lado, se ocorre próximo à superfície, é chamado de ÍGNEA ou MAGMÁTICA EXTRUSIVA. As rochas intrusivas podem surgir na superfície da crosta, através de eventos geológicos diversos (vulcanismo, terremotos, acomodações de camadas rochosas, etc). As rochas SEDIMENTARES, por sua vez, se formam pela consolidação de sedimentos. Os sedimentos podem ser clásticos ou químicos. Os sedimentos clásticos são fragmentos de rochas (magmáticas, metamórficas e/ou sedimentares) que são transportados (pela água, vento ou gravidade) e acumulados em determinado local (os depósitos). Os sedimentos químicos são mais raros, e se formam pela precipitação de substâncias. Geralmente antigos lagos com águas salgadas ou ricas em materiais orgânicos, ao terem seu volume de água diminuído em função de mudanças climáticas (aumento da evaporação e diminuição da precipitação) começam a concentrar estes produtos e, quando o produto solubilidade das substâncias é atingido, estas se precipitam formando os sedimentos químicos. Os sedimentos podem adquirir variados graus de consolidação e dureza, dependendo do material que une os fragmentos, que atua como uma cola e é chamado de cimentante. Sílica, óxidos de ferro, carbonatos, etc, são exemplos de agentes cimentantes de rochas. As rochas METAMÓRFICAS são formadas pela ação de altas temperaturas e pressões atuando sobre rochas pré-existentes (magmaticas, sedimentares ou metamorficas). Este processo é chamado de metamorfismo e sua principal característica é imprimir às rochas um aspecto de orientação, de estratificação. O ambiente em que a maioria das rochas se formam é muito diferente do ambiente na superfície do planeta. Enquanto as rochas se formam em ambientes com temperatura e pressão elevadas e constantes, em ausência de luz, organismos, ventos, etc..., quando são expostas na superfície do planeta, encontram condições bem diferentes: temperaturas e pressões menores, porém com grande variação ao longo do dia e noite e das estações do ano, presença de organismos, variação de umidade, presença de luz, etc. O conjunto destes fatores é chamado de INTEMPÉRIES, e por isso sua ação sobre as rochas expostas, desagregando-as e desestruturando-as, é chamado intemperismo 2. INTEMPERISMO FÍSICO O intemperismo físico é composto pelos processos que levam a fragmentação da rocha, sem modificação significativas em sua estrutura química ou mineralógica. Estas quebras podem se dar por vários processos: a) Variação de temperatura: as rochas são compostas por diversos minerais, que se dilatam e contraem de maneira diferente (coeficientes de dilatação e contração diferentes). Quando vários minerais estão unidos na massa da rocha e são submetidos à variações de temperatura, se dilatam e contraem em direções e com intensidades diferentes. Este fenômeno cria tensões no corpo da rocha, levando à fadiga do material e seu fraturamento. Nas rochas máficas (de coloração escura, como o basalto) este processo é ainda mais intenso devido à maior absorção de calor. Imagine um bloco de rocha exposto à intempéries. As tensões geradas na superfície do bloco se transmitirão para as arestas, e das arestas para os vértices. Logo, a ordem de fraturamento deve ser primeiro os vértices e depois as arestas, dando um aspecto arredondado ao material. A este processo dá-se o nome de esfoliação sendo muito comum na região de Santa Maria, especialmente na porção Norte (em direção à encosta, Júlio de Castilhos, São Martinho, Silveira Martins, etc). b) Crescimento de raízes: espécies pioneiras arbustivas e arbóreas podem exercer grandes pressões sobre as rochas, através do crescimento das raízes entre as fendas. Exemplos típicos desta força são os danos causados pelas raízes de algumas árvores ao calçamento e às fundações das construções. c) Gelo: apesar de não ser comum no clima atual do Brasil, a formação de gelo na água acumulada em fendas nas rochas também pode levar à sua fragmentação. A água no estado sólido ocupa um volume 10 % maior que no estado líquido. d) Precipitação de sais: de maneira semelhante, o acúmulo de porções de água ricas em sais em frestas e fendas na rocha, podem ocasionar seu fraturamento quando a água evapora e os sais começam a se cristalizar. O aumento de Área Superficial Específica (ASE) é a maior contribuição do intemperismo físico para o avanço do intemperismo químico e a pedogenese. 3. INTEMPERISMO QUÍMICO Intemperismo químico O intemperismo químico é o conjunto de reações que levam à modificação da estrutra dos minerais que compõem a rocha. Na natureza, é praticamente impossível separar o intemperismo físico do intemperismo químico, já que ocorrem quase simultaneamente. O intemperismo químico, entretanto, torna-se mais acelerado à medida em que o intemperismo físico avança, devido ao aumento de área superficial específica (ASE) dos minerais. Assim como o intemperismo físico, o químico ocorre porque as condições ambiente na superfície da crosta são bastante diferentes daquelas onde os minerais se formam. Os arranjos cristalinos das estruturas mineralógicas estão sempre tendendo para uma situação de maior equilíbrio com o ambiente. Entretanto, mesmo quando estas diferenças são muito grandes, estas reações ocorrem em uma velocidade bastante lenta, do ponto de vista humano. As principais reações são: a) HIDRATAÇÃO: É a primeira reação a ocorrer, não mudando a estrutura do mineral, mas servindo como um pré requesito para a hidrólise, daí sua importância. CaSO4 + H2O CaSO4.2H2O (anidrita) (gipsita) b) SOLUÇÃO: É a reação através da qual os íons das estruturas cristalinas passam para a solução, gerando perdas e ganhos locais. O depósito final destes íons é o oceano, mas seu acúmulo em algum local neste trajeto (que pode durar séculos) pode gerar depósito geológicos, como as minas de potássio em Shaskatown, no Canadá. Uma mudança climática para um regime de maior umidade, por exemplo, pode solubilizar estes depósitos e trazer o sais à superfície por capilaridade (veja salinização, a seguir). Na superfície do solo a água evapora e os sais se cristalizam, formando as chamadas eflorescências. c) HIDRÓLISE: É a reação do H +1 -1 e o OH da dissociação da água com os minerais, rompendo as ligações silício/metais da sua estrutura. O H +1 substitui o metal, colapsando a estrutura e desintegrando-a. É uma reação tão importante para silicatos e carbonatos, que baseado na intensidade desta reação no solo, associado com a lixiviação, são propostos três estádios de dessilicação. Estes estádios são usados como indicadores do grau de intemperismo que determinado solo sofreu. São eles: 1) BISSIALITIZAÇÃO (ou DESSILICAÇÃO fraca): Típica de ambientes com drenagem lenta, impedida, podendo existir aporte de silício por fluxos laterais. Os argilominerais predominantes são do tipo 2:1. É frequente em regiões semi-áridas. No Rio Grande do Sul ocorre na região da campanha, originando Vertissolos (Solo Escobar). 2) MONOSSIALITIZAÇÃO (ou DESSILICAÇÃO o média). É a mais frequente nos trópicos, originando solos cauliníticos, predominando, portando, minerais 1:1. É a que predomina nos solos gaúchos com aptidão para agricultura. 3) ALITIZAÇÃO (ou DESSILICAÇÃO forte): a DESSILICAÇÃO e LIXIVIAÇÃO são bastante intensas, ou atuaram durante um longo tempo sem que houvesse um rejuvenescimento do solo pelo aporte de material. Os argilominerais predominantes são a Gibsita (óxido de Alumínio) e Hematita e Goethita (óxidos de Ferro). É típico no Brasil central, originando Latossolos gibbsíticos. d) OXIDAÇÃO E REDUÇÃO: É o processo de transferência de elétrons, onde o íon receptor de elétrons é reduzido (porque têm seu número de oxidação diminuído) e o que doa o elétron é oxidado. Sua importância em solos se refere principalmente ao Ferro e Manganês, no caso da gênese, e o Nitrogênio, para a fertilidade. Em situações particulares, como descarte de resíduos em solos, outros elementos também são o importantes, como o Cromo. A importância se deve à mudança de comportamento do íon com a alteração do número de oxidação. Assim, o Fe +2 (íon ferroso) é muitíssimo mais solúvel que o Fe +3 (íon ferríco), e pode ser removido do ambiente por solução. Nos minerais primários, o Fe encontra+2 se geralmente reduzido (Fe ), e sua oxidação pode causar a desestruturação do mineral. e) COMPLEXAÇÃO: É a ligação de um íon metálico com um composto orgânico, podendo aumentar a solubilidade do metal. Quando o composto se liga ao metal formando um anel, chama-se QUELATO (do grego KELA = pinça). Este último tipo de ligação também aumenta a solubilidade do metal. Os compostos orgânicos resultantes do metabolismo anaeróbios são os mais abundantes em moléculas formadores de quelatos, favorecendo a saída da de metais no ambiente.