Aula 4 Poderia uma realidade fixar-se como real? O real é o não nomeado. A partir do momento em que nomeamos já entramos no reino na realidade, pois nomear é representar. É colocar algo no lugar de algo. O universo em que vivemos é, portanto, mediado pela representação. A cultura (portanto, a ação humana) é quem instaura a realidade. Fenômeno: Tudo que se observa na natureza; por extensão fato ou evento de interesse científico, que pode ser descrito e explicado cientificamente. Apreensão ilusória de um objeto, captado pela sensibilidade ou também reconhecido de maneira irrefletida pela consciência imediata, ambas incapazes de alcançar intelectualmente a sua essência. Para Kant, objeto do conhecimento não em si mesmo, mas sempre na relação que estabelece com o sujeito humano que o conhece e, portanto, captado segundo a perspectiva das formas a priori de intuição (espaço e tempo) e categorias inatas do intelecto. Imagem As investigações das imagens se distribuem por várias disciplinas de pesquisa, tais como a história da arte, as teorias antropológicas, sociológicas, psicológicas, da arte, a crítica de arte, os estudos das mídias, a semiótica visual, as teorias da cognição. Os estudos da imagem constituem, portanto, um campo interdisciplinar. dois domínios: - o que vejo (paisagem, desenho, pintura, foto, cinema, tv etc) Nesse domínio as imagens são objetos materiais, figuras que representam o nosso meio visual. - o que não vejo (visões, imaginação, esquemas, sonhos, percepções, sons, descrições textuais etc ) Imagens mentais Os girassóis de Van Gogh Hoje eu vi Soldados cantando por estradas de sangue Frescura de manhãs em olhos de crianças Mulheres mastigando as esperanças mortas Hoje eu vi homens ao crepúsculo Recebendo o amor no peito Hoje eu vi homem recebendo a guerra Recebendo o pranto como balas no peito E como a dor me abaixasse a cabeça Eu vi os girassóis de Van Gogh Manoel de Barros Louvação para uma cor O amarelo faz decorrer de si os mamões e sua polpa, o amarelo furável. Ao meio-dia as abelhas, o doce ferrão e o mel. Os ovos todos e seu núcleo, o óvulo. Este dentro, o minúsculo. Da negritude das vísceras cegas, amarelo e quente, o minúsculo ponto, o grão luminoso. Distante e amacia em bátegas a pura luz de seu nome, a cor tropicordiosa. Acende o cio, é uma flauta encantada, um oboé em Bach. O amarelo engendra. Adélia Prado Os dois domínios não existem separadamente, uma vez que não há imagens como representações visuais que não tenham surgido de imagens na mente, assim como não há imagens mentais que não tenham alguma origem no mundo concreto dos objetos visuais. Textos de Carlos Drummond de Andrade: Acalenta no sono O púbis acordado. Vênus adormecida – Giorgione Santidade de escrever, Insanidade de escrever Equivalem-se. O sábio Equilibra-se no caos. Retrato de Erasmo de Rotterdam – Quentin Metsys O ardiloso sorriso Alonga-se em silêncio Para contemporâneos e pósteros Ansiosos, em vão, por decifra-lo. Não há decifração. Há o sorriso. Giuoconda – Leonardo Da Vinci O anjo desprende-se da arquitetura para dar a notícia precisamente conforme a traça de sublime arquiteto. A anunciação – Fra Angélico A imagem reproduz-se até o sem-fim. O casal sem filhos Gera continuamente nos espelhos A imagem do perpétuo casamento. Retrato do Casal Arnolfini – Jan Van Eyck Curvilíneos volumes se consultam E concluem: Beleza é redundância As três graças – Rubens Cansaram de caminhar Ou o caminho se cansou? Sapatos – Van Gogh A natureza grita apavorante Doem os ouvidos, dói o quadro. O Grito – Munch Universo passado a limpo. Linhas tortas ou sensuais desaparecem A cor, fruto de álgebra, perdura. Composição I – Mondrian O som envolve a nudez E chega ao cachorrinho O músico esquece a partitura As pulseiras de Vênus não escutam. Vênus e o organista - Ticiano Os conceitos unificadores dos dois domínios da imagem são os conceitos de signo e representação. Representação: Ato de reproduzir; trazer à memória; aparecer numa outra forma; significar, tornar presente (séc. XV – escolástica medieval). Idéia ou imagem que concebemos do mundo ou de alguma coisa; operação pela qual a mente tem presente em si mesma a imagem, a idéia ou o conceito que correspondem a um objeto que se encontra fora da consciência; imagem intencionalmente chamada à consciência e mais ou menos completa de um objeto qualquer ou de um acontecimento anteriormente percebido. Textos utilizados em sala: Dom Quixote – Cervantes Gramática Expositiva do chão (poesia quase toda) – Manoel de Barros Madame Bovary – Gustave Flaubert O processo – Franz Kafka Meu último suspiro – Luis Buñuel Bagagem – Adélia Prado Músicas utilizadas: Sonata em mi maior – Johan Sebastian Bach Tambur tambur/ahpartiale – Anônimo A flauta encantada – Mozart Lieder eines fahrenden gesellen – Mahler Saudações a falange de Oxossi – domínio popular