DANILO CORTEZ GOMES PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS: UM ELO ENTRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL E A GESTÃO DE PESSOAS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração da Universidade Potiguar, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração, sob orientação da Prof.ª Dra. Lydia Maria Pinto Brito. Área de concentração: Gestão Estratégica de Negócios. NATAL 2009 2 DANILO CORTEZ GOMES PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS: UM ELO ENTRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL E A GESTÃO DE PESSOAS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração da Universidade Potiguar, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração, sob orientação da Prof.ª Dra. Lydia Maria Pinto Brito. Área de concentração: Gestão Estratégica de Negócios. Data da aprovação: ____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof.ª Dr.ª Lydia Maria Pinto Brito Orientadora Universidade Potiguar ______________________________________ Prof.ª Dr.ª Fernanda Fernandes Gurgel Universidade Potiguar ________________________________________ Prof. Dr. Washington José de Souza Universidade Federal do Rio Grande do Norte 3 FICHA CATALOGRÁFICA G633p Gomes, Danilo Cortez. Práticas socialmente responsáveis: um elo entre a responsabilidade social e a gestão de pessoas / Danilo Cortez Gomes. – Natal, 2009. 143f. Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. Bibliografia f.126-135. 1. Administração – Dissertação. 2. Responsabilidade social. 3. Gestão de pessoas. I. Título. 4 Dedico este trabalho a todos aqueles que sonham, mas que, após um sonho, lutam para transformá-lo em realidade. E, conseguindo tal feito, não busca para si vanglória, mas traz bem unido ao peito um sentimento de gratidão a todos que o ajudaram a transformar este sonho em fato concreto. Essas pessoas que são destinatárias desta dedicatória são faces reveladas de Deus que, ao longo desse caminho, me confirmaram o quanto sou amado por Ele. Em especial, dedico a vocês... minhas Marias. 5 AGRADECIMENTOS A Deus, pelo Seu olhar bondoso, paciente e cheio de misericórdia que, a cada dia, de maneira simples e sutil, me envolve de tanta ternura que me faz ser uma eterna criança em Seus braços. À Virgem Maria, que permanece junto de mim, me consagrando ao Coração Sagrado de Jesus. Aos meus pais que disseram “Sim” ao plano de Deus e me trouxeram ao mundo. Mainha, sem a senhora nada disso seria possível! Painho (in memorian), tenho me esforçado bastante para ser o homem que o senhor sempre desejou. Saudades... Eu os amo demais! À minha amada e esposa Maria Adélisan. Como lhe agradecer sem derramar lágrimas de profunda gratidão? Você é o verdadeiro suporte que Deus me confiou. Minha filha, enfim, terminou! Conseguimos!!! Eu a amo muito, muito mesmo... À Maria Gabriela e Maria Clara, motivos maiores da minha dedicação e esforço. Saibam que vocês me ensinam a amar e me conduzem diariamente ao Coração Sagrado de Jesus Cristo. Perdoem-me pela ausência que fez vocês chorarem e sentirem saudades... Eu apenas desejo do fundo do meu coração ser o melhor pai do mundo para vocês. Minhas pérolas, eu as amo demais! Ao meu irmão Leonardo, minha cunhada Vitória e sobrinhas Tatiana e Maria Beatriz, obrigado por confiar e acreditar no meu esforço e entender as minhas renúncias. Leonardo, mais uma vez você foi meu anjo da guarda. Aos meus amigos, por me ensinarem o verdadeiro valor da amizade e me suportarem do jeito que sou. A Miguel Luis e família, meus sinceros agradecimentos. Amigo, obrigado por sua ajuda e presença. À Fraternidade Germinar, da qual estive tão ausente, mas nunca tão presente: Mistério de Deus! Eu os amo com amor de irmão, de filho e de servo. Ajudem-me a entoar cânticos de louvor ao Semeador de nossas vidas. 6 À minha orientadora, amiga e “mãe” (permita-me a ousadia) Dr.ª Lydia Maria Pinto Brito, pelo auxílio e principalmente por acreditar na minha capacidade. A senhora é gente da gente – simples e verdadeira – obrigado pelo entusiasmo e confiança. Aos colegas/alunos e professores do Mestrado Profissional em Administração da Universidade Potiguar. Obrigado por respirarem e partilharem comigo a beleza do saber, do conhecimento, da pesquisa. À Josenilde Mendes dos Santos, coordenadora estadual do Prêmio SESI Qualidade no Trabalho no Rio Grande do Norte, pela simpatia e disponibilidade em fornecer as informações necessárias à realização deste trabalho. Aos gestores ou responsáveis pelo Prêmio SESI Qualidade no Trabalho das empresas entrevistadas, pela gentileza de me conceder as entrevistas que tornaram possível o desenvolvimento deste trabalho. Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, por ter me dado essa oportunidade. Em especial a todos os que fazem o Campus Currais Novos, que souberam entender esse momento especial da minha vida. Enfim, a todos que me ajudaram e que com palavras de incentivos, olhares, abraços e, até no silêncio, me mostraram que era possível chegar lá! A todos, muito obrigado! 7 Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atividade social acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade, sobretudo numa sociedade em vias de globalização que atravessa momentos difíceis como os atuais (Papa Bento XVI – Caritas in Veritate) 8 RESUMO As práticas socialmente responsáveis tornam-se cada vez mais presentes no cotidiano das organizações, conduzindo estas a tomarem iniciativas que permitam desenvolver e implementar tais práticas. Nesse contexto, os novos modelos de gestão de pessoas tem sido diretamente influenciados por essas características relacionadas à responsabilidade social, dinamizando e levando as organizações a reverem seus processos, principalmente quando relacionados ao público interno. Dessa forma, esta pesquisa buscou diagnosticar o modo como as práticas de gestão de pessoas estão presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, no período de 2005 a 2008. Sendo esse prêmio um método de avaliação que contribui para um diagnóstico organizacional quanto às atividades e práticas organizacionais que influenciam a qualidade no trabalho, e a gestão de pessoas a área responsável para implantar, disseminar e avaliar tais práticas, compreende-se ser necessário um melhor entendimento das relações entre a responsabilidade social e a gestão de pessoas. A metodologia foi caracterizada por uma abordagem qualitativa de caráter descritivo, sendo realizada uma pesquisa documental nos livros publicados pelo SESI referentes ao Prêmio SESI Qualidade no Trabalho com as boas práticas das empresas vencedoras no período de 2005 a 2008, totalizando 76 empresas que compuseram o universo da pesquisa, e uma pesquisa de campo, na qual foram realizadas entrevistas com os responsáveis pelo PSQT nas empresas que compuseram a amostra típica da pesquisa. Foi utilizada a análise de conteúdo categorial, tendo como centro de análise as práticas socialmente responsáveis, relacionando-as a seis categorias que foram classificadas pelas funções clássicas da gestão de pessoas: planejamento, suprimento, aplicação, desenvolvimento, manutenção e controle. Os resultados encontrados revelaram que praticamente todas as funções da gestão de pessoas – planejamento, suprimento, aplicação, manutenção e desenvolvimento – estão presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo SESI, no entanto, o modo como essas práticas ocorrem nas empresas varia de uma organização para outra, principalmente quando se refere ao porte empresarial (micro, pequena, média e grande). Nesse sentido, as práticas tidas como socialmente responsáveis estão intimamente alinhadas à gestão de pessoas quando relacionadas ao público interno, o que estimula as empresas a dinamizarem seus processos de gerenciamento, levando em consideração às exigências e necessidades da responsabilidade social empresarial e da gestão de pessoas. Palavras-chave: Responsabilidade Social. Gestão de Pessoas. Prêmio SESI Qualidade no Trabalho. 9 ABSTRACT Socially responsible practices have become increasingly present in the life of organizations, leading them to take initiatives to develop and implement such practices. In this context, new models of personnel management has been directly influenced by these characteristics related to social responsibility, stimulating and leading organizations to review their cases, especially when related to the workforce. Thus, this research sought to diagnose the practices of people management are present in socially responsible actions awarded by SESI Quality at Work, in the period from 2005 to 2008. Being this award an evaluation method that contributes to organizational diagnosis regarding the activities and organizational practices that influence the quality of work and people management area responsible for deploying, evaluating and disseminating such practices, it has been considered as necessary a better understanding of the relationship between social responsibility and people management. The methodology was characterized by a qualitative approach with descriptive feature throughout a documentary research in the books published by SESI related to SESI Quality at Work Award with the best practices of successful companies in the period from 2005 to 2008, totaling 76 companies that formed the universe researched, and a field survey in which interviews were conducted with those responsible for PSQT in companies that made up the typical sample of search results. It has been used the categorical content analysis with focus on the socially responsible practices relating to the six categories that were classified by the traditional role of people management (planning, supplying, application, development, maintenance and control). The results showed that virtually every aspect of people management - planning, supplying, implementation, maintenance and development - are contained in the social responsibility awarded by SESI, however, the way how these practices occur in the companies varies from one organization to another, especially when it refers to business size (micro, small, medium and large). In this sense, the practices considered as socially responsible are closely aligned to the management of people, especially when they are related to the workforce, leading companies to streamline their management processes, taking into account the demands and needs related to corporate social responsibility and management people. Keywords: Social Responsibility. People Management. SESI Quality at Work Award. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Tipologia da Responsabilidade Social.............................................................. 32 Figura 2 – Áreas de avaliação do exercício da responsabilidade social interna................. 41 Figura 3 – Avaliação das relações da empresa com a comunidade.................................... 42 Figura 4 – Categorias da análise de conteúdo.................................................................... 83 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Desenvolvimento moral das organizações e orientação para os stakeholders 32 Quadro 2 – Responsabilidade Social Interna e Externa..................................................... 38 Quadro 3 – Gestão de recursos humanos no Brasil............................................................ 49 Quadro 4 – Classificação dos subsistemas ou funções clássicas da gestão de pessoas...... 52 Quadro 5 – Ressignificação dos subsistemas ou funções clássicas da gestão de pessoas................................................................................................................................ 53 Quadro 6 – Fundamentos básicos....................................................................................... 68 Quadro 7 – Critérios de avaliação...................................................................................... 68 Quadro 8 – Práticas de gestão de pessoas e responsabilidade social voltadas ao público interno................................................................................................................................. 71 Quadro 9 – Principais normas e padrões de qualidade....................................................... 72 Quadro 10 – Universo da pesquisa..................................................................................... 77 Quadro 11 – Práticas desenvolvidas pelas empresas relacionadas à função planejamento da gestão de pessoas.................................................................................... 87 Quadro 12 – Resumo dos programas de sugestões e comunicação interna....................... 88 Quadro 13 – Resumo das práticas diagnosticadas relacionadas à função planejamento da gestão de pessoas........................................................................................................... 92 Quadro 14 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função suprimento da gestão de pessoas................................................................................................................................ 93 Quadro 15 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função aplicação da gestão de pessoas................................................................................................................................ 96 Quadro 16 – Resumo das práticas relacionadas à função aplicação da gestão de pessoas 98 Quadro 17 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função desenvolvimento da gestão de pessoas........................................................................................................................... 101 Quadro 18 – Resumo das práticas relacionadas aos programas de educação corporativa. 104 Quadro 19 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função manutenção da gestão de pessoas................................................................................................................................ 110 Quadro 20 – Práticas relacionadas às premiações concedidas aos funcionários................ 112 Quadro 21 – Resumo dos benefícios oferecidos pelas empresas....................................... 114 Quadro 22 – Programas desenvolvidos relacionados à saúde............................................ 114 12 LISTA DE SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ADCE – Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas AMCHAM – Câmaras Americanas de Comércio de São Paulo ARH – Administração de Recursos Humanos BS – British Standards CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes DJSI – Dow Jones Sustainability Index DVA – Demonstração do Valor adicionado EP2ASE – Eficácia Pública e Eficácia Privada da Ação Social das Empresas FNQ – Fundação Nacional da Qualidade GIFE – Grupos de Institutos, Fundações e Empresas GRI – Global Reporting Initiative IBASE – Instituto de Análises Sociais e Econômicas IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa ISO – International Organization for Standardization MEG – Modelo de Excelência da Gestão NBR – Norma Brasileira OHSAS – Occupational Health and Safety Assessment Series PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional PNQ – Prêmio Nacional da Qualidade PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais PRH – Planejamento de Recursos Humanos PSQT – Prêmio SESI Qualidade no Trabalho RH – Recursos Humanos SA – Social Accountability SAI – Social Accountability International SESI – Serviço Social da Indústria SIPAT – Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho SIRH – Sistema de Informações de Recursos Humanos UC – Universidade Corporativa 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 15 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO............................................................................................. 15 1.2 PROBLEMA................................................................................................................. 17 1.3 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 18 1.4 OBJETIVOS.................................................................................................................. 20 1.4.1 Geral.......................................................................................................................... 20 1.4.2 Específicos................................................................................................................. 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................... 21 2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL................................................................................ 21 2.1.1 Aspectos históricos.................................................................................................... 21 2.1.2 Definindo Responsabilidade Social – Conceitos.................................................... 28 2.1.3 Práticas socialmente responsáveis........................................................................... 35 2.1.4 Processos de avaliação da Responsabilidade Social.............................................. 40 2.1.5 Estudos relacionados ao tema.................................................................................. 45 2.2 GESTÃO DE PESSOAS............................................................................................... 47 2.2.1 Aspectos históricos e conceituais da Gestão de Pessoas........................................ 47 2.2.2 Funções Clássicas da Gestão de Pessoas................................................................. 51 2.2.2.1 Planejamento........................................................................................................... 55 2.2.2.2 Suprimento.............................................................................................................. 56 2.2.2.3 Aplicação................................................................................................................. 58 2.2.2.4 Desenvolvimento..................................................................................................... 59 2.2.2.5 Manutenção............................................................................................................. 63 2.2.2.6 Controle................................................................................................................... 65 2.3 A RELAÇÃO ENTRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL E A GESTÃO DE PESSOAS............................................................................................................................ 66 3 METODOLOGIA........................................................................................................... 74 3.1 TIPO DE PESQUISA.................................................................................................... 74 3.2 UNIVERSO/AMOSTRA DA PESQUISA................................................................... 77 3.3 COLETA DE DADOS.................................................................................................. 80 3.4 VARIÁVEIS ANALÍTICAS......................................................................................... 81 3.5 TRATAMENTO DOS DADOS.................................................................................... 81 4 RESULTADOS DA PESQUISA................................................................................... 85 14 4.1 A FUNÇÃO PLANEJAMENTO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS................................................................................... 85 4.2 A FUNÇÃO SUPRIMENTO DA GESTÃO DE PESSOAS AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS................................................................................... 92 4.3 A FUNÇÃO APLICAÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS................................................................................... 95 4.4 A FUNÇÃO DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS.............................................................. 99 4.5 A FUNÇÃO MANUTENÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS................................................................................... 108 4.6 A FUNÇÃO CONTROLE DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS................................................................................... 115 4.7 ANALISANDO A RELAÇÃO ENTRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL E A GESTÃO DE PESSOAS..................................................................................................... 116 5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO........................................................................ 123 REFERÊNCIAS................................................................................................................ 128 APÊNDICES...................................................................................................................... 139 15 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO No atual contexto organizacional percebe-se, por parte das empresas, uma busca por diferenciais que possibilitem a permanência e o crescimento empresarial no competitivo cenário organizacional. Dessa forma, tem-se observado uma preocupação das organizações e também da sociedade quando se refere à temática responsabilidade social (ALBUQUERQUE, 2006; TAPSCOTT; TICOLL, 2005). De maneira objetiva e simples, Melo Neto; Froes (2001, p. 28) enfatizam que “a responsabilidade social é uma ação estratégica da empresa que busca retorno econômico-social, institucional, tributário-fiscal”. Entretanto não é raro encontrar questionamentos, discussões e, por que não dizer, paradoxos que envolvem a responsabilidade social. Para Friedman (1985, p. 122), “há uma e só uma responsabilidade social do capital – usar seus recursos e dedicar-se a atividades destinadas a aumentar seus lucros até onde permaneça dentro das regras do jogo”, todavia, Arantes et al. (2004, p. 126) entendem a responsabilidade social por outro ponto de vista: “a questão da responsabilidade social vai, portanto, além da postura legal da empresa, da prática filantrópica ou do apoio à comunidade. Significa mudança de atitude, por uma perspectiva de gestão empresarial com foco na agregação de valor para todos”. Novas práticas de gestão de pessoas tem sido implementadas nas organizações, no intuito de desenvolver suas estratégias e atividades que, geralmente, estão atreladas ao comportamento do trabalhador, visando potencializar suas habilidades e conhecimentos. Dessa maneira, frequentemente a responsabilidade social tem sido um dos veículos propulsores de condições favoráveis ao ambiente organizacional, gerando aumento de produtividade, maior motivação, sentimentos de autoestima e orgulho entre os empregados, outrossim, qualidade de vida no trabalho (MELO NETO; FROES, 2001). Sendo a responsabilidade social empresarial um tema relevante e com perspectivas de crescimento relacionado às práticas organizacionais, a gestão de pessoas necessita de subsídios que possibilitem o real entendimento da temática e a compreensão da correta utilização dos instrumentos inerentes às práticas socialmente responsáveis, tendo em vista que “contemporaneamente, a gestão de pessoas assume um papel cada vez mais decisivo e participativo na gestão das organizações e na deliberação das políticas internas, visando cumprir os preceitos erradicados por intermédio da Responsabilidade Social” (ZARPELON, 2006, p. 46). De acordo com Srour (2003, p. 406), “a estratégia empresarial que adota a 16 responsabilidade social como norte só funciona quando permeia todo o arcabouço das políticas e das práticas da empresa. Trabalho hercúleo e incessante”. Dessa forma, as práticas de gestão de pessoas na atualidade buscam dinamizar o trabalho exercido pelos indivíduos na organização, bem como facilitar e proporcionar aos trabalhadores um ambiente que possibilite o aumento da produtividade. Segundo Marras (2000, p. 323): Nunca foi tão importante e necessário investir na gestão dos recursos humanos de forma estratégica, não somente para que a empresa cumpra com a sua responsabilidade social, mas também e principalmente para a sua própria sobrevivência em época de mercados altamente turbulentos, globalizados e competitivos como a que estamos vivendo no final deste milênio. Nesse contexto, as discussões que envolvem a responsabilidade social ainda não estão perto de se esgotar, nem tampouco há entendimento unilateral sobre esta temática. É fato que as organizações tem buscado adaptar-se a algumas exigências que as caracterizem como empresas socialmente responsáveis, principalmente em se tratando da gestão de pessoas, pois “para uma gestão de Responsabilidade Social voltada para a gestão de pessoas, é necessário o entendimento dos anseios comuns ao meio no qual os indivíduos estão inseridos, sem descuidar dos anseios individuais, porém estes em segundo plano” (ZARPELON, 2006, p. 48). Nesse sentido, para que a responsabilidade social seja disseminada e instituída na organização, modificações significativas devem ser realizadas para que as práticas, estratégias e rotinas organizacionais se adéquem às características tidas como socialmente responsáveis. Para Le Gall (2008, p. 91): Hoje, as re-estruturações são freqüentes e ocorrem muitas vezes em escala mundial, devido à modernização contínua do aparelho produtivo e à concorrência internacional. O caráter reativo e cíclico da economia moderna bem como as fortes exigências dos fundos de investimento tem obrigado as empresas, mesmo as rentáveis, a executar planos sociais. Nessa perspectiva, os programas de certificação e os prêmios que desenvolvem análises junto às empresas para avaliar práticas empresariais que possam ser consideradas socialmente responsáveis tem tido maior respaldo junto à sociedade e principalmente no meio empresarial. Sendo assim, as análises realizadas pelos órgãos competentes não necessariamente se resumem às práticas relacionadas aos aspectos socioambientais, mas principalmente estão voltadas para as práticas de gestão empresarial, ou melhor, para a forma como as organizações gerenciam e promovem o desenvolvimento dos seus empregados. Por isso, a gestão de pessoas com suas práticas, filosofias gerenciais e técnicas de aprimoramento 17 tem papel fundamental nas mudanças requeridas por essa tendência na gestão empresarial como também na avaliação de um dos critérios inerentes à responsabilidade social, que se refere à gestão direcionada ao público interno das organizações. Além desta parte introdutória que contextualiza a temática da pesquisa, este trabalho contém a problemática estudada; a justificativa; os objetivos (geral e específicos); o referencial teórico (dividido em três partes – responsabilidade social, gestão de pessoas, com suas respectivas funções ou subsistemas; e a relação entre responsabilidade social e gestão de pessoas) que permite o entendimento e compreensão do tema estudado, com as discussões e percepções dos autores relacionados à responsabilidade social e gestão de pessoas; a metodologia utilizada na pesquisa (tipo de pesquisa, universo/amostra da pesquisa, plano de coleta de dados, variáveis analíticas, tratamento e análise dos dados); os resultados encontrados divididos pelas categorias analisadas (planejamento, suprimento, aplicação, desenvolvimento, manutenção e controle), relacionando-as às práticas socialmente responsáveis; a conclusão e recomendação; as referências bibliográficas que fundamentam o estudo teórico e, por fim, os apêndices e anexos. 1.2 PROBLEMA As práticas socialmente responsáveis empreendidas pelas organizações repercutem em vários aspectos no ambiente interno e externo da organização. As mudanças oriundas dessas práticas podem gerar diversos comportamentos distintos de acordo com cada empresa, principalmente quando se refere à gestão de pessoas, a qual envolve os funcionários com seus valores e culturas. Dessa forma, as organizações tem buscado desenvolver programas que tenham a responsabilidade social como meta a ser observada e, para tal realização, a área de gestão de pessoas é, na maioria das vezes, acionada para gerenciar e desenvolver tais programas. Segundo Ulrich (2000), os profissionais da área de recursos humanos devem procurar informações adequadas para poder implementar programas e iniciativas de recursos humanos, bem como para fazer investimentos corretos, pois as “empresas carregam uma enorme responsabilidade de gerar riqueza por meio da melhoria contínua de sua produtividade e competitividade” (ULRICH, 2000, P. 159). Nesta mesma perspectiva, Ulrich (2000) entende que as organizações tem responsabilidade quanto à definição, criação e distribuição de valor, fazendo com que as empresas se tornem os principais agentes para uma mudança na sociedade, seja como locais específicos de interações sociais ou de realização pessoal. 18 Concomitante a esse pensamento, Milkovich; Boudreau (2000) aponta que a administração de recursos humanos estará cada vez mais relacionada às estratégias organizacionais, sendo orientada para o negócio da empresa e para o cliente, sempre em busca de valores agregados e com perspectivas abrangentes. Nesse caso, estariam as práticas de gestão de pessoas alinhadas aos programas de excelência e prêmios de qualidade difundidos no meio empresarial, atuando como instrumentos que ampliam as perspectivas de gestão nas organizações? Vale salientar que as práticas de gestão de pessoas contemplam direta ou indiretamente algumas ações de responsabilidade social, principalmente quando relacionadas ao público interno das organizações. Desta maneira, sendo a responsabilidade social um paradigma empresarial contemporâneo (MELO NETO; FROES, 2001) e a gestão de pessoas uma área da organização cada vez mais explorada e imprescindível para a competitividade das empresas (GIL, 2009; DUTRA, 2009; LE GALL, 2008), tem-se como questionamento central da pesquisa, a seguinte indagação: De que modo as práticas de gestão de pessoas estão presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo SESI através do Prêmio SESI Qualidade no Trabalho? Surgem então as seguintes questões de pesquisa relacionadas abaixo: • Quais são as práticas de responsabilidade social premiadas pelo SESI relacionadas ao público interno? • Quais as características, objetivos e particularidades das ações socialmente responsáveis premiadas pelo SESI? • Existem paradoxos na adoção das práticas de gestão de pessoas e as práticas de responsabilidade social premiadas pelo SESI? 1.3 JUSTIFICATIVA A temática responsabilidade social tem ocupado cada vez mais espaço no meio acadêmico e nos ambientes organizacionais. Por um lado, discussões e reflexões são desenvolvidas e, por outro, aprimoramentos e programas vem sendo instituídos no intuito de tornar presente a filosofia ou modelo de gestão baseado na responsabilidade social, que envolve todos os parceiros ou stakeholders empresariais. As constantes indagações surgidas a respeito do tema, que variam de acordo com as correntes de pensamento, englobam desde o entendimento diverso sobre responsabilidade 19 social até quais as possíveis práticas e focos de atuação a serem explorados. Assim, o surgimento de tais discussões torna o assunto interessante e, por que não dizer, desafiador, incentivando pesquisas que possibilitem diagnosticar e analisar as práticas tidas como socialmente responsáveis e os reais objetivos de tais ações. Dessa forma, as práticas de gestão de pessoas parecem colaborar com a disseminação de estratégias e conhecimentos que podem ajudar a entender essas práticas socialmente responsáveis com seus objetivos e características. Nesta perspectiva, a escolha do tema decorre de uma inquietação em analisar e tentar compreender possíveis relações entre responsabilidade social e práticas de gestão de pessoas. Para tal fim, a escolha do objeto de estudo busca obter um diagnóstico das práticas socialmente responsáveis, tendo em vista que o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho corresponde a uma avaliação/metodologia de tais práticas desenvolvidas por indústrias brasileiras no âmbito estadual, regional e nacional, sendo “um reconhecimento público às empresas industriais por suas práticas de gestão e valorização dos seus colaboradores, uma das partes interessadas no seu sucesso” (SESI, 2008a, p. 12). Vale ressaltar o crescimento gradativo em termos de participação e notoriedade do Prêmio SESI Qualidade no Trabalho e a percepção dos gestores/empresas participantes, atribuindo ao prêmio características voltadas para um papel formativo e de consultoria (MACÊDO, 2008). Desta maneira, as indústrias brasileiras podem dispor de subsídios relacionados à responsabilidade social através do PSQT, conforme afirma SESI (2008a, p. 9): [...] em sua trajetória, o PSQT, em sua 13ª edição, conseguiu acumular experiências para disseminar conceitos, organizar debates, capacitar profissionais e trocar informações entre as empresas industriais, enfatizando interesses comuns que assegurem adequadas condições de trabalho para o aumento da qualidade de vida dos empregados, da produtividade e da competitividade da empresa. [...]. Esta iniciativa do SESI é, portanto, um diferencial valioso para as empresas, uma vez que prioriza a relação com seu público interno e as condições de trabalho, aspectos preponderantes para a prática da responsabilidade social. Avaliando os processos internos, a organização identifica pontos vitais para a promoção de melhorias, adotando uma cultura proativa em relação a um desempenho organizacional compatível com valores do desenvolvimento sustentável. Além do mais, percebe-se que as indústrias brasileiras estão se confrontando “cada vez mais com a necessidade de enfrentar um mercado globalizado, no qual os avanços tecnológicos e o desenvolvimento econômico se entrelaçam com as questões sociais e ambientais para a condução dos negócios com sucesso” (SESI, 2008a, p. 9). Por isso, esta pesquisa buscou diagnosticar o modo como as práticas de gestão de pessoas estão presentes nas ações socialmente responsáveis premiadas pelo SESI, tendo em vista que as práticas de gestão de pessoas são importantes para os novos desafios organizacionais, principalmente 20 quando alinhadas às estratégias da empresa. Nesse entendimento, o possível alinhamento das práticas de gestão de pessoas às práticas socialmente responsáveis permitirá às empresas o diagnóstico das necessidades relacionadas à gestão de pessoas e à responsabilidade social, bem como o estímulo à implantação de práticas que possibilitem a potencialização do capital humano das organizações, pois “a promoção da participação das pessoas em todos os aspectos do trabalho e de sua qualidade de vida é fundamental para que os colaboradores desenvolvam seu potencial e contribuam para os resultados da organização” (SESI, 2008a, p. 12). A presente pesquisa propõe-se, ainda, a contribuir nas discussões e reflexões a respeito da responsabilidade social, todavia, relacionando-a as práticas de gestão de pessoas, com o intuito de apresentar resultados que colaborem na compreensão de tal fenômeno, fomentando o estado da arte. 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Geral • Diagnosticar o modo como as práticas de gestão de pessoas estão presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo SESI através do Prêmio SESI Qualidade no Trabalho. 1.4.2 Específicos • Identificar as práticas de responsabilidade social premiadas pelo SESI relacionadas ao público interno; • Descrever as características, objetivos e particularidades das ações socialmente responsáveis premiadas pelo SESI; • Verificar a existência de paradoxos entre a adoção das práticas de gestão de pessoas e as práticas de responsabilidade social premiadas pelo SESI. 21 2 REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico é composto de duas temáticas relevantes para as organizações, que são a responsabilidade social e a gestão de pessoas. No decorrer deste capítulo serão expostos conceitos, aspectos históricos, ações e práticas, bem como procedimentos de avaliação a respeito da responsabilidade social nas empresas. Consequentemente serão apresentados aspectos conceituais e históricos da gestão de pessoas e suas respectivas funções clássicas, além das práticas de gestão de pessoas como parte integrante das estratégias empresariais. Finalmente, a última parte deste referencial teórico aborda a relação entre a responsabilidade social e a gestão de pessoas. 2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL A temática da responsabilidade social tem sido cada vez mais utilizada no meio empresarial, como também tem despertado interesse e curiosidade. Além disso, por se tratar de um tema contraditório, tem provocado discussões entre os diversos componentes da sociedade em relação à sua origem, significado e atuação. Segundo Oliveira (2008, p. 10): O estudo da responsabilidade social não é uma ciência. É uma área de interesse inter e multidisciplinar, transitando pelos campos de várias ciências sociais e humanas, até mesmo filosofia. Em administração, foi onde o debate conceitual e prática sobre responsabilidade social tomou corpo, talvez por ser a empresa um dos principais objetos de estudo das ciências da administração. A responsabilidade social é um fato presente nas relações empresariais que tem se dispersado de forma crescente e atuante nas mais distintas esferas organizacionais e um tema cada vez mais utilizado pelas empresas. 2.1.1 Aspectos históricos As novas exigências que permeiam o cenário organizacional em relação à adequação das empresas aos padrões e certificações que possibilitam uma convivência mais salutar e agradável entre empresa versus sociedade trazem à tona as características da responsabilidade social empresarial como fator imprescindível para atingir determinados padrões e comportamentos empresariais. Todavia essas exigências ou preocupações não são tão recentes e já fazem parte de um contexto histórico mais longínquo que, só a partir das últimas décadas, 22 tomou proporções mais elevadas. De acordo com Zarpelon (2006), as primeiras manifestações científicas, voltadas especificamente à área de responsabilidade social, surgiram no início do século XX com Charles Eliot e Arthur Hakley. Pouco mais tarde, em 1916, John Clark também contribui expressivamente, e, em 1953, o norte-americano Howard Bowen, nos EUA, aprimora os estudos e publica sua obra intitulada Responsabilities of the Businessman, que é considerada um marco na área de Responsabilidade Social. No Brasil, alguns especialistas apontam que, o processo de evolução e disseminação dos conceitos sociais foi fortemente influenciado por Gilberto Freyre, em especial, com sua obra intitulada Casa Grande e Senzala, em 1936. Percebe-se que a responsabilidade social não é um assunto tão recente no ambiente acadêmico, tendo em vista que “os primeiros estudos teóricos sobre a responsabilidade social empresarial, desenvolvidos a partir dos pressupostos conceituais da sociedade pós-industrial, surgem em 1950” (TENÓRIO, 2006, p. 23). De acordo com Ashley (2004), Bowen, em 1953, nos primeiros estudos sobre responsabilidade social dos executivos, apresentou a responsabilidade social como prática essencial e obrigatória que tende a apreciar os fins e valores da sociedade. No entanto, a partir da década de 1970, os trabalhos relacionados à temática passaram a ter mais evidência e notoriedade. Para Tenório (2006), foi com o filantropismo, no início do século XX, que surgiu a abordagem da atuação social empresarial. Posteriormente, o conceito foi evoluindo e incorporando anseios dos agentes sociais no plano de negócios das corporações, ao passo que ocorria o esgotamento do modelo industrial e o desenvolvimento da sociedade pós-industrial. Assim, além do filantropismo, conceitos como voluntariado empresarial, cidadania corporativa, responsabilidade social corporativa e desenvolvimento sustentável foram surgindo. Nesse caso, o contexto em que se concebeu a responsabilidade social empresarial, divide-se em dois períodos distintos: o primeiro compreende o início do século XX até a década de 1950, e o segundo, estende-se da década de 1950 até os dias atuais, que representa a abordagem contemporânea com a discussão do conceito de desenvolvimento sustentável. No entanto, “organizações privadas na Idade Média, bem antes da criação do capitalismo como sistema econômico, já atuavam na área social, com ações de filantropia” (OLIVEIRA, 2008, p. 26). Segundo Ashley (2004, p. 18): “os monarcas expediam alvarás para as corporações de capital aberto que prometessem benefícios públicos, como a exploração e a colonização do Novo Mundo”. Nos séculos XIX e XX, viu-se a massificação de ações filantrópicas nas organizações e, só a partir da metade do século XX, iniciaram-se os 23 vários movimentos vinculados ao que atualmente se denomina responsabilidade social (OLIVEIRA, 2008). De acordo com Ashley (2004, p. 19): A partir de então, defensores da ética e da responsabilidade social corporativa passaram a argumentar que, se a filantropia era uma ação legítima da corporação, então outras ações que priorizam objetivos sociais em relação aos retornos financeiros dos acionistas seriam de igual legitimidade, como o abandono de linhas de produto lucrativas, porém nocivas ao ambiente natural e social. Dessa forma, as características da responsabilidade social, até então percebidas, foram sendo modificadas ao longo do tempo de acordo com as influências da sociedade e, em especial, pela necessidade de adequação das organizações ao contexto em que estavam inseridas, principalmente com o surgimento do termo stakeholder, “que incorpora ao arcabouço teórico da responsabilidade social empresarial a visão sistêmica, segundo a qual as companhias interagem com vários agentes, influindo no meio ambiente e recebendo influência deste” (TENÓRIO, 2006, p. 24). Esses agentes ou stakeholders são todos aqueles indivíduos e grupos que podem se afetar ou serem afetados direta ou indiretamente durante o desenvolvimento das atividades organizacionais em busca dos seus objetivos (FREEMAN, 1984), tais como: acionistas, empregados, fornecedores, clientes, comunidade/sociedade, governo e concorrentes. A principal característica dessa teoria é atingir vários objetivos, tanto os da organização quanto os dos agentes envolvidos no processo. Assim, na década de 1980, com o ressurgimento da ideologia liberal e da globalização, a responsabilidade social se reveste de forma distinta quanto ao seu conceito e praticidade, quando os argumentos utilizados são a favor do mercado (TENÓRIO, 2006). Segundo Tenório (2006, p. 24): [...] nessa acepção do conceito, o mercado é o principal responsável pela regulação e fiscalização das atividades empresariais, impedindo abusos por parte das companhias. Cabe ao consumidor retaliar por meio do boicote ou de protestos os produtos das empresas que não respeitam os direitos dos agentes e que poluam o meio ambiente. Outro marco histórico importante ocorreu na França, em 1968, onde é realizado o primeiro trabalho de balanço socioeconômico, intitulado Societés Coopératives Ouvrières. Poucos anos depois, mais precisamente em 1977, tal trabalho possibilitou a promulgação de uma lei que obrigou as empresas a realizarem balanços periódicos avaliando o desempenho social. Dessa forma, a França foi o primeiro país no mundo a promulgar essa lei com propósitos sociais (ZARPELON, 2006). Oliveira (2007) também apresenta causas que proporcionaram modificações significativas no entendimento sobre responsabilidade social, 24 principalmente relacionada ao sistema capitalista de produção, pois a globalização como resultado das mudanças do capitalismo moderno com sua configuração paradoxal, que, por um lado, apresenta avanços tecnológicos, aliados aos avanços das informações e produção abundante de conhecimento, e, por outro, níveis sociais e humanos cada vez mais baixos e alarmantes, não consegue dar respostas eficientes e eficazes aos problemas sociais. Dessa maneira, pode-se destacar um breve histórico do desenvolvimento e do tratamento da pobreza em quatro “eras”, visto que um dos principais motivos da responsabilidade social é minimizar as desigualdades sociais através de programas sociais: Era da Ajuda pela Ajuda (período pré-história); Era da Caridade (período medieval); Era da Filantropia (transição do feudalismo e mercantilismo para o capitalismo); e a Era das Políticas Sociais (OLIVEIRA, 2007). Conjuntamente às leis que impõem as empresas a determinadas práticas, Tenório (2006, p. 45) observa o surgimento da responsabilidade como fator histórico vivenciado e influenciado pela sociedade: A responsabilidade social corporativa surge com a mudança de valores proposta pela sociedade pós-industrial: a valorização do ser humano, o respeito ao meio ambiente, a busca de uma sociedade mais justa e uma organização empresarial de múltiplos objetivos. Os novos valores pós-econômicos são também evidentes na crescente insistência pública de que as corporações se preocupem com o desempenho social e não apenas com o econômico. Entretanto as transformações relacionadas à responsabilidade social envolvem particularidades importantes que devem ser vistas como agentes influenciadores para tais mudanças, dentre estes, as ideologias políticas como “a noção de Estado de Direito, as políticas de atendimento e amparo social, a seguridade social e, principalmente, o chamado Welfare State, ou Estado de Bem-estar Social” (OLIVEIRA, 2007, p. 23) e as práticas empresariais, que nortearam o novo caráter da responsabilidade social empresarial. De acordo com Tenório (2006), a ideologia neoliberal continuou a conduzir as discussões a respeito da responsabilidade social empresarial na década de 1990, originando o conceito elaborado pelo World Business Council for Suistainable Development, segundo o qual a responsabilidade social empresarial faz parte do desenvolvimento sustentável. Nesse caso, as dimensões econômica, ambiental e empresarial compõem essa abordagem relacionada ao desenvolvimento sustentável, que busca alcançar vantagem competitiva através da preservação do meio ambiente e pelo respeito aos anseios dos agentes sociais, colaborando assim para a melhoria da qualidade de vida da sociedade. Nesse sentido, o respeito e 25 admiração dos consumidores, da sociedade, dos empregados e dos fornecedores seriam conquistados, favorecendo a continuidade e sustentabilidade da organização em longo prazo. De certa forma, as reflexões sobre a temática da responsabilidade social levaram a sociedade a iniciar um processo de readequação e ressignificação das atitudes, valores e ações praticadas com o meio ambiente e com os outros indivíduos, tal qual apregoa a Gestão Social, conforme entendem Souza; Oliveira (2005, p. 1): A Gestão Social é tomada como o conjunto de estratégias e políticas organizacionais de promoção do bem-estar de indivíduos e coletividades, destinado à recomposição de elos de integração do Homem com o semelhante e com o ambiente, articulando, sob o ideal da emancipação humana, elementos de racionalidade substantiva à ação racional instrumental. De acordo com Megginson; Mosley; Pietri (1998), os conceitos de responsabilidade social evoluíram por quatro períodos distintos. O primeiro caracterizou-se pela maximização do lucro (compreende desde a Antiguidade até a Revolução Industrial); o segundo período foi pautado pela administração por curadoria (a partir da década de 30, logo após a Grande Depressão), em que os administradores e o governo passaram a dar mais atenção aos empregados, clientes e sociedade, bem como aos interesses dos acionistas; o período de ativismo foi o terceiro estágio dessa evolução (início da década de 1960), com as reivindicações relacionadas às oportunidades igualitárias de empresa, a proteção ambiental e a preocupação com o consumidor; e, por fim, o último período caracteriza-se por uma compreensão social, que tem como principal causa as “falhas cometidas pelo governo nesta área, que tem demonstrado não possuir condições de resolver todos os problemas sociais” (KARKOTLI, 2006, p. 12). O autor expõe consequências oriundas da ineficiência do Estado junto aos problemas sociais, criando tanto na sociedade como nas organizações, discussões e reflexões sobre responsabilidade social, possibilitando uma maior busca de conhecimento por parte das empresas privadas, organizações do Terceiro Setor e consumidores a respeito da conduta social das empresas (KARKOTLI, 2006). Nessa perspectiva, as organizações tiveram que se adequar a essa nova realidade, tendo que traçar novas estratégias e planos que englobassem práticas socialmente responsáveis, pois “a ideologia do bem-estar social e a filosofia do pleno-emprego cederam lugar ao novo modelo de globalização e a suas respectivas lógicas e racionalidade” (MELO NETO; FROES, 2001, p. 3). Consequentemente, filosofias e modelos gerenciais foram surgindo para dar subsídios às organizações no intuito de desenvolver e tornar o discurso vigente em práticas bem disseminadas no ambiente organizacional. Por isso, “já nas últimas 26 décadas do século XX as empresas começaram a deslocar seu foco de atenção, antes unicamente direcionado aos stockholders, para todos os públicos de interesse da organização – os stakeholders” (DAINEZE, 2004, p. 87). Para tal adequação, vale salientar que, de acordo com Srour (2003, p. 308), “a lógica da responsabilidade social funciona como intrusa na paisagem capitalista. Resulta dos embates históricos levados a efeito por inúmeros movimentos políticos e associativos em defesa da cidadania, dos trabalhadores, dos contribuintes, dos usuários e dos consumidores”. Observa-se, portanto, uma mudança gradativa, circunstancial e planejada, conforme apresenta Daineze (2004, p. 86): Dessa forma, começou uma lenta, mas importante mudança na filosofia das empresas: de ‘o público que se dane’ para ‘o público seja informado’. Por essa nova perspectiva, presume-se que o público, ao ter informações completas e verdadeiras, é capaz de fazer um julgamento correto e tomar suas decisões com relação à organização. Presume-se também que, sendo a aprovação do público crucial para as empresas, é obrigação delas mantê-lo informado de suas políticas e formas de fazer negócio. Verifica-se que “o primeiro movimento em prol do relatório social emergiu da orientação proposta pelo Concílio Vaticano II, mais precisamente com a promulgação da encíclica Mater et Magister, em 1961” (PINTO, 2002, p. 77). Essa ideia faz parte do pensamento da Igreja Católica explicitado em sua Doutrina Social a respeito da necessidade de equilíbrio entre os objetivos das empresas e os da sociedade: “na empresa, portanto, a dimensão econômica é condição para que se possam alcançar objetivos não apenas econômicos, mas também sociais e morais, a perseguir conjuntamente” (PONTIFÍCIO CONSELHO, 2005, p. 196). Neste aspecto, “o sentido de responsabilidade que brota da livre iniciativa econômica se configura não só como virtude individual indispensável para o crescimento humano do indivíduo, mas também como virtude social necessária ao desenvolvimento de uma comunidade solidária” (PONTIFÍCIO CONSELHO, 2005, p. 199). Dessa forma, a Igreja Católica entende ser “indispensável que, no interior da empresa, a legítima busca do lucro se harmonize com a irrenunciável tutela da dignidade das pessoas que, a vário título, atuam na mesma empresa” (PONTIFÍCIO CONSELHO, 2005, p. 197). No Brasil, a preocupação com os problemas sociais “tem tradição histórica, destacando-se as obras assistenciais privadas e as de caráter comunitário. As santas casas apareceram no século XVI, poucos anos após o descobrimento” (PINTO, 2002, p. 33). Os programas sociais surgiram através de ações caritativas e filantrópicas por parte de associações ou organizações religiosas, o que corrobora o pensamento de Ashley (2004, p. 55): 27 Os princípios norteadores da responsabilidade social – em uma interpretação comum no Brasil de assistencialismo empresarial, tais como doação de bens e serviços, doações financeiras, cessão de funcionários especializados, voluntariado e filantropia – têm uma base fixado nos princípios religiosos de caridade. Alguns expoentes tornaram-se precursores dessas ações, como a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), o Instituto de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o cidadão Herbert de Souza – o Betinho. Em se tratando da atuação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas, percebe-se que a mesma é tida como protagonista das primeiras discussões sobre responsabilidade social ainda em meados da década de 1970, tendo como objetivo preliminar os debates sobre o balanço social das empresas. Isso revela que a disseminação da ideia de responsabilidade social ainda é recente no Brasil (ASHLEY, 2004). De acordo com Pinto (2002, p. 419): A sociedade brasileira colabora com o processo de alavancagem social do país há muitas décadas, mas, desde os anos 1990, vem ocorrendo uma mobilização cada vez maior do empresariado no tocante a ações de participação social para a solução dos problemas que afetam os segmentos populacionais socialmente mais fragilizados no Brasil. Segundo Pinto (2002), Herbert de Souza – Betinho – foi um reconhecido propagador da utilização do balanço social junto à sociedade como um todo, incentivando a participação das empresas quanto à divulgação de seus balanços sociais e na disseminação de programas sociais que envolvessem o empresariado brasileiro, partindo do pressuposto de que a responsabilidade social empresarial não é apenas uma peça de marketing, mas um dever de cada um. Schommer; Rocha (2007) apontam algumas organizações surgidas recentemente que tem oferecido contribuições e reflexões significativas sobre a responsabilidade social das empresas, tais como: o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) – fundado em 1981; o Prêmio ECO – Empresa e Comunidade, lançado em 1982, pelas Câmaras Americanas de Comércio de São Paulo (AMCHAM); o Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), criado desde 1991; a Fundação Abrinq – criada em 1990; o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) – criado em 1995; o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) – também fundado em 1995; o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Empresarial – constituído em 1998; e o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente – fundado em 2001. 28 Desta forma, “já se torna realidade no Brasil uma visão empresarial que considera o social como qualificador dos resultados econômicos. As empresas estão cada vez mais conscientes da importância do binômio estratégia mercadológica/responsabilidade social” (PINTO, 2002, p. 106). No entanto, a realidade brasileira não difere sobremaneira dos outros países, tendo em vista que “o grande desafio do capitalismo no século XXI é estimular a empresa-cidadã, aquela que consegue conciliar lucro (eficácia econômica) e preocupações sociais, ambientais e éticas” (SROUR apud ASHLEY, 2004, p. 89). Assim também entende Zarpelon (2006, p. 27) quando afirma: “um paradigma a ser quebrado pelas organizações do futuro tange no que diz respeito em se considerar o lucro menos importante do que a função social que esta possa desempenhar”. 2.1.2 Definindo Responsabilidade Social – Conceitos Os termos utilizados para identificar ou caracterizar a responsabilidade social se apresentam de diversas formas, o que proporciona não raramente distorções e confusões quanto ao real sentido da mesma. Nem todas as organizações conhecem o verdadeiro significado da responsabilidade social, suas aplicações e consequências. Nesta mesma lógica, o meio acadêmico também se divide caracterizado por conceitos e concepções distintas que variam de acordo com o pensamento e contexto histórico de cada um. Dessa forma, “ainda não existe um conceito plenamente aceito sobre responsabilidade social. Confunde-se, muitas vezes, responsabilidade social com ‘ações sociais’, reduzindo o seu escopo com atividades de cunho filantrópico” (FILHO; PINHEIRO, 2006, p. 24). De acordo com Amoêdo (2007), atualmente, o que se denomina responsabilidade social perpassa o âmbito de temas relacionados apenas ao indivíduo até adentrar as organizações. Nesse caso, “as empresas extrapolam os limites de sua área de influência em seus programas de participação social para alavancar projetos ambientais, educacionais e culturais” (PINTO, 2002, p. 27). No entanto, as maiores discussões permeiam sobre o entendimento da responsabilidade social empresarial e quais as suas obrigações, tendo em vista as opiniões divergentes sobre a obrigatoriedade ou não de tais ações por parte das empresas, quando na realidade os programas sociais são dever do Estado. Discute-se também a forma como as empresas utilizam tais ações para fins diversos que nem sempre coadunam com o significado de responsabilidade, dentre outros questionamentos. Santos (2008) critica o discurso que enfatiza a responsabilidade social como uma maneira de tentar substituir o papel do Estado pelo capital privado em relação aos programas que promovem bem-estar à 29 sociedade, tendo em vista que os principais motivos empresariais não fogem muito de uma lógica utilitarista. Ashley (2004, p. 10), por sua vez, apresenta a visão do economista Milton Friedman (1912-2006) que “reforça a idéia de que a empresa é socialmente responsável ao gerar novos empregos, pagar salários justos e melhorar as condições de trabalho, além de contribuir para o bem-estar público ao pagar seus impostos”. Assim se expressa o próprio Friedman (1985, p. 122): Ultimamente, um ponto de vista específico tem obtido cada vez maior aceitação - o de que os altos funcionários das grandes empresas e os líderes trabalhistas têm 'uma responsabilidade social' para além dos serviços que devem prestar aos interesses de seus acionistas ou de seus membros. Esse ponto de vista mostra uma concepção fundamentalmente errada do caráter e da natureza de uma economia livre. Em tal economia, há uma e só uma responsabilidade social do capital - usar seus recursos e dedicar-se a atividades destinadas a aumentar seus lucros até onde permaneça dentro das regras do jogo, o que significa participar de uma competição livre e aberta, sem enganos ou fraude. Nesse entendimento, “há poucas coisas capazes de minar tão profundamente as bases de nossa sociedade livre do que a aceitação por parte dos dirigentes das empresas de uma responsabilidade social que não a de fazer tanto dinheiro quando possível para seus acionistas” (FRIEDMAN, 1985, p. 123). Em contrapartida, idéias opostas são apresentadas e tendem a reforçar a utilização da responsabilidade social nas empresas, pois de acordo com Keith Davis, a empresa acarreta custos de suas atividades para a sociedade, o que exige reparações aos danos causados, isto é, as organizações tem responsabilidade direta e obrigações para minimizar muitos dos problemas que atingem a sociedade (ASHLEY, 2004). Verifica-se, assim, que são “diversas as definições de responsabilidade social. Para alguns representa a idéia de obrigação legal, para outros significa um comportamento responsável no sentido ético, e para outros ainda significa uma contribuição caridosa ou até mesmo uma consciência social” (KARKOTLI, 2006, p. 45). Porém as diferentes definições podem causar danos no entendimento e compreensão do que seja realmente responsabilidade social, pois esse movimento recente de ações sociais empresariais que está sendo incorporado aos modelos de gestão das empresas faz surgir expressões como cidadania empresarial, filantropia corporativa, ação social, responsabilidade ética, relações públicas, atividades comunitárias, desafios sociais, preocupação social e responsabilidade social empresarial, que comumente são vistas como sinônimos e, em alguns casos, podem gerar certa confusão (MEGGINSON; MOSLEY, PIETRI, 1998; MELO NETO; BRENNAND, SCHOMMER; ROCHA, 2007; TENÓRIO, 2006; WELZEL; LUNA; BONIN, 2008). 2004; 30 Segundo Melo Neto; Froes (2001, p. 31), “a maior dificuldade para definir responsabilidade social está na amplitude do tema e, consequentemente, na extensão do seu espectro”. Nesse caso, faz-se necessário diferenciar de maneira clara o que seja responsabilidade social e ações assistenciais ou filantrópicas, partindo do pressuposto de que a responsabilidade social não é uma mera ação de marketing, mas deve estar “incluída no patamar de estratégia empresarial, o que significa a manutenção de uma política de longo prazo” (ARANTES et al., 2004, p. 133), pois “a questão da responsabilidade social vai, portanto, além da postura legal da empresa, da prática filantrópica ou do apoio à comunidade. Significa mudança de atitude, por uma perspectiva de gestão empresarial com foco na agregação de valor para todos” (ARANTES et al., 2004, p. 126). Para Azevedo (2004), a responsabilidade social difere consubstancialmente da filantropia, tendo seu alicerce na consciência social e no dever cívico, e não na caridade. Sua ação é coletiva, visando melhorias para a sociedade, e não, uma ação individualista ou egoísta, pois busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva. Vale ressaltar que as divergências não se limitam aos conceitos e denominações, mas também, de forma complexa, quando se trata dos fins a que se propõe a responsabilidade social, pois “algumas autoridades argumentam que as empresas devem desempenhar atividades ligadas à responsabilidade social porque lucratividade e crescimento decorrem do tratamento responsável de grupos como empregados, clientes e a comunidade” (DAFT, 1999, p. 95). A responsabilidade social tem se mostrado um valioso instrumento ou nova estratégia para que se adquira maior credibilidade organizacional, potencializando o desenvolvimento ou até aumentando a lucratividade. Isso tem sido evidenciado de forma acentuada pelas empresas, estudiosos e mídia, ou seja, dando ênfase exclusivamente à abordagem instrumental da responsabilidade social, que busca adquirir vantagens competitivas no cenário empresarial globalizado (ASHLEY, 2004). Nesse mesmo pensamento, Melo Neto; Brennand (2004) revelam que as organizações encontraram no valor ético institucional, uma nova fonte de vantagem competitiva, justamente num momento em que os clientes estão cada vez mais exigentes e buscam menor preço, melhores serviços e qualidade. Dessa forma, organizações que utilizam sua imagem institucional baseada em valores socialmente responsáveis, adquirem vantagens competitivas sobre os demais concorrentes e principalmente junto aos clientes. Segundo Ashley (2004, p. 3), “essa tendência decorre da maior conscientização do consumidor e consequente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania”. Complementado 31 essa afirmação, “hoje, quase não há dúvida de que o público em geral quer que as empresas e organizações atuem com genuína responsabilidade social” (SCHERMERHORN, 2007, p. 63). De acordo com Lourenço; Schröder (2003), além de valorizar a imagem institucional da organização, a responsabilidade social proporciona diversas vantagens para a empresa, bem como para a sociedade, que vai desde a criação de uma sociedade mais justa à construção de uma continuidade e sobrevivência da empresa. Em recente pesquisa, resultados apontaram que a razão para as ações socialmente responsáveis desenvolvidas pelas empresas se dão por inúmeros motivos que vão desde a conscientização de sua atuação profissional, a imagem institucional até a redução de custos (GRACIANO, 2008). Ainda sobre esse aspecto, Melo Neto; Froes (2001, p. 73) assim se expressam: O social também incorpora valores e fortalece a imagem corporativa de marcas e produtos. Faz a empresa ganhar respeito, reconhecimento e simpatia de clientes, fornecedores, distribuidores e de toda a população. Praticando ações de responsabilidade social, as empresas mantêm vínculos com o seu ambiente interno e externo. Todavia essa atuação não necessariamente garante retorno ou lucratividade, é o que apontam algumas pesquisas que revelam não haver qualquer relação estatisticamente significativa entre responsabilidade social e lucratividade ou rentabilidade (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998; CAMPOS; GRZEBIELUCKAS; SELIG, 2009). Em contrapartida, pesquisas demonstram que a preferência dos consumidores está cada vez mais atrelada a marcas e produtos envolvidos com projetos sociais (MELO NETO; BRENNAND, 2004; ARANTES et al., 2004), sem contar outras vantagens diagnosticadas, como na recente pesquisa de Faria; Ferreira; Carvalho (2008), revelando que empresas consideradas socialmente responsáveis tem maiores chances de atrair novos talentos, o que quer dizer que ações contrárias à responsabilidade social podem prejudicar a captação de tais talentos para a organização. Além das definições quanto aos fins almejados, Logsdon & Yuthas apud Ashley (2004) apresentam uma tipologia das abordagens relacionadas à responsabilidade social corporativa: pré-convencional, convencional e pós-convencional, conforme o Quadro 1: 32 Nível de desenvolvimento moral Pré-convencional Convencional Orientação para os stakeholders Ênfase Critério de processo decisório Engrandecimento de si Orientação apenas para Cálculo quanto próprio sem considerar si próprio. prazer/dor. os outros. a Obrigações negativas Conceito estrito de Expectativas dos para com os outros. mercado, como a lei parceiros de trabalho e exige. controle social. Obrigações positivas. Pós-convencional Relações com larga faixa stakeholders. uma Princípios de universais. éticos Quadro 1 – Desenvolvimento moral das organizações e orientação para os stakeholders Fonte: Ashley (2004, p. 27) – Adaptado e traduzido do original de Logsdon & Yuthas (1997) Há a tipologia desenvolvida por Carrol (1979 e 1991) que contém uma subdivisão com quatro tipos de responsabilidade: responsabilidade econômica – ser lucrativa; responsabilidade legal – obedecer a lei; responsabilidade ética – ser ético, fazer o que é certo, evitar dano; e responsabilidade discricionária – contribuir para a comunidade e qualidade de vida, conforme a Figura 1: Figura 1 – Tipologia da Responsabilidade Social Fonte: Carrol (1979; 1991) De forma semelhante, Ferrel; Fraedrich; Ferrel (2000) elencam quatro tipos de responsabilidade social – econômica, legal, filantrópica e ética – que são diferenciados de acordo com os objetivos a serem atingidos. Vão desde a satisfação dos investidores, passando 33 pelo respeito e cumprimento das leis, até as práticas socialmente responsáveis por parte das organizações visando o bem comum da sociedade. Dessa maneira, para Srour (2003, p. 382): A responsabilidade social empresarial diz respeito à tomada de decisão orientada eticamente, vale dizer, condicionada pela preocupação com o bem-estar da coletividade. No essencial, significa gerar ganhos sociais ou benefícios para os stakeholders. Parte das seguintes premissas: respeitar os interesses da população, preservar o meio ambiente e satisfazer as exigências legais. Independentemente das consequências proporcionadas pela responsabilidade social nas empresas, o fato é que duas vertentes permanecem contrárias quando expostas aos motivos, objetivos e fins almejados pelas organizações: por um lado a racionalidade funcional, pragmática ou instrumental, e a racionalidade substantiva ou noética por outro (RAMOS, 1983). Para Ashley (2004, p. 28), “entende-se que o conceito de responsabilidade social corporativa requer como premissa para sua aplicabilidade não reduzida à racionalidade instrumental, um novo conceito de empresa e, assim, um novo modelo mental das relações sociais, econômicas e políticas”. Para tanto, faz-se necessário, antes de qualquer coisa, que os modelos de gestão e técnicas de gerenciamento ou filosofias gerenciais sejam repensados, visando não permitir que o desejo do lucro obscureça os fins sociais (QUEIROZ et al., 2002). De qualquer forma, “o conceito de responsabilidade social corporativa não pode ser reduzido a uma dimensão social da empresa, mas interpretado por meio de uma visão integrada de dimensões econômicas, ambientais e sociais que, reciprocamente, se relacionam e se definem” (ASHLEY, 2004, p. 29). Todavia coadunar racionalidades antagônicas não é tarefa fácil, o que implica a mudança da racionalidade do sistema e das empresas, não podendo forçá-las a ser ineficientes. Portanto “a solução encontrada foi a criação de uma nova lógica e racionalidade social. Ela surge não para substituir a lógica econômica globalizante, mas para atenuar seus efeitos e diminuir seus riscos sistêmicos” (MELO NETO; FROES, 2001, p. 6). Para Srour (2003, p. 308): As duas lógicas, a do lucro e a da responsabilidade social, convivem às turras. A primeira, endógena e imanente ao capitalismo; a segunda, exógena e fruta da ação política militante. A primeira, imantada pela satisfação dos interesses dos proprietários ou detentores do capital (quotistas, acionistas); a segunda, imbuída pela satisfação dos interesses dos demais stakeholders das empresas. De acordo com Nash (1993, p. 121), “quando o lucro torna-se o próprio dominante, ele não apenas é priorizado, mas é exclusificado. O lucro é uma alegação tão concreta e forte, e a ética é tão abstrata e fluida, que o primeiro pode facilmente dominar a forma da tomada de 34 decisão das pessoas”. Dessa forma, “como conciliar os excessos da racionalidade econômica vigente com as vantagens e os benefícios da nova racionalidade social emergente?” (MELO NETO; FROES, 2001, p. 9). A dúvida surge, porque na maioria das vezes, quando o objetivo principal se refere aos resultados financeiros, as necessidades alheias normalmente não são evidenciadas, ou melhor, são esquecidas (NASH, 1993). Nesse mesmo entendimento, Nash (1993, p. 124-125) ainda comenta as características de uma organização pautada numa racionalidade instrumental ou pragmática: Uma abordagem de negócios que use o lucro – mesmo que seja o lucro esclarecido – como estrela guia incentiva um enfraquecimento de outros valores, por mais fortes que eles sejam na vida particular. A cegueira do resultado financeiro, embora pretenda provocar apenas um espírito competitivo limpo, está inerentemente carregada de problemas morais. Nesta ótica, Melo Neto; Froes (2001) esclarece o perigo existente no fato de prevalecer a lógica do mercado, que visualiza determinada comunidade como nicho de mercado e possíveis ações socialmente responsáveis como ações de marketing, além de buscar demasiadamente resultados imediatos a qualquer custo. Paralelamente à responsabilidade social, o desenvolvimento sustentável vem sendo discutido e disseminado nos ambientes organizacionais e, às vezes, são utilizados de forma conjunta com o intuito de reforçar e revestir a responsabilidade social de caráter contínuo e permanente, envolvendo aspectos relacionados à qualidade de vida no trabalho e na sociedade, à igualdade de oportunidades, ao fomento da cidadania, bem como o respeito aos princípios e valores éticos e morais (MELO NETO; BRENNAND, 2004). Para que a atuação das empresas seja efetivamente moldada pela responsabilidade social, faz-se necessária a construção de relações confiáveis e duradouras com todos os stakeholders ou segmentos envolvidos com a organização (MELO NETO; FROES, 2001). Segundo Ashley (2004, p. 6-7), o conceito de responsabilidade social é abrangente e pautado na racionalidade substantiva: Responsabilidade social pode ser definida como o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela (...). Assim, numa visão expandida, responsabilidade social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade. 35 Outro conceito que tem sido utilizado frequentemente é o disseminado pelo Instituto Ethos, que apresenta a responsabilidade social empresarial com a seguinte afirmação: [...] é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (INSTITUTO ETHOS, 2009). 2.1.3 Ações e práticas socialmente responsáveis Dentre as mudanças ocorridas no ambiente organizacional, seja de caráter tecnológico, gerencial ou comportamental, uma das mais significativas relaciona-se à responsabilidade social, ou seja, à tendência da utilização e adequação por parte das empresas quanto às práticas socialmente responsáveis. Desta forma, as ações e práticas socialmente responsáveis se caracterizam por apresentar várias formas e focos a serem atingidos por tais iniciativas empresariais. De acordo com Megginson; Mosley; Pietri (1998, p. 101), “a melhor maneira de ilustrar a responsabilidade social talvez seja por meio de programas específicos de ação realizados pela administração”. Nesse caso, esses programas frequentemente permeiam atividades implementadas nas seguintes áreas: relações com os empregados; serviço ao público e à comunidade; proteção ambiental; defesa do consumidor; assistência médica e educacional; desenvolvimento e renovação urbana; e cultura, arte e recreação (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998). No entanto, os autores observam que há duas perspectivas da responsabilidade social, sendo a opinião a favor de uma limitação (teoria defendida pelo economista Milton Friedman) e a opinião a favor de uma responsabilidade (teoria altruísta voltada para o bem-estar da sociedade): Há várias perspectivas em relação ao grau em que a administração de uma empresa deveria praticar a responsabilidade social. Apesar das empresas não se voltarem contra o princípio da responsabilidade social, nem todas concordam quanto ao limite e a extensão de sua aplicação. As opiniões variam de um extremo ao outro (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI, 1998, p. 94). Não diferentemente às discussões relacionadas aos conceitos de responsabilidade social, as controvérsias também incluem práticas desenvolvidas pelas organizações. “Segundo os autores clássicos da área, como Howard Bowen, há cinco tipos de público beneficiados 36 com a responsabilidade social: funcionários, clientes, fornecedores, competidores e outros com os quais a empresa mantenha transações comerciais” (ASHLEY, 2004, p. 8). Além do mais, “as quatro vertentes de participação social – a da assistência social, a do balanço social, a dos procedimentos éticos e a da responsabilidade social – avançam simultaneamente em seus próprios desafios” (PINTO, 2002, p. 403). No entanto, nem sempre as ações socialmente responsáveis praticadas pelas empresas englobam todas as fases e vertentes da responsabilidade social. Nesse caso, as “ações sociais praticadas em decorrência do cumprimento das leis não se caracterizam atos responsáveis, conscientes e voluntários, mas sim um cumprimento às exigências legais, baseado no princípio de ato mandatário, executado para evitar penalidades ou repreensão” (ZARPELON, 2006, p. 36). Dessa forma, “o que, geralmente, ocorre na prática é a existência de ações socialmente responsáveis numa ou mais dimensões e ações socialmente irresponsáveis em outras” (MELO NETO; BRENNAND, 2004, p. 7). Essas organizações que não atuam de forma sistemática e consistente no campo da responsabilidade social igualam-se a empresas que desenvolvem ações sociais esporádicas, sem nenhum foco e cujas ações são simplesmente filantrópicas e assistencialistas, que não podem ser denominadas empresas socialmente responsáveis, quando muito, empresas com vocação ou pretensão para o social (MELO NETO; BRENNAND, 2004). O fato é que a demanda por programas e ações sociais cresce a cada dia devido ao elevado crescimento dos problemas sociais, bem como às novas exigências impostas pelo mercado às empresas que, por sua vez, são induzidas a desenvolverem ações socialmente responsáveis, pois “a prática da responsabilidade social empresarial vem como resposta ao marcante desequilíbrio econômico e à injustiça social, marcados pelo capitalismo” (AZEVEDO, 2004, p. 344). Neste contexto, as ações e práticas das empresas, bem como os focos de atuação vêm sofrendo mudanças quanto à sua natureza e continuidade, pois as ações puramente assistenciais e filantrópicas se revestem de outra característica voltada mais para a responsabilidade social. De acordo com Melo Neto; Froes (1999, p. 79), “as ações de filantropia correspondem à dimensão inicial do exercício da responsabilidade social. Sua característica principal é a benemerência do empresário, que se reflete nas doações que faz para entidades assistenciais e filantrópicas”. Para Souza (2008, p. 12-13): 37 A filantropia, por sua vez, significa amor à humanidade, humanitarismo. Tradicionalmente está relacionada a atividades de pessoas ricas e de importantes organizações econômicas que praticam ações sociais doando recursos para instituições beneficentes. Nos dias atuais, a filantropia tem sido enfatizada sob a forma de doações de particulares para causas sociais, incluindo investimentos sociais de empresas privadas em Responsabilidade Social Corporativa, mediante a criação de fundações que exercem papel na intermediação de recursos para bancar projetos assistenciais. A filantropia estabelece, portanto, doação de ricos – os que têm – para pobres, os que não têm. Alguns estudiosos e especialistas não consideram a filantropia uma ação de responsabilidade social, mas um estágio preliminar ou pré-responsabilidade social, entendendo que a mesma é apenas um tipo de ação que se insere no contexto mais abrangente da responsabilidade social (MELO NETO; FROES, 2001). Assim, a idéia de responsabilidade social vai além da filantropia, a ponto de balizar suas ações sociais com a comunidade de forma contínua e consistente, baseada em princípios e valores éticos, ao mesmo tempo em que são reforçadas as relações entre a empresa e seus stakeholders (MELO NETO; FROES, 1999). Schommer; Rocha (2007) utilizam uma classificação interessante para as ações sociais das empresas, dividindo-as em três ondas, sendo a primeira onda voltada para a filantropia; a segunda onda seria o investimento social privado; e a terceira onda é a gestão socialmente responsável vinculada à estratégia empresarial e relacionada às demais dimensões organizacionais. Entretanto as ações e práticas socialmente responsáveis partem do pressuposto que os programas sociais podem ser desenvolvidos a partir das necessidades dos stakeholders, ou seja, podem ocorrer tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo das organizações, sendo que para uma atuação eficaz da empresa, quando o assunto é responsabilidade social, as ações devem ocorrer nas duas dimensões: interna e externa (MELO NETO; FROES, 1999). A responsabilidade social interna “focaliza o público interno da empresa (funcionários), além de seus dependentes. O objetivo é motivá-los para aumentar o seu desempenho, além de criar um ambiente agradável de trabalho e contribuir para o seu bemestar” (MELO NETO; BRENNAND, 2004, p. 6). Nesse estágio da responsabilidade social, o foco baseia-se nas atividades regulares da empresa, como a saúde e segurança dos empregados, bem como em questões relacionadas aos benefícios e qualidade de vida no trabalho (MELO NETO; FROES, 2001). Por outro lado, “a responsabilidade social externa corresponde ao desenvolvimento de ações sociais empresariais que beneficiem a comunidade (MELO NETO; FROES, 1999, p. 88). Desta maneira, os dois focos de atuação devem ser vistos como importantes e necessários, mas implementados de maneira transparente e 38 gradativa, obedecendo a atividades próprias de cada etapa, sendo primeiramente a responsabilidade social interna, em seguida a responsabilidade social externa, até alcançar o patamar de uma gestão social cidadã (MELO NETO; FROES, 2001). O Quadro 2 apresenta de forma sucinta a responsabilidade social interna e externa: Foco Áreas de atuação Instrumentos Tipo de retorno Responsabilidade Social Interna Público interno (empregados e seus dependentes) Educação Salários e benefícios Assistência médica, social e odontológica Programas de RH Planos de Previdência Complementar Retorno de produtividade Retorno para os acionistas Responsabilidade Social Externa Comunidade Educação Saúde Assistência social Ecologia Doações Programas de voluntariado Parcerias Programas e projetos sociais Retorno social propriamente dito Retorno de imagem Retorno publicitário Retorno para os acionistas Quadro 2 – Responsabilidade Social Interna e Externa Fonte: Melo Neto; Froes (1999, p. 89) Um aspecto interessante e que geralmente pode ocorrer é quando uma organização não atua nos dois focos, ou até valoriza determinado foco e desprestigia outro. Nesse sentido, Melo Neto; Brennand (2004, p. 19) faz uma séria advertência: É inadmissível imaginar uma empresa socialmente responsável internamente com práticas abusivas de gestão, falta de confiança nos funcionários, falta de transparência em seus negócios, pagamento de baixos salários, condições inadequadas de trabalho. Em situações deste tipo, há uma incongruência básica entre a cultura organizacional, seus valores e práticas e uma estratégia social, fundamentada em outros valores e ações sociais. Essas contradições estão presentes quando o assunto é responsabilidade social, pois as partes interessadas – stakeholders – esperam cada vez mais, por parte das organizações, atitudes pautadas na criatividade que proporcionem uma cultura organizacional sustentável, que dê mais ênfase aos problemas sociais (MELO NETO; FROES, 2001). Assim, as organizações se deparam com um novo paradigma no campo das ações sociais, que alguns denominam de empreendedorismo social, filantropia de alto rendimento ou simplesmente responsabilidade social, que tem “a ênfase nos resultados, a definição de focos precisos e a preferência pelas ações transformadoras que conduzem a mudanças sociais” (MELO NETO; FROES, 2001, p. 46). Observa-se que no Brasil as ações e práticas das empresas ainda 39 prevalecem pautadas no padrão assistencialista, principalmente quando observadas empresas de pequeno e médio porte (MELO NETO; FROES, 2001). Vale ressaltar que nem sempre o discurso das empresas está vinculado à prática, tendo em vista que a percepção e vivência dos indivíduos na organização variam de acordo com a função, status, comportamento, atividades desenvolvidas, dentre outros aspectos, pois “uma análise crítica do discurso não-dito revela o que se esconde por trás das ações preconizadas pela responsabilidade social corporativa bem como as contradições inerentes a essas práticas” (SOARES, 2004, p. 2). Coelho (2005) apresenta em recente pesquisa que “a visão dos trabalhadores, dos gestores de pessoas e dos sindicalistas apresenta convergências em vários aspectos importantes neste sentido” (COELHO, 2005, p. 13), mesmo obtendo resultados que apontam para uma correlação positiva entre o discurso da responsabilidade social e as práticas de gestão de pessoas. Furtado (2006) analisou as possíveis relações das variáveis: gestão participativa; as relações com sindicatos; a política de remuneração; benefícios e carreira; cuidado com saúde, segurança e condições de trabalho; compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade; e comportamento frente a demissões. Nesta pesquisa, constatou-se que a percepção dos empregados sobre as ações da empresa em que atuam relacionadas às variáveis analisadas, apontam para uma visão voltada para a responsabilidade social, todavia, a variável de maior destaque foi a gestão participativa e a de menos expressão se refere às relações com os sindicatos. De forma semelhante, Cajazeira; Barbieri (2006) investigaram as relações existentes entre os conceitos de responsabilidade social e sustentabilidade com os conceitos de qualidade e excelência, utilizando como objeto de estudo quatro empresas ganhadoras do Prêmio Nacional de Qualidade e também o banco de dados do Instituto Ethos com suas melhores práticas de responsabilidade social. A pesquisa resultou na percepção do alinhamento entre tais conceitos, “uma vez que seus critérios são orientadores de práticas de excelência empresariais consolidadas. O foco no cliente, a inovação de produtos, a gestão de pessoas, devem estar necessariamente alinhadas a uma estratégia clara da busca da sustentabilidade” (CAJAZEIRA; BARBIERI, 2006, p. 14). Assim, percebe-se que as mudanças estão ocorrendo e as exigências surgidas vão influenciando os modelos de gestão das empresas para adequarem-se às características pautadas na responsabilidade social. 40 2.1.4 Processos de avaliação da responsabilidade social Na medida em que as empresas passam a atuar e desenvolver programas voltados para a responsabilidade social, faz-se necessário ampliar a compreensão das possíveis consequências oriundas dessas ações, bem como criar mecanismos ou instrumentos que permitam avaliar todo o processo desencadeado a partir dos pressupostos e premissas da responsabilidade social. De acordo com Arantes et al. (2004), a percepção dos empresários brasileiros é evidente quando se trata da responsabilidade social como um diferencial competitivo. No entanto, há pouca profissionalização na área e as ações que são desenvolvidas, na maioria das vezes, revestem-se de caráter assistencial e raramente são avaliadas, o que pode acarretar baixo retorno dos investimentos e pouca efetividade nos programas empreendidos. Compreende-se que as empresas investem em ações socialmente responsáveis buscando retornos que variam de acordo com o contexto em que estão atuando, porém a falta de avaliação tende a minimizar os efeitos peculiares advindos de tais práticas. Dessa forma, diversos processos de avaliação foram criados com o intuito de subsidiar as empresas que tentam desenvolver práticas socialmente responsáveis. Esse processo de avaliação ou controle parte também da sociedade, ou seja, não são suficientes as leis que incentivam a consciência do interesse comum, se os valores altruístas que visam à coletividade não estiverem inseridos na cultura organizacional. Em alguns países, mesmo diante da inexistência de tais leis, a sociedade e os próprios gestores são atuantes no controle das condutas organizacionais (ZARPELON, 2006). Vale salientar que esses processos de avaliação se apresentam de variadas formas, sendo instituídos principalmente por associações, ONG´s, programas de certificação e legislação, conforme explica Tenório (2006, p. 37), afirmando que “atualmente, os indicadores de responsabilidade social corporativa mais utilizados pelas empresas são: o balanço social, a demonstração do valor adicionado e as certificações de responsabilidade social”. Para Melo Neto; Froes (2001), as avaliações do exercício da responsabilidade social podem ocorrer de duas formas: avaliação do exercício da responsabilidade social interna e a avaliação das relações da empresa com a comunidade. Nesse caso, a gestão do trabalho, a gestão do ambiente de trabalho, a gestão do trabalho e espaço total de vida, a gestão da relevância social da vida no trabalho, a gestão do crescimento e desenvolvimento pessoal dos empregados, a gestão dos direitos dos empregados e a gestão de benefícios e remuneração são 41 áreas que compõem a avaliação do exercício da responsabilidade social interna, conforme a Figura 2: Gestão de benefícios e remuneração Gestão dos direitos dos empregados Gestão do trabalho Avaliação do exercício da responsabilidade social Gestão do crescimento e desenvolvimento dos empregados Gestão do ambiente de trabalho Gestão do trabalho e espaço total de vida Gestão da relevância social da vida no trabalho Figura 2 – Áreas de avaliação do exercício da responsabilidade social interna Fonte: Melo Neto; Froes,(2001, p. 112) Na outra extremidade, tem-se a avaliação das relações da empresa com a comunidade, que abrange a avaliação do foco de relação, a avaliação do alvo da relação, a avaliação da natureza das relações, a avaliação do escopo da relação, a avaliação do impacto das ações e a avaliação do tipo e da natureza da relação como áreas a serem analisadas quando envolve relacionamento da organização com a comunidade, conforme Figura 3. Além do mais, os autores apresentam a possibilidade de avaliar o comportamento ético e socialmente responsável das empresas, desde que análises sejam feitas junto à sociedade global, à comunidade, aos concorrentes, aos consumidores, ao meio ambiente, ao governo e aos parceiros (MELO NETO; FROES, 2001). 42 Avaliação do alvo da relação Avaliação do foco de relação Avaliação do tipo e da natureza da relação Processo de certificação social Avaliação do impacto das ações Avaliação da natureza das relações Avaliação do escopo da relação Figura 3 – Avaliação das relações da empresa com a comunidade Fonte: (MELO NETO; FROES, 2001, p. 124) Quanto aos instrumentos de gestão social, Rodrigues (2005) apresenta os mais valorizados no Brasil, que são: o GRI (Global Reporting Initiative), que atualmente é uma referência mundial para as organizações que desejam comparar seus dados quantitativos no campo social; o DJSI (Dow Jones Sustainability Index), considerado o primeiro índice mundial de práticas e ações desenvolvido por organizações tidas como socialmente responsáveis; a Família ISO (International Organization for Standardization), organização não-governamental que possui uma rede de institutos de padronização espalhada em várias localidades do mundo; a SA 8000, norma ou padrão desenvolvido para o monitoramento e certificação das condições de trabalho no ambiente interno da organização criada pela Social Accountability International – SAI; o Balanço Social do IBASE e a Demonstração do Valor adicionado – DVA, que estimulam as empresas a publicar seu balanço social de forma regular através de um modelo proposto pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas; os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social e Empresarial, que foram desenvolvidos pelo Instituto Ethos como um instrumento de aprendizado e principalmente para avaliações da gestão empresarial relacionada às práticas socialmente responsáveis. Em meio a tais indicadores, Rodrigues (2005) aponta duas conclusões: 1) o levantamento de indicadores sociais é alto, o que gera uma necessidade de direcionamento e clareza por parte das empresas na aplicação de tais indicadores; e 2) a observação de que a adoção de tais instrumentos ainda é modesta na atualidade, seja em nível internacional como nacional. A autora observa que esses instrumentos podem ser utilizados numa abordagem individual de avaliação, bem como comparando com outras empresas, tendo uma abordagem 43 setorial de avaliação. Constata-se que, “se por um lado, a profusão dos instrumentos de RSE aponta para a relevância que o tema vem conquistando, por outro lado, nem de longe ela é garantia de que a gestão social corporativa esteja sendo conduzida de forma eficaz” (RODRIGUES, 2005, p. 13). Há, também, um processo ou metodologia para avaliar os resultados das ações sociais das empresas, desenvolvida por Rodrigues (2005), denominada EP2ASE – Eficácia Pública e Eficácia Privada da Ação Social das Empresas – que tem por objetivo avaliar a ação social corporativa tomando por base dois critérios: critério da eficácia pública (avaliação dos efeitos diretos dos projetos sociais para a comunidade) e critério da eficácia privada (avaliação dos efeitos indiretos dos projetos sociais). Mendonça (2003) propôs a seleção das dimensões do instrumento de avaliação que envolve: estratégia e transparência, público interno, meio ambiente, fornecedores e consumidores, comunidade, governo e sociedade. Segundo o autor, o objetivo deste trabalho visa sugerir e apresentar um instrumento de avaliação a ser aplicado em um seleto grupo de organizações que possuem certificação internacional relacionado aos seus sistemas integrados de gestão. Assim, tal instrumento constitui de forma resumida, o gerenciamento integrado das seguintes funções: qualidade, meio ambiente, segurança e saúde ocupacional. Um dos processos de avaliação mais conhecidos no Brasil é o desenvolvido pelo Instituto Ethos, que se chama Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, caracterizado como “uma ferramenta de aprendizado e avaliação da gestão no que se refere à incorporação de práticas de responsabilidade social empresarial ao planejamento estratégico e ao monitoramento e desempenho geral da empresa” (INSTITUTO ETHOS, 2009). Além do mais, “trata-se de um instrumento de autoavaliação e aprendizagem de uso essencialmente interno” (INSTITUTO ETHOS, 2009). Essa proposta do Instituto Ethos possibilita que as empresas convidadas realizem uma autoavaliação pautada em indicadores que, em seguida, serão avaliados pelo próprio Instituto Ethos, permitindo levantar um diagnóstico da empresa quanto à gestão desenvolvida de acordo com cada prática. Os indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial são divididos em sete temas distintos: (1) valores, transparência e governança; (2) público interno; (3) meio ambiente; (4) fornecedores; (5) consumidores e clientes; (6) comunidade; (7) governo e sociedade. Há, ainda, o Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), que é uma premiação entregue pela Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), entidade privada e sem fins lucrativos, às organizações sediadas no Brasil pela excelência de sua gestão. O PNQ está alicerçado no Modelo de Excelência da Gestão® (MEG), que possui 11 fundamentos básicos ou base 44 teórica para uma gestão de excelência: pensamento sistêmico; aprendizado organizacional; cultura de inovação; liderança e constância de propósitos; orientação por processos e informações; visão de futuro; geração de valor; valorização de pessoas; conhecimento sobre o cliente e o mercado; desenvolvimento de parcerias e responsabilidade social; e oito critérios pelos quais os fundamentos são colocados em prática: liderança; estratégias e planos; clientes; sociedade; informações e conhecimento; pessoas; processos e resultados (FNQ, 2009). Além desses processos de avaliação citados, existe o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, que tem como destino as indústrias brasileiras. O PSQT busca incentivar as indústrias concorrentes ao prêmio a estarem inseridas num processo de desenvolvimento que promova a qualidade de vida no trabalho, gerando resultados favoráveis aos empregados, bem como à organização. Dessa forma, o PSQT possui cinco fundamentos principais: valorização das pessoas; responsabilidade social; visão sistêmica; aprendizado organizacional; e liderança e constância de propósitos. E, como critérios de avaliação, os seguintes itens: sistema de gestão de pessoas (comunicação interna, estrutura de cargos e salários, práticas de remuneração, avaliação de desempenho, reconhecimento e incentivos que estimulam a contribuição dos colaboradores para atingir as metas de desempenho estipuladas e consolidar a cultura da excelência na empresa, relações interpessoais praticadas, clima existente no ambiente de trabalho e satisfação do público interno), educação e desenvolvimento (identificação das necessidades de capacitação e de desenvolvimento dos colaboradores, definição dos programas de capacitação, realização dos treinamentos e avaliação da capacitação e de desenvolvimento em relação à sua eficácia no apoio às estratégias da empresa), qualidade de vida (saúde e segurança no trabalho, alimentação saudável, identificação e promoção de oportunidades voltadas para cultura, esporte e lazer, manutenção de um ambiente de trabalho saudável e de clima organizacional propício ao bem-estar, à satisfação e motivação dos colaboradores) e desenvolvimento socioambiental (desenvolvimento social e preservação ambiental, implementação de políticas não discriminatórias, fomento ao desenvolvimento social local dirigido à comunidade, direcionamento de esforços para o fortalecimento da sociedade, monitoramento do processo produtivo para não interferir negativamente no meio ambiente, promoção de ações visando ao desenvolvimento sustentável e ao envolvimento das partes interessadas nas questões relativas à responsabilidade ambiental e ao processo produtivo). Vale salientar que, além de considerar esses quatro critérios de avaliação, o PSQT tem como escopo o exercício da responsabilidade social das empresas, particularmente a responsabilidade relacionada ao público interno (SESI, 2008a, p. 14). Esse instrumento de 45 avaliação, que se configura em forma de premiação, tem seus critérios analisados e alinhados ao Modelo de Excelência da Gestão (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). 2.1.5 Estudos relacionados ao tema Diversas pesquisas tem sido realizadas enfatizando a responsabilidade social empresarial desde aspectos conceituais, práticas socialmente responsáveis, até as perspectivas que envolvem a disseminação e implantação dessas práticas nas diferentes áreas das organizações. Sobre esse assunto, Macêdo; Souza (2007) publicaram um artigo que descreve uma síntese dos artigos sobre responsabilidade social apresentados no Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração nos anos de 2005 e 2006, evidenciando características e discussões recentes a respeito desse tema. Esse tem sido um assunto debatido de forma considerável nos últimos anos, principalmente incentivado pelas diversas instituições de ensino e organizações públicas e privadas, tendo como objetivo resumir “conteúdos, visões e preocupações emergentes, discutidas na produção acadêmica no campo da Administração, no tema Responsabilidade Social [...], tendo a ABNT NBR 16001 como eixo para a síntese” (MACÊDO; SOUZA, 2007, p. 1). O estudo desenvolvido por Macêdo (2008) tenta demonstrar, na prática, através da socialização de experiências, os conceitos de responsabilidade social empresarial e tem como objetivo principal “compreender o conceito de Responsabilidade Social, no cotidiano organizacional, tomando como referência concepções subjetivas de gestores e empresários” (MACÊDO, 2008, 7). Para tal feito, a pesquisa foi realizada com empresas premiadas no Prêmio SESI de Qualidade no Trabalho no Rio Grande do Norte no intervalo 2002-2007 e constatou-se que o compromisso com o público interno e o incentivo ao compromisso social são premissas básicas para a participação das empresas. Foi diagnosticado que o PSQT se reveste de características voltadas para uma consultoria que age como importante instrumento de gestão que pode proporcionar melhorias de desempenho para as empresas. Já a pesquisa desenvolvida por Graciano (2008) aponta que a preocupação com o cliente interno e com o meio ambiente ocorre na maioria das empresas pesquisadas, no entanto as ações em parceria com os fornecedores não são muito evidenciadas. Conforme se observa, as ações socialmente responsáveis são vistas como uma das causas que melhoram a imagem empresarial junto aos clientes. Em contrapartida, algumas empresas enfatizaram que agem dessa forma apenas por causa das obrigações legais ou para gerar lucros, o que demonstra as limitações em relação a práticas socialmente responsáveis, ou seja, a incoerência 46 entre o discurso e a prática, “o que leva a refletir teoricamente sobre o hiato entre a teoria da RSE e a realidade constatada em Ponta Negra. O ideal, formalizado pelo Instituto Ethos e pelos autores citados no referencial teórico está longe de ser a realidade” (GRACIANO, 2008, p. 104). Assim, impulsionado pelo paradoxo entre o discurso e a prática da responsabilidade social corporativa, Pitombo (2007) buscou investigar as possíveis contribuições das maiores corporações que atuam no Brasil, concluindo que “a maioria das empresas brasileiras já realiza algum tipo de ação social, mas, de um modo geral, parece faltar o entendimento de que responsabilidade social não significa apenas doação ou assistencialismo” (PITOMBO, 2007, p. 140-141). Por isso, Soares (2004, p. 3) “se propõe a discutir não as ações sociais em seu caráter individual, mas sim a totalidade das ações que se encontram sob o leque da responsabilidade social corporativa”, bem como identificar as possíveis contradições e causas que conduzem as organizações a estreitarem suas atividades com as práticas socialmente responsáveis, sem esquecer de questionar os reais motivos e interesses das organizações para se efetivarem como empresas preocupadas com questões sociais e ambientais. Para atingir tal objetivo, a autora desenvolveu um ensaio teórico revelando outra face da responsabilidade social corporativa, identificando três tipos de discurso: o explicitado, o pronunciado reservadamente e o não-dito, porém, Fedato (2005, p. 120) aponta “uma forte interação da atuação social com o negócio, tornando a estratégia de atuação social parte indissociável do negócio”. De forma semelhante, Coelho (2005) desenvolve um estudo que observa a percepção dos vários indivíduos organizacionais (trabalhadores, gestores de pessoas e sindicalistas), analisando possíveis relações entre o discurso da responsabilidade social e as práticas de gestão de pessoas. Dessa maneira, Aramburú (2005, p. 149) “investigou, a partir de uma pesquisa teórico-empírica, como as práticas de gestão, em especial as de Gestão de Pessoas, podem contribuir para o exercício da cidadania organizacional”, bem como se tem observado que empresas socialmente responsáveis tem maiores possibilidades de atrair novos talentos (FARIA; FERREIRA; CARVALHO, 2008). Nesse caso, as práticas socialmente responsáveis parecem estar relacionadas a tendências contemporâneas voltadas para a gestão de pessoas que envolvem aspectos como excelência, qualidade, sustentabilidade, gestão participativa, dentre outros (CAJAZEIRA; BARBIERI, 2006; FURTADO, 2006). 47 2.2 GESTÃO DE PESSOAS Neste momento, serão apresentados aspectos históricos e conceituais a respeito da gestão de pessoas, com ênfase em suas funções clássicas ou subsistemas. Todavia as novas práticas de gestão de pessoas também surgem como instrumentos ou ferramentas que vêm sendo desenvolvidas pelas organizações em busca de melhores desempenhos para o alcance dos objetivos e metas organizacionais. Nesse entendimento, a administração de recursos humanos ou gestão de pessoas será apontada como parte integrante e relevante do escopo organizacional. 2.2.1 Aspectos históricos e conceituais da Gestão de Pessoas Diante das mudanças ocorridas nas organizações, certamente as maiores implicações envolvem a gestão de pessoas em sua complexa atividade, que é gerenciar indivíduos em busca de resultados para a organização, pois “um dos papéis da gestão de recursos humanos (GRH) é apoiar a organização na condução das dualidades subjacentes ao processo competitivo. O ambiente contemporâneo exige da GRH maior sofisticação para confrontar essas tensões” (TANURE; EVANS; PUCIK, 2007, p. 113). Dessa maneira, “todos aqueles que participam ou se dedicam ao estudo do cotidiano da vida organizacional no Brasil e no exterior são unânimes: a gestão de Recursos Humanos sofreu alterações profundas no passado recente” (DUTRA, 2001, p. 9). Segundo Fleury (2002), essas mudanças iniciaram-se nas décadas de 1970 e 1980, época em que um novo critério – o caráter estratégico – foi introduzido nos moldes dos sistemas de gestão de pessoas. Para Sammartino (2002), a discussão sobre a integração entre estratégias organizacionais e estratégias de recursos humanos vem ocorrendo desde o início dos anos 1980, todavia, os trabalhos iniciais relacionados a essa temática destacavam que os assuntos relacionados à gestão de pessoas não eram prioridades como nos dias atuais. Nesse sentido, Bahry; Tolfo (2004) afirmam que as mudanças ocorridas a partir da década de 1980 no contexto sócio-econômico e político impactaram diretamente as organizações, principalmente no que se refere às formas de gerenciamento tradicionais, que não são mais eficientes na abordagem organizacional contemporânea. Dessa forma, “a necessidade de vincular a gestão de pessoas às estratégias da organização foi apontada inicialmente pelos pesquisadores da Universidade de Michigan, dentre os quais se destacam Tichy, Fombrum e Devanna” (FISCHER, 2002, p. 24), sendo 48 considerada a mais surpreendente mudança no papel de recursos humanos, ou seja, seu crescente envolvimento no desenvolvimento e na implementação de estratégias (DESSLER, 2003), fazendo com que as práticas de recursos humanos possam, devam e precisem ser modificadas para se ajustarem à estratégia empresarial e a anteciparem (ULRICH, 1998). Para Marras (2000, p. 323): Nunca foi tão importante e necessário investir na gestão dos recursos humanos de forma estratégica, não somente para que a empresa cumpra com a sua responsabilidade social, mas também e principalmente para a sua própria sobrevivência em época de mercados altamente turbulentos, globalizados e competitivos como a que estamos vivendo no final deste milênio. Fischer (2002) avalia que essas mudanças ocorridas nas organizações foram determinantes para criar um novo modelo de gestão de pessoas baseado em competências e pautado pela necessidade de a empresa manter competitividade no mercado, pois o advento da era da competitividade exige a utilização de novas ferramentas na gestão de recursos humanos, no intuito de estabelecer vínculos estreitos entre os resultados empresariais e o desempenho humano. Nessa fase, a ênfase na competição está na base da nova definição conceitual do modelo atual de gestão de pessoas baseado em competências, presente preliminarmente nas obras de autores como Porter, Hammer e Prahalad. Essas modificações notoriamente influenciaram o atual modelo de gestão de pessoas em busca de resultados concretos para as organizações, conforme apontam Dutra; Fleury; Ruas (2008, p. 31): Desde os anos 80, fala-se da necessidade de rever a forma de gestão de pessoas e de repensar conceitos e ferramentas de gestão. Apesar disso, somente a partir dos anos 90 é que surgem propostas mais concretas de mudança e se observam resultados positivos em novas formas de gerir pessoas. Para tanto, “era necessário ir além das práticas tradicionais de gestão de pessoas para permitir que o comportamento organizacional fosse compatível com as demandas e estratégias da organização em seus ambientes de competição” (MASCARENHAS, 2008, p. 1). Por isso, “a metamorfose do departamento de recursos humanos reflete o fato de que nas organizações atuais são os funcionários altamente treinados e comprometidos, e não as máquinas, que geralmente constituem a grande chave para a competitividade da empresa” (DESSLER, 2003), tendo como “administração estratégica de recursos humanos a gestão que privilegia como objetivo fundamental, através de suas intervenções, a otimização dos resultados finais da empresa e da qualidade dos talentos que a compõem” (MARRAS, 2000, p. 253). Para 49 Dutra (2009, p. 65), “a gestão estratégica de pessoas está intimamente ligada à estratégia da empresa ou do negócio. Muitos autores trabalham como se a estratégia de gestão de pessoas fosse derivada da estratégia da empresa; na prática, entretanto, elas influenciam-se mutuamente”. Nesses casos, ocorre um alinhamento da gestão de pessoas com as estratégias organizacionais, principalmente desenvolvendo estratégias voltadas para a gestão de competências e de talentos, como também para a gestão do conhecimento (BIANCHI, 2008). Corroborando essas afirmações, Fleury; Fleury (2008, p. 76) revelam que o sucesso alcançado pelas empresas japonesas despertou nos países ocidentais uma revisão de suas concepções relacionadas à organização do trabalho e principalmente sobre os modelos de gestão de pessoas, surgindo então o conceito de Human Resource Management ou gestão estratégica dos recursos humanos, afirmando que as políticas de gestão de pessoas devem ser parte integrante da estratégia organizacional. No entanto, para chegar a essa fase conceitual e prática da moderna gestão de pessoas, mudanças consideráveis ocorreram no século passado, conforme o Quadro 3, especificamente relacionado ao caso brasileiro: Período Antes da década de 30 Fase Pré-jurídico partidária ou contábil Característica Falta de legislação trabalhista Funções descentralizadas Surgimento da legislação trabalhista Surgimento do departamento de pessoal para atendimento das exigências legais Implantação da indústria automobilística Décadas de Tecnicista Implementação dos subsistemas de recursos humanos 50 a 60 Preocupação crescente com desempenho e eficiência Meados da Surgimento das gerencias de recursos humanos e dos década de 60 Sistêmica ou responsáveis por relações industriais a década de administrativa Integração dos enfoques comportamental, administrativo e 70 da estrutura Mudanças profundas Décadas de Descentralização de funções Estratégica 80 e 90 Surgimento do movimento da qualidade Diversidade dos enfoques Quadro 3 – Gestão de recursos humanos no Brasil Fonte: Adaptado de Marras (2000) e Wood Junior. (1997) Décadas de 30 a 50 Burocrática ou legal As exigências impostas pelo cenário globalizado e competitivo impulsionaram as organizações a reverem seus diversos processos, dentre esses a gestão de pessoas, a ponto de entender que o modelo centralizador utilizado nas últimas décadas “caracterizado por ilhas de poder, nas quais cada grupo lutava para manter seus espaços, em completa desintegração de 50 funções, e pela pouca influência nas decisões estratégicas, está com seus dias contados” (GRAMIGNA, 2007, p. 10). Segundo Pacheco (2009, p. 33): O início da Gestão de Recursos Humanos na fase de Taylor estabelecia o cuidado com as pessoas, porém tinha relação com o formato mecanicista e racional do trabalho, o que deu base para fases posteriores, que naturalmente foram surgindo em resposta às necessidades de melhoria. Para Dutra (2001, p. 20), “o modelo de gestão de pessoas deve ser compreendido como o conjunto de políticas, práticas, padrões atitudinais, ações e instrumentos empregados por uma empresa para interferir no comportamento humano e direcioná-lo no ambiente de trabalho”. De forma semelhante, Fleury (2002, p. 12) entende “por modelo de gestão, a maneira pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho. Para isso, a empresa se estrutura definindo princípios, estratégias, políticas e práticas ou processos de gestão”. Dessa forma, é papel da gestão de pessoas a tarefa de alinhar o gerenciamento das pessoas à estratégia empresarial em prol dos objetivos traçados pela organização, conforme afirma Le Gall (2008, p. 17): [...] gestão de recursos humanos é uma função da empresa que visa adequar empregados e atividades de maneira eficaz e sustentável ao longo do tempo, no que se refere a força de trabalho, qualificação e motivação. Objetiva o aperfeiçoamento contínuo das competências a serviço da estratégia empresarial, que ela também ajuda a estabelecer. O gerenciamento do comportamento humano, a cooperação e a busca pelo envolvimento dos empregados aos resultados organizacionais de forma comprometida através de programas de qualidade de vida profissional, comitês de empregados, dentre outras iniciativas (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000) são assuntos sempre presentes na gestão de pessoas, principalmente quando observadas sua historicidade e evolução, tendo em vista que a própria nomenclatura sofreu diversas mudanças em busca de tornar cada vez mais clara e autêntica a finalidade da gestão de pessoas, que visa à cooperação das pessoas atuantes nas organizações em busca dos objetivos organizacionais e individuais. A expressão gestão de pessoas surgiu no final do século XX e assemelha-se com outras que atualmente são comuns nas organizações, como Gestão de Talentos e Gestão do Capital Humano, e carateriza-se por uma evolução dos departamentos denominados no passado como Administração de Pessoal, Relações Industriais e Administração de Recursos Humanos (GIL, 2009). Contudo o gestor de pessoas não deixa de ser um Administrador de Recursos Humanos, sendo ainda de sua competência os processos de suprimento, aplicação, 51 desenvolvimento, manutenção e monitoração das pessoas. Todavia as atitudes e posturas passam a ser diferenciadas à medida que os empregados são considerados pessoas e não meros instrumentos de trabalho, utilizados de qualquer maneira pelas organizações, além de serem tratados como parceiros e pessoas que investem seu capital humano na organização em que atuam, aguardando o devido retorno pelo esforço desprendido (GIL, 2009). Para melhor entender o processo da gestão de pessoas, faz-se necessária a compreensão de suas funções clássicas na dinâmica organizacional e suas particularidades. 2.2.2 Funções Clássicas da Gestão de Pessoas As funções clássicas da Gestão de Pessoas englobam todas as atividades desenvolvidas pela administração de recursos humanos nas organizações, que se referem às práticas e políticas necessárias para conduzir os aspectos relacionados às pessoas no trabalho, especificamente à contratação, ao treinamento, à avaliação, à remuneração e ao oferecimento de um ambiente bom e seguro aos funcionários da empresa (DESSLER, 2003). Para Ribeiro (2006), a função gestão de pessoas engloba diversas áreas, tais como: departamento de pessoal, recrutamento e seleção, desenvolvimento dos recursos humanos, avaliação de desempenho, cargos e salários, folha de pagamento, benefícios, orçamentos, relações sindicais, medicina do trabalho, planejamento de carreira, segurança do trabalho, treinamento operacional, todavia, dentre essas atividades, Lacombe (2005, p. 14) aponta as mais relevantes para a gestão de pessoas: Selecionar, formar, integrar e aperfeiçoar um grupo de pessoas para trabalhar numa empresa como uma verdadeira equipe, com objetivos definidos, fazendo com que cada membro conheça seu papel, coopere com os demais e ‘vista a camisa’ para produzir resultados é a responsabilidade mais importante dos administradores. Diversos autores dividem a gestão de pessoas em subsistemas, de acordo com as atividades desenvolvidas por cada setor ou finalidade, variando apenas a quantidade de subsistemas, mas não alterando as atividades inerentes ao sistema de Gestão de Pessoas como um todo, conforme Quadro 4: Procura Suprir Monitoração Recompensa / Manutenção Desenvolvimento Recrutamento e seleção Gestão de desempenho / Gestão de carreira Treinamento e desenvolvimento Gestão de recompensas / Relações industriais e de trabalho Tanure, Evans e Pucik (2007) Treinamento e desenvolvimento Recompensa Recrutamento e seleção Megginson, Mosley e Pietri (1998) Planejamento Quadro 4 – Classificação dos subsistemas ou funções clássicas da gestão de pessoas Fonte: Elaboração própria Monitorar Manter Desenvolver Treinamento e desenvolvimento Remuneração / Higiene e segurança do trabalho / Relações trabalhistas / Serviços gerais Agregação Recrutamento e seleção Aplicação Chiavenato (2004) Marras (2000) Funções Clássicas Planejar Suprir Aplicar Controle Compensação Manutenção Manter Monitorar Desenvolvimento Desenvolvimento Suprimento Gómez-Mejia et al. (1998) Desenvolver Aplicar Pesquisa Aquino (1979) Funções Clássicas Planejar Desenvolvimento Compensação/ Atividades com funcionários/ Relações trabalhistas e sindicais Manutenção Planejamento Colocação Controle ou Monitoração Desenvolvimento ou Capacitação Compensação ou Manutenção Suprimento ou Agregação Aplicação Gil (2009) Relação com empregados / Remuneração Manutenção Lucena (2007) Desenvolvimento Recrutamento e seleção Mikovich e Boudreau (2000) Desenvolvimento Atração Daft (1999) Desenvolvimento Atração Desenho e controle organizacional Schermerhorn (2007) Planejamento de RH Formação da equipe Avaliação de desempenho Treinamento e desenvolvimento Recompensa Pucik (1988) 53 A maioria dos autores pesquisados elenca cinco principais funções de recursos humanos. Por exemplo, Gil (2009) aponta os sistemas de gestão de pessoas divididos em cinco principais subsistemas: o suprimento ou agregação (identificação das necessidades de pessoal, pesquisa de mercado de recursos humanos, recrutamento e seleção); a aplicação (análise e descrição dos cargos e o planejamento e alocação interna de recursos humanos); a compensação ou manutenção (salários, benefícios, carreiras, higiene e segurança no trabalho, relações com sindicatos); o desenvolvimento ou capacitação (treinamento e desenvolvimento de pessoal, desenvolvimento e mudança organizacional); e o controle ou monitoração (avaliação de desempenho, banco de dados, sistemas de informações gerenciais e auditoria de recursos humanos). De forma diferenciada ao que foi exposto acima, em relação aos subsistemas ou funções clássicas, mas semelhante quanto às atividades desenvolvidas, o Quadro 5 elenca as funções clássicas da gestão de pessoas de maneira ressignificada: Funções Clássicas de RH Ulrich (1998) Brito (2005) Dutra (2009) Mapeamento do Adm. de estratégias de conhecimento/competência RH interno e externo Movimentação Captação do conhecimento e Suprir competências Adm. da Infra-estrutura Aplicação do Aplicar conhecimento/competências Disseminação/Desenvolvime Desenvolvimento Adm. da Transformação e nto/Criação do Desenvolver da Mudança conhecimento/competências Recompensa pelo Manter Adm. da Contribuição dos conhecimento/competências Valorização funcionários Monitoração Monitorar Quadro 5 – Ressignificação dos subsistemas ou funções clássicas da gestão de pessoas Fonte: Elaboração própria Planejar Estes autores abordam outros aspectos relacionados às funções da gestão de pessoas, dando-lhes uma ressignificação que envolve características dos novos modelos de gestão, principalmente quando incorporados a gestão de competência. De acordo com Dutra (2009), os processos de gestão de pessoas são divididos em três etapas: movimentação de pessoas (movimentação e gestão estratégica de pessoas e captação de pessoas – captação, internalização, transferências, promoções, expatriação e recolocação); desenvolvimento de pessoas (sistema de administração de carreira e sistemas de avaliação de desempenho – 54 capacitação, carreira e desempenho); e valorização das pessoas (remuneração e benefícios – remuneração, premiação e serviços e facilidades). Para Ulrich (1998), a administração de estratégias de recursos humanos busca ajustar suas estratégias à estratégia empresarial, realizando primeiramente um diagnóstico empresarial. Em se tratando da administração da infraestrutura da empresa, Ulrich (1998, p. 44) afirma que “criar uma infra-estrutura organizacional tem sido um papel tradicional de RH. Isso exige que os profissionais concebam e desenvolvam processos eficientes para contratar, treinar, avaliar, premiar, promover e, além do mais, gerir o fluxo de funcionários na organização”. Além do mais, a administração de recursos humanos precisa prover os recursos necessários aos funcionários, bem como assegurar oportunidades que proporcionem mudanças e transformações, criando uma organização constantemente renovada (ULRICH, 1998). Vale destacar a ressignificação dada por Brito (2005) às funções clássicas da gestão de pessoas, que tem a gestão de competências, a gestão do conhecimento e as organizações de aprendizagem como fundamentos básicos. No entanto, as funções clássicas da gestão de pessoas não devem ser vistas apenas como subsistemas ou funções isoladas, “mas como um todo monolítico que garante de forma transparente, simples, flexível e consistente a conciliação dos interesses entre pessoas e empresa no tempo” (DUTRA, 2009, p. 46). No novo modelo de gestão de pessoas, esses subsistemas estão intimamente relacionados e alinhados às estratégias organizacionais, permitindo que “o planejamento de recursos humanos esteja relacionado ao planejamento estratégico tanto na linha de ação quanto no suporte a esse processo” (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005). A necessidade por uma visão sistêmica entre os subsistemas de gestão de pessoas torna-se urgente no atual cenário organizacional, o qual requer modelos de gerenciamento que permitam uniformidade entre as atividades desenvolvidas pela gestão de pessoas e, concomitantemente, o alcance dos objetivos da empresa. Segundo Le Gall (2008, p. 99): As classificações tradicionais são hoje questionadas. O objetivo dos novos dispositivos negociados é duplo: oferecer perspectivas de qualificação de competências aos funcionários e reforçar o elo entre contribuição e retribuição. As novas classificações não se enquadram mais numa nomenclatura de postos de trabalho, mas no conteúdo real das atividades e nas competências necessárias para exercê-las. Nessa mesma perspectiva, Mascarenhas (2008, p. 42) entende que “de fato, os subsistemas de gestão de pessoas promovem significados intrínsecos, devendo ser pensados 55 como ferramentas para a mudança cultural, capazes de mobilizar as pessoas para a busca dos objetivos estratégicos”. De acordo com Brito (2005), as funções clássicas de recursos humanos, no modelo tradicional (planejamento, suprimento, aplicação, treinamento e desenvolvimento, manutenção, controle), foram sendo construídas ao longo do século XX, sendo exercidas no Departamento de Pessoal ou de Recursos Humanos de forma independente, articuladas ou não entre si, e com os objetivos organizacionais dependendo da empresa, todavia os novos modelos de gestão de pessoas deram um novo sentido a essas funções, utilizando diversas ferramentas de gestão em busca de melhores resultados organizacionais. Vale ressaltar que, além do novo sentido dado às funções clássicas de recursos humanos, a gestão de pessoas passou a ser papel fundamental na administração moderna, agindo de forma sistêmica e alinhada às estratégias empresariais, pois a administração tem como finalidade, produzir e vender, utilizando os métodos e as técnicas mais eficientes. Dessa forma, num sistema integrado, a gestão de recursos humanos privilegia o equilíbrio interno dinâmico entre os indivíduos e os grupos que a integram (LE GALL, 2008). Após destacar as funções clássicas da gestão de pessoas em seu conjunto e dinamicidade, é importante observar suas características específicas e atividades inerentes aos seus principais objetivos e fundamentos, inclusive apontando as tendências e perspectivas dessa área. 2.2.2.1 Planejamento Da mesma forma que o planejamento empresarial ocorre em estreita ligação com os diversos setores organizacionais, o planejamento da gestão de pessoas busca mapear as competências necessárias para a empresa com o objetivo de alcançar os resultados almejados. Por isso, “o verdadeiro desafio do planejamento de RH é ocupar a porção média dessa linha de desenvolvimento: integrar as práticas de RH à estratégia empresarial” (ULRICH, 1998, p. 83). Consequentemente, “o resultado da integração dos planos de RH aos planos empresariais é uma arquitetura ou estrutura para incorporar as práticas da área às decisões empresariais no sentido de garantir resultados” (ULRICH, 1998, p. 83). Para Bohlander; Snell; Sherman (2005, p. 61), “o planejamento de recursos humanos relaciona-se ao planejamento estratégico tanto na linha de ação quanto no suporte a esse processo”. Ainda nesse entendimento, Lacombe (2005) entende que o planejamento dos recursos humanos deve ser parte integrante do planejamento estratégico empresarial, sendo necessário para que se atinjam os objetivos 56 estratégicos da empresa. Assim, a atividade preliminar do planejamento dos recursos humanos é o diagnóstico das políticas, práticas e decisões da empresas nesta área, bem como de sua consistência e coerência e da verificação da forma como elas se encaixam no planejamento estratégico da empresa. Vale salientar que o planejamento da gestão de pessoas envolve decisões a curto, médio e longo prazo, fazendo com que a organização trace metas e objetivos, ao mesmo tempo em que meios são desenvolvidos para o alcance dos resultados almejados. Dessa forma, Lucena (2007) expõe a importância do planejamento da gestão de pessoas ao afirmar que este compreende o processo gerencial que identifica e analisa as necessidades organizacionais da gestão de pessoas, desenvolvendo consequentemente as políticas, programas, atividades e sistemas que permitam atingir os objetivos organizacionais a curto, médio e longo prazo, tendo em vista o contexto de mudança em que a organização está inserida. Para obter tais resultados, são utilizadas pesquisas de mercado de trabalho e, em centros de excelência, banco de competência, de potencial ou de talentos e, em especial, a utilização do benchmarking ou o aprendizado sobre as melhores práticas que, segundo Ulrich (1998, p. 84): [...] tornou-se quase uma religião em certas empresas. Com grande interesse, equipes de funcionários identificam e visitam outras empresas reconhecidas como de classe internacional. Essas visitas de campo fornecem informações para as empresas sobre como calibrar seu trabalho em relação aos melhores da classe. O planejamento da gestão de pessoas é necessário para uma gestão organizacional que busca competitividade através do desenvolvimento dos seus funcionários, principalmente nesse cenário atual, no qual as mudanças são contínuas e exigem por parte das empresas novas ações que dinamizem seu processo de trabalho. Nesse contexto, “é muito difícil administrar a mudança se conteúdo e processo não estiverem ligados, se não houver uma parceria saudável entre linha de produção e gestão de RH, se o planejamento de negócios e o de pessoas não estiverem bem unidos” (TANURE; EVANS; PUCIK, 2007, p. 34). 2.2.2.2 Suprimento Na função suprimento da gestão de pessoas encontra-se o recrutamento, que pode ser interno ou externo, e a seleção de pessoal. De acordo com Limongi-França; Arellano (2002, p. 57 63), “reconhece-se o recrutamento e seleção como ferramenta importante e integrada na estratégia de negócios da empresa”, pois os futuros empregados serão recrutados e selecionados de acordo com as necessidades e exigências organizacionais, podendo também “ser compreendida como toda e qualquer atividade da empresa para encontrar e estabelecer uma relação de trabalho com pessoas capazes de atender a suas necessidades presentes e futuras” (DUTRA, 2009, p. 81-82). Para Ribeiro (2006, p. 52), o “recrutamento é um sistema de informações, que visa atrair candidatos potencialmente qualificados, dos quais serão selecionados futuros funcionários da organização”. Resumindo, a função básica do recrutamento é suprir a seleção de pessoal com candidatos à vaga oferecida (RIBEIRO, 2006). Segundo Bohlander; Snell; Sherman (2005, p. 76): O recrutamento é o processo de localizar e incentivar candidatos potenciais a disputar vagas existentes ou previstas. Durante esse processo, tenta-se informar plenamente os candidatos sobre as qualificações exigidas para o desempenho do cargo e as oportunidades de carreira que a empresa pode oferecer aos funcionários. O preenchimento de determinada vaga por alguém de dentro ou de fora da empresa dependerá da disponibilidade do pessoal, das políticas de RH e dos requisitos do cargo a ser preenchido. De forma semelhante, Milkovich; Boudreau (2000, p. 162) entende que o “recrutamento é o processo de identificação e atração de um grupo de candidatos, entre os quais serão escolhidos alguns para posteriormente serem contratados para o emprego”, ou seja, antecedendo o processo de seleção, pois o recrutamento é uma atividade inerente a gestão de pessoas com a finalidade de captar pessoas capacitadas, seja interna ou externamente, para posteriormente selecionar as que mais se adéquam às necessidades da organização (MARRAS, 2000). Após o recrutamento, a “seleção é a escolha do candidato mais adequado para a organização, dentre todos os recrutados, por meio de vários instrumentos de análise, avaliação e comparação de dados” (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002, p. 66). Para Marras (2000, p. 79), “seleção de pessoal é uma atividade de responsabilidade do sistema de ARH, que tem por finalidade escolher, sob metodologia específica, candidatos a emprego recebidos pelo setor de recrutamento, para o atendimento das necessidades internas da empresa”. Vale salientar que, no processo de seleção, há um maior refinamento na escolha dos candidatos, observando mais detalhadamente suas características no intuito de serem compatíveis com as necessidades da organização, o que na maioria das vezes é baseado no perfil de competência profissional. De maneira simples, Ribeiro (2006, p. 52) diz que a “seleção de recursos humanos é a escolha da pessoa certa para o cargo certo, ou seja, a escolha, entre os candidatos 58 recrutados, dos mais adequados aos cargos existentes, com o objetivo de manter ou aumentar, tanto a produtividade quanto os resultados”. Para Ulrich (2000), recrutar os melhores, forçar um desenvolvimento intensivo desde o início, aumentar constantemente os desafios profissionais e avaliar e selecionar são características inerentes ao processo de desenvolvimento do intelecto profissional. Desse modo, “recrutamento, seleção e demissão formam o processo de movimentação dos empregados para dentro, para fora e no interior da organização, de forma a produzir um quadro de pessoal do tamanho e especificidade desejados” (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000, p. 158). 2.2.2.3 Aplicação Na função aplicação da gestão de pessoas estão contidas a análise dos cargos e carreiras e a avaliação de desempenho. De acordo com Marras (2000, p. 97), a “descrição de cargo é o processo de sintetização das informações recebidas e prospectadas no passo anterior de análise das funções, padronizando o registro dos dados de maneira a permitir um rápido e fácil acesso aos contornos de cada um dos cargos da empresa”, o que deve ser constantemente reavaliado para adequar-se continuamente às atividades inerentes aos cargos desempenhados na organização. Entretanto a mudança da concepção dos cargos especializados para espaços organizacionais, juntamente com os planos de carreira baseados na competência profissional, traduzem uma nova visão para essa função. Sendo assim, a flexibilidade, a multifuncionalidade, o aprendizado e as mudanças contínuas passam a ser mais presentes na aplicação da gestão de pessoas. De acordo com Ulrich (2000, p. 294): [...] por força de trabalho para uma carreira flexível chamamos um grupo de funcionários não apenas dedicado à idéia de aprendizado contínuo, mas também pronto a se remodelar para acompanhar o ritmo da mudança; que tomam para si a responsabilidade pela condução de suas carreiras, e que se comprometem com o sucesso da empresa. Em relação à avaliação de desempenho, Milkovich; Boudreau (2000, p. 98) diz que esta “procura fornecer aos empregados informações sobre sua própria atuação, de forma que possam aperfeiçoá-la sem diminuir sua independência e motivação para fazer um bom trabalho”. Além de orientar o próprio empregado, a “avaliação de desempenho (AD) é um instrumento gerencial que permite ao administrador mensurar os resultados obtidos por um empregado ou por um grupo, em período e área específicos (conhecimentos, metas, 59 habilidades etc.)” (MARRAS, 2000, p. 173), sendo criada basicamente para acompanhar o desenvolvimento cognitivo dos empregados durante sua permanência na organização e especificamente para medir seu nível de conhecimentos, habilidades e atitudes, utilizando este instrumento como indicador para os programas de treinamento e desenvolvimento (MARRAS, 2000), além de “verificar quanto o profissional se adapta aos objetivos da empresa e às demandas e exigências do trabalho” (HIPÓLITO; REIS, 2002, p. 73). Dutra; Fleury; Ruas (2008, p. 153) entendem que: Instrumentos de avaliação de pessoas funcionam como um parâmetro de checagem para orientação dos profissionais e também têm um papel importante na comunicação, para as pessoas, sobre o que a empresa espera delas. Ao traduzirem os critérios (comportamentos, atitudes, conhecimentos etc.) valorizados pela organização, estão orientando os profissionais para a execução de seu trabalho hoje e para o que deles é esperado no futuro. Além do mais, a avaliação de desempenho não pode ser vista apenas como um meio de controle, mas como uma oportunidade de melhoria, pois a avaliação deve ser entendida mais como um instrumento que permita desenvolver a competência organizacional do que um mecanismo de controle, dando condições aos gerentes para orientar, corrigir e incentivar seus empregados nas diversas atividades desempenhadas na organização (GIL, 2009). Desta forma, as avaliações de desempenho das empresas estão cada vez mais alinhadas à missão, aos valores e às estratégias organizacionais. Dentre as avaliações de desempenho utilizadas, encontra-se a avaliação de competências 360º, que é “uma ferramenta capaz de identificar questões que necessitam de melhoria e as que já agregam valor para a organização como um todo” (CRAIDE; ANTUNES, 2004, p. 22). Segundo pesquisa desses autores, a implantação desse tipo de avaliação permitiu que as empresas pesquisadas utilizassem a avaliação de forma integrada às estratégias organizacionais, possibilitando que ações relacionadas ao desenvolvimento, à retenção e à atração de talentos pudessem ser efetivadas na organização, bem como na obtenção de sugestões de melhoria para as práticas de gestão de pessoas, o que significa a utilização da avaliação de desempenho para a tomada de decisões relacionadas à gestão de pessoas (CRAIDE; ANTUNES, 2004). 2.2.2.4 Desenvolvimento O treinamento e desenvolvimento fazem parte da função desenvolvimento da gestão de pessoas que se preocupa principalmente com a capacitação e qualificação do empregado 60 para exercer, de forma adequada, suas atividades na organização. De acordo com Milkovich; Bourdreau (2000, p. 338), “treinamento é um processo sistemático para promover a aquisição de habilidades, regras, conceitos ou atitudes que resultem em uma melhoria da adequação entre as características dos empregados e as exigências dos papéis funcionais”. Para Marras (2000, p. 145), “treinamento é um processo de assimilação cultural a curto prazo, que objetiva repassar ou reciclar conhecimentos, habilidades ou atitudes relacionados diretamente à execução de tarefas ou à sua otimização no trabalho”. Entretanto, Gil (2009, p. 121) aponta como não suficiente o conceito de treinamento tradicional: [...] O treinamento, de acordo com a concepção tradicional, é o meio para adequar cada pessoa a seu cargo, com vista no alcance dos objetivos da organização. Hoje, o que se necessita é de processos capazes de desenvolver competências nas pessoas, para que se tornem mais produtivas e inovadoras para contribuir com a organização. Por isso é que, modernamente, ao abordar os processos relacionados à capacitação, a tendência é a de falar preferencialmente em desenvolvimento de pessoas e também em educação no trabalho. Além do treinamento, há o desenvolvimento, que “é o processo de longo prazo para aperfeiçoar capacidades e motivações dos empregados a fim de torná-los futuros membros valiosos da organização. O desenvolvimento inclui não apenas o treinamento, mas também a carreira e outras experiências” (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000, p. 338). Segundo Bohlander; Snell; Sherman (2005, p. 134), “muitos especialistas, entretanto, distinguem entre treinamento, mais focalizado e orientado para questões concernentes e desempenho no curtoprazo, e desenvolvimento, mais orientado para ampliar as habilidades dos indivíduos para futuras responsabilidades”. Nos novos modelos de gestão de pessoas, investimentos tem sido feitos e programas desenvolvidos para agregar valor à capacitação dos indivíduos nas empresas, tendo em vista a necessidade de atualização por parte da organização nos mais diversos setores organizacionais. Por isso, programas de educação corporativa são desenvolvidos abrangendo todas as áreas da organização, possibilitando aprendizado contínuo e melhorias nos processos. Segundo Dutra (2001), a educação corporativa é indispensável nesse processo de mudança das organizações, que necessita de pessoas capazes de refletir sobre a complexidade organizacional, além de serem responsáveis pela construção de políticas e estratégias que estejam de acordo com as necessidades atuais, mantendo a competitividade do negócio. Para tal, a educação corporativa proporciona melhores resultados e alto desempenho organizacional em busca de melhores resultados. 61 De acordo com Eboli (2002), é inquestionável a relevância que as áreas de treinamento e desenvolvimento, diga-se, educação corporativa, estão adquirindo sobre as demais funções da gestão de pessoas, tendo em vista que a migração do modelo tradicional de treinamento e desenvolvimento para a educação corporativa ganhou foco e força estratégica, tornando-se um dos pilares de uma gestão empresarial bem-sucedida. Para Le Gall (2008, p. 120): A natureza da formação mudou radicalmente a partir do momento em que seu principal objeto deixou de ser a aquisição de um saber ou a adaptação do funcionário a uma tarefa especializada. As ações formativas passaram a incluir objetivos e conteúdos mais amplos e, sobretudo, intangíveis – comportamentos, raciocínio lógico, cultura geral profissional etc. Além do mais, “um projeto de sistema de educação corporativa se diferencia de um centro de treinamento e desenvolvimento tradicional a partir da inclusão do conceito de competência crítica empresarial em seu planejamento” (DUTRA; FLEURY; RUAS, 2008, p. 172). Assim, surgem as comunidades virtuais de aprendizagem, os times de aprendizagem, as bibliotecas virtuais, os programas de certificações, os programas de coaching, mentoring e trainee, a educação à distância, bem como as universidades corporativas. Em relação ao coaching e trainee, aquele assume certas responsabilidades, como proporcionar ao trainee a chance de aprender o trabalho, aumentar suas competências e incrementar seus conhecimentos, ou seja, o coach tem por objetivo proporcionar uma direção objetiva e profissional no sentido de ampliar o desempenho de uma pessoa, ajudando-a a melhorar aquilo que ela já possui e a adquirir aquilo de que ela necessita (CHIAVENATO, 2002). Já os programas de trainee, segundo Lacombe (2005, p. 319): [...] destina-se, em geral, ao pessoal jovem, quase sempre de nível superior, com pouco tempo de empresa. A finalidade dos programas de trainees é preparar essas pessoas para assumir posições de responsabilidade na organização. Além de um programa de integração completo e detalhado, abrange, frequentemente, uma formação técnica nos aspectos de maior interesse da empresa. O programa pode levar desde poucas semanas até muitos meses. Com diferenças sutis, comparando ao coach, um mentor é um membro veterano da profissão ou da organização, que oferece apoio, instruções, feedbacks, aceitação e amizade, criando oportunidades para seu treinando ou protegido mostrar suas habilidades, oferecendo ao mesmo tempo tarefas educacionais e desafiadoras e, por último, sendo uma referência, um conselheiro e um modelo para o treinando (OLIAN ET AL. apud MILKOVICH; BOUDREAU, 2000). Para Ferreira (2008), o mentoring se preocupa em transferir 62 conhecimentos e experiência com perspectivas de longo prazo, e o coaching busca capacitar um executivo nas funções organizacionais requeridas pela organização. Desta forma, o “coaching se apresentaria como facilitação para o sujeito social repensar sua carreira, autorizando-se a encontrar sentido ao projeto profissional por demanda própria e não da organização ou empresa: uma prática para gestão de carreira mais eticamente orientada” (MORAES, 2007, p. 13). Outro aspecto importante da função desenvolvimento se refere às universidades corporativas. Atualmente, percebe-se um considerável crescimento da quantidade de universidades que estão inseridas nos programas de educação corporativa. “Na década de 1990, o número subiu de 400 para 1.000, e continua a passo acelerado [...] Para alguns trata-se de seu departamento de treinamento redesenhado, com um peso significativo na aprendizagem eletrônica ou e-learning” (MAYO, 2003, p. 163-164), todavia, o surgimento das universidades corporativas é uma guinada importante para o aprendizado organizacional, conforme explica Dutra; Fleury; Ruas (2008, p. 173): O surgimento das UCs foi o grande marco da passagem do tradicional ‘centro de treinamento e desenvolvimento’ (T&D) para uma preocupação mais ampla e abrangente com a educação de todos os colaboradores de uma empresa, e, na prática, é com o seu advento que vem à tona a nova modalidade de educação corporativa. Eboli (2002, p. 194) entende que “a missão de uma UC consiste em formar e desenvolver talentos na gestão dos negócios, promovendo a gestão do conhecimento organizacional [...] através de um processo de aprendizagem ativa e contínua”. Por isso, as ações educativas são sempre alinhadas às metas empresariais ao passo que o principal objetivo desse sistema é “o desenvolvimento e a instalação de competências empresariais e humanas consideradas críticas para a viabilização das estratégias de negócio” (EBOLI, 2002, p. 194). De acordo com Branco (2006), através das universidades corporativas é possível o acesso, a coordenação e a transferência do conhecimento, que se dá por meio dos treinamentos virtuais (internet, intranet, videoconferência), dos encontros, debates e discussões em sala de aula, além dos bancos de dados de informações (tecnológicas, mercadológicas, de pessoas e competências). Para Meister (1999, p. 129), “as universidades corporativas estão dando uma importante contribuição para esse ‘novo ambiente de aprendizagem’, fazendo experiências com uma variedade de ferramentas educacionais no ambiente de negócios”. Esse mesmo autor 63 afirma que a implantação das universidades corporativas já se tornou prática indispensável em várias empresas: Empresas estão transformando suas salas de aula corporativas em infra-estruturas de aprendizagem corporativa, em que o objetivo é desenvolver meio de alavancar novas oportunidades, entrar em novos mercados globais, criar relacionamentos mais profundos com os clientes e impulsionar a organização para um novo futuro (MEISTER, 1999, p. 19). Nessa perspectiva, a universidade corporativa significa um importante instrumento para o desenvolvimento organizacional em busca da competitividade, contribuindo de forma significativa nos sistemas de gestão por competências e gestão do conhecimento (VERGARA; RAMOS, 2002; BRANDÃO, 2006). Entretanto, para que a implantação dessas ações possa lograr êxito, faz-se necessário investimento principalmente em tecnologia, com o objetivo de implantar sistemas integrados de comunicação, redes e portais corporativos que permitam facilitar a disseminação e transferência do conhecimento adquirido, experimentado e compartilhado, semelhante ao que grandes empresas tem feito, que são as redes de conhecimento que utilizam tecnologia (internet, intranet, portais) com o intuito de capacitar seus empregados, assegurando de certa forma seu capital intelectual através da divulgação de informações e idéias para toda a empresa (ULRICH, 1998). 2.2.2.5 Manutenção Na função manter pessoas, os salários, os benefícios e incentivos e a saúde ocupacional são os pilares principais. De acordo com Milkovich; Boudreau (2000, p. 381), “a remuneração inclui o retorno financeiro e os serviços e benefícios tangíveis que os empregados recebem como parte de pagamento em uma relação de trabalho”, enquanto a assistência médica, os benefícios de aposentadorias, o seguro de vida e planos de invalidez, as políticas de férias e feriados, dentre outros, são peças do atual programa de benefícios (FLANNERY; HOFRICHTER; PLATTEN, 1997). Milkovich; Boudreau (2000, p. 440) consideram esses benefícios “aspectos indiretos da remuneração total dos empregados” ou podem ser ainda, “uma forma indireta de remuneração destinada a aprimorar a qualidade de vida profissional e pessoal dos funcionários” (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 310), além de envolver questões relacionadas à saúde ocupacional ou higiene e segurança do trabalho, “atuando tanto na área de prevenção quanto na de correção, em estudos e ações 64 constantes que envolvam acidentes no trabalho e a saúde do trabalhador” (MARRAS, 2000, p. 199). A flexibilidade também ocorre nos sistemas de benefícios, variando de acordo com a cultura organizacional, conforme afirma Marras (2000, p. 138): Os planos flexíveis de benefícios, adotados mais recentemente por organizações de países desenvolvidos, são aqueles em que os empregados têm a opção de escolher entre os benefícios disponíveis aqueles que acham mais interessantes. Esse modelo pressupõe uma empresa transparente, empregados responsáveis e uma relação aberta entre as partes, de forma a possibilitar análises e discussões sobre a relação custobenefício de ambos. Atualmente, os incentivos também estão presentes nos novos modelos de gestão de pessoas, principalmente quando se refere à participação nos lucros e resultados, à venda de parte das ações empresariais aos funcionários (stock options), às bonificações, dentre outros. Segundo Bohlander; Snell; Sherman (2005, p. 279), “os incentivos destinam-se a estimular os funcionários a empregar mais esforço para completar suas tarefas no cargo – esforço que eles podem não ser motivados a empreender nos sistemas de remuneração baseados no tempo de serviço e/ou no número de horas trabalhadas”. Em se tratando da remuneração, Le Gall (2008, p. 93) entende que “a remuneração do funcionário é ao mesmo tempo a consequência e o elemento principal do contrato individual que o liga à empresa, contrapartida ao trabalho prestado, além de representar parte importante dos custos de produção”. No entanto, assim como em todas as outras funções de recursos humanos, a função de manutenção também sofreu mudanças consideráveis que impactaram diretamente na forma de trabalho dos indivíduos, bem como na produtividade das empresas. De acordo com Wood Jr; Picarelli (1999, p. 40), “a modernização da gestão empresarial e a adoção de novos modelos de organização do trabalho tendem a tornar as formas tradicionais de remuneração anacrônicas”, exigindo novas formas de remuneração que sejam alinhadas aos novos modelos de gestão, apoiados nos valores e cultura organizacional, bem como nas metas e estratégias das empresas (FLANNERY; HOFRICHTER; PLATTEN, 1997). Estes autores apontam nove princípios para a implantação de uma remuneração dinâmica: 1) alinhamento da remuneração com os valores, cultura e metas estratégicas do negócio; 2) vínculo da remuneração às outras mudanças; 3) instituição de um programa de remuneração no momento em que possa melhor apoiar as demais iniciativas de mudança; 4) integração do pagamento com outros processos voltados para as pessoas; 5) democratização do processo de pagamento; 6) desmistificação da remuneração; 7) medição dos resultados; 8) melhoria contínua e gradual e; 9) seleção e critério em relação a tudo que ouvir ou ler a 65 respeito da remuneração (FLANNERY; HOFRICHTER; PLATTEN, 1997). Desse modo, uma das formas encontradas para essa dinamicidade se dá através da remuneração variável, tendo em vista que: [...] enquanto o salário é definido nas organizações em função do conjunto de responsabilidades e da complexidade do trabalho esperado de um profissional (avaliado ou não com base no conceito de competências) e é atribuído regularmente, a remuneração variável (em suas diversas formas) está atrelada ao acompanhamento da performance/desempenho, podendo ou não existir, com maior ou menor intensidade, em face dos resultados alcançados (HIPÓLITO, 2002, p. 95). Um tema importante, quando relacionado à remuneração, refere-se à remuneração estratégica, que é uma ponte entre os indivíduos e a nova realidade das organizações que atuam num mercado globalizado e competitivo, levando em consideração duas vertentes: o contexto organizacional e todo o conjunto de fatores dos indivíduos que afetam os resultados organizacionais (WOOD JR; PICARELLI, 1999). Conforme esses autores, a remuneração estratégica também atua como um instrumento a mais na motivação aos indivíduos, contribuindo para o desenvolvimento organizacional, na medida em que o sistema de remuneração é alinhado ao contexto e à estratégia da empresa, constituindo-se num componente de motivação e harmonização de interesses (WOOD JR; PICARELLI, 1999). Deste modo, os novos modelos de gestão de pessoas possuem características relacionadas à remuneração no sentido de alinhar as estratégias organizacionais aos objetivos e resultados esperados, isto é, a remuneração deve ser estruturada de tal forma que reforce valores, crenças e comportamentos alinhados às estratégias empresariais, estimulando a busca de aquisição e estruturação de conhecimento, bem como seu compartilhamento no contexto empresarial. Sendo assim, deve servir de instrumento que tenha capacidade para reter e atrair talentos, ao mesmo tempo proporcionando comprometimento dos empregados com os objetivos organizacionais (DUTRA, 2001). 2.2.2.6 Controle A função denominada controle ou monitoração “refere-se às atividades relacionadas ao acompanhamento e controle das pessoas e à verificação dos resultados de seu trabalho” (GIL, 2009, p. 25). Para Ulrich (1998, p. 259), “um diagnóstico organizacional transforma uma arquitetura de RH em uma ferramenta de avaliação. Dessa forma, os fatores indicados na arquitetura sugerem perguntas de avaliação ou auditoria para verificar as forças e fraquezas da 66 organização de RH” (ULRICH, 1998, p. 259), o que permite uma análise abrangente dos processos e atividades realizados para as devidas correções e sugestões de melhorias, tornando os novos modelos de gestão marcados especialmente pela função de controle (HOMEM; OLTRAMARI; BESSI, 2009; GUIMARÃES, 2006). Vale destacar que alguns instrumentos como o Balanced Scorecard, que foi desenvolvido pelos estudiosos Kaplan e Norton, pode ser utilizado como ferramenta de controle, além de dar subsídios para a avaliação de desempenho (GASSENFERTH; SOARES, 2007). As organizações bem-sucedidas possuem programas contínuos de melhorias, mapeando suas limitações em busca de aperfeiçoamento, conforme explica Ulrich (1998, p. 92): “em uma auditoria organizacional, os sistemas e os processos são examinados no intuito de aperfeiçoá-los para a melhor aplicação das metas estratégicas”. Nesses casos, são utilizados sistemas de informações de recursos humanos, que são instrumentos básicos para uma adequada administração de recursos humanos (LUCENA, 2007). De acordo com Lucena (2007, p. 254): Pode-se definir um Sistema de Informações de Recursos Humanos – SIRH – como a criação, processamento, produção, distribuição e atualização de Relatórios Gerenciais cujas informações são apresentadas de forma estruturada e correlacionada com os objetivos e as aplicações práticas exigidos pela administração dos Recursos Humanos da empresa. Assim como nas demais funções de gestão de pessoas, uma adequada monitoração também requer investimentos em tecnologia e capacitação de pessoal para que sejam desenvolvidos sistemas integrados que proporcionem informações precisas quando necessárias. 2.3 A RELAÇÃO ENTRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL E A GESTÃO DE PESSOAS Diante do que já foi exposto sobre responsabilidade social empresarial e gestão de pessoas, urge fazer uma conexão entre os conteúdos abordados até então. Na realidade, tanto as ações socialmente responsáveis como as práticas de gestão de pessoas tem sido motivo de mudanças consideráveis na forma de gerenciamento de pessoas. Por um lado, as exigências relacionadas à responsabilidade social ganham espaço nas organizações e, por outro, as práticas de gestão de pessoas passam a ser imprescindíveis para uma busca incessante por competitividade e melhores resultados. Sendo assim, as organizações, não raramente, utilizam 67 e desenvolvem tanto ações socialmente responsáveis, como também implementam novas práticas de gestão de pessoas. Dessa maneira, programas de excelência, certificações e auditorias externas passam a ser comuns nas organizações. Na maioria das vezes, estão relacionados à gestão da qualidade e também às atividades de responsabilidade social empresarial. Para Ulrich (1998, p. 222), “o bom desses programas é que passam para toda a empresa mensagens consistentes sobre a importância da nova cultura, institucionalizando-a através de práticas de RH que generalizam as informações e procuram moldar o comportamento do funcionário”. Para melhor ilustrar o que foi exposto, há, atualmente, no Brasil, prêmios que revelam práticas desenvolvidas por muitas organizações, além de atuar como uma espécie de auditoria externa, permitindo que as organizações alinhem suas práticas aos novos modelos de gestão utilizados por grandes corporações. Dentre os prêmios e programas de qualidade com atuação no Brasil, destacam-se o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, que é voltado para as indústrias brasileiras; o Prêmio Nacional de Qualidade, realizado pela Fundação Nacional da Qualidade; e o do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1998, que tem diversas empresas espalhadas pelo Brasil como associadas, sendo estas de diferentes portes e setores de atividade. Além disso, essa organização tem como missão ajudar as empresas a gerirem seus negócios utilizando práticas socialmente responsáveis, em busca de uma sociedade mais justa e próspera (INSTITUTO ETHOS, 2000). Vale salientar que esses prêmios ou programas possuem diagnósticos próprios e sistemas de avaliação independentes e específicos, assim como fundamentos básicos que norteiam toda a aplicação e realização dos mesmos, conforme o Quadro 6: 68 Prêmio SESI Qualidade no Trabalho Valorização das Pessoas Responsabilidade Social Visão Sistêmica Aprendizado Organizacional Liderança e Constância de Propósitos Prêmio Nacional de Qualidade Instituto Ethos Pensamento Sistêmico Aprendizado organizacional Cultura de inovação Orientação por processos e informações Liderança e Constância de Propósitos Visão de futuro Gestão de valor Valorização das pessoas Conhecimento sobre o cliente e o mercado Desenvolvimento de parcerias Responsabilidade Social Valores e transparência Público interno Meio ambiente Fornecedores Consumidores Comunidade Governo e Sociedade Quadro 6 – Fundamentos básicos Fonte: SESI (2009), FNQ (2009); INSTITUTO ETHOS (2009) Dentre os fundamentos apresentados no Quadro 6, a responsabilidade social é um quesito importante a ser observado pelas organizações, principalmente quando relacionada ao público interno, ou seja, à valorização das pessoas, permitindo que estas possam se desenvolver de forma adequada, usufruindo de um ambiente agradável para o desempenho de suas atividades. Todavia, para que esse fundamento seja observado, a gestão de pessoas deve desenvolver programas e atividades que tenham como base a responsabilidade social para com o público interno. Por isso, é importante identificar quais os critérios de avaliação desses prêmios (Quadro 7), pois é através deles que os diagnósticos são realizados e, por conseguinte, as análises são feitas. É mister lembrar que na maioria das ocasiões, esses diagnósticos servem como uma consultoria externa, identificando os pontos fortes e fracos das organizações através dos critérios de avaliação. Prêmio SESI Qualidade no Trabalho Sistema de gestão de pessoas Educação e desenvolvimento Qualidade de vida Desenvolvimento socioambiental Prêmio Nacional de Qualidade Liderança Estratégia e planos Clientes Sociedade Informações e conhecimento Pessoas Processos Resultados Quadro 7 – Critérios de avaliação Fonte: SESI (2009), FNQ (2009); INSTITUTO ETHOS (2009) Instituto Ethos Valores e transparência Público interno Meio ambiente Fornecedores Consumidores Comunidade Governo e sociedade 69 Assim como nos fundamentos, alguns critérios de avaliação se relacionam com a gestão de pessoas. Na realidade, outros setores organizacionais também são observados. Todavia, a maioria dos critérios se relaciona com a gestão de pessoas, principalmente no Prêmio SESI Qualidade no Trabalho e no Prêmio Nacional da Qualidade. Já no Instituto Ethos, essa relação ocorre com o critério voltado para o público interno, que envolve questões como diálogo e participação, respeito ao indivíduo e trabalho decente. No caso do Prêmio Nacional de Qualidade (FNQ, 2009), o critério de avaliação que se refere às pessoas possui três grupos: sistemas de trabalho (organização do trabalho, processos relativos à seleção e contratação de pessoas e o estímulo ao desempenho de pessoas e equipes), capacitação e desenvolvimento (capacitação e desenvolvimento dos membros da força de trabalho) e qualidade de vida (criação de um ambiente seguro e saudável e a obtenção do bem-estar, da satisfação e do comprometimento das pessoas). De acordo com o Ethos (2009), a empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os direitos dos trabalhadores apenas no que se diz respeito à legislação trabalhista, mas, também, investe no desenvolvimento pessoal e profissional de seus funcionários, além de proporcionar melhores condições de trabalho, estreitando as relações entre empregado versus empregador. No critério de avaliação público interno, há práticas que são analisadas sob três grupos: diálogo e participação, respeito ao indivíduo e trabalho decente. No item diálogo e participação, a relação com os sindicatos e com os trabalhadores terceirizados deve ser transparente e, ao mesmo tempo, a organização deve alinhar seus interesses aos dos funcionários. Não obstante, a gestão participativa incentiva o envolvimento dos funcionários na solução dos problemas e, por que não dizer, no processo decisório, permitindo que estes possam desenvolver suas habilidades. No item sobre respeito ao indivíduo, o compromisso com o futuro das crianças, que influencia a empresa a não utilizar trabalho infantil, mas a adotar programas com menores aprendizes (14 a 16 anos); o compromisso com o desenvolvimento infantil; a valorização da diversidade, não permitindo qualquer tipo de discriminação em termos de recrutamento, acesso a treinamento, remuneração, avaliação ou promoção de seus empregados; o compromisso com a equidade racial e de gênero são ações avaliadas por este tipo de programa. A política de remuneração, benefícios e carreira, que considera o funcionário como um parceiro organizacional e o remunera de forma adequada, além de investir no seu desenvolvimento profissional; o cuidado com saúde, segurança e condições de trabalho, base 70 fundamental para as demais atividades organizacionais; o compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade, que se refere ao comprometimento da organização no que diz respeito à capacitação e qualificação; o comportamento frente a demissões, que deve primar pela não demissão como prioridade em tempos de crise, mas, se preciso, exercer de forma responsável; e a preparação para a aposentadoria faz parte das ações avaliadas quanto ao trabalho decente desempenho nas organizações. De forma semelhante ao Prêmio Nacional de Qualidade, o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho avalia questões relacionadas à gestão de pessoas através dos seguintes critérios: sistema de gestão de pessoas (comunicação interna, estrutura de cargos e salários, práticas de remuneração, avaliação de desempenho, reconhecimento e incentivos, relações interpessoais, clima organizacional e satisfação do público interno); educação e desenvolvimento (capacitação e desenvolvimento dos colaboradores, programas de capacitação e treinamento e avaliação da capacitação desenvolvimento); qualidade de vida (saúde e segurança no trabalho, promoção de oportunidades voltadas para cultura, esporte e lazer, manutenção de um ambiente de trabalho saudável e de clima organizacional propício ao bem-estar, à satisfação e motivação dos colaboradores). Na realidade, o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho tem seus critérios fundamentados no Modelo de Excelência de Gestão da Fundação Nacional da Qualidade. Para uma análise mais detalhada desses prêmios, estão expostas, no Quadro 8, as práticas e ações tidas como socialmente responsáveis e que se relacionam com a gestão de pessoas de acordo com os critérios estabelecidos por cada prêmio específico. Dessa forma, verifica-se a semelhança entre as práticas avaliadas: 71 Prêmio SESI Qualidade no Trabalho Prêmio Nacional de Qualidade Instituto Ethos Comunicação interna Estrutura de cargos e salários; Remuneração; Avaliação de desempenho Reconhecimento e incentivos; Relações interpessoais Clima organizacional e satisfação do público interno Promoção de oportunidades voltadas para cultura, esporte e lazer Organização do trabalho Relações com os sindicatos Processos relativos à Relações com seleção e contratação de terceirizados pessoas Manutenção de um ambiente de Estímulo ao desempenho trabalho saudável e de clima de pessoas e equipes organizacional propício ao bemestar, à satisfação e motivação dos colaboradores trabalhadores Gestão participativa Política de Remuneração, Benefícios e Carreira Comportamento demissões frente a Capacitação e de desenvolvimento Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e Programas de capacitação e a Empregabilidade treinamentos Capacitação e Avaliação da capacitação desenvolvimento dos membros da força de trabalho Preparação para Aposentadoria Cuidado com a Saúde, Segurança e Condições de Trabalho Compromisso com o futuro das Criação de um ambiente crianças com o seguro e saudável e a Compromisso Aspectos relacionados à saúde e obtenção do bem-estar, desenvolvimento infantil segurança no trabalho da satisfação e do Valorização da diversidade comprometimento das Compromisso com a equidade pessoas racial Compromisso com a equidade de gênero Comportamento Frente a Demissões Quadro 8 – Práticas de gestão de pessoas e responsabilidade social voltadas ao público interno Fonte: SESI (2009), FNQ (2009); INSTITUTO ETHOS (2009) Muitas dessas ações são avaliadas de acordo com certificações nacionais ou internacionais. Normas e padrões como a SA 8000, que consideram as relações de trabalho em várias vertentes existentes nas organizações e a AA 1000, que avalia o diálogo da 72 organização com seus stakeholders, bem como as normas ISSO, que priorizam os padrões de qualidade, aspecto tão relevante na moderna conjuntura organizacional que prioriza os processos e atividades organizacionais pautados na gestão da qualidade. De acordo com Cerqueira (2006, p. 23), há entidades como a Social Accountability International (SAI), que desenvolveu e detém a norma SA 8000:2001: [...] que estabelece requisitos objetivos para uma auditoria de terceira parte no tocante à relação da organização com o trabalho infantil, com trabalho forçado, com a segurança e saúde dos trabalhadores, com a liberdade dos trabalhadores constituírem associações, com o direito de estabelecerem acordos coletivos, com as práticas disciplinares adotadas, com a carga semanal de trabalho e com a remuneração do trabalho. Diversas outras normas e padrões são utilizados pelas organizações como instrumento de avaliação, fundamentando as diferentes atividades e ações desenvolvidas no ambiente interno e externo das empresas. Dessa forma, encontram-se elencadas, no Quadro 9, as principais entidades regulamentadoras dessas normas e padrões, bem como suas especificações e diretrizes: Entidades Especificações Diretrizes NBR ISO 9001:2000 – NBR ISO 9001:2000 – Sistemas de Gestão da Sistemas de Gestão da Qualidade – Diretrizes para ISO – International Organization Qualidade – Requisitos melhoria de desempenho for Standardization e ABNT – Associação Brasileira de Normas NBR ISO 14001:2004 – NBR ISO 14001:2004 – Técnicas Sistemas de Gestão Sistemas de Gestão Ambiental Ambiental – Requisitos com – Requisitos com Diretrizes Orientações para uso para uso BSI – British Standards OHSAS 18001:1999 – OHSAS 18002:1999 – Institution Occupational Health and Occupational Health and Safety Assessment Series – Safety Assessment Series – Specifications Guidelines – Diretrizes para aplicação a OHSAS 18001 SAI – Social Accountability SA 8000:2001 – Social SA 8000:1999 – Guidance International Accountability Document ABNT – Associação Brasileira de NBR 16001:2004 Não tem Normas Técnicas Responsabilidade Social – Sistema da Gestão – Requisitos Quadro 9 – Principais normas e padrões de qualidade Fonte: Cerqueira (2006, p. 49) Uma das normas mais utilizadas pelas organizações é a norma NBR ISO 9001:2000, que “é constituída por um conjunto de requisitos considerados essenciais para que uma organização possa constituir um Sistema da Gestão da Qualidade” (CERQUEIRA, 2006, p. 73 86) e a NBR ISO 14001:2004, que se relaciona com a gestão ambiental. Além do mais, há a NBR 16001:2004, que se refere à responsabilidade social e tem por objetivo prover às organizações os elementos de um sistema da gestão da responsabilidade social eficaz, passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a auxiliá-las a alcançar seus objetivos relacionados com os aspectos da responsabilidade social (ABNT, 2004, p. 7). Através desse panorama de fundamentos, critérios e práticas elencadas, observa-se que as atividades contidas nas funções da gestão de pessoas anteriormente expostas se coadunam com as práticas e ações que são avaliadas pelos respectivos prêmios. Entretanto, o diagnóstico encontrado é que determina se as organizações desenvolvem ou não novas práticas de gestão de pessoas, tendo em vista que a valorização dos funcionários e a busca contínua pela excelência são pressupostos básicos de tais ações contemporâneas. 74 3 METODOLOGIA Neste capítulo são apresentados a natureza teórico-metodológica da pesquisa e os procedimentos metodológicos que permitiram ao pesquisador coletar dados e, posteriormente, realizar as análises necessárias para responder aos questionamentos propostos para este estudo, que nortearam todo o processo de construção desta pesquisa. Dessa maneira, foram escolhidos métodos e técnicas mais adequados à tipologia da pesquisa proposta, no intuito de tornar eficiente tanto os aspectos inerentes à formulação e coleta de dados, quanto às análises e avaliações dos resultados que foram obtidos, pois “tanto os métodos quanto as técnicas devem adequar-se ao problema a ser estudado, às hipóteses levantadas e que se queira confirmar, ao tipo de informantes com que se vai entrar em contato” (MARCONI; LAKATOS, 2002, p. 31). Neste capítulo, encontram-se também o universo e a amostra da pesquisa. De acordo com Marconi; Lakatos (2008, p. 157), “a pesquisa, portanto, é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. Dessa forma, as técnicas e procedimentos que foram utilizados compõem o roteiro que direcionou a pesquisa, conforme exposto a seguir. 3.1 TIPO DE PESQUISA A escolha da tipologia da pesquisa exige do pesquisador uma análise e planejamento preliminar do estudo proposto, pois, de acordo com Ruiz (1996, p. 48), “pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência. É o método de abordagem de um problema em estudo que caracteriza o aspecto científico de uma pesquisa”. Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa que, de acordo com Viera; Zouain (2006, p. 17): “pode ser definida como a que se fundamenta principalmente em análises qualitativas, caracterizando-se, em princípio, pela não-utilização de instrumental estatístico na análise dos dados”. Todavia, Marconi; Lakatos (2004, p. 267) enfatizam que: O método qualitativo difere do quantitativo não só por não empregar instrumentos estatísticos, mas também pela forma de coleta e análise dos dados. A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc. 75 Para Flick (2004, p. 22), o método qualitativo difere consideravelmente do método quantitativo, pois “os métodos qualitativos consideram a comunicação do pesquisador com o campo e seus membros como parte explícita da produção do conhecimento, ao invés de excluí-la ao máximo como uma variável intermédia”. Nessa percepção, Denzin; Lincoln (2006) entendem que a pesquisa qualitativa permite ao observador uma visibilidade ampla através de um conjunto de práticas que vai desde entrevistas até gravações e lembretes utilizados, que são inerentes a esse tipo de pesquisa. Em relação aos objetivos do estudo, a pesquisa foi de caráter descritivo e, quanto aos procedimentos, foi realizada uma pesquisa documental e de campo, tendo em vista que parte dos dados foi coletada em empresas que fazem parte da amostra da pesquisa, além da análise documental que fundamentou a análise dos resultados. Para Marconi apud Andrade (1999, p. 109): Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. E sobre a pesquisa documental, Gil (2007, p. 66) entende que: [...] assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. A pesquisa documental se revela como fonte relevante de informações que proporcionam ao pesquisador coletar dados significativos para a construção e análise da temática pesquisada. Nesse sentido, “são investigados documentos a fim de se poder descrever e comparar usos e costumes, tendências, diferenças e outras características” (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 67). Segundo Roesch (2007, p. 165-166): Uma das fontes de dados mais utilizadas em trabalhos de pesquisa em Administração, tanto de natureza quantitativa como qualitativa, é constituída por documentos como relatórios anuais da organização, materiais utilizados em relações públicas, declarações sobre a sua missão, políticas de marketing e de recursos humanos, documentos legais etc. Normalmente, tais fontes são utilizadas para complementar entrevistas ou outros métodos de coleta de dados. 76 Para Marconi; Lakatos (2004, p. 57), “a característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fonte primária. Estas podem ser feitas no momento em que o fenômeno ocorre, ou depois”. No entanto, além da pesquisa documental, foram realizadas entrevistas na pesquisa de campo, com o intuito de obter informações mais detalhadas sobre a percepção dos responsáveis pelo PSQT a respeito das práticas socialmente responsáveis desenvolvidas pelas empresas, pois, de acordo com Laville; Dionne (1999, p. 168): A importância dos documentos nas pesquisas em ciências humanas não descarta todo recurso direto às pessoas: estas se mostram frequentemente a fonte melhor adaptada às necessidades de informação do pesquisador. O que leva a algumas considerações sobre a escolha dessas pessoas que serão observadas ou interrogadas, selecionando, às vezes, alguns indivíduos, ou então populações inteiras, ou ainda parte dessas. Em se tratando da pesquisa de caráter descritivo, Gil (2007, p. 44) comenta que “as pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”. Nessa perspectiva, Cervo; Bervian (2002, p. 66) enfatiza que “a pesquisa descritiva observa, registra, analise e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com a precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características”. Em relação aos instrumentos de coleta de dados, foi utilizada a entrevista semiestruturada. Segundo Laville; Dionne (1999, p. 188), a “entrevista semi-estruturada é uma série de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento”. Para Pope; Mays (2009, p. 24): As entrevistas semi-estruturadas são conduzidas com base em uma estrutura flexível, consistindo em questões abertas que definem a área a ser explorada, pelo menos inicialmente, e a partir da qual o entrevistador ou a pessoa entrevistada podem divergir a fim de prosseguir com uma idéia ou resposta em maiores detalhes. De acordo com Gil (2007, p. 117), “muitos autores consideram a entrevista como a técnica por excelência na investigação social [...] Por sua flexibilidade é adotada como técnica fundamental de investigação nos mais diversos campos”. A escolha do instrumento de coleta de dados é importante para que os objetivos possam ser alcançados de forma satisfatória, respondendo ao questionamento da pesquisa, como afirma Marconi; Lakatos (2002, p. 30-31): 77 A seleção do instrumental metodológico está, portanto, diretamente relacionada com o problema a ser estudado; a escolha dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa, ou seja, a natureza dos fenômenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe humana e outros elementos que possam surgir no campo da investigação. 3.2 UNIVERSO/AMOSTRA DA PESQUISA O universo da pesquisa foi composto de todas as empresas premiadas pelo Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, no período de 2005 a 2008, nas fases regional e nacional, totalizando 76 (setenta e seis) empresas, conforme o Quadro 10: Região Estado Acre Amazonas Norte Rondônia Roraima Alagoas Ceará Paraíba Pernambuco Nordeste Piauí Maranhão Rio Grande do Norte Distrito Federal Goiás CentroMato Grosso Oeste Mato Grosso do Sul Tocantins Minas Gerais Rio de Janeiro Sudeste São Paulo Espírito Santo Paraná Sul Rio Grande do Sul Total de empresas Quadro 10 – Universo da pesquisa Fonte: Elaboração própria Grande 01 01 00 01 01 01 00 01 01 00 01 01 01 01 00 00 01 01 02 00 03 01 19 Porte da Empresa Média Pequena Micro 01 01 00 00 00 00 01 01 00 00 01 03 00 01 01 01 00 01 01 00 00 00 01 00 00 00 00 01 02 02 01 01 01 00 01 00 01 02 00 01 01 00 01 00 03 00 00 01 00 02 02 00 02 00 03 02 02 01 00 00 03 03 02 00 00 02 16 21 20 Total 03 01 02 05 03 03 01 02 01 05 04 02 04 03 04 01 05 03 09 01 11 03 76 A pesquisa se propôs a realizar um estudo em todas essas empresas, caracterizando-se uma pesquisa censitária. Todavia, para a realização das entrevistas que contém um conjunto de indicadores que possibilitaram a investigação e averiguação das variáveis pesquisadas no estudo, foram escolhidas as empresas que mais se destacaram pela quantidade de Prêmios recebidos pelo SESI, no período de 2005 a 2008, totalizando oito empresas, sendo duas de 78 cada porte empresarial. Uma empresa de médio porte não concedeu entrevista, tendo como justificativa a necessidade de autorização prévia da diretoria para tal finalidade, o que não ocorreu até a conclusão deste estudo. As empresas entrevistadas foram classificadas por nomenclaturas abreviadas, visando à preservação do sigilo, sendo: MI1 e M2 (duas microempresas), PE1 e PE2 (duas empresas de pequeno porte), ME1 (uma empresa de médio porte) e, por fim, GE1 e GE2 (duas empresas de grande porte), e tiveram como entrevistados os seguintes profissionais: MI1 – Diretor Proprietário MI2 – Responsável pelo PSQT na empresa PE1 – Diretor Proprietário PE2 – Coordenador de Recursos Humanos ME1 – Assistente de Recursos Humanos GE1 – Responsável pelo PSQT na empresa GE2 – Coordenador de Responsabilidade Social A escolha dessa amostra típica e não-probabilista permitiu ao pesquisador aprofundarse mais no que tange a percepção dos responsáveis sobre as ações desenvolvidas que mereceram destaque através do PSQT, pois, este tipo de amostra exemplifica o pensamento de Laville; Dione (1999, p. 170) ao afirmarem que essa escolha “é o caso da amostra típica, em que, a partir das necessidades de seu estudo, o pesquisador seleciona casos julgados exemplares ou típicos da população-alvo ou de uma parte desta”. O período pesquisado (2005-2008) foi escolhido pela disponibilidade dos livros junto ao SESI-RN que foram publicados nesse período, dispondo de um razoável banco de dados que foi utilizado principalmente na pesquisa documental, bem como das informações contidas nos sites e folhetos publicados pelas empresas pesquisadas. De acordo com SESI (2009), há vários anos o SESI vem prestando um serviço de consultoria sobre programas de soluções sociais que possam estar sendo desenvolvidos pelas indústrias brasileiras: 79 Hoje, a sociedade espera da indústria contribuições para o desenvolvimento sustentável. Para ajudar as empresas a se tornarem socialmente responsáveis, o SESI desenvolveu um programa de soluções sociais adequado às necessidades específicas de cada empresa. Indústrias com unidades em diversos estados recebem atendimento com o mesmo nível de qualidade, graças à presença do SESI em todo o Brasil. A atuação consultiva do SESI em responsabilidade social empresarial é fruto da experiência acumulada em 60 anos de trabalho junto à comunidade industrial, em todo o Brasil. As mudanças ocorridas no ambiente organizacional no que diz respeito à responsabilidade social, também impactaram as ações e práticas das indústrias brasileiras. Dessa forma, o SESI criou, em 1996, o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho (PSQT), sendo pioneiro no setor, tendo por objetivo “destacar o esforço das indústrias que investem em práticas diferenciadas de gestão e na valorização dos seus colaboradores” (SESI, 2009). Destarte, entende-se que o PSQT: [...] estimula o exercício da responsabilidade social empresarial da indústria brasileira, fomentando a adoção de novos valores de gestão e valorização das pessoas, o que contribui para que as indústrias se tornem mais produtivas e ampliem suas possibilidades de perenização no mercado (SESI, 2008a, p. 9). Além do mais, o PSQT “considera como base para a formulação dos seus Critérios de Avaliação os Fundamentos da Excelência em que se baseia o Modelo de Excelência da Gestão® (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)” (SESI, 2008a, p. 14), tendo em vista que os conceitos disseminados pelo Prêmio estão alinhados às práticas de elevado padrão de desempenho de empresas líderes e bem-sucedidas. Segundo o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho (PSQT), as indústrias podem se candidatar em duas modalidades de participação: 1) Geral – indústrias contribuintes do SESI quanto as optantes pelo Simples e 2) Especial – empresas industriais contribuintes do SESI e as empresas optantes pelo Simples que tenham sido vencedoras estaduais nas duas últimas edições do PSQT, além das empresas que concorreram nessa modalidade no ano anterior, desde que permaneçam na mesma categoria. Vale salientar que as empresas candidatas na modalidade Especial não poderão concorrer na modalidade Geral (SESI, 2009). Dentre as duas modalidades – Geral e Especial, há quatro categorias: 1) Grande empresa – 500 ou mais colaboradores; 2) Média empresa – de 100 a 499 colaboradores; 3) Pequena empresa – de 20 a 99 colaboradores; e 4) Microempresa – de 05 a 19 colaboradores. Conforme o regulamento do Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, o processo é composto de três fases classificatórias: Estadual, Regional e Nacional. E as avaliações ocorrem através de uma comissão julgadora composta por profissionais especializados de instituições públicas e privadas (SESI, 2009). 80 3.3 COLETA DE DADOS Na coleta de dados, foi priorizada primeiramente a revisão da literatura, permitindo a construção de um referencial teórico que tem por objetivo subsidiar o entendimento a respeito das temáticas estudadas. Dessa forma, a partir desse referencial teórico, outras etapas foram realizadas em momentos distintos, em diferentes etapas da pesquisa. No primeiro momento, a análise documental, por meio dos livros publicados anualmente com as melhores práticas de responsabilidade social premiadas pelo SESI. No segundo momento, foram feitas entrevistas com os responsáveis pelo Prêmio SESI Qualidade no Trabalho das empresas que mais se destacaram pela quantidade de premiações recebidas pelo SESI no período de 2005 a 2008. Em primeiro lugar, foi realizada uma visita à Coordenação Estadual do Prêmio SESI Qualidade no Trabalho no Rio Grande do Norte, na qual foram obtidos os livros publicados pelo SESI, no período de 2005 a 2008, que foram as fontes de dados principais da pesquisa. Essa visita, bem como as primeiras leituras e observações sobre os conteúdos dos livros, foram realizadas no período de maio a junho de 2009. Por conseguinte, os trabalhos de coleta de dados continuaram focados nos livros publicados pelo SESI e em informações contidas nos sites das empresas pesquisadas. Nesse momento, as ações e práticas socialmente responsáveis começaram a ser observadas de forma minuciosa e sistemática, atendendo aos objetivos propostos pela pesquisa. Esse período de maior aprofundamento sob os livros do PSQT ocorreu entre julho a agosto de 2009. Consequentemente, depois de realizada toda a análise documental, foram selecionadas oito empresas, sendo duas por porte empresarial, que mais se destacaram pela quantidade de Prêmios recebidos pelo SESI, para a realização das entrevistas (recebidas via e-mail e realizadas por telefone e gravadas em MP4), porém, foram realizadas entrevistas apenas em sete empresas, pois uma delas não nos concedeu a entrevista por falta de autorização prévia da direção da empresa, o que não ocorreu em tempo hábil até o término desta pesquisa. As entrevistas realizadas permitiram a coleta de maiores informações a respeito da percepção dos responsáveis pelo Prêmio sobre as ações de responsabilidade social desenvolvidas na empresa, as práticas de gestão de pessoas e seus principais objetivos e prioridades, além da relação entre a responsabilidade social e a gestão de pessoas. As entrevistas foram realizadas em setembro de 2009. Em seguida, coletados os dados da pesquisa documental e de campo (entrevistas), foi iniciado o tratamento dos dados através da análise de conteúdo, destacando as fases de préanálise, exploração do material e interpretação e análise dos dados, que ocorreu no período de 81 setembro a outubro de 2009, salientando que a fase da pré-análise foi realizada nas etapas anteriores à pesquisa documental. Por fim, o trabalho realizado se deteve na elaboração da dissertação que ocorreu no período de outubro a novembro de 2009. 3.4 VARIÁVEIS ANALÍTICAS No intuito de identificar como as práticas de gestão de pessoas estão presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, a pesquisa elencou variáveis que subsidiaram o entendimento da temática estudada. Para tal fim, as variáveis são expostas da seguinte forma: • Responsabilidade Social – exposição teórica sobre os conceitos e especificidades da responsabilidade social empresarial e seus aspectos históricos, juntamente com o estudo das ações e práticas socialmente responsáveis desenvolvidas nas organizações, principalmente relacionadas ao público interno das empresas. • Gestão de Pessoas – compreensão das funções ou subsistemas da gestão de pessoas e sua evolução histórica, identificando as práticas de gestão de pessoas desenvolvidas atualmente nas organizações, pautadas em critérios de excelência e qualidade, bem como vinculadas à gestão estratégica de pessoas. • Prêmio SESI Qualidade no Trabalho – práticas socialmente responsáveis das indústrias brasileiras fundamentadas, principalmente, sob quatro critérios de avaliação: sistema de gestão de pessoas, educação e desenvolvimento, qualidade de vida, desenvolvimento socioambiental. 3.5 TRATAMENTO DOS DADOS Nesta fase da pesquisa, os dados coletados foram tratados através da análise de conteúdo, que se desenvolve em três fases: 1) pré-análise; 2) exploração do material; e 3) tratamento dos dados, inferência e interpretação (BARDIN, 1997). De acordo com Vergara (2008, p. 15), “a análise de conteúdo é considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema”. A análise de conteúdo possibilitou uma melhor interpretação dos dados coletados, pois “na pesquisa de caráter qualitativo, o pesquisador, ao encerrar sua coleta de dados, se depara com uma quantidade imensa de notas de pesquisa ou de depoimentos, que se materializam na forma de 82 textos, os quais terá de organizar para depois interpretar” (ROESCH, 2007, p. 169). Nesta perspectiva, Bardin (1977, p. 40) conceitua de forma clara a análise de conteúdo da seguinte maneira: Um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens [...] a intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não). Para Laville; Dione (1999, p. 216): A análise de conteúdo não é, contudo, um método rígido, no sentido de uma receita com etapas bem circunscritas que basta transpor em uma ordem determinada para ver surgirem belas conclusões. Ela constitui, antes, um conjunto de vias possíveis nem sempre claramente balizadas, para a revelação – alguns diriam reconstrução – do sentido de um conteúdo. Nessa mesma percepção, Franco (2008) entende que é perfeitamente possível a utilização da análise de conteúdo como procedimento de pesquisa numa abordagem crítica, que tem o sujeito como ator principal na produção do conhecimento. Essa autora aponta outro detalhe importante, que se refere ao conhecimento teórico prévio para a realização da pesquisa, bem como à análise contextual de tais fatos pesquisados. Além do tratamento dos dados coletados através da análise de conteúdo, foram analisados os depoimentos das entrevistas realizadas junto aos responsáveis pelo Prêmio SESI Qualidade no Trabalho que compuseram a amostra da pesquisa. Dessa maneira, as ações socialmente responsáveis premiadas pelo SESI estão no centro da análise de conteúdo, e as funções da gestão de pessoas foram classificadas como categorias para a análise e interpretação dos dados, conforme a Figura 4: 83 Planejamento Suprimento Práticas socialmente responsáveis Aplicação Manutenção Desenvolvimento Controle Figura 4 – Categorias da análise de conteúdo Fonte: Elaboração própria Resumindo, os procedimentos utilizados para a coleta e interpretação dos dados seguiram três etapas: pré-análise, exploração do material e análise e interpretação dos dados: 1) pré-análise: com os dados coletados dos livros publicados pelo SESI, nos anos de 2005 a 2008, e das entrevistas realizadas com as sete empresas que mais se destacaram no PSQT nesse período; esses foram submetidos a uma análise mais ampla de acordo com os objetivos da pesquisa; 2) exploração do material: diagnóstico das práticas socialmente responsáveis premiadas pelo SESI, classificando-as de acordo com as categorias que se referem às funções da gestão de pessoas, a saber: planejamento, suprimento, aplicação, desenvolvimento, manutenção e controle, além da compreensão a respeito das ações de responsabilidade social desenvolvidas pelas empresas entrevistadas, bem como a relação entre a responsabilidade social e a gestão de pessoas; 84 3) análise e interpretação dos dados: análise e interpretação mais detalhada das ações socialmente responsáveis, de acordo com cada categoria de análise (planejamento, suprimento, aplicação, desenvolvimento, manutenção e controle), a partir dos dados coletados na pesquisa documental (livros publicados pelo SESI) e na pesquisa de campo (entrevistas). O critério de categorização utilizado foi a análise semântica ou categorial (categorias temáticas), procedimento este encontrado em Bardin (1977). Desse modo, foi possível relacionar o conteúdo teórico com os dados empíricos e os objetivos da pesquisa com os resultados obtidos. 85 4 RESULTADOS DA PESQUISA Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa, tendo em vista a delimitação das categorias de análise (planejamento, suprimento, aplicação, desenvolvimento, manutenção e controle) relacionadas às práticas socialmente responsáveis diagnosticadas nas empresas pesquisadas. A análise e interpretação dos resultados ocorreram a partir da pesquisa documental e de campo, sendo as empresas classificadas em quatro portes, conforme o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho (microempresa, pequena empresa, média empresa e grande empresa). 4.1 A FUNÇÃO PLANEJAMENTO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS Na função planejamento da gestão de pessoas, as práticas diagnosticadas parecem estar integradas com as estratégias da empresa, tendo como fundamento, não apenas um planejamento isolado, mas permitindo a utilização de consultorias específicas de recursos humanos, políticas e processos de gestão de pessoas que envolvem toda a organização e que se preocupam com os diversos setores da organização, não se limitando às tarefas burocráticas. Para Marras (2000, p. 257), “entenda-se a administração estratégica de recursos humanos como a gestão que além de ter ligação estreita com o planejamento estratégico organizacional introduz, em suas políticas, mudanças de paradigmas que modificam substancialmente”. Por isso, as organizações competitivas buscam adequar de maneira correta seu planejamento organizacional ou estratégico ao planejamento da gestão de pessoas, sendo “muito difícil administrar a mudança se conteúdo e processo não estiverem ligados, se não houver uma parceria saudável entre linha de produção e gestão de RH, se o planejamento de negócios e o de pessoas não estiverem bem unidos” (TANURE; EVANS; PUCIK, 2007, p. 34). Dessa maneira, o planejamento da gestão de pessoas “é o processo de antecipar e fazer provisão para a movimentação das pessoas – admissão e demissão, promoções e transferências. A finalidade do PRH é assegurar o emprego de maneira mais efetiva possível” (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 60). Percebe-se na maioria das empresas pesquisadas, uma necessidade em adotarem novas práticas de gestão de pessoas pautadas nas estratégias empresariais, conforme afirma Marras (2000, p. 323): 86 [...] a práxis nos prova, contudo, que as empresas consideradas inovativas, de ponta, aquelas que normalmente servem de paradigma às demais, pelos seus resultados altamente significativos, apostam na adoção de um modelo estratégico de administração de RH e, por isso, obtêm os resultados esperados. Todavia, de acordo com o Quadro 11, observa-se que, independente do porte empresarial, o planejamento da gestão de pessoas em diversas empresas tem ocorrido em sintonia com as estratégias organizacionais. Esse resultado corrobora a necessidade que as organizações tem de possuírem um planejamento de gestão de pessoas adequado às estratégias organizacionais, tendo em vista que essa relação permite o desdobramento de ações e práticas que busquem o desenvolvimento das pessoas nas organizações. 2 1 ISO 9001:2000 ISO 14001 2 17 8 OHSAS 18001 ISO 14001 ISO 9001:2000 3 4 5 1 1 SA 8000 ISO 9002 5 1 6 1 1 3 6 3 18 5 OHSAS 18001 ISO 14001 ISO 9001:2000 Programa de Qualidade Benchmarking Matriz de Competências 2 Matriz de Competências Consultoria de RH Quadro 11 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função planejamento da gestão de pessoas Fonte: Dados da pesquisa (2009) Obs.: As quantidades expostas foram calculadas a partir das práticas explicitadas nos livros pesquisados Planejamento Certificação Práticas desenvolvidas Pequena Média Planejamento decorrente e Planejamento decorrente e sintonizado com as 11 sintonizado com as estratégias da empresa estratégias da empresa Comunicação interna 21 Comunicação interna Pesquisa de Clima Pesquisa de Clima 2 Organizacional Organizacional Certificação Micro Planejamento decorrente e sintonizado com as estratégias da empresa Comunicação interna Pesquisa de Clima Organizacional Certificação Função 5 1 1 9 9 1 Matriz de Competências Consultoria de RH 5 7 2 5 15 12 87 SA 8000 BS 8800 NBR 16001 Programa de Qualidade OHSAS 18001 ISO 14001 ISO 9001:2000 Grande Planejamento decorrente e sintonizado com as estratégias da empresa Comunicação interna Pesquisa de Clima Organizacional Certificação 88 Algumas ações desenvolvidas foram amplamente divulgadas pelas empresas pesquisadas, tais como: a gestão participativa, incluindo reuniões e discussões entre gestores e demais funcionários para tomada de decisões e resolução de conflitos; pesquisas de clima organizacional que permitem ajustes e melhorias no desenvolvimento dos trabalhos realizados; e um forte programa de comunicação interna, principalmente em se tratando de ouvir sugestões e coletar informações dos funcionários a respeito de diversos assuntos do ambiente de trabalho. O Quadro 12 apresenta, de forma sucinta, alguns desses programas que objetivam estreitar os relacionamentos entre gerência e funcionários. Resumo dos programas de sugestões e comunicação interna Programa IBI (idéias e sugestões); Programa de Comunicação Gerencial; Programa Conversando com o Diretor; Programa Fale com a Diretoria; Programa Canal Aberto; Programa Políticas de Portas e Caras Abertas; Programa de Sugestões; Programa Fale com o Gerente Geral; Programa Listening to you; Programa Fale com o RH; Programa Fale com o Gerente; Programa Café com o Gerente Geral; Programa Você Sugira; Programa Almoço com o Gerente Geral; Programa Alimentando Idéias; Programa de Melhorias e Sugestões; Programa Boa Idéia; Programa de Satisfação do Parceiro Rei; Programa Inovando para o Futuro; Programa de Idéias Programa Fale com o Presidente; Programa Conversando com o Time; Quadro 12 – Resumo dos programas de sugestões e comunicação interna Fonte: Dados da pesquisa (2009) Entretanto, em algumas das empresas pesquisadas, em especial as microempresas, a participação dos funcionários parece ser mais efetiva no que concerne ao planejamento operacional e não estratégico. Em contrapartida, há empresas de pequeno porte em que essa participação ocorre no planejamento estratégico, sendo este alinhado aos indicadores de desempenho e tendo como ferramenta o Balanced Scorecard, que vai além das tentativas de avaliação das práticas de gestão de pessoas fundamentadas apenas em resultados de processos de gestão de pessoas ou indicadores financeiros. O Balanced Scorecard é um método de avaliação e monitoramento que busca alinhar as todas as atividades da empresa, permitindo que sejam inseridas as dimensões da gestão de pessoas aos objetivos de longo prazo da empresa. Baseia-se na premissa de que o foco limitado e exclusivo no desempenho financeiro não é suficiente para avaliar os resultados da organização como um todo. De acordo com SESI (2005, p 27), “o planejamento estratégico da empresa é montado anualmente em conjunto com todos os coordenadores de células. Os objetivos e metas são acompanhados por meio de indicadores, e todos têm acesso”. 89 Sobre gestão participativa, Ulrich (1998, p. 184) entende que “aqueles que participam plenamente nesse processo – preparando a decisão, coletando informações, gerando alternativas, fazendo recomendações e implementando e agindo de acordo com a decisão – tornam-se mais envolvidos e comprometidos com o resultado”. De forma semelhante, Milkovich; Boudreau (2000, p. 32) explica que “o gerenciamento do ambiente de trabalho inclui hoje administração participativa”. Dessa maneira, “envolvê-los no âmbito total do processo de decisão pode reduzir sua sensação de estar sendo controlado e aumentar seu sentimento de comprometimento” (ULRICH, 1998, p. 184). De acordo com o autor, esse envolvimento pode ocorrer desde a partilha de informações até a participação efetiva no processo decisório (ULRICH, 1998). Sendo assim, nas empresas de pequeno, médio e grande porte, juntamente ao planejamento da gestão de pessoas, há a utilização de uma matriz de competências que auxilia o planejamento e demais atividades da gestão de pessoas. Quanto a esse aspecto, observou-se que a maior ocorrência deste fato se encontra nas grandes empresas, que, na maioria das vezes, detém de maiores conhecimentos e estrutura para desenvolver tais atividades. Na realidade, na maioria dessas organizações, o modelo de gestão por competência fundamenta à política de gestão de pessoas, tendo em vista que a partir da década de 1990, as políticas de gestão de pessoas passaram a estar alinhadas às estratégias organizacionais, incorporando o conceito de competência como fundamento do modelo de gerenciamento de pessoas (FLEURY; FLEURY, 2009). Dessa forma, foi diagnosticada a utilização de consultoria de gestão pessoas em uma empresa de médio e outra de grande porte, que tem por objetivo o descobrimento de competências necessárias ao desenvolvimento organizacional. Ainda em relação às empresas de médio e grande porte, foram encontrados programas de qualidade que disseminam valores, diretrizes e políticas organizacionais pautadas na qualidade total em busca da excelência organizacional. Todavia, as microempresas e as empresas de pequeno porte não explicitaram tais programas, o que revela certa carência para empresas que buscam ser competitivas e que tem como prioridade a qualidade nos procedimentos realizados cotidianamente. É mister ressaltar que esses programas de qualidade, quando executados, fundamentam todas as políticas organizacionais, dentre elas a política de gestão de pessoas. O planejamento da gestão de pessoas tem como instrumentos de ação e também de avaliação os programas de certificação e normatização tão difundidos nas indústrias. De acordo com o Quadro 11, observa-se de forma clara que empresas de todos os portes possuem certificações, no entanto, quanto maior o porte empresarial, maiores são as evidências da 90 diversidade de certificações que vão desde a preocupação com a qualidade dos procedimentos operacionais até com certificações relacionadas especificamente à responsabilidade social. Essas certificações também são utilizadas para disseminar as práticas desenvolvidas nas empresas ao público externo, atuando não raramente como uma “virtude” adquirida que, consequentemente, gera um reconhecimento dos stakeholders para com a empresa certificada. Essa percepção fica clara nos depoimentos dos responsáveis pelo PSQT das empresas pesquisadas, quando se refere aos impactos de tal premiação, que não deixa de ser uma espécie de certificação: “Reconhecimento por parte de nossos clientes. Satisfação do proprietário da empresa e de seus colaboradores. E a certeza de esta (sic) fazendo a nossa parte perante a sociedade” (MI1). “O reconhecimento pelas boas práticas de gestão de pessoas, demonstrando que o êxito alcançado se deve aos esforços de toda a empresa, sem exceção” (MI2). “De uma maneira geral, a gente tem uma divulgação na mídia muito grande. Eu gostaria de deixar bem claro que a gente não ganha nada, não é? Porque às vezes as pessoas acham que a gente ganha esse prêmio porque a gente paga, não é? Então não existe isso, a pesquisa é totalmente idônea e a gente então tem essa divulgação na mídia muito grande, sem custo, não é? Então isso promove a empresa, obviamente, não é? Sem falar no nosso produto também que fica mais conhecido, na própria satisfação dos próprios funcionários” (ME1). “Além da premiação, o reconhecimento público das nossas práticas diferenciadas de gestão, valorização dos nossos colaboradores e bons resultados de nossos programas em prol do desenvolvimento em áreas diversas, como educação, gestão de pessoas, qualidade de vida, segurança e equilíbrio socioambiental, isto é motivo de honra. A premiação do PSQT [...] é muito especial, pois trata-se de uma conquista coletiva, fruto do esforço de todos aqueles que dia-a-dia constroem a nossa bela história que são os nossos colaboradores, além de proporcionar a todos o orgulho de fazer parte desta Empresa” (GE1). As afirmações abaixo apresentam novas práticas de gestão de pessoas que, aos poucos, vão se tornando comuns nas organizações: A Nokia elabora e revisa seu planejamento estratégico anualmente, com o foco nos negócios de maneira mais ampla e com desdobramentos em cada unidade corporativa. As estratégias são comunicadas ao nível gerencial e a todo o quadro de funcionários em um evento anual chamado Nokia Strategy Sharing e também, mensalmente, no evento Manufacturing Communication (SESI, 2007, p. 67). Desde 2000, a empresa vem desenvolvendo o Programa de Excelência Tecumseh, a fim de valorizar os funcionários e mestres de produção, aproximando-os do poder decisório, para que todos tenham conhecimento dos objetivos e metas da empresa (SESI, 2005, p. 20). 91 A participação dos colaboradores nas decisões que afetam seu trabalho ocorre por meio da estruturação de equipes interfuncionais, cujo objetivo é desenvolver programas e projetos locais e corporativos, sempre alinhados às estratégias da empresa, onde atuam como facilitadores para o alcance das metas (SESI, 2007, p. 11). O planejamento estratégico da Ambev obedece às diretrizes da Inbev – corporação mundial. As metas são definidas em cada unidade local, com foco nos objetivos a médio e longo prazo. Estes são desdobrados por todos os níveis hierárquicos (SESI, 2007, p. 105). Compartilha, por isso, as principais decisões de investimentos com os colaboradores, cujas opiniões têm grande peso (SESI, 2006, p. 4). A empresa adota a gestão participativa como ferramenta de apoio ao planejamento estratégico. A formulação de estratégias é considerada uma das atividades mais importantes dentro da empresa, quando são estabelecidos os objetivos e metas, com a utilização do Balanced Scorecard (SESI, 2006, p. 16). São realizados encontros setoriais, para o nivelamento de informações; reuniões semestrais, com o objetivo de motivar as equipes e repassar novas metas; reunião anual de trabalho, para a definição do Planejamento Estratégico, com o estabelecimento de metas e indicadores de desempenho (SESI, 2008b, p. 135). Possui um Programa de Gestão de Clima Organizacional que vem atuando por meio de processos de pesquisas e ações contínuas na melhoria dos relacionamentos entre os diversos níveis (SESI, 2005, p. 35). Realiza Pesquisa Anual de Clima Organizacional que utiliza um indicador de satisfação com a liderança e um índice de satisfação do colaborador (SESI, 2005, p. 15). O monitoramento ocorre por meio de pesquisas de clima ou pela participação nos programas do SESI (SESI, 2008b, p. 157). Outro aspecto importante se refere às pesquisas de mercado de trabalho e em centro de excelência e ao benchmarking. Para Ulrich (2000, p. 105), “as empresas devem ser flexíveis para responder aos concorrentes e às mudanças de mercado com maior rapidez. Precisam sempre de benchmarking (processo contínuo de estudos comparativos) para melhorar sua prática”. Nesse sentido, essa prática foi diagnosticada apenas em uma empresa de médio porte, onde os coordenadores participam de feiras de tecnologias e visitam empresas com políticas de gestão inovadoras e eficazes, com o objetivo de trazer novas experiências e casos de benchmarking (SESI, 2007; SESI, 2008b). No Quadro 13, encontra-se um resumo das diversas práticas diagnosticadas nas empresas pesquisadas que influenciam direta ou indiretamente a função planejamento da gestão de pessoas: 92 Função Práticas diagnosticadas Planejamento operacional anual ocorre de forma participativa O planejamento estratégico é montado anualmente com todos os coordenadores de células; Divulgação de forma clara e transparente dos objetivos e metas da empresa, trabalhando de forma conjunta com os funcionários; Utilização da gestão participativa como ferramenta de apoio ao planejamento estratégico, utilizando o Balanced Scorecard; Utilização da Matriz de Competências, que está alinhada ao planejamento estratégico; Planejamento alinhado ao planejamento estratégico e aos indicadores de desempenho; Planejamento Programa de Qualidade Total que inclui os valores, diretrizes e políticas organizacionais; Comunicação interna voltada para a disseminação das estratégias organizacionais; Consultoria de RH; Programa de intercâmbio de funcionários objetivando o benchmarking; Programa de Excelência; Programa Nokia Strategy Sharing; Programa de Sugestões Programas de certificação e normatização: ISO 9001:2000; ISO 14001; OHSAS 18001; SA 8000; BS 8800; NBR 16001. Quadro 13 – Resumo das práticas diagnosticadas relacionadas à função planejamento da gestão de pessoas Fonte: Dados da pesquisa (2009) Analisando os dados coletados, percebe-se uma acentuada diferença, quando comparadas as empresas de grande porte às micro-empresas quanto ao planejamento como função da gestão de pessoas. Isso nos leva a entender que, quanto maior o porte da empresa, maiores são as possibilidades de se encontrar novas práticas de gestão de pessoas, todavia, em situações específicas ou casos particulares, essa percepção pode ser contrariada. 4.2 A FUNÇÃO SUPRIMENTO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS O recrutamento e a seleção de pessoas são os pilares principais da função de gestão de pessoas denominada suprimento. Diante da necessidade de qualificação dos empregados e as constantes exigências quanto à qualidade, capacitação profissional e individual, as organizações tem buscado aprimorar seus processos de recrutamento e seleção, no intuito de conseguir os melhores profissionais no mercado, bem como selecionar seus empregados internamente, desde que estes estejam alinhados às necessidades organizacionais. Por isso, o 93 recrutamento já deve ser bem delineado, para que os possíveis selecionados sejam os mais adequados às vagas existentes, ou seja, esses dois processos são realizados de forma conjunta, integrada e interdependente, conforme expõem Bohlander; Snell; Sherman (2005, p. 102): Em conjunto com o processo de recrutamento, que se destina a aumentar o número de candidatos cujas qualificações atendam a requisitos de cargo e às necessidades da organização, a seleção é o processo de redução desse número e a escolha entre indivíduos com qualificações relevantes. Para tanto, atualmente, as organizações tem utilizado, nos processos de recrutamento e seleção, o perfil de competência e, em muitos casos, o recrutamento interno, sendo este último uma ferramenta importante para a função de suprimento de recursos humanos. Para LimongiFrança; Arellano (2002, p. 71): Um bom processo de recrutamento e seleção tem como vantagens a adequação potencial e a maior facilidade de negociação de metas de desempenho. Devem ser observados, entretanto, cuidados com a supervalorização da cultura interna, e a preferência pelo recrutamento interno deve ser consolidada na política de RH das empresas. De acordo com o autor, o recrutamento interno deve ter preferência nas organizações em relação ao recrutamento externo. Nesse entendimento, essa prática é observada em muitas empresas pesquisadas, conforme o Quadro 14: Práticas desenvolvidas Micro Pequena Média Grande RecrutamenRecrutamento Recrutamento Recrutamento 8 9 8 9 to Interno Interno Interno Interno Suprimento Banco de Programa de Banco de Banco de 1 2 1 5 Potencial Estágio Talentos Talentos Quadro 14 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função suprimento da gestão de pessoas Fonte: Dados da pesquisa (2009) Obs.: As quantidades expostas foram calculadas a partir das práticas explicitadas nos livros pesquisados Função Segundo SESI (2005, p. 35), “o programa de recrutamento interno é atuante, e dá a oportunidade aos colaboradores de agirem em novas áreas de trabalho e, consequentemente, de melhorarem seu grau de conhecimento e experiência”. De forma semelhante, “o recrutamento interno estimula o desenvolvimento profissional e oferece perspectivas de crescimento na carreira aos funcionários da empresa” (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002, p. 64). Em contrapartida, “há empresas que alegam que isso gera competição interna, descontentamento e frustração para aqueles que foram preteridos no processo” (LIMONGI- 94 FRANÇA; ARELLANO, 2002, p. 64). Nesse sentido, para que haja um efetivo programa de recrutamento interno, a organização precisa de uma comunicação adequada e de certo mapeamento das capacidades dos empregados. Assim como ocorre no recrutamento externo, os candidatos internos que estão dispostos à mobilidade interna necessitam ser identificados e atraídos. Para o alcance desse objetivo, o processo de atração e identificação deve ser contínuo e realizado através de uma comunicação adequada que ocorra durante todo o período do emprego (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000). Nessa perspectiva, afirma Bohlander; Snell; Sherman (2005, p. 77): O uso efetivo de fontes internas requer um sistema para localizar candidatos qualificados a um cargo e incentivar aqueles que se consideram qualificados a se candidatar à vaga. Candidatos qualificados a um cargo dentro da empresa podem ser localizados por sistemas de registros informatizados, fazendo-se a divulgação da vaga e solicitando propostas, assim como procurando-se entre aqueles que foram demitidos. Além do mais, “o recrutamento e a seleção de profissionais são baseados nas habilidades, atitudes e talento do candidato” (SESI, 2007, p. 25). Para as empresas pesquisadas, “a promoção decorre da abertura de oportunidades, quando os candidatos são analisados quanto a seu perfil e sua competência para exercer a nova função” (SESI, 2007, p. 128). Dessa forma, nas empresas pesquisadas, independentemente do porte empresarial, observa-se que são desenvolvidos programas de recrutamento interno e seleção, baseados no perfil de competência, conforme as afirmações abaixo: Anualmente, é realizada uma avaliação dos colaboradores para identificar potenciais candidatos às promoções internas na ocorrência de novas oportunidades, desde que atendam à matriz de competências definidas para cada cargo (SESI, 2008b, p. 46). De acordo com os critérios para promoção praticados pela empresa, ao surgir uma nova oportunidade, é feita uma avaliação do perfil dos potenciais candidatos internos, levando em consideração seu relacionamento interpessoal, disciplina e identificação com a área em que a vaga foi aberta (SESI, 2008b, p. 59). O colaborador é promovido verticalmente uma vez que atinja o nível préestabelecido de competências desde que haja uma oportunidade aberta (SESI, 2008b, p. 64). Prioriza a seleção interna para o preenchimento das vagas existentes. Na Manipullare, os colaboradores dispõem dos recursos e treinamentos necessários para a sua qualificação e desenvolvimento, no sentido de atenderem aos critérios estabelecidos para promoção, que envolvem não só o preparo técnico, mas também a capacidade de liderança, atitudes, resultados e competências/habilidades (SESI, 2008b, p. 136). 95 Ainda com base no Quadro 14, em uma empresa de médio e em algumas de grande porte, há uma preocupação com os bancos de talentos ou de oportunidades, que consiste na disposição de uma relação de profissionais qualificados que podem ser aproveitados posteriormente. De acordo com Milkovich; Boudreau (2000, p. 316), “os inventários de habilidades são bancos de dados que contem os nomes dos empregados e suas características relevantes para as possíveis oportunidades de mobilidade interna”. Nas microempresas e empresas de pequeno porte, o que se encontrou foi apenas um Banco de Potencial e um programa de estágio e, mesmo assim, em convênio com alguma instituição externa. Segundo Mayo (2003), há alguns meios fundamentais para reter os melhores ativos humanos das empresas, tais como: compreensão do que impulsiona e motiva cada indivíduo; apresentação de uma abordagem flexível às condições de emprego; provisão de um ambiente que minimize os fatores de insatisfação e maximize os satisfatores; criação de um futuro atraente, pois “nesse ambiente empresarial sempre mutável, global e tecnologicamente exigente, a obtenção e retenção de talentos são as ‘armas’ no campo de batalha competitivo” (ULRICH, 1998, p. 29). Em suma, as práticas tidas como socialmente responsáveis e que se adéquam à função suprimento da gestão de pessoas parecem ser semelhantes na maioria das empresas, independente do porte empresarial, quando relacionadas ao recrutamento interno, mas diferentes quanto aos bancos de talentos. A utilização do recrutamento interno evidencia que, na maioria das vezes, os profissionais mais adequados para ocupar determinada vaga encontram-se dentro da organização, os quais estão inseridos na cultura organizacional, dispondo de melhores condições para atuarem de forma estratégica e produtiva. Além do mais, os processos de recrutamento interno parecem ter custos menores do que os processos de recrutamento externo. 4.3 A FUNÇÃO APLICAÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS Na função aplicação da gestão de pessoas, os planos de desenvolvimento de carreiras e a avaliação de desempenho são os instrumentos básicos utilizados pelas organizações. De acordo com Brito (2005, p. 118): O objetivo da função de aplicação de recursos humanos é construir as referências que permitem ao trabalhador o gerenciamento de sua carreira profissional mediante a integração na cultura organizacional, o posicionamento dentro de um espaço 96 organizacional, a oferta de possibilidades de ascensão profissional e a avaliação de desempenho. Desse modo, após recrutar e selecionar o empregado, a organização busca adequá-lo a uma função e ao mesmo tempo fornece instrumentos necessários ao seu trabalho. No entanto, as atividades desempenhadas são avaliadas de acordo com as metas e objetivos empresariais. Isso quer dizer que o desempenho do empregado é avaliado continuamente para que o mesmo esteja pautado às exigências organizacionais, isto é, em outras palavras, a avaliação de desempenho tem caráter estratégico, que busca se adequar aos objetivos organizacionais, além de proporcionar diagnósticos da realidade da organização, conforme expõem Hipólito; Reis (2002, p. 85): “a importância das avaliações está, portanto, no subsídio à decisão gerencial com base em critérios definidos como legítimos pela organização e pelos profissionais”. De modo similar, Ulrich (1998, p. 92) entende que “para traduzir a estratégia em ação é necessário disciplina. O conceito para a passagem da estratégia à ação é o diagnóstico organizacional, ou seja, a sistemática avaliação e calibragem das práticas organizacionais em função das metas empresariais”. Sendo a avaliação de desempenho uma ferramenta indispensável para uma adequada gestão de pessoas, observou-se que há evidências concretas de programas de avaliação de desempenho nas empresas pesquisadas, conforme Quadro 15, não importando o porte empresarial, confirmando ampla disseminação de tal prática: Práticas desenvolvidas Micro Pequena Média Grande Plano de Plano de Plano de Plano de Cargos, Cargos, Cargos, Cargos, 4 5 5 6 Carreira e Carreira e Carreira e Carreira e Salários Salários Salários Salários Aplicação Avaliação de Avaliação de Avaliação de Avaliação de 6 9 7 11 desempenho desempenho desempenho desempenho Promove Promove Promove rodízio interno 1 rodízio interno 3 rodízio interno 3 de funções de funções de funções Quadro 15 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função aplicação da gestão de pessoas Fonte: Dados da pesquisa (2009) Obs.: As quantidades expostas foram calculadas a partir das práticas explicitadas nos livros pesquisados Função 97 No entanto, segundo Hipólito; Reis (2002, p. 73-74), a avaliação de desempenho: [...] deve interconectar-se com outras funções de gestão de recursos humanos intercambiando inputs com práticas de seleção, desenvolvimento profissional, gestão de carreira, remuneração e assim por diante a fim de alavancar os profissionais de uma empresa a níveis superiores de desempenho. Um fato observado que merece destaque é que, em algumas empresas pesquisadas, os programas de avaliação de desempenho estão atrelados a matrizes de competências e perfis profissionais, bem como aos indicadores estratégicos, sendo realizado previamente um mapeamento de tais conhecimentos, habilidades e atitudes exigidas para cada atividade ou função, conforme expõe SESI (2008b, p. 30), ao afirmar que “possui uma planilha de cargos e funções, em que constam as competências segmentadas por conhecimento, habilidade e atitude. Essas competências orientam a avaliação de desempenho dos colaboradores, realizada anualmente” e informa ainda que “o desempenho dos funcionários é acompanhado a partir de uma Matriz de Competências” SESI (2005, p. 21). Esse tipo de avaliação constitui-se “referencial-chave para diagnosticar necessidades de desenvolvimento e para subsidiar reflexões sobre a alocação do profissional, de modo a permitir que a organização se aproprie da maneira mais ampla possível de suas qualidades” (DUTRA; FLEURY; RUAS, 2008, p. 157). De forma concreta, as afirmações abaixo evidenciam as ações relacionadas à avaliação de desempenho, que está intimamente vinculada ao perfil de competência profissional: A análise de desempenho leva em conta a competência, habilidade e experiência do colaborador (SESI, 2007, p. 56). A Avaliação de Desempenho é realizada semestralmente – Outra forma de avaliação leva em conta os dados de desempenho de produção, ou seja, com base em indicadores das máquinas gerenciados por um software específico (SESI, 2008b, p. 38). Com a Avaliação de Desempenho do colaborador, o diretor, as chefias e os colegas que se relacionam diretamente com ele analisam seu grau de comprometimento individual e em equipe, seu nível de conhecimento teórico e prático, habilidades técnicas e atitudes comportamentais (SESI, 2008b, p. 85). Em algumas empresas de médio e grande porte encontram-se as avaliações de desempenho 360º e, em outras, a avaliação de desempenho é realizada através de softwares que auxiliam o acompanhamento das metas e permitem um diagnóstico preciso do desempenho real dos funcionários e da organização. Como exemplo, tem-se uma empresa de grande porte que revela a forma como é avaliado o desempenho do empregado: 98 O colaborador da área administrativa dispõe do Personal Business Plan (PBP) e o colaborador da área operacional dispõe do Individual Career Plan (ICP). O PBP é um diálogo estabelecido entre o superior imediato com cada um dos membros de sua equipe, com o objetivo de melhorar o desempenho mediante o alinhamento dos objetivos individuais com os objetivos do negócio. O ICP possui o mesmo mecanismo, porém avalia o colaborador segundo os objetivos da equipe, não os individuais. A partir dos resultados, a liderança conversa com cada um e elabora um plano de desenvolvimento (SESI, 2007, p. 139). Essas práticas diagnosticadas corroboram a afirmação de Hipólito; Reis (2002), quando expõem as principais tendências do processo de avaliação de pessoas que podem ser resumidas nos seguintes pontos: utilização de diversas ferramentas de avaliação, cada qual muito bem definida quanto ao foco e aos resultados pretendidos; utilização de avaliações com múltiplas fontes (avaliação 360º) com feedbacks de chefias, pares, subordinados e clientes internos e externos; fortalecimento do papel dos gerentes como coaches no apoio ao desenvolvimento e à melhoria de desempenho; o estabelecimento de um compromisso alinhado à estratégia empresarial. Em relação aos planos de desenvolvimento de carreiras, o resultado aponta para a existência dos Planos de Cargos, Carreira e Salários baseados em competências, tempo de serviço, desempenho e outros aspectos comportamentais, conforme o Quadro 16: Função Práticas diagnosticadas Plano de Cargos, Carreira e Salários baseado em competências, tempo de serviço, desempenho e outros aspectos comportamentais; Programas de gerenciamento de carreiras; Aplicação Programa de avaliação de desempenho baseado em competências; Avaliação de desempenho, dentre elas a avaliação 360º; Sistema de rodízio nos postos de trabalho ou Job Rotation. Quadro 16 – Resumo das práticas diagnosticadas relacionadas à função aplicação da gestão de pessoas Fonte: Dados da pesquisa (2009) Para Milkovich; Boudreau (2000, p. 301): “as carreiras desenvolvem-se por meio da interação entre as escolhas do empregado ao buscar suas aspirações e as escolhas da empresa ao proporcionar as oportunidades que promovam as metas organizacionais”. Todavia, foram nas empresas de grande porte que se verificaram programas específicos de gerenciamento de carreiras, tais como: Programa Investimento em Pessoas, Plano de Desenvolvimento e Carreira Profissional e Trilha de Encarreiramento, que promovem melhorias no desempenho e comprometimento dos empregados, gerando maior credibilidade em relação à organização, 99 pois “estabelecer um centro de gerenciamento de carreiras ajuda um programa a ganhar credibilidade” (ULRICH, 2000, p. 304). Ainda na função aplicação da gestão de pessoas e integrada ao plano de carreira, há a mobilidade interna ou sistemas de rodízio nos postos de trabalho. “A mobilidade interna dos empregados diz respeito à maneira como eles são promovidos, rebaixados e transferidos dentro da organização” (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000, p. 297). Esses autores entendem que essa mobilidade deve estar também integrada com os processos de recrutamento, seleção e demissão ou retenção (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000). Na pesquisa realizada, verificou-se a existência dos sistemas de rodízio nos postos de trabalho ou Job Rotation, em algumas empresas, com exceção das empresas de médio porte. De acordo com o SESI (2007, p. 70), o “Programa de Job Rotation busca o aprimoramento das competências, possibilitando o exercício de diferentes funções e proporcionando novos desafios e aprendizado contínuo”. Para SESI (2006, p. 4), é interessante promover rodízio interno de funções, “dando assim condições para uma efetiva troca de experiências” ou “procurando desenvolver um colaborador multifuncional [...] que agrega competências e habilidades por meio do intercâmbio entre técnicos da manutenção e operadores” (SESI, 2006, p. 19). Dessa maneira, observando as práticas socialmente responsáveis, relacionadas à função aplicação da gestão de pessoas, verifica-se que a avaliação de desempenho é uma ferramenta bem disseminada nas empresas pesquisadas, independente do porte empresarial e, geralmente, é baseada em competências, assim como os planos de cargos, carreira e salários diagnosticados nos dados coletados. Todavia apenas nas grandes empresas há evidências de programas específicos de gerenciamento de carreira. Em contrapartida, poucas empresas utilizam o rodízio de funções ou Job Rotation como práticas que buscam desenvolver seus funcionários em relação a outras atividades da empresa. 4.4 A FUNÇÃO DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS O treinamento ou a capacitação e o desenvolvimento organizacional são os principais objetivos da função desenvolvimento da gestão de pessoas. Essa função talvez seja a mais importante nos novos modelos de gestão de pessoas (BRITO, 2005). De acordo com Marras (2000, p. 299): 100 O desenvolvimento organizacional desempenha importante missão na área da AERH: diz respeito às responsabilidades de planejar e acompanhar o crescimento organizacional, no seu todo, ao longo do tempo, garantindo que os objetivos estrategicamente traçados mantenham-se no rumo. Dessa forma, há uma tendência no ambiente empresarial para uma renovação substancial dos tradicionais centros de treinamento e desenvolvimento, para que estes possam contribuir efetivamente com os objetivos e metas empresariais, sempre agregando valor à organização (EBOLI, 2002). Nesse sentido, essa mudança torna-se perceptível em muitas empresas pesquisadas, em especial as de grande porte, que detem de estruturas mais adequadas para o desenvolvimento organizacional. Nas microempresas pesquisadas, não há evidência de centros de treinamento que permitam um desenvolvimento contínuo e integrado, no entanto, assim como nas demais empresas de outros portes, são promovidos cursos técnicos internamente. Por outro lado, é mais comum a utilização de cursos externos, bem como o fornecimento de bolsas de estudos. Em se tratando das bolsas de estudo, estas dão subsídio principalmente para cursos técnicos que estejam relacionados à atividade realizada pelo funcionário na empresa. Todavia, há também possibilidades de fornecimento desse beneficio para cursos de idiomas, graduação e até pós-graduação, geralmente acompanhados da flexibilização dos horários de trabalho, para que os funcionários que estudam possam participar das aulas normalmente. Nesses casos, a variação quanto ao fornecimento dessas bolsas e participação em cursos externos ocorre de acordo com o programa de educação desenvolvido por cada organização. O fato é que a promoção de cursos e o fornecimento de bolsas de estudo são práticas presentes na maioria das empresas pesquisadas, como está exposto no Quadro 17: 1 1 Grupos de melhoria 7 1 10 8 17 Utiliza a Intranet para disseminar informações Micro Fornece bolsas de estudo ou subsidia cursos externos Programa de Educação Promove cursos internos Disponibiliza salas de estudo Flexibiliza horários para funcionários estudantes Grupos de melhoria 1 Grupos de melhoria Práticas desenvolvidas Pequena Média Fornece bolsas de Fornece bolsas de estudo ou subsidia 15 estudo ou subsidia cursos externos cursos externos Programa de Educação 16 Programa de Educação Promove cursos internos 12 Promove cursos internos Disponibiliza salas de Disponibiliza salas de 4 estudo estudo Flexibiliza horários para Flexibiliza horários para 3 funcionários estudantes funcionários estudantes Programa de Coach e 5 Trainee Programa de Programa de desenvolvimento de 2 desenvolvimento de lideranças lideranças Centro de treinamento 1 Centro de treinamento Universidade Corporativa Utiliza a Intranet para Utiliza a Intranet para 3 disseminar informações disseminar informações Quadro 17 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função desenvolvimento da gestão de pessoas Fonte: Dados da pesquisa (2009) Obs.: As quantidades expostas foram calculadas a partir das práticas explicitadas nos livros pesquisados Desenvolvimento Função 1 3 1 3 4 1 3 12 7 12 Utiliza a Intranet para disseminar informações Campus Virtual Grupos de melhoria Equipes autogerenciáveis e interfuncionais Grande Fornece bolsas de estudo ou subsidia cursos externos Programa de Educação Promove cursos internos Disponibiliza salas de estudo Flexibiliza horários para funcionários estudantes Programa de Coach e Trainee Programa de desenvolvimento de lideranças Centro de treinamento Universidade Corporativa 2 2 1 10 5 3 6 6 2 4 19 14 17 101 102 Na maioria das empresas pesquisadas, foram diagnosticados diversos meios de disseminação, desenvolvimento e criação de conhecimento, através de programas de educação corporativa que, na maioria das vezes, ocorre de forma continuada, baseando-se no perfil de competência. Dentre eles, destacam-se a utilização da intranet como veículo de comunicação; espaços específicos para treinamentos, como os centros de treinamento e, em especial, as universidades corporativas; os programas de coach e de trainee, que foram encontrados nas empresas de pequeno e grande porte; os programas de desenvolvimento de lideranças; e os grupos de melhoria que agem como equipes que buscam verificar continuamente as possíveis falhas e soluções para os procedimentos operacionais nas empresas. Indiscutivelmente, as empresas de grande porte demonstram ter uma melhor estrutura para que equipes de formação e capacitação proporcionem aos funcionários um contínuo desenvolvimento individual, o que, por sua vez, acarreta no desenvolvimento organizacional. Entretanto percebe-se que, independente do porte empresarial, as empresas pesquisadas se preocupam de forma acentuada com questões relacionadas à educação corporativa e o desenvolvimento dos seus funcionários, pois a partir destes é que o desenvolvimento organizacional ocorre. Em relação aos planos de desenvolvimento de pessoas, os planos bem fundamentados se encontram nas empresas de pequeno, médio e grande porte e tem o intuito de formar novas competências, desde que estas sejam úteis e adequadas às competências essenciais da organização, ou seja, estejam alinhadas às estratégias organizacionais. Segundo Dutra; Fleury; Ruas (2008), um plano de desenvolvimento pessoal e corporativo só pode sem bem-sucedido se houver um alinhamento entre o desenvolvimento dos talentos humanos ou competências humanas e as competências empresariais. Dessa maneira, o treinamento e desenvolvimento tornam-se imprescindíveis para as organizações que buscam vantagens competitivas, pois “é por intermédio do processo de aprendizagem que a organização pode desenvolver as competências essenciais ao seu posicionamento estratégico” (FLEURY; JUNIOR, 2002, p. 138). Esses planos de desenvolvimento organizacional objetivam capacitar indivíduos que sejam aptos a realizar tarefas cada vez mais complexas e fundamentais para a organização. De fato, até mesmo os treinamentos tradicionais são envolvidos e relacionados às diversas atividades e funções da gestão de pessoas. Para isso, há uma integração de conhecimentos e compartilhamento de informações entre os indivíduos envolvidos, pois “as melhores empresas integram o treinamento dentro de um conjunto sistemático de atividades de RH, incluindo o provimento interno e externo, sistema de recompensas e planejamento das funções” 103 (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000, p. 339). Ainda referindo-se à integração no processo de treinamento e capacitação, Le Gall (2008, p. 118) entende que: Independentemente da modalidade e dos objetivos da formação, é importante considerar que ela não pode ser isolada de outros aspectos da situação de trabalho – que vão, por sua vez, facilitar ou dificultar a aplicação das novas competências. A formação é apenas um dos elementos do processo de mudança. Eboli (2002) expõe uma das realidades empresariais que se refere à função de desenvolvimento de recursos humanos, que é a necessidade do autodesenvolvimento e da aprendizagem contínua. Por isso, essa nova exigência estimula as empresas a implantarem sistemas educacionais que tenham o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes como privilégio, e não um conhecimento limitado aos aspectos instrumentais e técnicos. Além do autodesenvolvimento e dos programas de desenvolvimento de pessoal, há empresas que fundamentam seus programas de educação de forma contínua e estratégica. De acordo com Le Gall (2008, p. 117), “algumas empresas mantêm uma formação ‘quase permanente’, o que faz com que sua estratégia e seus projetos se caracterizem por uma vocação fortemente mobilizadora”. Dessa maneira, o Quadro 18 apresenta, de forma resumida, os programas voltados para a educação corporativa encontrados nesta pesquisa: 104 Função Práticas relacionadas aos Programas de Educação Corporativa Pagamento de cursos Programa Colaborador relacionados à prática Programa de Coach e Trainee profissional Projeto Anjo da Guarda Programa bolsas de estudos Programa Indústria em Ação Programa Anual de capacitação Apadrinhamento para recepção e profissional integração dos novatos Plano Anual e Semestral de Programa de gestão por competência treinamentos Plano de Melhoria de Competências Programa de formação Programa de desenvolvimento de lideranças Plano de Desenvolvimento de Programa de Educação Continuada Educação Programa de Educação Programa de Desenvolvimento Nossa Desenvolvimento Corporativa Gente Programa de Desenvolvimento Formação de facilitadores e de Contínuo liderança / Programa de Sucessores Plano de Desenvolvimento Programa Líder Sombra Individual Programa Volta a Escola Plano de Desenvolvimento de Centro de Treinamento / Learning Recursos Humanos Center / Salas de estudo Plano de desenvolvimento de Universidade Corporativa pessoas E-learning (Campus Virtual) Programa de Inclusão Digital Utilização da intranet / Portal eletrônico, revistas, jornal e programas Projeto Criando Fortes Talentos televisivos próprios Projeto Saber Quadro 18 – Resumo das práticas relacionadas aos programas de educação corporativa Fonte: Dados da pesquisa (2009) Ainda na função desenvolvimento da gestão de pessoas, foram identificados, nas empresas de pequeno e grande porte, programas de coach e trainee, sendo o primeiro muitas vezes denominado Projeto “Anjo da Guarda”, “que equivale à das chefias imediatas, para fortalecer o relacionamento entre todos e estruturar um ambiente de trabalho baseado em equipes de produção, que constitui uma característica inovadora de gestão” (SESI, 2006, p. 4). De acordo com uma empresa que possui o Projeto “Anjos da Guarda”, este “funciona com a nomeação de colaboradores encarregados de mediar eventuais conflitos internos. Segundo Gil (2009, p. 283), “coach é, portanto, um profissional que se compromete, no âmbito de uma organização, a apoiar as pessoas que visam alcançar determinado resultado”. Para Mascarenhas (2008, p. 210), “essas práticas (bem como a avaliação de competências), se bem consolidadas, podem contribuir para a construção de uma cultura organizacional centrada na promoção da aprendizagem, em detrimento da cultura controladora”. Outro programa identificado nas empresas de pequeno, médio e grande porte se refere aos programas de desenvolvimento de lideranças. De acordo com o SESI (2008b, p. 149): 105 O Programa de Eficiência Pessoal (PEP), desenvolvido principalmente entre as lideranças, oferece um treinamento individualizado para que o colaborador possa ser acompanhado por um consultor encarregado de observar sua rotina e orientá-lo para aproveitar melhor seu tempo, organizando o dia-a-dia e aprimorando sua performance. Vale destacar, na função de desenvolvimento da gestão de pessoas, os instrumentos e ferramentas cada vez mais inovadores, além das tendências, quando relacionadas aos processos de aprendizagem, como é o caso das universidades corporativas. De acordo com Dutra (2001, p. 111): Essas tendências apontam para um novo aspecto na criação de uma vantagem competitiva sustentável: o comprometimento da empresa com a educação e com o desenvolvimento dos indivíduos. Surge assim a idéia da Universidade Corporativa (UC), como um veículo eficaz para o alinhamento e o desenvolvimento dos talentos humanos em relação às estratégias empresariais. Observando o Quadro 17, percebe-se a existência de universidades corporativas em empresas de médio e grande porte. Atualmente, o contexto organizacional tem suscitado investimentos dessa natureza, além de tornar possíveis decisões inovadoras, quando relacionados à aprendizagem organizacional, pois o ambiente dinâmico em que as organizações estão inseridas exige a implantação de ações voltadas a capacitações contínuas dos seus empregados, no intuito de torná-las mais competentes em suas atividades. É comum e cada vez mais frequente, as empresas desenvolverem programas de formação, treinamento e desenvolvimento de pessoas, não se restringindo a centros de treinamento, mas na construção de centros educacionais e universidades corporativas (GIL, 2009). Segundo Milkovich; Boudreau (2000, p. 363), “estas seriam grandes centros de treinamento, localizadas em sítios paradisíacos, frequentemente com instalações residenciais e equipamentos de última geração”. Dessa maneira, no âmbito da organização, o processo de aprendizagem vem se tornando cada vez mais importante, a ponto de serem investidos quantitativos consideráveis, para que ocorra a disseminação, o desenvolvimento e a criação do conhecimento de forma adequada através das universidades corporativas. Afinal, é “por meio da Universidade Corporativa, que se realiza MBA em Gestão Empresarial e a intranet oferece, no endereço da Educação Continuada, palestras e artigos, principalmente sobre assuntos relacionados à liderança e vendas” (SESI, 2006). Entretanto, no bojo dessa afirmação, entende-se que as universidades corporativas agem como “um guarda-chuva estratégico para desenvolver e educar funcionários, clientes, fornecedores e comunidade, a fim de cumprir as estratégias empresariais da organização” (MEISTER, 1999, p. 29). 106 Além do mais, “essas escolas podem ser um veículo de certificação profissional e de publicidade mercadológica” (MAYO, 2003, p. 164), como também uma proposta inovadora de aprendizagem tanto para os indivíduos como para os grupos organizacionais, apontando sempre para a criação de um maior comprometimento da empresa com a educação e o desenvolvimento organizacional. Deve-se levar em consideração que as universidades corporativas agem como um eficiente instrumento de alinhamento entre as competências individuais e as estratégias organizacionais (MASCARENHAS, 2008; EBOLI, 2002), pois “a aprendizagem e a inovação são os grandes fundamentos de crescimento do capital intelectual no futuro” (MAYO, 2003, p. 164). Empresas pesquisadas apontam a importância do processo de desenvolvimento organizacional quando afirmam: O Programa de educação e desenvolvimento da Conex encontra-se bem-estruturado e abrange não só a qualificação técnica, mas também a capacitação pessoal [...] A atenção sobre o colaborador é individualizada e contínua, ocorrendo desde o processo de admissão (SESI, 2007, p. 56). A empresa possui o Learning Center – um departamento destinado exclusivamente para o aperfeiçoamento e aumento de habilidades e competências (SESI, 2007, p. 69-70). Educação, capacitação e desenvolvimento pessoal fazem parte dos objetivos estratégicos, onde a principal preocupação é compatibilizar necessidades pessoais com as da empresa, tendo como foco a cultura da excelência. Existe a preocupação com a educação continuada, incorporada ao Plano de Treinamento Anual, que busca o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes importantes para os negócios, como também para a melhoria constante do desempenho organizacional. Dispõe de diversos incentivos financeiros para a aquisição de novos conhecimentos (SESI, 2006, p. 18). O tema Educação e Desenvolvimento consta no objetivo estratégico do Balanced Scorecard da empresa, que elabora o Plano Anual de Treinamento, em que estão previstas as ações para qualificação, atualização e desenvolvimento das competências técnicas e comportamentais dos colaboradores (SESI, 2007, p. 87-88). A identificação de necessidades de formação, atualização de conhecimentos, aquisição de habilidades e desenvolvimento profissional dos colaboradores é feita com base na Matriz de Habilidades (SESI, 2005, p. 15). O programa de educação tem o objetivo de proporcionar o desenvolvimento pessoal e profissional dos colaboradores pela aquisição de novas competências, habilidades, atitudes e conceitos (SESI, 2006, p. 3). O Plano Anual de Treinamento prevê também capacitações internas e externas de acordo com as necessidades dos colaboradores e da empresa. Estas necessidades são determinadas em função dos cargos exercidos e das competências que precisam ser adquiridas (SESI, 2006, p. 12). Daí afirma-se que “cada vez mais, os gastos com programas de treinamento têm sido encarados como investimentos estratégicos, similares àqueles realizados com novas 107 instalações e equipamentos. O treinamento continuado é vital para a obtenção de competitividade” (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000, p. 32). Todavia o caso específico de uma microempresa chamou a atenção quando relatou que “ainda não realiza ações em educação e desenvolvimento por estar priorizando os investimentos na empresa” (SESI, 2006, p. 7). Em relação aos meios que possibilitam aprendizagem nas organizações, apenas em duas empresas de grande porte constatou-se a utilização de um Campus Virtual que permite a disseminação do conhecimento de forma mais rápida, tendo em vista que “a transferência de conhecimento confere os mesmos benefícios propiciados pela organização de aprendizado: responder mais rápido às condições do mercado, de aprender mais depressa com os fracassos e sucessos e de formar capital intelectual e humano” (ULRICH, 1998, p. 293). Para tanto, algumas ferramentas são utilizadas, tais como a intranet, os jornais e os portais eletrônicos, conforme algumas afirmações abaixo: Viking Online; intranet (94 pontos de acesso distribuídos pela planta da empresa). Para viabilizar a participação dos colaboradores nos processos decisórios, há duas ferramentas que se destacam: as Equipes Autogerenciáveis (EAG) e a Pesquisa Volvo Group Attitude Survey (SESI, 2008b). Dispõe do Jornal Eletrônico Semanal – informativo disponibilizado na Clicnet (SESI, 2008b, p. 72). Na intranet da empresa, existe um link para cada área, onde todos têm acesso (SESI, 2005, p. 11). Para implementar um processo de aprendizagem em equipe é necessário o desenvolvimento de times de aprendizagem ou equipes específicas que se reúnam para atuarem como parceiros da organização. No entanto, apenas em duas empresas de grande porte essa realidade foi encontrada, ou seja, uma equipe denominada interfuncional e outra autogerenciável, atuando como facilitadoras e parceiras do processo de disseminação do conhecimento, as quais trazem indivíduos que conduzem para a discussão das estratégias suas próprias habilidades e talentos e de forma conjunta, agrupam-se em equipes para definir metas empresariais (ULRICH, 1998). As práticas socialmente responsáveis alinhadas à função desenvolvimento da gestão de pessoas é sem dúvida nenhuma, as mais evidenciadas pelas empresas pesquisadas. No entanto, é perceptível uma considerável diferença das ações e práticas desenvolvidas pelas empresas de acordo com o porte empresarial. De fato, nas micro-empresas, os programas de educação corporativa e ações relacionadas não diferem muito do modelo tradicional de 108 treinamento e desenvolvimento organizacional. Em contrapartida, nas empresas de grande porte, as novas práticas de gestão de pessoas (programas de educação corporativa mais concisos e integrados, universidades corporativas, programas de coaching e trainee, programas de desenvolvimento de lideranças e times de aprendizagem, dentre outros), relacionadas ao desenvolvimento, estão mais presentes e atuantes nas diversas áreas organizacionais, agindo de forma integrada e alinhadas às estratégias empresariais. Esse diagnóstico revela que a implantação e manutenção de uma estrutura adequada voltada para a educação corporativa demandam custos consideráveis e resultados em longo prazo, isto é, são as empresas de grande porte, na maioria das vezes, que investem valores relevantes em programas específicos voltados para o desenvolvimento organizacional que fazem parte do escopo estratégico empresarial. Nesse caso, algumas empresas pesquisadas de médio e grande porte tem buscado implementar práticas que permitam o alcance de melhores resultados quanto ao desenvolvimento dos funcionários. 4.5 A FUNÇÃO MANUTENÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS No tocante à função manutenção da gestão de pessoas, mudanças consideráveis tem ocorrido a ponto de, atualmente, existirem diversas formas de remuneração que variam de acordo com a cultura e estratégia empresarial. Bohlander; Snell; Sherman (2005, p. 253) destacam essas mudanças como necessárias para o atual contexto organizacional: [...] Um resultado do dinâmico ambiente de negócios atual é que se antes os gerentes pagavam por uma função ou cargo específico, hoje eles tiveram de mudar sua filosofia de remuneração para recompensar os funcionários com base em suas contribuições individuais para o sucesso das empresas. Um programa de remuneração, portanto, deve ser adaptado às necessidades das empresas e de seus funcionários. Vale destacar que, “para aumentar a produtividade e reduzir os custos de mão-de-obra no ambiente econômico competitivo de hoje, as empresas estão estabelecendo cada vez mais objetivos de remuneração com base em um padrão de remuneração por desempenho” (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 254). Além do mais, “associar as recompensas ao desempenho organizacional também assegura uma postura justa e tende a focalizar os funcionários na organização” (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 473). 109 Seguindo essa orientação, as empresas pesquisadas demonstram estar inovando cada vez mais seus processos de recompensas e benefícios, variando os tipos de benefícios e recompensas oferecidos de acordo com o porte e estrutura da empresa, conforme o Quadro 19: Práticas desenvolvidas Micro Pequena Média Participação nos lucros Participação nos lucros ou Participação nos lucros ou 3 7 ou resultados resultados resultados Bonificação por Bonificação por Bonificação por 7 7 produtividade produtividade produtividade PCMSO 19 PCMSO 20 PCMSO PPRA 18 PPRA 18 PPRA CIPA 3 CIPA 12 CIPA SIPAT SIPAT 6 SIPAT Manutenção Incentiva atividades Incentiva atividades Incentiva atividades 14 18 físicas e esportivas físicas e esportivas físicas e esportivas Disponibiliza espaço Disponibiliza espaço Disponibiliza espaço físico para descanso e 14 físico para descanso e 11 físico para descanso e lazer lazer lazer Promove eventos Promove eventos Promove eventos comemorativos e sócio- 19 comemorativos e sócio- 16 comemorativos e sócioculturais culturais culturais Programa de benefícios 19 Programa de benefícios 15 Programa de benefícios Quadro 19 – Práticas desenvolvidas relacionadas à função manutenção da gestão de pessoas Fonte: Dados da pesquisa (2009) Obs.: As quantidades expostas foram calculadas a partir das práticas explicitadas nos livros pesquisados Função 14 14 14 14 12 12 7 7 6 5 Grande Participação nos lucros ou resultados Bonificação por produtividade PCMSO PPRA CIPA SIPAT Incentiva atividades físicas e esportivas Disponibiliza espaço físico para descanso e lazer Promove eventos comemorativos e sócioculturais Programa de benefícios 16 19 18 14 18 17 11 9 8 11 110 Segundo Gil (2009, p. 189): Na última década, as empresas começaram a perceber que os programas tradicionais de remuneração foram suplantados por novas estruturas, estratégias e processos de trabalho. Muitas empresas passaram, então, a procurar soluções de remuneração mais compatíveis com a nova ênfase em valores como qualidade, serviço ao cliente, trabalho em equipe e produtividade. As “soluções” encontradas são variadas e cada vez mais utilizadas pelas organizações, tais como: a participação nos lucros e resultados organizacionais, incentivos individuais e em equipe ou a curto e longo prazo, pagamentos em quantias únicas, programas de reconhecimento e premiações simbólicas que expressem a conquista de determinados objetivos (FLANNERY, HOFRICHTER; PLATTEN, 1997). Dessa maneira, “as diversas formas de remuneração variável podem ser classificadas em dois grandes grupos: a participação nos lucros e a remuneração por resultados. A primeira tem como base os resultados globais da empresa; a segunda parte de metas e objetivos negociados entre empresa e funcionários” (WOOD JR.; PICARELLI, 1996, p. 82). Para Milkovich; Boudreau (2000, p. 422), “a participação nos lucros é o pagamento aos empregados de uma parcela dos lucros da empresa que tenha excedido ao nível preestabelecido” (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000, p. 422). De qualquer forma, mesmo diante de diversas alternativas de remuneração, o objetivo permanece intacto: “alinhar e convergir esforços para melhorar o desempenho da empresa.” (WOOD JR.; PICARELLI, 1996, p. 84). Sendo assim, para que os objetivos sejam alcançados quanto ao processo de remuneração, alguns quesitos devem ser observados, tais como: o alinhamento do esforço individual com as diretrizes organizacionais; a orientação para o processo e para resultados; o incentivo para o desenvolvimento de práticas participativas e integradoras; e o desenvolvimento contínuo do indivíduo (WOOD JR., 1997). O autor afirma que “a multiplicidade de formas de remuneração tem crescido devido à necessidade de encontrar maneiras criativas para aumentar o vínculo entre as empresas e seus funcionários” (WOOD JR., 1997, p. 90), porém, a essência permanece a mesma, podendo ser classificada em seis grandes grupos: a remuneração funcional, o salário indireto, a remuneração por habilidades ou por competências, a remuneração variável, a participação acionária e as alternativas criadas (WOOD JR., 1997). Além da recompensa no sentido estrito de salário, há incentivos e premiações que também são utilizados nas empresas, pois, “o reconhecimento não-monetário pode proporcionar, do mesmo modo, uma grande oportunidade para reforçar mensagenschave e recompensar comportamentos desejáveis” (MAYO, 2003, p. 145). 112 De acordo com o Quadro 20, todas as empresas pesquisadas possuem programas de premiações, desde que os resultados e metas empresariais sejam alcançados de forma satisfatória. Dentre as formas de premiação e bonificação, encontram-se a participação nos lucros e resultados (que é mais evidenciada em empresas de grande porte), as gratificações, as comemorações específicas para destacar um funcionário ou equipe por um desempenho exemplar. Tudo isso, no entendimento de Ulrich (1998, p. 175), “ajuda os funcionários a dar conta de demandas aumentadas”, tornando-se um instrumento que faz parte de uma cultura que busca estipular metas em conjunto com os empregados e, concomitantemente, traçar planos para superá-las. Função Práticas diagnosticadas Programa de participação nos lucros e resultados; Gratificação sob a forma de 14º e até de 15º salário; Bonificações por produtividade; Premiação por assiduidade; Manutenção Colaborador-padrão; Bônus por mérito ao desempenho e dedicação; Premiação para o destaque do mês; Sistema de premiação por produção e vendas; Prêmio de Produção Especial. Quadro 20 – Práticas relacionadas às premiações concedidas aos funcionários Fonte: Dados da pesquisa (2009) Por isso, “as empresas estão aprendendo que a partilha dos ganhos econômicos da consecução de metas funciona e ajuda os funcionários a permanecer motivados para alcançar metas cada vez mais difíceis” (ULRICH, 1998, p. 175), conforme expressa uma empresa pesquisada: “Prêmio de Participação nos Resultados (PPR) estabelece metas de produtividade como instrumento de motivação dos funcionários (SESI, 2005, p. 25). Isso confirma que “a filosofia por trás desse tipo de plano é que ele aproxima os empregados da empresa, fazendo com que eles se identifiquem com o objetivo de lucro e assim reduzam os desperdícios e melhorem a produtividade” (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000, p. 422). Algumas práticas diagnosticadas exemplificam o que já foi comentado: Campanha Todos Ganham, que consiste na distribuição de resultados da empresa no final do ano (SESI, 2008b, p. 30). Os colaboradores também recebem anualmente a PLR e, como forma de reconhecimento e incentivo àqueles que atingirem ou superarem suas metas, há uma bonificação que pode chegar a três vezes o valor de seu salário (SESI, 2008b, p. 122). 113 Oferece diversos tipos de benefícios como forma de reconhecimento pelo trabalho e dedicação dos colaboradores, destacando-se a participação nos lucros e resultados e bônus por mérito ao desempenho e dedicação (SESI, 2006, p. 15). Utiliza diferentes formas para recompensar o trabalho dos colaboradores: prêmios por assiduidade e de participação em resultados, colaborador-padrão, política de cargos e salários, gestão por competência e festas de confraternização (SESI, 2006, p. 12). Os salários são considerados bons pelos colaboradores, que recebem participação nos lucros duas vezes ao ano. Colaboradores que se destacam pela produção e disciplina também são premiados (SESI, 2006, p. 4). Promove o destaque do mês, escolhido pelos próprios colegas de trabalho, que recebe um prêmio e tem sua fotografia afixada na entrada da empresa (SESI, 2006, p. 13). Há uma premiação aos colaboradores considerados Destaques do Ano, eleitos pelos próprios colegas, segundo critérios de produtividade, assiduidade, comprometimento, relacionamento com a equipe e qualidade no trabalho (SESI, 2007, p. 157). Merecem destaque os programas de recompensa que não se restringem ao desempenho individual, mas, também, ao desempenho por equipe, tendo em vista que “recompensar o desempenho da unidade é importante, porque evita que os funcionários coloquem suas necessidades individuais ou funcionais acima das necessidades dos clientes” (ULRICH, 2000, p. 215). Algumas afirmações dão ênfase às premiações oferecidas pelo trabalho em equipe: O Programa de Excelência de Fábrica (PEF) permite definir a participação dos colaboradores nos lucros e confere a pontuação da unidade no Programa Campeonato Mundial por Célula, que premia as fábricas que alcançam os melhores resultados da corporação (SESI, 2007, p. 105). A Amazônia Celular procura recompensar o bom desempenho e resultados alcançados pelas equipes, premiando-as com equipamentos eletrônicos, computadores portáteis e até um automóvel – no caso do Programa Velocidade Máxima (SESI, 2008b, p. 72). O informativo Participação dos Lucros e Resultados da Empresa (PLRE) mantém as equipes atualizadas com relação aos indicadores de desempenho e às metas atingidas no final de cada período. A bonificação pode chegar a um salário nominal (SESI, 2008b, p. 110). Em relação aos programas de benefícios, todas as empresas pesquisadas disponibilizam alguns. Segundo Wood Jr. (1997), os benefícios são entendidos como salários indiretos, que podem ocorrer de forma mais tradicional ou mais flexível. No último caso, as empresas fornecem programas de benefícios de acordo com suas possibilidades e preferências, constituindo um elevado investimento para a organização, destacando-se a diversidade de benefícios oferecidos aos empregados, conforme o Quadro 21: 114 Resumo dos benefícios oferecidos pelas empresas Plano de saúde Auxílio jurídico Assistência médico-odontológico, ginecológico, Auxílio combustível psicológico e fonoaudiólogo Vale-gás Auxílio-natalidade Vale-cultura Auxílio-casamento Vale-educação Auxílio-material escolar Convênio com ótica, supermercado, Auxílio-farmácia restaurante, papelaria, oficinas de bicicleta, Auxílio-creche academia de ginástica, perfumaria Kit-bebê, kit escolar Plano de previdência privada Auxílio-educacional Programa de Preparação para Aposentadoria Auxílio-doença Fornecimento de cesta básica e cesta natalina Auxílio-social Refeitório instalado na empresa Auxílio-alimentação Seguro de vida Auxílio-transporte Estacionamento Auxílio-moradia Quadro 21 – Resumo dos benefícios oferecidos pelas empresas Fonte: Dados da pesquisa (2009) De forma semelhante, a maioria das empresas pesquisadas também se preocupa com a integração dos funcionários e realiza, costumeiramente, eventos comemorativos e sócioculturais, além de desenvolver variados mecanismos e ações que proporcionam melhorias no ambiente de trabalho, principalmente os programas de incentivo às práticas esportivas e os espaços físicos destinados para descanso e lazer, conforme o Quadro 22. Programas desenvolvidos relacionados à saúde Programa Link Vida Legal Programa Segurança, Organização e Programa Vida Legal Limpeza Programa Indústria Saudável Programa Padrão Rio Tinto de Saúde Projeto Saúde e Mente do Colaborador Projeto Ama-se 100% Programa Qualidade de Vida – Bunge Vida Programa Meu Coração Programa Qualidade de Vida Programa Indústria Saudável Programa Viva a Vida Programa Live Life Programas Lazer e Esportes Programa Viva Bem Comendo Bem Programa Bem-Estar Terapia para Mulheres (TPM) Programa de Qualidade de Vida Sessões de massagens e acupuntura Programa Micropausa Espaço físico para descanso e lazer: Programa Vidinha Legal academia de ginástica completa, campos de Programa Saúde na Praça futebol, associação de funcionários, capela Programa de Ginástica Laboral ecumênica, sala de leitura com acesso a Programa Saúde da Mulher internet, biblioteca e videoteca Programa Saúde e Mente do Trabalhador Práticas de shiatsu, tai chi chuan, aulas de Programa Saúde é Vida yoga, capoeira, jiu-jitsu, natação, dança de Programa de Saúde Ocupacional salão, teatro e coral Quadro 22 – Programas desenvolvidos relacionados à saúde Fonte: Dados da pesquisa (2009) Independente do porte empresarial, praticamente todas as empresas pesquisadas, as quais dispõem de programas de controle médico e saúde ocupacional, bem como dos 115 programas de prevenção de riscos ambientais, principalmente por se tratar de indústrias, preocupam-se com a higiene e a segurança no trabalho. Além do mais, verificou-se a presença das CIPA´s, na maioria das empresas de pequeno, médio e grande porte, as CIPA´s, que são as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes. Ou seja, há uma preocupação com o ambiente de trabalho nos quesitos de segurança, sendo realizada anualmente em muitas empresas a SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho). Vale salientar que essas medidas e ações diagnosticadas são obrigatórias nos ambientes organizacionais, em especial nas indústrias. Nesse sentido, essas ações não são necessariamente espontâneas ou socialmente responsáveis, mas exigências legais e imprescindíveis para o desenvolvimento das atividades e funções específicas de cada empresa pesquisada. Assim como na função desenvolvimento da gestão de pessoas, torna-se notória uma maior atenção dada às práticas relacionadas à manutenção da gestão de pessoas pela maioria das empresas pesquisadas, pois normalmente essas ações proporcionam resultados mais diretos e significativos junto aos funcionários das empresas, que, não raramente, são mais influenciados por aspectos que se referem à remuneração, benefícios e incentivos. Entretanto percebe-se que, quanto maior o porte empresarial, maior o leque de práticas desenvolvidas pelas empresas quando se refere a esta função da gestão de pessoas, proporcionando aos funcionários maiores oportunidades em termos de benefícios, incentivos e remuneração. 4.6 A FUNÇÃO CONTROLE DA GESTÃO DE PESSOAS E AS PRÁTICAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS Após analisar as funções planejamento, suprimento, aplicação, desenvolvimento e manutenção da gestão de pessoas, cabe, neste momento, deter-se na função controle ou monitoração da gestão de pessoas, que, por sua vez, fecha o ciclo da gestão de pessoas nas suas seis funções clássicas. O controle atua como um processo de monitoração que envolve sistemas integrados de informações sobre os empregado, em outras palavras, há um banco de dados atualizado que possui diversas informações a respeito dos funcionários, principalmente quando relacionados ao ambiente de trabalho. Diferentemente das demais funções, a função controle da gestão de pessoas praticamente não foi diagnosticada nas ações e práticas socialmente responsáveis premiadas pelo SESI. A função controle ou monitoração da gestão de pessoas busca acompanhar e verificar os resultados de trabalho dos empregados por meio de sistemas ou softwares 116 específicos que forneçam informações precisas para eventuais decisões e adequações na organização. Nesse sentido, a dificuldade de relação entre o controle e as práticas socialmente responsáveis caracteriza-se pela finalidade específica desta função, que se refere diretamente à monitoração das pessoas na organização, enquanto as práticas socialmente responsáveis busca estimular o trabalho e o comportamento do indivíduo na organização através de melhorias, principalmente relacionadas ao ambiente organizacional. Em apenas uma empresa de grande porte foi encontrado um sistema específico que monitora os funcionários, conforme afirmação a seguir: Cartão de Todos – ou Cartão Operacional de Observação Segura. Este cartão mantém os registros dos colaboradores, no que se refere aos desvios verificados em relação aos comportamentos de risco, uso de EPI, organização, máquinas e equipamentos, necessidades individuais, entre outros aspectos (SESI, 2008b, p. 91). Por esse motivo, a função controle da gestão de pessoas parece não estar enquadrada nas práticas socialmente responsáveis premiadas pelo SESI. No entanto, vale destacar a importância de tal atividade inerente à gestão de pessoas, que contribui com informações relevantes sobre os funcionários aos responsáveis pelos diversos programas de treinamentos, capacitações, remuneração, segurança e saúde no trabalho. Enfim, as demais funções da gestão de pessoas necessitam de informações precisas e coerentes com a realidade organizacional para que as decisões tomadas sejam adequadas e eficientes. 4.7 ANALISANDO A RELAÇÃO ENTRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL E A GESTÃO DE PESSOAS Mesmo diante dos resultados até então obtidos, que proporcionam um diagnóstico das práticas de gestão de pessoas presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo SESI, alguns pontos ainda serão abordados nesta análise, em especial para identificar se há relação entre a responsabilidade social e a gestão de pessoas nas práticas socialmente responsáveis premiadas pelo SESI. As informações apresentadas na pesquisa documental e pelas empresas entrevistadas apontam que sim. Entretanto, faz-se necessário compreender um pouco mais a forma como essas ações e práticas surgiram e como são percebidas pelas empresas. Percebe-se que o surgimento de tais práticas geralmente ocorreu por motivos relacionados ao público interno, ou seja, melhoria do ambiente de trabalho, resolução de 117 conflitos, busca por melhorias na qualidade dos procedimentos, qualidade de vida no trabalho, dentre outros, conforme expõe os entrevistados: “A partir da nossa primeira participação no PSQT. Recebemos um relatório de feedback então começamos a implantar algumas ações recomendada por eles” (MI1). “A empresa já nasceu com visões voltadas à qualidade de seus produtos e processos, comprometida com responsabilidades sociais e ambientes, bem como, proporcionando aos seus colaboradores e familiares uma excelente qualidade de vida” (MI2). “No ano de 2000, durante o planejamento surgiu a idéia de buscarmos reduzir alguns situações relacionado com pessoal, através do investimento em ações que produzisse beneficio direto na qualidade de vida dos colaboradores” (PE1). “As ações de Responsabilidade Social fazem parte da filosofia da empresa desde o seu início. A empresa está atenta às necessidades de seus colaboradores, do meio ambiente e da comunidade em que está inserida, procurando responder com as melhores soluções a tudo que viu e ouviu deles” (PE2). “Foi da necessidade de criar projetos de desenvolvimento e crescimento da empresa” (ME1). “A responsabilidade social deve ser percebida como resultado de políticas capazes de influenciar a vida de todos os colaboradores e integrantes da empresa. Os frutos do pensamento sustentável devem converter-se em melhorias para todos, das pessoas envolvidas direta ou indiretamente, com as instituições, aos diversos setores da sociedade. A filosofia responsável da instituição reflete-se nas decisões capazes de evitar impactos negativos no meio ambiente e, consequentemente, no futuro da própria organização” (GE1). “A Brasal sempre se preocupou com seus colaboradores e aí começa todas as ações em questão de... Tanto que a gente participou de vários prêmios de qualidade, de certificação né? A gente recebeu já, por exemplo, vários prêmios SESI. Hoje a gente foi agraciado, fiquei sabendo hoje, a questão do Prêmio Nacional da Qualidade, o trato com o público interno. Então, várias vezes ganhando o Prêmio da Qualidade do Trabalho, Prêmio SESI. Então pra mim que vem sendo constantemente validado e certificado por prêmios, participação por vários... A certificação OHSAS 18001, enfim, essas coisas que dão para dar um destaque bom nessa nossa preocupação” (GE2). Nesses casos apresentados, os diversos motivos que influenciaram a criação de políticas e práticas socialmente responsáveis permitiram às organizações implementar programas específicos para atingir tais finalidades. Todavia, a escolha dos programas e políticas relacionadas à responsabilidade social difere de uma organização para outra. Em algumas, o planejamento e a escolha foram realizadas conjuntamente, como afirmam dois entrevistados: 118 “Foi planejada e escolhida partindo em primeiro lugar de nossas condições financeiras, escolhemos ações que não nos custava (sic) muito dinheiro, então começamos a por (sic) em prática. Os projetos tiveram sim participação de nossos colaboradores” (MI1). “Os projetos foram surgindo de acordo com a necessidade, idealizados por todos os setores da empresa (Direção, RH, Produção), avaliados e planejados de acordo com prioridades” (PE1). Já em outras, as decisões partem do escopo gerencial da empresa, que formula e põe em prática programas e políticas de responsabilidade social, mas, há fortes evidências da participação dos funcionários que influenciam direta e indiretamente nas decisões quanto aos programas e práticas socialmente responsáveis, pois torna-se necessário analisar sugestões e colaborações de pessoas que atuam diretamente nos diversos processos organizacionais. Entretanto, essas colaborações devem ser efetivamente analisadas e discutidas, não permitindo que decisões unilaterais sejam postas em evidência, o que não coaduna com a própria dinâmica da responsabilidade social que visa o bem comum: “Seu planejamento e seleção se deram mediante as principais necessidades visualizadas, partindo de um pressuposto colaborador – família do colaborador – comunidade local – população e mediante idéias que surgiram, inicialmente, de cima para baixo e, posteriormente e até hoje, conjuntamente com todos os colaboradores” (MI2). “Alguns projetos como: Pingo D´Água, Bom Aluno, Entrega de Material Escolar para Filhos de Colaboradores e o Arte e Vida foram iniciativas por parte da Diretoria da empresa. Outros projetos como Escola de Fábrica, Oficina de Sonho, O Caminho da Profissão. Foram iniciativa que partiram dos colaboradores da empresa e a Diretoria apoiou e incentiva a participação. Existem outras ações que podem ser vista mais como auxílio à comunidade do que Programa de Responsabilidade Social. Ex: apoio às ações da APAE local, Rotary Club de Tamarana, incentivo através de doações para a Feira de Ciências das escolas da cidade, etc. (PE2). “A direção sempre nos apoiou, entendeu? A direção apóia muita a empresa. O Sr. Cláudio que é o diretor presidente, ele dá todas as oportunidades do RH fazer os projetos, então assim, ele é uma pessoa que acata nossas idéias, incentiva, gosta de inovações. Então ele é uma pessoa que te dá abertura pra fazer isso. E a nossa diretora de RH que efetivamente faz com que os projetos realmente aconteçam” (ME1). “Os projetos são criteriosamente estudados dentro dos critérios da Empresa, pelo Gerente de RH, apresentado a diretoria e ao corpo gerencial para aprovação e apresentação aos colaboradores e parceiros para buscarem uma melhor forma de atingir os objetivos comuns de cada projeto” (GE1). “Tem várias formas, tem as suas formas. Parte da questão da direção, tá? Parte de ações de benchmanking, elas entram... Elas podem acontecer de pesquisas internas como de caixas de sugestões que a gente tem instaladas. A gente tem um programa de idéias, tem vários mecanismos pra criar ou melhorar os nosso trato voltado para o público interno” (GE2). 119 Em se tratando das prioridades das ações e práticas socialmente responsáveis desenvolvidas pelas empresas, foram identificados, como prioridades, programas e políticas relacionados ao público interno da organização, mesmo que, em alguns casos, os projetos desenvolvidos se relacionem ao público externo. Todavia, a maior parte das empresas se preocupa prioritariamente com o público interno, como expõem alguns entrevistados: “Há sim. Procuramos priorizar a parte social voltada aos nossos colaboradores, Cesta básica, confraternizações, Natal dos colaboradores, Páscoa dos Colaboradores, Ano novo, Cinema etc. (MI1). “Não, pois todos objetivam o mesmo bem em comum, o que ocorre é que algumas atividades se desenvolvem com maior facilidade” (MI2). “Pra nós a prioridade é, a gente sempre faz com os próprios colaboradores, entende? Eles mesmos, às vezes, pedem, ah! eu queria fazer isso. Então assim, a gente tem uma boa abertura até mesmo com eles, eles falam. E esses projetos de comunidade, com a profissionalização das famílias e dos filhos dos profissionais, a gente acha extremamente importante. Então assim, a nossa prioridade é o colaborador, o funcionário, mas também a gente vê que se a esposa dele está crescendo, os filhos estão... têm escola, tem a informática” (ME1). “Buscamos atingir o nosso público interno e nossa comunidade, através de programas sociais que venha (sic) a valorizar e proteger o ser humano, a sociedade e o meio ambiente” (GE1). “Sim, existe. Existe sim. Tudo deve definir qual a prioridade de cada ação. Então, a gente tem [...] as necessidades do público interno, e aí surgem as prioridades” (GE2). “Projeto educando (distribuição de material escolar para colaboradores e dependentes – 17 anos), projeto alfabetizando (sala de aula, onde já foram alfabetizados sete colaboradores – 6 anos), projeto cultural (coral formado pelos colaboradores), projeto inclusão digital (área com seis computadores em rede, onde os colaboradores tem aulas de informática e acesso a internet) projeto saúde (avaliações periódicas e atendimento através das unidades móveis do SESI)” (PE1). Diante dos programas e políticas de responsabilidade social desenvolvidas pelas empresas pesquisadas, algumas consequências podem ser apresentadas como positivas para todo o ambiente organizacional, dentre elas: o aumento no faturamento, melhor clima organizacional e de relacionamento entre os funcionários, reconhecimento que se refere diretamente à imagem organizacional para com o público interno e externo, e o comprometimento dos funcionários com a organização: “Aumento no faturamento, melhor qualidade de nossos serviços, melhora na autoestima de nossos colaboradores etc.” (MI1). “Até o momento não identificamos conseqüências na prática deste tipo de responsabilidade social, pois todas as atividades praticadas retornam à empresa em diversas formas, gerando inúmeros benefícios à mesma” (MI2). 120 “Melhoria nos indicadores citados” (PE1). “Bom, consequências eu acho que são as melhores possíveis. Para a empresa, a gente ter ganho vários prêmios. O PSQT, exatamente por trabalhar nesse projeto há tanto tempo e se manter, não é? Então assim, a gente sabe que o nível de satisfação dos colaboradores é bem alto. É, então para a empresa a gente tem muitos prêmios. Também o absenteísmo é muito baixo, pouca ou dificilmente alguém aqui pede demissão. São apenas aqueles que estão indo embora ou conseguiram alguma coisa muito melhor fora daqui, entendeu? O grau de satisfação dos funcionários é muito grande. E de uma maneira geral assim para os funcionários é esse crescimento” (ME1). “Para a empresa é o comprometimento permanente em adotar um comprometimento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, simultaneamente, a qualidade de vida dos colaboradores e de seus familiares, da comunidade local e da sociedade como um todo. Essa concepção assume a responsabilidade social como expressão de uma postura ética comprometida com o resgate da cidadania, assumindo uma posição de corresponsabilidade, na busca do bem-estar público, em articulação com as políticas sociais. Para os colaboradores é a oportunidade em despertar a vontade de ajudar a construir uma sociedade mais justa, através de ações individuais e coletivas” (GE1). As consequências oriundas das práticas socialmente responsáveis se coadunam com os objetivos organizacionais desta temática, que visa à melhoria contínua no ambiente de trabalho, qualidade de vida, maiores rendimentos na produção e, por sua vez, maior comprometimento dos funcionários com as estratégias empresarias, além do desenvolvimento e realização pessoal de cada participante dos respectivos programas existentes nas empresas, conforme afirmações abaixo: “Crescimento pessoal, ter mais responsabilidades por parte dos nossos colaboradores com nossos serviços, clientes e companheiros de trabalho, além do aumento do nosso faturamento e qualidade dos serviços” (MI1). “Proporcionar a qualidade de vida aos colaboradores e familiares, tanto dentro como fora da empresa, objetivando (sic) um colaborador saudável, motivado e feliz, cujo qual (sic) só tende a trazer benefícios à empresa” (MI2). “Melhorar os indicadores; acidente de trabalho, absenteísmo, produtividade, desperdício e rotatividade” (PE1). “Os objetivos são voltados a proporcionar condições para que os colaboradores tenham condições de se desenvolver, crescer profissionalmente e com isso oferecer melhor condição de vida para sua família. Integrar a empresa com a comunidade onde esta inserida, bem como oferecer aos colaboradores oportunidades para desenvolvimento de trabalhos voluntários” (PE2). “Preparar o profissional para oportunidades de crescimento dentro da organização, para sua empregabilidade [...] Então a gente sabe que quando a gente oportuniza educação, conhecimento, desenvolvimento, todo mundo cresce dentro da empresa. A nossa prioridade é realmente educação, que eles se desenvolvam” (ME1). “Participação, conscientização, integração, motivação e solidariedade” (GE1). 121 “A gente ter um ambiente organizacional saudável, né? Claro, todo o nosso trato com o público interno” (GE2). O modo como as práticas da gestão de pessoas estão presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo SESI, descritas nesta pesquisa, leva ao entendimento que há uma estreita relação entre a gestão de pessoas e as práticas socialmente responsáveis, sendo necessária para a implantação, desenvolvimento e controle de tais atividades e programas, uma adequada e bem estruturada gestão de pessoas. Algumas afirmações dos entrevistados corroboram tal pensamento: “Uma coisa esta relacionada com a outra, nossos colaboradores estão muito bem envolvidos com nossas responsabilidades sociais. E a gestão de pessoas aqui da empresa procura priorizar muito a questão da responsabilidade social. Pois entendemos que é ela que motiva nossos colaboradores a desempenhar melhor suas atividades” (MI1). “Acreditamos que a responsabilidade social está diretamente ligada à gestão de pessoas, ou seja, uma complementa à outra, ambas devem ser praticadas juntas para que os resultados venham a surgir de forma benéfica, é quase impossível você obter um resultado positivo ou até mesmo praticar uma atividade social, se não esse ligação não estiver alinhada” (MI2). “A Gestão de Pessoas é o foco principal da empresa, que acredita que o seu sucesso depende, exclusivamente, do comprometimento dos trabalhadores. Ao definir, de forma clara, o que espera dos colaboradores, fica mais fácil trabalhar em busca do objetivo proposto, proporcionando um ambiente de trabalho mais eficaz. Não tem como trabalhar Gestão de Pessoas desvinculada da Responsabilidade Social. Estas duas práticas caminham juntas e o resultado esperado só é alcançado se for trabalhado desta forma” (PE2). “Olha, existe um entrosamento muito grande” (ME1). Por fim, entende-se que essa estreita relação entre a gestão de pessoas e a responsabilidade social permite o desenvolvimento e a realização das práticas socialmente responsáveis voltadas para o público interno, de forma adequada, em se tratando dos objetivos organizacionais. Sem essa parceria, as ações seriam difíceis de ocorrer e, se implementadas, certamente não seriam bem alinhadas às estratégias organizacionais. Todavia, alguns paradoxos podem surgir relacionando a gestão de pessoas e a responsabilidade social, que se refere aos principais objetivos e consequências dessas ações e práticas socialmente responsáveis. Algumas empresas enfatizam não ganharem nada com as premiações recebidas, como por exemplo, ME1: “Eu gostaria de deixar bem claro que a gente não ganha nada”, o que não coaduna com a posição dos gestores em relação aos ganhos relacionados à imagem institucional, a promoção e divulgação dos produtos, ao 122 comprometimento e satisfação do público interno, dentre outros aspectos que são consequências diretas e indiretas das ações socialmente responsáveis. Muitas ações expostas pelas empresas pesquisadas se referem a programas de controle médico e saúde ocupacional, benefícios, certificações e segurança no trabalho, levando ao entendimento de que essas ações são espontâneas, todavia, de acordo com Zarpelon (2006), várias dessas ações são praticadas para cumprir exigências legais que são baseadas em atos administrativos visando evitar penalidades e repreensões. Ainda nessa questão, algumas ações desenvolvidas pelas empresas podem ser oriundas de acordos sindicais, ou seja, possuem causas que foram decididas previamente em acordos coletivos, não caracterizando espontaneidade, isto é, não são ações socialmente responsáveis. Além do mais, se as organizações buscam essencialmente apenas melhores resultados financeiros, maior vantagem competitiva, melhoria da imagem organizacional e maior comprometimento dos funcionários com as estratégias da empresa, e não verdadeiramente a valorização dos funcionários como indivíduos que possuem características peculiares e distintas, as práticas socialmente responsáveis podem se tornar ferramentas estratégicas no intuito de perseguir, com grande ênfase, os resultados meramente financeiros. Nessa perspectiva, as funções da gestão de pessoas buscam principalmente colaborar com a gestão empresarial no que diz respeito ao planejamento, suprimento, aplicação, desenvolvimento, manutenção e controle das pessoas em busca dos objetivos e metas organizacionais. Dessa forma, se as práticas da gestão de pessoas estão estreitamente ligadas às ações socialmente responsáveis premiadas pelo SESI nas empresas pesquisadas, os resultados empresariais esperados parecem mais relacionados aos objetivos da gestão de pessoas, que são os objetivos estratégicos da organização, do que propriamente às finalidades essenciais da responsabilidade social. Por outro lado, os objetivos de ambas as partes podem tornar-se semelhantes e transformando-se em resultados que favorecem principalmente a organização. Entretanto, cabe às empresas não permitir que os programas e políticas socialmente responsáveis sejam fundamentados exclusivamente no lucro que sobrepõe os fins sociais a que se propõem (QUEIROZ et. al., 2002; MELO NETO; FROES, 2001; SROUR, 2003; NASH, 1993). 123 5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO Os resultados encontrados nesta pesquisa permitiram diagnosticar as práticas de gestão de pessoas presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo SESI e perceber a estreita relação entre a gestão de pessoas e a responsabilidade social. Isso se verifica principalmente quando se analisam as funções clássicas da gestão de pessoas – planejamento, suprimento, aplicação, desenvolvimento, manutenção e controle – e a maneira como as práticas tidas como socialmente responsáveis, que são difundidas no ambiente organizacional e tem como destino prioritário o público interno, se enquadram nessas funções. Dessa forma, os resultados alcançados possibilitam formular algumas conclusões que, a seguir, são expostas, fundamentadas nas questões norteadoras desta pesquisa. Em relação ao planejamento da gestão de pessoas e às práticas socialmente responsáveis, percebe-se uma acentuada diferença, quando comparadas às empresas de grande porte às microempresas, levando ao entendimento que, quanto maior o porte da empresa, maiores são as possibilidades de se encontrar novas práticas da gestão de pessoas relacionadas ao planejamento, principalmente quando se refere aos programas de certificação, de qualidade e à utilização de matrizes de competências que norteiam as demais atividades da gestão de pessoas. Todavia, em situações específicas ou casos particulares, essa percepção pode ser contrariada. Contudo, os programas de sugestões, uma adequada comunicação interna e a gestão participativa foram algumas práticas diagnosticadas nas empresas pesquisadas. Quanto à função suprimento da gestão de pessoas e práticas tidas como socialmente responsáveis, estas se apresentam de forma semelhante na maioria das empresas, independentemente do porte empresarial, quando relacionadas ao recrutamento interno. No entanto diferentes, quando se refere aos bancos de talentos que, por sua vez, são utilizados principalmente por empresas de grande porte. Vale destacar que nesta função da gestão de pessoas, o recrutamento interno é prioridade em relação ao recrutamento externo, sendo na maioria dos casos alinhado às competências. No tocante à função aplicação da gestão de pessoas, foi observado que as práticas socialmente responsáveis relacionadas a esta função são principalmente a avaliação de desempenho, que é uma ferramenta bem disseminada nas empresas pesquisadas, independentemente do porte empresarial e geralmente é baseada em competências, bem como os planos de cargos, carreira e salários diagnosticados nos dados coletados. Entretanto os programas específicos de gerenciamento de carreira só foram encontrados em empresas de grande porte. No caso dos sistemas de rodízio de funções ou Job Rotation, poucas empresas 124 utilizam essas ferramentas da gestão de pessoas, que tem por objetivo desenvolver seus funcionários em relação a outras atividades da empresa. Em se tratando da função desenvolvimento da gestão de pessoas, verificou-se que esta é uma das funções mais evidenciadas pelas empresas pesquisadas. Dessa forma, há uma considerável diferença na maneira como as empresas adotam práticas de desenvolvimento da gestão de pessoas, de acordo com o porte empresarial, principalmente pela disponibilidade de estrutura e investimento para tais finalidades. Nesse contexto, nas microempresas, os programas de educação corporativa não diferem muito do modelo tradicional de treinamento e desenvolvimento organizacional. Por outro lado, nas empresas de grande porte, as novas práticas da gestão de pessoas que se referem ao desenvolvimento organizacional fundamentam tais programas de educação corporativa. Estes, por sua vez, são mais concisos, integrados e alinhados às estratégias empresariais, caracterizados pela existência de universidades corporativas, centros de treinamentos, programas de coaching e trainee, programas de desenvolvimento de lideranças, times de aprendizagem, dentre outros programas que visam ao desenvolvimento individual e organizacional, permitindo, assim, o alcance de melhores resultados para a organização. Assim como na função desenvolvimento da gestão de pessoas, as práticas socialmente responsáveis relacionadas à função manutenção apresentam maiores evidências na maioria das empresas pesquisadas. Todavia, percebe-se que, quanto maior o porte empresarial, maior o leque de práticas desenvolvidas pelas empresas, quando se refere a esta função da gestão de pessoas, proporcionando aos funcionários maiores oportunidades em termos de benefícios, incentivos e remuneração. Nessa perspectiva, são vários os benefícios e incentivos disponibilizados pelas empresas aos funcionários, que vão desde a participação nos lucros e resultados a programas de higiene e segurança no trabalho, bem como de ações que promovem a integração dos funcionários. De forma diferenciada das demais funções acima relacionadas, a função controle da gestão de pessoas parece não estar enquadrada nas práticas socialmente responsáveis premiadas pelo SESI, tendo em vista a não ocorrência de praticamente nenhuma ação ou prática neste sentido, com exceção de uma empresa que adota um sistema de informações sobre os funcionários. Diante dessas informações, pode-se concluir que praticamente todas as funções da gestão de pessoas – planejamento, suprimento, aplicação, manutenção e desenvolvimento – estão presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo SESI. No entanto, o modo como essas práticas ocorrem nas empresas varia de uma organização para outra. 125 Contudo, verificou-se que o porte empresarial (micro, pequena, média e grande) influencia substancialmente nas práticas desenvolvidas, quando relacionadas ao público interno, tendo em vista que, principalmente nas empresas de grande porte, as práticas da gestão de pessoas são mais evidenciadas, articuladas e alinhadas às estratégias organizacionais. Esse fato se dá porque as empresas de grande porte detem melhores estruturas, tais como: capital de investimento, profissionais especializados e capacitados para atuar especificamente na área de responsabilidade social, programas diversificados de gestão de pessoas bem alinhados às estratégias organizacionais, principalmente voltadas para o desenvolvimento organizacional, conhecimentos e informações adequadas, dentre outras características que são decisivas para a implantação e manutenção de tais ações. Além do mais, as exigências de mercado que se submetem as empresas de grande porte, estimulam sobremaneira a adequação dessas organizações para o desenvolvimento de atividades e programas que satisfaçam os consumidores, empregados, fornecedores, sociedade e acionistas, permitindo atingir condições competitivas para atuarem no cenário organizacional e favorecendo a sobrevivência em um mercado competitivo e mutável. Desse modo, relacionar de forma adequada as ações de responsabilidade social às práticas de gestão de pessoas configura-se uma necessidade para as organizações que buscam vantagens competitivas. Entretanto, esses resultados não podem ser generalizados, pois há empresas de pequeno e médio porte, assim como microempresas, que possuem programas e políticas de responsabilidade social bem fundamentadas e alinhadas aos objetivos da empresa. As práticas de gestão de pessoas relacionadas ao planejamento (ULRICH, 1998; BOHLANDER; SNELL; SHERMANN, 2005; LACOMBE, 2005; LUCENA, 2007; TANURE; EVANS; PUCIK, 2007), ao suprimento (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002; RIBEIRO, 2006; BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005; MILKOVICH; BOUDREAU, 2000; MARRAS, 2000), à aplicação, em especial à avaliação de desempenho (DUTRA; FLEURY; RUAS, 2008; GIL, 2009; MARRAS, 2000), ao desenvolvimento (GIL, 2009; MILKOVICH; BOUDREAU, 2000; BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005; DUTRA, 2001; EBOLI, 2002; LACOMBE, 2005; MEISTER, 1999) e à manutenção (FLANNERY; HOFRICHTER; PLATTEN, 1997; MILKOVICH; BOUDREAU, 2000; BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005; MARRAS, 2000; WOOD JR; FILHO, 1999) foram diagnosticadas nas ações socialmente responsáveis premiadas pelo SESI. Todavia as práticas da função controle da gestão de pessoas (GIL, 2009; HOMEM; OLTRAMARI; BESSI, 2009; GUIMARÃES, 2006; LUCENA, 2007) não foram diagnosticadas como as 126 demais funções nesta pesquisa, pois a finalidade desta função diverge diretamente dos objetivos propostos pelas ações socialmente responsáveis. Dessa maneira, entende-se que as práticas socialmente responsáveis proporcionam às empresas uma estreita ligação entre a responsabilidade social e a gestão de pessoas, tendo em vista que a busca por melhores resultados, diga-se, produtividade e lucratividade, pressupõe uma gestão pautada em novos modelos de gerenciamento que utilizem as mais diversas ferramentas e instrumentos, dentre elas a responsabilidade social, para alcançar os objetivos organizacionais. Assim, as organizações necessitam estar atentas às exigências e necessidades relacionadas tanto à responsabilidade social empresarial como às demandas contemporâneas no que diz respeito aos novos modelos de gestão de pessoas, tal qual afirma Marras (2000, p. 323): Nunca foi tão importante e necessário investir na gestão dos recursos humanos de forma estratégica, não somente para que a empresa cumpra com a sua responsabilidade social, mas também e principalmente para a sua própria sobrevivência em época de mercados altamente turbulentos, globalizados e competitivos como a que estamos vivendo no final deste milênio. Em se tratando dos objetivos desses programas de responsabilidade social nas empresas, percebe-se que a busca por melhorias no ambiente de trabalho, a valorização dos funcionários e o comprometimento são objetivos explícitos que, por sua vez, auxiliam no alcance dos resultados organizacionais: aumento de produtividade e lucratividade para a organização. Dessa forma, os paradoxos surgem no momento em que as organizações utilizam as práticas socialmente responsáveis para obter exclusivamente vantagem competitiva e maiores lucros, sem se preocupar efetivamente com o público interno. Um discurso incoerente com a prática organizacional (SOARES, 2004; SROUR, 2003). Desse modo, os objetivos desta pesquisa foram alcançados por meio do diagnóstico das práticas de gestão de pessoas presentes nas ações de responsabilidade social premiadas pelo SESI através do Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, revelando essas práticas com suas características, objetivos e particularidades multiformes, que variam de uma organização para outra, principalmente quando analisado o porte empresarial, além da verificação da existência de alguns paradoxos entre a adoção das práticas de gestão de pessoas e as práticas de responsabilidade social, que envolvem as consequências oriundas de tais programas e seus reais objetivos. De forma particular, o presente estudo permitiu observar, em especial, que as práticas socialmente responsáveis premiadas pelo Prêmio SESI Qualidade no Trabalho estão bem 127 alinhadas às práticas de gestão de pessoas, que perpassa desde a gestão estratégica da organização aos processos cotidianos em que os empregados estão envolvidos diretamente, ao passo que os objetivos das práticas da gestão de pessoas e os das ações socialmente responsáveis, tornem-se semelhantes e inseparáveis. Essa evidência permite concluir que há um elo relevante entre as duas temáticas estudadas, pois os novos modelos de gestão pessoas devem estar alicerçados, também, em programas e ações socialmente responsáveis. Nesse entendimento, seria interessante que outras pesquisas fossem realizadas com o intuito de detectar percepções dos envolvidos nos processos organizacionais e apresentar resultados concretos dessas ações e práticas socialmente responsáveis, principalmente quando desenvolvidas para o público interno das empresas. Isso deveria ser feito tendo em vista que as avaliações realizadas pelos órgãos e instituições competentes não necessariamente se resumem às práticas relacionadas aos aspectos socioambientais, mas estão principalmente voltadas para as práticas de gestão empresarial, ou melhor, para a forma como as organizações gerenciam e promovem o desenvolvimento dos seus empregados. Além do mais, recomenda-se que outros estudos possam verificar quais as consequências dessas práticas socialmente responsáveis para o público interno, no intuito de observar se há realmente ganhos para os funcionários ou se as novas práticas da gestão de pessoas, estreitamente ligadas às práticas socialmente responsáveis que foram diagnosticadas, beneficiam apenas os empregadores. Sobre o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, pesquisas poderiam ser desenvolvidas para diagnosticar as práticas socialmente responsáveis adotadas em cada região e porte empresarial, analisando se o contexto sócio-cultural e geográfico influencia tal processo. Finalmente, a pesquisa realizada teve como universo apenas as empresas premiadas pelo Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, no período de 2005 a 2008, o que não permite generalizações em relação às conclusões obtidas neste estudo. Além disso, as análises se restringiram a um método de avaliação específico, desenvolvido em organizações tipicamente industriais, em um determinado período. Contudo espera-se que os resultados encontrados possibilitem uma melhor compreensão a respeito da temática responsabilidade social e sua relação com as práticas de gestão de pessoas. 128 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 16001: Responsabilidade Social – Sistema da Gestão – Requisitos. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2004. ALBUQUERQUE, Antônio Carlos C. de. Terceiro Setor. São Paulo: Summus, 2006. ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1999. AMOÊDO, Sebastião. Ética do trabalho na era da pós-qualidade. 2 ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007. AQUINO, Cleber Pereira. Administração de recursos humanos. São Paulo: Atlas, 1979. ARAMBURÚ, Juliana Viégas. 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Ltda. – MG Apis Flora Comercial e Industrial Ltda. – SP Aramart Indústria de Aramados Ltda. – PR Bike do Nordeste S.A. – PI Brasal Refrigerantes – DF Braspine Madeiras Ltda. – PR Bunge Alimentos – DF Café Faraó Ltda. – RJ Camapi Motores Ltda. – MS Célio Batista Alves – Apoekã Móveis – TO Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. – AC Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. – Eletronorte – MA Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV) – MT Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV) – SP Conex Montagem Elétrica Ltda. – MG Construtora Placic Ltda. – AL CSA Consultoria e Sistemas Abertos Ltda. – MA D´Itália Indústria e Comércio de Plásticos Ltda. – MS Embafort Ind. e Com. de Artefatos de Madeira Ltda. – PR Empresa Jornalística, Edit. Gráf. Sertãozinho Ltda. – SP EPE – Empresa Produtora de Energia Ltda. – MT Eternit S/A – GO Finorte S.A. Indústria Têxtil – MA Gazin Ind. e Com. de Móveis e Elet. Ltda – PR Guascor do Brasil Ltda. – AC Guascor do Brasil Ltda. – RO Herbarium Laboratório Botânico Ltda.– PR Indel Bauru Indústria Eletrometalúrgica Ltda. – SP Indústria e Comércio de Autopeças Rei Ltda. (Suporte Rei) – SP Indústria e Comércio de Confecções Xavier Ltda. (Rota do Mar) – PE J. F. Madeireira – RR Krafoam Embalagens Ind. e Com. Ltda. – RS L. B. Construções Ltda. – RR Lavatec – Lavanderia Técnica Ltda. – MA Lightsweet Indústria e Comércio de Alimentos – PR Luca Indústria e Comércio de Calçados Ltda. – RS Madeireira Mendes Ross – RR Manipullare Manipulação Magistral – MG Marisol Indústria Têxtil Ltda. – CE Meneghetti Indústria Química Ltda. – SP Porte Micro Grande Micro Pequena Pequena Micro Pequena Micro Grande Grande Grande Pequena Pequena Micro Micro Grande Média Grande Grande Pequena Pequena Micro Micro Pequena Micro Pequena Grande Pequena Grande Média Média Média Pequena Média Pequena Micro Micro Micro Pequena Média Grande Pequena Pequena Grande Micro 141 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 Mineração Corumbaense Reunida S.A. – MS Mineradora de Água Límpida Ltda. – CE Multdia Indústria e Comércio S.A. – RN Nilos do Brasil Ltda. – MG Nokia do Brasil Tecnologia Ltda. – AM Oliveira e Andrade Ind. Com. Importação (Rio Branco Pneus) – AC P.B. Zanzini & Cia. Ltda. – SP Pajoara Indústria e Comércio Ltda. – MS Pallet Brasil Ind. e Com. de Art. de Madeira Ltda. – PR Petrobrás – RJ Pontal Engenharia Construções e Incorporações – GO Pormade Portas de Madeiras Decorativas – PR Primo Schincariol Ind. Cerv. e Refrig. do NE S/A – PE Rava Embalagens Ind. e Com. Ltda. – PB RDK Ind. e Com. Ltda. – PR Refrigerantes Marajá S.A. – MT Rhede Transformadores e Equipamentos Elétricos Ltda. – GO Rimo S.A. Ind. e Comércio – ES Scitech Produtos Médicos Ltda. – GO Serviços e Peças Diesel Arapiraca Ltda. (Serdil) – AL Skanska Brasil Ltda. – RN Sococo S.A. Indústria Alimentícia – AL Tecumseh do Brasil Ltda. – SP Tamarana Metais – PR Tecnodrill Indústria de Máquinas Ltda. – RS Têxtil Assef Maluf Ltda. – SP Thyssenkrupp Metalúrgica Santa Luzia Ltda. – MG Tongs – Indústria e Comércio Ltda. – RJ Tuboarte Indústria e Comércio Ltda. – CE Volvo do Brasil Veículos Ltda. – PR WP Gráfica e Editora – RN Média Micro Média Micro Grande Pequena Média Micro Pequena Grande Pequena Média Grande Média Micro Média Média Média Pequena Micro Grande Grande Grande Pequena Micro Média Grande Pequena Média Grande Micro 142 APÊNDICE B – Questões da Entrevista 1) Como surgiram as ações de Responsabilidade Social na empresa? 2) Como foi planejada e escolhida? Os projetos partiram de cima para baixo, pelo responsável da Gestão de Pessoas ou foi realizado conjuntamente com os funcionários? 3) Há prioridades nas práticas de Responsabilidade Social? 4) Quais os objetivos das ações de Responsabilidade Social desenvolvidas para o público interno da empresa? Teria um objetivo principal? 5) Qual o significado das ações de Responsabilidade Social para a empresa e para os funcionários? 6) Quais as conseqüências das ações de Responsabilidade Social para a empresa e para os funcionários? 7) Quais os impactos da premiação recebida pela empresa através do Prêmio SESI Qualidade no Trabalho? 8) Como você percebe a relação entre a responsabilidade social e a gestão de pessoas em sua empresa? 143 APÊNDICE C – E-mail enviado as empresas Caro Diretor/Responsável do programa de Responsabilidade Social Empresarial, Venho através deste solicitar maiores informações a respeito do programa de responsabilidade social desenvolvido por esta empresa, tendo em vista que essa empresa foi premiada pelo PSQT – Prêmio SESI Qualidade no Trabalho, destacando-se no cenário industrial nacional. Sou Danilo Cortez Gomes, mestrando em Administração da Universidade Potiguar em Natal/RN e tenho como área temática de estudo/pesquisa a responsabilidade social empresarial, bem como a gestão de pessoas, e tenho sob orientação a Dra. Lydia Maria Pinto Brito, que faz parte do corpo docente do Programa de Pós-Graduação da Universidade Potiguar. Neste contexto, estou pesquisando as ações e práticas socialmente responsáveis de todas as empresas premiadas pelo SESI nas fases regional e nacional nos anos de 2004 a 2008, todavia, o banco de dados que disponho se limita aos livros publicados pelo SESI com as boas práticas das empresas vencedoras. Desta forma, solicito maiores informações dos possíveis projetos, atividades, programas, etc., relacionados à responsabilidade social, principalmente quando voltadas para o público interno das empresas. Essas informações serão muito úteis para a pesquisa documental que está sendo iniciada, o que nos permitirá obter um panorama dessas ações em nível nacional, inclusive diferenciando as ações empresariais realizadas por região, por porte empresarial, dentre outras perspectivas. Desde já me disponho a esclarecer quaisquer dúvidas a respeito dessa pesquisa e agradeço antecipadamente as informações disponibilizadas para a realização do estudo. Danilo Cortez Gomes – Mat. 200848648 Dra. Lydia Maria Pinto Brito