A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CORPO ENFERMO EM UMA ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA Jéssica Castilho (ICV - UNICENTRO), Marcia Regina Frossard (ICV - UNICENTRO), José Ronaldo Mendonça Fassheber (Orientador – DEDUF –UNICENTRO), e-mail: [email protected] Palavras chaves: corpo, doença, sociedade. Resumo: Um dos temas mais caros da Antropologia da saúde trata da construção social do corpo enfermo considerando a experiência do doente no curso da própria doença e as redes de significados estabelecidas. Constatando que o indivíduo constrói e internaliza a realidade que o cerca durante o processo de socialização. A doença não é, assim, um estado estático e sim um processo que requer interpretação, implicando numa negociação de significados na busca da cura. Introdução O presente trabalho refere-se à proposta de pesquisa de iniciação científica voluntária e que têm como objetivos refletir teoricamente sobre os processos de adoecimento e sua repercussão no corpo doente. Tem também como objetivo identificar a produção teórico-metodológica sobre a temática proposta à luz das teorias Antropologia do Corpo e da Saúde; analisar as negociações dos atores sociais ante o Itinerário Terapêutico na experiência da dor crônica e; analisar o papel das famílias e das relações de gênero nas negociações em saúde. Materiais e Métodos Para esta pesquisa, será realizado um levantamento bibliográfico sobre itinerário terapêutico e sobre as relações de gênero do ponto de vista antropológico. Estabeleceremos um mapeamento de grupos de pesquisa em antropologia da saúde e do corpo e de suas respectivas produções, com análise qualitativa do material teórico coletado. Resultados e Discussão Em leituras iniciadas em abril de 2007, pode-se constatar que o corpo individual não é apenas um receptáculo de processos biofisiológicos, mas um reflexo das articulações dos significados sociais. Portando a interpretação da doença não se faz apenas com base nas sensações fisiológicas, mas com toda a história e contexto de vida do doente (GOOD, 1994). Dessa maneira, há uma tendência não só na antropologia, mas também nas ciências médicas de reconhecer que a divisão cartesiana entre o corpo e a mente não é um modelo satisfatório para entender os processos psicofisiológicos de saúde e doença. Não podemos compreender as reações das pessoas à doença, morte ou outros infortúnios sem compreender o tipo de cultura em que foram educadas ou assimilaram por convivência. Além do estudo da cultura, é necessário também examinar a organização social de saúde e doença. Isso inclui as formas com que as pessoas são reconhecidas como “doentes”, o modo como apresentam a doença ao médico e a outras pessoas e as formas com que a doença é tratada. E para este estudo utiliza-se da Antropologia Médica que possui uma ligação com a Medicina e com outras ciências naturais, por ocupar-se com fênomenos biológicos, especialmente no que se refere à saúde e à doença. A Antropologia Médica trata de como as pessoas, nas diferentes culturas e grupos sociais, explicam as causas das doenças, os tipos de tratamentos em que acreditam e a quem recorrem quando ficam doentes. Também é o estudo de como essas crenças e práticas estão relacionadas com as mudanças biológicas e psicológicas no organismo humano, tanto na saúde quanto na doença (HELMAN, 1994). Segundo a Antropologia da Saúde, a doença é mais bem entendida como um processo subjetivo construído através de contextos sócio-culturais (LANGDON, 1997). Considerando, então que a doença extraplora o corpo e é socialmente (re) elaborada, não há como não remeter às dolorosas sensações físicas e psicológicas, como tratamentos agressivos e cirurgias mutilantes que muitas vezes trazem significado a vida do paciente. Eles experimentam continuidade e descontinuidade, de incertezas (principalmente da cura), estigmas e medo da morte, caracterizando tudo isso mudança e ruptura. A construção do modelo médico na elaboração dos cuidados de saúde baseia-se em um referencial positivista, procura verdades passíveis de comprovação e afasta do processo disruptivo tudo aquilo que não faz parte do biológico ou que não está devidamente classificado dentro de seu referencial. A biomedicina separa evidências objetivas de doença, através de sinais físicos e testes laboratoriais, do discurso subjetivo do paciente sobre sua doença, atribuindo credibilidade distintas as duas fontes de informação e, muitas vezes, deslegitimando a queixa do paciente. Opondo-se ao modelo médico, identifica-se o modelo popular que não necessita de uma comprovação, mas sim de uma explicação, de um sentido para a doença. Deste modo, tanto as representações dos pacientes como as representações médicas são constituídas de saberes apropriados de ambos os pólos. Os significados da dor ou doença podem ser entendidos diferentemente entre médicos e pacientes quanto à localização e intensidade dos sintomas e quanto à natureza das enfermidades e das demais representações do corpo. Por esta razão, a leitura que o indivíduo faz de seus processos internos não pode ser considerada menos legítima que a leitura da biomedicina (FASSHEBER, 2000). Como conseqüência, é comum que as pessoas busquem ajuda terapêutica em diversas agências de cura, consultando médicos, mas também terapeutas religiosos até que seja compreendido. Parte da dificuldade encontrada pelos médicos na relação terapêutica devese ao fato de que o objetivo terapêutico e intervir no processo da doença, visando à cura da patologia sem considerar sua dimensão subjetiva. Já as práticas terapêuticas populares e religiosas geralmente centram seus esforços na busca do sentido da doença para o paciente, atuando sobre a enfermidade. Seria importante que os profissionais de saúde conhecessem mais profundamente o contexto sócio-cultural em que estão inseridos seus pacientes e estivessem mais atentos a como diferenças na linguagem, representações e códigos de leitura do corpo se refletem encontro terapêutico. Desenvolvendo assim maior sensibilidade na sua atuação junto à população melhorando a qualidade do tratamento e das ações de educação em saúde. Através de levantamentos bibliográficos, observou-se também que o significado da doença e o das práticas médicas são pensados e repensados a partir de valores negociados, numa troca recíproca de informações, olhares, diagnóstico, emoções, e enfim, de uma vivência dentro e fora do hospital (LEAL 1995). Não tendo ainda todos os resultados sobre a pesquisa, espera-se fazer um amplo levantamento bibliográfico obtendo assim todos os objetivos propostos. Conclusões De acordo com as reflexões apresentadas até o momento, o estudo sobre a doença exige um olhar reflexivo sobre as relações entre o corpo e a sociedade, i.e., analisando a construção social do corpo pode-se compreender melhor a doença. Assim, a doença é considerada um processo subjetivo que requer interpretação dos sintomas na busca da cura. E esta “busca da cura” é feita pelas práticas médicas e pelas práticas populares, cada uma utilizando-se de seus saberes apropriados sem que nenhum deles ocupe espaço predominante. Sendo assim, não se trata de atestar o conhecimento ou as eficácias médicas, mas sim de perceber a autonomia das culturas populares no que se refere à saúde ou à doença como discurso social que recebe leituras diversas pelos diversos sujeitos sociais. Referências FASSHEBER, J. R. M. O corpo em negociação com os sistemas médicos: por uma Antropologia da Saúde e do Corpo. Trabalho Científico apresentado ao Congresso Mundial de Educação Física, Desporto e Lazer. Foz do Iguaçu, 2000. GOOD, B J. Medicine, rationality, and experience an anthropological perspective. New York, Cambridge University Press, 1994. HELMAN, C. G. Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda., 1994 LEAL, O. F. (org.) Corpo e Significado: ensaios de antropologia social. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1995. LANGDON, E.J. Doença como experiência: A construção da doença e seu desafio para a prática médica. Caderno de Primeira Mão, Florianópolis: UFSC, 1997.