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1
UNIVERSIDADE FEEVALE
FERNANDA RIBEIRO
O JAZZ E A MODA NO BRASIL: ALGUMAS REFLEXÕES
Novo Hamburgo
2010
2
FERNANDA RIBEIRO
O JAZZ E A MODA NO BRASIL: ALGUMAS REFLEXÕES
Trabalho de conclusão de Curso,
apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Design
de Moda e Tecnologia pela Universidade
Feevale
Orientadora: Prof. Dra. Claudia Schemes
Novo Hamburgo
2010
3
FERNANDA RIBEIRO
Trabalho de Conclusão do curso de Design de Moda e Tecnologia, com título O jazz
e a moda no Brasil: algumas reflexões submetido ao corpo docente da Universidade
Feevale, como requisito necessário para obtenção do grau de Bacharel em Design
de Moda e Tecnologia,
Aprovado por:
_______________________________________
Prof. Dra. Claudia Schemes (Orientadora)
_______________________________________
Prof. Esp. Ida Helena Thön (Banca Examinadora)
_______________________________________
Prof. Dra. Gisele Becker (Banca Examinadora)
Novo Hamburgo, 10 de junho 2010.
4
DEDICATÓRIA
À minha família e aos meus amigos que
me
motivaram
e
me
apoiaram.
5
AGRADECIMENTOS
[...] a vocês, que renunciaram seus
sonhos para que eu pudesse realizar os
meus,
fica o meu mais sincero e humilde
obrigado
6
“[...] Se você tiver que perguntar, você
nunca saberá. [...]”
Louis Armstrong
7
RESUMO
Este trabalho, através de revisão bibliográfica, de entrevistas e de análise, tem como
temática o jazz, sua história e sua relação com a moda, especificamente, dos anos
20 a moda atual, compreendendo os músicos deste estilo em Porto Alegre, no
século XXI.
Busca demonstrar que a moda vai além da questão material e da
produção do vestuário, relacionando-a ao social e a cultura como um todo, que
engloba todas as artes, em especial a música, reflete as transformações ao longo do
período estudado, contemplando a história deste ritmo desde seu nascimento. A
trajetória e as transformações da moda são registradas, apresentado-se sua história,
para que se pudesse perceber as referências que perduraram e que ainda se fazem
presentes no vestuário dos que atuam nesta área musical. Demonstra, através das
entrevistas e de sua análise, feita com músicos atuantes no Rio Grande do Sul as
mudanças e o legado que ainda se faz presente nas bandas atuais
.
Palavras-chave: música; jazz; moda anos 20.
8
ABSTRACT
This work, through bibliographical revision, of interviews and analysis, has as
thematic the jazz, its history and its relation with the fashion, specifically, of 20 years
the current fashion, understanding the musicians of this style in Porto Alegre, in
century XXI. Search to demonstrate that the fashion goes beyond the material
question and of the production of clothes, relating it social and the culture to it as a
whole, that encompasses all the arts, in special music, reflects the transformations
throughout the studied period, contemplating the history of this rhythm since its birth.
The trajectory and the transformations of the fashion are registered, presented its
history, so that if it could perceive the references that had lasted and that still gifts in
the clothes become of that they act in this musical area. It demonstrates, through the
interviews and of its analysis, made with operating musicians in the Rio Grande Do
Sul the changes and the legacy that still becomes gift in the current bands
Key words: fashion, jazz, music, black, fashion, music and blacks
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Banda Original Dixieland Jazz Band .......... Error! Bookmark not defined.
Figura 2 – Louis Armstrong ......................................... Error! Bookmark not defined.
Figura 3 – Bix Beiderbecke.......................................... Error! Bookmark not defined.
Figura 4 – Jelly Roll Morton ......................................... Error! Bookmark not defined.
Figura 5 – Billie Holiday ............................................... Error! Bookmark not defined.
Figura 6 – Bud Powell.................................................. Error! Bookmark not defined.
Figura 7 – Maxwell Lemuel Roach .............................. Error! Bookmark not defined.
Figura 8 – Miles Davis ................................................. Error! Bookmark not defined.
Figura 9 – Josephine Baker ......................................... Error! Bookmark not defined.
Figura 10 – Mulher em 1920........................................ Error! Bookmark not defined.
Figura 11 – Mulher em 1920........................................ Error! Bookmark not defined.
Figura 12 – Traje completo de Louis Armstrong .......... Error! Bookmark not defined.
Figura 13 – Traje completo masculino (2010) ............. Error! Bookmark not defined.
Figura 14 – Desfile da marca Tessuti .......................... Error! Bookmark not defined.
Figura 15 – Chapéu feminino ...................................... Error! Bookmark not defined.
Figura 16 – Chapéus usados na atualidade ................ Error! Bookmark not defined.
Figura 17 – Adorno de cabeça feminino em Billie Holiday......... Error! Bookmark not
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Figura 18 – Adornos usados atualmente ..................... Error! Bookmark not defined.
Figura 19 – Sapatos masculino e feminino dos anos 20 ........... Error! Bookmark not
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Figura 20 – Sapato Melissa, releitura atual ................. Error! Bookmark not defined.
Figura 21 – Sapato feminino atual ............................... Error! Bookmark not defined.
Figura 22 – Tonalidades claras das roupas na década de 2010 Error! Bookmark not
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Figura 23 – Tonalidades escuras das roupas na década de 20 Error! Bookmark not
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Figura 24 – Tonalidades neutras na passarela inspirados na década de 20 ...... Error!
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Figura 25 – Pérolas Falsas são tendências no inverno 2010 .... Error! Bookmark not
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Figura 26 – Estilo retrô ................................................ Error! Bookmark not defined.
10
Figura 27 – Músicos da Banda RM Eliezer e Filipe (Direita e Esquerda) ........... Error!
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Figura 28 – Músico Eliezer Santos .............................. Error! Bookmark not defined.
Figura 29 – Músico Filipe Batista da Silva ................... Error! Bookmark not defined.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11
1 UMA BREVE HISTÓRIA DO JAZZ ....................................................................... 13
1.1 AS TRANFORMAÇÔES DOS ESTILOS DO JAZZ ............................................ 17
1.2 OS PRINCIPAIS NOMES DO JAZZ ................................................................... 20
2 AS INFLUÊNCIAS DO JAZZ E DOS ANOS 20 NA MODA DO SÉCULO XXI ..... 26
3 A INDUMENTÁRIA DO JAZZ NA ATUALIDADE ................................................. 40
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 48
11
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como temática as influências do jazz e da moda dos anos
20 na moda atual e nos músicos de jazz de Porto Alegre no século XXI.
Nosso problema de pesquisa é: o estilo musical do jazz e a moda dos anos 20
influenciaram a moda atual e os músicos de jazz de Porto Alegre? Temos como
hipótese que se o jazz e a moda dos anos 20 influenciam a moda atual, então os
músicos de jazz de Porto Alegre também sofreram essa influência.
Esta temática se justifica na medida em que esta área de estudo ainda é
explorada de maneira restrita. Este trabalho monográfico ainda se justifica pelo fato
do jazz ser um estilo musical consagrado mundialmente, e que teve grande
importância e influência na moda, principalmente nos anos 20, sendo, considerado,
inclusive, como a “era do jazz”.
Aliado a essas questões existe um interesse pessoal da autora dessa
pesquisa em função da mesma ter uma relação próxima a muitos músicos desse
estilo musical, o que possibilitou algumas reflexões a respeito do seu modo de vestir
e das possíveis influências que essas pessoas poderiam ter recebido.
Este estudo ainda contribui no sentido de que outorga o significado da moda
como além da questão material e de produção de vestuário e que busca relacionar o
fenômeno da moda às questões sociais e de caracterização de um grupo ou cultura.
Concordando com o sentido de moda como “[...] um elemento que reflete as
transformações socioculturais da sociedade, [...] revela hábitos, comportamento,
posições sociais e gostos de uma determinada época” (RAINHO, 2002, p.12).
Em outras palavras, “[...] moda não é simples vestimenta. Ela é o signo das
formas de expressão que se mostram também em outros domínios” (NERY, 2003,
p.9). Portanto, o modo de vestir, ou a indumentária1 dos músicos do jazz estão
inseridos nesse conceito mais amplo de moda enquanto forma de comunicação e
manifestação cultural.
Conforme Lurie (1997), por milhares de anos os seres humanos tem se
comunicado através da sua vestimenta. Para a autora, antes de se aproximar de
1
Entendemos indumentária como “conjunto de roupas usadas pela humanidade em vários períodos
da história”, ou seja, é todo o vestuário em relação a uma determinada época e povo. Fonte:
http://manequim.abril.com.br/moda/dicionario-da-moda/?bl_=i.
12
uma pessoa na rua, ou em uma festa, você comunica seu sexo, idade e classe
social através do que está vestindo e fornece uma informação. Esta pode ser falsa
ou verdadeira, em relação ao seu trabalho, origem, personalidade, opiniões, gostos,
desejos sexuais e até de humor daquele momento.
Partindo dessas concepções, estabelecem-se os objetivos gerais desta
pesquisa no sentido de identificar as influências dos músicos de jazz e da moda dos
anos 20 na moda atual, bem como, analisar a indumentária dos músicos desse estilo
em Porto Alegre. Como objetivos específicos, este trabalho busca resgatar a história
do jazz e da moda dos anos 20; identificar os estilos musicais derivados do jazz;
identificar os principais músicos desse estilo; conceituar jazz; relacionar o jazz com a
moda dos anos 20; comparar a moda atual com a moda dos anos 20 e, por fim,
identificar a analisar a indumentária dos músicos de jazz em Porto Alegre.
A metodologia de pesquisa utilizada, quanto aos objetivos, será exploratória,
pois buscaremos todas as informações que consideramos importantes sobre o
assunto para facilitar a delimitação temática, definir objetivos e formular problemas e
hipóteses de trabalho. Quanto ao objeto, será uma pesquisa bibliográfica, na qual
utilizaremos principalmente livros e sites sobre a história do jazz e história da moda.
Finalmente, utilizamos uma pesquisa de campo, na qual efetuamos entrevistas com
músicos de jazz de uma banda de Porto Alegre.
Este trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro será realizado um
histórico sobre o jazz, sobre o seu surgimento, os principais estilos e músicos.
O segundo capítulo terá como objetivo principal apresentar um histórico sobre
a moda nos anos 20 e sua relação com o estilo musical analisado, o jazz. Também
se buscará identificar os elementos da moda atual que podem ter sido influenciados
pela moda dos anos 20 e/ou pelo jazz.
Por fim, no terceiro capítulo será realizado um estudo de caso com uma
banda de jazz gaúcha, procurando observar, principalmente, suas roupas e analisar
os motivos que levam esses músicos a utilizar determinada indumentária.
13
1 UMA BREVE HISTÓRIA DO JAZZ
Acredita-se que a criação do jazz se deu por volta do século XIX e teve como
base a musicalidade dos escravos, pois suas primeiras influências vêm dos
tambores tribais e das práticas musicais africanas, sendo que estas sonoridades
foram trazidas pelos negros da África para os Estados Unidos.
Os escravos possuíam dois tipos de canto de trabalho: o espiritual e o do
campo, que influenciaram na cultura da época, criando um novo modo de
comunicação e expressão de sentimentos. Assim que os negros estadunidenses
foram convertidos ao cristianismo pelos seus senhores brancos da América, é
possível estabelecer um paralelo com a história de sofrimento dos hebreus,
incorporando em suas músicas o gospel e, mais tarde, o blues. (AGUIAR, 2001).
Rodrigues (1999), explica da seguinte forma esse paralelo:
A população negra valorizou e integrou sobretudo a mensagem do Antigo
Testamento havendo freqüentes referências ao paralelo entre o sofrimento
em cativeiro do povo hebreu na terra da servidão (Egito) com a situação de
escravatura e extrema pobreza em que os negros viviam. Esta identificação
dos negros com o povo hebreu é bem evidente nas referências à música
religiosa, cantada pelos negros (espiritual e gospel) [...] (RODRIGUES,1999,
p.53)
A Igreja foi a disseminadora deste fenômeno chamado jazz, sendo que a
incorporação de toda esta musicalidade era livremente expressa dentro delas. No
final do século XIX, com o processo abolicionista norte-americano já consolidado, os
ex-cativos eram vistos nas capelas professando sua fé e expressando a liberdade e
o sentimento, através da música espontânea e improvisada.
A língua inglesa foi a base do discurso e da canção negra nos Estados
Unidos, onde é o ramo da poesia popular desde as baladas escocesas. Muito da
musica dos colonizadores brancos e pobres do sul, acabou fornecendo subsídio
para a criação do jazz. (HOBSBAWM, 2008).
Conforme Aguiar (2001), a forma mais importante de expressão da música
afro-americana eram as manifestações religiosas, na maioria das vezes ouvidas por
platéias brancas, o que hoje é conhecido como música gospel e se constitui como
um reflexo da importante carga emocional e rítmica dessas manifestações
primordiais.
Deste modo, os pastores evangélicos aproveitaram os escravos para
trabalhar na cristianização do povo e com a aceitação da doutrina cristã pelos
14
escravos, estes inovaram e acrescentaram às melodias religiosas características
harmônicas e rítmicas junto com o balanço da música negra.
Para Hobsbawm (2008), desde o começo o jazz falava sobre liberdade,
movimento e expressão individual. O seu rompimento com a música tradicional e a
ênfase no improviso e na inovação colocou-o como cenário das alterações culturais
e como influência na cultura internacional atual.
Rodrigues (1999), explica como as melodias religiosas foram incorporadas
nos cultos dos negros norte-americanos:
À medida que a leitura (da bíblia) progride, o pastor, apoiado pelas
exclamações de aprovação dos crentes, começa a cantar a leitura bíblica
1
numa frase melódica repetitiva que inclui o blue note [...]. O pastor seguido
pela congregação canta o hino com um estilo bem diferente do que seria
este hino cantado, por exemplo, em uma igreja católica (RODRIGUES,1999,
p.55).
A herança musical misturou-se com a música local, gerando muito mais que
um novo estilo, mas sim uma forma de expressão através da musica. Desta forma
ganhou peso cultural maior, considerando que a atividade musical entre os escravos
era proibida na época.
O jazz teve seu começo nas ruas de New Orleans, que é a mais populosa
cidade do Estado norte-americano de Louisiana. Caracteriza-se por ser uma cidade
portuária povoada por brancos, afro-americanos, nativos americanos, asiáticos,
islandeses do Pacífico, entre outros, configurando-se como um grande cadinho
étnico (AGUIAR, 2001).
Nas ruas de New Orleans ouviam-se sonoridades diferenciadas, como blues,
spiritials2, shouts3, ritmos africanos, ópera ritmos caribenhos, folk songs 4e ragtime5.
No bairro boêmio de Storyville, onde a prostituição foi legalizada de 1897 a 1917, os
pequenos bares, que recebam o nome de honk tonks, eram palco para que todos
esses elementos musicais que circulavam na atmosfera altamente musical de New
1
Blue note é a característica musical resultante de um caráter lamentatório à música negra, podendo
considera-se que tenha surgido como conseqüência da dureza do trabalho nos campos. Fonte:
www.musicaeadoracao.com.br. Acesso em: 12 abr. 2010
2
O spiritual é o nome que se dá a música cantada por um líder e respondida por um coro, como em
canções folclóricas africanas. Fonte: http://vaimetocaumblues.blogspot.com Acesso em: 12 abr. 2010
3
Shout ou dança sagrada dos negros. Fonte: www.musicaeadoracao.com.br Acesso em: 12 abr.
2010
4
Folk Songs é um tipo de música folclórica Fonte: www.musicaeadoracao.com.br Acesso em 12 abr.
2010
5
Ragtime é um ritmo semelhante ao ritmo de uma marcha de salão. Fonte:
www.100anosdemusica.com.br. Acesso em: 12 abr. 2010
15
Orleans se cruzassem, e o jazz era apreciado abertamente, bem como no Congo
Square – certamente o nome deva-se pela evidente alusão a uma das nações
africanas que mais enviou cativos para os EUA – praça em que os escravos
dançavam e cantavam. (BERENDT,1975).
O que se sabe, com relatos de músicos que tocaram e ouviram a música de
New Orleans, é que o jazz da atualidade nada tem a ver com a música daquele
período. Este jazz, segundo estes relatos, era uma música diferente de qualquer das
músicas que o influenciaram distinguindo-se pela linguagem instrumental, técnica,
improvisação e também pelos temas originais. (BERENDT,1975).
Este estilo pode ser denominado como Traditional Jazz ou New Orleans Jazz,
pois foi nesta cidade em que aconteceu o nascimento e a expansão da música que
podemos escutar na atualidade. No início do século XX, a capital da Louisiana já
possuía certos ares cosmopolitas, com grande circulação de pessoas de diferentes
grupos étnicos que podiam conviver e comunicar-se com relativa facilidade, o que
desembocou no nascimento de uma nova e rica cultura musical, contendo
elementos franceses, alemães, espanhóis, irlandeses e africanos (RODRIGUES,
1999).
Inicialmente, o jazz era ouvido em eventos sociais como bailes, piqueniques,
inaugurações, aniversários, casamentos e em desfiles fúnebres. Os músicos destas
bandas eram, em sua maioria, artesãos que se dedicavam à música em feriados e
finais de semana para aumentar sua renda.
Levando em consideração essa diversidade de influências, é bastante difícil
definir com exatidão o que é o ritmo musical denominado jazz, já que sua principal
característica é a improvisação.
Uma linha de pensamento acerca deste tema, por exemplo, assevera que o
jazz não se configura pelo que se toca, e sim pelo modo como é tocado (BERENDT,
1975).
Uma das variações do jazz mais conhecidas é o estilo musical denominado
blues, que surgiu nos Estados Unidos no início do século XX, como um ritmo dos
trabalhadores negros. O blues, no entanto, possuía maior liberdade harmônica nos
acordes e eram canções tristes e sofridas, que lembravam os lamentos dos escravos
no
cativeiro,
caracterizando-se
(RODRIGUES,1999).
por
uma
estrutura
musical
mais
simples
16
A definição dada pelo cantor Miles Davis sobre o jazz é uma das mais aceitas,
dentre todas que podem ser encontradas na literatura a respeito deste tema. O
cantor dizia que o jazz é uma música de quinze milhões de pessoas negras
lamentando sua dor, e que nasceu como um código musical que procurava unir um
povo dizimado, humilhado, explorado e, após a abolição, foi abandonado à sorte
pelos antigos senhores brancos. Um povo que, apesar de tudo, precisava dançar,
sorrir, relaxar, amar, experimentar e criar (BERENDT, 1975).
Apesar da quase totalidade desse movimento musical ser composto por
negros e mulatos, é certo que esta música, proveniente da fusão e síntese de tantas
outras, chegou e entusiasmou membros da comunidade branca.
A primeira banda a gravar música que pode ser considerada como jazz se
chamava Original Dixieland Jazz Band, liderada por Nick LaRocca, que gravaram
em Chicago no ano de 1917 (RODRIGUES,1999).
Figura 1 – Banda Original Dixieland Jazz Band
Fonte: (www.odjb.com/imagec)
Observa-se na imagem anterior que a banda era composta por cinco músicos
brancos e não era porque o estatudo social dos negros que dificultava o acesso as
gravações dos músicos , estatuto este construído, sobretudo, dentro da comunidade
negra e crioula de New Orleans, onde ali o que prevalecia eram músicos de cor.
Portanto o acesso a músicos de jazz brancos era maior na cidade de Chicago e
Nova York, tornando as gravações de mais fácil acesso, por isso a primeira banda
de
jazz
é
de
músicos
brancos,
pois
eles
tiveram
mais
oportunidades.
(RODRIGUES,1999)
O problema do racismo sempre esteve presente nas bandas e músicos do
jazz. Durante muitos anos, músicos brancos não tocavam com negros e em
orquestras negras brancos não tocavam, mesmo com a progressivo sucesso deste
ritmo. Louis Armstrong, por exemplo, tocou em Atlanta no início dos anos 1940 num
auditório em que brancos e negros estavam separados por uma rede de galinheiro.
O mesmo cantor, considerado um dos maiores trompetistas do mundo, tinha sua
presença recusada em casas de banho e hotéis.
Entretanto, se por um lado havia o problema do racismo, por outro, o jazz foi o
precursor em melhorar a convivência entre culturas e etnias, de forma que brancos e
negros por vezes subiam ao palco juntos, numa época em que negros não podiam
sentar ao lado de um branco em um ônibus, por exemplo, ou não podiam entrar em
restaurantes pela porta da frente.
1.1 AS TRANFORMAÇÔES DOS ESTILOS DO JAZZ
Por volta do final dos anos 1910 e início dos 1920, o jazz não se limitou a
New Orleans, pois este estilo musical também encontrou ressonância na cidade de
New York e Chicago. Conhecido como um ritmo musical de New Orleans é
caracterizado por ser uma sonoridade moderna, se diferenciado do blues arcaico,
pois o swing e solos improvisados deste ritmo musical é sua principal característica.
Segundo Rodrigues (1999, p.49) “o jazz tornou-se uma linguagem aplicável a
várias línguas: um estilo de interpretar ritmos, melodias das mais heterogêneas
proveniências”.
18
Nas primeiras apresentações de jazz, havia uma introdução musical para
chamamento dos pares para a pista de dança. A melodia era então tocada em ritmo
de valsa, depois de polca até finalmente surgir com o ritmo e estruturado do que é
conhecido atualmente por Tiger Rag. (RODRIGUES,1999).
Na década de 1920, quando o jazz era um estilo musical popular e
consolidado, três personalidades marcantes por seu estilo e genialidade, eram de
etnias diferentes: o negro Louis Armstrong, o branco Bix Beiderbecke e o mulato
Jelly Roll Morton. Músicos com diferentes personalidades que apesar de diferentes
etnias e antecedentes, conheceram-se, se ouviram e se admiraram, aprenderam uns
com os outros, respeitando os seus saberes sem preconceitos.
Ao final dos anos 1910 início dos 1920, em New Orleans, o pioneiro a tocar o
jazz foi King Oliver que, com sua banda, destacou Louis Armstrong, conhecido como
a “personificação do jazz” (BERENDT, 1975).
Os anos 1930 constituiram-se como o marco fundante do swing, o ritmo mais
popular do jazz, musicalmente caracterizado por arranjos marcantes, dançante e de
extrema qualidade técnica, agradando multidões durante a época da guerra. Assim,
a década de 1930 foi primordial para a formação de músicos que desenvolveram
estilos peculiares, próprios, estabelecendo, assim, novas linhas do jazz da era do
swing, um dos artistas de destaque deste estilo foi Duke Ellington. (Ibidem).
Em 1945 iniciou-se a caracterização de um estilo musical oposto ao swing, o
bebop, que é a música baseada em frases cantadas freneticamente, com técnicas
instrumentais muito desenvolvidas e figuras rítmicas complexas, fazendo menos
concessões ao agosto popular, cito um dos artistas mais importantes Charlie Parker
(Ibidem).
Já o latin-jazz, que surgiu por volta de 1947 e 1948, é a fusão do jazz com
música afro-cubana, tornando-se assim um dos gêneros de música latina mais
populares. Este estilo musical possui contornos elaborados, ritmos dançantes,
incorporando elementos avançados e dinâmicos do jazz moderno (Ibidem).
A partir dos anos 1950 da assunção do movimento bepop revisto,
radicalizado, nasce outra variação do jazz, chamado hard pop, onde o ritmo ganha
agressividade.
Ainda em 1950, como resposta à agressividade do bebop e o hard pop, o cool
jazz nasceu introspectivo e contido, uma espécie de jazz frio, sem swing ou alma,
um gênero intelectualizado do jazz. Encontrava-se nas gravações cool, ritmos
19
intensos, ágeis, dominando a década de 50. Derivado do estilo Cool surgiu o West
Cost Jazz ou Los Angeles Jazz, principalmente tocado em Los Angeles pelos
músicos que trabalhavam nos estúdios de Hollywood (BERENDT,1975).
Já a fusão, em 1957, entre a música clássica erudita e o jazz, tornou-se
conhecida como Third Stream ou terceira corrente, reunindo características de
ambos os estilos musicais.
Tal crescimento deste estilo nos anos 1950 fez os
críticos acharem que o futuro do jazz estaria nessa fusão, mas o surgimento de
novas fusões vigorosas freou esse desenvolvimento. (Ibidem).
No início da década de 1960 surgiu o free jazz, valendo-se da improvisação
coletiva, com músicos livres para criar e não presos a nenhum tema. Era um estilo
que possuía uma estrutura tão livre que por vezes se tornava de difícil apreciação.
Na virada dos anos 1960 para os 1970 nasceu o jazz-rock, fusão do jazz com
o rock, como o próprio nome já diz, o qual foi constituído por obras inovadoras e
vigorosas (Ibidem).
Ainda dos anos 1970, veio à tona o jazz brasileiro, com combinações de
vários gêneros do jazz e de outros ritmos, como o samba, o frevo, o xote, a bossa
nova entre outros (Ibidem).
A caracterização do jazz brasileiro não é fechada, pois é uma junção de
vários artistas e seus modos de compor sua música, tornando-se um ritmo impreciso
e com diferenciações, que nada mais é um som com improvisações. A
caracterização rítmica vem da mistura de piano, violão e percussão e possui um foco
musical e frases definidas, com uma harmonia centrada, de grande efeito e com
humor (Ibidem).
No final dos 1970 e 1980, sob nome Fusion, surge um gênero com sucesso
comercial, mas controverso entre os amantes do jazz tradicional que possuem uma
estrita concepção do ”jazz de raiz” que é, composto por uma linha de frente por
trompete, clarinete e trombone e a seção rítmica composta por piano, guitarra, além
de tuba e guitarra. Esse é o movimento de aproximação do rock com a música pop e
mais comercial, usando instrumentos eletrônicos e perdendo o swing jazzístico para
dar lugar a ritmos “quadrados” e óbvios, que sintetiza um ritmo clássico do jazz, com
notas precisas e previsíveis. (Ibidem).
Levando em consideração esse breve histórico do jazz e seus estilos
derivados, percebemos que esse ritmo se espalhou pelo mundo, baseando-se em
culturas musicais locais, nacionais e regionais, possuindo, dessa forma, uma
20
estética adaptada por vários ambientes que possibilitaram a origem de distintos
estilos.
1.2 OS PRINCIPAIS NOMES DO JAZZ
Vários foram os músicos do jazz que se destacaram na história da música
mundial, entretanto, foram selecionados alguns dos mais conhecidos para
realizarmos um breve histórico de suas vidas e carreiras. Dentre eles, podemos citar:
Figura 2 – Louis Armstrong
Fonte: (https://connections-jazzage.wikispaces.com)
As imagens ilustradas, tem o intuíto de observar a vestimenta dos cantores de
jazz.
- Louis Armstrong nasceu em Storyville, distrito de New Orleans. O artista
viveu uma infância de muita pobreza e necessidades, pois seu pai abandonou a
família assim que Louis nasceu.
Sua estréia como líder musical foi em 12 de novembro de 1925, e nos anos
seguintes gravou muito com os Hot Five e os Hot Seven.
Já nas décadas de 1950 e 1960, o artista, além de suas turnês musicais,
também se aventurou no cinema. Em toda sua carreira demonstrou uma
personalidade carismática, tanto musical quanto humanística. Trabalhou até seus
últimos dias e morreu em sua casa na cidade de Nova York, dormindo, em 6 de julho
de 1971 (BERENDT, 1975).
21
Figura 3 – Bix Beiderbecke
Fonte: (https://connections-jazzage.wikispaces.com)
Bix Beiderbecke nasceu em Davenport, Iowa em 10 de março de 1903.
Músico branco de família rica de Chicago foi autodidata no aprendizado de tocar
corneta, mestre pela delicadeza, inspiração e complexidade de sua música, mas,
infelizmente por conta do alcoolismo, seus últimos dias foram tristes, pois o músico,
descontente com a falta de trabalho e dinheiro, passou a comer pouco e beber
muito. Debilitado, morreu de pneumonia, com apenas 28 anos, em 6 de agosto de
1931 (RODRIGUES,1999).
Figura 4 – Jelly Roll Morton
Fonte: (https://connections-jazzage.wikispaces.com)
Jelly Roll Morton nasceu no dia 20 de outubro de 1890 em Gulfport, Lousiana.
Era um músico mulato que iniciou como pianista em bordéis de New Orleans.
Homem de vida conturbada com jogos, era um pianista único em toda história do
Jazz ragtime, desenvolveu harmonias complexas e melodias inspiradoras. Tinha o
domínio do instrumento e muita sensibilidade para a orquestração. Fazia parte de
Vaudeville, gênero de múltiplos entretenimentos artísticos, fez um tour por Chicago e
Nova York com sua banda chamada Jelly Roll Blues, quando compôs, por volta de
1905, o que foi considerado o primeiro arranjo de jazz, sendo este publicado
somente em 1915. Apresentando a alguns músicos locais este arranjo, estes
22
disseram que havia sido desenvolvido um novo estilo quente de tocar ragtime, que
seria o próprio jazz. Terminou seus dias como motorista de taxi em Nova York e, no
dia 10 de julho de 1941, morreu por insuficiência cardíaca (HOBSBAWM, 2008).
Figura 5 – Billie Holiday
Fonte: (http://www.sonymusic.com)
Billie Holliday, chamada pelos fãs como a Lady Day do Jazz, nasceu em 1915
na cidade de Filadélfia e foi a maior e mais conhecida cantora de jazz. Com sua voz
levemente rouca, flexível e com personalidade, imortalizou-se cantando músicas de
baladas elegantes e despojadas.
A cantora teve uma juventude difícil e uma vida pessoal atribulada, trazendo
desgaste à sua voz nos últimos anos de sua carreira, no entanto, nunca perdeu sua
expressão única. Billie Holiday publicou sua autobiografia em 1956 Lady Sings the
Blues, a partir da qual foi feito um filme, em 1972, tendo Diana Ross no papel
principal. Uma das maiores jazzistas norte-americanas faleceu na cidade de Nova
York, em virtude de uma overdose, em 17 de julho de 1959 (BERENDT,1975).
23
Figura 6 – Bud Powell
Fonte: (http://www.planete-jazz.com)
Earl Rudolph "Bud" Powell nasceu em 1924 em Nova York. O artista foi um
garoto prodígio, pois começou a tocar aos cinco anos de idade e com sete já era
levado por músicos de jazz a concertos para ser observado pelo público e por outros
músicos. Teve uma infância e adolescência difícil, mas seu dom para a música era
indiscutível.
Por volta dos 20 anos, em uma briga, foi atingido por um policial com várias
pancadas na cabeça, resultando em dores de cabeça constantes e trazendo para o
artista dificuldade de memória. Não bastando isso, anos mais tarde, após ser preso
por porte de drogas, foi enviado para clínicas psiquiátricas, onde recebia sessões de
eletro choque, afetando ainda mais sua memória e desempenho musical. Morou por
um longo período em Paris, mas acabou sua vida voltando para as ruas de Nova
York entregue às drogas e bebida. Morreu em 1966, aos 41 anos, de cirrose
hepática (BERENDT,1975).
24
Figura 7 – Maxwell Lemuel Roach
Fonte: (http://www.nndb.compesquisado)
- Maxwell Lemuel Roach, nasceu em 10 de janeiro de 1924 na cidade de
Newland, Carolina do Norte, filho de uma cantora gospel, começou a tocar bateria
aos dez anos e depois estudou na Manhattan School of Music. Com o sangue
musical familiar, Maxwell conseguiu tocar bateria no jazz com extrema audácia e
maturidade.
O músico colocou sua arte a serviço da questão dos direitos civis nos EUA,
das dificuldades do continente africano e da valorização da cultura e da música dos
países menos desenvolvidos. Pode-se dizer que Roach é um modelo de integridade
artística, profundidade intelectual e excelência técnica dentro do jazz moderno
(BERENDT,1975).
Figura 8 – Miles Davis
Fonte: (http://milesdavis.files.wordpress.com)
25
Miles Davis nasceu na cidade de Alton, Estados Unidos, no dia 26 de maio de
1926 e foi um dos mais influentes músicos do século XX. Como trompetista possuía
um som puro e claro, mas também uma incomum liberdade de articulação e altura.
Ele ficou conhecido por ter um registro baixo e minimalista de tocar, mas também
era capaz de conseguir alta complexidade e técnica com seu trompete. Morreu no
ano de 1991 (Ibidem).
Consideramos importante realizarmos esse breve histórico do jazz, seus
estilos e principais músicos, para podermos compreender melhor as relações
existentes entre moda e jazz.
No próximo capítulo faremos um histórico da moda nos anos 1920 e
procuraremos demonstrar de que forma a indumentária utilizadas pelos cantores do
estilo musical analisado influenciou na moda atual.
2 AS INFLUÊNCIAS DO JAZZ E DOS ANOS 20 NA MODA DO SÉCULO XXI
A década de 20 ficou conhecida na história da moda como os “anos loucos”, pois
este período foi marcado por mudanças importantes em todas as áreas, mas
principalmente na moda, onde o funcionalismo, simplificação e utilidade eram palavras
em voga à época. Os anos 1920 também ficaram conhecidos como a “Era do Jazz”, já
que esse estilo musical foi muito importante para a moda do período.
Foi uma década de prosperidade e liberdade, animada pelo som das Jazz-Bands
e pelo charme das melindrosas, as mulheres modernas da época, que frequentavam os
salões e traduziam em seu comportamento e modo de vestir o espírito da época
(DORFLES, 1984).
A juventude daquele período tomou a novidade como inspiração, abertos a
mudanças, as roupas deixaram de ser extravagantes, dando lugar a silhuetas largas,
deixando o corpo mais solto e à mostra.
Depois da Primeira Guerra Mundial, a moda sofreu transformações importantes,
trazendo à tona a juventude e sua euforia. As mulheres deixavam o espartilho e
passaram a usar curvas retas, os vestidos eram mais curtos, os braços ficaram a
mostra,
tornando-se
mais
livres.
Nesse
contexto,
as
mulheres
tornaram-se
independentes e consumidoras ativas, podendo ter livre escolha e também, a diversão
obteve prioridade para a vida das pessoas, tornando a dança importante para a
valorização da moda nesta época.
Os ritmos em evidência foram o charleston, o foxtrot e o jazz. Com isso, as
roupas precisaram se adaptar à nova onda (BRAGA, 2004).
Uma personalidade marcante da época foi Josephine Baker, que adaptou um
jeito inovador e excêntrico de dançar Jazz, baseando-se nos movimentos do
Charleston, vestida somente com uma pequena saia de penas ou bananas. Esse ritmo,
que provém da cidade homônima da Caroline do Norte, tendo como base movimentos
frenéticos (KONEMANN, 2000).
27
Figura 9 – Josephine Baker
Fonte: (http://static.open.salon.com)
Os vestidos que as mulheres usavam na época eram mais curtos, leves e
elegantes, com braços e costas à mostra para facilitar os movimentos. As meias eram
em
tons
de bege,
sugerindo pernas nuas
e
a
atenção
estava
toda
voltada
aos tornozelos (DORFLES, 1984).
Historiadores da moda sugeriram varias explicações para o fenômeno dos
anos 20. Alguns atribuíram à necessidade da espécie humana de manter
seu número; para compensar a perda de população na Primeira Guerra
Mundial. Segundo essa teoria, a moda feminina tinha de ser provocadora
sexualmente para impulsionar o índice de natalidade. (DORFLES, 1984, p.
87).
A silhueta curta e tubular da mulher tornou-se referência aos novos padrões
artísticos em vigência na época, o movimento de Art Déco, privilegiando as formas
geométricas. Aspectos esses influenciadores não somente no vestuário, mas
também nas jóias, que nessa época popularizou-se o uso de materiais
semipreciosos.
A diferenciação social nesta época foi quase nula através das roupas, pois se
uniformizou a indumentária da época com a aceitação das mulheres pelo novo.
Diferenciando-se somente o preço pelo tecido nas peças utilizadas, assim até a altacostura da época foi simplificada (BRAGA, 2004).
28
Figura 10 – Mulher em 1920
Fonte: (http://1.bp.blogspot.com)
Na década de 1920, é impossível não citar uma das maiores estilistas
existentes, Gabrielle “Coco” Chanel que, com sua personalidade marcante, trouxe
para as mulheres roupas elegantes e funcionais, mas sem perder a feminilidade.
Em 1926, criou o uniforme para as noites da nova mulher, que devia ser
elegante e desportiva como um jovem, cortar os grandes caracóis e vestir
saias com que pudessem saltar para um elétrico e dançar o charleston
tratava-se de um vestido em crepe-da-china preto, que a edição americana
da Vogue, por causa da sua funcionalidade democrática, definiu como o
Ford da moda (KÖNEMANN, 1999, p. 103).
Segundo Dorfles (1984), os vestidos assemelhavam-se a sacos curtos,
decotados e frequentemente sem mangas, já os chapéus encolheram, assumindo a
forma de sinos apertados e as curvas desapareceram, pois passou-se a admirar
uma silhueta “de menino”, achatada tanto na frente quanto atrás, com pernas longas
e finas.
As formas do vestuário pouco modificaram durante a década, entretanto os
tecidos e cores alteravam-se com freqüência. A maquiagem destacou a mulher da
época, com pó-de-arroz e batom vermelho nos lábios em forma de coração, com os
cílios acentuados e o cabelo era curto na altura do queixo, com corte à La garçonne
(BRAGA, 2004).
29
Figura 11 – Mulher em 1920
Fonte: (http://3.bp.blogspot.com)
Em relação ao sexo masculino, segundo Dorfles (1984), o homem ideal da
década de XX, através da publicidade e ilustrações de revistas da época, era magro e
mais jovem, com ombros mais estreitos e caídos, com nenhum ou pouco pêlo no rosto.
As roupas deixaram de ser desenhadas para ostentar, e sim com material mais leve, em
cores sóbrias. Os paletós eram mais curtos e ombros menos acolchoados.
No âmbito da âmbito da alta-sociedade, a roupa desempenha um papel
importante na expressão da cultura. Há uma roupa adequada para as
atividades à tarde e outra para noite. Há trajes para o casamento e outros
para recepção ao ar livre. Os homens usam um terno para os negócios e
outro para jantar. Onde a civilização atingiu seu ponto mais alto, a moda
atingiu seu desenvolvimento mais requintado. (DORFLES, 1984, p. 135)
A moda masculina obteve algumas novidades como o smoking para momentos
formais, o uso do tecido príncipe de gales, o colete cai de moda e surge o paletó com
abotoamento duplo chamado jaquetão.
O corte das roupas era no início era reto e com calças de cintura alta, mas com o
passar do tempo foi descendo, tornando a silhueta masculina mais elegante.
Os fatos mais usados na década de 20 eram que combinavam calças e
casaco de tecidos diferentes, mas condizentes, como por exemplo o fraque,
solene fato de dia, composto por casaco preto com uma fila de botões,
combinado com colete cinzento, uma gravata clara e calças às riscas, as
chamadas calças de fantasia. ((KONEMANN, 2000, p. 27)
30
Ao longo da década os casacos, tornaram-se mais leves, acinturados e com
pouco enchimento nos braços, mas ao final da década retornou a moda, de homens
mais fortes, trazendo assim de volta os enchimentos aos casacos. Havia também o
vestuário desportivo inspirado no tênis, que consistia em calças brancas e camisola de
malha, nunca sem camisa (KONEMANN, 2000).
Os cantores de Jazz em geral se vestiam bem, pois o ato de transmitir a música
era uma cerimônia, uma festa. Quando as pessoas se vestem para um compromisso
mais formal, elas, via de regra, utilizam a melhor roupa do armário, então, até hoje, para
estes músicos, o show é o ato de plenitude.
Os homens nunca saiam as ruas sem chapéu, e também nunca usavam
sobretudo sem luvas. Os sobretudos eram justos, com corte mais esportivo, e a lapela
variava conforme a moda, podendo ser mais estreita ou larga, ou então se fechava mais
abaixo ou acima. Essa peça de roupa, por vezes tinha peles no forro ou na gola para
aquecer e para acentuar a aparência de quem o usava (KONEMANN, 2000).
A moda masculina hoje retoma o bom gosto e a sofisticação de décadas
passadas. O homem atual redescobre sua maneira de vestir, buscando versatilidade e
elegância, o que nos remete ao estilo retrô da época do jazz.
Se observarmos o traje completo de Louis Armstrong e o traje completo de um
homem na atualidade, como é ilustrado na foto abaixo, podemos perceber as
semelhanças entre eles, ou seja, mesmo que não tenha sido uma influência direta, a
moda alinhada dos anos 1920 e dos cantores de jazz pode ter influenciado a moda
masculina de hoje.
31
Figura 12 – Traje completo de Louis Armstrong
Fonte: (http://cyberextazy.files.wordpress.com)
Figura 13 – Traje completo masculino (2010)
Fonte: (www.sarnotux.com)
Nos anos 1920, os vestidos encolheram e as mangas encurtaram, os tecidos
tornaram-se mais leves, propiciando os movimentos das mulheres. No entanto, na
atualidade, o jazz não influencia apenas a música instrumental, mas também a moda
e muitas coleções são inspiradas na liberdade feminina dos anos 20, que é parecida
com a liberdade da mulher do século XXI, ou seja, hoje a mulher também cumpre
seus afazeres durante o dia e à noite vai a festas.
Uma inspiração na década de 20 pode ser encontrada nos vestidos nas ruas
e nas passarelas, que também podem ter sido influenciados pela moda daquele
período e pela indumentária das cantoras do Jazz. Muitos estilistas relêem os anos
32
20 trazendo transparências, cetim e brilho, para os vestidos, decotes e mangas
comportadas, tornando uma mulher sensual, porém sem cair na vulgaridade, numa
retomada de valores de épocas passadas, como podemos ver no desfile de 2010 da
marca Tessuti.
Figura 14 – Desfile da marca Tessuti
Fonte: (http://2.bp.blogspot.com)
Outro elemento importante da indumentária dos anos 20 foi o chapéu
feminino que era chamado de cloche, pois tinha o formato de sino, era justo na
cabeça e com pequenas abas caídas nas laterais, tornando-se marca registrada da
época, conforme podemos ver na figura abaixo (BRAGA, 2004).
Figura 15 – Chapéu feminino
Fonte: (http://3.bp.blogspot.com)
33
Na atualidade, o chapéu é usado tanto por homens quanto por mulheres,
trazendo um estilo singular para quem o usa e podendo ser colocado com roupas de
festa ou com jeans e camiseta, tornando-se um signo de diferenciação as mulheres
de hoje.
Figura 16 – Chapéus usados na atualidade
Fonte: (http://bymk.s3.amazonaws)
Os adornos, ou casquetes, voltam às ruas e passarelas, reformulados,
contudo sem perder o referencial identitário dos “anos loucos” e das divas do Jazz,
conforme observamos nas imagens a seguir.
34
Figura 17 – Adorno de cabeça feminino em Billie Holiday
Fonte: (http://userserve-ak.last.fm)
Figura 18 – Adornos usados atualmente
Fonte: (http://tatirodrigues.files.wordpress.com)
Já os calçados dos anos 20 e que eram utilizados pelos cantores e cantoras
de Jazz possuíam as seguintes características: modelo boneca, bicos arredondados,
fechamentos em botões, bicolores, laços e peles como ornamentos, os saltos eram
grossos e baixos, explorava-se o contraste entre as texturas e o brilho.
Segundo Braga (2004), os sapatos femininos tinham presilhas laterais com
alcinhas que passavam por cima do peito do pé, geralmente de cores metalizadas, e
o salto mais famoso era o carretel.
Nesse contexto, os pés tornam-se o foco da moda e o ritmo do Charleston
influenciou diretamente os calçados, pois a dança exigia um calçado com boa
estabilidade, sendo ele fechado e seu salto baixo (DORFLES, 1984).
35
Figura 19 – Sapatos masculino e feminino dos anos 20
Fonte: (www.bicodocorvo.com.br)
Como se pode verificar em alguns modelos atuais de sapatos, o que estava
em voga nos anos 20 é encontrado em revistas e catálogos de moda, com o
acréscimo de requinte e conforto para os pés.
Deste modo, o estilista Alexandre Herchcovitch criou uma releitura para a
marca Melissa, de um modelo tradicional usado na década de 20. Agora com cores
diversas e atuais e com a matéria prima do plástico, proporcionou aos fashionistas a
oportunidade de conforto e bem estar.
Figura 20 – Sapato Melissa, releitura atual
Fonte: (www.desaboya.com.br)
Para as mulheres que não abdicam do salto, os modelos estilo boneca
voltaram, com laços e cores divertidas são peças interessantes para qualquer
guarda roupa feminino.
Figura 21 – Sapato feminino atual
Fonte: (http://itgirls.com.br)
36
Além das características das vestimentas, lembramos que as cores trazem
significados interessantes para a época.
As cores que eram mais usadas na década de 20 eram as neutras, como o preto,
cinza, marrom e branco. No desenrolar da década outras cores foram tomando lugar
nas roupas, trazendo ao vestuário o azul, as listras e outros tecidos.
Figura 22 – Tonalidades claras das roupas na década de 20
Fonte: (http://imagens.portaisdamoda.com.br)
Figura 23 – Tonalidades escuras das roupas na década de 20
Fonte: (http://api.ning.com)
37
Essas tonalidades neutras podem ser encontradas na moda atual, conforme
podemos observar no desfile da coleção verão 2010 da marca Coven que inspirou-se
na década de 20.
Figura 24 – Tonalidades neutras na passarela inspirados na década de 20
Fonte: (http://mondomoda.files.wordpress.com/2009/06/fashion-rio-verao-2010-coven1 Acesso
em 02/05/2010)
Em relação à cor preta que, segundo Dorfles (1984) transpira seriedade,
estabilidade, formalidade e autocontrole, sugerindo efeito de autoridade e domínio,
observamos que ela é praticamente indispensável em qualquer guarda roupa, tornando
uma peça chave para todos os eventos, usado durante o dia e a noite.
Pesquisas realizada na Revista Vogue, de abril de 2010 é possível perceber uma
tendência para o retrô, a volta das pérolas falsas muito nos anos 20, como demonstrado
na figura abaixo.
38
Figura 25 – Pérolas Falsas são tendências no inverno 2010
Fonte: (VOGUE, mar. 2010)
Na mesma edição da revista denota-se a volta do retrô para o inverno, ilustrando
o preto e branco e o sapato bicolor. O retorno ao passado está em alta, trazendo um
sentimento de conforto, bem estar, aconchego. A mulher torna-se mais feminina com
vestidos, sapatos, bijoux.
Figura 26 – Estilo retrô
Fonte: (VOGUE, mar. 2010)
Finalizando esse capítulo, percebe-se que a moda desse período ainda se faz
presente nas passarelas e nas ruas, trazendo um releitura do passado para a
atualidade, trazendo a nostalgia dos anos 20 para a modernidade do século XXI.
39
40
3 A INDUMENTÁRIA DO JAZZ NA ATUALIDADE
Neste capítulo, será apresentada a pesquisa de campo realizada com
músicos da banda RM jazz de Porto Alegre no que refere às suas experiências
musicais, como eles percebem este estilo no contexto atual e as suas reflexões a
respeito da sua indumentária artística. Além das entrevistas, serão analisadas
algumas fotografias destes músicos.
Este tipo de método reforça o caráter exploratório desta pesquisa,
considerando que segundo Prodanov e Freitas (2009) a entrevistas com pessoas
que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado caracteriza um tipo
de aspecto que envolve a pesquisa exploratória.
O objetivo principal das entrevistas era identificar e analisar a indumentária
utilizada pelos músicos de jazz e suas ressignificações, entretanto, todos os músicos
entrevistados começavam falando sobre o estilo musical, pois isso lhes fala mais
alto. Em função dessas respostas, achamos conveniente abordar, primeiramente, o
que esses músicos pensam a respeito do jazz e se o que eles pensam está
relacionado com o que foi colocado na parte inicial desse trabalho.
Como primeiro entrevistado tem-se Izequias Lacerda, de 46 anos, exvocalista da banda Conexão Japeri Jazz (Ed Motta)7, também teve participação no
programa da TV Globo chamado Malhação8 e atualmente se dedica ao estilo
gospel9.
Izequias, ao ser questionado sobre o estilo Jazz e sua influência na moda,
introduziu sua fala contando um pouco sobre a história deste ritmo:
[...] Conforme se pode ver em filmes e livros, o Jazz de raiz tem a mesma
batida do trem, pois os negros trabalhavam em plantações a beira dos
trilhos e, conforme o trem passava, eles cantavam com este ritmo. Se
olharmos a levada do Blues, vemos que ela tem a passada do trem ao
fundo. Os negros ouvindo isso criaram o Jazz, um estilo forte com ritmo e
batida. Se escutares, ao fundo é o trem passando, e este ritmo constante,
se transferiu para a música que teve também a influencia da Igreja
(LACERDA, 2010)
7
Cantor
Carioca
de
Soul,
Funky
e
Pop
Rock.
<http://edmotta.uol.com.br/pt/historia.php>. Acesso em 20/05/2010
8
Programa da emissora de TV Globo, voltado para o público adolescente.
9
Música evangélica
Disponível
em:
41
A fala do entrevistado vem ao encontro do que Aguiar (2001) diz a respeito da
criação do Jazz, ou seja, que se deu por volta do século XX, tendo por base a
música dos escravos, trazidos por eles da África para os Estados Unidos. A música
era baseada em dois segmentos a espiritual e a do campo, e ela era uma das
formas de comunicação dos mesmos na época, incorporando em suas músicas o
gospel e, mais tarde, o blues.
O segundo entrevistado foi o músico Odilon Reis, de 47 anos, músico com
formação universitária, possui uma escola de música na cidade de São Leopoldo.
Odilon também inicia sua fala citando o início do jazz:
[...] O jazz surgiu através do blues, que era uma cantoria triste. Os negros
se comunicavam através do blues e dele surgiu um estilo mais sofisticado,
com harmonias mais pesadas a nível de entendimento, e assim se espelhou
por todo mundo. Tanto que assim tem o blues jazz, blues rock, várias
derivações que vem do blues, que são descentes. Pelo meu entendimento,
o jazz veio do blues, quando os escravos eram enviados para trabalhar nas
plantações e se comunicavam através das músicas (REIS, 2010)
A fala do músico vem ao encontro com o que foi dito por Hobsbawm (2008)
que desde o início o jazz ditava liberdade, movimento e expressão individual e que
houve o rompimento com as demais músicas tornando-se um estilo improvisado e
inovador, influenciado nas diversas culturas.
O terceiro entrevistado foi o pianista Eliezer dos Santos, de 23 anos, que ao
ser questionado sobre o ritmo disse que nunca estudou a questão com muita
profundidade, mas que sabia que o jazz “[...] surgiu nos bares de Nova Orleans, é
um estilo de música americana, meio melancólico” (SANTOS, 2010)
Sua fala, entretanto, vem ao encontro do que diz Aguiar (2001), de que foi em
Nova Orleans que o Jazz se tornou conhecido, pois aquela cidade portuária povoada
por brancos, afro-americanos, nativos americanos, asiáticos, islandeses do Pacífico,
entre outros, mostrou-se como um grande cadinho étnico, tornando-se assim o
berço do Jazz.
O cantor Filipe Batista da Silva, de 23 anos, é um estudioso do Jazz, dedicase a música desde os dois anos de idade, tanto vocal quanto instrumental.
42
Atualmente é um dos participantes do programa Ídolos da Rede Record10 e,
questionado sobre o início do Jazz, ele diz:
[...] Nascido no Sul, o blues é derivado de uma forma de música AfroAmericano que reconheceu a dor do amor perdido e a injustiça e deram
expressão à vitória da superação de um coração quebrantado. O blues
evoluiu a partir de hinos, canções de trabalho, e gritos do campo - música
utilizada para acompanhar o espiritual, de trabalho e funções sociais. Blues
é a base do jazz, assim como a principal fonte de rhythm and blues, “rock n’
roll" e da música country. Os blues ainda está evoluindo e ainda é
amplamente tocado hoje. New Orleans tinha uma grande tradição de
celebração. Opera, bandas militares, música folk, o blues, os diferentes
tipos de música da igreja, ragtime, ecos de percussão tradicional Africano, e
todos os estilos de dança que podia ser ouvido e visto por toda a cidade.
Quando todos esses tipos de música se misturaram, o jazz nasceu (SILVA,
2010)
Abordando sobre a atual aceitação do Jazz e recebendo a devida
importância, então o cantor Isequias Lacerda citou, e ressaltou a respeito da música
Gospel:
[...] O Jazz é por vezes dita como uma música da noite, dita como profana,
aqui no Brasil, pessoas associam a música com a levada rápida, dançante,
como ruim, mas o ritmo agita e isso não tem nada a ver com profanação,
pois é a atmosfera, o clima da música. No Brasil, a igreja evangélica, tem
muito preconceito, com a música gospel agitada, diferente da Igreja
americana, pois o ritmo lá é dançante. Por isso nos Estados Unidos, a
diferenciação entre, Jazz, Blues e música Gospel é bem definida e sabem a
diferenciação entre os ritmos. No Brasil, querem colocar a música do mundo
na Igreja e lá eles colocam a música da Igreja nas músicas como um todo,
dada tamanha importância da formação musical dita nas igrejas (LACERDA,
2010)
Conforme descreve Aguiar (2001), uma das formas mais importantes de
expressão da música afro-americana eram as manifestações religiosas, na maioria
das vezes ouvidas por platéias brancas, o que hoje é conhecido como música
gospel e se constitui como um reflexo da importante carga emocional e rítmica
dessas manifestações primordiais.
O pianista Eliezer dos Santos descreve como acredita que seja visto o ritmo
na atualidade:
[...] Esses dois estilos de música (jazz e blues) ainda são vistos como
clássicos, músicas de ouvir em um bar com amigos, música de um
ambiente agradável, o jazz é como se fosse a veia da música americana,
esse estilo tem como característica os negros americanos (SANTOS, 2010)
10
Versão brasileira do programa americano American Idols que é uma espécie de concurso que
lança novos cantores no mercado.
43
A fala do músico vem ao encontro do que diz Berendt (1975) sobre a
definição de Miles Davis do jazz como a música da lamentação de quinze milhões
de pessoas negras falando de sua dor, e que nasceu como um código musical que
procurava unir um povo dizimado, humilhado, explorado e, após a abolição, foi
abandonado à sorte pelos antigos senhores brancos. Um povo que, apesar de tudo,
precisava dançar, sorrir, relaxar, amar, experimentar e criar.
Já o músico Filipe Batista define como hoje são vistos hoje os estilos musicais
Jazz e Blues:
[...] Vemos que aos poucos a musica moderna incorpora fragmentos do jazz em
sua musicalidade e também no fator criatividade. Vamos dividir por faixa etária
de idade, hoje a galera mais jovem [...] ainda olha para o jazz como coisa de
velho, mas aceitam numa boa fragmentos do jazz na música moderna, como
por exemplo o soul, funky (norte americano), até mesmo no hiphop, etc. Essas
fragmentações musicais nos dizem que a grande maioria não anda escutando
bebop batidas, ritmos, harmonia e escalas também. Há um crescente de
admiradores do jazz porque músicos num geral frequentemente chegam a
conclusão de que para se evoluir mais é preciso ter mais conhecimento, logo
começa a estudar o jazz, pois ele é uma ciência, há quem diga que o jazz é
pura matemática. Então, o jazz e o blues, principalmente o jazz, é visto por
muitos como algo muito intelectual, entendido por poucos (SILVA, 2010)
Depois que os músicos falaram sobre as suas concepções e sobre a história
do estilo musical, entramos na questão específica do vestuário.
Izequias Lacerda, a respeito disso falou:
[...] O negro começou a ousar em cores e tecidos, na verdade o negro é
diferente, não tem como mudar isso, não concordo quando as pessoas
querem te por um padrão europeu, o negro da época, primeiramente tinha o
preconceito racial danado para com os brancos, primeiramente aprenderam
a se vestir como os brancos, com seus senhores aí depois foram
revolucionando, pois não queriam ser parecidos com os mesmos, com os
filhos dos escravos. Os negros colocaram criatividade na sua forma de
vestir. O negro é criativo, em qualquer lugar no mundo, tanto na roupa, no
cabelo, tanto que os brancos também foram influenciados por vezes pela
criatividade dos negros. Hoje em dia, os músicos de Jazz fazem uma
releitura para se vestir como os antigos, nunca perdendo as características,
como chapéu, blazer, mas misturando com a calça jeans e o tênis. As
roupas vão se transformando com o passar dos anos e assim é na
atualidade, um misto do atual com o antigo (LACERDA,2010)
Hoje os músicos mesclam o retrô com o atual, como cita o músico Lacerda.
Por vezes percebemos que há um resgate do passado nas roupas atuais, como um
chapéu com modelagem antiga e calça jeans com tênis, ou boina e chapéu usados
44
com terno e sem gravata, como podemos ver na foto abaixo com os músicos
entrevistados.
Figura 27 – Músicos da Banda RM Eliezer e Filipe (Direita e Esquerda)
Fonte: Acervo Pessoal
O cantor Odilon aborda uma questão relevante para os músicos quando diz
que o figurino do artista é muito importante para aceitação do público por completo,
pois não só a música tem que agradar aos ouvidos, mas também a imagem tem que
agradar aos olhos.
[...] Digamos que eu seja um excelente músico, de bom nível, mas se eu me
apresentar mal vestido, como o público vai entender? O público te analisa
por inteiro, é um conjunto, e indiscutivelmente pela roupa também [...] não
adianta eu ser um grande músico e me vestir mal, pode ser a roupa mais
exótica, mas eu tenho que estar de acordo com o tempo e espaço. A
indumentária é fundamental para demonstrar o bom gosto e o
profissionalismo do músico, por isso acredito, que o músico de Jazz deve se
trajar com, no mínimo, um blazer e um sapato, pois a música merece isso,
como faziam os antigos (REIS 2010)
Para o pianista Eliezer dos Santos, falar sobre a vestimenta foi uma
oportunidade para conversarmos sobre moda, que é um assunto que ele gosta
muito. Conforme Eliezer:
[...] Sinceramente, antes eu me vestia muito mal, ia para os shows de
qualquer forma, ai comecei a ver imagens, revistas, internet, e procurar
estilos que me agradassem, e roupas que eu me sentisse confortável. Os
músicos seguem o estilo clássico como a música, usando camisas, coletes,
blazers é assim que procuro me vestir (SANTOS 2010)
45
Figura 28 - Músico Eliezer Santos
Fonte: Acervo Pessoal
Como é possível observar na imagem acima o músico usa somente blazer
com camisa, não usando gravata, para tornar o visual mais despojado. Os negros
também possuem todo um cuidado com os cabelos, no sentindo que as tranças são
muito usadas nos homens para tornar o visual moderno e sofisticado ao mesmo
tempo.
Filipe Batista da Silva, perguntado sobre a indumentária utilizada por ele nos
shows diz:
[...] Eu penso que hoje temos uma mistura do velho com o novo, é claro e
evidente que houve uma sincronicidade da evolução do jazz com suas
indumentárias, diferentemente de algumas tradições como a música gaúcha
que ainda permanece com sua inconfundível tradição de vestimenta. O jazz
passou por uma longa metamorfose, dispensando o fato de que em
algumas ocasiões ainda se usa aquela roupa tradicional, terno, gravata,
chapéu e sapato duas cores, mas a metamorfose acompanhou a moda. Um
exemplo disso seria, calça jeans com tênis all star, camisa lisa e casaco de
terno. Os acessórios por vezes usados nos trazem à lembrança o início do
jazz, por exemplo, um chapéu, um colete ou até mesmo um sapato
diferente. Não podemos esquecer que o jazz surgiu dos negros, e no
entanto a criatividade é um fator indispensável. Os negros sempre foram
muito criativos com cabelos, cores e detalhes chamativos. Logo a
vestimenta de um jazzista hoje depende muito de sua própria criatividade
(SILVA, 2010)
Este músico, provavelmente por ter morado muito tempo nos Estados Unidos,
possui um visual diferenciado, misturando acessórios esportivos com tradicionais,
como podemos ver na imagem abaixo. Ele costuma usar um terno completo com
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uma camiseta e um boné, o que para muitos não combina, mas com seu estilo
musical e pessoal torna-se harmônico.
Figura 29 – Músico Filipe Batista da Silva
Fonte: Acervo Pessoal
Analisando as entrevistas com os cantores observamos a sua paixão pela
música, tanto que eles não conseguem falar apenas da indumentária sem discorrer
sobre a história do jazz e suas derivações.
Conseguimos perceber que a roupa utilizada por eles nos shows está
referenciada na história e nos antigos músicos de jazz, pois todos eles chamam a
atenção da necessidade de se vestir de acordo e até com certa deferência aos “pais”
desse estilo musical.
Mesmo na atualidade, os músicos lembram que algumas peças são clássicas
para a sua caracterização, como o blazer, o chapéu, a gravata e o sapato, peças
que nos remetem aos músicos do início dos anos XX, mas também não deixam de
usar peças mais atuais, como a calça jeans, o tênis de lona e a camiseta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através desta pesquisa se pode concluir que a hipótese inicial foi confirmada,
ou seja, da mesma forma que o jazz e a moda dos anos 20 influenciam a moda
atual, os músicos de jazz da banda pesquisada também sofrem essa influência.
Concluímos isso, principalmente, através da pesquisa de campo realizada com a
banda RM jazz de Porto Alegre, e acreditamos que podemos dizer que outras
bandas de jazz do Estado e do país também sofrem essa influência.
A partir do momento em que se entende que o conceito de moda numa
perspectiva cultural, que traduz posições e interesses dos atores sociais, torna-se
necessário analisar a indumentária dos músicos do jazz levando em consideração a
sua história, as suas origens e influências, ou seja, temos que relacionar a roupa
com as práticas sociais. Como afirma Nery (2003), a moda é o signo das formas de
expressão que se mostram também em outros domínios.
Acredita-se, portanto, que se a roupa é uma forma de comunicação para a
platéia, temos que entender de onde vem sua identidade e história.
Para compreender a forma como a moda dos anos 20 e dos músicos do jazz
encontram-se hoje na moda, pesquisou-se a origem do estilo musical, seus tipos e
músicos mais importantes.
No capítulo seguinte, relacionou-se a moda dos anos 20 do século XX e dos
músicos de jazz com a atualidade, mostrando através de imagens, a sua influência
na moda de rua e passarela.
No terceiro e último capítulo foi feita a entrevista com a Banda RM Jazz de
Porto Alegre, onde pudemos perceber que ainda hoje prevalecem alguns traços da
vestimenta dos músicos de Jazz do início do século XX, nos músicos atuais.
Finalizando, percebe-se a importância de realização desta pesquisa no
sentido de possibilitar a percepção das relações entre moda e música. No mundo
atual, onde a imagem é tudo, as bandas cada vez mais procuram formas estéticas
de se diferenciar perante as demais, e os artistas, estão sempre em busca de algo
novo para apresentar.
Este trabalho procurou realizar algumas reflexões entre um estilo musical
inserido numa época e suas influências na moda atual, entretanto, muitos aspectos
ficaram em aberto e ainda podem ser pesquisados.
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Esta pesquisa realizada na disciplina de Projeto de Coleção - Trabalho de
Conclusão I, servirá de inspiração para a coleção realizada em Projeto de Coleção –
Trabalho de Conclusão II, que será cursada no próximo semestre.
Utilizarei a sobriedade da alfaiataria juntamente com a modernidade,
representada por acessórios e tecidos, para a composição da roupa, misturando na
passarela nostalgia e atualidade, mostrando a criatividade dos músicos do jazz,
principalmente em função de suas raízes negras.
REFERÊNCIAS
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Band. São Paulo: Spectrum, 2001.
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TREPTOW, Doris. Inventando Moda Planejamento de Coleção. Brusque: D Treptow,
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