01-03-2013 - ADVFN - Entrevista - 12-15

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Auditório – página 64
Osney JOSÉ Cola conta as novidades do
Auditório da Equipe Trader.
ANO 5 | MAR 2013 | #6 0
R E V I S TA
b r. a d v f n . c o m /r e v i s t a
CONTEÚDO PA R A FA ZER O SEU DINHEIRO CRESCER
Capa | Blue chip – página 24
Do açúcar ao ÁLCOOL:
o que muda (realmente) na Cosan
(CSAN3) APÓS A CONSOLIDAÇÃO
DA COMGÁS?
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Entrevista | Gustavo Franco – página 12
Trends – página 18
Small Cap – página 42
“O mundo dos investimentos
Imóveis X ações:
de forma dramática”.
para investir em 2013?
Direcional Engenharia
(DIRR3): Minha Casa,
vem se transformando
qual a melhor opção
Minha Vida... Seu lucro?
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E N T R E V I S TA
Gustavo Franco analisa:
a opção do Brasil por um “caminho
próprio” foi a melhor?
Sócio fundador da Rio Bravo e ex-presidente do Banco Central do Brasil
afasta qualquer possibilidade de hiperinflação e fala sobre investimentos,
inflação, Plano Real...
Por Aroldo A ntonio Glomb Junior
P
assados quase 20 anos da implantação do Plano
Real, é fato que muito mudou na economia brasileira. Afinal, estamos no caminho certo para o
desenvolvimento econômico? Para responder a
essa questão, contatamos para este mês uma das
maiores autoridades no assunto, o economista
carioca e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco.
Em sua tese de mestrado – que ganhou o Prêmio BNDES de Economia para
teses de mestrado em 1982 com a temática Reforma Monetária e Instabilidade
Durante a Transição Republicana, e que deu vida ao primeiro de muitos livros
que viria a escrever – Franco já dava mostras do direcionamento que seguiria
em sua carreira. Fez parte do Departamento de Economia da PUC do Rio de
Janeiro, onde foi professor, pesquisador e consultor de assuntos econômicos
entre 1986 e 1993, especializando-se em temas como inflação, estabilização e
economia internacional.
Entre 1993 e 1999, foi secretário adjunto de política econômica no Ministério
da Fazenda, além de diretor de Assuntos Internacionais e presidente do Banco
Central do Brasil (BACEN) – onde esteve diretamente envolvido na formulação,
operacionalização e administração do Plano Real. Hoje, o economista é sócio
fundador da Rio Bravo Investimentos.
Confira a seguir como Franco está observando as movimentações econômicas realizadas pelo governo brasileiro (e de que forma elas podem influenciar
o retorno de seus investimentos).
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ADVFN
E N T R E V I S TA
...nossa diplomacia
privilegia o campo político
e, em especial, um assento
permanente no conselho
de segurança da ONU.
Parece-me uma perda de
tempo. Mais útil para a
economia seria pertencer
à OCDE e aderir aos
códigos econômicos da
organização, isso nos
criaria oportunidades e
nos faria um país melhor.
Fotos: Divulgação
MAR 12
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E N T R E V I S TA
O senhor teve a oportunidade
de estudar a fundo inflações
históricas vividas por outras
nações, como Alemanha e
Polônia. Já passamos aqui no
Brasil, em décadas anteriores,
por momentos que se aproximaram deste cenário. Fazendo
uma comparação, e guardados
os fatos históricos e regionais,
há algum perigo de uma possível volta da tão famosa inflação
galopante ou hiperinflação que
assombrou o nosso país antes
do plano real?
Não creio. Hiperinflações refletiam
situações extremas, combinando
descontrole fiscal e apatia política. O
risco que corremos é o de recair nessa
inf lação reprimida acompanhada
de desfazimento econômico, ambos
regidos por um intervencionismo
lunático, que caracteriza Argentina e
Venezuela. São inflações falsificadas,
onde o índice oficial fica perto de 20%,
mas sem os truques talvez chegasse
ao dobro disso, que é uma fronteira
perigosa. Há muitas maneiras de
ficar doente.
Como o senhor analisa as recentes atuações do Governo Federal
em alguns setores, como o de
energia elétrica, a redução do IPI
dos automóveis e até a dos bancos, forçando a diminuição dos
juros para o consumidor final?
Em todos esses casos, incluindo o da
Petrobras (PETR3 e PETR4), o pior
aspecto é a politização do assunto, ou
a definição de formas de atuação nas
quais o discurso importa muito mais
que o resultado, mesmo que a forma e
o conteúdo sejam muito discutíveis. Na
ausência da capacidade de formulação
econômica, a economia é conduzida
por marqueteiros. Com o vento a favor,
e em vista da solidez da economia, os
efeitos têm sido menores, exceto por
minar a confiança nas autoridades e
em suas ideias.
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ADVFN
O senhor teve uma participação
central na formulação, operacionalização e administração do
Plano Real. A nossa moeda já
pode ser considerada forte, ou
pelo menos estável? Qual é a sua
análise sobre a nossa moeda,
passados quase 20 anos do seu
lançamento?
Creio que sim, temos uma moeda
estável, instituições relativamente
amadurecidas e uma percepção clara
sobre o que é comportamento virtuoso e vicioso em matéria de moeda e
finanças públicas. O “modus operandi”
evoluiu após o Real, com a LRF (Lei
de Responsabilidade Fiscal), com o
regime de metas e o tripé (superávit
primário de 3% do PIB, câmbio flutuante
e as metas), mas paramos depois daí.
Outras prioridades apareceram, e mais
recentemente estamos experimentando
certo retrocesso. É sintomático que
estamos ouvindo queixas de falta de
confiança de forma tão frequente.
Nossa história recente teve
praticamente um recorde de mudanças monetárias. Trocávamos
o nome da moeda, cortávamos
os zeros, entre outras ações. É
impressionante como muitas empresas e instituições conseguiram se manter, após tantos anos,
com todas essas adversidades,
provando uma certa força. Temos
hoje, portanto, uma indústria
mais madura e “vacinada” contra
situações de riscos financeiros?
Sem dúvida. A adversidade formou
bons executivos e criou uma cultura
de sobrevivência que torna as empresas
brasileiras muito fortes. Paradoxalmente,
essa cultura tem como consequência
a aversão ao endividamento, o que
serve como limitação ao crescimento do investimento. Era preciso que
houvesse mais segurança para que
as empresas começassem a rever as
cautelas que desenvolveram durante
o longo inverno da hiperinflação, mas
bem quando as coisas começaram a
clarear ressurgiu um intervencionismo
tão incômodo quanto a inflação foi no
passado. É uma pena.
A bolsa de valores, aos poucos,
vai conquistando o seu espaço
em duas frentes: os tradicionais investidores, que antes
só olhavam para a poupança,
e o número de empresas que
passaram a ter capital aberto,
buscando uma nova forma de
ganho. Como o senhor avalia
hoje o nosso cenário, a atuação
da Bovespa, da CVM e do Banco
Central nesse aspecto?
O mundo dos investimentos vem se
transformando de forma dramática.
Numa primeira fase, o fim da hiper
fez a capitalização de mercado na
bolsa subir de US$90 bi para US$1,5
tri. Assim, investir deixou de ser um
assunto de sobrevivência e proteção
patrimonial. Numa segunda fase,
com os juros nominais caindo abaixo
de dois dígitos, outra revolução terá
lugar, onde a centralidade dos títulos
públicos será desafiada e haverá uma
extensão das maturidades por todo
o espectro de ativos. Haverá muita
inovação e alguns perigos, mas será
muito bom para o país.
O Brasil encontrou o seu nicho
claro no mundo? E o mundo, sabe
o que esperar do Brasil em termos
de economia e crescimento?
Não tenho certeza sobre isso, face às
nossas próprias hesitações a respeito.
Nossa diplomacia recusou a integração
com os EUA, a adesão à Organização
para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), em detrimento
de um “caminho próprio” que não se
sabe bem qual é. Enquanto isso, no
setor privado, a globalização avança
através da multinacionalização, do
offshoring (Nota da Redação: quando
uma empresa passa a produzir em outros
países) e do aumento espetacular do
E N T R E V I S TA
Investimento Direto Estrangeiro (IDE)
no Brasil. O setor privado se globaliza,
e o governo esperneia.
Mercosul, BRICS... são muitos
os blocos dos quais participamos, mas em qual deles temos
uma participação realmente de
destaque?
Não creio que nenhum desses blocos
seja especialmente importante para
nós, ou que nos crie grandes oportunidades. No plano comercial, a
grande oportunidade seria o acordo
de livre comércio com os EUA, isso
sim era subir de patamar em termos
de acesso a mercados. Todavia, nossa
diplomacia privilegia o campo político
e, em especial, um assento permanente
no conselho de segurança da ONU.
Parece-me uma perda de tempo.
Mais útil para a economia seria pertencer à OCDE e aderir aos códigos
econômicos da organização, isso nos
criaria oportunidades e nos faria um
país melhor.
O senhor já esteve à frente
do Banco Central, já atuou no
Ministério da Fazenda e hoje
comanda a área de estratégia
da Rio Bravo. Que experiências
pôde trazer da vivência no Banco
Central e no Ministério da Fazenda para colocar em prática na
Rio Bravo?
O trabalho no setor público é uma
experiência muito rica, por meio do
qual se aprende sobre gestão, pessoas,
transparência, accountability (prestação
de contas), negociação, decisões sob
pressão, funcionamento dos mercados,
regulação, legislação, crises, euforias e
política. É uma grande escola.
Vemos uma pequena melhora na
bolsa neste início de ano, embora
ainda haja receios das divulgações futuras dos EUA e da crise
da Europa. Como a Rio Bravo
está se posicionando diante do
mercado atual? Em termos de
setores, quais estão chamando
mais a sua atenção e trazem boas perspectivas para 2013?
O cenário internacional ainda está
delicado, mas sempre vão existir
riscos. Independentemente desses
acontecimentos, o Brasil passa por
uma transformação, sobretudo no
sistema financeiro e no mercado
de capitais nas linhas acima mencionadas, e a Rio Bravo pretende
estar posicionada para tirar proveito
dessas tendências. O ciclo parece
indicar uma nova equação para investimentos intensivos em capital,
seja pelo crescimento da preferência
de investidores por veículos novos
(como fundos imobiliários), seja
pelas necessidades de investimento
em infraestrutura, que criarão novas
e interessantes possibilidades em
private equity.
Recentemente, foram veiculadas
algumas matérias na imprensa
que abordam a análise de mercado e da conjuntura econômica
de forma até mesmo pejorativa, comparando economistas
e consultores a cartomantes e
videntes no sentido da dificuldade em prever a economia. Outra
série de matérias evidenciou os
acertos de um gato em investimentos em empresas, demonstrando que o animal obteve mais
sucesso do que algumas corretoras e fundos. O que o senhor
tem a dizer sobre esse descrédito de alguns veículos às práticas
e teorias econômicas?
Esse é um debate antigo, pelo qual se
toma a imprevisibilidade inerente aos
eventos da economia como algo que
iguala os participantes do jogo econômico, reduz importância do estudo
e faz a apologia da improvisação e da
intuição. Meu livro mais recente, As
leis secretas da economia, trata muito
desse assunto, e também de grafistas,
astrólogos e sensitivos, bem como de
Warren Buffett e de fundamentalismo na análise de investimentos. Há
gosto para tudo, e o investidor poderá
sempre encontrar polvos adivinhos
e gatos que entendem de mercado
acionário. Minha recomendação,
todavia, é bem outra. O investidor
deve procurar profissionais com
muitos anos de estudo e de estrada,
e que utilizam as melhores técnicas
e práticas em seus relacionamentos
com clientes e reguladores. É isso o
que fazemos na Rio Bravo.
A adversidade formou
bons executivos e
criou uma cultura
de sobrevivência
que torna as
empresas brasileiras
muito fortes.
Paradoxalmente,
essa cultura tem
como consequência
a aversão ao
endividamento,
o que serve como
limitação ao
crescimento do
investimento.
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